COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ
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sensações. Diluição das faces do sujeito e do objeto a sensação se torna <strong>uma</strong> “contemplação<br />
pura, pois é pela contemplação que se contrai, contemplando-se a si mesma à medida que<br />
se contempla os elementos de que se procede” (DELEUZE & GUATARRI, 1992, p.272).<br />
A hecceidade, por sua vez, não é <strong>uma</strong> individualidade do instante. “É um minuto ou <strong>uma</strong><br />
vida. Uma hora do dia. Um vento. Uma estação” (DELEUZE & GUATARRI, 1997, p.48).<br />
São individuações de acontecimentos que não são feitas por um sujeito. É como se um<br />
momento ganhasse <strong>uma</strong> vida própria.<br />
Assim, o evento comunicativo deve se alinhar à própria noção de experiência como<br />
<strong>uma</strong> idéia de movimento da diferença; acontecimento singular, mas plural. Claro que o<br />
sujeito da experiência não é eliminado, mas inserido no todo do evento. Essa necessidade<br />
de aproximação é <strong>uma</strong> tentativa de afastar a possibilidade de se cair num subjetivismo<br />
fenomenológico e abrir a possibilidade de se distanciar de fórmulas dialéticas. É a partir do<br />
encontro entre a experiência estética e o evento comunicativo que se busca pensar <strong>uma</strong><br />
comunicação afastada de categorias como sujeito-predicado e bom senso-senso comum.<br />
Este é, portanto, o esboço sobre o qual o pressuposto dessa dissertação será<br />
desenvolvido. Daí também se pode derivar seus principais movimentos: de um lado, temos<br />
o debate estético em torno do sentir e da experiência estética; do outro, um debate<br />
)<br />
comunicativo em torno do silêncio e da experiência sensível. O objetivo é, em seguida,<br />
modular esses movimentos em direção a um outro debate que articule um caminho entre,<br />
com a intenção de ressaltar <strong>uma</strong> noção de comunicação existente em eventos de<br />
arrebatamento que estejam aquém/além do discurso, cuja demanda do corpo –<br />
metonimicamente, todos os sentidos – é <strong>uma</strong> marca da imersão (assumida aqui como<br />
categoria estética e que é cada vez mais significativa em nosso tempo), seja no diálogo, na<br />
arte ou em pequenas crises cotidianas – sempre em (inter)face ao outro, ao tangível-masinexorável<br />
exterior.<br />
É com esse rascunho de mapa à mão que vou à busca do método (do grego met'<br />
hodos, um caminho <strong>para</strong> chegar a um objetivo). E <strong>para</strong> tal errância, temos companhias:<br />
como já assinalado anteriormente, o pensamento comunicativo de Georges Bataille é fonte<br />
de minhas inquietações. Sua abordagem interdisciplinar – flertando com a literatura, a<br />
filosofia, a antropologia, a sociologia e a economia – atrai o olhar <strong>para</strong> um diálogo com os<br />
estudos em comunicação que até agora não foram tão explorados aqui no Brasil 7 . A obra de<br />
Bataille nos possibilita pensar a comunicação não como troca, mas a partir da ruptura de<br />
7 Entre as exceções estão as pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação<br />
(Filocom) da Universidade do Estado de São Paulo (USP).