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COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ

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entre a interpretação e a percepção, aproximando-se, como vimos anteriormente, de outras<br />

correntes estéticas que não excluem as relações do pathos com o logos, da estética com a<br />

lógica, das sensações com os conceitos. Ao mesmo tempo, a experiência estética possui um<br />

caráter de violência, de irrupção: por isso que o momento da experiência estética é<br />

epifânico.<br />

Mas antes de aprofundamos as discussões propriamente estéticas do pensamento de<br />

Gumbrecht, é necessário situar suas idéias dentro de um campo delineado por ele próprio: o<br />

não-hermenêutico (GUMBRECHT, 1998). Voltando-se à questão de apropriação do real,<br />

Gumbrecht identifica a metafísica como a responsável pelo nosso afastamento das coisas,<br />

pela perda do conhecimento sensível como forma válida de apreensão do mundo. É<br />

importante ressaltar que <strong>para</strong> o pensamento gumbrechtiano, a metafísica se refere tanto a<br />

<strong>uma</strong> atitude cotidiana quanto a <strong>uma</strong> perspectiva acadêmica que valoriza mais a<br />

interpretação do sentido de um fenômeno do que sua presença material. Da mesma forma,<br />

qualquer postura que centraliza o sujeito como atribuidor de sentido às coisas – seja a<br />

hermenêutica, a visão cartesiana de mundo ou o <strong>para</strong>digma sujeito/objeto – será rejeitada.<br />

A origem comum dessas perspectivas é a dicotomia entre matéria e espírito, entre<br />

corpo e mente. Distinção claramente subentendida na se<strong>para</strong>ção hermenêutica entre um<br />

Ϝ<br />

significante material como superfície e um sentido imaterial como profundidade, ou ainda<br />

na posição do observador cartesiano da câmara obscura, que se coloca fora do sistema<br />

observado, como se este estivesse diante de si.<br />

Não só essas posições interpretativas de apropriação dos objetos, como também as<br />

tentativas de sua superação, atravessaram os séculos. No primeiro caso, desde Platão<br />

(Sócrates), passando pelo Iluminismo à Hermenêutica do século passado. No segundo,<br />

esboçando <strong>uma</strong> genealogia mais recente, de Nietzsche e Bergson, de Benjamin a Maffesoli.<br />

Entretanto, Gumbrecht vai buscar no último Heidegger a estrutura necessária <strong>para</strong><br />

superação/revisão da dicotomia sujeito/objeto.<br />

Heidegger substituiu o <strong>para</strong>digma sujeito/objeto com o novo conceito de ‘ser-nomundo’,<br />

que, por assim dizer, foi postulado <strong>para</strong> trazer a auto-referencialidade h<strong>uma</strong>na de<br />

volta ao toque com as coisas do mundo. Contra o <strong>para</strong>digma cartesiano, ele reafirmou a<br />

substancialidade corporal e as dimensões espaciais da existência h<strong>uma</strong>na, e começou a<br />

desenvolver a idéia de um ‘desvelamento do Ser’ (cujo contexto da palavra ‘Ser’ sempre se<br />

refere a algo substancial) como um realojamento do conceito metafísico de ‘verdade’ que<br />

aponta <strong>para</strong> um sentido ou <strong>uma</strong> idéia (GUMBRECHT, 2004, p.43).

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