COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ
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conduzida à completude, é <strong>uma</strong> transformação da interação em participação e<br />
comunicação” (DEWEY, 2005, p. 22).<br />
Lopes (2007) identifica duas correntes que se debruçaram sobre a experiência: de<br />
um lado, temos a experiência como atividade, a partir do pragmatismo de Dewey e dos<br />
Estudos Culturais, que ocorre sempre num espaço relacional, um local de interações entre<br />
outras experiências, <strong>uma</strong> forma de compartilhar vivências produzida a partir de um olhar<br />
sensível e reflexivo sobre o cotidiano. Por outro lado, temos a chamada dimensão trágica,<br />
cujos representantes como Nietzsche, Bataille, Blanchot e Foucault, concebem, grosso<br />
modo, a experiência como <strong>uma</strong> “tentativa de atingir certo ponto da vida que seja o mais<br />
próximo do ‘invivível’, que requer o máximo de intensidade e ao mesmo tempo de<br />
impossibilidade. (...) A experiência tem por função retirar o sujeito de si, fazer com que ele<br />
não seja mais o mesmo” (LOPES, 2007, p.26).<br />
É a partir da discussão em torno dessa experiência sob o ponto de vista do trágico<br />
que este capítulo deve – por meio do pensamento gumbrechtiano – se aproximar a <strong>uma</strong><br />
noção de comunicação que não depende necessariamente de um discurso estruturado ou<br />
ainda da transmissão conceitual de idéias: <strong>uma</strong> comunicação (estética?) cujos efeitos se<br />
apresentam como a sensação de diluição/perda das palavras produzidas por <strong>uma</strong><br />
Ϝ<br />
experiência intensa cuja dimensão da impossibilidade põe em questão a própria posição do<br />
sujeito como senhor da experiência.<br />
2.1 Experiência estética<br />
É difícil realizar um mapeamento sobre as teorizações da experiência estética, cujas<br />
fontes recentes nos conduzem à Estética da Recepção, proposta em meados da década de 60<br />
na Alemanha por Hans Robert Jauß, na chamada Escola de Konstanz 18 ; ou ainda ao<br />
pragmatismo americano, cujo livro de John Dewey, Art as experience, escrito em 1934, foi<br />
um marco teórico decisivo <strong>para</strong> retirar a experiência estética do domínio exclusivamente<br />
artístico, retomando aqui a concepção grega de kalon-agathon, ou seja, a idéia de<br />
convergência dos valores estéticos e éticos difundidos nas mais variadas dimensões da<br />
comunidade.<br />
18 CF. COSTA LIMA, Luiz. A literatura e o leitor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.