COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ
COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ
COMUNICAR, VERBO INTRANSITIVO Ensaio para uma ... - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
28<br />
1.2 Sensus communis<br />
O senso comum assume um papel central na reflexão de Parret, constituindo-se<br />
como a condição mesma de comunicação <strong>para</strong> <strong>uma</strong> comunidade afetiva. Na verdade, o<br />
autor faz <strong>uma</strong> releitura do sensus communis kantiano que, segundo o próprio Parret, seria o<br />
elo entre a sensibilidade e o senso de comunidade, por isso, não somente associado ao<br />
julgamento de gosto (caracterizado pela sua receptividade, comunicabilidade e<br />
reflexividade), mas tomado como aquilo que funda a comunidade vivida. Assim, <strong>para</strong> ele,<br />
“é a categoria estética do sensus communis que nos serve de valoração legitimadora de toda<br />
prática intersubjetiva da vida cotidiana” (PARRET, 1997, p.187). Em seu livro, a<br />
comunicação e o sentimento de comunidade são colocados em relação dialética que une a<br />
política de Aristóteles e a estética kantiana.<br />
A grande crítica da obra de Parret dirige-se ao <strong>para</strong>digma dominante que “eleva a<br />
comunicação ao status de princípio último da estrutura interna do ser-em-comunidade, <strong>para</strong><br />
reduzi-la em seguida a <strong>uma</strong> transmissão de informações” (ibid., p. 17). Atacando a figura<br />
predominante do sujeito-em-comunidade como um veridictor, um comunicador e um<br />
漐 ϙ<br />
jogador-economista, o autor busca evidenciar no campo teórico – particularmente o da<br />
linguagem – as “fímbrias estéticas” dos discursos, dos diálogos e das conversações, enfim,<br />
do processo comunicativo, que produzem o liame a partir dos sentidos – portanto anteriores<br />
à comunicação tomada apenas como troca de informações. O ser-em-comunidade “não é<br />
<strong>uma</strong> idéia (normativa, transcendental), mas um sentimento ativando nossa faculdade de<br />
afeto” (PARRET, 1997, p. 21).<br />
Com sua Estética da Comunicação, temos <strong>uma</strong> reflexão que procura aproximar no<br />
plano teórico os dois campos concebidos em termos amplos: a comunicação é concebida<br />
em sua dimensão afetiva e não somente discursiva; e a estética é retirada apenas do campo<br />
da arte e conduzida ao cotidiano, ao comum, no plano dos afetos. Por esses motivos (tanto a<br />
crítica à troca de informações e a identificação da estética ao plano dos afetos), nosso<br />
trabalho se identificaria mais com a obra de Parret que a de Mario Costa, por já existir a<br />
necessidade de repensar o próprio conceito de comunicação a partir do legado estético<br />
kantiano. Com Parret, a estética da comunicação assume um caráter sintético,<br />
marcadamente filosófico. Renunciando a divisão entre pathos e logos <strong>para</strong> pensar <strong>uma</strong><br />
comunicação sensível, o autor belga emprega o conceito de pathos razoável, com a