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FEIRA DAS VAIDADES<br />
O batom vermelho<br />
CAROLINA SILVA<br />
Jornalista<br />
Todas temos rituais de beleza passados<br />
de geração em geração. Algumas de nós<br />
adaptam-se e fazem um update com um<br />
twist moderno e outras preferem o porto<br />
seguro. A cor sempre me atraiu, desde<br />
que me lembro. Usava laçarotes no cabelo<br />
e vestidos com mangas de balão às flores.<br />
Tive direito a uns sapatos de verniz<br />
vermelhos iguais aos da Dorothy de<br />
O Feiticeiro de Oz e não dispensei uma<br />
passagem rápida pela fase fluorescente na<br />
adolescência. E, orgulhosamente, ainda me<br />
atiro de cabeça a um vestido laranja forte ou<br />
a uma saia cor-de-rosa, mas, no que toca à<br />
maquilhagem, apesar de me passarem pelas<br />
mãos todo o tipo de produtos, mantenho-me<br />
fiel aos meus eleitos. Quem não o faz<br />
Experimentar batons é um dos<br />
(maravilhosos) ossos do ofício e jamais me<br />
contive em experimentar a vasta paleta de<br />
cores que surge em cada estação. Porém,<br />
foi apenas recentemente que me apaixonei<br />
por aquele batom vermelho. O meu primeiro<br />
batom vermelho. Aquele que nos faz sentir<br />
sensuais, lançar os cabelos para trás,<br />
erguer a cabeça com confiança e andar com<br />
um passo mais determinado na rua. Parece<br />
exagerado e talvez até um pouco redutor<br />
o facto de um simples batom ter este tipo<br />
de poder sobre uma mulher, mas a verdade<br />
é que tem. Nos meus primeiros passos como<br />
jornalista, tive o privilégio de fazer uma das<br />
entrevistas mais interessantes até hoje. Falei<br />
com Marisa Acocella, autora de Cancer Vixen,<br />
livro no qual, através de um humor sem<br />
tabus, relata a sua batalha contra o cancro da<br />
mama. A acompanhar as etapas do seu relato<br />
estiveram os seus batons M.A.C. – quando<br />
deu a notícia ao seu futuro marido, usou<br />
o tom Brave e, quando começou a<br />
quimioterapia, foi munida com o Viva Glam –,<br />
algumas das armas que utilizava para<br />
sentir-se mais bonita. Explicou-me que,<br />
“se nos sentirmos bem connosco próprias,<br />
isso fortalece o sistema imunitário.<br />
Por isso, os batons, como o riso, foram<br />
os meus remédios. Ainda são. E nunca<br />
subestimem o poder de uma roupa fabulosa”.<br />
Foi um vermelho sangue aveludado e com<br />
acabamento mate, numa embalagem<br />
requintada, que despertou a minha atenção.<br />
O resultado surpreendeu-me e a reacção<br />
positiva de terceiros ainda mais. Na<br />
realidade, diz o lipstick index (uma noção<br />
O batom é um<br />
indicador económico<br />
de alturas de crise,<br />
já que as vendas deste<br />
aumentam quando<br />
a economia começa<br />
a deteriorar-se.<br />
cunhada por Leonard Lauder), que o batom<br />
é um dos indicadores económicos de<br />
alturas de crise, já que as vendas deste<br />
cosmético aumentam quando a economia<br />
começa a deteriorar-se. Aconteceu durante<br />
a Segunda Guerra Mundial, nos anos 40,<br />
após o atentado ao World Trade Center,<br />
em 2001, e tende a repetir-se actualmente.<br />
É razão para pensarmos que, mais do que<br />
uma simples barra colorida de lábios,<br />
o batom é, de facto, um cosmético onde<br />
devemos investir. Por que não, se nos faz<br />
sentir mais bonitas e seguras E a verdade,<br />
é que isso reflecte-se em tudo o resto.<br />
FOTOGRAFIA: CARLOS RAMOS.<br />
76 Caixa Woman