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A Reinvenção dos Territórios - Universidad Nacional Autónoma de ...

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coca e da cocaína, com suas múltiplas dimensões histórico-culturais 31 , econômicas 32 ,<br />

políticas 33 e, particularmente, geopolíticas 34 . Afinal, a presença <strong>de</strong> uma narcoburguesia com<br />

fortes laços políticos internos na Colômbia não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vidamente compreendida sem<br />

que se consi<strong>de</strong>rem os necessários laços externos que ela mantém, até porque é no mercado<br />

internacional que realiza seus gran<strong>de</strong>s lucros.<br />

Registre-se que apesar da onipresença do conflito armado no <strong>de</strong>bate sobre a Colômbia,<br />

tem sido importante a presença <strong>de</strong> movimentos sociais na cena política sem a mediação <strong>dos</strong><br />

protagonistas da luta armada 35 e, assim, horizontes se abrem para as populações que<br />

31 - A coca, antes <strong>de</strong> ser matéria prima para alucinógenos, é objeto milenar <strong>de</strong> culto religioso muito embora,<br />

no caso da Colômbia, esse uso diga respeito somente aos indígenas do sul do país, na fronteira com o<br />

Equador, posto que nas <strong>de</strong>mais regiões o plantio <strong>de</strong> coca só se expandiu após o combate ao narcotráfico<br />

empreendido pela DEA, a agência estaduni<strong>de</strong>nse, no Peru e na Bolívia, para não nos afastarmos mais no<br />

tempo, posto que esse <strong>de</strong>slocamento geográfico do narcotráfico para a América do Sul nos remete ao combate<br />

ao cultivo <strong>de</strong> marijuana no México ainda nos anos 1980. Registre-se que em nome do narcotráfico, as forças<br />

policiais e militares estaduni<strong>de</strong>nses se fazem presentes em áreas <strong>de</strong> forte presença camponesa que durante<br />

décadas foi a base social <strong>de</strong> movimentos revolucionários. Acrescente-se, ainda, que no caso colombiano e<br />

peruano a presença <strong>de</strong>ssas forças proporciona um cenário, em linguagem militar se diz teatro <strong>de</strong> operações, <strong>de</strong><br />

aprendizado para combate na Amazônia que, como se sabe, é reserva estratégica <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> água e<br />

<strong>de</strong> conhecimento, no caso <strong>dos</strong> povos originários, afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> camponeses há muito territorializa<strong>dos</strong><br />

na região.<br />

32 - O mercado <strong>de</strong> cocaína está, basicamente, nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, sobretudo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, da Europa<br />

(cada vez mais na Rússia) e do Japão. Não esqueçamos, ainda, que o objetivo <strong>dos</strong> narcotraficantes não é se<br />

drogarem, mas, sim, ganhar dinheiro. Deste modo, todo o sistema bancário internacional está comprometido,<br />

em maior ou menor grau, com o narcotráfico, até pelo volume <strong>de</strong> dinheiro que circula nessa ativida<strong>de</strong>. A<br />

existência <strong>de</strong> paraísos fiscais, o nome é sugestivo enquanto pérola neoliberal, é um verda<strong>de</strong>iro convite às<br />

transações paralegais, expressão mais precisa que ilegais, posto que se dá por <strong>de</strong>ntro do sistema legal. James<br />

Petras (Petras, 2001) vem apontando uma forte relação do dinheiro do narcotráfico com os gran<strong>de</strong>s bancos<br />

internacionais.<br />

33 - Não po<strong>de</strong>mos olvidar a tolerância da intelligentzia e <strong>dos</strong> estrategistas geopolíticos estaduni<strong>de</strong>nses com a<br />

emergência e crescimento <strong>de</strong> uma narcoburguesia, sobretudo após os anos 70, inclusive pela colaboração no<br />

combate às forças políticas insurgentes. As ligações <strong>de</strong> militares e <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res políticos com o narcotráfico<br />

(Noriega, no Panamá, e Montesinos, no Peru, entre tantos) serão <strong>de</strong>snudadas <strong>de</strong>pois da queda do muro <strong>de</strong><br />

Berlim, quando o combate ao comunismo per<strong>de</strong>u a centralida<strong>de</strong> que tinha sob a guerra fria. Aliás, a<br />

geopolítica do narcotráfico e suas múltiplas territorialida<strong>de</strong>s é um tema que <strong>de</strong>veria ser retomado com<br />

pesquisas empíricas mais <strong>de</strong>talhadas, apesar <strong>dos</strong> riscos nela implica<strong>dos</strong>. Des<strong>de</strong> o final <strong>dos</strong> anos 60 e início <strong>dos</strong><br />

70 que o movimento negro estaduni<strong>de</strong>nse acusa a disseminação do uso <strong>de</strong> drogas nos guetos das periferias das<br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s como estratégia <strong>de</strong> combate à insurgência <strong>dos</strong> Panteras Negras. Spike Lee em seus filmes em<br />

vários momentos explicita essa relação. Nos anos 90 veríamos uma série <strong>de</strong> políticos e militares que haviam<br />

combatido os movimentos insurgentes na América Latina e Caribe serem acusa<strong>dos</strong> <strong>de</strong> narcotraficantes.<br />

34 - Não olvi<strong>de</strong>mos que essa nova configuração geopolítica se dá quando o Exército estaduni<strong>de</strong>nse se vê<br />

obrigado a se reposicionar <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>volução, em finais <strong>dos</strong> anos 90, do Canal do Panamá, formalmente<br />

<strong>de</strong>cidida ainda 1977 no governo <strong>de</strong> J. Carter e no <strong>de</strong> Omar Torrijos. É com Bill Clinton, em 2000, que se<br />

instrumentaliza, supranacionalmente, o histórico conflito nacional interno colombiano em nome do combate<br />

ao narcotráfico. Após 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001, e já sob George W. Bush, o caráter <strong>de</strong> combate à insurgência<br />

das FARCs e do ELN torna-se explícito, agora sob a política <strong>de</strong> amplo espectro do combate ao terrorismo.<br />

35 Po<strong>de</strong>ríamos acrescentar, ainda, as insistentes <strong>de</strong>clarações do braço político tanto das FARCs como do ELN,<br />

<strong>de</strong> que não há solução militar para o conflito colombiano. Ou essas <strong>de</strong>clarações são levadas a sério e<br />

trazidas a <strong>de</strong>bate público ou o conflito militar prossegue fazendo suas vítimas.<br />

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