A Reinvenção dos Territórios - Universidad Nacional Autónoma de ...
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outros foram submeti<strong>dos</strong> e nega<strong>dos</strong>. A América Latina e o Caribe tiveram um papel<br />
protagônico na constituição <strong>de</strong>sse sistema-mundo mo<strong>de</strong>rno-colonial não só na primeira<br />
mo<strong>de</strong>rno-colonialida<strong>de</strong>, sob hegemonia ibérica, como na segunda mo<strong>de</strong>rno-colonialida<strong>de</strong>,<br />
sob hegemonia da Europa Norte Oci<strong>de</strong>ntal.<br />
Se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento da primeira mo<strong>de</strong>rno-colonialida<strong>de</strong> houve r-existência,<br />
até porque toda dominação é contato com o dominado, portanto, lugar <strong>de</strong> atrito, as<br />
estratégias <strong>de</strong> sobrevivência <strong>dos</strong> setores subalterniza<strong>dos</strong> foram, ao longo tempo, diversas.<br />
Houve época que fugir para lugares <strong>de</strong> difícil acesso foi a forma <strong>de</strong> se libertar: os indígenas<br />
na bacia amazônica buscaram os altos cursos <strong>dos</strong> rios; os negros formaram seus pallenques<br />
e quilombos em lugares aci<strong>de</strong>nta<strong>dos</strong>, ou nas furnas e cavernas, ou nos bosques fecha<strong>dos</strong>, ou<br />
acima das cachoeiras; ou nos mangues ou áreas insalubres para brancos (há situações sui<br />
generis <strong>de</strong> negros serem naturalmente protegi<strong>dos</strong> contra a malária, como os que ocuparam o<br />
vale do Gurutuba, em Minas Gerais 71 ). Em muitos lugares os indígenas preferiram ou<br />
aceitaram missionários protetores contra colonos ávi<strong>dos</strong> por explorá-los. Enfim, foram<br />
várias e múltiplas as estratégias <strong>de</strong> sobrevivência. Todavia, só muito recentemente os povos<br />
originários ganharam maior visibilida<strong>de</strong>, apesar da sua r-existência histórica. São múltiplas<br />
também as razões para essa emergência que, por sua vez, nos permitem i<strong>de</strong>ntificar um novo<br />
padrão <strong>de</strong> conflitivida<strong>de</strong> e, assim, uma nova periodização das lutas sociais on<strong>de</strong> o território<br />
e as territorialida<strong>de</strong>s ganham visibilida<strong>de</strong>.<br />
Há razões próprias internas aos grupos sociais que se constituem em r-existência, que<br />
são impossíveis <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntificadas no escopo <strong>de</strong>sse trabalho 72 . Todavia, há uma série<br />
<strong>de</strong> eventos e processos que conformam condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> para a emergência<br />
<strong>de</strong>sses grupos em movimentos sociais, algumas já i<strong>de</strong>ntificadas na primeira parte <strong>de</strong>sse<br />
trabalho, como a reconfiguração <strong>dos</strong> blocos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r tradicionais em nuestra América com<br />
as políticas <strong>de</strong> ajuste estrutural, sobretudo com a <strong>de</strong>smontagem <strong>dos</strong> velhos mecanismos <strong>de</strong><br />
dominação, como o clientelismo, fisiologismo, mandonismo, gamonalismo, coronelismo,<br />
71 Com o recente saneamento <strong>de</strong>sse vale, as oligarquias branco-mestiças pu<strong>de</strong>ram a<strong>de</strong>ntrá-lo e a paz das<br />
comunida<strong>de</strong>s negras vem sendo ameaçada por jagunços e pistoleiros a mando <strong>dos</strong> fazen<strong>de</strong>iros. Eis um caso<br />
emblemático da chamada mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> entre nós: a chegada da ciência e da técnica <strong>de</strong> saneamento longe <strong>de</strong><br />
emancipar chega como condição <strong>de</strong> opressão <strong>dos</strong> povos, tal e qual aqui chegaram as primeiras manufaturas<br />
mo<strong>de</strong>rno-coloniais nos séculos XVI e XVII.<br />
72 Para isso remeto aos livros <strong>de</strong> Raul Zibechi e James Scott.<br />
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