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SEÇÃO TEMÁTICA<br />

OGIBA, S. M. M. Infância e discurso...<br />

convivência diária com a família. Viveu fechado em seu quarto e em tratamento<br />

durante 03 anos. Morreu no ano de 1861.<br />

7. Quanto à mãe, quase não há referência à mesma pelos biógrafos<br />

de Schreber, apenas que parecia ser uma mulher pouco afetiva, deprimida e<br />

dominada pelo marido. Soube-se que seu nome era Pauline, contrastando<br />

com o nome do filho que se chamava Daniel Paul Schreber. Pauline parece<br />

ter vivido até os 92 anos!<br />

8. Daniel Schreber é o terceiro, dos cinco filhos do casal. O<br />

primogênito, três anos mais velho que Schreber, chamava-se Gustav e,<br />

segundo os registros encontrados, sofria de paralisia e suicidou-se aos 36<br />

anos de idade. Maurits Katan (p.102 e 109), por exemplo, ao analisar o<br />

material infantil, comenta sobre a relação de Schreber, ainda bem menino,<br />

com esse seu irmão mais velho e com a sua mãe. De posse desse material<br />

sugere uma interpretação para o que chamou de “medula do conflito<br />

infantil” atuante no sistema delirante de Schreber, através do tema da conspiração.<br />

“... o irmão maior deve tê-lo atraído bastante, já que Schreber estava<br />

em conflito acerca de quem era seu preferido: seu pai ou seu irmão”.<br />

“... Schreber formou uma dependência masoquista feminina com respeito<br />

a seu pai. Resulta evidente que estava em perigo de fazer o mesmo em<br />

relação ao seu irmão”.<br />

2. INFÂNCIA E DISCURSO(S)<br />

1. Sabemos muito pouco sobre a infância de Schreber; entretanto,<br />

talvez nos seja possível saber algo da criança Schreber tendo por referência<br />

os efeitos discursivos da obra educacional do Dr. Moritz Schreber. Niederland,<br />

como mencionado antes, ao tomar o caminho da investigação da obra educacional<br />

do pai, pôde vir a contribuir com a reconstituição dessa infância,<br />

situando a criança Schreber em sua constelação familiar. No entanto, gostaria<br />

de interrogar essa obra, uma obra de educação moral e física na perspectiva<br />

de um Guia, ao revelar seus dispositivos de poder-saber voltados para a<br />

produção da subjetividade infantil. Dispositivos atuantes sobre e no corpo,<br />

tornando-o um “corpo dócil e submisso”, expressão emblemática de uma<br />

leitura foucaultiana dos mecanismos de funcionamento do poder na sociedade<br />

moderna – uma série de tecnologias atuantes no corpo e nele produzindo<br />

inscrições discursivas que virão dizer da realidade psíquica, estrutural e sintomática<br />

do Sujeito.<br />

2. A criança Schreber, diz-se, foi um aluno aplicado. Ele próprio, em<br />

suas Memórias, se apresenta como “de natureza tranqüila, quase sóbria,<br />

sem paixão, com pensamento claro, cujo talento individual se orientava mais<br />

para a crítica intelectual fria do que para a atividade criadora de uma imaginação<br />

solta”. Tudo indica, conforme menciona Marilene Carone, na introdução<br />

das Memórias..., que Schreber, em sua infância, submeteu-se com<br />

docilidade ao despotismo pedagógico do pai.<br />

3. No entanto, a obra do pai Schreber, ao ser concebida como dispositivo<br />

discursivo, é ela mesma produzida por outros tantos discursos veiculados<br />

no âmbito do social e da cultura do seu tempo. Se tomarmos o início do<br />

séc. XIX, em suas primeiras décadas, época do nascimento do Dr. Moritz, e<br />

refletirmos sobre as condições sociais, cientificas e filosóficas, em desenvolvimento<br />

desde o século XVIII, chegaremos a certo espírito do tempo, marcado<br />

pelas idéias iluministas e pela crença no progresso da razão. Século<br />

das Luzes como assim o chamamos, o século XVIII, foi, de fato, o solo para<br />

a reforma humanista do mundo ocidental no século XIX.<br />

4. Buscando seguir a investigação de Niederland sobre a obra do pai<br />

Schreber, visando à descoberta do núcleo da verdade do sistema delirante<br />

do Schreber filho, e, tomando o cuidado para não cair na simplificadora relação<br />

de causa-efeito, acredito que se possa ver essa obra em seus efeitos de<br />

sentido produtores de discurso parental. E, por esta via, poder pensar o<br />

sistema delirante de Schreber, como sendo causado por efeitos de uma rede<br />

de discursos, assim como apresentar a infância de Schreber, implicada e<br />

estruturada por séries discursivas, cuja produção é, sobretudo, da ordem do<br />

discurso e do acontecimento. Dessa perspectiva, colaborar com a investigação<br />

de Niederland, situando a infância na ordem dos discursos: social, cultural,<br />

parental, por um lado, e , por outro, constituindo-a (a infância) no<br />

6 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 181, jul., 2009.<br />

C. da APPOA, Porto Alegre, n. 181, jul., 2009.<br />

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