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SEÇÃO TEMÁTICA<br />
OGIBA, S. M. M. Infância e discurso...<br />
outros,quase quatro séculos depois, temos um desses intelectuais do século<br />
XV figurado na pessoa do Dr. Moritz, pai de Schreber.<br />
7. Interrogo-me sobre essa “descontinuidade” no discurso social, educacional<br />
e médico. Quase chego a pensá-la em sua eficácia emolduradora<br />
de um discurso parental, na família schrebiana. Sim, o sentimento de cuidado,<br />
de cultivo da vida da criança como seres diferentes dos adultos foi atuante<br />
nas múltiplas séries discursivas, e nas práticas de cuidado daquele pai,<br />
cuja tamanha desmesura leva-nos a inferir sobre o quanto o mesmo se exercia<br />
também como “mãe”.<br />
8. Este “Pai que sabia demais”, como nos apresenta Eric L. Santner,<br />
em seu livro A Alemanha de Schreber, através dos “seus cuidados”, parece<br />
ter deslocado a senhora Pauline do seu lugar-função materna. Bem, enfim,<br />
considero arriscada uma formulação como esta, no entanto, à luz dos poucos<br />
dados obtidos sobre a mãe de Schreber e da sua posição naquela constelação<br />
familiar, é possível percebermos a figura da senhora Pauline como<br />
sendo apagada, submissa ao Dr. Moritz, sobretudo, alienada ao discurso de<br />
um outro. A essa posição da sua mãe na constelação familiar, Schreber,<br />
parece ter aludido em seu conteúdo delirante sob o tema da conspiração,<br />
pois que nas interpretações de Katan e Nierderland, a senhora Pauline tratou,<br />
por um período, de “esconder” as relações “tumultuadas” entre o menino<br />
Schreber e seu irmão mais velho, as quais, aqui nesta ocasião, não terei o<br />
tempo para esmiuçar.<br />
9. São pois as experiências da sua infância (aquela tomada na<br />
temporalidade cronológica, aludida antes) que aparecem em forma de delírios<br />
milagrosos, durante, por exemplo, o processo psicótico, fazendo com<br />
que se possa dizer da existência de um núcleo, certa essência “realista”<br />
presente no material de seus delírios. Toda uma linguagem arcaica típica<br />
dos processos primários aí aparece. Dito, talvez, de outro modo, o material<br />
psicótico converte em milagres as primeiras experiências infantis. Toda uma<br />
instrumentalizada, e instrumentalizadora, manipulação (“a criança<br />
regimentada”, formulada por Eric Santner) foi-lhe, vou usar a força mesmo da<br />
palavra e dizer imposta, como forma de cuidado. Cuidados realizados através<br />
da vigilância, da coação e, por vezes, com doçura; fazendo com que<br />
certo dito poético, produzido na poesia contemporânea, já lá estivesse no<br />
séc. XIX, a mostrar-se com toda contundência objetificante, a saber: “Te<br />
odeio com doçura”, tema titulo do livro de poemas de Antônio Mariano. Um<br />
tema libelo do amor eterno ...<br />
4. INFÂNCIA E HISTÓRIA... LÍNGUA, DISCURSO E INCONSCIENTE<br />
1. Das análises sobre o Caso Schreber que Lacan formula no Seminário<br />
As Psicoses, destaco o tema da Foraclusão: essa falha no Outro. O que<br />
o acontecimento da foraclusão do Nome-do-Pai virá a produzir na relação do<br />
sujeito com os discursos Pois bem, encontro uma passagem no referido<br />
Seminário, na qual Lacan parece querer nos advertir sobre a singular posição<br />
que o sujeito se encontra na rede dos discursos e, da mesma forma, apontando<br />
para a singularização da psicanálise enquanto uma série discursiva,<br />
dentre as outras tantas que aludimos antes. Diz Lacan, à página 190:<br />
“Se digo que tudo o que pertence à comunicação analítica tem estrutura<br />
de linguagem, isso não quer dizer que o inconsciente se exprima no<br />
discurso. A Traumdeutung, a Psicopatologia da vida cotidiana e o Chiste<br />
tornam isso transparente – nada dos rodeios de Freud é explicável, salvo que<br />
o fenômeno analítico como tal, seja ele qual for, é, não uma linguagem no<br />
sentido em que isso significaria ser um discurso – eu nunca disse que é um<br />
discurso – , mas estruturado como uma linguagem.” (grifo nosso)<br />
2. Há outras passagens no Seminário As Psicoses, onde Lacan vai<br />
nos informando sobre essa particular relação do sujeito com a linguagem, e<br />
da linguagem tomada em sua duplicidade essencial do significante e do<br />
significado, no caso das neuroses e da psicose, em particular, no Caso<br />
Schreber. Em outro momento, as revisarei, buscando discutir de modo mais<br />
abrangente as implicações acima referidas.<br />
3. Assim como, também vai informando-nos, em vários outros dos<br />
seus seminários, sobre o que é o Discurso para ele, para a Psicanálise.<br />
Fundamentalmente, nos diz que o Discurso é o Grande Outro e tem, então,<br />
uma condição superlativa de gozar sobre nós. No caso das psicoses, ou<br />
10 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 181, jul., 2009.<br />
C. da APPOA, Porto Alegre, n. 181, jul., 2009.<br />
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