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MIOLO DO HUGV 2006.pmd - Hospital Universitário Getúlio Vargas

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evistahugv<br />

Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong><br />

v.5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

<strong>MIOLO</strong> <strong>DO</strong> <strong>HUGV</strong> <strong>2006.pmd</strong> 1<br />

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UNIVERSIDADE FEDERAL <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />

Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AM<br />

Fones: (092) 3621-6582 E-mail: revistahugv@ufam.edu.br<br />

UFAM<br />

FUNDA<strong>DO</strong>RES<br />

Ricardo Torres Santana<br />

Jorge Alberto Mendonça<br />

LISTA <strong>DO</strong> CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA <strong>HUGV</strong><br />

EDITOR-CHEFE<br />

Fernando Luiz Westphal Maria Augusta Bessa Rebelo Rosane Dias da Rosa<br />

Kathya Augusta Thomé Lopes<br />

Maria Lizete Guimarães Dabela<br />

LISTA <strong>DO</strong> CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA <strong>HUGV</strong><br />

Aluísio Miranda Leão<br />

Ângela Delfina B. Garrido<br />

Antonio Carlos Duarte Cardoso<br />

Célia Regina Simoneti Barbalho<br />

Cláudio Chaves<br />

Clemencio Cezar Campos Cortez<br />

Dagmar Keisslich<br />

David Lopes Neto<br />

Domingos Sávio Nunes de Lima<br />

Edson Sarkis Gonçalves<br />

Ermerson Silva<br />

Eucides Batista da Silva<br />

Eurico Manoel Azevedo<br />

Fernando César Façanha Fonseca<br />

Fernando Luiz Westphal<br />

Gerson Suguyama Nakajima<br />

Ione Rodrigues Brum<br />

Ivan da Costa Tramujás<br />

Jacob Cohen<br />

João Bosco L. Botelho<br />

Julio Mario de Melo e Lima<br />

Kathya Augusta Thomé de Souza<br />

Lourivaldo Rodrigues de Souza<br />

Luís Carlos de Lima<br />

Luiz Carlos de Lima Ferreira<br />

Luiz Fernando Passos<br />

Maria Augusta Bessa Rebelo<br />

Maria do Socorro L. Cardoso<br />

Maria Fulgência Costa L. Bandeira<br />

Maria Lizete Guimarães Dabela<br />

Mariano Brasil Terrazas<br />

Neila Falcone Bonfim<br />

Nelson Abrahim Fraiji<br />

Nikeila Chacon de O. Conde<br />

Osvaldo Antônio Palhares<br />

Ricardo Torres Santana<br />

Rosana Cristina Pereira Parente<br />

Rosane Dias da Rosa<br />

Wilson Bulbol<br />

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evistahugv<br />

Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong><br />

v.5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />

Copyright© 2006 Universidade Federal do Amazonas/<strong>HUGV</strong><br />

REITOR DA UFAM<br />

Dr. Hidembergue Ordozgoith da Frota<br />

DIRETOR <strong>DO</strong> HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />

Dr. Raymison Monteiro de Souza<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIAL: EDUA<br />

DIRETOR DA EDUA<br />

Dr. Renan Freitas Pinto<br />

DIRETORA DA REVISTA<br />

Profª Dayse Enne Botelho<br />

REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA)<br />

Sergio Luiz Pereira<br />

CAPA<br />

TIRAGEM 300 EXEMPLARES<br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287<br />

R454 Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>.<br />

Revista do <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong>. V. 5, n. 1-2 (2006) / Manaus: Editora da Universidade Federal<br />

do Amazonas, 2006.<br />

82p.<br />

Semestral<br />

Título da revista em português inglês<br />

ISSN – 1677-9169<br />

1. Medicina-Periódico I. <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> II. Universidade Federal do Amazonas.<br />

CDU 61(051)<br />

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SUMÁRIO<br />

Editorial ..............................................................................................................................................<br />

Kathya Augusta Thomé Lopes<br />

7<br />

ARTIGOS ORIGINAIS<br />

1. Caracterização das reações transfunsionais ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>,<br />

Amazonas, Brasil, no período de 2001 a 2003 ...................................................................................<br />

2. Avaliação clínico-cirúrgica dos pacientes submetidos a ressecção pulmonar por bronquiectasias<br />

.......................................................................................................................................................<br />

3. O deprimido diante do entrevistador clínico iniciante ...................................................................<br />

4. Estudo sobre a atitude do profissional de saúde com relação à perspectiva de vida ativa de<br />

pacientes com sequelas de traumatismo raqui-medular .....................................................................<br />

5. Treinamento muscular inspiratório em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica ....<br />

RELATO DE CASO<br />

6. Tratamento de fraturas faciais ocasionadas por projetéis de arma de fogo (P. A. F.): Relato de<br />

Caso Clínico ..........................................................................................................................................<br />

7. Deficiência de 11β-Hidroxilase – Relato de Caso e Revisão de Literatura ....................................<br />

8. Pneumonia Necrosante: Relato de Caso .........................................................................................<br />

9. Tratamento da discromia gengival: Comparação de duas técnicas ............................................<br />

10. Hamartoma Hipotalâmico causando puberdade precoce central: Relato de Caso ....................<br />

11. A importância do planejamento na reabilitação estética do sorriso pela cirurgia plástica<br />

periodontal: Relato de Caso ..................................................................................................................<br />

12. Relato de Caso: Insuficiência Respiratória pós-pleurodese ..........................................................<br />

9<br />

15<br />

23<br />

29<br />

35<br />

43<br />

49<br />

53<br />

57<br />

63<br />

67<br />

75<br />

13. Resumo .........................................................................................................................................<br />

79<br />

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6<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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EDITORIAL<br />

Kathya Augusta Thomé Lopes*<br />

A Revista do <strong>HUGV</strong> é um periódico da Ufam<br />

que possibilita a publicação de artigos e resultados<br />

de investigações, busca estimular a divulgação do<br />

conhecimento elaborado nas mais diversas áreas<br />

da saúde dentro e fora do âmbito do <strong>Hospital</strong><br />

Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>. Tem como pressuposto<br />

disponibilizar artigos e trabalhos de pesquisa<br />

que venham contribuir para melhorar as ações<br />

dos profissionais e das instituições.<br />

A pesquisa de certa maneira tem como<br />

perspectiva promover o desenvolvimento e<br />

minimizar os problemas da saúde. Assim, por<br />

intermédio de uma produção científica rigorosa<br />

e com qualidade, é possível encontrar respostas e<br />

soluções para as questões prioritárias de saúde<br />

da população, bem como do sistema e da política<br />

de saúde. Talvez a grande dificuldade ainda esteja<br />

relacionada à capacidade de incorporar os<br />

resultados desta produção nas ações de saúde.<br />

Torna-se imprescindível encontrar estratégias para<br />

disseminar este conhecimento visando possibilitar<br />

a sua utilização em benefício do bem-estar das<br />

populações em todas as suas dimensões.<br />

A investigação científica em saúde teve uma<br />

ampliação nos últimos anos, indo desde o<br />

aumento de projetos de pesquisa até as diversas<br />

oportunidades para auxílios e fomentos nesta<br />

área, o que de certa forma tem motivado o avanço<br />

dessas investigações.<br />

Um outro fator importante é a atenção que<br />

tem se dado aos aspectos éticos em pesquisa<br />

visando a garantia de um compromisso entre o<br />

pesquisador e os sujeitos da pesquisa, na mesma<br />

proporção as pesquisas realizadas com rigor<br />

científico expressam qualidade no seu desenvolvimento<br />

e ainda não são positivamente compreendidas<br />

pelos especialistas e nem pela sociedade.<br />

Tendo em vista as transformações apresentadas<br />

nas diversas especialidades da saúde, nada<br />

mais justo que usar o conhecimento adquirido em<br />

prol do benefício da sociedade, e isto passa pela<br />

divulgação intensiva dos achados científicos, daí<br />

o papel importante da divulgação pelas revistas<br />

científicas.<br />

Arriscaríamos afirmar que os conhecimentos<br />

disponíveis podem não ser adequados e<br />

suficientes para a solução dos diversos problemas<br />

identificados na área da saúde, contudo é importante<br />

que haja uma atuação incessante dos<br />

pesquisadores para a busca de novas informações<br />

e geração de conhecimentos para redução de<br />

doenças e principalmente a formulação de<br />

políticas de prevenção.<br />

A começar pela convicção de que as ações<br />

adequadas e favoráveis a uma boa qualidade de<br />

saúde serão na maioria das vezes advindas de<br />

descobertas de pesquisas bem elaboradas, e que,<br />

por sua vez, são desenvolvidas com base na<br />

inquietação de seus pesquisadores, promovendo<br />

achados importantes para a área, tais como: o que<br />

favorecer para que as pessoas permaneçam<br />

saudáveis; os fatores gerais que influenciam; as<br />

características locais; prioridades; os determinantes<br />

sociais, políticos e ambientais de saúde, dentre<br />

outros. É importante que essas ações sejam<br />

estimuladas dentro do âmbito do <strong>HUGV</strong>,<br />

notadamente por se tratar de um hospital de<br />

ensino.<br />

* Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam<br />

Coordenadora do Programa de Atividades Motoras para Deficientes / PROAMDE<br />

Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Social do <strong>HUGV</strong><br />

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7<br />

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Além de estimular e disseminar a importância<br />

da realização de pesquisas e a veiculação dos<br />

diversos conhecimentos elaborados na área de<br />

saúde, o <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>,<br />

por intermédio do Conselho Editorial e Consultivo<br />

da Revista do <strong>HUGV</strong>, propõe-se a avaliar os<br />

trabalhos apresentados à publicação priorizando<br />

o rigor científico, observando, ainda, a importância<br />

dos achados para o benefício da sociedade<br />

bem como a sua aplicação prática.<br />

A realização de projetos de pesquisa<br />

propicia a constante produção de conteúdo<br />

científico, assim como possibilita a captação de<br />

recursos para os Serviços e, em última instância,<br />

para a Instituição. Portanto, a Divisão de Apoio<br />

à Pesquisa Científica disponibiliza orientação aos<br />

profissionais deste <strong>Hospital</strong> interessados em<br />

realizar projetos de pesquisa.<br />

8<br />

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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />

CARA<br />

ARACTERIZA<br />

CTERIZAÇÃ<br />

ÇÃO DAS REAÇÕES<br />

TRANSFUNSIONAIS AIS OCORRID<br />

ORRIDAS NO HOSPIAL UNI-<br />

VERSITÁRIO GETÚLIO VAR<br />

ARGAS<br />

AS, , AMAZONAS<br />

AS, , BRASIL,<br />

NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />

CHARATERIZATION OF TRANSFUNSIONAL REACTIONS OCCURED IN THE UNIVERSITY HOSPITAL<br />

GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRAZIL, IN THE PERIOD OF 2001 THE 2003<br />

Miharu Maguinoria Matsuura Matos 1 , Rivaldo Castro Vilar 2 , Yvelise Ferreira 3 ,<br />

Reneide de Pinheiro Almeida 4 , Maria Elizete de Almeida Araújo 5<br />

RESUMO: Diante do complexo quadro que envolve a prática transfusional, aliada ao fato de que o Estado do<br />

Amazonas possui dados incipientes referente às reações transfusionais, o presente estudo propôs descrever as<br />

reações ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>, da cidade de Manaus, Brasil. Acredita-se que as informações,<br />

apresentadas neste estudo, contribuem para o conhecimento real das reações transfusionais ocorridas e<br />

possibilita o aprimoramento do trabalho desenvolvido pela Hemovigilância do <strong>HUGV</strong>, permitindo uma maior<br />

segurança transfusional. Casuística: Avaliação de todos os relatórios de reação transfusional e livros de registro de<br />

transfusão sangüínea do banco de dados da Agência Transfusional do hospital, no período de 2001 a 2003. Resultados:<br />

Das 21.289 transfusões analisadas, 21 desencadearam reações transfusionais, caracterizando uma freqüência<br />

de 0,10%. A incidência de reação alérgica foi de 0,04% e reação febril não hemolítica foi de 0,03%. Esses dados<br />

diferem dos disponíveis na literatura quanto à incidência, mas é similar quanto aos tipos de reação mais<br />

freqüentes. Conclusões: Observou-se uma baixa taxa de reação transfusional refletindo que existem dificuldades<br />

na monitorização e notificação das reações ocorridas neste hospital. Considera-se que essa taxa foi influenciada<br />

por diversas causas, principalmente em conseqüência das subnotificações, pois representa uma inconsistência da<br />

definição de caso por falta de conhecimento técnico-científico dos envolvidos na terapia transfusional.<br />

Palavras-chave: Reações transfunsionai, transfunsão sanguínea, hemovigilância, Incidentes transfunsionais, notificação<br />

de reações adversas.<br />

ABSTRACT: Facing the complex situations that involves the transfusional practice, followed by the fact that the<br />

state of Amazon doesn´t have enough information about transfusional reactions, the present study proposed to<br />

describe the reactions occured in the University <strong>Hospital</strong> Getulio <strong>Vargas</strong> in Manaus, Brazil. It is believed credit that<br />

the information in this study contribute to the real knowledge of transfusional reactions occured and offer the<br />

improvement of the work developed by the Hemovigilance of <strong>HUGV</strong>, allowing a higher transfusional security.<br />

Material and methods: Review of all the reports of transfusional reaction and the blood transfusions registers of the<br />

data base of the Transfusional Agency of the hospital in period of years from 2001 to 2003. Results: Of 21,289<br />

transfusions analyzed, 21 had transfusional reactions, characterizing a frequency of 0,10%. The alergical incidence<br />

of reactions was 0,04% and no hemolytic fever reaction was 0,03%. These data differ from the available literature in<br />

incidence terms but it was similar to the types of reaction found in this study. Conclusions: A low tax of transfusional<br />

reaction was observed in this study reflecting the existence of difficulties in the monitorization and notification<br />

of the reactions occurred in this hospital. It is considered that this tax was influenced by several causes, mainly due<br />

to subnotifications, that represent an inconsistency of the case definition due to technician-scientific knowledge of<br />

the people involved in the transfusional therapy.<br />

Key-words: Transfusional reactions. Blood transfusion. Hemovigilance. Transfusional incidents. Notification of<br />

adverse reactions.<br />

1<br />

Farmacêutica-Bioquímica, <strong>HUGV</strong>, Ufam<br />

2<br />

Farmacêutico-Bioquímico, Ufam<br />

3<br />

Médica, Hemoam<br />

4<br />

Farmacêutica-Bioquímica, <strong>HUGV</strong>, Hemoam<br />

5<br />

Gerente de Risco Sanitário <strong>Hospital</strong>ar, <strong>HUGV</strong>, Ufam<br />

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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />

INTRODUÇÃO<br />

OBJETIVO<br />

A transfusão de sangue consiste na administração<br />

do sangue de um indivíduo doador<br />

para um indivíduo receptor. Esse procedimento<br />

põe os antígenos do doador, sejam antígenos das<br />

membranas celulares ou antígenos plasmáticos,<br />

em contato com o sistema imunológico (anticorpos)<br />

do receptor, levando a reações do sistema<br />

imunológico do receptor da transfusão, que podem<br />

resultar em efeitos indesejáveis à transfusão.<br />

Esses resultados indesejáveis são chamados de<br />

reações transfusionais ou incidentes transfusionais.<br />

1<br />

O propósito fundamental de uma agência<br />

transfusional é assegurar uma terapia de transfusão<br />

efetiva e livre de quaisquer efeitos indesejáveis.<br />

Entretanto, vidas ainda têm sido perdidas<br />

como conseqüência de reações transfusionais. No<br />

Brasil, segundo dados da Agência Nacional de<br />

Vigilância Sanitária, 2 não se conhece a freqüência<br />

real desses incidentes transfusionais, sejam eles<br />

inerentes à terapêutica, decorrentes de má indicação<br />

e do uso dos produtos sangüíneos, ou de<br />

falhas no processo durante o ciclo do sangue. Daí<br />

a necessidade de se investigar, identificar e notificar<br />

de forma sistemática as reações transfusionais<br />

a fim de que possam ser introduzidas medidas<br />

corretivas e preventivas.<br />

Diante deste complexo quadro que envolve<br />

a prática transfusional, aliada ao fato de que o<br />

Estado do Amazonas possui dados incipientes<br />

referente às reações transfusionais, o presente estudo<br />

propôs caracterizar as reações ocorridas no<br />

<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>,<br />

da cidade de Manaus, Brasil, no período de 2001<br />

a 2003 por meio da avaliação dos relatórios de<br />

reação transfusional e livros de registro do banco<br />

de dados da Agência Transfusional do hospital.<br />

Sabe-se que o conhecimento das ocorrências das<br />

reações transfusionais é de grande valor no campo<br />

da orientação clínica e laboratorial, prevenindo<br />

o aparecimento ou recorrência de reações<br />

transfusionais imediatas ou tardias e levando a<br />

uma maior segurança e eficácia transfusional.<br />

Descrever as principais reações transfusionais<br />

ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />

<strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>, da cidade de Manaus, Brasil,<br />

no período de 2001 a 2003, por meio de levantamento<br />

de dados.<br />

CASUÍSTICA<br />

O levantamento dos dados foi realizado<br />

pelas informações obtidas do banco de dados da<br />

Agência Transfusional do <strong>HUGV</strong> e da avaliação<br />

de todos os relatórios de reação transfusional e<br />

dos livros de registro de transfusão sangüínea,<br />

com ênfase nos resultados dos testes imunohematológicos<br />

da investigação transfusional e ao<br />

parecer conclusivo fornecido pelo Hemocentro do<br />

Amazonas – Hemoam. O levantamento da reação<br />

transfusional foi baseado no número de sua<br />

ocorrência em relação ao número de unidades<br />

transfundidas no mesmo período. Este estudo foi<br />

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />

Universidade Federal do Amazonas.<br />

Para a caracterização das reações transfusionais<br />

foi avaliado o tipo de reação transfusional<br />

ocorrida de acordo com a sua natureza e o<br />

momento da instalação. Considera-se reação<br />

transfusional do tipo imediato (aguda) aquela<br />

ocorrida durante a transfusão ou em até 24 horas<br />

e reação do tipo tardio aquele que ocorre após<br />

24 horas da transfusão realizada. As reações<br />

transfusionais do tipo imediata (aguda) estão envolvidas<br />

com: reação hemolítica aguda, reação<br />

febril não hemolítica, reações alérgicas, sobrecarga<br />

volêmica, contaminação bacteriana, edema<br />

pulmonar não cardiogênico, reação hipotensiva<br />

e hemólise não imune. E as do tipo tardia estão<br />

envolvidas com: reação hemolítica tardia, doença<br />

enxerto-vs-hospedeiro, púrpura pós-transfusional,<br />

aparecimento de anticorpos irregulares/<br />

isoimunização, hemossiderose e doenças<br />

transmissíveis por vírus, bactérias e parasitas. Esta<br />

classificação segue os critérios do Ministério da<br />

Saúde/Anvisa 2 .<br />

10<br />

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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />

RESULTA<strong>DO</strong>S<br />

Foram analisados os resultados de 21.289<br />

transfusões de sangue, no período de janeiro de<br />

2001 a dezembro de 2003, sendo 9.016 (42,35%)<br />

de concentrado de hemácias (CH), 7.990 (37,53%)<br />

de concentrado de plaquetas (CP), 3.221 (15,12%)<br />

de plasma fresco congelado (PFC), 644 (3,02%)<br />

de crioprecipitado e 418 (1,96%) de plasma preservado<br />

(PP). A Tabela 1 apresenta a distribuição<br />

dos hemocomponentes transfundidos no <strong>HUGV</strong><br />

de acordo com o ano estudado.<br />

Tabela 1 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados<br />

transfundidos no <strong>HUGV</strong> de acordo com o ano<br />

estudado<br />

Hemocomponentes<br />

e derivados<br />

CH<br />

PFC<br />

PP<br />

CP<br />

Criopreciptado<br />

Total<br />

2001<br />

3.223<br />

1.280<br />

167<br />

3.684<br />

200<br />

8.554<br />

Ano<br />

2001<br />

2.714<br />

799<br />

75<br />

2.367<br />

162<br />

6.117<br />

2003<br />

3.079<br />

1.142<br />

176<br />

1.939<br />

282<br />

6.618<br />

Total<br />

Transfundido<br />

9.016<br />

3.221<br />

418<br />

7.990<br />

644<br />

21.289<br />

CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado;<br />

CP = Concentrado de Plaquetas<br />

Neste estudo, das 21.289 transfusões realizadas,<br />

21 desencadearam reação transfusional,<br />

caracterizando uma freqüência de 0,10%, sendo<br />

11 (52%) do sexo feminino e 10 (48%) do sexo<br />

masculino. A média de reação transfusional notificada<br />

foi de uma reação transfusional a cada<br />

dois meses. A análise estatística da ocorrência de<br />

reação transfusional de acordo com o ano não<br />

apresentou diferença estatisticamente significante<br />

(p>0.05). A Tabela 2 demonstra a freqüência de<br />

reação transfusional com base no número de unidades<br />

transfundidas por ano.<br />

Das vinte e uma (0,10% das transfusões)<br />

reações transfusionais ocorridas, dezenove (90,4%<br />

das reações – 0,09% das transfusões) estavam<br />

envolvidas com a transfusão de CH, uma (4,8%<br />

das reações – 0,005% das transfusões) com PFC e<br />

uma (4,8% das reações – 0,005% das transfusões)<br />

com CP. A Tabela 3 demonstra a distribuição dos<br />

hemocomponentes transfundidos em relação ao<br />

número de reação transfusional ocorrido.<br />

Tabela 3 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados<br />

transfundidos no <strong>HUGV</strong> em relação ao número de<br />

reação transfunsional ocorrido.<br />

Hemocomponentes<br />

e derivados<br />

CH<br />

PFC<br />

PP<br />

CP<br />

Criopreciptado<br />

Total<br />

Total transfundido<br />

9.016<br />

3.221<br />

418<br />

7.990<br />

644<br />

21.289<br />

Reação<br />

transfusional<br />

19<br />

1<br />

-<br />

1<br />

-<br />

21<br />

CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado;<br />

CP = Concentrado de Plaquetas<br />

O CH foi responsável por dezenove reações<br />

transfusionais (90,4% das reações – 0,09%<br />

das transfusões), ocorridas no <strong>HUGV</strong>, sendo que<br />

dezessete (89,5% das reações – 0,08% das transfusões)<br />

foram do tipo imediato (aguda) e duas<br />

(10,5% das reações – 0,01% das transfusões) do<br />

tipo tardio, como mostra a Figura 1.<br />

REAÇÕES POR CONCENTRA<strong>DO</strong> DE<br />

HEMÁCIAS<br />

10,5%<br />

Reação aguda<br />

Reação tardia<br />

Tabela 2 – Freqüência de reação transfusional ocorridas<br />

no <strong>HUGV</strong> em relação ao número de transfusões realizadas<br />

por ano<br />

Ano<br />

2001<br />

2002<br />

2003<br />

Total<br />

N.º de Transfusões<br />

realizadas<br />

8.554<br />

6.117<br />

6.618<br />

21.289 (100%)<br />

Sem reação<br />

Transfunsional<br />

8.548<br />

6.109<br />

6.611<br />

21.268 (99,9%)<br />

Com reação<br />

Transfunsional<br />

6<br />

8<br />

7<br />

21 (0,1%)<br />

89,5%<br />

Figura 1 – Tipos de reação transfunsional ocorridos pelo uso de concentrado<br />

de hemácias<br />

Observou-se que das dezessete reações<br />

transfusionais do tipo imediata (89,5% das rea-<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />

ções – 0,08% das transfusões), já que se desenvolveram<br />

durante ou em até 24 horas da transfusão<br />

realizada, o mesmo ocorrendo com aquelas decorrentes<br />

do CP e do PFC quanto ao tempo de<br />

instalação da reação, oito (47,0% das reações –<br />

0,04% das transfusões) eram reação alérgica, sete<br />

(41,2% das reações – 0,03% das transfusões) eram<br />

reação febril não hemolítica e duas (11,8% das<br />

reações – 0,01% das transfusões) de outras causas,<br />

conforme representadas na Figura 2.<br />

Das duas reações transfusionais do tipo tardio<br />

(0,01% das transfusões), encontradas neste estudo,<br />

mostraram que ambas (100%) foram reação<br />

hemolítica tardia, caracterizando uma freqüência<br />

de reação transfusional a cada 10.140<br />

transfusões de sangue.<br />

41,2%<br />

11,8%<br />

REAÇÕES TRANSFUSIONAIS <strong>DO</strong><br />

TIPO AGUDA<br />

47,0%<br />

Reação alérgica<br />

Reação febril não hemolítica<br />

Reações por outras causas<br />

Figura 2 – Classificação das reações tranfunsionais do tipo imediata<br />

ocorridas no <strong>HUGV</strong><br />

DISCUSSÃO<br />

A freqüência de 0,10% de reação transfusional<br />

encontrada neste estudo foi abaixo da nossa<br />

expectativa, embora essa taxa demonstre uma<br />

certa homogeneidade do número de reação transfusional<br />

com o de unidades transfundidas no decorrer<br />

dos anos.<br />

A Fiocruz 3 estima que 1 a 3% das transfusões<br />

de sangue dão origem a uma reação transfusional.<br />

Este percentual sobe para 10% em pacientes<br />

politransfundidos. Uma freqüência de reação<br />

transfusional semelhante à encontrada neste estudo<br />

foi apresentada por Silva et al 4 de 0,17% em<br />

pacientes internados na Santa Casa de Belo Ho-<br />

rizonte, como também por Ditzel et al, 5 que mostraram<br />

uma taxa de 0,28% de reação transfusional<br />

ocorridas no Hemocentro de Curitiba. Ainda<br />

na cidade de Curitiba, Rocha 6 detectou que 1,53%<br />

dos pacientes do <strong>Hospital</strong> Erasto Gaertner gerou<br />

reação adversa à transfusão. Os autores das literaturas<br />

consultadas foram unânimes em afirmar<br />

que a subnotificação foi a principal causa da baixa<br />

taxa de reação transfusional encontrada nesses<br />

estudos. Segundo cálculos de Lopes; Amorim<br />

Filho, 3 uma em cada cinco transfusões induz a<br />

algum tipo de complicação; entretanto, nem sempre<br />

é fácil identificar uma reação transfusional,<br />

pois, muitas vezes, são tão leves que passam despercebidas,<br />

contribuindo para uma incidência subestimada.<br />

Neste estudo, considera-se que essa baixa<br />

representatividade foi influenciada por diversas<br />

causas, principalmente em função das subnotificações<br />

das reações transfusionais. A subnotificação<br />

é um problema grave e muito sério que leva a<br />

uma falsa impressão de harmonia no trabalho<br />

quando na verdade representa uma inconsistência<br />

da definição de caso por falta de conhecimento<br />

técnico-científico dos envolvidos na terapia<br />

transfusional. Portanto, se sugere a elaboração de<br />

estratégias para a capacitação da equipe médica<br />

nas identificações, investigações e notificações de<br />

reações transfusionais a fim de que possam ser<br />

introduzidas medidas corretivas e preventivas.<br />

A freqüência de reação transfusional por<br />

unidade de hemocomponente transfundido, neste<br />

estudo, foi muito abaixo do esperado, ocorrendo<br />

uma reação a cada 474 transfusões de concentrado<br />

de hemácias, 3.221 de transfusões de<br />

plasma fresco congelado e 7.990 de transfusões<br />

de concentrado de plaquetas. Essa diferença, mais<br />

uma vez, comprova a existência de subnotificações<br />

das reações transfusionais ocorridas no <strong>HUGV</strong>.<br />

Os dados encontrados neste estudo quanto<br />

ao tipo de reação transfusional ocorrida são<br />

similares ao da literatura; 2,6,7 entretanto, diferem<br />

quanto à incidência, que foi abaixo do descrito<br />

pelos autores consultados, sugerindo uma<br />

subnotificação dos casos no serviço. Addas-Car-<br />

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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />

valho 8 confirma que a reação febril não hemolítica<br />

e a alérgica são as reações adversas associadas à<br />

transfusão mais freqüentes (em torno de 95% dos<br />

casos) e que a ocorrência destas reações transfusionais<br />

parece ser constante, pois não sofre grandes<br />

influências nem mesmo com a implantação<br />

de novas tecnologias.<br />

Das duas reações transfusionais do tipo tardias<br />

encontradas neste estudo foram reação<br />

hemolítica tardia. Por intermédio da análise estatística<br />

desses dados observou-se que houve uma<br />

taxa aumentada de reação do tipo tardia neste<br />

estudo, pois, segundo informações na literatura,<br />

relatam a ocorrência de uma reação em cerca de<br />

20.000 transfusões em pacientes politransfundidos,<br />

ou que já tiveram gestações com imunização<br />

a antígenos eritrocitários.<br />

Um fato interessante observado durante o<br />

desenvolvimento deste estudo foi o uso rotineiro<br />

de corticóides e anti-histamínico nos pacientes do<br />

<strong>HUGV</strong> antes das transfusões como medida<br />

profilática das reações transfusionais. Foram encontradas<br />

referências sobre o uso desses medicamentos<br />

nos pacientes com história prévia de alergia<br />

às transfusões, mas não como procedimento<br />

de rotina a todos os pacientes a serem transfundidos.<br />

Acredita-se que tal procedimento poderia<br />

mascarar as reações transfusionais e, conseqüentemente,<br />

também contribuir para a baixa freqüência<br />

dessas reações.<br />

CONCLUSÕES<br />

1. Neste estudo, observou-se uma baixa<br />

taxa de reação transfusional refletindo que existem<br />

dificuldades na monitorização e notificação<br />

das reações ocorridas neste hospital;<br />

2. As subnotificações podem ser responsáveis<br />

pela baixa representatividade encontrada<br />

neste trabalho, pois representa uma inconsistência<br />

da definição de caso por falta de conhecimento<br />

técnico-científico dos envolvidos na terapia<br />

transfusional;<br />

3. Há uma necessidade de se elaborar estratégias<br />

para a capacitação da equipe clínica nas<br />

identificações, investigações e notificações de reações<br />

transfusionais a fim de que possam ser<br />

introduzidas medidas corretivas e preventivas.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. SOUZA, M. H. L., REGO, M. M. S. «Reações às<br />

Transfusões». In: Princípios de Hematologia e<br />

Hemoterapia. Disponível em: http://<br />

www.perfline.com/curso-sangue/<br />

sangue15.htm.<br />

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional<br />

de Vigilância Sanitária: Manual Técnico de<br />

Hemovigilância. 2.ª ed. Brasília: Ministério da<br />

Saúde, 2002.<br />

3. LOPES, M. E. D., AMORIM FILHO, L. «Reações<br />

Transfusionais». In: Textos de Apoio em<br />

Hemoterapia. V. 2. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000,<br />

p. 91-107.<br />

4. SILVA, D. R., CARVALHO, R. V. F., DIAS, R.<br />

P. «Incidência de reações transfusionais em pacientes<br />

atendidos pela agência transfusional da<br />

Hemominas na Santa Casa de Misericórdia de Belo<br />

Horizonte: importância da notificação dos casos».<br />

In: Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de<br />

Hematologia, 17, 1999. Foz do Iguaçu, Anais... Foz<br />

do Iguaçu: Série de Monografias da Escola Brasileira<br />

de Hematologia, 1999, v. 6. Sup. 1, p. 142.<br />

5. DITZEL, D. R. C., BALDANZI, G. R.,<br />

MEROLLI, R., ALMEIDA, P. T. R. «Incidência e<br />

tipo de reações transfusionais descritas em um<br />

<strong>Hospital</strong> Universitário». In: Congresso Brasileiro de<br />

Hematologia e Hemoterapia, 25, 2002, Salvador,<br />

Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia<br />

e Hemoterapia, 2002, p. 113.<br />

6. ROCHA, J. M. «Reação transfusional e a importância<br />

de um sistema de notificação». In: Congresso<br />

Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia,<br />

25, 2002, Salvador, Anais... Salvador: Revista<br />

Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2002, p.<br />

114.<br />

7. GOULART, G. L., COZAC, A. P., GONÇAL-<br />

VES, L. L., FERREIRA, O., ÂNGULO, I. L.,<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />

MIGUEL, C. E. «Reações transfusionais imediatas<br />

no ambulatório de transfusão do Hemocentro<br />

de Ribeirão Preto». In: Congresso Nacional do Colégio<br />

Brasileiro de Hematologia, 17, 1999, Foz do<br />

Iguaçu, Anais... Foz do Iguaçu: Série de<br />

Monografias da Escola Brasileira de Hematologia,<br />

1999, v. 6, Sup. 1, p. 143.<br />

8. ADDAS-CARVALHO, M. «Hemovigilância:<br />

avaliação do registro das reações transfusionais<br />

no período de 5 anos nos Hospitais Universitários<br />

da Unicamp». In: Congresso Brasileiro de<br />

Hematologia e Hemoterapia, 25, 2002, Salvador,<br />

Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia<br />

e Hemoterapia, 2002, p. 112.<br />

14<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />

AVALIA<br />

ALIAÇÃ<br />

ÇÃO CLÍNICO-CIRÚR<br />

O-CIRÚRGIC<br />

GICA <strong>DO</strong>S PACIENTES<br />

SUBMETI<strong>DO</strong>S A RESSECÇÃO PULMONAR POR<br />

BRONQUIECT<br />

ONQUIECTASIAS<br />

CLINICAL-SURGICAL EVALUATION OF PATIENTS WERE SUBMITTED TO THE LUNG RESSECTION BY<br />

BRONCHIECTASIS<br />

FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS LIMA 2 , JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO 3 ,<br />

CINTIA TEIXEIRA SOARES 4 , BRENA LUIZE FERREIRA 5<br />

RESUMO: A alta prevalência de doenças infecciosas e o caráter endêmico da tuberculose, em nossa região, determinam<br />

um alto índice de complicações pulmonares, dentre elas as bronquiectasias. Estes pacientes são acometidos de<br />

infecções recorrentes, além do transtorno social conseqüente à grande produção de secreção que leva a um comprometimento<br />

do estado nutricional. Objetivos: Analisar os aspectos epidemiológicos, clínicos e cirúrgicos dos pacientes<br />

submetidos à ressecção pulmonar para o tratamento de bronquiectasias. Método: Estudo retrospectivo dos<br />

pacientes operados no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> e <strong>Hospital</strong> Sociedade Beneficente Portuguesa de<br />

Manaus entre janeiro de 1993 a dezembro de 2003. Os dados foram tratados estatisticamente para a comparação<br />

entre algumas variáveis. Resultados: 70 pacientes foram avaliados, com a idade média de 43,6 anos e predominância<br />

do sexo feminino (66,6%). As etiologias mais comuns foram as seqüelas de processo tuberculoso prévio e as<br />

infecções pulmonares. A hemoptise foi o sinal mais freqüente e as bronquiectasias localizadas as mais encontradas.<br />

O tipo de ressecção mais utilizado foi a lobectomia. Não houve diferença significativa quanto às complicações pósoperatórias<br />

entre as bronquiectasias localizadas e as multissegmentares. O tempo médio de cirurgia foi de 287<br />

minutos e da retirada dos drenos 4,4 dias. A permanência hospitalar foi em média 16,6 dias. A mortalidade foi de<br />

1,85%. Conclusão: Houve um alto índice de complicações, provavelmente relacionadas ao processo inflamatório<br />

intenso encontrado na cavidade pleural destes pacientes, aliado ao comprometimento nutricional, o que acarretou<br />

um tempo de internação elevado.<br />

Palavras-chave: Bronquiectasia, Etiologia, Tratamento, Complicações.<br />

ABSTRACT: The high prevalence of infectious diseases and the endemic character of the tuberculosis, in our area,<br />

determine a high index of pulmonary complications, among them the bronchiectasis. These patients have recurrent<br />

infections, besides the social upset in consequence of the great secretion production that leads to a nutritional state<br />

compromise. Objectives: To analyze the epidemiological, clinical and surgical aspects of the patients submitted to<br />

the lung resection to the bronchiectasis treatment. Methods: A retrospective study of the patients operated at the<br />

University <strong>Hospital</strong> Getulio <strong>Vargas</strong> and Portuguese Beneficent Society of Manaus from January of 1993 to December<br />

of 2003. The data were studied statically to comparison between some variables. Results: 70 patients were evaluated<br />

and the average age was of 43,6 years and it was a female predominance (66,6%). The most common etiologies were<br />

the sequels of previous tuberculosis disease and the pulmonary infections. The hemoptysis was the most frequent<br />

sign and the localized bronchiectasis the most found. The most used resection type was the lobectomy. There was<br />

not significant difference in the postoperative complications between the localized bronchiectasis and the<br />

multisegmental. The average surgery time was 287 minutes and the chest tube was removed in 4,4 days. The usual<br />

duration of hospital staying was 16,6 days. The mortality was of 1,85%. Conclusion: There was a high index of<br />

complications, probably related to the intense inflammatory reaction in the pleural cavity of these patients with the<br />

nutritional compromise, what determined a high time of hospital staying.<br />

Key-words: Bronchiectasis, Etiology, Treatment, Complications.<br />

1<br />

Doutor Cirurgião torácico – Ufam/<strong>HUGV</strong>/UEA<br />

2<br />

Doutor Cirurgião torácico – Ufam/<strong>HUGV</strong>/UEA<br />

3<br />

Especialista Cirurgião torácico – <strong>HUGV</strong><br />

4<br />

Acadêmica de Medicina – bolsista Fapeam/UEA<br />

5<br />

Acadêmica de Medicina – UEA<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />

INTRODUÇÃO<br />

A bronquiectasia é uma doença caracterizada<br />

pela dilatação e distorção irreversível dos<br />

brônquios em decorrência da destruição dos<br />

componentes elástico e muscular de sua parede. 1<br />

Sua patogenia está relacionada à agressão<br />

infecciosa e deficiência na depuração das<br />

secreções brônquicas, associada à resposta imune<br />

deficiente do hospedeiro que promove a<br />

perpetuação do processo inflamatório local com<br />

posterior destruição da parede brônquica. 2<br />

Nos países com um alto índice de doenças<br />

infecciosas a possibilidade da ocorrência de<br />

bronquiectasias é maior, pois, além da agressão<br />

pulmonar ocasionada pelo processo infeccioso, há<br />

o fator de defesa do hospedeiro, usualmente<br />

alterados por problemas de desnutrição. Assim,<br />

no Primeiro Mundo, as bronquiectasias são<br />

geralmente decorrentes de doenças congênitas ou<br />

hereditárias e nos países em desenvolvimento<br />

causadas por processos infecciosos. 3<br />

Várias infecções pulmonares têm sido<br />

associadas ao desenvolvimento da bronquiectasia.<br />

Alguns indivíduos com provável infecção viral,<br />

ou por micoplasma, desenvolvem infecções<br />

respiratórias repetidas e bronquiectasias. Além da<br />

lesão tecidual direta, as seqüelas das infecções<br />

tuberculosas podem incluir linfadenopatia caseosa<br />

em torno dos brônquios ou vias aéreas<br />

lesionadas, que predispõe a colonização bacteriana<br />

e, conseqüentemente, a bronquiectasia. 4<br />

Nos achados clínicos, com freqüência, os<br />

pacientes relatam acessos constantes de<br />

«bronquite» que exigem séries repetidas de<br />

antibioticoterapia. Na maioria dos pacientes os<br />

sinais e sintomas consistem em tosse diária<br />

produtiva de escarro mucopurulento, hemoptise<br />

intermitente, pleurisia e dispnéia. 5<br />

As principais indicações e objetivos da<br />

cirurgia na bronquiectasia consistem na remoção<br />

do pulmão destruído parcialmente, eliminando<br />

os episódios infecciosos, eliminando a produção<br />

substancial de escarro purulento e eliminação das<br />

vias aéreas bronquiectásicas que causam<br />

hemorragias e abrigam microrganismos resistentes.<br />

6<br />

O tratamento cirúrgico se baseia em<br />

algumas premissas: doença com distribuição<br />

segmentar ou lobar e unilateral; sintomas<br />

persistentes ou recorrentes, quando o tratamento<br />

clínico é interrompido e hemoptise importante.<br />

Algumas séries de casos estudados, nos últimos<br />

30 anos, mostram uma morbidade de 3-33% e<br />

uma letalidade de 0,4-8,3%. 7<br />

O objetivo imediato da extirpação cirúrgica<br />

é a remoção dos segmentos ou lobos mais<br />

comprometidos, com preservação das áreas não<br />

supurativas ou sem sangramento. Ressecções dos<br />

lobos médio e inferior são realizadas com maior<br />

freqüência. As complicações são empiema,<br />

hemorragia, escape de ar prolongado e expansão<br />

insuficiente do pulmão remanescente em função<br />

da atelectasia persistente ou supuração. 8<br />

A nossa região é uma área endêmica em<br />

tuberculose, com muitos pacientes com seqüelas<br />

pulmonares passíveis de tratamento cirúrgico, e<br />

em doenças infecciosas, o que determina um<br />

grande número de pacientes candidatos à cirurgia<br />

para o tratamento de bronquiectasias. Portanto,<br />

o objetivo deste trabalho é a avaliação clínica e<br />

cirúrgica dos pacientes submetidos ao tratamento<br />

cirúrgico de bronquiectasias no Serviço de<br />

Cirurgia Torácica.<br />

CASUÍSTICA E MÉTO<strong>DO</strong><br />

Trata-se de um de estudo retrospectivo por<br />

meio da revisão de prontuário dos pacientes<br />

operados no <strong>Hospital</strong> Sociedade Beneficente Portuguesa<br />

(SBP) e <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />

<strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>), no período de janeiro de 1993 a<br />

dezembro de 2003, de ambos os sexos, com o<br />

diagnóstico de bronquiectasia.<br />

O critério de exclusão utilizado foi<br />

ausência de informação nos prontuários que<br />

impossibilitava o preenchimento do protocolo<br />

utilizado no estudo. O trabalho foi submetido e<br />

aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade<br />

Federal do Amazonas.<br />

16<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />

A revisão dos prontuários permitiu o<br />

preenchimento de um protocolo com os seguintes<br />

itens: perfil epidemiológico; diagnóstico préoperatório,<br />

etiologia; tipo de bronquiectasia, tipo<br />

de ressecção cirúrgica, tempo de permanência na<br />

UTI, tempo para a retirada de dreno torácico,<br />

complicações, tempo de internação e óbito.<br />

Os dados foram analisados por meio de<br />

análise estatística descritiva para as variáveis.<br />

Para avaliar a associação entre as variáveis foi<br />

utilizado o teste do qui-quadrado com nível de<br />

5% de significância.<br />

CONDUTA <strong>DO</strong> SERVIÇO DE CIRURGIA<br />

TORÁCICA<br />

A cirurgia mais comumente realizada é a<br />

lobectomia com ligadura em seqüência da artéria,<br />

veia e brônquio. Sempre utilizamos a ligadura<br />

dupla dos vasos, com a segunda ligadura<br />

transfixante com seda 3-0. O brônquio é suturado<br />

com fio absorvível 4-0, com sutura em figura de<br />

8. Para as lobectomias inferiores utilizamos um<br />

dreno pleural e para as superiores utilizamos dois<br />

drenos pleurais.<br />

Normalmente o pós-operatório é realizado<br />

na Unidade de Terapia Intensiva no primeiro dia<br />

de pós-operatório e após o paciente é enviado<br />

para a enfermaria de Cirurgia Torácica.<br />

RESULTA<strong>DO</strong>S<br />

As indicações para o tratamento de<br />

bronquiectasias são a infecção pulmonar de<br />

repetição e a hemoptise. Uma vez que o paciente<br />

é atendido no Ambulatório, é solicitado uma<br />

interconsulta com o Serviço de Pneumologia para<br />

a maximização do tratamento clínico nos casos<br />

de infecção pulmonar. Em caso de processos<br />

infecciosos ativos dos seios nasais ou na cavidade<br />

oral com acometimento dos dentes ou gengiva, o<br />

paciente é encaminhado para tratamento antes<br />

da cirurgia.<br />

A prova de função pulmonar segue as<br />

orientações baseadas nos achados espirométricos<br />

e naqueles casos de função pulmonar limítrofe,<br />

indicamos a realização da cintilografia pulmonar<br />

qualitativa e quantitativa para determinar o grau<br />

de função pulmonar remanescente no pósoperatório.<br />

Com esta conduta conseguimos<br />

avaliar adequadamente cerca de 90% dos<br />

pacientes candidatos a cirurgia.<br />

A anestesia sempre é realizada com<br />

entubação seletiva, com tubo de dupla luz.<br />

Quando há dificuldade para tal, realizamos a<br />

entubação seletiva com tubo simples orientado<br />

por broncoscopia. Em dois casos desta série<br />

operamos o paciente em posição de Overholt –<br />

decúbito ventral – para evitar a aspiração de<br />

secreção contralateral. É utilizado a antibioticoterapia<br />

profilática na indução anestésica.<br />

Foram analisados os prontuários de 70<br />

pacientes submetidos à ressecção pulmonar por<br />

bronquiectasia. Houve predominância do sexo<br />

feminino (66,6%) e a idade média foi de 43,6 anos.<br />

O fator etiológico mais freqüentemente<br />

encontrado neste trabalho foi a seqüela de tuberculose<br />

(34,2%), seguido de processos infecciosos<br />

(Tabela 1). Observa-se um grande número de<br />

casos em que não foram identificados a etiologia,<br />

alguns devem ser decorrentes da impossibilidade<br />

de definir a etiologia com as informações do<br />

paciente.<br />

Tabela 1 – Etiologia e tipo de bronquiectasias nos pacientes<br />

submetidos à ressecção pulmonar<br />

Etiologia<br />

Turbeculose<br />

Infecção<br />

Respiratória<br />

Discinesia<br />

Ciliar<br />

Sinusite<br />

Corpo estranho<br />

Não identificada<br />

Total<br />

Localizada<br />

n %<br />

19<br />

5<br />

2<br />

-<br />

-<br />

21<br />

47<br />

40,4<br />

10,6<br />

4,2<br />

-<br />

-<br />

44,7<br />

100<br />

multissegmentar<br />

n<br />

5<br />

3<br />

1<br />

1<br />

1<br />

12<br />

23<br />

%<br />

40,4<br />

10,6<br />

4,2<br />

-<br />

-<br />

44,7<br />

100<br />

Quanto ao tipo de bronquiectasia, localizada<br />

ou multissegmentar, observa-se uma<br />

predominância do tipo localizada (67,1%) quando<br />

comparado com a multissegmentar. Os sinais e<br />

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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />

sintomas mais freqüentes nesta amostra foram a<br />

hemoptise (54,3%), a tosse (38,5%) e a infecção<br />

de repetição (11,4%) (Tabela 2).<br />

Tabela 2 – Sinais e sintomas em pacientes submetidos à<br />

ressecção pulmonar por bronquiectasia com e sem<br />

turbeculose<br />

Sinais e Sintomas<br />

Hemoptise<br />

Tosse produtiva<br />

Infecção respiratória<br />

Refluxo gastroesofágico<br />

Emagrecimento<br />

ETIOLOGIA<br />

Turbeculose Não turbeculose<br />

17 (24,3%)<br />

9 (12,9%)<br />

3 (4,3%)<br />

0 (0%)<br />

1 (1,4%<br />

21 (30,0%)<br />

18 (25,7%)<br />

5 (7,1%)<br />

1 (1,3%)<br />

0 (0%)<br />

Quanto ao tratamento cirúrgico, os tipos<br />

de ressecções realizadas foram assim distribuídos:<br />

lobectomia 72,6%, bilobectomia em 9,6%,<br />

lobectomia média mais lingulectomia em 6,8%,<br />

pneumectomia em 5,5%, segmentectomia em<br />

2,7%, lobectomia superior esquerda mais<br />

lobectomia média em 1,4% e lobectomia média<br />

mais lobectomia inferior em 1,4% dos pacientes<br />

(Tabela 3). Observa-se um número maior de<br />

ressecções em relação ao número de casos, pois<br />

três pacientes realizaram mais de uma cirurgia<br />

para ressecção pulmonar para o tratamento de<br />

bronquiectasias.<br />

torácica, febre e hipertensão arterial sistêmica<br />

também em 1 paciente (Tabela 4).<br />

Tabela 4 – Complicações ocorridas nos pacientes operados<br />

TIPOS<br />

Fuga aérea<br />

Pneumonia<br />

Sangramento<br />

Coágulo intrapleural<br />

Hematoma de parede<br />

HAS<br />

Empiema<br />

Dor torácica<br />

Febre<br />

Total<br />

Nº de complicações<br />

9<br />

4<br />

3<br />

2<br />

2<br />

2<br />

1<br />

1<br />

1<br />

25<br />

%<br />

12,3<br />

5,4<br />

4,2<br />

2,7<br />

2,7<br />

2,7<br />

1,4<br />

1,4<br />

1,4<br />

34,2<br />

As complicações pós-operatórias foram<br />

mais evidentes nos pacientes sem passado de tuberculose<br />

quando comparado aos pacientes com<br />

passado de tuberculose, porém este dado não foi<br />

estatisticamente significante (p=0,96) (Tabela 5).<br />

Tabela 5 – Complicações pós-operatórias com relação à<br />

etiologia<br />

Complicações<br />

Sem<br />

Com<br />

Total<br />

ETIOLOGIA<br />

TB<br />

Não TB<br />

15 (34,1%) 29 (65,9%)<br />

9 (34,6%) 17 (65,4%)<br />

24 (34,3%) 46 (65,7%)<br />

Total<br />

44 (100%)<br />

26 (100%)<br />

70 (100%)<br />

Tabela 3 – Tipos de ressecção pulmonar utilizada<br />

TIPOS DE RESSECÇÃO<br />

Tipos<br />

Nº de<br />

ressecção<br />

%<br />

Não houve diferença significativa quanto<br />

às complicações pós-operatórias entre as bronquiectasias<br />

localizadas e as segmentares (p= 0,81)<br />

(Tabela 6).<br />

Lobectomia<br />

Bilobectomia<br />

Lobectomia média mais lingulectomia<br />

Pneumectomia<br />

Segmentectomia<br />

Lobectomia sup. Esq. mais Lobectomia média<br />

Lobectomia média mais Lobectomia inferior<br />

Total<br />

53<br />

7<br />

5<br />

4<br />

2<br />

1<br />

1<br />

73<br />

72,6<br />

9,6<br />

6,8<br />

5,5<br />

2,7<br />

1,4<br />

1,4<br />

100<br />

Tabela 6 – Complicações pós-operatórias com relação à<br />

localização<br />

Localização<br />

Complicação<br />

Total<br />

Localizada 30 (63,8%) 17 (36,2%) 47 (100%)<br />

Multissegmentar 14 (60,9%) 9 (34,1%) 23 (100%)<br />

Total<br />

44 (62,9%) 26 (37,1%) 70 (100%)<br />

Observamos complicações em 34,2% dos<br />

pacientes, sendo as mais comuns o escape aéreo<br />

em 9 pacientes, pneumonia em 4, sangramento<br />

em 3, coágulo intrapleural em 2, hematoma de<br />

parede em 2 pacientes, empiema em 1, dor<br />

Foram encontradas doenças associadas em<br />

18% dos pacientes, dentre elas: sinusite, asma,<br />

hipertensão e miastenia gravis. O tempo médio<br />

da cirurgia foi de 287 minutos (4,7h), o tempo<br />

para a retirada do dreno torácico foi de 4,4 dias e<br />

18<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />

o tempo de internação no pós- operatório dos<br />

pacientes operados foi de 16,6 dias. A mortalidade<br />

foi de 1,85%.<br />

DISCUSSÃO<br />

As bronquiectasias adquiridas podem<br />

acometer o paciente em qualquer idade, desde que<br />

ele seja submetido a condições desencadeantes<br />

durante alguma fase de sua vida, tais como:<br />

processos infecciosos, aspiração de corpo<br />

estranho e outros. Por outro lado, quando a<br />

etiologia é congênita, a ocorrência dos sintomas<br />

ocorre em uma faixa etária mais jovem, como, por<br />

exemplo, nos casos de fibrose cística. 9 A faixa<br />

etária média encontrada em nosso trabalho foi<br />

de 42,6 anos, semelhante ao em outras séries. 10<br />

No passado, as infecções de infância,<br />

sarampo e coqueluche, eram as principais causas<br />

de bronquiectasias em adultos jovens, porém<br />

houve um declínio acentuado nesta incidência<br />

com a implantação de programas de vacinação<br />

efetivos. 3 Entretanto, em nosso meio, a tuberculose<br />

é considerada uma doença endêmica e<br />

determina uma alta incidência de complicações<br />

pulmonares como as bronquiectasias. Em nosso<br />

estudo, a tuberculose foi a principal causa de<br />

bronquiectasias, diferentemente do apresentado<br />

por outros autores 10,11 que demonstraram o<br />

antecedente de infecção pulmonar na infância<br />

como o fato etiológico mais comum.<br />

A etiologia desconhecida das bronquiectasias,<br />

neste estudo, foi de 48,2%, um índice elevado,<br />

porém esta dificuldade foi relatada por Gomes e<br />

cols. (2000), que não identificaram a etiologia em<br />

16,4%, um valor inferior ao nosso, talvez pelo<br />

caráter prospectivo do seu estudo.<br />

O sinal mais freqüente na nossa casuística<br />

foi a hemoptise, diferente de outras séries (10) nas<br />

quais os sintomas de tosse e infecção pulmonar<br />

de repetição são os mais freqüentes. A maior<br />

ocorrência de hemoptise em nossa casuística devese<br />

ao fato de operarmos pacientes em que os<br />

sintomas são mais alarmantes, como a hemoptise,<br />

visto a alta demanda do serviço com o baixo grau<br />

de resolutividade, conseqüente às condições do<br />

<strong>Hospital</strong> Universitário, que não comporta um volume<br />

maior de cirurgias de grande porte,<br />

impossibilitando a realização de procedimentos<br />

cirúrgicos como nos casos de infecções recorrentes.<br />

O advento de antibióticos potentes e o<br />

tratamento precoce das infecções pulmonares<br />

diminuíram a incidência de bronquiectasias,<br />

porém há o espaço para o tratamento cirúrgico<br />

como nas bronquiectasias localizadas, nas<br />

obstruções brônquicas e na resistência ao bacilo<br />

da tuberculose. 3<br />

Na prática médica os resultados são significativamente<br />

melhores nos pacientes tratados<br />

cirurgicamente. Annest e cols. (1982) relataram<br />

um índice de cura de 46% de pacientes<br />

submetidos à ressecção pulmonar, no seguimento<br />

de 40 pacientes, enquanto somente 2% dos<br />

pacientes tratados clinicamente ficaram<br />

assintomáticos. Estes resultados, aliados à redução<br />

da mortalidade cirúrgica para cifras próximas de<br />

1%, contribuíram definitivamente para a<br />

retomada do espaço da cirurgia no tratamento<br />

da bronquiectasia. 12<br />

Outro estudo comparativo 10 entre doentes<br />

operados e pacientes tratados clinicamente<br />

demonstrou a superioridade da cirurgia. No pósoperatório<br />

imediato verificou-se transitoriamente,<br />

em todos os casos, 88 pacientes que foram<br />

submetidos à ressecção pulmonar, apreciável<br />

redução de secreções broncopulmonares. Houve<br />

complicações maiores em 12 (13,6%), cinco<br />

pacientes apresentaram pneumonia, três<br />

pneumotórax, dois empiemas e dois coágulos<br />

intrapleurais. Não foi registrado nenhum óbito<br />

entre os pacientes cirúrgicos. O seguimento destes<br />

mostrou que ficaram praticamente livres de<br />

secreções e infecções broncopulmonares. A<br />

maioria dos pacientes cirúrgicos (84,0%) não<br />

necessitou ser reinternada, e somente um deles<br />

foi readmitido mais de duas vezes no pósoperatório.<br />

Os pacientes tratados clinicamente<br />

foram internados repetidas vezes (dois deles mais<br />

de 10 vezes), ou freqüentemente tiveram de ser<br />

atendidos ambulatorialmente.<br />

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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />

O sucesso do tratamento cirúrgico está<br />

diretamente relacionado à adoção rigorosa dos<br />

critérios de operabilidade. Nos casos em que a<br />

ressecção completa de todos os segmentos<br />

dilatados é possível, os resultados cirúrgicos são<br />

excelentes. Nos pacientes com doença<br />

multissegmentar é de fundamental importância<br />

que se determine claramente no préoperatório<br />

a extensão da ressecção a ser feita,<br />

porque é difícil fazer tal avaliação durante a<br />

cirurgia (6) . O objetivo da cirurgia é remover<br />

todos os segmentos comprometidos ao mesmo<br />

tempo em que se preserva o máximo de função<br />

pulmonar. 13<br />

O tipo de ressecção pulmonar vai depender<br />

da localização e comprometimento pulmonares<br />

pela bronquiectasia. A ressecção mais comum é a<br />

dos segmentos basilares juntamente com o lobo<br />

médio do pulmão direito ou a língula do pulmão<br />

esquerdo.<br />

Os resultados da cirurgia na doença localizada<br />

serão sempre melhores do que na doença<br />

difusa ou multissegmentar. 8 Esse fato reflete o<br />

resultado obtido em nosso estudo quanto à<br />

prevalência de bronquiectasias localizadas nos<br />

pacientes submetidos à ressecção pulmonar.<br />

As complicações pós-operatórias incluem<br />

fuga de ar prolongada, fístula broncopleural,<br />

empiema e pneumonia por contaminação intraoperatória<br />

do pulmão normal. 14<br />

Em conclusão, a análise desta amostra<br />

revelou, em nossa realidade, que a bronquiectasia<br />

acomete principalmente mulheres e indivíduos<br />

em uma faixa etária relativamente jovem. A<br />

principal etiologia da bronquiectasia foi a tuberculose<br />

e os achados clínicos mais encontrados<br />

foram a hemoptise e a tosse. Houve um grande<br />

número de complicações, mas isto é um achado<br />

esperado, visto que os pacientes operados<br />

tinham seqüelas de tuberculose ou comprometimento<br />

nutricional acentuado. A cirurgia é um<br />

método de tratamento definitivo na bronquiectasias<br />

localizadas e com baixa mortalidade<br />

quando devidamente indicada.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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C. PORTO, N. S. CAMARGO, J. P. Compêndio de<br />

Pneumologia. 4.ª ed. São Paulo: Fundo Editorial<br />

BYK, 1988, p. 195-206.<br />

2. BETHLEM, N. et al. «Supurações broncopulmonares».<br />

In: BETHLEM, N. Pneumologia. 4.ª ed.<br />

São Paulo: Atheneu, 1995, p. 371-377.<br />

3. BARKER, A. F. «Medical Progress:<br />

Bronchiectasis». N. Eng J. Med, 2002, 346(18):<br />

1.383.<br />

4. LIMA, L. S., BOGOSSIAN, M. «Avaliação da<br />

resposta clínica ao uso de antibióticos por via oral<br />

e via inalatória em pacientes portadores de bronquiectasias».<br />

Assoc. Méd. Bras., 1999, 45(3): 229-<br />

236.<br />

5. ROMALDINI, H. «Supurações Pulmonares».<br />

In: PRA<strong>DO</strong>, F. C., RAMOS, J. A., VALLE, J. R.<br />

Atualização Terapêutica. 21.ª ed. São Paulo. Ed.<br />

Artes Médicas, 2003, p. 1.461-65.<br />

6. SCHNEITER, D., MEYER, N., LARDINOIS, D.<br />

et. al. «Surgery for non-localized bronchiectasis».<br />

Brit. J. Surg, 2005, 92: 836-39.<br />

7. GUIMARÃES, A. G. «Bronquiectasias: uma<br />

abordagem baseada em evidências». In: AIDÊ, et.<br />

al. Pneumologia: aspectos práticos e atuais. Rio de<br />

Janeiro: Revinter, 2001, p. 123-129.<br />

8. MAZIÈRES, J., MURRIS, M., DIDIER, A. et. al.<br />

«Limited operations for severe multisegmental<br />

bilateral bronchiectasis». Ann Thorac Surg, 2003;<br />

75: 382-87.<br />

9. WHEELER, D. «Bronchiectasis: a brief review».<br />

J. Resp. C. S. Med. Fall, 2004, 2: 28.<br />

10. MOREIRA, J. S., PORTO, N. S., CAMARGO,<br />

J. J. P. et al. «Bronquiectasias: aspectos diagnósticos<br />

e terapêuticos: estudo de 170 pacientes». J.<br />

Pneumol, 2003, 29(5): 258-263.<br />

11. GOMES, N. A., MEDEIROS, M. L., GIFONI,<br />

J. M. M. «Bronquiectasia localizada e<br />

multissegmentar: perfil clínico-epidemiológico e<br />

20<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />

resultado do tratamento cirúrgico em 67 casos».<br />

J. Pneumol, 2000, 27(1): 1-6.<br />

12. ANNEST, L. S., KRATZ, J. M., CRAWFORD,<br />

F. A. JR. «Current results of treatment of<br />

bronchiectasis». J. Thorac Cardiovasc Surg, 1982,<br />

83(4): 546-50.<br />

13. SANCHO, L. M. N., PASCHOALINI, M. S.,<br />

VICENTINI, F. C. et. al. «Estudo descritivo do<br />

tratamento cirúrgico das bronquiectasias». J.<br />

Pneumol, 1996, 22(5): 241-6.<br />

14. MERCURIO, N. S., ALVES JÚNIOR, A.,<br />

COSTA, G. P. R. et. al. «Tratamento cirúrgico das<br />

bronquiectasias. J. Pneumol, 1989, 15(2): 82-8.<br />

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DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIA<br />

O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO<br />

INICIANTE<br />

THE DEPRESSED FACING THE STARTER CLINICAL INTERVIEWER<br />

DAVI ARAÚJO DA CUNHA 1 , FABIOLA GOUDINHO DE LIMA 1 , LESIRMY BINDÁ SADALA 1 ,<br />

ROSÂNGELA DE LIMA GIL 1 , SUELY DA SILVA MAIA 1<br />

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem do processo de entrevista com pacientes<br />

deprimidos, e, ao conhecer mais de perto este processo, à luz da literatura existente, propor contribuições no sentido<br />

de levar a uma otimização desta técnica, que é, sem dúvida, imprescindível em qualquer situação interventiva. O<br />

entrevistador clínico iniciante tem uma responsabilidade muito grande, e muito do seu pouco preparo será exigido.<br />

As atuais formas de receber o paciente deprimido para a entrevista são abordadas, objetivando chegar à singularidade<br />

deste paciente. Conceituando sucintamente o processo de entrevista, o estado depressivo e como entrevistar<br />

tal paciente, pretende-se com este artigo torná-lo fonte auxiliar para os que diariamente lidam com o sofrimento<br />

mental, contribuindo para o levantamento de novos questionamentos e apontar novos caminhos. Com isto, esperase<br />

que o jovem psicólogo utilize-se da entrevista clínica como uma base segura ao se deparar com o paciente<br />

deprimido em suas primeiras entrevistas clínicas.<br />

Palavras-chave: Entrevista clínica, depressão, paciente deprimido.<br />

ABSTRACT: The present paper has as an objective describing the process of interview with depressed patients,<br />

and with a closer knowledge of this process, with the existent literature, offers contributions to carry through to an<br />

optimization of this technique, which is with no doubts, indispensable in anyone situation of intervention. The<br />

Clinical Starter Interviewer has a larger responsibility and a lot of his/her short preparation will be full required.<br />

The current forms of receiving the depressed patient for an interview are utilized, objecting the discovery of the<br />

singularity of this patient. Considering, clearly, the interview process, the depressive state and how to interview<br />

this patient, this article aims to make it as an auxiliary source for the ones who works daily with the mental<br />

suffering, contributing to the discovery of new questions and to point new ways of treatment. Thus, it hopes that the<br />

youth Psychologist makes use of the Clinical Interview for safe basis when facing the depressed patient in the first<br />

Clinical Interviews.<br />

Key-words: Clinical Interview, Depression, Depressed Patient.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Atualmente se fala muito em depressão.<br />

Este transtorno tem merecido a preocupação de<br />

muitos estudiosos, pesquisadores e pessoas comuns,<br />

todas com manifestada intenção de conhecer<br />

para prevenir. A década de 90, que ficou conhecida<br />

como a «década do cérebro», propiciou<br />

um significativo aumento de pesquisa e descobertas<br />

relacionadas à forma de funcionamento cerebral,<br />

resultando em tratamentos mais eficazes e<br />

prognósticos mais otimistas. Contudo, sabe-se<br />

que, desde muito tempo, a depressão tem ocupado<br />

espaço na literatura, seja ela científica, religiosa<br />

ou mitológica. Somente no Brasil são mais de<br />

dez milhões de deprimidos,¹ sendo atualmente este<br />

transtorno a quarta causa de incapacitação no<br />

mundo, e a previsão é de que em 2020 seja a segunda,<br />

perdendo apenas para as doenças<br />

coronarianas.²<br />

Com um problema desta magnitude, cada<br />

vez fica mais desafiante a abordagem e o tratamento<br />

da depressão, principalmente quando se<br />

sabe que os fatores causais ainda não foram isolados,<br />

recebendo o seu surgimento diversas explicações.³<br />

1<br />

Acadêmicos do 10.º Período de Psicologia do Centro Universitário do Norte – Uninorte.<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO INICIANTE<br />

Do ponto de vista psicopatológico, os quadros<br />

depressivos têm como elemento central o humor<br />

triste. Contudo, tais quadros caracterizamse<br />

por uma multiplicação de sintomas afetivos,<br />

instintivos e neurovegetativos, ideativos e<br />

cognitivos, relativos à autovaloração, à volição e<br />

a psicomotricidade. 4<br />

Com isto, ganha fundamental importância<br />

uma entrevista clínica em que se prioriza o<br />

indivíduo e tem-se segurança ao usar esta técnica.<br />

Benjamim 5 trata a entrevista como diálogo<br />

sério e com propósito, fazendo já do primeiro<br />

encontro do clínico com um paciente deprimido<br />

uma oportunidade para importantes<br />

direcionamentos, a partir da fala do paciente ou<br />

de seus acompanhantes.<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

A Entrevista Clínica<br />

Othmer & Othmer, 6 tratando especificamente<br />

da entrevista clínica, e mais especificamente<br />

ainda da entrevista que solicitam profissionais em<br />

saúde mental, afirmam ser natural certo grau de<br />

incerteza, desconfiança e ansiedade por parte do<br />

paciente, cabendo ao clínico sentir-se à vontade<br />

para depois deixar seu entrevistado à vontade.<br />

Considerando que é um outro ser humano que<br />

está ali, com certeza espera ser compreendido em<br />

seus questionamentos e anseios, uma conversa<br />

introdutória leve, portanto, ajuda você e o paciente<br />

a se acalmarem e a superarem qualquer constrangimento<br />

inicial.<br />

Ainda segundo os autores, antes mesmos<br />

de se iniciar uma conversa, a comunicação já teve<br />

início por meio de sinais que são difíceis de controlar.<br />

O conceito de sinal aqui é aquela linguagem<br />

não falada verbalmente, mas que é expressa pelo<br />

rosto, pelo corpo e inflexão da voz, somente para<br />

citar alguns exemplos. Em um território estranho,<br />

o paciente estará mais comunicativo gestualmente<br />

e o entrevistador perspicaz procurará saber um<br />

pouco deste cliente por intermédio da observação,<br />

por exemplo, da distância que ele chegou de<br />

você, ou quanto ele ficou próximo da porta. Houve<br />

evitação no aperto de mão Sua mesa é um<br />

grande obstáculo para ele Pode ocorrer, entretanto,<br />

que ele seja capaz de ligar o computador ou<br />

colocar os pés na escrivaninha. 6<br />

Nesta fila de tênues limites e seguindo o<br />

pensamento acima exposto, a entrevista clínica<br />

envolve ainda outros pontos igualmente fundamentais,<br />

não somente para o paciente se sentir à<br />

vontade, mas também para perceber que aquela<br />

pessoa que está com ela tem competência para<br />

ajudá-la. A competência, vista por este ângulo,<br />

tem como metas principais identificar o sofrimento<br />

do paciente, avaliar este sofrimento, responder<br />

com simpatia, avaliar a capacidade de insight,<br />

separar a parte doente do paciente, apelando<br />

para o que está intacto, demonstrar conhecimento,<br />

inspirar esperança, estabelecer liderança, e<br />

equilibrar papéis. A percepção de que a tarefa é<br />

árdua salta a vista e deve impulsionar o clínico<br />

para uma capacitação cada vez maior. Estes critérios,<br />

quando seguidos ou almejados, tendem<br />

preparar o entrevistador clínico para uma coleta<br />

de dados muito rica, onde o foco foi estabelecido<br />

e os objetivos estão bem nítidos e plausíveis.<br />

A entrevista com o paciente deprimido<br />

A depressão refere-se tanto a um sintoma<br />

quanto a um grupo de enfermidades que possuem<br />

determinados traços em comum. Como sintoma,<br />

a depressão caracteriza-se por um tom afetivo<br />

de tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo<br />

e redução da auto-estima. Sua segurança<br />

parece ameaçada. Dados diagnósticos mundialmente<br />

aceitos podem ser encontrados no DSM,<br />

em sua quarta edição. 7<br />

De acordo com Mackinnon, 8 o deprimido<br />

não só se sente mal como é também, tipicamente,<br />

seu pior inimigo, podendo servir-se dessa frase<br />

específica ao descrever a si próprio. Tendências<br />

autodestruidoras ou masoquistas, assim como<br />

depressivas, coexistem com freqüência no mesmo<br />

indivíduo. O suicídio, uma complicação dramática<br />

de grave depressão, é fenômeno de im-<br />

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portância crucial na compreensão do funcionamento<br />

psicológico da pessoa deprimida.<br />

A entrevista com o paciente deprimido<br />

exige participação ativa do entrevistador.<br />

Comumente, o paciente fala de sua dependência,<br />

embora o caráter de seu distúrbio deixe-o<br />

pessimista a respeito do resultado do tratamento,<br />

ou ainda fique em uma posição passiva ou mesmo<br />

imóvel, com pouquíssima intenção em colaborar,<br />

exigindo do entrevistador uma postura diferenciada<br />

de atendimento.<br />

Dificilmente o paciente gravemente deprimido<br />

costuma vir desacompanhado à entrevista.<br />

Normalmente é o amigo ou parente, que o acompanha,<br />

que começa a conversa. Embora seja importante<br />

em algum momento da primeira entrevista<br />

o clínico conversar com o acompanhante,<br />

este deve entrar com o paciente somente em situações<br />

extremas, quando no caso do paciente deprimido<br />

não conseguir falar, por exemplo.<br />

Caso a depressão não seja grave, o paciente<br />

pode chegar sozinho, porém sua postura,<br />

aparência, expressão facial, movimentos e as qualidades<br />

físicas de sua voz revelam seu problema<br />

já bem no começo de sua fala. Embora seja mais<br />

comum a demonstração de tristeza e abatimento,<br />

sua cólera pode surgir no decorrer da entrevista.<br />

Sua dependência se manifesta na espera por<br />

escolher uma cadeira. Neste momento não é prudente<br />

fazer interpretações, pois pode funcionar<br />

como um mau acolhimento.<br />

Em função da lentificação de seus processos<br />

mentais o paciente responderá de forma curta,<br />

monossilábica e repetitiva, e o entrevistador<br />

deve demonstrar interesse, apoiando seu estado<br />

de ânimo ao invés de provocá-lo. Neste momento<br />

o entrevistador também cuidará para não demonstrar<br />

o que pode parecer para o paciente sinal<br />

de que ele não tolera sua melancolia. Devem<br />

ser evitados, por isso, comentários joviais e humorísticos,<br />

um ritmo demasiado rápido ou enérgico<br />

ou ainda um sorriso. O entrevistador deve<br />

conceder tempo para que o paciente responda.<br />

A exploração dos sintomas depressivos só<br />

será alcançada provavelmente a partir da segunda<br />

entrevista, pois o paciente fica mais à vontade<br />

quando é orientado pelo entrevistador. O<br />

entrevistador terá, então, a responsabilidade de,<br />

ao mesmo tempo em que organiza a entrevista,<br />

proporcionar aprovação para que o paciente participe,<br />

sem forçá-lo, para que não se sinta frustrado,<br />

incompetente e, portanto, mais deprimido. As<br />

pessoas moderadamente deprimidas choram com<br />

freqüência, enquanto as deprimidas mais graves<br />

dificilmente choram. Se há choro, o entrevistador<br />

espera com simpatia, oferecendo quem sabe um<br />

lenço (ou vários). Pode acontecer de o paciente<br />

tentar ignorar as próprias lágrimas, neste caso o<br />

entrevistador pode estimular a aceitar seus sentimentos,<br />

ou mesmo perguntar a respeito do que<br />

está se sentindo mal. Deve prosseguir a entrevista<br />

quando sentir que o paciente é capaz de continuar,<br />

pois esperar demasiado pode levar a novas<br />

lágrimas.<br />

Existem outros aspectos da conduta do deprimido<br />

que ele pode tentar esconder. O mais destacado<br />

é sua agressão. O entrevistador clínico,<br />

principalmente o iniciante, deve então considerar<br />

a possibilidade de ocorrer tal comportamento<br />

e utilizá-lo de forma a clarificá-lo e, no momento<br />

certo, manifestar aos poucos estes comportamentos<br />

a fim de torná-los como parte do processo<br />

terapêutico.<br />

Tão importante quanto à história do sintoma<br />

é conhecer o restante da vida do paciente.<br />

Laços importantes por vezes são deixados de lado<br />

e, neste momento, podem ser ventilados. Os comentários<br />

concretos prematuros devem ser deixados<br />

de lado, pois tendem mais levar a negação,<br />

motivado pela vergonha daquilo que sente, que<br />

verá como fraqueza e tenderá a dissimulá-lo.<br />

Outro fator importante na entrevista com<br />

paciente deprimido é a investigação do risco de<br />

suicídio. A conduta suicida constitui atalho final<br />

comum que brota de muitos tipos de pensamentos,<br />

fantasias e impulsos. O entrevistador clínico<br />

deve, de forma cautelosa, investigar quão seriamente<br />

o paciente tem pensado em suicídio, se já<br />

fez projetos, em caso afirmativo, que tipos de projetos,<br />

quais os passos em sua realização e sua ati-<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO INICIANTE<br />

tude ante a esses sentimentos. Ao mesmo tempo,<br />

ele investiga o significado do suicídio para esta<br />

pessoa em particular. Quais os resultados inconscientes<br />

do ato (deseja matar você ou seu problema).<br />

O entrevistador clínico principiante, embora<br />

temendo ofender o paciente, deve fazer tal investigação,<br />

pois demonstrará interesse em seu problema<br />

e de fato estará levando-o a sério. Pode ainda<br />

diminuir a ansiedade do paciente que teme<br />

em levantar esta questão ou se envergonha dela.<br />

Princípios do tratamento<br />

Mackinnon 8 baseia o tratamento do deprimido<br />

em dois princípios fundamentais. O primeiro<br />

é o alívio do sofrimento e da culpa, o estímulo<br />

da esperança e a proteção do paciente contra o<br />

dano que causa a si mesmo: em resumo, a terapia<br />

de apoio. Para esta fase pode-se usar a<br />

psicoterapia, medicamentos ou outras terapias<br />

orgânicas. O segundo princípio é o da exploração<br />

psicodinâmica do significado e das causas da<br />

depressão, com o objetivo de resolver o problema<br />

imediato e prevenir sua repetição.<br />

Na psicoterapia, o objetivo básico é aliviar<br />

a dor e o sofrimento do paciente. Deverá ser estimulado<br />

a desenvolver sua motivação e vislumbrar<br />

um futuro que não seja deprimido. As decisões<br />

importantes devem ser orientadas a ser tomada<br />

depois, até que esteja se sentindo melhor. Deve<br />

haver preocupação em proteger o paciente contra<br />

a autodestruição. O entrevistador deverá identificar<br />

estes comportamentos e utilizar sua autoridade<br />

para evitar que o paciente cometa dano<br />

irreparável contra si próprio.<br />

O segundo princípio fundamental, que é a<br />

exploração psicodinâmica da depressão, requer<br />

um paciente moderadamente deprimido, o que<br />

permitirá fazer insights. Já desde os primeiros encontros,<br />

o entrevistador pode fazer interpretações<br />

com o objetivo de perceber a capacidade para<br />

insights. A conduta interpretativa, no entanto,<br />

nunca deve ser feita de forma apressada. Entretanto,<br />

um paciente que afirma que sua depressão<br />

é apenas uma questão médica, pode está negando<br />

os fortes fatores psicológicos envolvidos e orientando-o<br />

para a depressão. Está, na realidade,<br />

percebendo que é responsável por seus problemas<br />

e, por isso, defende-se. Tal comportamento deve<br />

ser visto como positivo pelo entrevistador.<br />

Quando se fala em exploração<br />

psicodinâmica, faz-se naturalmente referência à<br />

visão psicanalítica da depressão, que, para<br />

Bergeret, 9 psicopatólogo-psicanalista francês, o<br />

funcionamento mental do caráter depressivo é<br />

baseado em ambivalências. Uma alternância de<br />

tendências afetuosas e hostis, sem haver predominância<br />

de uma ou outra.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A entrevista feita com o paciente deprimido<br />

apresenta desafios ao entrevistador clínico,<br />

seja ele iniciante ou experimentado. A singularidade<br />

desse transtorno, que vem crescendo rapidamente<br />

aliado ao compromisso de utilizar a entrevista<br />

como ferramenta valiosa, deve levar a um<br />

interesse cada vez maior da compreensão dos<br />

vários momentos que podem ser vivenciados pelo<br />

entrevistador diante do paciente deprimido. Esta<br />

compreensão passa também por uma observação<br />

dos métodos utilizados até agora, adequando-os<br />

a uma realidade em constante mutação.<br />

Seguindo esta linha, observa-se que no<br />

atendimento ao paciente deprimido, o<br />

entrevistador de início de carreira pode somatizar<br />

com muita facilidade, saindo da entrevista tão<br />

exausto, ou mais, que o entrevistado. Sua sincera<br />

dedicação e escuta clínica tendem, por assim dizer,<br />

traí-lo, e o relato do paciente, ou antes mesmo,<br />

a sua aparência de desalento e fracasso, pode<br />

mobilizá-lo de tal forma que venha sentir-se com<br />

um mal-estar geral. Se o impacto não for tão visível<br />

assim, o entrevistador pode inclusive perceber-se<br />

desanimado, sem, no entanto, relacionar<br />

este desânimo ao atendimento de um paciente<br />

deprimido.<br />

Outro fator importante são os ganhos secundários<br />

oriundos de um paciente deprimido.<br />

Este ganho pode ser para o paciente ou para a<br />

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DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIA<br />

família. Para o paciente porque pode ocorrer, após<br />

sua depressão, haver conquistado um tempo<br />

maior com alguém que lhe é querido, ele continua<br />

então com os sintomas agora apenas com a<br />

finalidade de manter esta companhia. Uma família<br />

que explore a dependência de um deprimido<br />

pode preferir que a depressão perdure. Neste<br />

caso, a depressão funciona não mais apenas como<br />

um transtorno e sim como resposta a demandas<br />

que não puderam ser expressas de outras formas.<br />

Um fato que salta aos olhos é que, mesmo<br />

com toda a sofisticação da medicina e avanços<br />

tecnológicos, acompanhados de muita pesquisa<br />

e artigos, não se pode abrir mão de uma presença<br />

que ouça e dê cuidados. Embora alguns considerem<br />

que a depressão seja um transtorno da escolha,<br />

10 ou de uma pessoa que deixou de ser bondosa<br />

consigo mesma, ela tem valor e deve ser respeitada<br />

enquanto pessoa. No grande labirinto que<br />

é o psiquismo humano, não será o avanço científico-tecnológico<br />

que substituirá o contato sincero<br />

de humano com humano, do que está com dor<br />

com aquele que embora não tenha sentido esta<br />

mesma dor, compartilha dela, não como profissional,<br />

mas como outro ser humano. Um profissional<br />

que se debruçou sobre aquela dor para que o<br />

outro a sinta menos.<br />

Tal responsabilidade, de ser o depositário<br />

das dores e sofrimentos dos outros, não requer,<br />

também, um preparo adequado e sistemático depois<br />

da graduação Como de fato era na década<br />

de 1960 11 Esta é uma reflexão que precisa ser<br />

feita.<br />

Outro fator a considerar é que toda depressão<br />

deve ser acompanhada por um médico e deve<br />

ser por ele tratada. A depressão está dentro das<br />

grandes síndromes psiquiátricas e o médico deve<br />

ser procurado tão logo surja o evento. As psicoterapias,<br />

nas suas mais variadas abordagens, contribuem<br />

para a diminuição e entendimento dos sintomas<br />

depressivos, sendo necessário, em muitos<br />

casos, aguardar os efeitos dos medicamentos para<br />

se obter resultados no atendimento psicoterápico.<br />

Finalmente, espera-se haver proporcionado,<br />

aos interessados em conhecer a depressão, um<br />

acúmulo de conhecimentos que facilitarão o<br />

entrevistador clínico desde a chegada do paciente<br />

em seu consultório até o tratamento proposto e<br />

posterior prognóstico. A entrevista com o paciente<br />

deprimido guarda, assim, momentos que tendem<br />

a tornar o desafio clínico de atender pacientes<br />

deprimidos com menos obstáculos e manejo<br />

mais adequado para as mais variadas situações<br />

que se apresentam na prática clínica. Conhecendo<br />

as principais características do paciente deprimido<br />

e devidamente informado sobre as mais recentes<br />

técnicas de entrevista para este atendimento,<br />

o profissional terá mais segurança na realização<br />

de seu trabalho e produzirá resultados com<br />

um índice bem maior de sucesso.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. VASCONCELOS F. «Os caminhos do tratamento».<br />

Rev. Mente & Cérebro, n.º 160, 64, 2006.<br />

2. MAL<strong>DO</strong>NATO, M. «Os aposentos vazios da<br />

depressão». Rev. Mente & Cérebro, n.º 160, 38,<br />

2006.<br />

3. HOLMES. D. S. Psicologia dos transtornos mentais.<br />

Trad. Sandra Costa. 2.ª ed. Porto Alegre:<br />

Artes Médicas, 1997.<br />

4. DALGALARRON<strong>DO</strong>. P. Psicopatologia e<br />

semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:<br />

Artes médicas, 2000.<br />

5. BENJAMIM. A. A entrevista de ajuda. Trad.<br />

Urias Correa Arantes. 11.ª ed. São Paulo: Martins<br />

Fontes, 2004.<br />

6. OTHMER, E., OTHMER, S. A entrevista clínica<br />

utilizando o DSM-IV-TR. Trad. Claudia Dornelles.<br />

Porto Alegre: Artmed, 2003.<br />

7. DSM-IV. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos<br />

mentais. Trad. Sandra Costa. 2.ª ed. Porto<br />

Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />

8. MACKINNON R. A. MACKINNON M. R. A<br />

entrevista psiquiátrica na prática diária. Trad. Helena<br />

Mascarenhas de Souza. Porto Alegre: Artes<br />

Médicas, 1981.<br />

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O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO INICIANTE<br />

9. BERGERET. J. A personalidade normal e patológica.<br />

Trad. Maria Elisia Valliatti Flores. 3.ª ed.<br />

Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

10. MACMAHON, S. O terapeuta de bolso. Trad.<br />

Cecília Bonamini. São Paulo: Gente, 2005.<br />

11. CO<strong>DO</strong>, W. LANE. S. Psicologia social: o homem<br />

em movimento. 13.ª ed. São Paulo: Brasiliense,<br />

2004.<br />

Agradecimento: José Carlos Pereira Júnior.<br />

Correspondência para: Davi Araújo da<br />

Cunha. Av. Gov. Danilo Areosa, 139 – Dist. Industrial.<br />

CEP: 69075351 – Manaus-AM. E-mail:<br />

daviaraujo@click21.com.br<br />

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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />

ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSION<br />

OFISSIONAL DE<br />

SAÚDE COM RELAÇÃ<br />

ÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA<br />

ATIV<br />

TIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE<br />

TRAUMA<br />

UMATISMO RAQUI-MEDUL<br />

QUI-MEDULAR<br />

STUDY ON THE ATTITUDE OF THE PROFESSIONAL OF HEALTH WITH RELATION TO THE<br />

PERSPECIVE OF ACTIVE LIFE OF PATIENTS WITH SPINAL CORD INJURY<br />

KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES 1 , MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA 1 , ROSANGELA MARTINS GOMES 2<br />

RESUMO<br />

Objetivo: O objetivo desta pesquisa foi investigar as atitudes dos profissionais de saúde em relação à perspectiva de<br />

vida ativa e a prática de atividade física por pacientes com traumatismo raqui-medular. Metodologia: Para este<br />

estudo, foi elaborada uma escala tipo Likert com 26 questões que foi aplicada a 105 profissionais da área de saúde<br />

(assistentes sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, profissionais de educação física, terapeuta<br />

ocupacional, nutricionista) que atuam com pacientes com lesão medular. Na análise dos dados foi utilizado o<br />

pacote estatístico SPSS, que tabulou os dados com referência aos escores classificadores de atitudes favorável,<br />

desfavorável e neutro. Os sujeitos da pesquisa foram agrupados em três áreas. Resultados: Os resultados da análise<br />

nos levaram a inferir que os profissionais de saúde da área 1 (médicos e enfermeiros) e os da área 3 (serviço social<br />

e psicólogos) tiveram atitudes neutras. Os da área 2 (fisioterapeuta, profissional de educação física, terapeuta<br />

ocupacional e nutricionista) apresentaram atitudes mais favoráveis. Conclusão: Em função das especificidades das<br />

áreas de atuações em relação às atitudes, observaram-se diferenças que podem estar relacionadas ao momento de<br />

intervenção de cada profissional.<br />

Palavras-chave: Atitude, lesão medular, escala Likert.<br />

ABSTRACT<br />

Objective: The goal of this research was to investigate professionals’ health attitudes regarding the perspective of<br />

active life and the practice of physical activity by patients with spinal cord injury. Methodology: For this study, it<br />

was elaborated a scale Likert with 26 questions that were applied to 105 professionals of the health area (Social<br />

workers, doctors, male nurses, psychologists, physiotherapists, professionals of physical education, occupational<br />

therapist, nutritionist) that work with patients with spinal cord injury. In the analysis of the data it was used the<br />

statistical package SPSS which tabulated the data according to the classifying scores of favorable, unfavorable and<br />

neutral attitudes. The people of the research were grouped in 3 areas. Results: The results of the analysis carried us<br />

out to deduce that the health professionals of the area 1 (doctors and male nurses) and of the Area 3 (social service<br />

and psychologists) had neutral attitudes. The ones of the area 2 (physiotherapist, professional of physical education,<br />

occupational therapist and nutritionist) demonstrated more favorable attitudes. Conclusion: Because of the<br />

specificities of the performances areas in related to the attitudes, it was observed differences that can be related to the<br />

work intervention moment of each professional.<br />

Key words: Attitude, Spinal cord injury, Scale Likert.<br />

1<br />

Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam<br />

2<br />

Professora de Educação Física do Programa de Atividades motoras para deficientes – PROAMDE/UFAM<br />

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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />

INTRODUÇÃO<br />

O presente estudo teve como objetivo<br />

investigar as atitudes dos profissionais de saúde<br />

em relação à perspectiva de vida ativa de<br />

pacientes com lesão medular. Este trabalho é<br />

fundamentado na teoria de atitudes que indica<br />

uma relação interdependente entre a atitude do<br />

profissional e a do paciente. 1 Os profissionais de<br />

saúde que atuam diretamente com o lesado<br />

medular, agora uma pessoa com deficiência,<br />

geralmente são os primeiros indivíduos com quem<br />

este recém-deficiente tem contato. Isto implica na<br />

probabilidade de que as atitudes desses profissionais,<br />

em relação à perspectiva de vida ativa dessa<br />

pessoa, incorram na determinação do espaço de<br />

tempo que o paciente levará para conhecer e<br />

explorar as suas potencialidades. Para alcançar<br />

o objetivo deste estudo, foram investigadas as<br />

atitudes dos profissionais de saúde (assistentes<br />

sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos,<br />

fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas<br />

ocupacionais, profissional de educação física e<br />

acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas)<br />

em relação à perspectiva de vida ativa de<br />

pacientes com seqüelas de lesão medular, além<br />

de elaborada uma escala de atitudes do tipo Likert<br />

utilizando os dados obtidos na primeira etapa<br />

deste estudo onde foram obsevadas as crenças<br />

desses profissionais em relação ao lesado medular.<br />

METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />

De acordo com Harry Upshaw, 2 as<br />

variáveis das atitudes podem ser cognitivas,<br />

condutuais e afetivas. As escalas cognitivas se<br />

referem à informação ou conhecimento que uma<br />

pessoa possui em relação ao fenômeno atitudinal<br />

estudado. As escalas condutuais referenciam os<br />

atos voluntários de se realizar uma ação que<br />

envolve o objeto atitudinal. As escalas afetivas são<br />

escalas construídas para medir o sentimento das<br />

pessoas associado a um objeto atitudinal de<br />

acordo com o grau de favorabilidade ou<br />

desfavorabilidade em relação ao que é estudado.<br />

Existem vários métodos escalares para medir<br />

atitudes e os mais utilizados foram elaborados por<br />

Thurstone, Likert e Guttman. Os métodos<br />

elaborados por Thurstone e Likert são utilizados<br />

para elaboração de escalas afetivas e o método<br />

elaborado por Guttman enquadra-se na medição<br />

dos três tipos de variáveis. Existe ainda o método<br />

elaborado por Bogardus para escalas condutuais<br />

e afetivas. 2 Optou-se pela escala do tipo Likert por<br />

se preocupar em verificar o nível de concordância<br />

do sujeito com uma série de afirmações que<br />

expressam algo favorável ou desfavorável em<br />

relação ao objeto de estudo. As afirmações são<br />

respondidas numa escala de cinco pontos em<br />

função de este método determinar diretamente a<br />

existência de uma ou mais atitudes no grupo de<br />

itens, pois o uso de uma escala de 5 (cinco) pontos<br />

proporciona maior informação que uma escala<br />

dicotômica «concordo ou discordo». Na escala do<br />

tipo Likert, os sujeitos marcam cada item em uma<br />

das categorias: concordo plenamente, concordo,<br />

não tenho opinião, discordo e discordo<br />

plenamente. 3 Na escala Likert, o número inicial<br />

de itens é de 30 a 50 e a forma final contém de 20<br />

a 30 afirmativas enquanto que as escalas<br />

elaboradas na técnica Guttman e Thurstone, 4 a<br />

10 e 100 ou mais, respectivamente. Resumidamente:<br />

as vantagens da utilização da escala Likert<br />

sobre as outras escalas com mais itens são as<br />

seguintes: maior facilidade na construção da<br />

escala. Likert elimina o emprego dos juízes que é<br />

um meio sumamente custoso. A escala apresenta<br />

cinco possíveis respostas para cada item da escala.<br />

A escala Likert com menos itens consegue a<br />

mesma precisão do que as outras escalas com mais<br />

itens. Dentro de uma perspectiva psicométrica,<br />

algumas etapas precisam ser seguidas para<br />

elaboração de um instrumento escalar: Escolha do<br />

objeto/sujeitos – atitudes dos profissionais de saúde<br />

que atuam com pacientes com seqüelas de<br />

traumatismo raqui-medular. A amostra esteve<br />

constituída de 105 sujeitos sendo profissionais das<br />

seguintes áreas: medicina-neurocirurgia, serviço<br />

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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />

social, enfermagem, fisioterapia, terapia<br />

ocupacional, educação física, nutrição, psicologia<br />

e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas.<br />

Elaboração das afirmativas: por meio das crenças<br />

pesquisadas anteriormente foram elaboradas 47<br />

afirmativas que compuseram o questionário piloto<br />

da pesquisa, após a verificação da consistência<br />

interna pelo teste t de Student foram estabelecidas<br />

quais afirmativas permaneceriam na escala<br />

final (com t superior a 1,75). A construção das<br />

afirmativas obedeceu aos grupos de crenças: 1 –<br />

potencialidades e ação multidisciplinar; 2 – exploração<br />

de capacidades; 3 – suporte emocional<br />

e familiar; 4 – acessibilidade como fator<br />

imprescindível; 5 – cuidados hospitalares; 6 –<br />

indiferença ao gênero; 7 – transferência da responsabilidade<br />

ao outro profissional; 8 – atividade<br />

física e social restrita; 9 – preconceitos e<br />

incapacidades; 10 – impotência; 11 – necessidade<br />

de suporte financeiro; 12 – sempre dependentes;<br />

13 – ao lesado medular: o ônus. A disposição na<br />

escala foi feita de forma aleatória, buscando não<br />

agrupá-las. Para satisfazer as diretrizes para<br />

construção dessa escala foram levados em<br />

consideração os seguintes aspectos: a) as<br />

afirmativas não deviam conter respostas<br />

ambíguas; b) utilização de uma linguagem<br />

compreensível e utilização de frases envolvendo<br />

uma única idéia; c) as frases deveriam ser curtas<br />

evitando-se afirmações radicais ou irrelevantes;<br />

d) as afirmativas foram dispostas aleatoriamente<br />

na apresentação da escala. Aplicação experimental:<br />

o instrumento piloto (escala) contendo 47<br />

afirmativas foi aplicado em 30 sujeitos com as<br />

mesmas características para os quais foi<br />

construída, ou seja, medicina-neurocirurgia,<br />

serviço social, enfermagem, fisioterapia, terapia<br />

ocupacional, educação física, nutrição, psicologia<br />

e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas.<br />

Elaboração da escala: Após a aplicação do<br />

questionário piloto com as 47 afirmativas,<br />

passamos para a elaboração da escala final. A<br />

seleção das afirmativas na técnica de Likert foi<br />

feita da seguinte forma: 1) consideraram-se os 25%<br />

dos questionários com notas mais altas (grupo<br />

superior mais favorável) e os 25% com notas mais<br />

baixas (grupo inferior que mais desfavorável), ou<br />

seja, as oito maiores notas e as oito menores notas<br />

num grupo de 30 sujeitos. 2) calcularam-se as<br />

diferenças entre médias para todas as notas por<br />

meio do teste t de Student e toda vez que t foi<br />

superior a 1,75 a frase foi aceita ao nível de<br />

significância de 0,05. Selecionamos 30 afirmativas<br />

que compuseram a forma final da escala entre os<br />

maiores valores de t, procurando balancear<br />

afirmativas favoráveis e afirmativas desfavoráveis.<br />

Após essas etapas, a escala final foi<br />

aplicada aos sujeitos os quais a escala foi<br />

construída.<br />

RESULTA<strong>DO</strong>S<br />

A amostra foi constituída por 105 profissionais<br />

e acadêmicos do último ano de graduação<br />

do Ensino Superior de cursos da área de saúde.<br />

Dividimos em subcategorias com as seguintes características<br />

etárias: até 25 anos, 44%; de 26 a 35<br />

anos, 30%; acima de 35 anos, 26%. Quanto ao<br />

gênero: 24%, masculino e 76%, feminino. Não<br />

houve correlação entre os aspectos citados acima<br />

e o escore dos respondentes.<br />

A variável formação acadêmica deu<br />

origem a três categorias, conforme mostra a Figura<br />

1, pós-graduados, 25%; residência médica<br />

completa ou incompleta e graduação completa,<br />

20%; acadêmicos finalistas, 55%.<br />

Nível de Formação<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0<br />

Figura 1 – Percentual de respondentes por formação acadêmica<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

31<br />

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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />

Os profissionais participantes eram das<br />

áreas de medicina, enfermagem, fisioterapia,<br />

terapia ocupacional, educação física, nutrição,<br />

psicologia e serviço social. Após inspeção da<br />

distribuição da amostra, decidiu-se pela criação<br />

de novas subcategorias cuja classificação esteve<br />

exclusivamente baseada na diferença do tipo e<br />

do momento de atuação profissional e nas características<br />

das áreas de formação. Área 1, composta<br />

por profissionais cujo tipo e o momento<br />

de atendimento estão enfatizados pela situação<br />

de urgência e incluem os médicos e os enfermeiros;<br />

área 2, composta por profissionais cujo tipo e o<br />

momento de atendimento estão principalmente<br />

associados à situação de manutenção do potencial<br />

funcional do paciente: fisioterapia, nutrição, educação<br />

física, terapia ocupacional fizeram parte<br />

deste grupo; área 3, composta por profissionais<br />

cuja atuação é principalmente caracterizada pelas<br />

ações de suporte ao paciente que vai além do<br />

âmbito hospitalar, atingindo também a família:<br />

psicologia e serviço social. O resultado para<br />

distribuição destas novas categorias está<br />

mostrado na Figura 2: área 1,27%; área 2,28% e<br />

área 3,45%.<br />

Área da saúde<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0<br />

área 1 área 2 área 3<br />

Figura 2 – Percentual de respondentes por área<br />

Tempo de serviço em anos<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0<br />

graduando 1 a 10 acima de 11<br />

Figura 3 – Percentual de respondentes por tempo de serviço<br />

Os escores de atitudes<br />

A análise dos dados foi realizada a partir<br />

do estabelecimento de escores que teoricamente<br />

poderiam ser considerados como classificadores<br />

de atitudes como favorável, desfavorável e<br />

neutras. Os intervalos, para os escores de atitudes,<br />

ficaram assim distribuídos: de 26 a 47 pontos,<br />

atitudes desfavoráveis; de 48 a 69 pontos, atitude<br />

parcialmente desfavorável; de 70 a 90, escore<br />

neutro; de 91 a 111, escore de atitude<br />

parcialmente favorável, e de 112 a 130 escores de<br />

atitude totalmente favorável.<br />

O escore geral<br />

A média dos escores para toda amostra de<br />

92,4 ( + 10,4). A distribuição foi normal, mas com<br />

tendência da curva de distribuição para atitude<br />

neutra. (Figura 4). O escore mínimo foi de 72<br />

pontos e o máximo de 126 pontos.<br />

Freqüência<br />

Os dados tempos de serviço dos sujeitos e<br />

a distribuição por percentil deram origem a<br />

seguinte classificação (Figura 3): acadêmicos<br />

finalistas, 54%; entre um a dez anos de atuação,<br />

26%; acima de 11 anos, 20%. Não houve<br />

nenhuma correlação destes dados com o resultado<br />

dos escores dos respondentes.<br />

Figura 4 – Distribuição dos escores<br />

Escore<br />

Std. Dev = 10,44<br />

Mean = 92<br />

N = 105,00<br />

32<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />

Os escores por área<br />

Área 3<br />

A média dos escores para área 1 foi de 89,1<br />

( + 7,4). O escore mínimo foi de 76 pontos e o<br />

máximo de 108 pontos. O gráfico de distribuição<br />

mostra uma tendência para escores de atitude<br />

neutra.<br />

Área 1<br />

Freqüência<br />

Std. Dev = 9,05<br />

Mean = 90,8<br />

N = 47,00<br />

Freqüência<br />

Figura 7 – Distribuição dos escores<br />

Escore<br />

DISCUSSÃO<br />

Figura 5 – Distribuição dos escores<br />

A classificação dos escores foi distribuída<br />

a partir da somatória de todas as alternativas para<br />

cada resposta e a média dos escores para a área 2<br />

foi 98,3 (+ 12,5). O escore mínimo foi de 78 e o<br />

máximo de 126. A tendência da curva de<br />

distribuição dos escores foi maior para o lado dos<br />

escores de atitudes parcialmente favoráveis (Figura<br />

6).<br />

Freqüência<br />

Área 2<br />

Figura 6 – Distribuição dos escores<br />

Escore<br />

Escore<br />

Std. Dev = 7,47<br />

Mean = 89,1<br />

N = 28,00<br />

Std. Dev = 12,56<br />

Mean = 98,3<br />

N = 30,00<br />

A Área 3 apresentou média dos escores de<br />

97 (+ 9,04). O escore mínimo de 72 pontos e o<br />

máximo de 111 pontos com tendência para escore<br />

de atitude parcialmente favorável (Figura 7).<br />

A área de atuação e o nível de formação<br />

acadêmica são fatores importantes para a<br />

formação de atitudes, 4 seria esperado que profissionais<br />

com formação acadêmica mais alta<br />

apresentassem atitudes mais favoráveis. No<br />

entanto, de acordo com os resultados obtidos,<br />

podemos afirmar que não houve correlação entre<br />

as variáveis, formação acadêmica, idade e gênero<br />

com as atitudes dos profissionais.<br />

Outro fator importante a ser considerado<br />

é o tempo de atuação. Se for correto esperar que<br />

profissionais com mais tempo de serviço tenham<br />

atitudes mais favoráveis, então esperaria que os<br />

escores das áreas que apresentam profissionais<br />

com maior tempo de atuação fossem mais<br />

favoráveis. Ao contrário, a área que teve menos<br />

profissionais com tempo de atuação maior que 11<br />

anos (área 2) obteve escore mais alto, revelando<br />

atitudes mais favoráveis.<br />

De acordo com os resultados do escore<br />

geral de profissionais, podemos inferir que as<br />

atitudes dos profissionais de saúde com relação à<br />

perspectiva de vida ativa de pacientes com lesão<br />

medular, é neutra, o que implica também numa<br />

ação neutra com relação a estes pacientes; no<br />

entanto, a atitude neutra é melhor do que se<br />

apresentassem atitudes desfavoráveis, pois,<br />

segundo 5 atitudes negativas de profissionais que<br />

atuam com pessoas com deficiência ou doença<br />

crônica, contribuem para um tratamento cuja<br />

qualidade tende a ser inferior quando comparada<br />

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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />

à qualidade do tratamento por profissionais com<br />

atitude neutra ou positiva.<br />

Partindo então para especificidade das<br />

subcategorias de áreas de atuação em relação às<br />

atitudes, observou-se diferenças significativas que<br />

podem estar relacionadas ao momento de<br />

intervenção. 6<br />

A área 1, composta por médicos e<br />

enfermeiros, apresentou escores configurando<br />

atitudes neutras com relação à perspectiva de vida<br />

ativa do paciente com lesão medular. Podemos<br />

inferir que, como o momento de atuação é o de<br />

urgência, a preocupação desses profissionais está<br />

voltada para a condição de sobrevivência, não<br />

restando talvez uma disposição para se pensa em<br />

possibilidades futuras, o importante é garantir a<br />

vida deste paciente. A área 2, compostas por profissionais<br />

de educação física, fisioterapeuta,<br />

terapeuta ocupacional e nutricionista, apresentou<br />

escore de atitudes favoráveis, pois atuam no<br />

momento em que o paciente já está estabilizado, e<br />

como as linhas de atuação nestas profissões se<br />

direcionam para o desenvolvimento das potencialidades<br />

motoras do indivíduo, é provável então que<br />

o seu olhar seja, portanto, na busca da reabilitação<br />

e habilitação de potencial remanescente.<br />

A área 3, composta por profissionais de<br />

serviço social e psicologia, apresenta escore de<br />

atitude parcialmente favorável, e isto pode está<br />

relacionado a não oportunização na prática<br />

profissional, do conhecimento do potencial motor<br />

que o lesado medular pode possuir mesmo com a<br />

lesão, atuando apenas nos aspectos legais,<br />

assistenciais e emocionais deles.<br />

CONCLUSÃO<br />

Ao propor este trabalho, tinha-se a<br />

convicção de que as atitudes dos profissionais de<br />

saúde, em relação ao paciente com lesão medular<br />

sob os seus cuidados, influenciariam na<br />

perspectiva de vida dessas pessoas, agora<br />

deficientes. Os resultados indicaram uma atitude<br />

favorável dos profissionais como um todo, mas<br />

com diferença entre algumas áreas específicas de<br />

atuação. Isto pode ser explicado pela diferença<br />

no tipo de formação acadêmica, ou na especificidade<br />

da atuação.<br />

Acredita-se que as atitudes favoráveis<br />

podem proporcionar às pessoas com seqüelas de<br />

lesão medular possibilidades de descobrir suas<br />

potencialidades o mais breve possível. Evitando<br />

os comprometimentos secundários, e não<br />

inerentes à lesão medular, seu restabelecimento é<br />

otimizado e possibilita maiores oportunidades de<br />

readaptação. Na verdade, acredita-se que é<br />

necessário este compromisso dos profissionais de<br />

saúde, da família e do Estado para que a deficiência<br />

possa ser encarada de maneira positiva e<br />

que seja proporcionada ao lesado medular uma<br />

qualidade de vida ativa.<br />

Estudos como este podem subsidiar programas<br />

de humanização do atendimento, especialmente<br />

de pacientes cuja patologia o transforma<br />

em pessoa com deficiência.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. FISHBEIN, M.; AJZEN, L. «Attitude-behavior<br />

relations: A theoretical analysis and review of<br />

empirical research». Psychological Bulletin, v. 84,<br />

p. 888-918. 1977.<br />

2. WANDERLEY, J. C. V. Medição de Atitudes nas<br />

Ciências da Conduta. 2.ª ed. João Pessoa, 1981.<br />

3. PASQUALI, L. Instrumentos Psicológicos: Manual<br />

Prático de Elaboração. Brasília, p. 56-120, 1999.<br />

4. MARTINS, A. E. O. «Atitudes frente ao doente<br />

mental: Influência do tipo e do nível de<br />

treinamento universitário». Psc. Teor. e Pesq.,<br />

Brasília, v. 3, n.º 2, p. 92-103, 1987.<br />

5. WOLFF, M. S. et al. «Blood levels of<br />

organochlorine residues and risk of breast cancer».<br />

Journal of the National Cancer Institute, 1993.<br />

6. FIGUEIRE<strong>DO</strong>, M. A de C & FIORINI, L. N.<br />

«Atitudes Frente à Aids e Lócus de Controle: Um<br />

Estudo com Estudantes e Profissionais de<br />

Enfermagem». Medicina, Ribeirão Preto, 29: 301-<br />

308, abr./set., 1996.<br />

34<br />

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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />

TREINAMENT<br />

AMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIA EM<br />

PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTR<br />

TRUTIV<br />

UTIVA<br />

CRÔNICA 1<br />

INSPIRATORY MUSCLE TRAINING IN PATIENTS WITH COPD<br />

MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO 2,3 , CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO 3 , CIBELE TAVARES SOUZA 3<br />

RESUMO: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada por uma limitação progressiva ao fluxo<br />

aéreo, que não é completamente reversível e resulta na perda da função pulmonar. Indivíduos com DPOC apresentam<br />

disfunção muscular inspiratória em conseqüência de uma combinação de efeitos, gerando um decréscimo na<br />

força e endurance muscular inspiratória, o que, funcionalmente, apresenta-se como dispnéia e diminuição da tolerância<br />

aos exercícios. Apesar do treinamento muscular inspiratório (TMI) não ser um componente essencial na<br />

reabilitação, estudos bem desenhados metodologicamente, investigando o uso de tal treinamento na redução da<br />

dispnéia e melhora na capacidade de exercícios em indivíduos com DPOC, são promissores, mas não conclusivos,<br />

havendo a necessidade de mais pesquisas sobre uma estratégia ótima de treinamento, que possibilite a execução de<br />

um tratamento eficaz, baseado em evidências. O objetivo deste trabalho foi descrever os mecanismos e as repercussões<br />

da disfunção muscular inspiratória em pacientes portadores de DPOC e revisar estudos que investigaram os<br />

efeitos do TMI nesses pacientes, de modo a prover uma atualização sobre a eficácia desse treinamento sobre a<br />

musculatura inspiratória, dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de vida.<br />

Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica, treinamento muscular inspiratório, dispnéia, capacidade de<br />

exercícios, qualidade de vida.<br />

ABSTRACT: The Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is characterized by the progressive development<br />

of airflow limitation that is not completely reversible and it results in a loss of the lung function. Individuals with<br />

COPD show inspiratory muscular dysfunction due to a combination of effects, resulting in decreasing inspiratory<br />

muscle strength and in the endurance, what functionally presents as dyspnea and decreasing of exercise tolerance.<br />

Although the inspiratory muscular training (IMT) is not an essential component in the rehabilitation, results of<br />

randomized controlled trials, that investigate the use of IMT in the reduction of dyspnea and an improving in the<br />

exercise capacity in individuals with COPD, are promising, but not conclusive and further researches are required<br />

to identify an optimal strategy of training that makes possible the execution of an efficacious evidence-based treatment.<br />

The objective of this study was to describe the mechanisms and effects of inspiratory muscular dysfunction in<br />

patients with COPD and to review articles that investigated the benefits of IMT in these patients in order to provide<br />

an update about the efficacy of such training on inspiratory muscles, dyspnea, exercise capacity and quality of life.<br />

Key-words: Chronic obstructive pulmonary disease, inspiratory muscle training, dyspnea, exercise capacity, quality<br />

of life.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica<br />

(DPOC) é uma enfermidade respiratória<br />

prevenível e tratável, caracterizada pela limitação<br />

ou pela obstrução crônica ao fluxo aéreo, que<br />

não é completamente reversível, sendo geralmente<br />

progressiva e associada a uma resposta inflamatória<br />

anormal dos pulmões à inalação de partículas<br />

ou gases tóxicos, causada principalmente pelo<br />

tabagismo. 1, 2<br />

Pacientes com DPOC apresentam diversos<br />

níveis de dispnéia e deterioração da capacidade<br />

de exercícios em associação com a debilidade das<br />

1<br />

Trabalho realizado no Curso de Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac/Educare: Centro de Educação<br />

Continuada – Belo Horizonte-MG<br />

2<br />

Supervisor de Estágio em Fisioterapia Respiratória da Universidade Paulista – Unip – Manaus-AM, realizado no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>.<br />

3<br />

Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória<br />

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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />

funções pulmonar e cardiovascular. Sendo assim,<br />

o programa de reabilitação pulmonar (PRP) tem<br />

sido requisitado como método adicional à terapia<br />

convencional, uma vez que é capaz de reduzir<br />

os sintomas, melhorar a qualidade de vida e<br />

aperfeiçoar a participação física e emocional em<br />

atividades cotidianas desses pacientes. 2,3<br />

Segundo a Global Iniciative for Chronic<br />

Obstructive Lung Disease (GOLD), 2 o PRP consiste<br />

de três componentes: educação, acompanhamento<br />

nutricional e treinamento de exercícios com<br />

ênfase nos membros inferiores, mostrando evidência<br />

«A» para benefícios como redução na sensação<br />

de dispnéia e melhora na capacidade de exercícios,<br />

com conseqüente melhora na qualidade de<br />

vida.<br />

Apesar do Treinamento Muscular Respiratório<br />

(TMR) não ser um componente<br />

terapêutico essencial no PRP, cuja evidência «B»<br />

não apóia o seu uso rotineiro, 2 sua recomendação<br />

baseia-se no fato de que, melhorando a força<br />

e/ou endurance da musculatura inspiratória, seja<br />

possível reduzir a dispnéia e melhorar a capacidade<br />

de exercícios. 1 A primeira meta-análise envolvendo<br />

o Treinamento Muscular Inspiratório<br />

(TMI) 4 concluiu que havia pouca evidência apoiando<br />

o seu uso em pacientes com DPOC. Contudo,<br />

algumas críticas 5 lhe foram feitas e o próprio<br />

autor recomendou mais estudos. Posteriormente,<br />

uma segunda meta-análise foi publicada, 6 apoiando<br />

a adição do TMI no PRP, apesar de não ter<br />

deixado claro os modos e a intensidade de treinamento<br />

aplicados. Recentemente, uma revisão sistemática<br />

5 mostrou que o tipo de treinamento, a<br />

freqüência, a duração e a intensidade dos exercícios<br />

devem ser considerados e que o TMI melhora<br />

a força e endurance muscular inspiratória, reduzindo<br />

a dispnéia em adultos com DPOC estável.<br />

Metodologicamente, este estudo trata de<br />

uma revisão bibliográfica de trabalhos científicos<br />

que analisaram as repercussões do TMI em pacientes<br />

com DPOC. A identificação dos artigos foi<br />

feita por meio da busca bibliográfica nas Bases de<br />

Dados MEDLINE e LILACS, referentes aos anos<br />

de 1976 a 2006 e envolveu combinações entre as<br />

palavras: Chronic obstructive pulmonary disease,<br />

inspiratory muscle training, dyspnea, exercise<br />

capacity, quality of life. Foram considerados critérios<br />

de inclusão, estudos experimentais e de observação<br />

analíticos, publicados em português ou<br />

inglês, abordando as alterações e adaptações dos<br />

músculos inspiratórios em indivíduos portadores<br />

de DPOC, bem como o TMI e suas repercussões<br />

nessa população.<br />

O objetivo deste trabalho foi descrever os<br />

mecanismos e as repercussões da disfunção muscular<br />

inspiratória em pacientes portadores de<br />

DPOC e revisar estudos que investigaram os efeitos<br />

do TMI nesses pacientes, de modo a prover<br />

uma atualização sobre a repercussão desse treinamento<br />

sobre a musculatura inspiratória,<br />

dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de<br />

vida.<br />

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

Disfunção Muscular Inspiratória na DPOC<br />

A obstrução crônica ao fluxo aéreo (gerada<br />

pelo broncoespasmo e destruição alveolar, inflamação<br />

e presença de muco nas vias aéreas 7 )<br />

associada à reduzida complacência dinâmica<br />

pulmonar, faz com que os músculos inspiratórios<br />

trabalhem cronicamente contra cargas mecânicas<br />

aumentadas – fato que requer maior geração<br />

de força por parte desses músculos para deslocar<br />

o ar, 8 porém com capacidade reduzida em função<br />

da desvantagem mecânica pelo encurtamento<br />

das fibras diafragmáticas produzido pela<br />

hiperinsuflação.<br />

Considerada uma das mais importantes<br />

anormalidades da mecânica respiratória nestes<br />

pacientes, a hiperinsuflação dinâmica (aumento<br />

dinâmico no volume pulmonar expiratório pela<br />

perda de recolhimento elástico e estreitamento das<br />

pequenas vias aéreas, resultando na sua compressão<br />

e conseqüente aprisionamento de ar durante<br />

a expiração) piora a capacidade dos músculos<br />

inspiratórios de gerar pressão, sendo que há evi-<br />

36<br />

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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />

dência indicando que o diafragma é o músculo<br />

mais afetado da caixa torácica, 8 pela piora na relação<br />

comprimento-tensão, diminuição na zona<br />

de aposição (constituindo apenas 40% da área<br />

total do diafragma em pacientes com DPOC) e<br />

diminuição da sua curvatura (Equação de<br />

Laplace). 8,9 Outros fatores como: aumento no consumo<br />

de oxigênio pelos músculos respiratórios,<br />

perda de massa muscular, fadiga muscular respiratória,<br />

fatores morfológicos e bioquímicos, uso<br />

de esteróides e anormalidades na troca gasosa são<br />

condições que reduzem a eficiência e a força<br />

muscular inspiratória contribuindo para a<br />

dispnéia e limitação ao exercício. 9<br />

Suporte Teórico para o Uso do Treinamento<br />

Muscular Inspiratório na DPOC<br />

Uma queixa comum dos pacientes com<br />

DPOC é a limitação à atividade física gerada pela<br />

dispnéia, 2 definida como uma sensação subjetiva<br />

de desconforto respiratório, que varia em intensidade,<br />

cuja origem é determinada por uma<br />

integração complexa de múltiplos sinais aferentes<br />

e eferentes, 10 refletindo um desequilíbrio entre a<br />

capacidade e a demanda ventilatória. Essa<br />

dissociação neuromecânica pode explicar a contribuição<br />

da disfunção muscular respiratória na<br />

gênese da dispnéia, que aumenta quando o<br />

feedback aferente relatando mudanças na pressão<br />

intra-torácica, comprimento muscular respiratório<br />

e movimento da parede torácica é interpretado<br />

como insuficiente para o correspondente comando<br />

motor. 11<br />

A diminuição de atividades como uma estratégia<br />

de limitar a experiência de dispnéia, resultante<br />

primariamente da disfunção respiratória,<br />

leva a um estilo de vida sedentário, 9,11 com<br />

conseqüente descondicionamento dos músculos<br />

da deambulação, piorando a sensação de<br />

dispnéia, até que esta se torne um sintoma de incapacidade<br />

dos pacientes com DPOC durante as<br />

atividades de vida diária. 11 Baseando-se nisto é<br />

que o TMR tem ganhado relevância, pois, uma<br />

vez que o desequilíbrio entre a capacidade e a<br />

demanda ventilatória é reduzido, uma melhora<br />

na eficiência dos músculos respiratórios produziria<br />

uma diminuição na dispnéia melhorando a<br />

capacidade de exercícios. 11<br />

Treinamento Muscular Inspiratório<br />

O conceito de treinar especificamente os<br />

músculos respiratórios veio a se desenvolver a<br />

partir de 1976, quando Leith e Bradley 12 mostraram<br />

aumento na força e endurance desses músculos<br />

após o TMI em indivíduos saudáveis. Desde<br />

então, um número substancial de estudos envolvendo<br />

os efeitos de tal treinamento em várias desordens,<br />

incluindo a DPOC, tem sido publicado.<br />

De acordo com Reid e Samrai, 13 os princípios<br />

gerais do treinamento, a saber: especificidade,<br />

sobrecarga e reversibilidade são os mesmos adotados<br />

para a musculatura esquelética e os músculos da<br />

respiração podem ser treinados quanto à força,<br />

endurance ou ambas. Baseados nesses princípios,<br />

os programas de treinamento são designados para<br />

melhorar a função muscular.<br />

Tipos de Treinamento Muscular Inspiratório<br />

Treinamento com Cargas de Baixa Pressão e Alto Fluxo<br />

Hiperventilação ou Hiperpnéia Normocápnica<br />

ou Isocápnica: Esta modalidade de TMR é<br />

realizada por meio de altos níveis de ventilação<br />

voluntária, sem a adição de carga externa, 14 cuja<br />

intensidade do treinamento é marcada com uma<br />

porcentagem da Ventilação Voluntária Máxima, 5<br />

por um período de 15 minutos. 13 O equipamento<br />

é constituído por uma escala visual (para que o<br />

paciente realize um nível adequado de ventilação)<br />

e o uso de um sistema de reinalação a fim de<br />

manter constante o nível de dióxido de carbono<br />

durante a hiperventilação. 13,15 Em razão desse<br />

complexo e custoso equipamento, o uso deste treinamento<br />

tem sido reservado para estudos<br />

laboratoriais, com poucos trabalhos relatando sua<br />

utilização na prática clínica. 5,15<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />

Treinamento com Cargas de Alta Pressão e<br />

Baixo Fluxo<br />

Cargas Resistidas (alineares): O TMI com<br />

cargas resistidas é realizado por intermédio de um<br />

aparelho constituído de um bocal, anexado a uma<br />

peça T conectada a uma válvula unidirecional de<br />

um lado e a um sistema de resistência inspiratória<br />

alinear do outro, dada por meio da variação de<br />

orifícios de diferentes diâmetros. 13 Uma desvantagem<br />

deste método é a interdependência ao fluxo,<br />

pois os indivíduos freqüentemente alteram a<br />

respiração, realizando inspirações mais lentas e<br />

profundas, a fim de tolerar mais facilmente a resistência<br />

inspiratória, reduzindo a carga para um<br />

nível abaixo daquele necessário para induzir o<br />

treinamento 14 e, dessa forma, gerando resultados<br />

insatisfatórios, 16,17 questionando, assim, os seus<br />

benefícios. 13 Para minimizar este efeito, o padrão<br />

respiratório dos indivíduos tem sido controlado<br />

por uma escala ou marcador visual (um sistema<br />

de feedback para indicar a magnitude da pressão<br />

gerada). 5,18 Portanto, o treinamento com cargas<br />

resistidas é classificado como: sem carga-alvo ou<br />

com carga-alvo e este último tem consistentemente<br />

mostrado melhores resultados. 18<br />

Geralmente, os programas de TMI usando<br />

cargas resistidas são compostos por repetidos esforços<br />

inspiratórios submáximos, com sessões de<br />

15-30 minutos, 1-4 vezes ao dia, sete dias por semana,<br />

durante 6 a 8 semanas, com a intensidade<br />

de 30-70% da Pressão Inspiratória Máxima<br />

(Pi max<br />

). 18<br />

Cargas Limites (lineares): O TMI com<br />

cargas limites, atualmente, é o tipo de escolha<br />

mais popular para se treinar os músculos<br />

inspiratórios. 11 Isto é explicado pela vantagem da<br />

resistência imposta pelo aparelho ser independente<br />

do fluxo do indivíduo. 19 O treinador consiste<br />

de um bocal conectado a uma válvula<br />

unidirecional que, por sua vez, é acoplada a um<br />

sistema de resistência dado por uma mola (springloaded)<br />

calibrada em cmH 2<br />

O, que impõe uma carga<br />

de treinamento predeterminada constante. 5,13<br />

Durante o treinamento, inicialmente os músculos<br />

inspiratórios realizam uma contração<br />

isométrica até que a válvula se abra, permitindo,<br />

assim, o fluxo inspiratório, e, a partir daí, a contração<br />

se torna isotônica. 11 Em geral, os programas<br />

de treinamento usando cargas limites têm<br />

aplicado estratégias similares àquelas descritas<br />

usando cargas resistidas. 20,21<br />

Repercussões do TMI sobre a Musculatura<br />

Inspiratória do Portador de DPOC<br />

A atividade contrátil é um dos mais eficazes<br />

estímulos que modificam o tipo e o tamanho<br />

da fibra muscular e, apoiando-se nisto, os treinamentos<br />

de endurance (longas sessões de contrações<br />

submáximas) e de resistência (curtas sessões de<br />

contrações máximas) podem promover adaptações<br />

na musculatura esquelética. 22 Um aumento<br />

na velocidade de encurtamento pode ser induzido<br />

por um treinamento moderado 22 e, associadas<br />

à melhora na força e endurance dos músculos<br />

inspiratórios, mudanças morfológicas (aumento<br />

na proporção de fibras tipo I e aumento no tamanho<br />

das fibras tipo II) foram recentemente relatadas<br />

em pacientes com DPOC após um programa<br />

de TMI. 23<br />

O treinamento de resistência é capaz de<br />

causar significante aumento na força e na massa<br />

muscular, enquanto que o treinamento de<br />

endurance melhora a atividade das enzimas<br />

aeróbicas. 13 Estudos bem desenhados metodologicamente,<br />

empregando protocolos de repetidos<br />

esforços submáximos impostos por cargas externas,<br />

relatam ganho na força ou endurance dos músculos<br />

inspiratórios, quando comparados com os<br />

valores iniciais dos grupos experimental e controle.<br />

21,23,24,25,26<br />

Quantificação das Cargas de Treinamento<br />

Muito tem se debatido sobre quantificação<br />

das cargas de treinamento. Atualmente sabe-se<br />

que cargas prescritas com 22% da Pi max<br />

são capazes<br />

de melhorar apenas a endurance muscular respiratória<br />

27 e parece que um mínimo de carga<br />

38<br />

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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />

marcada em 30% da Pi max<br />

é necessário para que<br />

um aumento da força muscular inspiratória seja<br />

atingido. 20 Vários trabalhos têm empregado os<br />

protocolos de treinamento contínuo (sem intervalo<br />

de repouso), com cargas prescritas em 30-<br />

50% da Pi max<br />

, 21, 23, 24, 26 enquanto outros relatam o<br />

uso de cargas de treinamento marcadas em 70-<br />

80% da Pi max<br />

. 18<br />

Estudos mais recentes mostram uma tendência<br />

dos protocolos de TMI com cargas elevadas,<br />

baseados nos princípios fisiológicos de que a<br />

magnitude da resposta do treinamento é proporcional<br />

à duração e à intensidade do estímulo aplicado<br />

28 e que a força muscular tem uma importante<br />

influência sobre a endurance. 14 Contudo, pela<br />

dificuldade de se manter altas cargas por períodos<br />

prolongados, em função do acúmulo de<br />

lactato e resultante fadiga, as cargas aplicadas na<br />

maioria dos treinamentos contínuos têm sido baixas,<br />

variando de 15-50% da Pi max<br />

. 21,23,24,26 Um recente<br />

estudo, porém, aplicando um protocolo de<br />

treinamento intervalado (com períodos de descanso),<br />

permitiu a utilização de alta carga (95% da<br />

Pi max<br />

), explicada pelo reabastecimento de<br />

fosfocreatina, diminuindo a velocidade de<br />

acúmulo de lactato e resultante decréscimo na<br />

fadiga muscular, induzindo, assim, ganhos máximos<br />

na função muscular inspiratória. 28<br />

Efeitos do Treinamento Muscular Inspiratório<br />

na Dispnéia, Capacidade de Exercícios e Qualidade<br />

de Vida do Portador de DPOC<br />

Não há mais dúvidas de que o TMI bem<br />

prescrito em pacientes com DPOC é capaz de<br />

aumentar a força e endurance dessa musculatura.<br />

5,6 A questão é se tal aumento repercute de<br />

maneira positiva na sensação de dispnéia, capacidade<br />

de exercícios e qualidade de vida desses<br />

pacientes.<br />

Em sua meta-análise, Lötters et al. 6 concluíram<br />

que o TMI sozinho ou associado a exercícios<br />

gerais de recondicionamento é capaz de reduzir<br />

a dispnéia, e que há uma tendência a melhorar a<br />

capacidade de exercícios em pacientes com<br />

DPOC. Recentemente, uma revisão sistemática<br />

publicada por Geddes et al. 5 indicou resultados<br />

satisfatórios com o uso do TMI com carga-limite<br />

ou resistido com carga-alvo, sobre a dispnéia e a<br />

capacidade de exercícios, concluindo sua eficácia<br />

em pacientes com DPOC. Estudos bem desenhados<br />

metodologicamente vão ao encontro das<br />

conclusões observadas por Lötters et al. 6 e Geddes<br />

et al., 5 mostrando a eficácia do TMI na redução<br />

da dispnéia 23,26,29 e melhora na capacidade de<br />

exercícios em pacientes com DPOC. 20,23,24,26,27,29<br />

Com relação à avaliação da qualidade de<br />

vida nos pacientes com DPOC, após o programa<br />

de TMI, Geddes et al. 5 indicarem evidência<br />

inconclusa a respeito desta variável, uma vez que<br />

não foi possível realizar uma meta-análise, pois<br />

os únicos dois estudos que apresentavam critérios<br />

metodológicos satisfatórios usaram diferentes<br />

tipos de questionários, com um trabalho mostrando<br />

mudança significativa na sua pontuação, a<br />

favor do TMI, 26 e o outro não apresentando nenhuma<br />

alteração. 20<br />

Tendências Atuais dos Protocolos de Treinamento<br />

Muscular Inspiratório<br />

O modo de TMI é importante para melhorar<br />

a força e endurance dos músculos inspiratórios,<br />

a dispnéia e a capacidade de exercícios em pacientes<br />

com DPOC. O uso de treinadores que oferecem<br />

cargas-limite ou resistidas-alvo assegura a<br />

ativação e manutenção da intensidade do treinamento<br />

durante os exercícios, cujas freqüência,<br />

duração e supervisão devem ser consideradas. 5<br />

Os estudos disponíveis sugerem uma freqüência<br />

de treinamento de 1-2 vezes ao dia, com uma<br />

duração de 20-30 minutos e o número de sessões<br />

variando de 5-7 dias por semana. 20,21,23,24,26,29<br />

A tendência tem sido a utilização de cargas<br />

elevadas, maiores que 50% da Pi max<br />

21,30,31,33<br />

e<br />

incrementais, 27,28,29 por intermédio de treinamento<br />

intervalado, 27,28 sugerindo que os protocolos de<br />

TMI que induzem maiores benefícios na força<br />

muscular podem resultar em grandes reduções na<br />

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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />

dispnéia, porém esta relação requer mais estudos.<br />

11<br />

Obedecendo ao princípio da reversibilidade,<br />

o treinamento deve ser mantido, uma vez que<br />

os benefícios adquiridos podem declinar-se gradualmente,<br />

29 o que sugere que o TMI deva se tornar<br />

parte da rotina individual do programa de<br />

exercícios e, ao prescrevê-lo para pacientes com<br />

DPOC, o fisioterapeuta considere as comorbidades,<br />

motivação, nível de dispnéia e severidade<br />

da doença. 5<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Há boas razões teóricas para pensar que<br />

os indivíduos com DPOC podem desenvolver<br />

disfunção muscular respiratória, contribuindo,<br />

desse modo, para a dispnéia e limitação ao exercício.<br />

Desde que se comprovou que o TMI é capaz<br />

de gerar aumentos significativos na força e<br />

endurance desses músculos, tal treinamento tem<br />

sido alvo de inúmeras pesquisas e os resultados<br />

de estudos bem desenhados metodologicamente,<br />

investigando a eficácia do TMI na redução da<br />

dispnéia e melhora na capacidade de exercícios<br />

em pacientes com DPOC são promissores, mas<br />

não conclusivos.<br />

Atualmente, o TMI não é considerado um<br />

componente essencial do PRP e isto tem sido justificado,<br />

em parte, por treinamentos inadequados<br />

e estudos mal conduzidos, refletindo resultados<br />

insatisfatórios que explicam tal consideração.<br />

Além das diferenças nas estratégias de treinamento<br />

e qualidade metodológica, as características dos<br />

pacientes, tais como grau de hiperinsuflação, severidade<br />

da doença e fraqueza muscular respiratória<br />

podem também influenciar a eficácia do<br />

TMI.<br />

Verifica-se, portanto, a necessidade de<br />

mais estudos bem conduzidos e de um consenso<br />

sobre uma estratégia ótima de treinamento, que<br />

possibilitem a execução de um tratamento eficaz,<br />

baseado em evidências, cujas prescrição, intensidade<br />

e duração tenham fundamento em programas<br />

em que os resultados mostrem relevância na<br />

prática clínica.<br />

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PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS<br />

TRATAMENT<br />

AMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASION<br />

ASIONAD<br />

ADAS<br />

AS<br />

POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A<br />

.A.F): .F): RELATO<br />

DE CASO CLÍNICO<br />

TREATMENT OF FACIAL FRACTURES BY PROJECTILE OF FIREARM: CASE REPORT<br />

PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR. 1 , MARCELLO DA GAMA MENDES 2 , GIORGE PESSOA DE JESUS 3<br />

RESUMO: Com o aumento da violência urbana, tem se tornado comum o atendimento de pacientes vítimas de<br />

acidente por arma de fogo nos serviços de emergência hospitalar. A região maxilo-facial, por sua localização, é um<br />

alvo comum neste tipo de injúria. O presente trabalho tem como objetivo relatar o tratamento cirúrgico de fraturas<br />

faciais de um paciente vítima de ferimento por projétil de arma de fogo, seguindo o protocolo AO/ASIF<br />

(Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). O resultado obtido<br />

foi o restabelecimento estético e funcional, diminuindo as seqüelas do trauma e reintegrando o paciente ao seu<br />

convívio social. Concluímos que o cirurgião buco-maxilo-facial deve estar inserido em uma equipe multidisciplinar,<br />

possibilitando reparo tanto das fraturas faciais como também das funções mastigatórias.<br />

Palavras-chave: Violência urbana, Arma de fogo, Tratamento cirúrgico.<br />

ABSTRACT: In consequence of the increasing of urban violence, it has been common the attendance of patients that<br />

are accident victims by a firearm in the hospital emergency services. The maxillofacial region, because of the location,<br />

is a common target in this type of injury. This work aims to report the surgical treatment of facial fractures of a<br />

patient that is victim of injury by firearm projectile, following the protocol AO/ASIF (Arbeitsgemeinschaft für<br />

Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). The result was the aesthetic and functional<br />

restoration, decreasing the patients’ trauma sequels and restoring their social interaction. Conclusion revealed that<br />

the maxillofacial surgeon should be inserted in a multidisciplinary crew, to make possible the repair of facial<br />

fractures and the masticate functions too.<br />

Key-words: Urban violence, Firearm, Surgical treatment.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os ferimentos por arma de fogo constituem<br />

problema um de saúde pública, e a região<br />

maxilo-facial, por sua localização anatômica, tem<br />

sido alvo constante deste tipo de injúria. 1,2,3 Estes<br />

ferimentos podem causar desde extensas lesões<br />

ósseas e de tecidos moles até seqüelas estéticas,<br />

funcionais e psicológicas. Em função do grau de<br />

destruição tecidual, comumente são necessários<br />

vários tempos cirúrgicos e períodos longos de tratamento.<br />

4 Geralmente por se tratar de fraturas<br />

cominutivas, a fase reconstrutiva em seqüelas de<br />

fraturas baseia-se no restabelecimento anátomofuncional,<br />

buscando uma estética aceitável, permitindo,<br />

assim, a reintegração do indivíduo ao seu<br />

convívio social. 1,5<br />

RELATO <strong>DO</strong> CASO CLÍNICO<br />

Paciente J.V.M., 32 anos, sexo masculino,<br />

feoderma, foi encaminhado ao serviço de Cirurgia<br />

e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF)<br />

da Faculdade de Odontologia (FAO) da Universidade<br />

Federal do Amazonas (Ufam), com queixa<br />

principal de dificuldade de abertura bucal.<br />

1<br />

Graduando em Odontologia da Ufam.<br />

2<br />

Aluno do Curso de Aperfeiçoamento em CTBMF da Ufam.<br />

3<br />

Professor auxiliar de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Ufam.<br />

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TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO<br />

Paciente relatou ter sido vítima de ferimento por<br />

projétil de arma de fogo, ocorrido havia dois meses.<br />

Ao exame clínico, verificou-se paralisia parcial<br />

do lábio superior do lado esquerdo,<br />

desoclusão dentária, assimetria facial, limitação<br />

de abertura bucal (Fig. 1), disfonia e disfagia.<br />

Após realização de exames pré-operatórios,<br />

o paciente foi internado no <strong>Hospital</strong> Universitário<br />

Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) para realização de<br />

tratamento cirúrgico sob anestesia geral, com o<br />

objetivo de redução dos cotos fraturados e reabilitação<br />

da oclusão dentária. O acesso de escolha<br />

foi o submandibular (Fig. 4) na região da fratura<br />

cominuitva mandibular esquerda, onde foi realizada<br />

a refratura e mobilização dos cotos (Fig. 5),<br />

seguido do Bloqueio maxilo-mandibular (Fig. 6),<br />

restabelecendo a oclusão dentária.<br />

Figura 1 – Aspecto clínico pré-operatório: Limitação de abetura bucal.<br />

Foram solicitados exames de imagem, com<br />

incidências póstero-anterior e panorâmica (Fig. 2)<br />

de face, nos quais foram observados traços de fraturas<br />

na região mandibular e maxilar do lado esquerdo,<br />

e fragmentos do projétil da arma de fogo<br />

na região de ramo mandibular do mesmo lado.<br />

Figura 4 – Planejamento da incisão com linhas de referência.<br />

Figura 2 – Radiografia panorâmica pré-operatória.<br />

Para estabelecer um adequado plano de<br />

tratamento e delimitar mais precisamente a área<br />

das fraturas, solicitou-se Tomografia Computadorizada<br />

(TC) de face (Fig. 3).<br />

Figura 5 – Abordagem da fratura cominutiva.<br />

Figura 3 – TC de face: Corte coronal: fratura mandibular cominutiva<br />

do lado esquerdo.<br />

Figura 6 – Bloqueio maxilo-mandibular trans-operatório.<br />

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PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS<br />

Em seguida foram reduzidos os cotos fraturados<br />

e estabilizados por meio da Fixação Interna<br />

Rígida (FIR) (Fig. 7), utilizando duas<br />

miniplacas de titânio e parafusos do sistema<br />

2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF.<br />

Figura 9 – Pós-operatório de 1 ano e 9 meses: abertura bucal satisfatória.<br />

Figura 7 – Fixação interna rígida.<br />

Na região maxilar não houve alteração<br />

do plano oclusal dentário, sendo realizado o<br />

acesso em fundo de vestíbulo, para remoção dos<br />

fragmentos ósseos desvitalizados, além da<br />

desinserção do tecido fibroso e plastia da fístula<br />

decorrente do trajeto do projétil da arma de<br />

fogo.<br />

Paciente esteve de alta hospitalar após<br />

dois dias, permanecendo em acompanhamento<br />

pós-operatório com exames clínicos e<br />

radiográficos (Fig. 8) periódicos, onde foi orientado<br />

para realização de higiene bucal e fisioterapia<br />

para restabelecimento da função<br />

mastigatória. Após um ano e nove meses, paciente<br />

encontrava-se com abertura bucal (Fig. 9)<br />

e oclusão dentária satisfatória (Fig. 10), permitindo<br />

com isso uma reinserção no seu convívio<br />

social.<br />

Figura 8 – Radiografia panorâmica pós-operatória.<br />

Figura 10 – Oclusão dentária restabelecida.<br />

DISCUSSÃO<br />

As situações de violência têm sido uma<br />

constante na sociedade, afetando indivíduos de<br />

todas as classes sociais, principalmente nos grandes<br />

centros urbanos. 4,6 As fraturas ocasionadas<br />

por projéteis de arma de fogo, geralmente, provocam<br />

dilacerações extensas, envolvendo os tecidos<br />

moles e duros, além da vascularização e<br />

inervação. 1 Embora, no caso relatado, o paciente<br />

não soubesse informar o tipo de arma utilizada<br />

pelo agressor; observaram-se características de<br />

lesões ocasionadas por projéteis de arma de fogo<br />

de baixa velocidade, promovendo laceração e esmagamento<br />

tecidual, os quais, quando atingem<br />

regiões ósseas, formam-se projéteis secundários;<br />

ocasionando fratura cominutiva no corpo mandibular<br />

e perfurações no osso maxilar. O objetivo<br />

principal do tratamento das fraturas mandibula-<br />

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TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO<br />

res é restabelecer a oclusão dentária e a função<br />

mastigatória com movimentação adequada da<br />

Articulação Têmporo Mandibular (ATM). 7 O tratamento<br />

de escolha para a fratura cominutiva<br />

mandibular foi a redução aberta e fixação dos<br />

cotos com uso de miniplacas de titânio do sistema<br />

2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF. Este<br />

sistema, o qual utilizou a F.I.R., promove melhor<br />

estabilidade das fraturas, principalmente em comparação<br />

à osteossíntese com fios de aço; além de<br />

apresentar a vantagem fundamental da biocompatibilidade.<br />

Antes da adaptação e fixação das<br />

miniplacas aos cotos fraturados, foi realizado o<br />

bloqueio maxilo-mandibular, possibilitando o<br />

restabelecimento da oclusão dentária, importante<br />

para reabilitação funcional no pós-operatório. 8<br />

A remoção do projétil é feita se este estiver superficialmente<br />

ou provocando limitação funcional. 9,10<br />

No caso relatado, optou-se pela manutenção dos<br />

fragmentos do projétil, por não haver comprometimento<br />

funcional, mesmo sendo evidenciado,<br />

na imagem da TC, a localização do projétil próximo<br />

à coluna cervical. Geralmente os pacientes<br />

submetidos a intervenções cirúrgicas, no complexo<br />

maxilo-madibular, apresentam como conseqüências<br />

no pós-operatório recente, trismo e dificuldade<br />

na mastigação, as quais devem ser gradualmente<br />

recuperadas por meio do trabalho fisioterápico.<br />

2<br />

CONCLUSÃO<br />

Podemos concluir que, no contexto atual<br />

da violência dos grandes centros urbanos, é imprescindível<br />

que o profissional da área da saúde<br />

esteja cada vez mais preparado para o atendimento<br />

do paciente com ferimentos ocasionados<br />

por arma de fogo, já que este tipo de injúria apresenta<br />

alto grau de complexidade e difícil reabilitação.<br />

O relato deste caso demonstra a importância<br />

do profissional buco-maxilo-facial dentro da<br />

equipe multidisciplinar no atendimento e planejamento<br />

do tratamento à vítima, possibilitando<br />

uma recuperação funcional e estética, devolvendo-o<br />

às suas atividades cotidianas.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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O., FILHO, J. L. T. «Tratamento das lesões faciais<br />

causadas por arma de fogo». Revista da Associação<br />

Maringaense de Odontologia, v. 1, n.º 2, jan./<br />

mar., 2000.<br />

2. PERREIRA, C. C. S., JACOB, R. J.,<br />

TAKAHASHI, A., SHINOHARA, E. H. «Fratura<br />

mandibular por projétil de arma de fogo». Rev.<br />

Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac., Camaragibe, v.<br />

6, n.º 3, p. 39-46, julho/setembro, 2006.<br />

3. SILVA, J. J., MACHA<strong>DO</strong>, R. A., NASCIMEN-<br />

TO, M. M., BRAINER, D., MACE<strong>DO</strong>, T., VALEN-<br />

TE, R. «Lesão por arma de fogo em terço inferior<br />

de face de criança: relato de caso». Revista de Cirurgia<br />

e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, v. 4, n.º<br />

3, p. 163-168, jul./set., 2004.<br />

4. GOLDMAN, R. S. et al. «Protocolo para atendimento<br />

cirúrgico a paciente vítima de ferimento<br />

por arma de fogo com perda de substância de mandíbula».<br />

Revista online APCD. São Paulo, 2000.<br />

5. XAVIER, L. R., MACE<strong>DO</strong>, E. B., PADILHA,<br />

W. W. N., QUINTANILHA, L. E. L. «Incidência<br />

e tratamento inicial das fraturas mandibulares por<br />

arma de fogo na cidade do Rio de Janeiro». Rev.<br />

FOB, v. 8, n.º 1/2, p. 31-35, jan./jun., 2000.<br />

6. OGATA, E., ONO, H. Y., LEANDRO, L. F. L.<br />

«Fraturas mandibulares por projétil de arma de<br />

fogo». RBC, v. 1, n.º 3, p. 212-217, 2003.<br />

7. ANDRADE FILHO, E. F. et al. «Fraturas de<br />

mandíbula: análise de 166 casos». Rev. Ass. Med.<br />

Bras., v. 46, n.º 3, p. 272-276, 2000.<br />

8. CUNNINGHAM, L., HAUG, R. H., FORD, J.<br />

«Firearm injuries to the maxillofacial region: an<br />

overview of currents thoughts regarding<br />

demografics, pathophysiology, and management».<br />

J. Oral Maxillofac. Surg., Philadelphia, v.<br />

61, p. 932-942, 2003.<br />

9. GOMES, A. C. A., SILVA, E. D. O., CARVA-<br />

LHO, R., GOMES, D. O., FEITOSA, D. S., MAIA,<br />

46<br />

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relatos de caso clínico». Rev. Cir. Traumat.<br />

Buco-Maxilo-Facial, v. 1, n.º 2, p. 31-38, jul./ dez.,<br />

2001.<br />

10. NEUPERT III, E. A., BOYD, S. B.<br />

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wounds to the mandible». Oral Surg. Oral Med.<br />

Oral Pathol, St. Louis, v. 72, p. 383-387, 1991.<br />

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FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA E DANIELLE ABREU DA COSTA<br />

DEFICIÊNCIA CIA DE 11β- HIDROXIL<br />

XILASE - RELATO DE<br />

CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />

TURA<br />

11β - HIDROXYLASE DEFICIENCY – A CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW<br />

FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA 1 E DANIELLE ABREU DA COSTA 2<br />

RESUMO: Neste artigo, apresentamos um caso de puberdade precoce associado à hipertensão arterial sistêmica<br />

em paciente pediátrico do sexo masculino atendido no ambulatório Araújo Lima do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />

<strong>Vargas</strong>. Após investigação diagnóstica, foi constatada disfunção congênita da esteroidogênese adrenal, especificamente<br />

hiperplasia congênita de adrenal secundária à deficiência de 11β-Hidroxilase. Dispomos aqui o relato,<br />

discussão do caso clínico e uma breve revisão sobre esta rara deficiência.<br />

Palavras-chave: Puberdade precoce, hiperplasia congênita de adrenal, deficiência de 11β-Hidroxilase.<br />

ABSTRACT: This article presents a case of precocious puberty associated to systemic and arterial hypertension in<br />

a male pediatric patient attended at the Araujo Lima Ambulatory of the University <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong>. After<br />

the diagnostic investigation, it was found congenital dysfunction of the adrenal steroidogenesis, specifically<br />

congenital adrenal hyperplasia secondary to the 11b-Hidroxilase deficiency. Here in the report, there is the discussion<br />

of the case in a brief review on this rare deficiency.<br />

Key-words: Precocious puberty, congenital adrenal hyperplasia, deficiency of 11β-Hydroxylase.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A glândula adrenal é dividida funcionalmente<br />

nas camadas: glomerulosa, reticular e<br />

fasciculada responsáveis pela produção de mineralocorticóides,<br />

hormônios sexuais e glicocorticóides,<br />

respectivamente. Nesta última camada, para<br />

a produção do cortisol são necessárias cinco<br />

enzimas, entre as quais está a 11β-Hidroxilase.<br />

Essa produção hormonal é regulada principalmente<br />

pelo ACTH em um mecanismo de retrocontrole<br />

negativo.<br />

A deficiência de 11β-Hidroxilase é causada<br />

por mutações no gene CYP11B1, sendo a segunda<br />

causa de hiperplasia adrenal congênita<br />

(HAC). Esta condição é bastante rara, ocorrendo<br />

em menos de 5% dos casos. O bloqueio na via de<br />

formação do cortisol implica em perda do retrocontrole<br />

negativo e conseqüente aumento do<br />

ACTH. Ocorre então hiperestimulação das<br />

adrenais com acúmulo de mineralocorticóides,<br />

andrógenos e precursores do cortisol resultando<br />

em puberdade precoce em meninos, virilização<br />

em meninas e hipertensão arterial (HAS). 1,3,8<br />

RELATO <strong>DO</strong> CASO<br />

JVSP, sexo masculino, natural e procedente<br />

de Manaus (AM). Iniciou, aos três anos, quadro<br />

de acne, sudorese, surgimento de pêlos no<br />

púbis e axila, aumento do pênis e da estatura.<br />

Evoluiu com progressão dos sintomas e, aos cinco<br />

anos e oito meses, foi levado ao ambulatório<br />

de endocrinologia pediátrica para investigação<br />

diagnóstica.<br />

Antecedentes: Parto normal, não chorou<br />

ao nascer, peso: 4,210 kg, comprimento: 53 cm,<br />

PC: 35 cm. Andou aos onze meses, falou ao 1 ano<br />

e 2 meses, não estuda. Vacinação completa para<br />

a idade. Mãe relata varicela aos três anos.<br />

1<br />

Especialista em Endocrinologia e Endocrinologia Pediátrica, Médica Assistente do Serviço de Endocrinologia do <strong>HUGV</strong> – Faculdade de Medicina da Ufam<br />

2<br />

Médica Residente de Clínica Médica (R2) – <strong>HUGV</strong><br />

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DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />

Ao exame físico, apresentava pêlos<br />

pubianos P4 pelos critérios de Tanner, testículos<br />

pré-púberes, medindo 1,5 e 2,0 cm nos seus maiores<br />

diâmetros e pênis com aumento do diâmetro<br />

e 7,5 cm de comprimento (aproximadamente 2<br />

desvios padrões acima da população de mesma<br />

faixa etária). Desvio padrão de altura de + 5,21,<br />

velocidade de crescimento de 16 cm/ano e idade<br />

óssea de 12 anos (aos quatro anos e onze meses).<br />

PA: 140 x 80 mmHg, elevada para a faixa etária.<br />

Demais órgãos e sistemas sem alterações.<br />

Em função da virilização com presença de<br />

testículos pré-púberes, a hipótese diagnóstica no<br />

ambulatório foi de puberdade precoce periférica,<br />

uma vez que a puberdade precoce de origem central,<br />

com aumento das gonadotrofinas, causaria<br />

o aumento testicular com produção de testosterona<br />

nessa localização. A localização adrenal é a<br />

mais prevalente nesses casos com produção elevada<br />

de andrógenos. 7 As hipóteses etiológicas<br />

foram tumor adrenal produtor de testosterona e,<br />

pela presença de HAS, hiperplasia adrenal congênita<br />

por deficiência de 11β-Hidroxilase.<br />

Tumor adrenal produtor de<br />

Puberdade<br />

testosterona;<br />

precoce periférica<br />

ou Independente 2. Hiperplasia adrenal congênita<br />

de gonadotrofinas}1.<br />

(deficiência de 11β- Hidroxilase<br />

pela presença de HAS).<br />

Figura 1 – Hipóteses diagnósticas<br />

Na figura 2, verificamos o aumento das<br />

gonadotrofinas produzidas na hipófise: Hormônio<br />

Luteinizante (LH) e Folículo Estimulante (FSH);<br />

aumento dos andrógenos (testosterona e 17µ hidroxiprogesterona);<br />

níveis normais de estradiol e<br />

cortisol. Estes valores serão discutidos mais adiante.<br />

Após exames iniciais, em função da hipótese<br />

de HAC por deficiência de 11β-Hidroxilase,<br />

foi realizado o teste da cortrosina (250 mcg) para<br />

definição diagnóstica com o seguinte resultado:<br />

TEMPOS<br />

Cortisol (µg/dL)<br />

17-OHP (ng/dL)<br />

1 1–Desoxicortisol (ng/<br />

mL)<br />

Referência:


FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA E DANIELLE ABREU DA COSTA<br />

Confirmado o diagnóstico de HAC por<br />

deficiência de 11β-Hidroxilase, foram tomadas as<br />

seguintes condutas: Captopril 25 mg/dia (posteriormente<br />

substituído por Espironolactona),<br />

Prednisolona (2 mg/m 2 SC/dia) e Acetato de<br />

Leuprorrelina (pela ativação precoce do eixo conforme<br />

elevação de LH e FSH).<br />

Programação: Realizar estudo genético e<br />

manter o tratamento por 1 ano observando se haverá<br />

resolução das massas adrenais, uma vez que<br />

estes tumores podem tornar-se autônomos, o que<br />

implica em retirada cirúrgica.<br />

Neste paciente, do serviço do <strong>Hospital</strong><br />

Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>), durante a<br />

consulta ambulatorial, já foi feita a hipótese de<br />

puberdade precoce periférica ou independente de<br />

gonadotrofinas pelo exame físico. A presença de<br />

HAS foi fundamental para suspeitar de HAC por<br />

deficiência de 11β-Hidroxilase. Nos exames basais<br />

iniciais ficou constatado o aumento das gonadotrofinas<br />

coriônicas humanas produzidas pela<br />

hipófise, porém essa elevação não afasta a<br />

disfunção adrenal, uma vez que valores permanentemente<br />

elevados de andrógenos podem ativar<br />

o eixo hipotálamo-hipófise-testículo, 3 e o paciente<br />

em questão havia passado anos sem acompanhamento<br />

médico mesmo com alto grau de<br />

virilização.<br />

A HAC causada pela deficiência da enzima<br />

11â-Hidroxilase é o segundo tipo mais comum,<br />

correspondendo, no máximo, a 5% de todos os<br />

casos. 1 A freqüência estimada é de 1:100.000 nascimentos,<br />

podendo ser maior em populações com<br />

alto grau de endogamia, chegando a 1:30.000 em<br />

Israel. Esta deficiência enzimática decorre de mutações<br />

no gene CYP11B1 que a codifica. Nestas<br />

populações de maior prevalência, são observadas<br />

mutações recorrentes, sendo características as<br />

mutações R448H e R448C. Uma terceira mutação,<br />

a Q356X, foi descrita em americanos de origem<br />

africana. Entre brasileiros, esta última foi relatada<br />

em cinco pacientes negros apontando para<br />

uma origem semelhante. 1,2<br />

O quadro clínico é semelhante ao da HCA<br />

por deficiência de 21-Hidroxilase (21-OH) forma<br />

não perdedora de sal. Na ausência de 11â-<br />

Hidroxilase, ocorre uma falha na última etapa da<br />

síntese de glicocorticóides, havendo então diminuição<br />

da produção de cortisol com superprodução<br />

de andrógenos e mineralocorticóides.<br />

DISCUSSÃO<br />

Figura 5 – Córtex Adrenal na deficiência de 11β-Hidroxilase. A síntese<br />

normal de cortisol está prejudicada, causando aumento do<br />

ACTH por perda do feedback negativo. O resultado é a deficiência<br />

de cortisol com excesso de mineralocorticóide e desoxicorticosterona,<br />

além da excessiva secreção adrenal de andrógenos.<br />

Fonte – KRONENBERG, Henry M. et al. Williams Textbook of<br />

Endocrinology. 10. a ed. Philadelphia: Ed. Saunders, p. 532-538,<br />

2003.<br />

Como conseqüência, ocorre virilização do<br />

feto feminino em graus variados, que vão desde<br />

clitoromegalia a uma genitália externa indistinguível<br />

de uma genitália masculina criptorquídica.<br />

Neste último caso, uma menina pode ser criada<br />

como menino até a idade adulta. Esta conduta<br />

deve ser evitada porque as estruturas genitais internas<br />

encontram-se intactas, podendo a doença<br />

ser tratada com reposição hormonal e cirurgia.<br />

Alguns poucos estudos relatam que a deficiência<br />

de 11β-Hidroxilase constitui uma<br />

infreqüente, mas não rara causa de hirsutismo<br />

e/ou oligomenorréia hiperandrogênica na mulher<br />

adulta. 4<br />

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DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />

No sexo masculino, a doença se manifesta<br />

como puberdade precoce. Outros sinais de excesso<br />

de andrógenos incluem acne, diminuição da<br />

espermatogênese, crescimento somático e<br />

maturação esquelética acelerados, causando fechamento<br />

prematuro das epífises e baixa estatura<br />

no adulto.<br />

Um sinal marcante na deficiência de 11β-<br />

Hidroxilase, e que geralmente a distingue da deficiência<br />

de 21-OH é, sem dúvida, a hipertensão<br />

arterial (30 a 60% dos casos) geralmente associada<br />

à alcalose metabólica, ambos conseqüentes ao<br />

excesso de desoxicorticosterona (<strong>DO</strong>C), um precursor<br />

da aldosterona.<br />

Tendo em vista o mecanismo fisiopatológico<br />

da doença, ficam mais claros os critérios<br />

laboratoriais para diagnóstico. Como o 11-<br />

desoxicortisol e a desoxicorticosterona não podem<br />

ser convertidos em cortisol e corticosterona na<br />

zona fasciculada, não ocorre a inibição fisiológica<br />

do ACTH que persiste estimulando a adrenal.<br />

Dessa forma, a deficiência de 11â-Hidroxilase é<br />

confirmada pela elevação sérica basal ou após<br />

estímulo com ACTH destes precursores (o 11-<br />

desoxicortisol costuma apresentar valores basais<br />

extremamente elevados, sendo imprescindível a<br />

sua dosagem). O paciente aqui relatado apresentou<br />

o nível sérico de 11-desoxicortisol basal quase<br />

40 vezes o valor normal, mantendo sempre valores<br />

alterados pós-estímulo com cortrosina.<br />

O cortisol está baixo ou no intervalo esperado.<br />

O ACTH está muito acima da normalidade<br />

e também se mostram elevados os compostos<br />

androgênicos (testosterona e sulfato de desidroepiandrosterona).<br />

Os valores de 17-hidroxiprogesterona<br />

estão aumentados, mas não o suficiente<br />

para caracterizar uma deficiência de 21-OH. 1<br />

O tratamento consiste na reposição de glicocorticóides<br />

na forma de hidrocortisona oral (10<br />

a 20 mg/m 2 /dia) em duas tomadas ou acetato de<br />

cortisona 25 mg/dia em duas tomadas. Naqueles<br />

que apresentam maturação de epífises, podem ser<br />

usados prednisona e dexametasona pela meia vida<br />

maior. Em situações de estresse ou infecção, a dose<br />

deve ser aumentada. 1 Segundo um estudo publicado<br />

em 2004, pacientes com deficiência de 21-<br />

OH, tratados por um ano com dose única matinal<br />

de prednisolona, parecem alcançar melhor controle<br />

clínico e hormonal que aqueles usando três<br />

doses diárias de hidrocortisona. 6<br />

A hipertensão pode ser tratada com<br />

espironolactona ou amiloride (ideal para HAS leve<br />

com hipocalemia em razão da ação da aldosterona).<br />

Se um outro anti-hipertensivo for necessário<br />

está indicado um bloqueador de canais de cálcio.<br />

Para correção de genitália ambígua, no<br />

caso de feto feminino, existe a reconstrução cirúrgica<br />

e psicoterapia.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. MELLO, Maricilda P. & Margaret de Castro.<br />

«Deficiência da 11β-Hidroxilase”. Arquivos Brasileiros<br />

de Endocrinologia e Metabologia, v. 48, n.º<br />

5, p. 713-723, 2004.<br />

2. MONTE, Osmar & Cristiane Kochi.<br />

Endocrinologia para o Pediatra. 3.ª ed. São Paulo:<br />

Ed. Atheneu, p. 269-276, 2006.<br />

3. KRONENBERG, Henry M. et al. Williams<br />

Textbook of Endocrinology. 10.ª ed. Philadelphia:<br />

Ed. Saunders, p. 532-538, 2003.<br />

4. E. CARMINA, G. Malizia, M. PAGANO & A.<br />

JANNI. «Prevalence of Late-onset 11β-<br />

Hydroxylase Deficiency in Hirsute Patients». J.<br />

Endocrinol Invest., september 1, 1988.<br />

5. GOLDMAN, Lee & Dennis Ausiello. Tratado<br />

de Medicina Interna. Tradução da 22.ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Elsevier, p. 1.650-1.651.<br />

6. C ALDATO, Milena C. F. & Claudio E. Kater.<br />

«One-Year Clinical Evaluation of Single Morning<br />

Dose Prednisolone Therapy for 21 – Hydrosylase<br />

Deficiency». Arquivos Brasileiros de Endocrinologia<br />

e Metabologia, v. 48, n.º 5, p. 705-712, 2004.<br />

7. GREENSPAN, Francis S. & David G. Gardner.<br />

Basic & Clinical Endocrinology. 20.ª ed. EUA:<br />

McGraw-Hill Companies, p. 362-384, 2001.<br />

8. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 3.ª ed. Rio<br />

de Janeiro: Guanabara, p. 451-457, 2006.<br />

52<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., LAURA B. C. FRAIJI, INGRID L. DE QUEIROZ LIMA, DANIELLE C. WESTPHAL<br />

PNEUMONIA NECROS<br />

OSANTE: RELATO DE CASO<br />

NECROTIZING PNEUMONIA: CASE REPORT<br />

FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS DE LIMA 1 , JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO 2 ,<br />

LAURA BIANCA CABRAL FRAIJI 3 , INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA 4 , DANIELLE CRISTINE WESTPHAL 4<br />

RESUMO: Relatar um caso de pneumonia necrotizante tratado por ressecção pulmonar da área acometida. RELA-<br />

TO DE CASO: Paciente do sexo masculino, 2 anos, com história de tosse produtiva e febre, derrame pleural e sinais<br />

de consolidações confirmado pela radiografia de tórax. Após admissão hospitalar, evolui com piora progressiva e<br />

não responsivo ao esquema de antibióticos, quando se decide então proceder-se à toracotomia.<br />

Palavras-chave: Pneumonia necrosante, toracotomia, cirurgia torácica.<br />

ABSTRACT: To report a case of necrotizing pneumonia treated by pulmonary resection of the involved area. CASE<br />

REPORT: A 2-years-old patient, male, presenting productive cough of purulent sputum and fever, with pleural<br />

effusion and signs of consolidation confirmed by radiography. After hospital admission, the patient does not show<br />

a good evolution and does not respond to antibiotics, when it is decided to proceed with thoracotomy.<br />

Key-words: Necrotizing pneumonia, thoracotomy, thoracic surgery.<br />

INTRODUÇÃO<br />

RELATO DE CASO<br />

A pneumonia necrosante (PN) é uma complicação<br />

pouco freqüente da pneumonia lobar, 1<br />

caracterizada por focos de necrose e liquefação<br />

de tecido pulmonar com formação de múltiplas<br />

cavidades não coalescentes, e que, acompanhada<br />

de complicações pleurais, exige a adoção de<br />

medidas mais agressivas para o seu tratamento. 1,2<br />

A maioria dos casos de PN é tratada clinicamente,<br />

porém em determinadas situações, apesar<br />

da otimização e maximização do tratamento<br />

clínico, o paciente persiste com sinais de septicemia<br />

associado ou não a complicações pleurais.<br />

Nestes casos a indicação cirúrgica pode ser a única<br />

terapia para a resolução do quadro.<br />

O objetivo deste trabalho é relatar um caso<br />

de PN tratado por ressecção pulmonar da área<br />

acometida.<br />

Paciente do sexo masculino, dois anos de<br />

idade, natural de Manaus-AM, com história de<br />

tosse produtiva, dispnéia e febre há aproximadamente<br />

duas semanas. À admissão hospitalar,<br />

apresentava-se taquidispnéico, febril, hipocorado<br />

+/+4 e, à ausculta pulmonar, murmúrio vesicular<br />

diminuído em base esquerda e estertores<br />

crepitantes bilateralmente. A radiografia de tórax<br />

à admissão revelou imagem sugestiva de consolidação<br />

em lobo inferior esquerdo e velamento<br />

do seio costofrênico ipsilateral (Figura 1). O<br />

hemograma mostrou o hematócrito de 34,4%,<br />

leucócitos/µL de 1.140 e 140.000 plaquetas. A<br />

amostra do líquido pleural coletada para a análise<br />

laboratorial demonstrou os seguintes resultados:<br />

glicose-50 mg/dl, pH-8, desidrogenase<br />

láctica-2161U/L. A cultura do líquido pleural e a<br />

1<br />

<strong>Hospital</strong> Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />

2<br />

<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />

3<br />

Médico Residente do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>)<br />

4<br />

Acadêmico da Universidade Federal do Amazonas<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO<br />

bacterioscopia foram negativas. Confirmado o<br />

diagnóstico de derrame pleural complicado, procedeu-se<br />

à drenagem do hemitórax esquerdo com<br />

dreno tubular, e à antibioticoterapia com<br />

oxacilina, ceftriaxona e claritromicina.<br />

O paciente foi admitido em Unidade de<br />

Terapia Intensiva (UTI) no 1.º dia de internação,<br />

apresentando-se com toxemia, hipocorado +2/+4<br />

e taquidispnéico. No 2.º dia de internação em UTI,<br />

paciente apresentava-se séptico, sendo iniciadas<br />

dopamina e dobutamina. No 7.º dia de internação<br />

em UTI o dreno torácico estava sem débito e o<br />

quadro clínico manteve-se inalterado a despeito<br />

da antibiocoterapia. Diante da persistência do<br />

quadro, foi solicitada Tomografia Computadorizada<br />

(Figura 2).<br />

No 9.º dia de internação hospitalar, visto<br />

a piora do quadro clínico do paciente, com picos<br />

febris freqüentes e leucocitose (16.600), optou-se<br />

por suspender o esquema anterior e iniciar<br />

teicoplanina e cefepime. O dreno torácico foi retirado<br />

no 11.º dia de internação por ele estar sem<br />

débito.<br />

No 15.º dia de internação hospitalar, sem<br />

melhora importante do quadro clínico, paciente<br />

foi submetido à toracotomia lateral esquerda, sob<br />

anestesia geral e entubação seletiva, colocandose<br />

o paciente em decúbito lateral direito. Durante<br />

a abertura da cavidade pleural e descolamento<br />

do parênquima pulmonar, observou-se sangramento<br />

difuso e abundante. Decorridos quarenta<br />

minutos de cirurgia, o paciente apresentou parada<br />

cardiorrespiratória, que foi revertida após<br />

manobras de ressuscitação. Procedeu-se ao<br />

desbridamento, lobectomia inferior esquerda e<br />

drenagem do espaço pleural com dreno tubular<br />

em selo d’água.<br />

Houve melhora progressiva do estado geral,<br />

com normalização da temperatura e<br />

leucocitose. A retirada do dreno torácico foi feita<br />

no 10.º dia pós-operatório, quando não havia<br />

drenagem de secreção ou escape de ar por ele.<br />

Paciente recebeu alta da UTI no 14.º pós-operatório.<br />

Figura 1 – Radiografia de Tórax mostrando sinais de cavitação em<br />

uma área pulmonar com condensação à esquerda e velamento do<br />

seio costofrênico ipsilateral, sugestivo de derrame pleural.<br />

Figura 2 – Tomografia Computadorizada de Tórax<br />

DISCUSSÃO<br />

Pneumonia Necrosante (PN) e gangrena<br />

pulmonar são freqüentemente usados como sinônimos<br />

e normalmente são associados à desvitalização<br />

do tecido pulmonar em função da infecção.<br />

3 Há poucos estudos na literatura sobre as<br />

características clínicas de PN em crianças.<br />

Vários agentes etiológicos e mecanismos<br />

patogênicos têm sido implicados na gênese da PN,<br />

sendo conseqüência de uma combinação de fatores<br />

do hospedeiro e virulência do microrganismo.<br />

Está associada mais comumente com infecções<br />

pulmonares por Streptococus pneumoniae, mas<br />

outros agentes etiológicos estão implicados, tais<br />

como Streptococus viridans, Staphylococus aureus e<br />

Haemophilus influenzae, entre outros. 4 Em alguns<br />

casos, entretanto, não se consegue definir o agente<br />

etiológico tal como observado neste relato, no qual<br />

não houve crescimento na cultura.<br />

54<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., LAURA B. C. FRAIJI, INGRID L. DE QUEIROZ LIMA, DANIELLE C. WESTPHAL<br />

O diagnóstico inicial de pneumonia<br />

bacteriana do paciente relatado baseou-se no exame<br />

físico e radiológico. O quadro inicial de pneumonia<br />

necrosante não difere de outras pneumonias,<br />

porém normalmente as complicações são<br />

mais freqüentes e relacionadas com necrose do<br />

tecido pulmonar. 2,5<br />

Mais comumente a suspeita de pneumonia<br />

necrosante começa por achados radiológicos,<br />

nos quais se evidenciam sinais de cavitações em<br />

uma área pulmonar com condensação, assim<br />

como no caso relatado. Para o melhor diagnóstico<br />

radiológico, porém, há necessidade da<br />

Tomografia Computadorizada (TC) que é considerada<br />

o padrão-ouro para o diagnóstico de<br />

pneumonia necrosante, além de propiciar um diagnóstico<br />

mais precoce e determinar a possibilidade<br />

e extensão da cirurgia. 1 Para o nosso paciente,<br />

a TC foi solicitada porque não houve melhora<br />

clínica, mesmo na vigência de antibioticoterapia<br />

e drenagem torácica adequada. Os achados<br />

tomográficos para o diagnóstico são perda<br />

da arquitetura normal do parênquima pulmonar,<br />

o que não ocorre com os abscessos, diminuição<br />

do realce parenquimatoso e desenvolvimento de<br />

múltiplas cavidades (< 2 mm) contendo ar ou líquido.<br />

De acordo com a fase do derrame<br />

parapneumônico, foram postulados diferentes tipos<br />

de tratamento: para a fase exudativa opta-se<br />

pela antibioticoterapia (ATB) e drenagem torácica<br />

fechada (DTF); na fase fibrinopurulenta, outros<br />

métodos devem ser aplicados, como ATB + DTF<br />

+/- fibrinolíticos ou ATB + Cirurgia Torácica<br />

Vídeo-Assistida (VAST) ou ATB + decorticação<br />

por toracotomia; e, por último, para a fase<br />

organizacional, ATB e desbridamento cirúrgico. 6<br />

O tratamento da pneumonia bacteriana,<br />

que evolui para necrosante, é um tema controverso<br />

na literatura, enquanto alguns autores situam<br />

a cirurgia como segunda opção ao tratamento<br />

clínico, outros sugerem a ressecção cirúrgica<br />

do tecido necrótico como mandatória para<br />

evitar disfunção orgânica múltipla, sepse e morte.<br />

1,2<br />

Ressecção pulmonar raramente é indicada<br />

na população pediátrica, porém a abordagem<br />

conservadora pode falhar, situação em que outros<br />

recursos terapêuticos podem ser utilizados. 1<br />

O paciente do caso em foco apresentou infecção<br />

refratária ao tratamento conservador, por isso<br />

optou-se pela intervenção cirúrgica.<br />

Sinzobahamvya (1981) observou que a<br />

ressecção pulmonar, na vigência de empiema, aumenta<br />

a incidência de complicações no pós-operatório,<br />

sendo a fístula broncopleural a mais freqüente,<br />

fato não observado em nosso paciente. No<br />

entanto, não contra-indica o procedimento em<br />

casos de emergência. 7<br />

De acordo com Rafaely e Weissberg (1997),<br />

a ressecção pulmonar de emergência é indicada<br />

quando a necrose pulmonar é diagnosticada em<br />

pacientes septicêmicos ou com fístula broncopleural<br />

de alto débito, visando à melhora do prognóstico<br />

dessas crianças, mesmo cientes de que o índice<br />

de morbimortalidade nesses casos é alto. 5<br />

Conclui-se que a pneumonia necrosante é<br />

uma complicação rara, porém grave, da pneumonia<br />

bacteriana, na qual há trombose de vasos pulmonares,<br />

gerando desvitalização e necrose do<br />

parênquima pulmonar. O quadro clínico inicial<br />

não difere de outras pneumonias, porém as complicações<br />

são mais freqüentes. Nos achados radiológicos<br />

são evidenciados sinais de condensação<br />

e cavitação, porém, para um melhor diagnóstico,<br />

a Tomografia Computadorizada é o método de<br />

escolha. A abordagem conservadora pode falhar,<br />

situação em que outros recursos terapêuticos,<br />

como a ressecção pulmonar, podem ser utilizados.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. AYED, A. K., ROWAYEH, A. «Lung resection<br />

in children for infectious pulmonary diseases».<br />

Pedatr. Surg. Int., n.º 21, p. 604-608, 2005.<br />

2. <strong>DO</strong>NNELLY L. F., KLOSTERMAN L. A. «The<br />

yield of CT of children who have complicated<br />

pneumonia and noncontributory chest<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO<br />

radiography». ARJ Am J. Roentgenol, vol. 170, p.<br />

1.627-1.631, 1998.<br />

3. VELHOTE, C. E. P., VELHOTE, M. C. P. «O<br />

papel da cirurgia torácica vídeo-assistida – CTVA<br />

– no tratamento da pneumonia necrosante na<br />

criança». Rev. Col. Bras. Cir., n.º 33, p. 11-14, 2006.<br />

4. HACIMUSTAFAOGLU, M., CELEBI, S.,<br />

SARIMEHMET, H., GURPINAR, A., ERCAN, I.<br />

«Necrotising pneumonia in children». Acta<br />

Paediatr., vol. 93, p. 1.172-1.177, 2004.<br />

5. RAFAELY, Y., WEISSBERG, T. «Gangrene of<br />

the lung: treatment in two stages». Ann Thorac.<br />

Surg., n.º 64, p. 970-974, 1997.<br />

6. DÍAZ, M. L., SÁNCHEZ, J. L. A. P.,<br />

VÁZQUEZ, A. G., NOVILLO, I. C.,<br />

BARBANCHO, D. C., GOR<strong>DO</strong>, M. I. B.<br />

«Empiema pleural. Tratamiento toracoscópico».<br />

Cir. Pediatr., n.º 19, p. 160-162, 2006.<br />

7. SINZOBAHAMVYA, N. «Emergency<br />

pulmonary resection for pneumonia». Scand J.<br />

Thorac. Cardiovasc. Surg., n.º 25, p. 69-71, 1991.<br />

56<br />

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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />

TRATAMENT<br />

AMENTO DA DISCROMIA GENGIV<br />

GIVAL:<br />

COMP<br />

OMPARA<br />

ARAÇÃ<br />

ÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />

TREATMENT OF GINGIVAL DYSCHROMIA: COMPARISON OF TWO TECHNIQUES<br />

REYCE S. KOGA1, RODRIGO M. C. HIRAISHI 1 , MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL 2 ,<br />

SAMUEL LUNGAREZE 3 , FIKRIYE V. YURTSEVER 4<br />

RESUMO: Tem sido constante a busca por melhorias na estética do sorriso, a pigmentação melânica pode<br />

comprometê-lo, causando assim incômodo ao paciente. A técnica cirúrgica periodontal de despigmentação visa à<br />

redução ou eliminação desta alteração, por meio do uso de brocas diamantadas e/ou lâmina de bisturi. Ao realizar<br />

qualquer tipo de cirurgia periodontal, deve-se dar muita atenção ao diagnóstico, aos passos envolvidos nos procedimentos<br />

cirúrgicos para, assim, maximizar a previsibilidade do tratamento.<br />

Palavras-chave: pigmentação melânica, cirurgia periodontal, dermo-abrasão.<br />

ABSTRACT: The search for improvements in the aesthetic of the smile has been constant; the gingival pigmentation<br />

can influence it, and cause bothering on the patient. The periodontal surgical technique of depigmentation aims the<br />

reduction or the elimination of this modification, with the use of diamond burs and/or blade of bistouries. When<br />

carrying through any type of periodontal surgery, it must be given much attention to the diagnosis, to the steps<br />

involved in the surgical procedures, thus to maximize the previsibility of the treatment.<br />

Key-words: Gingival pigmentation, periodontal surgery, dermo-abrasion.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A estética do sorriso constitui um componente<br />

essencial para a harmonia facial.<br />

Pigmentações marrons ou negras e a descoloração<br />

do tecido gengival, sejam fisiológicas ou<br />

patológicas, podem causar problemas estéticos,<br />

especialmente em indivíduos que apresentam<br />

sorriso gengival (ATSAWASUWAN, 2000).<br />

A cor da gengiva é determinada por<br />

diversos fatores, incluindo número e tamanho dos<br />

vasos sangüíneos, espessura do epitélio,<br />

quantidade de queratinização e pigmentos do<br />

epitélio. Melanina, caroteno e hemoglobina são<br />

os pigmentos naturais mais comuns que<br />

contribuem para coloração normal da mucosa<br />

oral (GOLDZIEHER, 1951; DUMMET, 1960;<br />

TAL, 2003).<br />

O excesso de deposição de melanina nas<br />

camadas basal e suprabasal do epitélio podem<br />

freqüentemente ser a causa da hiperpigmentação<br />

do epitélio (MARTINI, 1995),<br />

A melanina é elaborada por células<br />

específicas, os melanócitos. Os grânulos de<br />

melanina, presentes nos melanossomos, são<br />

produzidos por melanócitos presentes entre<br />

células epiteliais na camada basal do epitélio oral<br />

e epiderme (HAERTEL, 2006).<br />

A gengiva é o tecido intra-oral mais<br />

freqüentemente pigmentado e, diferente da<br />

opinião geral das pessoas, a pigmentação gengival<br />

não é confinada somente à população negra.<br />

1<br />

Alunos do 6.º período da Faculdade de Odontologia da Ufam;<br />

2<br />

Professora titular da Disciplina de Periodontia da Ufam, mestranda em Periodontia, especialista em Periodontia e Endodontia;<br />

3<br />

Professor substituto da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia e mestrando em Patologia Tropical;<br />

4<br />

Professora substituta da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia.<br />

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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />

Pessoas de outras nacionalidades também<br />

apresentam a pigmentação melânica gengival<br />

como os franceses, filipinos, árabes, chineses,<br />

indianos, alemães, italianos e gregos (GOLDZIE-<br />

HER, 1951).<br />

Diversas técnicas foram apresentas para a<br />

resolução deste problema, dentre estas estão a<br />

cirurgia utilizando dermo-abrasão com brocas<br />

diamantadas ou lâminas de bisturi (HAERTEL,<br />

2006), uso de agentes químicos (DUMMET, 1960;<br />

GLICKMAM, 1974), criocirurgia e eletrocirurgia<br />

(PERLMUTTER, 1986), com diferentes graus de<br />

sucesso. Recentemente lasers também estão sendo<br />

usados (TAL, 2003).<br />

A técnica abrasiva utilizando-se brocas<br />

esféricas diamantadas com copiosa irrigação é<br />

utilizada em grande escala em função da sua<br />

facilidade e baixo custo. Deve manter-se, porém,<br />

um cuidado no controle da profundidade para<br />

remoção do epitélio (BISHOP, 1994; HAERTEL,<br />

2006).<br />

Na dermo-abrasão com bisturi a frio podem<br />

ser utilizados cabos de bisturi acoplados a lâminas<br />

15 ou 15c, ou gengivótomo de Kirkland<br />

posicionado em 45 graus em relação ao tecido<br />

gengival. Com movimentos suaves atrita-se o<br />

epitélio e tecido conjuntivo até a completa remoção<br />

da pigmentação presente (HAERTEL, 2006).<br />

O objetivo do trabalho é o relato de caso<br />

onde foram comparados os resultados de duas<br />

técnicas: dermo-abrasão com broca diamantada<br />

e lâmina de bisturi, para o tratamento da discromia<br />

gengival. Foram enfocados os aspectos de<br />

conforto, intensidade da dor e cicatrização relatados<br />

pelo paciente.<br />

RELATO DE CASO<br />

Paciente E .G .D., 13 anos, compareceu à<br />

clínica de periodontia II da Ufam com queixa<br />

principal de mancha escura na gengiva.<br />

No exame gengival intra-oral foi detectada<br />

a presença de pigmentação melânica na gengiva<br />

inserida no seguimento anterior superior e inferior<br />

(Figura 1). A gengiva apresentava-se edemaciada<br />

em algumas regiões. Foram examinadas todas as<br />

fases de todos os dentes com sonda tipo Williams<br />

da marca Trinity. O exame periodontal consistiu<br />

de índice de placa O’Leary, índice de<br />

sangramento Aimano e Bay, profundidade de<br />

bolsa, recessão e hiperplasia, nível de inserção<br />

clínica (NIC), lesão de furca e mobilidade<br />

dentária, além de exame radiográfico.<br />

Figura 1 – Aspecto do vestíbulo do paciente.<br />

O índice de placa e índice de sangramento<br />

corresponderam respectivamente a 86,6% e 30,3%<br />

ao exame inicial, com nível de inserção clínica em<br />

média de 1 – 3mm, a gengiva apresentava-se com<br />

sinais de inflamação. Após análise dos achados<br />

clínicos, radiográficos e embasado na literatura,<br />

o diagnóstico foi de gengivite induzida por<br />

biofilme dental e discromia gengival.<br />

O tratamento inicial consistiu na terapia<br />

básica periodontal (fase I) e cirúrgica (fase II). Na<br />

fase I, foram passadas instruções sobre técnica de<br />

escovação, profilaxia com escova de Robson, taça<br />

de borracha e pasta abrasiva.<br />

Em função da deficiência na remoção<br />

mecânica do biofilme, foi orientado ao paciente a<br />

mastigação, durante 8 dias, de uma pastilha<br />

evidenciadora de placa e em seguida remoção das<br />

áreas coradas com o auxílio de escovação,<br />

mostrando ao paciente as regiões onde havia<br />

dificuldade de higienização. Na reavaliação o IP<br />

e o IG estavam menores que 20%, portanto dentro<br />

dos limites aceitáveis para que pudéssemos<br />

prosseguir para a segunda etapa do tratamento.<br />

MATERIAIS E MÉTO<strong>DO</strong>S<br />

Para a realização deste relato optamos por<br />

fazer a comparação das técnicas de dermo-<br />

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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />

abrasão com bisturi e broca esférica diamantada<br />

no arco superior.<br />

O paciente era menor de idade, então a<br />

responsável autorizou a realização do tratamento<br />

e publicação do relato de caso por meio de um<br />

termo de consentimento livre e esclarecido.<br />

Os parâmetros a serem avaliados foram: o<br />

tempo cirúrgico, conforto do paciente, intensidade<br />

da dor pós-operatória e cicatrização,<br />

Os seguimentos foram escolhidos aleatoriamente<br />

mediante sorteio prévio. A técnica de<br />

dermo-abrasão com broca foi realizada no hemiarco<br />

direito, ficando o hemi-arco esquerdo com a<br />

técnica por lâmina de bisturi.<br />

Para avaliação do tempo cirúrgico, ambas<br />

as técnicas foram cronometradas.<br />

Na avaliação da intensidade da dor, ela<br />

foi estratificada, onde o grau 0 equivale à ausência<br />

de dor até 10 correspondente à dor intensa (ES-<br />

TRELA, 1999).<br />

Ao final do procedimento, foi entregue ao<br />

paciente uma escala de dor para avaliação da<br />

intensidade dela e um questionário para anotação<br />

de qualquer observação pós-operatória. Foi<br />

orientado ao paciente que ele avaliasse individualmente<br />

cada hemi-arco.<br />

gengival marginal, até as áreas ficarem isquêmicas.<br />

Foi removido o epitélio com o auxílio de broca<br />

esférica diamantada 1016HL e instrumento de alta<br />

rotação com copiosa irrigação (Figuras 3 e 4). Em<br />

seguida foi realizada a regularização da gengiva<br />

com a mesma broca. O tempo cirúrgico aproximado<br />

de 4 minutos<br />

Figura 2 – Identificação do vestíbulo.<br />

Figura 3 – Broca 1016HL em posição.<br />

DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA<br />

A medicação usada na pré e pós-cirúrgica<br />

foi Dexametazona 4mg, 1 comprimido 1 hora<br />

antes da cirurgia. Analgésico (Paracetamol<br />

750mg), 1 comprimido de 6 em 6 horas durante 1<br />

dia. Enxágüe bucal com clorexidina 0,12% duas<br />

vezes ao dia durante 10 dias. A anti-sepsia intra<br />

e extra-oral foram realizadas clorexidina 0,12% e<br />

2%, respectivamente.<br />

1.º Procedimento cirúrgico – Técnica de<br />

dermo-abrasão com broca esférica diamantada<br />

(hemi-arco direito).<br />

Primeiramente foi feita a identificação do<br />

vestíbulo (Figura 2). No lado direito fez-se<br />

bloqueio do nervo infra-orbitário e houve complementação<br />

com anestesias infiltrativas na<br />

Figura 4 – Remoção do epitélio com broca esférica diamantada<br />

2.º Procedimento cirúrgico – técnicas de<br />

dermo-abrasão com bisturi lâmina 15c (hemi-arco<br />

esquerdo).<br />

No lado esquerdo também fez-se bloqueio<br />

do nervo infra-orbitário e complementação com<br />

anestesias infiltrativas. O epitélio foi removido<br />

com lâmina de bisturi 15c, com movimentos suaves<br />

de raspagem (Figuras 5 e 6). A área foi constantemente<br />

irrigada com solução fisiológica 0,9%.<br />

A regularização da gengival também foi efetuada.<br />

O tempo cirúrgico de aproximadamente 13<br />

minutos.<br />

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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />

Ao final dos procedimentos foi realizada<br />

hemostasia da região com gaze embebida em<br />

solução fisiológica gelada para a vasoconstrição<br />

(Figura 7).<br />

Figura 5 – Lâmina de bisturi 15c em posição.<br />

Não houve diferença estatística no que<br />

diz respeito à intensidade da dor entre um lado<br />

e outro, pois ele relatou não ter apresentado<br />

sintomatologia no pós- operatório. O paciente<br />

sentiu maior conforto no lado em que foi utilizada<br />

a técnica com broca, relatando uma<br />

textura lisa, enquanto o outro lado apresentava<br />

uma textura áspera. Quanto à cicatrização, o<br />

lado executado pela lâmina de bisturi ainda não<br />

tinha completado a epitelização (Figuras 8, 9 e<br />

Figura 6 – Remoção do epitélio com lâmina 15c.<br />

Figura 8 – Cicatrização do lado direito.<br />

Figura 7 – Aspecto final do procedimento.<br />

RESULTA<strong>DO</strong>S<br />

Após uma semana, o paciente retornou para<br />

a avaliação do procedimento, tendo preenchido a<br />

escala de dor e o questionário de observações.<br />

O Gráfico 1 representa a diferença do<br />

tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas. O<br />

tempo utilizado pela técnica utilizando broca e<br />

lâmina de bisturi foi respectivamente: 4 e 13<br />

minutos. O percentual diferencial entre as duas<br />

técnicas foi de 69,23%.<br />

Figura 9 – Cicatrização do lado esquerdo.<br />

Figura 10 – Aspecto após 7 dias.<br />

DISCUSSÃO<br />

Gráfico 1 – Tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas.<br />

O sucesso para remoção da discromia<br />

gengival tem sido amplamente relatado. Embora<br />

a pigmentação melânica étnica e fisiológica seja<br />

comum, ela não é um problema médico. Alguns<br />

indivíduos podem se tornar conscientes desta<br />

alteração durante o sorriso ou gargalhada e<br />

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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />

requerer a sua remoção (FARNOOSH, 1990;<br />

MARTINI, 1995; TAL, 2003).<br />

A escolha da técnica de dermo-abrasão<br />

com broca diamantada tem sido largamente utilizada<br />

para o tratamento de discromias gengivais,<br />

tendo sido introduzida por Fox em 1955. Segundo<br />

Haertel (2006), as vantagens desta técnica incluem<br />

a fácil realização e o baixo custo, sendo realizada<br />

sob efeito de anestesia infiltrativa local. Como<br />

pontos contrários discutem-se a dificuldade em<br />

se controlar a profundidade da dermo-abrasão,<br />

o sangramento como dificultador para completa<br />

remoção dos pigmentos, bem como dificuldade<br />

em se obter adequado acesso (ATSAWASUWAN<br />

et al, 2000). No caso relatado observou-se que a<br />

técnica utilizando broca diamantada foi mais<br />

vantajosa em relação ao tempo, já que nesta<br />

técnica foram gastos 4 minutos, a facilidade no<br />

manuseio do instrumental e no controle da<br />

hemostasia.<br />

Na dermo-abrasão com lâmina de bisturi<br />

a frio realizam-se movimentos suaves e atritamse<br />

o epitélio e tecido conjuntivo até a completa<br />

remoção da pigmentação presente. Esta técnica<br />

requer anestesia infiltrativa local previamente à<br />

sua realização. O sangramento presente pode<br />

dificultar a completa remoção dos pigmentos<br />

(HAERTEL, 2006). Em concordância com o autor,<br />

a técnica utilizando lâmina de bisturi apresentar<br />

facilidade de realização e baixo custo, porém o<br />

tempo cirúrgico é maior, aproximadamente 13<br />

minutos, requer uma maior destreza manual do<br />

cirurgião no ato e apresenta maior dificuldade no<br />

controle da hemostasia.<br />

A intensidade da dor é descrita com muita<br />

subjetividade e relacionada não apenas com o envolvimento<br />

patológico e limiar de dor do paciente,<br />

como também a emotividade e aspecto<br />

psicológico. A tentativa de quantificação da dor,<br />

determinando o grau 0 (zero – ausência de dor) a<br />

10 (dez – dor intensa), auxilia na avaliação da<br />

dor (ESTRELA, 1999). De acordo com a avaliação<br />

individual do paciente para cada hemi-arco, não<br />

houve incômodo relacionado à dor, porém no lado<br />

em que foi executada a técnica de dermo-abrasão<br />

com broca houve maior conforto, apresentado<br />

uma textura lisa e uniforme, enquanto o lado<br />

executado com lâmina de bisturi apresentou-se<br />

uma superfície áspera.<br />

A cicatrização por segunda intenção da<br />

área tratada ocorre pelo processo de reepitelização<br />

(epitelização secundária), pois a área da gengiva<br />

marginal foi despida de epitélio e a epitelização é<br />

dada pelo epitélio adjacente que se lastra pelo leito<br />

da ferida (PETTERSON, 2005). Podemos perceber,<br />

clinicamente, que após uma semana o lado direito<br />

estava praticamente epitelizado, enquanto o lado<br />

esquerdo apresentava-se edemaciado e com<br />

alguns pontos sangrantes.<br />

A repigmentação melânica refere-se ao<br />

reaparecimento clínico da pigmentação depois<br />

de um determinado período, e tem sido descrita<br />

em estudos com animais e humanos<br />

(HIRSCHFELD et al, 1951; DUMMETT, 1960;<br />

PERLMUTTER et al, 1986). Esta ocorrência é<br />

descrita como espontânea e tem sido associada<br />

com a migração de células produtoras de<br />

melanina das áreas próximas ao sítio tratado. Em<br />

nosso estudo não foi avaliado recidiva em razão<br />

do tempo de cicatrização ser ainda muito<br />

prematuro.<br />

CONCLUSÃO<br />

A ocorrência da pigmentação melânica é<br />

vasta, podendo acarretar problemas estéticos ao<br />

paciente. Há várias técnicas cirúrgicas para<br />

correção, dentre elas podemos destacar o uso de<br />

dermo-abrasão com brocas diamantadas ou<br />

lâminas de bisturi. Estas técnicas, além de<br />

apresentarem baixo custo, serem relativamente<br />

simples e de curta duração, trazem resultados<br />

favoráveis, devolvendo a harmonia do sorriso ao<br />

paciente. Diante do momento cirúrgico e dos<br />

resultados avaliados pós-operatórios, concluímos<br />

que a técnica de dermo-abrasão com broca<br />

diamantada mostra-se mais vantajosa em relação<br />

à técnica com lâmina de bisturi.<br />

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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />

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Gingival Hyperpigmetation for esthetic Purposes<br />

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2. BISHOP, K. Treatment of insightly oral pigmentation:<br />

A case report. Dent Update, 1994, 21, p.<br />

236-237.<br />

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on oral pigmentation». J Periodontol, 1960,<br />

p. 356-360.<br />

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Biológicos e Mecânicas. 1.ª ed. São Paulo: Artes<br />

Médicas, 1999.<br />

5. FARNOOSH, A. A. «Treatment of gingival pigmentation<br />

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purposes». Int. J. Periodontics Restorative Dent,<br />

1990, 10, p. 313-319.<br />

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pigmentation». In: Periodontal Disease<br />

Philadelphia. Philadelphia: W. B. Saunders CO,<br />

1974, p. 3-5.<br />

7. GOLDZIEHER, J. A, ROBERTS, J. S, RAWLS,<br />

W. B, et. al. «Chemical analysis of the intact skin<br />

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9. HIRSCHFELD, I. HIRSCHFELD, L. «Oral pigmentation<br />

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Oral Med. Oral Pathol., 1951, 4, p. 1.012-1.016.<br />

10. MARTINI, F. H. TIMMONS, M. J. Human<br />

Anatomy. New Jersey: Prentice Hall Publishers<br />

Company, 1995, p. 88-93.<br />

11. PERLMUTTER, S. TAL, H. «Repigmentation<br />

of the gingival following surgical injury». J.<br />

Periodontal, 1986, 57, p. 48-50.<br />

12. PETTERSON, L, ELLIS, E III, HUPP, J,<br />

TRUCKER, M. Cirurgia oral e maxilofacial al<br />

contemporânea. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara<br />

Koogan, 2005.<br />

13. TAL, Haim et. al. «Gingival Depigmentation<br />

by Erbium: YAG Laser: Clinical Observations and<br />

Patient Responses». J. Periodontology, 2003, 74, p.<br />

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REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA<br />

HAMARTOMA HIPOTALÂMIC<br />

ALÂMICO CAUS<br />

USAN<strong>DO</strong><br />

PURBEDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />

HAMARTOMA HYPOTHALAMIC CAUSE CENTRAL PRECOCIOUS PUBERTY: CASE REPORT<br />

REJANE NINA MARTINS NEVES 1 , FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA 2<br />

RESUMO: A puberdade precoce central (PPC) ou verdadeira, também chamada de dependente de gonadotrofinas,<br />

é causada por ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Trata-se de uma desordem rara, com<br />

incidência de 1:5.000 a 1:10.000 crianças/ano. É mais comum em meninas do que em meninos, em uma proporção<br />

de 5-10:1. Apresenta-se com um quadro clínico-laboratorial idêntico ao da puberdade normal, e muitos desses<br />

pacientes tornam-se potencialmente férteis. O prejuízo mais significativo da PPC, a longo prazo, é a redução da<br />

estatura do adulto. Distúrbio do sistema nervoso central (SNC) é uma das principais causas de PPC, entre eles o<br />

hamartoma do túber cinério tema deste relato de caso.<br />

Palavras-chave: Puberdade precoce central, eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, hamartoma do túber cinério.<br />

ABSTRACT: Central precocious puberty (CPP) or complete, it is also called dependent of gonadotrofine; it is caused<br />

by premature activation of the hypothalamic-pituitary-gonadal axis. It is a rare disorder, with incidence from<br />

1:5.000 to 1:10.000 children/year. It is more common in girls than in boys, (5-10:1). The clinical and laboratorial<br />

picture are identical to the one of normal puberty, and many of these patients become potentially fertile. The most<br />

significant damage of CPP is the decreasing of the final height. Central nervous system (CNS) disorder is one of the<br />

major causes of CPP, including the tuber cinereum hamartoma which is the theme of this paper.<br />

Key-words: Central Precocious Puberty, hypothalamic-pituitary-gonadal axis, tuber cinereum hamartoma.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Hamartomas hipotalâmicos (HHs) ou do<br />

túber cinério não são verdadeiros tumores. Tratase<br />

de malformações congênitas compostas de uma<br />

massa heterotrópica de neurônios neurossecretores,<br />

feixes de fibras e células gliais. Os HHs causam<br />

PPC geralmente antes dos três anos de idade<br />

por secretarem o hormônio GnRH (Hormônio<br />

Liberador de Gonadotrofinas), que estimula a<br />

hipófise a produzir LH (Hormônio Luteinizante) e<br />

FSH (Hormônio Folículo Estimulante), os quais, por<br />

sua vez, estimulam as gônadas a produzir os<br />

esteróides sexuais. Em alguns casos, contudo, o HH<br />

secreta o fator de crescimento transformante-á<br />

(TGF-á) que, por sua vez, estimula a secreção de<br />

GnRH. Outras possíveis manifestações incluem<br />

convulsões, sendo as mais características as crises<br />

convulsivas gelásticas (o paciente parece estar sorrindo<br />

permanentemente), cefaléia, sintomas visuais,<br />

retardo mental, distúrbios do comportamento<br />

e síndromes dismórficas.<br />

RELATO <strong>DO</strong> CASO<br />

Paciente do sexo masculino, 3 anos, natural<br />

e procedente de Manaus/AM, apresentou aos<br />

1 ano e 5 meses de idade aumento do pênis, dos<br />

testículos e surgimento de pêlos pubianos. Mãe<br />

afirmava que pronunciava poucas palavras, negou<br />

déficit auditivo e não relatou crises convulsivas.<br />

1<br />

Médica residente de Clínica Médica do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).<br />

2<br />

Médica especialista em endocrinologia e endocrinologia pediátrica assistente do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).<br />

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HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSAN<strong>DO</strong> PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />

Ao exame físico inicial com idade cronológica<br />

de três anos apresentava acne na face, altura<br />

de 106 cm (acima do percentil 95) e com desvio<br />

padrão de altura de + 3,0 (Figura 1). O peso<br />

na época era de 20,4 kg com índice de massa<br />

corpórea de 18 (no percentil 90). A idade óssea<br />

aos 3 anos era de 7 anos (Figura 2). A altura-alvo<br />

do paciente (altura da mãe + altura do pai + 13 /<br />

2) era de 160,6 cm. O exame dos caracteres sexuais<br />

secundários e das gônadas revelou: pênis de 7<br />

cm de comprimento (desvio padrão para a idade<br />

de + 2,0); testículos de 3 cm no maior diâmetro,<br />

normal para a idade de 12 anos, G2/G3 no critério<br />

de Tanner e pêlos pubianos pigmentados e<br />

grossos no monte pubiano, P3 no critério de<br />

Tanner (Figura 3).<br />

Os exames laboratoriais mostraram LH: 2,3<br />

UI/L (> 0,6); FSH: 2,6 mUI/L (1,5-12,4); Testosterona<br />

total: 1,7 ng/ml (1 a 6 anos 0,03-0,32); TSH<br />

(Hormônio Tireostimulante): 7,2 fUI/mL (0,27-<br />

4,2); T 4<br />

livre (Tiroxina): 12 pmol/l (12-22); DHEA-<br />

S (Sulfato de De-hidropiandrosterona): 13 (1 a 4<br />

anos 0,47-19,4); 17-OHP (17- Hidroxiprogesterona):<br />

0,59 mg/24h (3-9), confirmando puberdade<br />

precoce central.<br />

Nos exames de imagem, a ultra-sonografia<br />

(US) de testículos revelou TD: 3,44 cm 3 , TE: 3,35<br />

cm 3 , o valor normal para idade é de 0,8 cm 3 . A<br />

Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de<br />

hipófise revelou uma formação expansiva,<br />

pedunculada, medindo perto de 1,9 x 1,6 cm,<br />

isointensa em relação à substância cinzenta em<br />

T1 e T2, sem impregnação pós-contraste, sugerindo<br />

hamartoma do túber cinério (Figura 4). Foi<br />

então iniciado tratamento preconizado com o<br />

acetato de leuprorrelida 3,75 mg intramuscular a<br />

cada 28 dias.<br />

DISCUSSÃO<br />

Diante da suspeita de um caso de puberdade<br />

precoce (PP), devemos lembrar as variantes<br />

normais de desenvolvimento pubertário como a<br />

telarca precoce, a telarca exagerada, a adrenarca<br />

precoce e a menarca precoce. Nestes casos, em<br />

geral, há uma progressão lenta e não compromete<br />

a altura final das crianças, raramente necessita<br />

de intervenção terapêutica. O primeiro passo<br />

para o diagnóstico é colher uma história clínica<br />

determinando a idade do início das manifestações.<br />

É considerada PP em meninas o surgimento<br />

de caracteres sexuais secundários antes dos oito<br />

anos de idade, e em meninos antes dos nove anos.<br />

Ainda na história clínica, devemos determinar a<br />

velocidade de progressão, pesquisar antecedentes<br />

mórbidos (infecções do SNC, traumatismo<br />

craniano, exposição a esteróides sexuais) e questionar<br />

sobre sintomas neurológicos ou sugestivos<br />

de hipotiroidismo. 1<br />

No exame físico inicial são dados importantes:<br />

altura, peso e altura-alvo da criança. Em<br />

seguida, verificar no gráfico de altura e peso se a<br />

criança encontra-se muito acima do esperado<br />

para a família, fato comum na PP; o exame das<br />

mamas e dos pêlos pubianos nas meninas e o exame<br />

dos testículos – maior diâmetro em centímetros<br />

– pênis e pêlos pubianos em meninos. Os<br />

caracteres sexuais devem então ser classificados<br />

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REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA<br />

de acordo os critérios de Tanner. É importante<br />

também buscar manifestações de excesso de<br />

androgênios em ambos os sexos (acne, hirsutismo<br />

e cliteromegalia), bócio e alterações cutâneas. O<br />

exame neurológico deve ser feito incluindo a<br />

fundoscopia.<br />

Com a história clínica compatível e o exame<br />

físico alterado e/ou não esperado para a idade,<br />

devemos prosseguir solicitando radiografia de<br />

punho e mão para avaliar a idade óssea, a qual<br />

está usualmente avançada, US de testículos visando<br />

descartar neoplasia em caso de aumento<br />

testicular unilateral e US pélvica para avaliar a<br />

morfologia do útero e ovários, cujo tamanho está<br />

aumentado na PPC e normal nas variantes normais<br />

citadas acima. A RNM de hipófise ou a<br />

tomografia computadorizada (TC) de crânio são<br />

úteis para pesquisar a etiologia da PPC, mas devem<br />

ser realizadas somente após a confirmação<br />

bioquímica da PPC.<br />

Os exames bioquímicos são extremamente<br />

úteis no diagnóstico diferencial das formas de<br />

precocidade sexual e compreendem as dosagens<br />

hormonais em condição basal e o teste após estímulo<br />

com GnRH exógeno. Com o advento de<br />

novos imunoensaios mais sensíveis, como o IFMA<br />

(imunofluorométrico), tem sido proposto que a<br />

dosagem basal do LH poderia indicar o início da<br />

secreção aumentada de gonadotrofinas, distinguindo<br />

entre PPC, outras causas de PP e indivíduos<br />

pré-púberes. Níveis basais, portanto, de LH<br />

> 0,6 UI/L em indivíduos com PP seriam<br />

indicativos de PPC em ambos os sexos. No nosso<br />

paciente, o LH basal foi de 2,3 UI/L. O teste do<br />

GnRH se faz necessário apenas nos casos com<br />

valores basais d» a 0,6 UI/L com forte suspeita<br />

clínica. 1 O teste consiste na administração de<br />

GnRH 75 ìg/m 2 , máximo de 100 ìg, e dosagem<br />

do LH e FSH nos tempos: 0, 15, 30, 45 e 60 min. O<br />

teste é considerado positivo se houver pico de 6,9<br />

UI/L em meninas e 9,6 UI/L em meninos. A avaliação<br />

do FSH basal não é útil para o diagnóstico<br />

de PP. Quanto aos esteróides sexuais, os níveis de<br />

testosterona total têm maior sensibilidade<br />

diagnóstica em meninos do que os níveis de<br />

estradiol (E2) em meninas.<br />

Se os exames bioquímicos iniciais mostrarem<br />

o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas bloqueado,<br />

deve-se prosseguir a investigação para puberdade<br />

precoce periférica (PPP), por meio da<br />

dosagem de 17-OHP, androstenediona, DHEA e<br />

cortisol basais e após estímulo com ACTH na suspeita<br />

de hiperplasia adrenal congênita (HAC); testes<br />

de supressão com dexametasona para diferenciar<br />

tumor adrenal de HAC; e dosagem da â-hCG<br />

na pesquisa de tumores secretores de hCG. 1<br />

Embora os análogos agonistas GnRH tenham<br />

se tornado um tratamento estabelecido<br />

para PP, há poucos estudos a longo prazo sobre a<br />

recuperação do eixo hipófise-gonadal (função<br />

reprodutiva) e a saúde geral após a interrupção<br />

da terapia. 2 A indicação de tratamento deve estar<br />

vinculada à idade de apresentação dos<br />

caracteres puberais, como também à rapidez de<br />

sua progressão. Vários estudos correlacionam a<br />

eficiência terapêutica à menor idade de manifestação<br />

e de tratamento da PP, em especial antes<br />

dos cinco ou seis anos de idade. 1<br />

No caso apresentado neste artigo, o curto<br />

tempo de tratamento não permite que sejam feitas<br />

conclusões a respeito da eficácia do tratamento<br />

em longo prazo, principalmente com relação à<br />

altura final atingida.<br />

A patogênese da PPC e das convulsões<br />

gelásticas em função de um HH ainda está em<br />

debate. Foi avaliada em um estudo a relação dos<br />

sintomas clínicos com a morfologia e a localização<br />

dos HHs em 34 pacientes. A maioria dos HHs<br />

dos pacientes com PPC isolada (86,4%) era do sexo<br />

feminino (N = 22; 68,2%). Os HHs apresentaram<br />

uma posição para-hipotalâmica sem afetar o terceiro<br />

ventrículo em 91% dos casos, metade deles<br />

era pedunculada e 40,9% apresentaram um diâmetro<br />

< 10 mm. Em contrapartida, 11 dos 12 pacientes<br />

com crises epilépticas apresentaram<br />

hamartoma séssil intra-hipotalâmico, em dez dos<br />

quais havia distorção do terceiro ventrículo. É<br />

mais provável que a posição do HH e envolvimento<br />

do terceiro ventrículo sejam mais preditivos das<br />

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HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSAN<strong>DO</strong> PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />

características clínicas do que o tamanho e a forma<br />

do HH. 3<br />

Em outro estudo com dez crianças apresentando<br />

sinais físicos de puberdade (cinco meninas<br />

e cinco meninos) com PPC em função de<br />

HH com idade média de 2,2 +/- 1,6 ano. Dois<br />

dos dez tinham uma massa pedunculada, e oito<br />

dos dez tinham uma massa séssil. O HH variou<br />

de diâmetro de 4-25 mm e não mudou com o tempo<br />

(3,5-8,7 anos). Quatro pacientes tinham crises<br />

epilépticas: três com convulsões gelásticas e um<br />

com convulsão tônico-clônica. As formas do HH,<br />

séssil ou pedunculado, não se relacionaram com<br />

a ocorrência de convulsões. Os dados clínicos<br />

eram comparáveis as dez pacientes do sexo feminino<br />

com puberdade precoce idiopática (PPI).<br />

Nove dos dez pacientes com HH e todos com PPI<br />

foram tratados com o agonista do GnRH. A resposta<br />

ao tratamento foi excelente em ambos os<br />

grupos e indistinguível. Embora ressecção cirúrgica<br />

do HH tenha sido recomendada em alguns<br />

artigos, observou-se um aumento da morbi-mortalidade,<br />

e se a remoção for incompleta, não há<br />

melhora clínica. Na experiência do estudo em<br />

questão, a terapia com agonistas do GnRH é preferível<br />

à abordagem cirúrgica. 4<br />

Para estudar a resposta terapêutica ao<br />

agonista GnRH, foi realizado um estudo de segmento<br />

com 11 meninos com HH após 8,8 ± 3,2<br />

anos do tratamento. Os níveis de FSH e LH, testosterona,<br />

volume dos testículos e índice de massa<br />

corporal (IMC) foram comparados com os de<br />

seis rapazes normais em estágio puberal IV-V.<br />

Verificou-se que o LH, o FSH e a testosterona normalizaram<br />

por um ano após a interrupção terapêutica.<br />

Os pacientes com testículos de volumes<br />

menores permaneceram normais até dois anos<br />

após a terapêutica. Após quatro anos do tratamento,<br />

todos os pacientes tinham pêlos pubianos<br />

em estágio puberal V; seu IMC não foi diferente<br />

dos rapazes normais. Os HHs não se alteraram<br />

durante ou após a terapêutica, e nenhum paciente<br />

relatou novos sintomas neurológicos ou sinais<br />

sugestivos de aumento da lesão. 5<br />

Este relato de caso chama a atenção para a<br />

importância do reconhecimento e da investigação<br />

da PP por ter um impacto psicossocial significativo<br />

nas famílias dos pacientes que quase sempre<br />

desconhecem as etiologias e o prognóstico da PP.<br />

O controle da progressão puberal propicia<br />

redução do grau de ansiedade dos familiares<br />

e do maior risco de abuso sexual a que as crianças<br />

com PP estão sujeitas. Pode ainda atuar de<br />

maneira benéfica na fertilidade futura e na redução<br />

do risco de câncer de mama associado à<br />

menarca precoce, 1 além de preservar a estatura<br />

final destes indivíduos.<br />

REFERÊNCIAS<br />

1. VILAR, L. Endocrinologia Clínica. 3.ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2006, p. 204 a 217.<br />

2. Feuillan P. P., et al. «Reproductive Axis after<br />

Discontinuation of Gonadotropin-Releasing<br />

Hormone Analog Treatment of Girls with<br />

Precocious Puberty: Long Term Follow-Up<br />

Comparing Girls with Hypothalamic Hamartoma<br />

to Those with Idiopathic Precocious Puberty». The<br />

Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, vol.<br />

84, n.º 1, p. 44-49, 1999.<br />

3. Jung, H., Probst, et al. «Association of<br />

Morphological Characteristics with Precocious<br />

Puberty and/or Gelastic Seizures in Hypothalamic<br />

Hamartoma». The Journal of Clinical Endocrinology<br />

& Metabolism, vol. 88, n.º 10, p. 4.590-4.595, 2003.<br />

4. Mahachoklertwattana P., Kaplan S. L.,<br />

GRUMBACH M. M. «The luteinizing hormonereleasing<br />

hormone-secreting hypothalamic<br />

hamartoma is a congenital malformation: natural<br />

history». Journal of Clinical Endocrinology &<br />

Metabolism, vol. 77, p. 118-124, 1993.<br />

5. Feuillan P. P., et al. «Boys with Precocious<br />

Puberty Due to Hypothalamic Hamartoma:<br />

Reproductive Axis after Discontinuation of<br />

Gonadotropin-Releasing Hormone Analog<br />

Therapy». The Journal of Clinical Endocrinology &<br />

Metabolism, vol. 85, n.º 11, p. 4.036-4.038, 2000.<br />

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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />

A IMPORTÂN<br />

ÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJ<br />

ANEJAMENT<br />

AMENTO NA<br />

REABILITAÇÃ<br />

ÇÃO ESTÉTIC<br />

TÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA<br />

CIRUR<br />

URGIA PLÁS<br />

ÁSTIC<br />

TICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE<br />

CASO<br />

THE IMPORTANCE OF PLANNING THE SMILE AESTHETIC REHABILITATION THROUGH PLASTIC<br />

PERIO<strong>DO</strong>NTAL SURGERY: CASE REPORT<br />

LISSA YUKA MENEZES SATO 1 , NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES 1 , MIRIAM RAQUEL ARDIGÓ WESTPHAL 2 ,<br />

SAMUEL LUNGAREZE 3 , FIKRIYE VIGA YURTSEVER 4<br />

RESUMO: A estética é uma ciência que nos dias de hoje está cada vez mais presente e almejada no tratamento<br />

odontológico. Nesse contexto, o planejamento é uma ferramenta essencial para a obtenção de um resultado favorável<br />

para harmonia estética do sorriso. O presente artigo tem por objetivo relatar um caso clínico de planejamento de<br />

cirurgia plástica periodontal empregada na correção do sorriso gengival, com um auxílio de um guia cirúrgico, no<br />

qual foi possível contribuir para sucesso do tratamento e a estética do sorriso.<br />

Palavras-chave: Planejamento, guia cirúrgico, sorriso gengival, erupção passiva alterada, cirurgia plástica<br />

periodontal.<br />

ABSTRACT: The aesthetic is a science that, currently, it is more present and desired in the dental treatment. In this<br />

context, the planning is an essential tool to obtain a favorable result to the aesthetic harmonic smile. This article<br />

aims to report a case of periodontal plastic surgery planning, using a surgical template, used in the correction of the<br />

gummy smile, that contributed to improve the success of the treatment and the smile aesthetics.<br />

Key-words: planning, surgical template, gummy smile, delayed passive eruption, periodontal plastic surgery.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Periodontia mudou o enfoque nos últimos<br />

anos, deixando de preocupar-se exclusivamente<br />

com a prevenção e tratamento das doenças,<br />

e passando a buscar alternativas efetivas para<br />

reconstrução de uma estética dos tecidos<br />

periodontais perdidos (SILVA et al., 2007). No<br />

século 21, para o sucesso dos tratamentos<br />

odontológicos, os cirurgiões-dentistas deverão ter<br />

a destreza de acompanhar os avanços científicos<br />

e novas tecnologias, assim como compreender<br />

aspectos culturais e hábitos do paciente, proporcionando-lhe<br />

os cuidados necessários para<br />

melhoria de sua condição de saúde bucal, sem<br />

comprometer sua expectativa em relação à estética<br />

(CHESTER et al., 2000).<br />

Condições estéticas relacionadas à saúde<br />

gengival são componentes essenciais para a imagem<br />

e alguns dos parâmetros estéticos envolvidos<br />

no que se diz «sorriso ideal» estão incorporados<br />

à estética facial e gengival, macroestética e<br />

microestética (BORGHETTI, 2002; MORLEY &<br />

EUBANK, 2001).<br />

Numerosas situações podem comprometer<br />

as características normais da gengiva influenciando<br />

a condição estética dentofacial, dentre elas<br />

podemos destacar os processos infecto-inflama-<br />

1<br />

Acadêmicas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas<br />

2<br />

Professora titular da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Endodontia e Periodontia, mestranda em Periodontia – SLMandic/SP<br />

3<br />

Professor substituto da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia, mestrando em Patologia Tropical – Ufam<br />

4<br />

Professora substituta da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia<br />

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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />

tórios, hiperplasias, alterações de cor e recessões<br />

gengivais (FERNÁNDEZ et al., 2005). Uma das<br />

alterações a ser destacada é definida como a exposição<br />

de mais de 3mm de gengiva durante um<br />

sorriso moderado constituindo o sorriso gengival<br />

(ARAÚJO et al., 2007). Este artigo, embasado em<br />

evidências científicas, tem como objetivo o relato<br />

de caso clínico ressaltando a importância do planejamento<br />

cirúrgico para o sucesso da correção<br />

do sorriso gengival.<br />

REVISÃO DE LITERATURA<br />

Mudanças atuais nos paradigmas clínicos<br />

do tratamento periodontal têm criado um ambiente<br />

no qual os procedimentos estéticos periodontais<br />

são, muitas vezes, tão comuns como as terapias<br />

ressectivas realizadas anteriormente. Pode<br />

notar-se na população a tendência em direção ao<br />

reconhecimento da estética gengival e a<br />

comercialização de saúde em benefício próprio,<br />

por isso a demanda torna-se mais sofisticada e<br />

exigente aos profissionais em relação aos procedimentos<br />

odontológicos (MORLEY & EUBANK,<br />

2001; REDDY, 2003).<br />

Primordialmente, os elementos que contribuem<br />

para a estética do periodonto do segmento<br />

anterior estão relacionados no plano facial e labial<br />

e dependem da disposição dentária e da gengiva;<br />

no entanto, é importante correlacionar conjuntamente<br />

todos esses elementos para obter uma<br />

harmonia estética global (DUARTE, 2003).<br />

No «design» do sorriso, o ponto de partida<br />

para o plano de tratamento estético é a linha<br />

sagital mediana, pois esta referência é utilizada<br />

como guia estético facial porque, além de coincidir<br />

com a linha interincisiva, permitindo sua localização,<br />

também avalia as discrepâncias transversais<br />

nas posições dos dentes. Vale salientar que<br />

sua verticalidade é mais importante do que seu<br />

eventual afastamento lateral (BORGHETTI, 2002;<br />

MORLEY & EUBANK, 2001).<br />

A linha do sorriso, um dos fatores de grande<br />

influência da estética dos dentes e da face,<br />

define-se pelo paralelismo na curvatura entre as<br />

linhas incisal e labial inferior. Este fator estético é<br />

classificado em três categorias: alta, representada<br />

pela extensão coronária dos dentes anteriores<br />

superiores e uma faixa contínua de gengiva; média,<br />

que compreende os dentes anteriores superiores<br />

e gengiva interproximal; e baixa, que<br />

corresponde somente aos dentes anteriores superiores,<br />

assim determinando a orientação da linha<br />

do sorriso, o profissional pode projetar sua curvatura<br />

e forma (DUARTE, 2003).<br />

No entanto, quando as bordas incisais dos<br />

incisivos centrais superiores localizam-se abaixo<br />

dos caninos superiores, a linha do sorriso tem<br />

um design convexo, ocasionando um aspecto<br />

harmônico com a linha do lábio inferior. Entretanto,<br />

quando a borda oclusal dos caninos e prémolares<br />

superiores está localizada além da borda<br />

incisal dos incisivos centrais superiores, define-se<br />

a «linha do sorriso reversa» resultando na<br />

desarmonia dentofacial (MORLEY & EUBANK,<br />

2001).<br />

De acordo com os fatores estéticos abordados,<br />

a observação do tipo de sorriso é de fundamental<br />

importância no planejamento estético<br />

dos casos clínicos (SILVA et al., 2007). Há dois<br />

padrões aceitáveis de sorriso classificados de acordo<br />

com relação à altura da margem gengival em<br />

áreas estéticas: 1) a margem gengival dos incisivos<br />

centrais superiores (ICS) e caninos (CS) devem<br />

estar com a margem dos incisivos laterais<br />

(ILS) posicionada à incisal de 1 a 2mm (Classe I);<br />

e 2) o ICS, ILS e CS na mesma altura (Classe II).<br />

Outro aspecto fundamental para o planejamento<br />

estético compreende o zênite gengival, o qual<br />

corresponde à porção mais apical da margem<br />

gengival. Em função da inclinação dos dentes ser<br />

mesial em relação à linha média e interincisiva, o<br />

zênite gengival no segmento anterior é levemente<br />

distal ao eixo axial dos dentes. Isso é valido para<br />

o ICS e CS; já nos ILS o zênite é normalmente<br />

coincidente com seu longo eixo, provavelmente<br />

pela diminuta largura do seu diâmetro cervical<br />

(CHICHE & PINAULT, 1994).<br />

68<br />

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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />

No entanto, comumente os cirurgiões-dentistas<br />

se depararam com os desvios da normalidade<br />

que podem ocasionar no colapso estético<br />

periodontal, por isso a necessidade de o profissional<br />

estar apto a diagnosticar alterações acometidas<br />

ao periodonto, dentre elas destaca-se o sorriso<br />

gengival o qual é considerado um achado<br />

antiestético pelos pacientes. Este tipo de sorriso<br />

pode ser definido como a exposição de mais de<br />

3mm de gengiva durante um sorriso moderado.<br />

Erupção passiva alterada, aumento do volume de<br />

gengiva pelo acúmulo de biofilme dental ou uso<br />

de medicamentos, excesso vertical de maxila, lábio<br />

superior curto e extrusão dentoalveolar estão<br />

dentre os fatores etiológicos desta condição (ARA-<br />

ÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2007).<br />

A erupção passiva alterada (EPA) desenvolve<br />

quando a margem gengival encontra-se<br />

incisalmente da coroa anatômica em indivíduos<br />

adultos e não migra apicalmente para uma posição<br />

próxima do limite amelocementário (LAC)<br />

(BALDA et al., 2006). A EPA foi classificada<br />

correlacionando a quantidade de gengiva<br />

queratinizada à crista óssea. Esta classificação<br />

abrange dois tipos e subtipos, sendo que o tipo I<br />

possui a margem gengival coronária a LAC, considerável<br />

largura gengival e junção mucogengival<br />

(JMG) geralmente apical à crista óssea e o tipo II<br />

determina que a JMG e LAC são geralmente concordantes<br />

e a largura gengival diminuída em relação<br />

à média e localizada na coroa anatômica.<br />

Os subtipos são os seguintes: subtipo A envolve<br />

1,5mm entre o LAC e a crista óssea, e o subtipo B<br />

define que a distância entre a LAC e a crista óssea<br />

está no mesmo nível (COSLET et al., 1977;<br />

DUARTE, 2003).<br />

RELATO <strong>DO</strong> CASO CLÍNICO<br />

Paciente A. P. B, gênero feminino,<br />

leucoderma, 32 anos, compareceu à Clínica de<br />

Periodontia da Faculdade de Odontologia da<br />

Universidade Federal do Amazonas para a realização<br />

de um exame semiológico de rotina. No<br />

exame físico extra-oral, foi observada linha alta<br />

do sorriso, a qual proporcionava o aparecimento<br />

de mais de 3mm de gengiva. No exame intrabucal<br />

foi constatado que a paciente apresentava periodonto<br />

espesso no segmento superior anterior com<br />

características de hiperplasia gengival (Foto 1). No<br />

exame periodontal obteve-se 34% do Índice<br />

Gengival (IG) de Aimano e Bay, 94% do Índice de<br />

Placa (IP) de O’Leary, e no Nível de Inserção Clínico<br />

(NIC) a média obtida foi de 3-4mm, sendo<br />

comprovado pelas radiografias.<br />

Figura 1 – Aspecto Clínico Inicial<br />

Após análise dos achados clínicos e<br />

radiográficos, foi diagnosticado que a paciente<br />

apresentava sorriso gengival em função de uma<br />

alteração no desenvolvimento dos processos de<br />

erupção, denominada como erupção passiva alterada,<br />

sendo classificada em tipo I – subgrupo A. O<br />

tratamento preconizado foi o periodontal básico<br />

de suporte, alisamento radicular, controle da higiene<br />

bucal, orientação da técnica de escovação de<br />

Bass e motivação. A reavaliação foi executada após<br />

15 dias e foi verificada que o IG e IP reduziram<br />

para 32 e 47%, respectivamente; entretanto, não<br />

houve a remissão do quadro hiperplásico.<br />

No planejamento da correção do sorriso<br />

gengival, primeiramente foi confeccionado um<br />

modelo de gesso para auxiliar o estudo do caso.<br />

Em seguida, foi realizada a demarcação dos pontos<br />

nas medidas do NIC da paciente, sendo que<br />

em cada dente foram demarcados três pontos,<br />

localizados na mesial, vestibular e distal (Foto 2).<br />

Após a demarcação dos pontos, foi confeccionado<br />

o traçado da altura desejada da margem<br />

gengival (Foto 3).<br />

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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />

Conforme as marcações realizadas, o guia<br />

cirúrgico foi confeccionado em resina composta<br />

fotopolimerizável, a qual foi colocada sobre as<br />

superfícies dos dentes a serem cirurgicamente tratados<br />

(Foto 5).<br />

Figura 2 – Mapeamento do NIC<br />

Figura 5 – Confecção do guia cirúrgico<br />

Figura 3 – Traçado da altura da margem gengival<br />

O seguinte passo do planejamento foi a demarcação<br />

dos zênites de cada dente para servir de<br />

base na confecção do guia cirúrgico (Foto 4), sendo<br />

que os zênites dos elementos dentários 13, 11 e<br />

21 foram dispostos para a distal e dos elementos<br />

12 e 23 direcionou-se para a eixo axial dos respectivos<br />

elementos. Entretanto, é preconizado que o<br />

zênite dos CS seja deslocado para a distal, sendo<br />

que, neste relato de caso, o zênite do 23 foi deslocado<br />

para sua linha média, pois em razão da ausência<br />

do elemento 22, este se reposicionou no lugar<br />

do ILS. A alteração do zênite do CS para ILS<br />

permitiu a transformação do CS em ILS reabilitando<br />

a paciente para obtenção de um sorriso harmônico<br />

e esteticamente aceitável.<br />

Após a seqüência do planejamento descrito,<br />

foi possível a realização da cirurgia plástica<br />

periodontal, proposta para a correção do sorriso<br />

gengival da paciente deste caso clínico.<br />

A técnica cirúrgica adotada foi de<br />

gengivectomia com osteoplastia utilizando o retalho<br />

de Widman Modificado, sendo que o guia<br />

cirúrgico foi utilizado para a demarcação dos<br />

pontos sangrantes. Em seguida, foram realizadas<br />

as incisões do retalho de Widman Modificado<br />

para a remoção do colarinho gengival (Fotos<br />

6 e 7). Subseqüentemente, o retalho total foi descolado<br />

removendo o tecido de granulação, o que<br />

viabilizou a remodelação do recontorno ósseo<br />

com a osteoplastia, a fim de promover o restabelecimento<br />

do espaço biológico e conseqüentemente<br />

a melhoria da estética periodontal (Foto<br />

8).<br />

Figura 4 – Demarcação dos zênites<br />

Figura 6 – Incisões do Retalhe de Widman Modificado<br />

70<br />

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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />

Figura 7 – Remoção do colarinho gengival<br />

Figura 10 – Aspecto clínico final com reanatomização do CS em ILS<br />

DISCUSSÃO<br />

Figura 8 – Recontorno ósseo com aparecimento do LAC<br />

Concluindo a cirurgia periodontal, depois<br />

da devida irrigação com soro fisiológico e<br />

limpeza da área cirúrgica, reposicionou-se o<br />

retalho para a realização da sutura em<br />

colchoeiro vertical e ponto simples na região das<br />

papilas (Foto 9). Após 7 dias, foram retiradas<br />

as suturas e pôde observar-se o aspecto clínico<br />

final com a reanatomização do CS em ILS (Foto<br />

10). As recomendações pós-operatórias dadas<br />

foram que a paciente deveria evitar a escovação<br />

na região da área cirúrgica e somente fazer a<br />

higienização com digluconato de clorexidina<br />

0,12%.<br />

Figura 9 – Sutura em colchoeiro vertical<br />

Com a evolução das técnicas plásticas periodontais<br />

e o melhor entendimento dos aspectos<br />

ligados à estética do sorriso, diversas alternativas<br />

estão disponíveis no arsenal terapêutico para contribuir<br />

numa abordagem multidisciplinar do tratamento<br />

odontológico. A obtenção do sucesso estético<br />

requer um planejamento criterioso que envolva<br />

a avaliação detalhada de todos os fatores<br />

que interfiram na harmonia e simetria dos elementos<br />

que compõe o sorriso segundo Silva et al.<br />

(2007).<br />

De acordo com Nowzari (2001), todos os<br />

planejamentos dos procedimentos odontológicos<br />

clínicos ou cirúrgicos devem ser baseados em evidências<br />

científicas comprovadas que irão promover<br />

o sucesso do tratamento. Sem antecipar potenciais<br />

falhas, qualquer expectativa almejada e<br />

satisfação imediata do paciente são limitadas e<br />

ignora futuros acidentes que possam vir a ocorrer<br />

durante o trans- e pós-operatório dos procedimentos.<br />

Baseado no modelo de gesso para estudo,<br />

pôde fazer-se o criterioso planejamento estético<br />

para a correção do sorriso gengival da paciente,<br />

sendo que o excesso gengival não causa somente<br />

problemas estéticos, mas também funcionais,<br />

como a proteção diminuída ao traumatismo<br />

da função mastigatória ou colaborando com a<br />

doença periodontal.<br />

Para Borghetti (2002) e Silva et al. (2007),<br />

o planejamento estético periodontal deve-se avaliar<br />

a forma, cor e disposição dos dentes anteriores<br />

e o seu relacionamento com os tecidos moles<br />

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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />

que determinam o sorriso, conferindo um contexto<br />

de harmonia em relação à face do paciente, além<br />

de avaliar a condição periodontal, biótipo<br />

periodontal, linha do sorriso e exposição gengival,<br />

contorno e zênite gengival. De acordo com a paciente<br />

do caso em questão, ela se enquadra nos<br />

padrões antiestéticos em relação ao contorno<br />

gengival, pois, quando sorri, fica evidente mais<br />

de 3mm de gengiva caracterizando o sorriso<br />

gengival.<br />

De acordo com Fernández (2005), a erupção<br />

passiva alterada é caracterizada pela presença<br />

de coroa clínica curta com um excesso de gengiva<br />

que cobre parte da coroa anatômica, sendo<br />

que o diagnóstico pode realizar-se verificando a<br />

distância entre a margem gengival e o limite<br />

amelocementário em relação à borda incisal, altura<br />

de gengiva queratinizada, localização da<br />

crista alveolar, posição dos dentes, situação do<br />

freio, nível de inserção clínica e grau de inflamação.<br />

As características clínicas do periodonto e<br />

dente da paciente eram condizentes com as características<br />

descritas por este autor, o que nos<br />

sugeriu o diagnóstico de erupção passiva alterada.<br />

Segundo Borghetti (2002), a linha estética<br />

gengival pode ser definida como uma linha que<br />

une as tangentes dos zênites gengivais marginais<br />

dos ICS e dos CS e ângulo desta linha é formado<br />

pela intersecção dessa linha com a linha<br />

interincisiva. Partindo dos valores normais da relação<br />

comprimento/largura, da anatomia, da<br />

posição e do alinhamento do segmento dentário<br />

anterior, a melhor escolha estética para paciente<br />

foi a classificação tipo II da linha estética gengival,<br />

a qual é definida que localização dos elementos<br />

dentários ICS, ILS e CS estão na mesma altura,<br />

formando o ângulo de 90º com a linha<br />

interincisiva. Entretanto, a classificação tipo I da<br />

linha estética gengival é considerada a mais aceitável<br />

no padrão estético, porém, em função da<br />

ausência do elemento dentário 22 e com<br />

concomitante migração do CS para a distal ICS,<br />

a classificação do tipo I não foi considerada estética<br />

para a paciente deste caso, optando-se assim<br />

pela utilização da classe II também considerada<br />

esteticamente aceitável.<br />

Segundo Duarte (2003) e Silva et al. (2007),<br />

o zênite gengival, fator necessário para o planejamento<br />

estético, é caracterizado por ser a porção<br />

mais apical da margem gengival, sendo que<br />

nos ICS e CS está deslocado para a distal em relação<br />

à linha média e interincisiva, e nos ILS o zênite<br />

normalmente coincide com seu longo eixo, provavelmente<br />

pela diminuta largura do seu diâmetro<br />

cervical A marcação dos zênites da paciente<br />

foi baseada neste dado direcionando os zênites<br />

dos elementos dentários 11 e 13 para a distal,<br />

e do 12 e 23 para linha média do dente em questão.<br />

Para Walker et al. (1998), o planejamento<br />

cirúrgico com o uso do guia de resina no sextante<br />

anterior permite que o cirurgião-dentista possa<br />

visualizar com exatidão a posição da margem<br />

gengival em relação à coroa, principalmente quando<br />

estão envolvidos múltiplos dentes. Em concordância<br />

com o autor, o uso do guia cirúrgico inserido<br />

no planejamento auxiliou na alteração do zênite<br />

do CS para o ILS, o que contribuiu para a<br />

melhoria estética periodontal após a reabilitação<br />

da paciente.<br />

Redlich et al. (1999), ao reportarem um<br />

caso de sorriso gengival, também utilizaram a técnica<br />

de gengivectomia com osteoplastia dando<br />

ênfase que a localização precisa da junção<br />

amelocementária é essencial para atingir uma<br />

melhora estética significativa. Em um trabalho<br />

mais recente, Araújo et al. (2007) afirmaram que<br />

no manejo de um caso de sorriso gengival realizaram<br />

procedimentos de frenectomia,<br />

gengivectomia interna, osteotomia, osteoplastia e<br />

confecção de facetas de porcelana, alcançando<br />

dessa forma a estética almejada. No atual relato<br />

de caso, foi utilizada a técnica de gengivectomia<br />

com o recontorno ósseo pela osteoplastia, a fim<br />

de esculpir arquitetura gengival desejada e restabelecer<br />

o espaço biológico, já que a crista alveolar<br />

estava acima da JAC, o que nos possibilitou realizar<br />

o diagnóstico conclusivo de erupção passiva<br />

alterada.<br />

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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />

Portanto, o estudo do caso e aplicação de<br />

um planejamento, embasado em evidências científicas,<br />

para a correção do sorriso gengival, permitiu<br />

que o resultado estético final fosse almejado,<br />

sendo de suma importância a expectativa<br />

positiva do paciente e do profissional, visto que<br />

as mudanças provocadas por esses procedimentos<br />

cirúrgicos são irreversíveis.<br />

CONCLUSÃO<br />

O planejamento estético depende do entendimento<br />

pleno dos conceitos periodontais, procurando<br />

inter-relacioná-los com informações relevantes<br />

de outras especialidades odontológicas<br />

afins. A importância desta ferramenta está relacionada<br />

ao sucesso do resultado final dos procedimentos<br />

odontológicos, além de concretizar a<br />

expectativa do paciente no restabelecimento de<br />

suas condições estéticas. Em suma, o procedimento<br />

cirúrgico obteve êxito, pois foi alcançado o padrão<br />

estético proposto no planejamento para a<br />

correção do sorriso gengival.<br />

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do sorriso gengivoso». Revista Dental Press de<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHAL<br />

RELATO DE CASO: INSUFICIÊNCIA CIA RESPIRATÓRIA<br />

PÓS-PLEURODESE<br />

CASE REPORT: ACUTE RESPIRATORY FAILURE AFTER POST-PLEURODESIS<br />

FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS DE LIMA 1 , JOSÉ CORRÊA DE LIMA NETTO 2 , INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA 3 ,<br />

ANA MÁRCIA FREITAS CARLOS 3 , DANIELLE CRISTINE WESTPHAL 3<br />

RESUMO: Relatar caso de insuficiência respiratória pós-pleurodese em paciente com derrame pleural com células<br />

malignas. RELATO DE CASO. Paciente de 51 anos, sexo feminino, com história pregressa de neoplasia de mama,<br />

com queixas de dispnéia, exames de imagem referindo derrame pleural e presença de células malignas à análise do<br />

líquido pleural, tratada com pleurodese com talco e evoluindo com sinais e sintomas de congestão pulmonar.<br />

Palavras-chave: Pleurodese por talco, Insuficiência respiratória, Câncer.<br />

ABSTRACT: To report a case of respiratory failure post-pleurodesis in a patient with pleural effusion of malignant<br />

cells. CASE REPORT. A 51-year-old woman, with previous breast cancer, reporting dyspnea, pulmonary images<br />

revealing pleural effusion and the presence of malignant cells under pleural effusion analysis, treated with talc<br />

pleurodesis and undergoing signs and symptoms of pulmonary congestion.<br />

Key-Words: Talc pleurodeses, Respiratory failure, Cancer.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Acúmulo de derrame pleural com células<br />

neoplásicas pode acompanhar a disseminação<br />

maligna e causar sintomas significativos com comprometimento<br />

na qualidade de vida dos pacientes.<br />

Pleurodese é um procedimento que visa obliterar<br />

a cavidade pleural aliviando os sintomas e<br />

melhorando a qualidade de vida do paciente.<br />

Diversos agentes têm sido utilizados na obtenção<br />

da pleurodese, e, dentre eles, o talco parece ser o<br />

de maior eficácia. 1<br />

Talco é um silicato de magnésio hidratado,<br />

foi utilizado pela primeira vez em 1935 pelo<br />

cirurgião Norman Bethune e tornou-se popular<br />

na segunda metade do século 20 por induzir<br />

pleurodese em diversas doenças pleurais, dentre<br />

elas pneumotórax espontâneo, doenças benignas<br />

e malignas. Comparado com outros agentes<br />

indutores de pleurodese, o talco ainda parece ser<br />

o agente com os melhores resultados em termos<br />

de eficácia e com menor recorrência de efusão. 2<br />

Efusões pleurais malignas são uma das<br />

principais causas de efusão pleural recorrente e<br />

ocorre mais comumente devido a um câncer de<br />

pulmão disseminado em homens e câncer de<br />

mama em mulheres, e a pleurodese é considerada<br />

efetiva no controle da recorrência destas efusões<br />

pleurais. 3 Seu uso, entretanto, não está livre de<br />

efeitos adversos.<br />

A literatura em geral demonstra que febre,<br />

dor de intensidade variável, empiema e falência<br />

respiratória podem ocorrer, principalmente<br />

quando usadas altas doses de talco, 3 além do desenvolvimento<br />

de hipóxia e síndrome da angústia<br />

respiratória do adulto, associada a seu significativo<br />

espectro de toxicidade. 2,5<br />

O objetivo deste trabalho é relatar um<br />

caso de derrame pleural após pleurodese em<br />

um paciente do sexo feminino com efusão pleu-<br />

1<br />

<strong>Hospital</strong> Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de<br />

Cirurgia Torácica<br />

2<br />

<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />

3<br />

Acadêmicas de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)<br />

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RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE<br />

ral maligna e história pregressa de câncer de<br />

mama.<br />

HISTÓRIA CLÍNICA<br />

Paciente do sexo feminino, 51 anos, queixase<br />

de dispnéia associada a mudanças de decúbito<br />

e em posição ortostática há cerca de 10 meses.<br />

Relata que apresentou neoplasia de mama<br />

esquerda em junho de 2005 e, ainda, metástase<br />

óssea no fim do referido ano. Houve recidiva local<br />

em agosto/2006, quando realizou nova QT e<br />

radioterapia. Refere fratura patológica do colo do<br />

fêmur fazendo prótese total do quadril.<br />

Ao Rx de tórax foi observado derrame pleural<br />

bilateral com maior volume à direita. À análise<br />

do derrame pleural, obteve-se resultado positivo<br />

para células neoplásicas. A tomografia computadorizada<br />

de tórax revelou derrame pleural<br />

bilateral volumoso além de lesões osteolíticas nas<br />

vértebras.<br />

Indicou-se videopleuroscopia com pleurodese<br />

com talco para o tratamento do derrame<br />

pleural neoplásico. O procedimento transcorreu<br />

sem intercorrências e a paciente foi encaminhada<br />

à unidade de terapia intensiva, extubada. Após<br />

cerca de 18 horas, iniciou quadro de dispnéia e<br />

desconforto respiratório e a radiografia de tórax<br />

neste momento revelava presença de congestão<br />

pulmonar (Figura 1). O quadro evoluiu com piora<br />

clínica acentuada, necessitando do suporte<br />

ventilatório não-invasivo. Associado a isto, o<br />

padrão radiológico revelava áreas de consolidação<br />

algodonosas esparsas, mais evidentes à direita<br />

(Figura 2).<br />

Figura 1 – Radiografia de tórax demonstrando congestão pulmonar.<br />

Figura 2– Radiografia de tórax com áreas de consolidações algodonosas<br />

esparsas.<br />

Iniciou-se corticoterapia e restrição hídrica<br />

com períodos de ventilação não-invasiva. Após 4<br />

dias, houve involução do quadro de dispnéia e<br />

melhora do quadro radiológico. O diagnóstico da<br />

complicação pós-operatória foi de edema<br />

pulmonar pós-pleurodese.<br />

DISCUSSÃO<br />

O câncer de mama é uma das neoplasias<br />

mais comuns, causando aproximadamente um<br />

terço de todos os derrames pleurais com células<br />

malignas. A maioria dos pacientes com derrame<br />

pleural neoplásico decorrentes de tumores sólidos<br />

evolui a óbito em 6 meses, enquanto aqueles com<br />

derrame pleural neoplásico por causa da<br />

carcinoma de mama apresentam sobrevida média<br />

maior, fato este que estimula a utilização de estratégias<br />

paliativas para controle da dispnéia na<br />

primeira abordagem cirúrgica e assegura<br />

benefícios a longo prazo com conseqüente<br />

melhora na qualidade de vida. 1,6<br />

Dentre os agentes que causam esclerose<br />

pleural, o talco mostra-se superior a outros<br />

agentes comumente utilizados, com um índice de<br />

sucesso de 81 a 100%, comparado aos 70-85% de<br />

sucesso mostrado pela Tetraciclina. Ainda, com<br />

a utilização do talco livre de asbesto, não há o<br />

aumento de risco de desenvolvimento de<br />

mesotelioma, nem significativo impacto na função<br />

respiratória. 7<br />

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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHAL<br />

No caso em questão, a paciente tinha<br />

história de câncer de mama e procurou assistência<br />

médica relatando dispnéia causada por derrame<br />

pleural bilateral, confirmado por exames de<br />

imagens, sendo detectado, após análise do líquido,<br />

presença de células neoplásicas, justificando então<br />

a intervenção conservadora por pleurodese com<br />

talco.<br />

Até o momento, entretanto, não há um<br />

consenso acerca da segurança da utilização do<br />

talco na pleurodese. 2 Dentre as complicações mais<br />

comuns na literatura, febre é uma das mais<br />

comuns, 8 seguido de dor e dispnéia. A intensa<br />

reação inflamatória ao talco como a síndrome da<br />

resposta inflamatória sistêmica (SIRS), falência<br />

respiratória aguda e lesão pulmonar aguda, todos<br />

estes ocorrendo mais raramente após a<br />

pleurodese. 1<br />

A paciente, neste relato, evoluiu com<br />

edema pleural após a realização da pleurodese,<br />

acreditando-se ser este evento causado por uma<br />

síndrome da resposta inflamatória sistêmica<br />

desencadeada pela utilização do talco.<br />

Acredita-se que o mecanismo de pleurodese<br />

com talco esteja relacionado a uma resposta<br />

inflamatória na superfície pleural. Em animais,<br />

está reação esta relacionada a desnudamento de<br />

células mesoteliais e recrutamento de infiltrado<br />

mononuclear no tecido conjuntivo subepitelial e<br />

periférico do pulmão e formação de matrizes de<br />

fibrina, podendo o talco penetrar abaixo da<br />

superfície pleural pela quebra da camada<br />

mesotelial e elástica. 1,5<br />

Na análise radiológica do derrame pleural<br />

da paciente, neste relato, pode-se perceber a<br />

presença de consolidações algodonosas esparsas,<br />

causadas pela resposta inflamatória do organismo<br />

ao talco.<br />

Pesquisadores no Brasil e nos Estados<br />

Unidos descreveram casos de síndrome do estresse<br />

respiratório agudo após pleurodese com talco;<br />

contudo, casos semelhantes não foram relatados<br />

em grandes estudos de revisão europeus ou<br />

israelenses. Estudos com animais no Brasil e<br />

Estados Unidos revelaram deposição do material<br />

no parênquima pulmonar e ainda em outros<br />

órgãos, 2,5 enquanto que ele não pode ser visto nos<br />

estudos europeus. Esta discrepância pode ser<br />

explicada pelo tamanho das partículas de talco,<br />

no qual as partículas menores costumam induzir<br />

maior resposta inflamatória do que as maiores. É<br />

difícil, todavia, obter-se certeza das diferenças nas<br />

técnicas com relação ao tamanho das partículas<br />

pelo fato de quase nenhum dos estudos acerca<br />

deste assunto descreveu as particularidades das<br />

partículas de talco utilizadas, levando, portanto,<br />

as complicações causadas pelo talco a serem<br />

superestimadas. 2<br />

Conforme demonstrado pela literatura, a<br />

pleurodese com agentes químicos induz<br />

inflamação e produção de líquido pleural e,<br />

portanto, parece ser mandatória a drenagem do<br />

líquido pleural para atingir a melhor aproximação<br />

das superfícies pleurais. No entanto, em estudo<br />

no qual se propôs a drenagem do líquido pleural<br />

para drenagem por cerca de 2 horas após menos<br />

de 24 horas da realização da pleurodese, efusão<br />

recorrente foi mais freqüente do que nos outros<br />

estudos sem a drenagem pós-pleurodese. 8<br />

Embora diversos estudos tentem<br />

demonstrar os mecanismos envolvidos na<br />

respostas inflamatórias à pleurodese por talco, de<br />

fato ainda não há causas consagradas e sua<br />

etiologia ainda encontra-se obscura e considerada<br />

multifatorial. 1,2,3 A pleurodese química por<br />

videotoracoscopia é considerado procedimento<br />

seguro e eficaz para tratar o derrame pleural<br />

neoplásico e deve ser considerado o tratamento<br />

padrão-ouro para completa reexpansão<br />

pulmonar. 6<br />

Em conclusão, a evolução da paciente após<br />

a pleurodese foi favorável, pois após 6 meses de<br />

evolução houve estabilização do quadro de<br />

derrame pleural, sem necessidade de novas<br />

toracocenteses. Ao indicar-se a pleurodese por<br />

talco, devemos estar cientes das complicações<br />

advindas do método, incluindo a insuficiência<br />

respiratória aguda, assim como devemos estar<br />

aptos a tratá-las adequadamente.<br />

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RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE<br />

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RESUMO<br />

IMUNIZAÇÃ<br />

ÇÃO ERITROCIT<br />

OCITÁRIA EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA<br />

FAL<br />

ALCIF<br />

CIFORME NO ESTA<strong>DO</strong> <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />

AS<br />

ERITROCITY IMMUNIZATION IN PATIENTS WITH SICKLE DISEASE IN THE STATE OF AMAZON<br />

MIHARU M. MATSUURA, JOSÉ ORLAN<strong>DO</strong> BORDIN<br />

RESUMO: O propósito deste estudo foi analisar o perfil imunohematológico dos pacientes com doença falciforme<br />

do Estado do Amazonas por meio da detecção e identificação de alo e auto-anticorpos antieritrocitários, bem como<br />

caracterizar os principais sistemas de grupo sangüíneo desses pacientes e investigar a freqüência de aloimunização<br />

eritrocitária causada pelas diferenças fenotípicas entre os pacientes com doença falciforme e doadores de sangue do<br />

Hemocentro do Amazonas – Hemoam. A taxa de aloimunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 18,0%,<br />

64,3% dos aloanticorpos antieritrocitários detectados nos pacientes com doença falciforme do Hemoam foram do<br />

sistema Rh e Kell. A taxa de auto-imunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 8,3%, sendo todos os<br />

auto-anticorpos do tipo quente (IgG) e um paciente tinha fração de complemento C3d, além do auto-anti IgG. A<br />

análise estatística mostrou que a taxa de imunização não foi influenciada pelo sexo, faixa etária, número de gestação<br />

ou número de transfusão, mas foi observada diferença estatisticamente significante na relação dos auto-anticorpos<br />

eritrocitários com aloimunização e reação transfusional. Acredita-se que a presença prévia de aloanticorpos<br />

pode predispor a formação de auto-anticorpos eritrocitários e esses auto-anticorpos podem freqüentemente estar<br />

associados com a ocorrência de reação transfusional nos pacientes falcêmicos. Verificou-se que as diferenças encontradas<br />

na fenotipagem eritrocitária entre os doadores e receptores deste estudo não influenciaram a aloimunização<br />

eritrocitária, permitindo supor que os doadores de sangue e pacientes com doença falciforme no Amazonas são<br />

semelhantes nos principais fenótipos de sistema de grupos sangüíneos. Em conclusão, este estudo permitiu contribuir<br />

para um melhor conhecimento da imunização eritrocitária, nos pacientes com doença falciforme, podendo<br />

prevenir o aparecimento de reações transfusionais e promover uma maior segurança e eficácia transfusional.<br />

Palavras-chave: Doença falciforme; Aloimunização; Antígenos eritrocitários; Transfusão sangüínea; Auto-imunização.<br />

ABSTRACT: The intention of this study was to analyze the immunohematologic profile of the patients with sickle<br />

cell disease of the State of Amazon by detecting and identifying irregular allo and selfantibodies against red blood<br />

cells antigens, as well as characterize the main sanguineous group systems of these patients, and investigate the<br />

frequency of eritrocity aloimmunization, caused by phenotypic differences between Amazon Blood Center -<br />

HEMOAM’s blood donors and the patients with sickle cell disease. The found rate of red cell antigens<br />

alloimmunization in this study, was of 18,0%, 64,3% of the detected alloantibodies against red blood cell in the<br />

patients with sickle cell disease of the HEMOAM had been of the system Rh and Kell. The found rate of eritrocity<br />

selfimmunization in this study was of 8,3%, with all the selfantibodies being of the hot type (IgG) and a patient had<br />

complement fraction of C3d, as well as the auto-anti IgG. The statistical analysis showed that the immunization rate<br />

was not influenced by the sex, age, number of gestations or number of transfusions but observed a statistical<br />

significant difference in the relation of the eritrocity selfimmunization with alloimmunization and transfusional<br />

reaction. It is believed that the previous presence of alloantibodies can predispose the eritrocity selfantibodies<br />

formation and these antibodies can frequently be associated with transfusional reaction in the sickle patients. It<br />

was observed that the found differences in the phenotypied red blood cells between blood donors and blood<br />

receivers of this study had not influenced the red cell antigens alloimmunization, allowing one to assume that the<br />

blood donors and patients with sickle cell disease in the Amazon are similar in the main phenotipies of sanguineous<br />

groups systems. In conclusion, this study allowed contributing for better knowledge of the immunization against<br />

the red blood cells in patients with sickle cell disease, being useful to prevent the appearance of transfusional<br />

reactions and to promote a greater security and transfusional effectiveness.<br />

Key-words: Sickle cell disease; Alloimmunization; Red blood cell antigens; Blood transfusion; Selfimmunization.<br />

Correspondência para:<br />

Miharu Maguinoria Matsuura Matos<br />

Rua 23 n.º 935 Conj. Castelo Branco – Parque 10<br />

69055-410 – Manaus – Amazonas – Brasil<br />

E-mail: miharumatos@gmail.com<br />

Dissertação apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do<br />

Título de Mestre em Ciências Hematológicas. Área de concentração: Hematologia e Hemoterapia.<br />

revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />

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REVISTA <strong>DO</strong> HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />

INSTRUÇÕES AOS AUTORES<br />

Verificar os manuscritos antes do Envio (checklist)<br />

Ao enviar seu artigo, o(s) autor (es) dever (á/ão) observar os seguintes itens:<br />

Anexar 03 cópias do trabalho (incluindo figuras, tabelas e gráficos com as respectivas legendas).<br />

Incluir uma (01) cópia em disquete ou CD (gravado em programa Microsoft Word), contendo<br />

tabelas e gráficos com as respectivas legendas. O texto deverá ser redigido em letra Time News<br />

Roman, tamanho da fonte 12, com espaçamento entre as linhas de 1,5, impressão em uma só face e<br />

páginas enumeradas.<br />

O envio do trabalho deve incluir os seguintes itens:<br />

1) Carta de Apresentação do trabalho;<br />

2) Carta de Permissão para Reprodução (incluindo autorização para reprodução de publicação<br />

prévia) e Cessão de Direitos Autorais.<br />

3) Página de Identificação (folha de rosto identificada) contendo Titulo completo em português<br />

e inglês; Nome com Titulação dos autores; Instituição de origem do trabalho; Endereço, Telefone<br />

e e-mail do autor principal;<br />

4) página não-identificada (folha de rosto sem identificação) com Título Completo e Abreviado;<br />

5.a) Resumo e Abstract: Incluir os Objetivos do trabalho, assim como os Materiais (ou Pacientes,<br />

Casuística) e Métodos empregados, comentando os Resultados e Conclusões, sendo que o<br />

número de palavras deverá ter de até 250 palavras.Checar os Descritores (em português e inglês).<br />

5.b) O corpo do trabalho deve constar<br />

1. Introdução – deve constar os objetivos<br />

2. Material/Pacientes e Métodos –<br />

3. Resultados -<br />

4. Discussão –<br />

5. Conclusão –<br />

6. Referências<br />

5.c) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho).<br />

5.d) Checar se as Referências estão de acordo com o padrão da revista, numeradas de<br />

modo consecutivo de acordo com a seqüência de citação no texto.<br />

5.e) Verificar Legendas de Figuras, Gráficos e Ilustrações, que deverão ser apresentadas em<br />

folhas separadas.<br />

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5.f) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho).<br />

A revista do <strong>HUGV</strong> é uma publicação em preto e branco e todas as ilustrações serão<br />

reproduzidas em arquivo digital medindo no mínimo 12 x 17 cm e no máximo 20 x 25 cm e somente<br />

em preto e branco;<br />

Na submissão de estudos com seres humanos é necessária a apresentação do Parecer do Comitê<br />

de Ética em Pesquisa indicado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da<br />

Saúde.<br />

Categorias dos manuscritos<br />

• Artigos originais – máximo 08 páginas<br />

• Resumo e abstract; Introdução; Método; Resultados; Discussão; Referências Bibliográficas<br />

• Breves comunicados – máximo 2 páginas<br />

• Relato de caso – 3 páginas<br />

• Resumo e abstract; Introdução; Relato do Caso; Discussão; Referências Bibliográficas<br />

• Revisões – máximo 05 páginas<br />

• Debates<br />

• Resumos de teses – máximo 2 páginas<br />

• Cartas ao editor – máximo 2 páginas<br />

• Imagem<br />

OBS: O conteúdo e conceitos emitidos nos textos são de inteira responsabilidade dos autores,<br />

não refletindo obrigatoriamente a opinião do Editor e dos membros do Conselho Editorial.<br />

Os manuscritos deverão ser encaminhados para:<br />

Coordenação de Ensino e Pesquisa-<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />

Universidade Federal do Amazonas (UFAM)<br />

Rua Apurinã, 04 – Praça 14 Tel: (92) 3621-6582<br />

CEP: 69020-170 Manaus/AM<br />

E-mail: revistahugv@ufam.edu.br<br />

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