MIOLO DO HUGV 2006.pmd - Hospital Universitário Getúlio Vargas
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evistahugv<br />
Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong><br />
v.5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
<strong>MIOLO</strong> <strong>DO</strong> <strong>HUGV</strong> <strong>2006.pmd</strong> 1<br />
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UNIVERSIDADE FEDERAL <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />
Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AM<br />
Fones: (092) 3621-6582 E-mail: revistahugv@ufam.edu.br<br />
UFAM<br />
FUNDA<strong>DO</strong>RES<br />
Ricardo Torres Santana<br />
Jorge Alberto Mendonça<br />
LISTA <strong>DO</strong> CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA <strong>HUGV</strong><br />
EDITOR-CHEFE<br />
Fernando Luiz Westphal Maria Augusta Bessa Rebelo Rosane Dias da Rosa<br />
Kathya Augusta Thomé Lopes<br />
Maria Lizete Guimarães Dabela<br />
LISTA <strong>DO</strong> CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA <strong>HUGV</strong><br />
Aluísio Miranda Leão<br />
Ângela Delfina B. Garrido<br />
Antonio Carlos Duarte Cardoso<br />
Célia Regina Simoneti Barbalho<br />
Cláudio Chaves<br />
Clemencio Cezar Campos Cortez<br />
Dagmar Keisslich<br />
David Lopes Neto<br />
Domingos Sávio Nunes de Lima<br />
Edson Sarkis Gonçalves<br />
Ermerson Silva<br />
Eucides Batista da Silva<br />
Eurico Manoel Azevedo<br />
Fernando César Façanha Fonseca<br />
Fernando Luiz Westphal<br />
Gerson Suguyama Nakajima<br />
Ione Rodrigues Brum<br />
Ivan da Costa Tramujás<br />
Jacob Cohen<br />
João Bosco L. Botelho<br />
Julio Mario de Melo e Lima<br />
Kathya Augusta Thomé de Souza<br />
Lourivaldo Rodrigues de Souza<br />
Luís Carlos de Lima<br />
Luiz Carlos de Lima Ferreira<br />
Luiz Fernando Passos<br />
Maria Augusta Bessa Rebelo<br />
Maria do Socorro L. Cardoso<br />
Maria Fulgência Costa L. Bandeira<br />
Maria Lizete Guimarães Dabela<br />
Mariano Brasil Terrazas<br />
Neila Falcone Bonfim<br />
Nelson Abrahim Fraiji<br />
Nikeila Chacon de O. Conde<br />
Osvaldo Antônio Palhares<br />
Ricardo Torres Santana<br />
Rosana Cristina Pereira Parente<br />
Rosane Dias da Rosa<br />
Wilson Bulbol<br />
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Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong><br />
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />
Copyright© 2006 Universidade Federal do Amazonas/<strong>HUGV</strong><br />
REITOR DA UFAM<br />
Dr. Hidembergue Ordozgoith da Frota<br />
DIRETOR <strong>DO</strong> HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />
Dr. Raymison Monteiro de Souza<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIAL: EDUA<br />
DIRETOR DA EDUA<br />
Dr. Renan Freitas Pinto<br />
DIRETORA DA REVISTA<br />
Profª Dayse Enne Botelho<br />
REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA)<br />
Sergio Luiz Pereira<br />
CAPA<br />
TIRAGEM 300 EXEMPLARES<br />
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287<br />
R454 Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>.<br />
Revista do <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong>. V. 5, n. 1-2 (2006) / Manaus: Editora da Universidade Federal<br />
do Amazonas, 2006.<br />
82p.<br />
Semestral<br />
Título da revista em português inglês<br />
ISSN – 1677-9169<br />
1. Medicina-Periódico I. <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> II. Universidade Federal do Amazonas.<br />
CDU 61(051)<br />
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SUMÁRIO<br />
Editorial ..............................................................................................................................................<br />
Kathya Augusta Thomé Lopes<br />
7<br />
ARTIGOS ORIGINAIS<br />
1. Caracterização das reações transfunsionais ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>,<br />
Amazonas, Brasil, no período de 2001 a 2003 ...................................................................................<br />
2. Avaliação clínico-cirúrgica dos pacientes submetidos a ressecção pulmonar por bronquiectasias<br />
.......................................................................................................................................................<br />
3. O deprimido diante do entrevistador clínico iniciante ...................................................................<br />
4. Estudo sobre a atitude do profissional de saúde com relação à perspectiva de vida ativa de<br />
pacientes com sequelas de traumatismo raqui-medular .....................................................................<br />
5. Treinamento muscular inspiratório em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica ....<br />
RELATO DE CASO<br />
6. Tratamento de fraturas faciais ocasionadas por projetéis de arma de fogo (P. A. F.): Relato de<br />
Caso Clínico ..........................................................................................................................................<br />
7. Deficiência de 11β-Hidroxilase – Relato de Caso e Revisão de Literatura ....................................<br />
8. Pneumonia Necrosante: Relato de Caso .........................................................................................<br />
9. Tratamento da discromia gengival: Comparação de duas técnicas ............................................<br />
10. Hamartoma Hipotalâmico causando puberdade precoce central: Relato de Caso ....................<br />
11. A importância do planejamento na reabilitação estética do sorriso pela cirurgia plástica<br />
periodontal: Relato de Caso ..................................................................................................................<br />
12. Relato de Caso: Insuficiência Respiratória pós-pleurodese ..........................................................<br />
9<br />
15<br />
23<br />
29<br />
35<br />
43<br />
49<br />
53<br />
57<br />
63<br />
67<br />
75<br />
13. Resumo .........................................................................................................................................<br />
79<br />
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EDITORIAL<br />
Kathya Augusta Thomé Lopes*<br />
A Revista do <strong>HUGV</strong> é um periódico da Ufam<br />
que possibilita a publicação de artigos e resultados<br />
de investigações, busca estimular a divulgação do<br />
conhecimento elaborado nas mais diversas áreas<br />
da saúde dentro e fora do âmbito do <strong>Hospital</strong><br />
Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>. Tem como pressuposto<br />
disponibilizar artigos e trabalhos de pesquisa<br />
que venham contribuir para melhorar as ações<br />
dos profissionais e das instituições.<br />
A pesquisa de certa maneira tem como<br />
perspectiva promover o desenvolvimento e<br />
minimizar os problemas da saúde. Assim, por<br />
intermédio de uma produção científica rigorosa<br />
e com qualidade, é possível encontrar respostas e<br />
soluções para as questões prioritárias de saúde<br />
da população, bem como do sistema e da política<br />
de saúde. Talvez a grande dificuldade ainda esteja<br />
relacionada à capacidade de incorporar os<br />
resultados desta produção nas ações de saúde.<br />
Torna-se imprescindível encontrar estratégias para<br />
disseminar este conhecimento visando possibilitar<br />
a sua utilização em benefício do bem-estar das<br />
populações em todas as suas dimensões.<br />
A investigação científica em saúde teve uma<br />
ampliação nos últimos anos, indo desde o<br />
aumento de projetos de pesquisa até as diversas<br />
oportunidades para auxílios e fomentos nesta<br />
área, o que de certa forma tem motivado o avanço<br />
dessas investigações.<br />
Um outro fator importante é a atenção que<br />
tem se dado aos aspectos éticos em pesquisa<br />
visando a garantia de um compromisso entre o<br />
pesquisador e os sujeitos da pesquisa, na mesma<br />
proporção as pesquisas realizadas com rigor<br />
científico expressam qualidade no seu desenvolvimento<br />
e ainda não são positivamente compreendidas<br />
pelos especialistas e nem pela sociedade.<br />
Tendo em vista as transformações apresentadas<br />
nas diversas especialidades da saúde, nada<br />
mais justo que usar o conhecimento adquirido em<br />
prol do benefício da sociedade, e isto passa pela<br />
divulgação intensiva dos achados científicos, daí<br />
o papel importante da divulgação pelas revistas<br />
científicas.<br />
Arriscaríamos afirmar que os conhecimentos<br />
disponíveis podem não ser adequados e<br />
suficientes para a solução dos diversos problemas<br />
identificados na área da saúde, contudo é importante<br />
que haja uma atuação incessante dos<br />
pesquisadores para a busca de novas informações<br />
e geração de conhecimentos para redução de<br />
doenças e principalmente a formulação de<br />
políticas de prevenção.<br />
A começar pela convicção de que as ações<br />
adequadas e favoráveis a uma boa qualidade de<br />
saúde serão na maioria das vezes advindas de<br />
descobertas de pesquisas bem elaboradas, e que,<br />
por sua vez, são desenvolvidas com base na<br />
inquietação de seus pesquisadores, promovendo<br />
achados importantes para a área, tais como: o que<br />
favorecer para que as pessoas permaneçam<br />
saudáveis; os fatores gerais que influenciam; as<br />
características locais; prioridades; os determinantes<br />
sociais, políticos e ambientais de saúde, dentre<br />
outros. É importante que essas ações sejam<br />
estimuladas dentro do âmbito do <strong>HUGV</strong>,<br />
notadamente por se tratar de um hospital de<br />
ensino.<br />
* Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam<br />
Coordenadora do Programa de Atividades Motoras para Deficientes / PROAMDE<br />
Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Social do <strong>HUGV</strong><br />
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Além de estimular e disseminar a importância<br />
da realização de pesquisas e a veiculação dos<br />
diversos conhecimentos elaborados na área de<br />
saúde, o <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>,<br />
por intermédio do Conselho Editorial e Consultivo<br />
da Revista do <strong>HUGV</strong>, propõe-se a avaliar os<br />
trabalhos apresentados à publicação priorizando<br />
o rigor científico, observando, ainda, a importância<br />
dos achados para o benefício da sociedade<br />
bem como a sua aplicação prática.<br />
A realização de projetos de pesquisa<br />
propicia a constante produção de conteúdo<br />
científico, assim como possibilita a captação de<br />
recursos para os Serviços e, em última instância,<br />
para a Instituição. Portanto, a Divisão de Apoio<br />
à Pesquisa Científica disponibiliza orientação aos<br />
profissionais deste <strong>Hospital</strong> interessados em<br />
realizar projetos de pesquisa.<br />
8<br />
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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />
CARA<br />
ARACTERIZA<br />
CTERIZAÇÃ<br />
ÇÃO DAS REAÇÕES<br />
TRANSFUNSIONAIS AIS OCORRID<br />
ORRIDAS NO HOSPIAL UNI-<br />
VERSITÁRIO GETÚLIO VAR<br />
ARGAS<br />
AS, , AMAZONAS<br />
AS, , BRASIL,<br />
NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />
CHARATERIZATION OF TRANSFUNSIONAL REACTIONS OCCURED IN THE UNIVERSITY HOSPITAL<br />
GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRAZIL, IN THE PERIOD OF 2001 THE 2003<br />
Miharu Maguinoria Matsuura Matos 1 , Rivaldo Castro Vilar 2 , Yvelise Ferreira 3 ,<br />
Reneide de Pinheiro Almeida 4 , Maria Elizete de Almeida Araújo 5<br />
RESUMO: Diante do complexo quadro que envolve a prática transfusional, aliada ao fato de que o Estado do<br />
Amazonas possui dados incipientes referente às reações transfusionais, o presente estudo propôs descrever as<br />
reações ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>, da cidade de Manaus, Brasil. Acredita-se que as informações,<br />
apresentadas neste estudo, contribuem para o conhecimento real das reações transfusionais ocorridas e<br />
possibilita o aprimoramento do trabalho desenvolvido pela Hemovigilância do <strong>HUGV</strong>, permitindo uma maior<br />
segurança transfusional. Casuística: Avaliação de todos os relatórios de reação transfusional e livros de registro de<br />
transfusão sangüínea do banco de dados da Agência Transfusional do hospital, no período de 2001 a 2003. Resultados:<br />
Das 21.289 transfusões analisadas, 21 desencadearam reações transfusionais, caracterizando uma freqüência<br />
de 0,10%. A incidência de reação alérgica foi de 0,04% e reação febril não hemolítica foi de 0,03%. Esses dados<br />
diferem dos disponíveis na literatura quanto à incidência, mas é similar quanto aos tipos de reação mais<br />
freqüentes. Conclusões: Observou-se uma baixa taxa de reação transfusional refletindo que existem dificuldades<br />
na monitorização e notificação das reações ocorridas neste hospital. Considera-se que essa taxa foi influenciada<br />
por diversas causas, principalmente em conseqüência das subnotificações, pois representa uma inconsistência da<br />
definição de caso por falta de conhecimento técnico-científico dos envolvidos na terapia transfusional.<br />
Palavras-chave: Reações transfunsionai, transfunsão sanguínea, hemovigilância, Incidentes transfunsionais, notificação<br />
de reações adversas.<br />
ABSTRACT: Facing the complex situations that involves the transfusional practice, followed by the fact that the<br />
state of Amazon doesn´t have enough information about transfusional reactions, the present study proposed to<br />
describe the reactions occured in the University <strong>Hospital</strong> Getulio <strong>Vargas</strong> in Manaus, Brazil. It is believed credit that<br />
the information in this study contribute to the real knowledge of transfusional reactions occured and offer the<br />
improvement of the work developed by the Hemovigilance of <strong>HUGV</strong>, allowing a higher transfusional security.<br />
Material and methods: Review of all the reports of transfusional reaction and the blood transfusions registers of the<br />
data base of the Transfusional Agency of the hospital in period of years from 2001 to 2003. Results: Of 21,289<br />
transfusions analyzed, 21 had transfusional reactions, characterizing a frequency of 0,10%. The alergical incidence<br />
of reactions was 0,04% and no hemolytic fever reaction was 0,03%. These data differ from the available literature in<br />
incidence terms but it was similar to the types of reaction found in this study. Conclusions: A low tax of transfusional<br />
reaction was observed in this study reflecting the existence of difficulties in the monitorization and notification<br />
of the reactions occurred in this hospital. It is considered that this tax was influenced by several causes, mainly due<br />
to subnotifications, that represent an inconsistency of the case definition due to technician-scientific knowledge of<br />
the people involved in the transfusional therapy.<br />
Key-words: Transfusional reactions. Blood transfusion. Hemovigilance. Transfusional incidents. Notification of<br />
adverse reactions.<br />
1<br />
Farmacêutica-Bioquímica, <strong>HUGV</strong>, Ufam<br />
2<br />
Farmacêutico-Bioquímico, Ufam<br />
3<br />
Médica, Hemoam<br />
4<br />
Farmacêutica-Bioquímica, <strong>HUGV</strong>, Hemoam<br />
5<br />
Gerente de Risco Sanitário <strong>Hospital</strong>ar, <strong>HUGV</strong>, Ufam<br />
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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />
INTRODUÇÃO<br />
OBJETIVO<br />
A transfusão de sangue consiste na administração<br />
do sangue de um indivíduo doador<br />
para um indivíduo receptor. Esse procedimento<br />
põe os antígenos do doador, sejam antígenos das<br />
membranas celulares ou antígenos plasmáticos,<br />
em contato com o sistema imunológico (anticorpos)<br />
do receptor, levando a reações do sistema<br />
imunológico do receptor da transfusão, que podem<br />
resultar em efeitos indesejáveis à transfusão.<br />
Esses resultados indesejáveis são chamados de<br />
reações transfusionais ou incidentes transfusionais.<br />
1<br />
O propósito fundamental de uma agência<br />
transfusional é assegurar uma terapia de transfusão<br />
efetiva e livre de quaisquer efeitos indesejáveis.<br />
Entretanto, vidas ainda têm sido perdidas<br />
como conseqüência de reações transfusionais. No<br />
Brasil, segundo dados da Agência Nacional de<br />
Vigilância Sanitária, 2 não se conhece a freqüência<br />
real desses incidentes transfusionais, sejam eles<br />
inerentes à terapêutica, decorrentes de má indicação<br />
e do uso dos produtos sangüíneos, ou de<br />
falhas no processo durante o ciclo do sangue. Daí<br />
a necessidade de se investigar, identificar e notificar<br />
de forma sistemática as reações transfusionais<br />
a fim de que possam ser introduzidas medidas<br />
corretivas e preventivas.<br />
Diante deste complexo quadro que envolve<br />
a prática transfusional, aliada ao fato de que o<br />
Estado do Amazonas possui dados incipientes<br />
referente às reações transfusionais, o presente estudo<br />
propôs caracterizar as reações ocorridas no<br />
<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>,<br />
da cidade de Manaus, Brasil, no período de 2001<br />
a 2003 por meio da avaliação dos relatórios de<br />
reação transfusional e livros de registro do banco<br />
de dados da Agência Transfusional do hospital.<br />
Sabe-se que o conhecimento das ocorrências das<br />
reações transfusionais é de grande valor no campo<br />
da orientação clínica e laboratorial, prevenindo<br />
o aparecimento ou recorrência de reações<br />
transfusionais imediatas ou tardias e levando a<br />
uma maior segurança e eficácia transfusional.<br />
Descrever as principais reações transfusionais<br />
ocorridas no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />
<strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>, da cidade de Manaus, Brasil,<br />
no período de 2001 a 2003, por meio de levantamento<br />
de dados.<br />
CASUÍSTICA<br />
O levantamento dos dados foi realizado<br />
pelas informações obtidas do banco de dados da<br />
Agência Transfusional do <strong>HUGV</strong> e da avaliação<br />
de todos os relatórios de reação transfusional e<br />
dos livros de registro de transfusão sangüínea,<br />
com ênfase nos resultados dos testes imunohematológicos<br />
da investigação transfusional e ao<br />
parecer conclusivo fornecido pelo Hemocentro do<br />
Amazonas – Hemoam. O levantamento da reação<br />
transfusional foi baseado no número de sua<br />
ocorrência em relação ao número de unidades<br />
transfundidas no mesmo período. Este estudo foi<br />
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />
Universidade Federal do Amazonas.<br />
Para a caracterização das reações transfusionais<br />
foi avaliado o tipo de reação transfusional<br />
ocorrida de acordo com a sua natureza e o<br />
momento da instalação. Considera-se reação<br />
transfusional do tipo imediato (aguda) aquela<br />
ocorrida durante a transfusão ou em até 24 horas<br />
e reação do tipo tardio aquele que ocorre após<br />
24 horas da transfusão realizada. As reações<br />
transfusionais do tipo imediata (aguda) estão envolvidas<br />
com: reação hemolítica aguda, reação<br />
febril não hemolítica, reações alérgicas, sobrecarga<br />
volêmica, contaminação bacteriana, edema<br />
pulmonar não cardiogênico, reação hipotensiva<br />
e hemólise não imune. E as do tipo tardia estão<br />
envolvidas com: reação hemolítica tardia, doença<br />
enxerto-vs-hospedeiro, púrpura pós-transfusional,<br />
aparecimento de anticorpos irregulares/<br />
isoimunização, hemossiderose e doenças<br />
transmissíveis por vírus, bactérias e parasitas. Esta<br />
classificação segue os critérios do Ministério da<br />
Saúde/Anvisa 2 .<br />
10<br />
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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />
RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
Foram analisados os resultados de 21.289<br />
transfusões de sangue, no período de janeiro de<br />
2001 a dezembro de 2003, sendo 9.016 (42,35%)<br />
de concentrado de hemácias (CH), 7.990 (37,53%)<br />
de concentrado de plaquetas (CP), 3.221 (15,12%)<br />
de plasma fresco congelado (PFC), 644 (3,02%)<br />
de crioprecipitado e 418 (1,96%) de plasma preservado<br />
(PP). A Tabela 1 apresenta a distribuição<br />
dos hemocomponentes transfundidos no <strong>HUGV</strong><br />
de acordo com o ano estudado.<br />
Tabela 1 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados<br />
transfundidos no <strong>HUGV</strong> de acordo com o ano<br />
estudado<br />
Hemocomponentes<br />
e derivados<br />
CH<br />
PFC<br />
PP<br />
CP<br />
Criopreciptado<br />
Total<br />
2001<br />
3.223<br />
1.280<br />
167<br />
3.684<br />
200<br />
8.554<br />
Ano<br />
2001<br />
2.714<br />
799<br />
75<br />
2.367<br />
162<br />
6.117<br />
2003<br />
3.079<br />
1.142<br />
176<br />
1.939<br />
282<br />
6.618<br />
Total<br />
Transfundido<br />
9.016<br />
3.221<br />
418<br />
7.990<br />
644<br />
21.289<br />
CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado;<br />
CP = Concentrado de Plaquetas<br />
Neste estudo, das 21.289 transfusões realizadas,<br />
21 desencadearam reação transfusional,<br />
caracterizando uma freqüência de 0,10%, sendo<br />
11 (52%) do sexo feminino e 10 (48%) do sexo<br />
masculino. A média de reação transfusional notificada<br />
foi de uma reação transfusional a cada<br />
dois meses. A análise estatística da ocorrência de<br />
reação transfusional de acordo com o ano não<br />
apresentou diferença estatisticamente significante<br />
(p>0.05). A Tabela 2 demonstra a freqüência de<br />
reação transfusional com base no número de unidades<br />
transfundidas por ano.<br />
Das vinte e uma (0,10% das transfusões)<br />
reações transfusionais ocorridas, dezenove (90,4%<br />
das reações – 0,09% das transfusões) estavam<br />
envolvidas com a transfusão de CH, uma (4,8%<br />
das reações – 0,005% das transfusões) com PFC e<br />
uma (4,8% das reações – 0,005% das transfusões)<br />
com CP. A Tabela 3 demonstra a distribuição dos<br />
hemocomponentes transfundidos em relação ao<br />
número de reação transfusional ocorrido.<br />
Tabela 3 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados<br />
transfundidos no <strong>HUGV</strong> em relação ao número de<br />
reação transfunsional ocorrido.<br />
Hemocomponentes<br />
e derivados<br />
CH<br />
PFC<br />
PP<br />
CP<br />
Criopreciptado<br />
Total<br />
Total transfundido<br />
9.016<br />
3.221<br />
418<br />
7.990<br />
644<br />
21.289<br />
Reação<br />
transfusional<br />
19<br />
1<br />
-<br />
1<br />
-<br />
21<br />
CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado;<br />
CP = Concentrado de Plaquetas<br />
O CH foi responsável por dezenove reações<br />
transfusionais (90,4% das reações – 0,09%<br />
das transfusões), ocorridas no <strong>HUGV</strong>, sendo que<br />
dezessete (89,5% das reações – 0,08% das transfusões)<br />
foram do tipo imediato (aguda) e duas<br />
(10,5% das reações – 0,01% das transfusões) do<br />
tipo tardio, como mostra a Figura 1.<br />
REAÇÕES POR CONCENTRA<strong>DO</strong> DE<br />
HEMÁCIAS<br />
10,5%<br />
Reação aguda<br />
Reação tardia<br />
Tabela 2 – Freqüência de reação transfusional ocorridas<br />
no <strong>HUGV</strong> em relação ao número de transfusões realizadas<br />
por ano<br />
Ano<br />
2001<br />
2002<br />
2003<br />
Total<br />
N.º de Transfusões<br />
realizadas<br />
8.554<br />
6.117<br />
6.618<br />
21.289 (100%)<br />
Sem reação<br />
Transfunsional<br />
8.548<br />
6.109<br />
6.611<br />
21.268 (99,9%)<br />
Com reação<br />
Transfunsional<br />
6<br />
8<br />
7<br />
21 (0,1%)<br />
89,5%<br />
Figura 1 – Tipos de reação transfunsional ocorridos pelo uso de concentrado<br />
de hemácias<br />
Observou-se que das dezessete reações<br />
transfusionais do tipo imediata (89,5% das rea-<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
11<br />
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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />
ções – 0,08% das transfusões), já que se desenvolveram<br />
durante ou em até 24 horas da transfusão<br />
realizada, o mesmo ocorrendo com aquelas decorrentes<br />
do CP e do PFC quanto ao tempo de<br />
instalação da reação, oito (47,0% das reações –<br />
0,04% das transfusões) eram reação alérgica, sete<br />
(41,2% das reações – 0,03% das transfusões) eram<br />
reação febril não hemolítica e duas (11,8% das<br />
reações – 0,01% das transfusões) de outras causas,<br />
conforme representadas na Figura 2.<br />
Das duas reações transfusionais do tipo tardio<br />
(0,01% das transfusões), encontradas neste estudo,<br />
mostraram que ambas (100%) foram reação<br />
hemolítica tardia, caracterizando uma freqüência<br />
de reação transfusional a cada 10.140<br />
transfusões de sangue.<br />
41,2%<br />
11,8%<br />
REAÇÕES TRANSFUSIONAIS <strong>DO</strong><br />
TIPO AGUDA<br />
47,0%<br />
Reação alérgica<br />
Reação febril não hemolítica<br />
Reações por outras causas<br />
Figura 2 – Classificação das reações tranfunsionais do tipo imediata<br />
ocorridas no <strong>HUGV</strong><br />
DISCUSSÃO<br />
A freqüência de 0,10% de reação transfusional<br />
encontrada neste estudo foi abaixo da nossa<br />
expectativa, embora essa taxa demonstre uma<br />
certa homogeneidade do número de reação transfusional<br />
com o de unidades transfundidas no decorrer<br />
dos anos.<br />
A Fiocruz 3 estima que 1 a 3% das transfusões<br />
de sangue dão origem a uma reação transfusional.<br />
Este percentual sobe para 10% em pacientes<br />
politransfundidos. Uma freqüência de reação<br />
transfusional semelhante à encontrada neste estudo<br />
foi apresentada por Silva et al 4 de 0,17% em<br />
pacientes internados na Santa Casa de Belo Ho-<br />
rizonte, como também por Ditzel et al, 5 que mostraram<br />
uma taxa de 0,28% de reação transfusional<br />
ocorridas no Hemocentro de Curitiba. Ainda<br />
na cidade de Curitiba, Rocha 6 detectou que 1,53%<br />
dos pacientes do <strong>Hospital</strong> Erasto Gaertner gerou<br />
reação adversa à transfusão. Os autores das literaturas<br />
consultadas foram unânimes em afirmar<br />
que a subnotificação foi a principal causa da baixa<br />
taxa de reação transfusional encontrada nesses<br />
estudos. Segundo cálculos de Lopes; Amorim<br />
Filho, 3 uma em cada cinco transfusões induz a<br />
algum tipo de complicação; entretanto, nem sempre<br />
é fácil identificar uma reação transfusional,<br />
pois, muitas vezes, são tão leves que passam despercebidas,<br />
contribuindo para uma incidência subestimada.<br />
Neste estudo, considera-se que essa baixa<br />
representatividade foi influenciada por diversas<br />
causas, principalmente em função das subnotificações<br />
das reações transfusionais. A subnotificação<br />
é um problema grave e muito sério que leva a<br />
uma falsa impressão de harmonia no trabalho<br />
quando na verdade representa uma inconsistência<br />
da definição de caso por falta de conhecimento<br />
técnico-científico dos envolvidos na terapia<br />
transfusional. Portanto, se sugere a elaboração de<br />
estratégias para a capacitação da equipe médica<br />
nas identificações, investigações e notificações de<br />
reações transfusionais a fim de que possam ser<br />
introduzidas medidas corretivas e preventivas.<br />
A freqüência de reação transfusional por<br />
unidade de hemocomponente transfundido, neste<br />
estudo, foi muito abaixo do esperado, ocorrendo<br />
uma reação a cada 474 transfusões de concentrado<br />
de hemácias, 3.221 de transfusões de<br />
plasma fresco congelado e 7.990 de transfusões<br />
de concentrado de plaquetas. Essa diferença, mais<br />
uma vez, comprova a existência de subnotificações<br />
das reações transfusionais ocorridas no <strong>HUGV</strong>.<br />
Os dados encontrados neste estudo quanto<br />
ao tipo de reação transfusional ocorrida são<br />
similares ao da literatura; 2,6,7 entretanto, diferem<br />
quanto à incidência, que foi abaixo do descrito<br />
pelos autores consultados, sugerindo uma<br />
subnotificação dos casos no serviço. Addas-Car-<br />
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MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVAL<strong>DO</strong> CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA<br />
valho 8 confirma que a reação febril não hemolítica<br />
e a alérgica são as reações adversas associadas à<br />
transfusão mais freqüentes (em torno de 95% dos<br />
casos) e que a ocorrência destas reações transfusionais<br />
parece ser constante, pois não sofre grandes<br />
influências nem mesmo com a implantação<br />
de novas tecnologias.<br />
Das duas reações transfusionais do tipo tardias<br />
encontradas neste estudo foram reação<br />
hemolítica tardia. Por intermédio da análise estatística<br />
desses dados observou-se que houve uma<br />
taxa aumentada de reação do tipo tardia neste<br />
estudo, pois, segundo informações na literatura,<br />
relatam a ocorrência de uma reação em cerca de<br />
20.000 transfusões em pacientes politransfundidos,<br />
ou que já tiveram gestações com imunização<br />
a antígenos eritrocitários.<br />
Um fato interessante observado durante o<br />
desenvolvimento deste estudo foi o uso rotineiro<br />
de corticóides e anti-histamínico nos pacientes do<br />
<strong>HUGV</strong> antes das transfusões como medida<br />
profilática das reações transfusionais. Foram encontradas<br />
referências sobre o uso desses medicamentos<br />
nos pacientes com história prévia de alergia<br />
às transfusões, mas não como procedimento<br />
de rotina a todos os pacientes a serem transfundidos.<br />
Acredita-se que tal procedimento poderia<br />
mascarar as reações transfusionais e, conseqüentemente,<br />
também contribuir para a baixa freqüência<br />
dessas reações.<br />
CONCLUSÕES<br />
1. Neste estudo, observou-se uma baixa<br />
taxa de reação transfusional refletindo que existem<br />
dificuldades na monitorização e notificação<br />
das reações ocorridas neste hospital;<br />
2. As subnotificações podem ser responsáveis<br />
pela baixa representatividade encontrada<br />
neste trabalho, pois representa uma inconsistência<br />
da definição de caso por falta de conhecimento<br />
técnico-científico dos envolvidos na terapia<br />
transfusional;<br />
3. Há uma necessidade de se elaborar estratégias<br />
para a capacitação da equipe clínica nas<br />
identificações, investigações e notificações de reações<br />
transfusionais a fim de que possam ser<br />
introduzidas medidas corretivas e preventivas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. SOUZA, M. H. L., REGO, M. M. S. «Reações às<br />
Transfusões». In: Princípios de Hematologia e<br />
Hemoterapia. Disponível em: http://<br />
www.perfline.com/curso-sangue/<br />
sangue15.htm.<br />
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional<br />
de Vigilância Sanitária: Manual Técnico de<br />
Hemovigilância. 2.ª ed. Brasília: Ministério da<br />
Saúde, 2002.<br />
3. LOPES, M. E. D., AMORIM FILHO, L. «Reações<br />
Transfusionais». In: Textos de Apoio em<br />
Hemoterapia. V. 2. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000,<br />
p. 91-107.<br />
4. SILVA, D. R., CARVALHO, R. V. F., DIAS, R.<br />
P. «Incidência de reações transfusionais em pacientes<br />
atendidos pela agência transfusional da<br />
Hemominas na Santa Casa de Misericórdia de Belo<br />
Horizonte: importância da notificação dos casos».<br />
In: Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de<br />
Hematologia, 17, 1999. Foz do Iguaçu, Anais... Foz<br />
do Iguaçu: Série de Monografias da Escola Brasileira<br />
de Hematologia, 1999, v. 6. Sup. 1, p. 142.<br />
5. DITZEL, D. R. C., BALDANZI, G. R.,<br />
MEROLLI, R., ALMEIDA, P. T. R. «Incidência e<br />
tipo de reações transfusionais descritas em um<br />
<strong>Hospital</strong> Universitário». In: Congresso Brasileiro de<br />
Hematologia e Hemoterapia, 25, 2002, Salvador,<br />
Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia<br />
e Hemoterapia, 2002, p. 113.<br />
6. ROCHA, J. M. «Reação transfusional e a importância<br />
de um sistema de notificação». In: Congresso<br />
Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia,<br />
25, 2002, Salvador, Anais... Salvador: Revista<br />
Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2002, p.<br />
114.<br />
7. GOULART, G. L., COZAC, A. P., GONÇAL-<br />
VES, L. L., FERREIRA, O., ÂNGULO, I. L.,<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍO<strong>DO</strong> DE 2001 A 2003<br />
MIGUEL, C. E. «Reações transfusionais imediatas<br />
no ambulatório de transfusão do Hemocentro<br />
de Ribeirão Preto». In: Congresso Nacional do Colégio<br />
Brasileiro de Hematologia, 17, 1999, Foz do<br />
Iguaçu, Anais... Foz do Iguaçu: Série de<br />
Monografias da Escola Brasileira de Hematologia,<br />
1999, v. 6, Sup. 1, p. 143.<br />
8. ADDAS-CARVALHO, M. «Hemovigilância:<br />
avaliação do registro das reações transfusionais<br />
no período de 5 anos nos Hospitais Universitários<br />
da Unicamp». In: Congresso Brasileiro de<br />
Hematologia e Hemoterapia, 25, 2002, Salvador,<br />
Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia<br />
e Hemoterapia, 2002, p. 112.<br />
14<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />
AVALIA<br />
ALIAÇÃ<br />
ÇÃO CLÍNICO-CIRÚR<br />
O-CIRÚRGIC<br />
GICA <strong>DO</strong>S PACIENTES<br />
SUBMETI<strong>DO</strong>S A RESSECÇÃO PULMONAR POR<br />
BRONQUIECT<br />
ONQUIECTASIAS<br />
CLINICAL-SURGICAL EVALUATION OF PATIENTS WERE SUBMITTED TO THE LUNG RESSECTION BY<br />
BRONCHIECTASIS<br />
FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS LIMA 2 , JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO 3 ,<br />
CINTIA TEIXEIRA SOARES 4 , BRENA LUIZE FERREIRA 5<br />
RESUMO: A alta prevalência de doenças infecciosas e o caráter endêmico da tuberculose, em nossa região, determinam<br />
um alto índice de complicações pulmonares, dentre elas as bronquiectasias. Estes pacientes são acometidos de<br />
infecções recorrentes, além do transtorno social conseqüente à grande produção de secreção que leva a um comprometimento<br />
do estado nutricional. Objetivos: Analisar os aspectos epidemiológicos, clínicos e cirúrgicos dos pacientes<br />
submetidos à ressecção pulmonar para o tratamento de bronquiectasias. Método: Estudo retrospectivo dos<br />
pacientes operados no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> e <strong>Hospital</strong> Sociedade Beneficente Portuguesa de<br />
Manaus entre janeiro de 1993 a dezembro de 2003. Os dados foram tratados estatisticamente para a comparação<br />
entre algumas variáveis. Resultados: 70 pacientes foram avaliados, com a idade média de 43,6 anos e predominância<br />
do sexo feminino (66,6%). As etiologias mais comuns foram as seqüelas de processo tuberculoso prévio e as<br />
infecções pulmonares. A hemoptise foi o sinal mais freqüente e as bronquiectasias localizadas as mais encontradas.<br />
O tipo de ressecção mais utilizado foi a lobectomia. Não houve diferença significativa quanto às complicações pósoperatórias<br />
entre as bronquiectasias localizadas e as multissegmentares. O tempo médio de cirurgia foi de 287<br />
minutos e da retirada dos drenos 4,4 dias. A permanência hospitalar foi em média 16,6 dias. A mortalidade foi de<br />
1,85%. Conclusão: Houve um alto índice de complicações, provavelmente relacionadas ao processo inflamatório<br />
intenso encontrado na cavidade pleural destes pacientes, aliado ao comprometimento nutricional, o que acarretou<br />
um tempo de internação elevado.<br />
Palavras-chave: Bronquiectasia, Etiologia, Tratamento, Complicações.<br />
ABSTRACT: The high prevalence of infectious diseases and the endemic character of the tuberculosis, in our area,<br />
determine a high index of pulmonary complications, among them the bronchiectasis. These patients have recurrent<br />
infections, besides the social upset in consequence of the great secretion production that leads to a nutritional state<br />
compromise. Objectives: To analyze the epidemiological, clinical and surgical aspects of the patients submitted to<br />
the lung resection to the bronchiectasis treatment. Methods: A retrospective study of the patients operated at the<br />
University <strong>Hospital</strong> Getulio <strong>Vargas</strong> and Portuguese Beneficent Society of Manaus from January of 1993 to December<br />
of 2003. The data were studied statically to comparison between some variables. Results: 70 patients were evaluated<br />
and the average age was of 43,6 years and it was a female predominance (66,6%). The most common etiologies were<br />
the sequels of previous tuberculosis disease and the pulmonary infections. The hemoptysis was the most frequent<br />
sign and the localized bronchiectasis the most found. The most used resection type was the lobectomy. There was<br />
not significant difference in the postoperative complications between the localized bronchiectasis and the<br />
multisegmental. The average surgery time was 287 minutes and the chest tube was removed in 4,4 days. The usual<br />
duration of hospital staying was 16,6 days. The mortality was of 1,85%. Conclusion: There was a high index of<br />
complications, probably related to the intense inflammatory reaction in the pleural cavity of these patients with the<br />
nutritional compromise, what determined a high time of hospital staying.<br />
Key-words: Bronchiectasis, Etiology, Treatment, Complications.<br />
1<br />
Doutor Cirurgião torácico – Ufam/<strong>HUGV</strong>/UEA<br />
2<br />
Doutor Cirurgião torácico – Ufam/<strong>HUGV</strong>/UEA<br />
3<br />
Especialista Cirurgião torácico – <strong>HUGV</strong><br />
4<br />
Acadêmica de Medicina – bolsista Fapeam/UEA<br />
5<br />
Acadêmica de Medicina – UEA<br />
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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />
INTRODUÇÃO<br />
A bronquiectasia é uma doença caracterizada<br />
pela dilatação e distorção irreversível dos<br />
brônquios em decorrência da destruição dos<br />
componentes elástico e muscular de sua parede. 1<br />
Sua patogenia está relacionada à agressão<br />
infecciosa e deficiência na depuração das<br />
secreções brônquicas, associada à resposta imune<br />
deficiente do hospedeiro que promove a<br />
perpetuação do processo inflamatório local com<br />
posterior destruição da parede brônquica. 2<br />
Nos países com um alto índice de doenças<br />
infecciosas a possibilidade da ocorrência de<br />
bronquiectasias é maior, pois, além da agressão<br />
pulmonar ocasionada pelo processo infeccioso, há<br />
o fator de defesa do hospedeiro, usualmente<br />
alterados por problemas de desnutrição. Assim,<br />
no Primeiro Mundo, as bronquiectasias são<br />
geralmente decorrentes de doenças congênitas ou<br />
hereditárias e nos países em desenvolvimento<br />
causadas por processos infecciosos. 3<br />
Várias infecções pulmonares têm sido<br />
associadas ao desenvolvimento da bronquiectasia.<br />
Alguns indivíduos com provável infecção viral,<br />
ou por micoplasma, desenvolvem infecções<br />
respiratórias repetidas e bronquiectasias. Além da<br />
lesão tecidual direta, as seqüelas das infecções<br />
tuberculosas podem incluir linfadenopatia caseosa<br />
em torno dos brônquios ou vias aéreas<br />
lesionadas, que predispõe a colonização bacteriana<br />
e, conseqüentemente, a bronquiectasia. 4<br />
Nos achados clínicos, com freqüência, os<br />
pacientes relatam acessos constantes de<br />
«bronquite» que exigem séries repetidas de<br />
antibioticoterapia. Na maioria dos pacientes os<br />
sinais e sintomas consistem em tosse diária<br />
produtiva de escarro mucopurulento, hemoptise<br />
intermitente, pleurisia e dispnéia. 5<br />
As principais indicações e objetivos da<br />
cirurgia na bronquiectasia consistem na remoção<br />
do pulmão destruído parcialmente, eliminando<br />
os episódios infecciosos, eliminando a produção<br />
substancial de escarro purulento e eliminação das<br />
vias aéreas bronquiectásicas que causam<br />
hemorragias e abrigam microrganismos resistentes.<br />
6<br />
O tratamento cirúrgico se baseia em<br />
algumas premissas: doença com distribuição<br />
segmentar ou lobar e unilateral; sintomas<br />
persistentes ou recorrentes, quando o tratamento<br />
clínico é interrompido e hemoptise importante.<br />
Algumas séries de casos estudados, nos últimos<br />
30 anos, mostram uma morbidade de 3-33% e<br />
uma letalidade de 0,4-8,3%. 7<br />
O objetivo imediato da extirpação cirúrgica<br />
é a remoção dos segmentos ou lobos mais<br />
comprometidos, com preservação das áreas não<br />
supurativas ou sem sangramento. Ressecções dos<br />
lobos médio e inferior são realizadas com maior<br />
freqüência. As complicações são empiema,<br />
hemorragia, escape de ar prolongado e expansão<br />
insuficiente do pulmão remanescente em função<br />
da atelectasia persistente ou supuração. 8<br />
A nossa região é uma área endêmica em<br />
tuberculose, com muitos pacientes com seqüelas<br />
pulmonares passíveis de tratamento cirúrgico, e<br />
em doenças infecciosas, o que determina um<br />
grande número de pacientes candidatos à cirurgia<br />
para o tratamento de bronquiectasias. Portanto,<br />
o objetivo deste trabalho é a avaliação clínica e<br />
cirúrgica dos pacientes submetidos ao tratamento<br />
cirúrgico de bronquiectasias no Serviço de<br />
Cirurgia Torácica.<br />
CASUÍSTICA E MÉTO<strong>DO</strong><br />
Trata-se de um de estudo retrospectivo por<br />
meio da revisão de prontuário dos pacientes<br />
operados no <strong>Hospital</strong> Sociedade Beneficente Portuguesa<br />
(SBP) e <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />
<strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>), no período de janeiro de 1993 a<br />
dezembro de 2003, de ambos os sexos, com o<br />
diagnóstico de bronquiectasia.<br />
O critério de exclusão utilizado foi<br />
ausência de informação nos prontuários que<br />
impossibilitava o preenchimento do protocolo<br />
utilizado no estudo. O trabalho foi submetido e<br />
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade<br />
Federal do Amazonas.<br />
16<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />
A revisão dos prontuários permitiu o<br />
preenchimento de um protocolo com os seguintes<br />
itens: perfil epidemiológico; diagnóstico préoperatório,<br />
etiologia; tipo de bronquiectasia, tipo<br />
de ressecção cirúrgica, tempo de permanência na<br />
UTI, tempo para a retirada de dreno torácico,<br />
complicações, tempo de internação e óbito.<br />
Os dados foram analisados por meio de<br />
análise estatística descritiva para as variáveis.<br />
Para avaliar a associação entre as variáveis foi<br />
utilizado o teste do qui-quadrado com nível de<br />
5% de significância.<br />
CONDUTA <strong>DO</strong> SERVIÇO DE CIRURGIA<br />
TORÁCICA<br />
A cirurgia mais comumente realizada é a<br />
lobectomia com ligadura em seqüência da artéria,<br />
veia e brônquio. Sempre utilizamos a ligadura<br />
dupla dos vasos, com a segunda ligadura<br />
transfixante com seda 3-0. O brônquio é suturado<br />
com fio absorvível 4-0, com sutura em figura de<br />
8. Para as lobectomias inferiores utilizamos um<br />
dreno pleural e para as superiores utilizamos dois<br />
drenos pleurais.<br />
Normalmente o pós-operatório é realizado<br />
na Unidade de Terapia Intensiva no primeiro dia<br />
de pós-operatório e após o paciente é enviado<br />
para a enfermaria de Cirurgia Torácica.<br />
RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
As indicações para o tratamento de<br />
bronquiectasias são a infecção pulmonar de<br />
repetição e a hemoptise. Uma vez que o paciente<br />
é atendido no Ambulatório, é solicitado uma<br />
interconsulta com o Serviço de Pneumologia para<br />
a maximização do tratamento clínico nos casos<br />
de infecção pulmonar. Em caso de processos<br />
infecciosos ativos dos seios nasais ou na cavidade<br />
oral com acometimento dos dentes ou gengiva, o<br />
paciente é encaminhado para tratamento antes<br />
da cirurgia.<br />
A prova de função pulmonar segue as<br />
orientações baseadas nos achados espirométricos<br />
e naqueles casos de função pulmonar limítrofe,<br />
indicamos a realização da cintilografia pulmonar<br />
qualitativa e quantitativa para determinar o grau<br />
de função pulmonar remanescente no pósoperatório.<br />
Com esta conduta conseguimos<br />
avaliar adequadamente cerca de 90% dos<br />
pacientes candidatos a cirurgia.<br />
A anestesia sempre é realizada com<br />
entubação seletiva, com tubo de dupla luz.<br />
Quando há dificuldade para tal, realizamos a<br />
entubação seletiva com tubo simples orientado<br />
por broncoscopia. Em dois casos desta série<br />
operamos o paciente em posição de Overholt –<br />
decúbito ventral – para evitar a aspiração de<br />
secreção contralateral. É utilizado a antibioticoterapia<br />
profilática na indução anestésica.<br />
Foram analisados os prontuários de 70<br />
pacientes submetidos à ressecção pulmonar por<br />
bronquiectasia. Houve predominância do sexo<br />
feminino (66,6%) e a idade média foi de 43,6 anos.<br />
O fator etiológico mais freqüentemente<br />
encontrado neste trabalho foi a seqüela de tuberculose<br />
(34,2%), seguido de processos infecciosos<br />
(Tabela 1). Observa-se um grande número de<br />
casos em que não foram identificados a etiologia,<br />
alguns devem ser decorrentes da impossibilidade<br />
de definir a etiologia com as informações do<br />
paciente.<br />
Tabela 1 – Etiologia e tipo de bronquiectasias nos pacientes<br />
submetidos à ressecção pulmonar<br />
Etiologia<br />
Turbeculose<br />
Infecção<br />
Respiratória<br />
Discinesia<br />
Ciliar<br />
Sinusite<br />
Corpo estranho<br />
Não identificada<br />
Total<br />
Localizada<br />
n %<br />
19<br />
5<br />
2<br />
-<br />
-<br />
21<br />
47<br />
40,4<br />
10,6<br />
4,2<br />
-<br />
-<br />
44,7<br />
100<br />
multissegmentar<br />
n<br />
5<br />
3<br />
1<br />
1<br />
1<br />
12<br />
23<br />
%<br />
40,4<br />
10,6<br />
4,2<br />
-<br />
-<br />
44,7<br />
100<br />
Quanto ao tipo de bronquiectasia, localizada<br />
ou multissegmentar, observa-se uma<br />
predominância do tipo localizada (67,1%) quando<br />
comparado com a multissegmentar. Os sinais e<br />
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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />
sintomas mais freqüentes nesta amostra foram a<br />
hemoptise (54,3%), a tosse (38,5%) e a infecção<br />
de repetição (11,4%) (Tabela 2).<br />
Tabela 2 – Sinais e sintomas em pacientes submetidos à<br />
ressecção pulmonar por bronquiectasia com e sem<br />
turbeculose<br />
Sinais e Sintomas<br />
Hemoptise<br />
Tosse produtiva<br />
Infecção respiratória<br />
Refluxo gastroesofágico<br />
Emagrecimento<br />
ETIOLOGIA<br />
Turbeculose Não turbeculose<br />
17 (24,3%)<br />
9 (12,9%)<br />
3 (4,3%)<br />
0 (0%)<br />
1 (1,4%<br />
21 (30,0%)<br />
18 (25,7%)<br />
5 (7,1%)<br />
1 (1,3%)<br />
0 (0%)<br />
Quanto ao tratamento cirúrgico, os tipos<br />
de ressecções realizadas foram assim distribuídos:<br />
lobectomia 72,6%, bilobectomia em 9,6%,<br />
lobectomia média mais lingulectomia em 6,8%,<br />
pneumectomia em 5,5%, segmentectomia em<br />
2,7%, lobectomia superior esquerda mais<br />
lobectomia média em 1,4% e lobectomia média<br />
mais lobectomia inferior em 1,4% dos pacientes<br />
(Tabela 3). Observa-se um número maior de<br />
ressecções em relação ao número de casos, pois<br />
três pacientes realizaram mais de uma cirurgia<br />
para ressecção pulmonar para o tratamento de<br />
bronquiectasias.<br />
torácica, febre e hipertensão arterial sistêmica<br />
também em 1 paciente (Tabela 4).<br />
Tabela 4 – Complicações ocorridas nos pacientes operados<br />
TIPOS<br />
Fuga aérea<br />
Pneumonia<br />
Sangramento<br />
Coágulo intrapleural<br />
Hematoma de parede<br />
HAS<br />
Empiema<br />
Dor torácica<br />
Febre<br />
Total<br />
Nº de complicações<br />
9<br />
4<br />
3<br />
2<br />
2<br />
2<br />
1<br />
1<br />
1<br />
25<br />
%<br />
12,3<br />
5,4<br />
4,2<br />
2,7<br />
2,7<br />
2,7<br />
1,4<br />
1,4<br />
1,4<br />
34,2<br />
As complicações pós-operatórias foram<br />
mais evidentes nos pacientes sem passado de tuberculose<br />
quando comparado aos pacientes com<br />
passado de tuberculose, porém este dado não foi<br />
estatisticamente significante (p=0,96) (Tabela 5).<br />
Tabela 5 – Complicações pós-operatórias com relação à<br />
etiologia<br />
Complicações<br />
Sem<br />
Com<br />
Total<br />
ETIOLOGIA<br />
TB<br />
Não TB<br />
15 (34,1%) 29 (65,9%)<br />
9 (34,6%) 17 (65,4%)<br />
24 (34,3%) 46 (65,7%)<br />
Total<br />
44 (100%)<br />
26 (100%)<br />
70 (100%)<br />
Tabela 3 – Tipos de ressecção pulmonar utilizada<br />
TIPOS DE RESSECÇÃO<br />
Tipos<br />
Nº de<br />
ressecção<br />
%<br />
Não houve diferença significativa quanto<br />
às complicações pós-operatórias entre as bronquiectasias<br />
localizadas e as segmentares (p= 0,81)<br />
(Tabela 6).<br />
Lobectomia<br />
Bilobectomia<br />
Lobectomia média mais lingulectomia<br />
Pneumectomia<br />
Segmentectomia<br />
Lobectomia sup. Esq. mais Lobectomia média<br />
Lobectomia média mais Lobectomia inferior<br />
Total<br />
53<br />
7<br />
5<br />
4<br />
2<br />
1<br />
1<br />
73<br />
72,6<br />
9,6<br />
6,8<br />
5,5<br />
2,7<br />
1,4<br />
1,4<br />
100<br />
Tabela 6 – Complicações pós-operatórias com relação à<br />
localização<br />
Localização<br />
Complicação<br />
Total<br />
Localizada 30 (63,8%) 17 (36,2%) 47 (100%)<br />
Multissegmentar 14 (60,9%) 9 (34,1%) 23 (100%)<br />
Total<br />
44 (62,9%) 26 (37,1%) 70 (100%)<br />
Observamos complicações em 34,2% dos<br />
pacientes, sendo as mais comuns o escape aéreo<br />
em 9 pacientes, pneumonia em 4, sangramento<br />
em 3, coágulo intrapleural em 2, hematoma de<br />
parede em 2 pacientes, empiema em 1, dor<br />
Foram encontradas doenças associadas em<br />
18% dos pacientes, dentre elas: sinusite, asma,<br />
hipertensão e miastenia gravis. O tempo médio<br />
da cirurgia foi de 287 minutos (4,7h), o tempo<br />
para a retirada do dreno torácico foi de 4,4 dias e<br />
18<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />
o tempo de internação no pós- operatório dos<br />
pacientes operados foi de 16,6 dias. A mortalidade<br />
foi de 1,85%.<br />
DISCUSSÃO<br />
As bronquiectasias adquiridas podem<br />
acometer o paciente em qualquer idade, desde que<br />
ele seja submetido a condições desencadeantes<br />
durante alguma fase de sua vida, tais como:<br />
processos infecciosos, aspiração de corpo<br />
estranho e outros. Por outro lado, quando a<br />
etiologia é congênita, a ocorrência dos sintomas<br />
ocorre em uma faixa etária mais jovem, como, por<br />
exemplo, nos casos de fibrose cística. 9 A faixa<br />
etária média encontrada em nosso trabalho foi<br />
de 42,6 anos, semelhante ao em outras séries. 10<br />
No passado, as infecções de infância,<br />
sarampo e coqueluche, eram as principais causas<br />
de bronquiectasias em adultos jovens, porém<br />
houve um declínio acentuado nesta incidência<br />
com a implantação de programas de vacinação<br />
efetivos. 3 Entretanto, em nosso meio, a tuberculose<br />
é considerada uma doença endêmica e<br />
determina uma alta incidência de complicações<br />
pulmonares como as bronquiectasias. Em nosso<br />
estudo, a tuberculose foi a principal causa de<br />
bronquiectasias, diferentemente do apresentado<br />
por outros autores 10,11 que demonstraram o<br />
antecedente de infecção pulmonar na infância<br />
como o fato etiológico mais comum.<br />
A etiologia desconhecida das bronquiectasias,<br />
neste estudo, foi de 48,2%, um índice elevado,<br />
porém esta dificuldade foi relatada por Gomes e<br />
cols. (2000), que não identificaram a etiologia em<br />
16,4%, um valor inferior ao nosso, talvez pelo<br />
caráter prospectivo do seu estudo.<br />
O sinal mais freqüente na nossa casuística<br />
foi a hemoptise, diferente de outras séries (10) nas<br />
quais os sintomas de tosse e infecção pulmonar<br />
de repetição são os mais freqüentes. A maior<br />
ocorrência de hemoptise em nossa casuística devese<br />
ao fato de operarmos pacientes em que os<br />
sintomas são mais alarmantes, como a hemoptise,<br />
visto a alta demanda do serviço com o baixo grau<br />
de resolutividade, conseqüente às condições do<br />
<strong>Hospital</strong> Universitário, que não comporta um volume<br />
maior de cirurgias de grande porte,<br />
impossibilitando a realização de procedimentos<br />
cirúrgicos como nos casos de infecções recorrentes.<br />
O advento de antibióticos potentes e o<br />
tratamento precoce das infecções pulmonares<br />
diminuíram a incidência de bronquiectasias,<br />
porém há o espaço para o tratamento cirúrgico<br />
como nas bronquiectasias localizadas, nas<br />
obstruções brônquicas e na resistência ao bacilo<br />
da tuberculose. 3<br />
Na prática médica os resultados são significativamente<br />
melhores nos pacientes tratados<br />
cirurgicamente. Annest e cols. (1982) relataram<br />
um índice de cura de 46% de pacientes<br />
submetidos à ressecção pulmonar, no seguimento<br />
de 40 pacientes, enquanto somente 2% dos<br />
pacientes tratados clinicamente ficaram<br />
assintomáticos. Estes resultados, aliados à redução<br />
da mortalidade cirúrgica para cifras próximas de<br />
1%, contribuíram definitivamente para a<br />
retomada do espaço da cirurgia no tratamento<br />
da bronquiectasia. 12<br />
Outro estudo comparativo 10 entre doentes<br />
operados e pacientes tratados clinicamente<br />
demonstrou a superioridade da cirurgia. No pósoperatório<br />
imediato verificou-se transitoriamente,<br />
em todos os casos, 88 pacientes que foram<br />
submetidos à ressecção pulmonar, apreciável<br />
redução de secreções broncopulmonares. Houve<br />
complicações maiores em 12 (13,6%), cinco<br />
pacientes apresentaram pneumonia, três<br />
pneumotórax, dois empiemas e dois coágulos<br />
intrapleurais. Não foi registrado nenhum óbito<br />
entre os pacientes cirúrgicos. O seguimento destes<br />
mostrou que ficaram praticamente livres de<br />
secreções e infecções broncopulmonares. A<br />
maioria dos pacientes cirúrgicos (84,0%) não<br />
necessitou ser reinternada, e somente um deles<br />
foi readmitido mais de duas vezes no pósoperatório.<br />
Os pacientes tratados clinicamente<br />
foram internados repetidas vezes (dois deles mais<br />
de 10 vezes), ou freqüentemente tiveram de ser<br />
atendidos ambulatorialmente.<br />
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AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA <strong>DO</strong>S PACIENTES SUBMETI<strong>DO</strong>S À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS<br />
O sucesso do tratamento cirúrgico está<br />
diretamente relacionado à adoção rigorosa dos<br />
critérios de operabilidade. Nos casos em que a<br />
ressecção completa de todos os segmentos<br />
dilatados é possível, os resultados cirúrgicos são<br />
excelentes. Nos pacientes com doença<br />
multissegmentar é de fundamental importância<br />
que se determine claramente no préoperatório<br />
a extensão da ressecção a ser feita,<br />
porque é difícil fazer tal avaliação durante a<br />
cirurgia (6) . O objetivo da cirurgia é remover<br />
todos os segmentos comprometidos ao mesmo<br />
tempo em que se preserva o máximo de função<br />
pulmonar. 13<br />
O tipo de ressecção pulmonar vai depender<br />
da localização e comprometimento pulmonares<br />
pela bronquiectasia. A ressecção mais comum é a<br />
dos segmentos basilares juntamente com o lobo<br />
médio do pulmão direito ou a língula do pulmão<br />
esquerdo.<br />
Os resultados da cirurgia na doença localizada<br />
serão sempre melhores do que na doença<br />
difusa ou multissegmentar. 8 Esse fato reflete o<br />
resultado obtido em nosso estudo quanto à<br />
prevalência de bronquiectasias localizadas nos<br />
pacientes submetidos à ressecção pulmonar.<br />
As complicações pós-operatórias incluem<br />
fuga de ar prolongada, fístula broncopleural,<br />
empiema e pneumonia por contaminação intraoperatória<br />
do pulmão normal. 14<br />
Em conclusão, a análise desta amostra<br />
revelou, em nossa realidade, que a bronquiectasia<br />
acomete principalmente mulheres e indivíduos<br />
em uma faixa etária relativamente jovem. A<br />
principal etiologia da bronquiectasia foi a tuberculose<br />
e os achados clínicos mais encontrados<br />
foram a hemoptise e a tosse. Houve um grande<br />
número de complicações, mas isto é um achado<br />
esperado, visto que os pacientes operados<br />
tinham seqüelas de tuberculose ou comprometimento<br />
nutricional acentuado. A cirurgia é um<br />
método de tratamento definitivo na bronquiectasias<br />
localizadas e com baixa mortalidade<br />
quando devidamente indicada.<br />
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C. PORTO, N. S. CAMARGO, J. P. Compêndio de<br />
Pneumologia. 4.ª ed. São Paulo: Fundo Editorial<br />
BYK, 1988, p. 195-206.<br />
2. BETHLEM, N. et al. «Supurações broncopulmonares».<br />
In: BETHLEM, N. Pneumologia. 4.ª ed.<br />
São Paulo: Atheneu, 1995, p. 371-377.<br />
3. BARKER, A. F. «Medical Progress:<br />
Bronchiectasis». N. Eng J. Med, 2002, 346(18):<br />
1.383.<br />
4. LIMA, L. S., BOGOSSIAN, M. «Avaliação da<br />
resposta clínica ao uso de antibióticos por via oral<br />
e via inalatória em pacientes portadores de bronquiectasias».<br />
Assoc. Méd. Bras., 1999, 45(3): 229-<br />
236.<br />
5. ROMALDINI, H. «Supurações Pulmonares».<br />
In: PRA<strong>DO</strong>, F. C., RAMOS, J. A., VALLE, J. R.<br />
Atualização Terapêutica. 21.ª ed. São Paulo. Ed.<br />
Artes Médicas, 2003, p. 1.461-65.<br />
6. SCHNEITER, D., MEYER, N., LARDINOIS, D.<br />
et. al. «Surgery for non-localized bronchiectasis».<br />
Brit. J. Surg, 2005, 92: 836-39.<br />
7. GUIMARÃES, A. G. «Bronquiectasias: uma<br />
abordagem baseada em evidências». In: AIDÊ, et.<br />
al. Pneumologia: aspectos práticos e atuais. Rio de<br />
Janeiro: Revinter, 2001, p. 123-129.<br />
8. MAZIÈRES, J., MURRIS, M., DIDIER, A. et. al.<br />
«Limited operations for severe multisegmental<br />
bilateral bronchiectasis». Ann Thorac Surg, 2003;<br />
75: 382-87.<br />
9. WHEELER, D. «Bronchiectasis: a brief review».<br />
J. Resp. C. S. Med. Fall, 2004, 2: 28.<br />
10. MOREIRA, J. S., PORTO, N. S., CAMARGO,<br />
J. J. P. et al. «Bronquiectasias: aspectos diagnósticos<br />
e terapêuticos: estudo de 170 pacientes». J.<br />
Pneumol, 2003, 29(5): 258-263.<br />
11. GOMES, N. A., MEDEIROS, M. L., GIFONI,<br />
J. M. M. «Bronquiectasia localizada e<br />
multissegmentar: perfil clínico-epidemiológico e<br />
20<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA<br />
resultado do tratamento cirúrgico em 67 casos».<br />
J. Pneumol, 2000, 27(1): 1-6.<br />
12. ANNEST, L. S., KRATZ, J. M., CRAWFORD,<br />
F. A. JR. «Current results of treatment of<br />
bronchiectasis». J. Thorac Cardiovasc Surg, 1982,<br />
83(4): 546-50.<br />
13. SANCHO, L. M. N., PASCHOALINI, M. S.,<br />
VICENTINI, F. C. et. al. «Estudo descritivo do<br />
tratamento cirúrgico das bronquiectasias». J.<br />
Pneumol, 1996, 22(5): 241-6.<br />
14. MERCURIO, N. S., ALVES JÚNIOR, A.,<br />
COSTA, G. P. R. et. al. «Tratamento cirúrgico das<br />
bronquiectasias. J. Pneumol, 1989, 15(2): 82-8.<br />
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DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIA<br />
O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO<br />
INICIANTE<br />
THE DEPRESSED FACING THE STARTER CLINICAL INTERVIEWER<br />
DAVI ARAÚJO DA CUNHA 1 , FABIOLA GOUDINHO DE LIMA 1 , LESIRMY BINDÁ SADALA 1 ,<br />
ROSÂNGELA DE LIMA GIL 1 , SUELY DA SILVA MAIA 1<br />
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem do processo de entrevista com pacientes<br />
deprimidos, e, ao conhecer mais de perto este processo, à luz da literatura existente, propor contribuições no sentido<br />
de levar a uma otimização desta técnica, que é, sem dúvida, imprescindível em qualquer situação interventiva. O<br />
entrevistador clínico iniciante tem uma responsabilidade muito grande, e muito do seu pouco preparo será exigido.<br />
As atuais formas de receber o paciente deprimido para a entrevista são abordadas, objetivando chegar à singularidade<br />
deste paciente. Conceituando sucintamente o processo de entrevista, o estado depressivo e como entrevistar<br />
tal paciente, pretende-se com este artigo torná-lo fonte auxiliar para os que diariamente lidam com o sofrimento<br />
mental, contribuindo para o levantamento de novos questionamentos e apontar novos caminhos. Com isto, esperase<br />
que o jovem psicólogo utilize-se da entrevista clínica como uma base segura ao se deparar com o paciente<br />
deprimido em suas primeiras entrevistas clínicas.<br />
Palavras-chave: Entrevista clínica, depressão, paciente deprimido.<br />
ABSTRACT: The present paper has as an objective describing the process of interview with depressed patients,<br />
and with a closer knowledge of this process, with the existent literature, offers contributions to carry through to an<br />
optimization of this technique, which is with no doubts, indispensable in anyone situation of intervention. The<br />
Clinical Starter Interviewer has a larger responsibility and a lot of his/her short preparation will be full required.<br />
The current forms of receiving the depressed patient for an interview are utilized, objecting the discovery of the<br />
singularity of this patient. Considering, clearly, the interview process, the depressive state and how to interview<br />
this patient, this article aims to make it as an auxiliary source for the ones who works daily with the mental<br />
suffering, contributing to the discovery of new questions and to point new ways of treatment. Thus, it hopes that the<br />
youth Psychologist makes use of the Clinical Interview for safe basis when facing the depressed patient in the first<br />
Clinical Interviews.<br />
Key-words: Clinical Interview, Depression, Depressed Patient.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Atualmente se fala muito em depressão.<br />
Este transtorno tem merecido a preocupação de<br />
muitos estudiosos, pesquisadores e pessoas comuns,<br />
todas com manifestada intenção de conhecer<br />
para prevenir. A década de 90, que ficou conhecida<br />
como a «década do cérebro», propiciou<br />
um significativo aumento de pesquisa e descobertas<br />
relacionadas à forma de funcionamento cerebral,<br />
resultando em tratamentos mais eficazes e<br />
prognósticos mais otimistas. Contudo, sabe-se<br />
que, desde muito tempo, a depressão tem ocupado<br />
espaço na literatura, seja ela científica, religiosa<br />
ou mitológica. Somente no Brasil são mais de<br />
dez milhões de deprimidos,¹ sendo atualmente este<br />
transtorno a quarta causa de incapacitação no<br />
mundo, e a previsão é de que em 2020 seja a segunda,<br />
perdendo apenas para as doenças<br />
coronarianas.²<br />
Com um problema desta magnitude, cada<br />
vez fica mais desafiante a abordagem e o tratamento<br />
da depressão, principalmente quando se<br />
sabe que os fatores causais ainda não foram isolados,<br />
recebendo o seu surgimento diversas explicações.³<br />
1<br />
Acadêmicos do 10.º Período de Psicologia do Centro Universitário do Norte – Uninorte.<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO INICIANTE<br />
Do ponto de vista psicopatológico, os quadros<br />
depressivos têm como elemento central o humor<br />
triste. Contudo, tais quadros caracterizamse<br />
por uma multiplicação de sintomas afetivos,<br />
instintivos e neurovegetativos, ideativos e<br />
cognitivos, relativos à autovaloração, à volição e<br />
a psicomotricidade. 4<br />
Com isto, ganha fundamental importância<br />
uma entrevista clínica em que se prioriza o<br />
indivíduo e tem-se segurança ao usar esta técnica.<br />
Benjamim 5 trata a entrevista como diálogo<br />
sério e com propósito, fazendo já do primeiro<br />
encontro do clínico com um paciente deprimido<br />
uma oportunidade para importantes<br />
direcionamentos, a partir da fala do paciente ou<br />
de seus acompanhantes.<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
A Entrevista Clínica<br />
Othmer & Othmer, 6 tratando especificamente<br />
da entrevista clínica, e mais especificamente<br />
ainda da entrevista que solicitam profissionais em<br />
saúde mental, afirmam ser natural certo grau de<br />
incerteza, desconfiança e ansiedade por parte do<br />
paciente, cabendo ao clínico sentir-se à vontade<br />
para depois deixar seu entrevistado à vontade.<br />
Considerando que é um outro ser humano que<br />
está ali, com certeza espera ser compreendido em<br />
seus questionamentos e anseios, uma conversa<br />
introdutória leve, portanto, ajuda você e o paciente<br />
a se acalmarem e a superarem qualquer constrangimento<br />
inicial.<br />
Ainda segundo os autores, antes mesmos<br />
de se iniciar uma conversa, a comunicação já teve<br />
início por meio de sinais que são difíceis de controlar.<br />
O conceito de sinal aqui é aquela linguagem<br />
não falada verbalmente, mas que é expressa pelo<br />
rosto, pelo corpo e inflexão da voz, somente para<br />
citar alguns exemplos. Em um território estranho,<br />
o paciente estará mais comunicativo gestualmente<br />
e o entrevistador perspicaz procurará saber um<br />
pouco deste cliente por intermédio da observação,<br />
por exemplo, da distância que ele chegou de<br />
você, ou quanto ele ficou próximo da porta. Houve<br />
evitação no aperto de mão Sua mesa é um<br />
grande obstáculo para ele Pode ocorrer, entretanto,<br />
que ele seja capaz de ligar o computador ou<br />
colocar os pés na escrivaninha. 6<br />
Nesta fila de tênues limites e seguindo o<br />
pensamento acima exposto, a entrevista clínica<br />
envolve ainda outros pontos igualmente fundamentais,<br />
não somente para o paciente se sentir à<br />
vontade, mas também para perceber que aquela<br />
pessoa que está com ela tem competência para<br />
ajudá-la. A competência, vista por este ângulo,<br />
tem como metas principais identificar o sofrimento<br />
do paciente, avaliar este sofrimento, responder<br />
com simpatia, avaliar a capacidade de insight,<br />
separar a parte doente do paciente, apelando<br />
para o que está intacto, demonstrar conhecimento,<br />
inspirar esperança, estabelecer liderança, e<br />
equilibrar papéis. A percepção de que a tarefa é<br />
árdua salta a vista e deve impulsionar o clínico<br />
para uma capacitação cada vez maior. Estes critérios,<br />
quando seguidos ou almejados, tendem<br />
preparar o entrevistador clínico para uma coleta<br />
de dados muito rica, onde o foco foi estabelecido<br />
e os objetivos estão bem nítidos e plausíveis.<br />
A entrevista com o paciente deprimido<br />
A depressão refere-se tanto a um sintoma<br />
quanto a um grupo de enfermidades que possuem<br />
determinados traços em comum. Como sintoma,<br />
a depressão caracteriza-se por um tom afetivo<br />
de tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo<br />
e redução da auto-estima. Sua segurança<br />
parece ameaçada. Dados diagnósticos mundialmente<br />
aceitos podem ser encontrados no DSM,<br />
em sua quarta edição. 7<br />
De acordo com Mackinnon, 8 o deprimido<br />
não só se sente mal como é também, tipicamente,<br />
seu pior inimigo, podendo servir-se dessa frase<br />
específica ao descrever a si próprio. Tendências<br />
autodestruidoras ou masoquistas, assim como<br />
depressivas, coexistem com freqüência no mesmo<br />
indivíduo. O suicídio, uma complicação dramática<br />
de grave depressão, é fenômeno de im-<br />
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portância crucial na compreensão do funcionamento<br />
psicológico da pessoa deprimida.<br />
A entrevista com o paciente deprimido<br />
exige participação ativa do entrevistador.<br />
Comumente, o paciente fala de sua dependência,<br />
embora o caráter de seu distúrbio deixe-o<br />
pessimista a respeito do resultado do tratamento,<br />
ou ainda fique em uma posição passiva ou mesmo<br />
imóvel, com pouquíssima intenção em colaborar,<br />
exigindo do entrevistador uma postura diferenciada<br />
de atendimento.<br />
Dificilmente o paciente gravemente deprimido<br />
costuma vir desacompanhado à entrevista.<br />
Normalmente é o amigo ou parente, que o acompanha,<br />
que começa a conversa. Embora seja importante<br />
em algum momento da primeira entrevista<br />
o clínico conversar com o acompanhante,<br />
este deve entrar com o paciente somente em situações<br />
extremas, quando no caso do paciente deprimido<br />
não conseguir falar, por exemplo.<br />
Caso a depressão não seja grave, o paciente<br />
pode chegar sozinho, porém sua postura,<br />
aparência, expressão facial, movimentos e as qualidades<br />
físicas de sua voz revelam seu problema<br />
já bem no começo de sua fala. Embora seja mais<br />
comum a demonstração de tristeza e abatimento,<br />
sua cólera pode surgir no decorrer da entrevista.<br />
Sua dependência se manifesta na espera por<br />
escolher uma cadeira. Neste momento não é prudente<br />
fazer interpretações, pois pode funcionar<br />
como um mau acolhimento.<br />
Em função da lentificação de seus processos<br />
mentais o paciente responderá de forma curta,<br />
monossilábica e repetitiva, e o entrevistador<br />
deve demonstrar interesse, apoiando seu estado<br />
de ânimo ao invés de provocá-lo. Neste momento<br />
o entrevistador também cuidará para não demonstrar<br />
o que pode parecer para o paciente sinal<br />
de que ele não tolera sua melancolia. Devem<br />
ser evitados, por isso, comentários joviais e humorísticos,<br />
um ritmo demasiado rápido ou enérgico<br />
ou ainda um sorriso. O entrevistador deve<br />
conceder tempo para que o paciente responda.<br />
A exploração dos sintomas depressivos só<br />
será alcançada provavelmente a partir da segunda<br />
entrevista, pois o paciente fica mais à vontade<br />
quando é orientado pelo entrevistador. O<br />
entrevistador terá, então, a responsabilidade de,<br />
ao mesmo tempo em que organiza a entrevista,<br />
proporcionar aprovação para que o paciente participe,<br />
sem forçá-lo, para que não se sinta frustrado,<br />
incompetente e, portanto, mais deprimido. As<br />
pessoas moderadamente deprimidas choram com<br />
freqüência, enquanto as deprimidas mais graves<br />
dificilmente choram. Se há choro, o entrevistador<br />
espera com simpatia, oferecendo quem sabe um<br />
lenço (ou vários). Pode acontecer de o paciente<br />
tentar ignorar as próprias lágrimas, neste caso o<br />
entrevistador pode estimular a aceitar seus sentimentos,<br />
ou mesmo perguntar a respeito do que<br />
está se sentindo mal. Deve prosseguir a entrevista<br />
quando sentir que o paciente é capaz de continuar,<br />
pois esperar demasiado pode levar a novas<br />
lágrimas.<br />
Existem outros aspectos da conduta do deprimido<br />
que ele pode tentar esconder. O mais destacado<br />
é sua agressão. O entrevistador clínico,<br />
principalmente o iniciante, deve então considerar<br />
a possibilidade de ocorrer tal comportamento<br />
e utilizá-lo de forma a clarificá-lo e, no momento<br />
certo, manifestar aos poucos estes comportamentos<br />
a fim de torná-los como parte do processo<br />
terapêutico.<br />
Tão importante quanto à história do sintoma<br />
é conhecer o restante da vida do paciente.<br />
Laços importantes por vezes são deixados de lado<br />
e, neste momento, podem ser ventilados. Os comentários<br />
concretos prematuros devem ser deixados<br />
de lado, pois tendem mais levar a negação,<br />
motivado pela vergonha daquilo que sente, que<br />
verá como fraqueza e tenderá a dissimulá-lo.<br />
Outro fator importante na entrevista com<br />
paciente deprimido é a investigação do risco de<br />
suicídio. A conduta suicida constitui atalho final<br />
comum que brota de muitos tipos de pensamentos,<br />
fantasias e impulsos. O entrevistador clínico<br />
deve, de forma cautelosa, investigar quão seriamente<br />
o paciente tem pensado em suicídio, se já<br />
fez projetos, em caso afirmativo, que tipos de projetos,<br />
quais os passos em sua realização e sua ati-<br />
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tude ante a esses sentimentos. Ao mesmo tempo,<br />
ele investiga o significado do suicídio para esta<br />
pessoa em particular. Quais os resultados inconscientes<br />
do ato (deseja matar você ou seu problema).<br />
O entrevistador clínico principiante, embora<br />
temendo ofender o paciente, deve fazer tal investigação,<br />
pois demonstrará interesse em seu problema<br />
e de fato estará levando-o a sério. Pode ainda<br />
diminuir a ansiedade do paciente que teme<br />
em levantar esta questão ou se envergonha dela.<br />
Princípios do tratamento<br />
Mackinnon 8 baseia o tratamento do deprimido<br />
em dois princípios fundamentais. O primeiro<br />
é o alívio do sofrimento e da culpa, o estímulo<br />
da esperança e a proteção do paciente contra o<br />
dano que causa a si mesmo: em resumo, a terapia<br />
de apoio. Para esta fase pode-se usar a<br />
psicoterapia, medicamentos ou outras terapias<br />
orgânicas. O segundo princípio é o da exploração<br />
psicodinâmica do significado e das causas da<br />
depressão, com o objetivo de resolver o problema<br />
imediato e prevenir sua repetição.<br />
Na psicoterapia, o objetivo básico é aliviar<br />
a dor e o sofrimento do paciente. Deverá ser estimulado<br />
a desenvolver sua motivação e vislumbrar<br />
um futuro que não seja deprimido. As decisões<br />
importantes devem ser orientadas a ser tomada<br />
depois, até que esteja se sentindo melhor. Deve<br />
haver preocupação em proteger o paciente contra<br />
a autodestruição. O entrevistador deverá identificar<br />
estes comportamentos e utilizar sua autoridade<br />
para evitar que o paciente cometa dano<br />
irreparável contra si próprio.<br />
O segundo princípio fundamental, que é a<br />
exploração psicodinâmica da depressão, requer<br />
um paciente moderadamente deprimido, o que<br />
permitirá fazer insights. Já desde os primeiros encontros,<br />
o entrevistador pode fazer interpretações<br />
com o objetivo de perceber a capacidade para<br />
insights. A conduta interpretativa, no entanto,<br />
nunca deve ser feita de forma apressada. Entretanto,<br />
um paciente que afirma que sua depressão<br />
é apenas uma questão médica, pode está negando<br />
os fortes fatores psicológicos envolvidos e orientando-o<br />
para a depressão. Está, na realidade,<br />
percebendo que é responsável por seus problemas<br />
e, por isso, defende-se. Tal comportamento deve<br />
ser visto como positivo pelo entrevistador.<br />
Quando se fala em exploração<br />
psicodinâmica, faz-se naturalmente referência à<br />
visão psicanalítica da depressão, que, para<br />
Bergeret, 9 psicopatólogo-psicanalista francês, o<br />
funcionamento mental do caráter depressivo é<br />
baseado em ambivalências. Uma alternância de<br />
tendências afetuosas e hostis, sem haver predominância<br />
de uma ou outra.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A entrevista feita com o paciente deprimido<br />
apresenta desafios ao entrevistador clínico,<br />
seja ele iniciante ou experimentado. A singularidade<br />
desse transtorno, que vem crescendo rapidamente<br />
aliado ao compromisso de utilizar a entrevista<br />
como ferramenta valiosa, deve levar a um<br />
interesse cada vez maior da compreensão dos<br />
vários momentos que podem ser vivenciados pelo<br />
entrevistador diante do paciente deprimido. Esta<br />
compreensão passa também por uma observação<br />
dos métodos utilizados até agora, adequando-os<br />
a uma realidade em constante mutação.<br />
Seguindo esta linha, observa-se que no<br />
atendimento ao paciente deprimido, o<br />
entrevistador de início de carreira pode somatizar<br />
com muita facilidade, saindo da entrevista tão<br />
exausto, ou mais, que o entrevistado. Sua sincera<br />
dedicação e escuta clínica tendem, por assim dizer,<br />
traí-lo, e o relato do paciente, ou antes mesmo,<br />
a sua aparência de desalento e fracasso, pode<br />
mobilizá-lo de tal forma que venha sentir-se com<br />
um mal-estar geral. Se o impacto não for tão visível<br />
assim, o entrevistador pode inclusive perceber-se<br />
desanimado, sem, no entanto, relacionar<br />
este desânimo ao atendimento de um paciente<br />
deprimido.<br />
Outro fator importante são os ganhos secundários<br />
oriundos de um paciente deprimido.<br />
Este ganho pode ser para o paciente ou para a<br />
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família. Para o paciente porque pode ocorrer, após<br />
sua depressão, haver conquistado um tempo<br />
maior com alguém que lhe é querido, ele continua<br />
então com os sintomas agora apenas com a<br />
finalidade de manter esta companhia. Uma família<br />
que explore a dependência de um deprimido<br />
pode preferir que a depressão perdure. Neste<br />
caso, a depressão funciona não mais apenas como<br />
um transtorno e sim como resposta a demandas<br />
que não puderam ser expressas de outras formas.<br />
Um fato que salta aos olhos é que, mesmo<br />
com toda a sofisticação da medicina e avanços<br />
tecnológicos, acompanhados de muita pesquisa<br />
e artigos, não se pode abrir mão de uma presença<br />
que ouça e dê cuidados. Embora alguns considerem<br />
que a depressão seja um transtorno da escolha,<br />
10 ou de uma pessoa que deixou de ser bondosa<br />
consigo mesma, ela tem valor e deve ser respeitada<br />
enquanto pessoa. No grande labirinto que<br />
é o psiquismo humano, não será o avanço científico-tecnológico<br />
que substituirá o contato sincero<br />
de humano com humano, do que está com dor<br />
com aquele que embora não tenha sentido esta<br />
mesma dor, compartilha dela, não como profissional,<br />
mas como outro ser humano. Um profissional<br />
que se debruçou sobre aquela dor para que o<br />
outro a sinta menos.<br />
Tal responsabilidade, de ser o depositário<br />
das dores e sofrimentos dos outros, não requer,<br />
também, um preparo adequado e sistemático depois<br />
da graduação Como de fato era na década<br />
de 1960 11 Esta é uma reflexão que precisa ser<br />
feita.<br />
Outro fator a considerar é que toda depressão<br />
deve ser acompanhada por um médico e deve<br />
ser por ele tratada. A depressão está dentro das<br />
grandes síndromes psiquiátricas e o médico deve<br />
ser procurado tão logo surja o evento. As psicoterapias,<br />
nas suas mais variadas abordagens, contribuem<br />
para a diminuição e entendimento dos sintomas<br />
depressivos, sendo necessário, em muitos<br />
casos, aguardar os efeitos dos medicamentos para<br />
se obter resultados no atendimento psicoterápico.<br />
Finalmente, espera-se haver proporcionado,<br />
aos interessados em conhecer a depressão, um<br />
acúmulo de conhecimentos que facilitarão o<br />
entrevistador clínico desde a chegada do paciente<br />
em seu consultório até o tratamento proposto e<br />
posterior prognóstico. A entrevista com o paciente<br />
deprimido guarda, assim, momentos que tendem<br />
a tornar o desafio clínico de atender pacientes<br />
deprimidos com menos obstáculos e manejo<br />
mais adequado para as mais variadas situações<br />
que se apresentam na prática clínica. Conhecendo<br />
as principais características do paciente deprimido<br />
e devidamente informado sobre as mais recentes<br />
técnicas de entrevista para este atendimento,<br />
o profissional terá mais segurança na realização<br />
de seu trabalho e produzirá resultados com<br />
um índice bem maior de sucesso.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. VASCONCELOS F. «Os caminhos do tratamento».<br />
Rev. Mente & Cérebro, n.º 160, 64, 2006.<br />
2. MAL<strong>DO</strong>NATO, M. «Os aposentos vazios da<br />
depressão». Rev. Mente & Cérebro, n.º 160, 38,<br />
2006.<br />
3. HOLMES. D. S. Psicologia dos transtornos mentais.<br />
Trad. Sandra Costa. 2.ª ed. Porto Alegre:<br />
Artes Médicas, 1997.<br />
4. DALGALARRON<strong>DO</strong>. P. Psicopatologia e<br />
semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:<br />
Artes médicas, 2000.<br />
5. BENJAMIM. A. A entrevista de ajuda. Trad.<br />
Urias Correa Arantes. 11.ª ed. São Paulo: Martins<br />
Fontes, 2004.<br />
6. OTHMER, E., OTHMER, S. A entrevista clínica<br />
utilizando o DSM-IV-TR. Trad. Claudia Dornelles.<br />
Porto Alegre: Artmed, 2003.<br />
7. DSM-IV. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos<br />
mentais. Trad. Sandra Costa. 2.ª ed. Porto<br />
Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />
8. MACKINNON R. A. MACKINNON M. R. A<br />
entrevista psiquiátrica na prática diária. Trad. Helena<br />
Mascarenhas de Souza. Porto Alegre: Artes<br />
Médicas, 1981.<br />
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O DEPRIMI<strong>DO</strong> DIANTE <strong>DO</strong> ENTREVISTA<strong>DO</strong>R CLÍNICO INICIANTE<br />
9. BERGERET. J. A personalidade normal e patológica.<br />
Trad. Maria Elisia Valliatti Flores. 3.ª ed.<br />
Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />
10. MACMAHON, S. O terapeuta de bolso. Trad.<br />
Cecília Bonamini. São Paulo: Gente, 2005.<br />
11. CO<strong>DO</strong>, W. LANE. S. Psicologia social: o homem<br />
em movimento. 13.ª ed. São Paulo: Brasiliense,<br />
2004.<br />
Agradecimento: José Carlos Pereira Júnior.<br />
Correspondência para: Davi Araújo da<br />
Cunha. Av. Gov. Danilo Areosa, 139 – Dist. Industrial.<br />
CEP: 69075351 – Manaus-AM. E-mail:<br />
daviaraujo@click21.com.br<br />
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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />
ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSION<br />
OFISSIONAL DE<br />
SAÚDE COM RELAÇÃ<br />
ÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA<br />
ATIV<br />
TIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE<br />
TRAUMA<br />
UMATISMO RAQUI-MEDUL<br />
QUI-MEDULAR<br />
STUDY ON THE ATTITUDE OF THE PROFESSIONAL OF HEALTH WITH RELATION TO THE<br />
PERSPECIVE OF ACTIVE LIFE OF PATIENTS WITH SPINAL CORD INJURY<br />
KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES 1 , MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA 1 , ROSANGELA MARTINS GOMES 2<br />
RESUMO<br />
Objetivo: O objetivo desta pesquisa foi investigar as atitudes dos profissionais de saúde em relação à perspectiva de<br />
vida ativa e a prática de atividade física por pacientes com traumatismo raqui-medular. Metodologia: Para este<br />
estudo, foi elaborada uma escala tipo Likert com 26 questões que foi aplicada a 105 profissionais da área de saúde<br />
(assistentes sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, profissionais de educação física, terapeuta<br />
ocupacional, nutricionista) que atuam com pacientes com lesão medular. Na análise dos dados foi utilizado o<br />
pacote estatístico SPSS, que tabulou os dados com referência aos escores classificadores de atitudes favorável,<br />
desfavorável e neutro. Os sujeitos da pesquisa foram agrupados em três áreas. Resultados: Os resultados da análise<br />
nos levaram a inferir que os profissionais de saúde da área 1 (médicos e enfermeiros) e os da área 3 (serviço social<br />
e psicólogos) tiveram atitudes neutras. Os da área 2 (fisioterapeuta, profissional de educação física, terapeuta<br />
ocupacional e nutricionista) apresentaram atitudes mais favoráveis. Conclusão: Em função das especificidades das<br />
áreas de atuações em relação às atitudes, observaram-se diferenças que podem estar relacionadas ao momento de<br />
intervenção de cada profissional.<br />
Palavras-chave: Atitude, lesão medular, escala Likert.<br />
ABSTRACT<br />
Objective: The goal of this research was to investigate professionals’ health attitudes regarding the perspective of<br />
active life and the practice of physical activity by patients with spinal cord injury. Methodology: For this study, it<br />
was elaborated a scale Likert with 26 questions that were applied to 105 professionals of the health area (Social<br />
workers, doctors, male nurses, psychologists, physiotherapists, professionals of physical education, occupational<br />
therapist, nutritionist) that work with patients with spinal cord injury. In the analysis of the data it was used the<br />
statistical package SPSS which tabulated the data according to the classifying scores of favorable, unfavorable and<br />
neutral attitudes. The people of the research were grouped in 3 areas. Results: The results of the analysis carried us<br />
out to deduce that the health professionals of the area 1 (doctors and male nurses) and of the Area 3 (social service<br />
and psychologists) had neutral attitudes. The ones of the area 2 (physiotherapist, professional of physical education,<br />
occupational therapist and nutritionist) demonstrated more favorable attitudes. Conclusion: Because of the<br />
specificities of the performances areas in related to the attitudes, it was observed differences that can be related to the<br />
work intervention moment of each professional.<br />
Key words: Attitude, Spinal cord injury, Scale Likert.<br />
1<br />
Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam<br />
2<br />
Professora de Educação Física do Programa de Atividades motoras para deficientes – PROAMDE/UFAM<br />
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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />
INTRODUÇÃO<br />
O presente estudo teve como objetivo<br />
investigar as atitudes dos profissionais de saúde<br />
em relação à perspectiva de vida ativa de<br />
pacientes com lesão medular. Este trabalho é<br />
fundamentado na teoria de atitudes que indica<br />
uma relação interdependente entre a atitude do<br />
profissional e a do paciente. 1 Os profissionais de<br />
saúde que atuam diretamente com o lesado<br />
medular, agora uma pessoa com deficiência,<br />
geralmente são os primeiros indivíduos com quem<br />
este recém-deficiente tem contato. Isto implica na<br />
probabilidade de que as atitudes desses profissionais,<br />
em relação à perspectiva de vida ativa dessa<br />
pessoa, incorram na determinação do espaço de<br />
tempo que o paciente levará para conhecer e<br />
explorar as suas potencialidades. Para alcançar<br />
o objetivo deste estudo, foram investigadas as<br />
atitudes dos profissionais de saúde (assistentes<br />
sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos,<br />
fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas<br />
ocupacionais, profissional de educação física e<br />
acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas)<br />
em relação à perspectiva de vida ativa de<br />
pacientes com seqüelas de lesão medular, além<br />
de elaborada uma escala de atitudes do tipo Likert<br />
utilizando os dados obtidos na primeira etapa<br />
deste estudo onde foram obsevadas as crenças<br />
desses profissionais em relação ao lesado medular.<br />
METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />
De acordo com Harry Upshaw, 2 as<br />
variáveis das atitudes podem ser cognitivas,<br />
condutuais e afetivas. As escalas cognitivas se<br />
referem à informação ou conhecimento que uma<br />
pessoa possui em relação ao fenômeno atitudinal<br />
estudado. As escalas condutuais referenciam os<br />
atos voluntários de se realizar uma ação que<br />
envolve o objeto atitudinal. As escalas afetivas são<br />
escalas construídas para medir o sentimento das<br />
pessoas associado a um objeto atitudinal de<br />
acordo com o grau de favorabilidade ou<br />
desfavorabilidade em relação ao que é estudado.<br />
Existem vários métodos escalares para medir<br />
atitudes e os mais utilizados foram elaborados por<br />
Thurstone, Likert e Guttman. Os métodos<br />
elaborados por Thurstone e Likert são utilizados<br />
para elaboração de escalas afetivas e o método<br />
elaborado por Guttman enquadra-se na medição<br />
dos três tipos de variáveis. Existe ainda o método<br />
elaborado por Bogardus para escalas condutuais<br />
e afetivas. 2 Optou-se pela escala do tipo Likert por<br />
se preocupar em verificar o nível de concordância<br />
do sujeito com uma série de afirmações que<br />
expressam algo favorável ou desfavorável em<br />
relação ao objeto de estudo. As afirmações são<br />
respondidas numa escala de cinco pontos em<br />
função de este método determinar diretamente a<br />
existência de uma ou mais atitudes no grupo de<br />
itens, pois o uso de uma escala de 5 (cinco) pontos<br />
proporciona maior informação que uma escala<br />
dicotômica «concordo ou discordo». Na escala do<br />
tipo Likert, os sujeitos marcam cada item em uma<br />
das categorias: concordo plenamente, concordo,<br />
não tenho opinião, discordo e discordo<br />
plenamente. 3 Na escala Likert, o número inicial<br />
de itens é de 30 a 50 e a forma final contém de 20<br />
a 30 afirmativas enquanto que as escalas<br />
elaboradas na técnica Guttman e Thurstone, 4 a<br />
10 e 100 ou mais, respectivamente. Resumidamente:<br />
as vantagens da utilização da escala Likert<br />
sobre as outras escalas com mais itens são as<br />
seguintes: maior facilidade na construção da<br />
escala. Likert elimina o emprego dos juízes que é<br />
um meio sumamente custoso. A escala apresenta<br />
cinco possíveis respostas para cada item da escala.<br />
A escala Likert com menos itens consegue a<br />
mesma precisão do que as outras escalas com mais<br />
itens. Dentro de uma perspectiva psicométrica,<br />
algumas etapas precisam ser seguidas para<br />
elaboração de um instrumento escalar: Escolha do<br />
objeto/sujeitos – atitudes dos profissionais de saúde<br />
que atuam com pacientes com seqüelas de<br />
traumatismo raqui-medular. A amostra esteve<br />
constituída de 105 sujeitos sendo profissionais das<br />
seguintes áreas: medicina-neurocirurgia, serviço<br />
30<br />
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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />
social, enfermagem, fisioterapia, terapia<br />
ocupacional, educação física, nutrição, psicologia<br />
e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas.<br />
Elaboração das afirmativas: por meio das crenças<br />
pesquisadas anteriormente foram elaboradas 47<br />
afirmativas que compuseram o questionário piloto<br />
da pesquisa, após a verificação da consistência<br />
interna pelo teste t de Student foram estabelecidas<br />
quais afirmativas permaneceriam na escala<br />
final (com t superior a 1,75). A construção das<br />
afirmativas obedeceu aos grupos de crenças: 1 –<br />
potencialidades e ação multidisciplinar; 2 – exploração<br />
de capacidades; 3 – suporte emocional<br />
e familiar; 4 – acessibilidade como fator<br />
imprescindível; 5 – cuidados hospitalares; 6 –<br />
indiferença ao gênero; 7 – transferência da responsabilidade<br />
ao outro profissional; 8 – atividade<br />
física e social restrita; 9 – preconceitos e<br />
incapacidades; 10 – impotência; 11 – necessidade<br />
de suporte financeiro; 12 – sempre dependentes;<br />
13 – ao lesado medular: o ônus. A disposição na<br />
escala foi feita de forma aleatória, buscando não<br />
agrupá-las. Para satisfazer as diretrizes para<br />
construção dessa escala foram levados em<br />
consideração os seguintes aspectos: a) as<br />
afirmativas não deviam conter respostas<br />
ambíguas; b) utilização de uma linguagem<br />
compreensível e utilização de frases envolvendo<br />
uma única idéia; c) as frases deveriam ser curtas<br />
evitando-se afirmações radicais ou irrelevantes;<br />
d) as afirmativas foram dispostas aleatoriamente<br />
na apresentação da escala. Aplicação experimental:<br />
o instrumento piloto (escala) contendo 47<br />
afirmativas foi aplicado em 30 sujeitos com as<br />
mesmas características para os quais foi<br />
construída, ou seja, medicina-neurocirurgia,<br />
serviço social, enfermagem, fisioterapia, terapia<br />
ocupacional, educação física, nutrição, psicologia<br />
e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas.<br />
Elaboração da escala: Após a aplicação do<br />
questionário piloto com as 47 afirmativas,<br />
passamos para a elaboração da escala final. A<br />
seleção das afirmativas na técnica de Likert foi<br />
feita da seguinte forma: 1) consideraram-se os 25%<br />
dos questionários com notas mais altas (grupo<br />
superior mais favorável) e os 25% com notas mais<br />
baixas (grupo inferior que mais desfavorável), ou<br />
seja, as oito maiores notas e as oito menores notas<br />
num grupo de 30 sujeitos. 2) calcularam-se as<br />
diferenças entre médias para todas as notas por<br />
meio do teste t de Student e toda vez que t foi<br />
superior a 1,75 a frase foi aceita ao nível de<br />
significância de 0,05. Selecionamos 30 afirmativas<br />
que compuseram a forma final da escala entre os<br />
maiores valores de t, procurando balancear<br />
afirmativas favoráveis e afirmativas desfavoráveis.<br />
Após essas etapas, a escala final foi<br />
aplicada aos sujeitos os quais a escala foi<br />
construída.<br />
RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
A amostra foi constituída por 105 profissionais<br />
e acadêmicos do último ano de graduação<br />
do Ensino Superior de cursos da área de saúde.<br />
Dividimos em subcategorias com as seguintes características<br />
etárias: até 25 anos, 44%; de 26 a 35<br />
anos, 30%; acima de 35 anos, 26%. Quanto ao<br />
gênero: 24%, masculino e 76%, feminino. Não<br />
houve correlação entre os aspectos citados acima<br />
e o escore dos respondentes.<br />
A variável formação acadêmica deu<br />
origem a três categorias, conforme mostra a Figura<br />
1, pós-graduados, 25%; residência médica<br />
completa ou incompleta e graduação completa,<br />
20%; acadêmicos finalistas, 55%.<br />
Nível de Formação<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0<br />
Figura 1 – Percentual de respondentes por formação acadêmica<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />
Os profissionais participantes eram das<br />
áreas de medicina, enfermagem, fisioterapia,<br />
terapia ocupacional, educação física, nutrição,<br />
psicologia e serviço social. Após inspeção da<br />
distribuição da amostra, decidiu-se pela criação<br />
de novas subcategorias cuja classificação esteve<br />
exclusivamente baseada na diferença do tipo e<br />
do momento de atuação profissional e nas características<br />
das áreas de formação. Área 1, composta<br />
por profissionais cujo tipo e o momento<br />
de atendimento estão enfatizados pela situação<br />
de urgência e incluem os médicos e os enfermeiros;<br />
área 2, composta por profissionais cujo tipo e o<br />
momento de atendimento estão principalmente<br />
associados à situação de manutenção do potencial<br />
funcional do paciente: fisioterapia, nutrição, educação<br />
física, terapia ocupacional fizeram parte<br />
deste grupo; área 3, composta por profissionais<br />
cuja atuação é principalmente caracterizada pelas<br />
ações de suporte ao paciente que vai além do<br />
âmbito hospitalar, atingindo também a família:<br />
psicologia e serviço social. O resultado para<br />
distribuição destas novas categorias está<br />
mostrado na Figura 2: área 1,27%; área 2,28% e<br />
área 3,45%.<br />
Área da saúde<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0<br />
área 1 área 2 área 3<br />
Figura 2 – Percentual de respondentes por área<br />
Tempo de serviço em anos<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0<br />
graduando 1 a 10 acima de 11<br />
Figura 3 – Percentual de respondentes por tempo de serviço<br />
Os escores de atitudes<br />
A análise dos dados foi realizada a partir<br />
do estabelecimento de escores que teoricamente<br />
poderiam ser considerados como classificadores<br />
de atitudes como favorável, desfavorável e<br />
neutras. Os intervalos, para os escores de atitudes,<br />
ficaram assim distribuídos: de 26 a 47 pontos,<br />
atitudes desfavoráveis; de 48 a 69 pontos, atitude<br />
parcialmente desfavorável; de 70 a 90, escore<br />
neutro; de 91 a 111, escore de atitude<br />
parcialmente favorável, e de 112 a 130 escores de<br />
atitude totalmente favorável.<br />
O escore geral<br />
A média dos escores para toda amostra de<br />
92,4 ( + 10,4). A distribuição foi normal, mas com<br />
tendência da curva de distribuição para atitude<br />
neutra. (Figura 4). O escore mínimo foi de 72<br />
pontos e o máximo de 126 pontos.<br />
Freqüência<br />
Os dados tempos de serviço dos sujeitos e<br />
a distribuição por percentil deram origem a<br />
seguinte classificação (Figura 3): acadêmicos<br />
finalistas, 54%; entre um a dez anos de atuação,<br />
26%; acima de 11 anos, 20%. Não houve<br />
nenhuma correlação destes dados com o resultado<br />
dos escores dos respondentes.<br />
Figura 4 – Distribuição dos escores<br />
Escore<br />
Std. Dev = 10,44<br />
Mean = 92<br />
N = 105,00<br />
32<br />
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KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA MARTINS GOMES<br />
Os escores por área<br />
Área 3<br />
A média dos escores para área 1 foi de 89,1<br />
( + 7,4). O escore mínimo foi de 76 pontos e o<br />
máximo de 108 pontos. O gráfico de distribuição<br />
mostra uma tendência para escores de atitude<br />
neutra.<br />
Área 1<br />
Freqüência<br />
Std. Dev = 9,05<br />
Mean = 90,8<br />
N = 47,00<br />
Freqüência<br />
Figura 7 – Distribuição dos escores<br />
Escore<br />
DISCUSSÃO<br />
Figura 5 – Distribuição dos escores<br />
A classificação dos escores foi distribuída<br />
a partir da somatória de todas as alternativas para<br />
cada resposta e a média dos escores para a área 2<br />
foi 98,3 (+ 12,5). O escore mínimo foi de 78 e o<br />
máximo de 126. A tendência da curva de<br />
distribuição dos escores foi maior para o lado dos<br />
escores de atitudes parcialmente favoráveis (Figura<br />
6).<br />
Freqüência<br />
Área 2<br />
Figura 6 – Distribuição dos escores<br />
Escore<br />
Escore<br />
Std. Dev = 7,47<br />
Mean = 89,1<br />
N = 28,00<br />
Std. Dev = 12,56<br />
Mean = 98,3<br />
N = 30,00<br />
A Área 3 apresentou média dos escores de<br />
97 (+ 9,04). O escore mínimo de 72 pontos e o<br />
máximo de 111 pontos com tendência para escore<br />
de atitude parcialmente favorável (Figura 7).<br />
A área de atuação e o nível de formação<br />
acadêmica são fatores importantes para a<br />
formação de atitudes, 4 seria esperado que profissionais<br />
com formação acadêmica mais alta<br />
apresentassem atitudes mais favoráveis. No<br />
entanto, de acordo com os resultados obtidos,<br />
podemos afirmar que não houve correlação entre<br />
as variáveis, formação acadêmica, idade e gênero<br />
com as atitudes dos profissionais.<br />
Outro fator importante a ser considerado<br />
é o tempo de atuação. Se for correto esperar que<br />
profissionais com mais tempo de serviço tenham<br />
atitudes mais favoráveis, então esperaria que os<br />
escores das áreas que apresentam profissionais<br />
com maior tempo de atuação fossem mais<br />
favoráveis. Ao contrário, a área que teve menos<br />
profissionais com tempo de atuação maior que 11<br />
anos (área 2) obteve escore mais alto, revelando<br />
atitudes mais favoráveis.<br />
De acordo com os resultados do escore<br />
geral de profissionais, podemos inferir que as<br />
atitudes dos profissionais de saúde com relação à<br />
perspectiva de vida ativa de pacientes com lesão<br />
medular, é neutra, o que implica também numa<br />
ação neutra com relação a estes pacientes; no<br />
entanto, a atitude neutra é melhor do que se<br />
apresentassem atitudes desfavoráveis, pois,<br />
segundo 5 atitudes negativas de profissionais que<br />
atuam com pessoas com deficiência ou doença<br />
crônica, contribuem para um tratamento cuja<br />
qualidade tende a ser inferior quando comparada<br />
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ESTU<strong>DO</strong> SOBRE A ATITUDE <strong>DO</strong> PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR<br />
à qualidade do tratamento por profissionais com<br />
atitude neutra ou positiva.<br />
Partindo então para especificidade das<br />
subcategorias de áreas de atuação em relação às<br />
atitudes, observou-se diferenças significativas que<br />
podem estar relacionadas ao momento de<br />
intervenção. 6<br />
A área 1, composta por médicos e<br />
enfermeiros, apresentou escores configurando<br />
atitudes neutras com relação à perspectiva de vida<br />
ativa do paciente com lesão medular. Podemos<br />
inferir que, como o momento de atuação é o de<br />
urgência, a preocupação desses profissionais está<br />
voltada para a condição de sobrevivência, não<br />
restando talvez uma disposição para se pensa em<br />
possibilidades futuras, o importante é garantir a<br />
vida deste paciente. A área 2, compostas por profissionais<br />
de educação física, fisioterapeuta,<br />
terapeuta ocupacional e nutricionista, apresentou<br />
escore de atitudes favoráveis, pois atuam no<br />
momento em que o paciente já está estabilizado, e<br />
como as linhas de atuação nestas profissões se<br />
direcionam para o desenvolvimento das potencialidades<br />
motoras do indivíduo, é provável então que<br />
o seu olhar seja, portanto, na busca da reabilitação<br />
e habilitação de potencial remanescente.<br />
A área 3, composta por profissionais de<br />
serviço social e psicologia, apresenta escore de<br />
atitude parcialmente favorável, e isto pode está<br />
relacionado a não oportunização na prática<br />
profissional, do conhecimento do potencial motor<br />
que o lesado medular pode possuir mesmo com a<br />
lesão, atuando apenas nos aspectos legais,<br />
assistenciais e emocionais deles.<br />
CONCLUSÃO<br />
Ao propor este trabalho, tinha-se a<br />
convicção de que as atitudes dos profissionais de<br />
saúde, em relação ao paciente com lesão medular<br />
sob os seus cuidados, influenciariam na<br />
perspectiva de vida dessas pessoas, agora<br />
deficientes. Os resultados indicaram uma atitude<br />
favorável dos profissionais como um todo, mas<br />
com diferença entre algumas áreas específicas de<br />
atuação. Isto pode ser explicado pela diferença<br />
no tipo de formação acadêmica, ou na especificidade<br />
da atuação.<br />
Acredita-se que as atitudes favoráveis<br />
podem proporcionar às pessoas com seqüelas de<br />
lesão medular possibilidades de descobrir suas<br />
potencialidades o mais breve possível. Evitando<br />
os comprometimentos secundários, e não<br />
inerentes à lesão medular, seu restabelecimento é<br />
otimizado e possibilita maiores oportunidades de<br />
readaptação. Na verdade, acredita-se que é<br />
necessário este compromisso dos profissionais de<br />
saúde, da família e do Estado para que a deficiência<br />
possa ser encarada de maneira positiva e<br />
que seja proporcionada ao lesado medular uma<br />
qualidade de vida ativa.<br />
Estudos como este podem subsidiar programas<br />
de humanização do atendimento, especialmente<br />
de pacientes cuja patologia o transforma<br />
em pessoa com deficiência.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. FISHBEIN, M.; AJZEN, L. «Attitude-behavior<br />
relations: A theoretical analysis and review of<br />
empirical research». Psychological Bulletin, v. 84,<br />
p. 888-918. 1977.<br />
2. WANDERLEY, J. C. V. Medição de Atitudes nas<br />
Ciências da Conduta. 2.ª ed. João Pessoa, 1981.<br />
3. PASQUALI, L. Instrumentos Psicológicos: Manual<br />
Prático de Elaboração. Brasília, p. 56-120, 1999.<br />
4. MARTINS, A. E. O. «Atitudes frente ao doente<br />
mental: Influência do tipo e do nível de<br />
treinamento universitário». Psc. Teor. e Pesq.,<br />
Brasília, v. 3, n.º 2, p. 92-103, 1987.<br />
5. WOLFF, M. S. et al. «Blood levels of<br />
organochlorine residues and risk of breast cancer».<br />
Journal of the National Cancer Institute, 1993.<br />
6. FIGUEIRE<strong>DO</strong>, M. A de C & FIORINI, L. N.<br />
«Atitudes Frente à Aids e Lócus de Controle: Um<br />
Estudo com Estudantes e Profissionais de<br />
Enfermagem». Medicina, Ribeirão Preto, 29: 301-<br />
308, abr./set., 1996.<br />
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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />
TREINAMENT<br />
AMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIA EM<br />
PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTR<br />
TRUTIV<br />
UTIVA<br />
CRÔNICA 1<br />
INSPIRATORY MUSCLE TRAINING IN PATIENTS WITH COPD<br />
MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO 2,3 , CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO 3 , CIBELE TAVARES SOUZA 3<br />
RESUMO: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada por uma limitação progressiva ao fluxo<br />
aéreo, que não é completamente reversível e resulta na perda da função pulmonar. Indivíduos com DPOC apresentam<br />
disfunção muscular inspiratória em conseqüência de uma combinação de efeitos, gerando um decréscimo na<br />
força e endurance muscular inspiratória, o que, funcionalmente, apresenta-se como dispnéia e diminuição da tolerância<br />
aos exercícios. Apesar do treinamento muscular inspiratório (TMI) não ser um componente essencial na<br />
reabilitação, estudos bem desenhados metodologicamente, investigando o uso de tal treinamento na redução da<br />
dispnéia e melhora na capacidade de exercícios em indivíduos com DPOC, são promissores, mas não conclusivos,<br />
havendo a necessidade de mais pesquisas sobre uma estratégia ótima de treinamento, que possibilite a execução de<br />
um tratamento eficaz, baseado em evidências. O objetivo deste trabalho foi descrever os mecanismos e as repercussões<br />
da disfunção muscular inspiratória em pacientes portadores de DPOC e revisar estudos que investigaram os<br />
efeitos do TMI nesses pacientes, de modo a prover uma atualização sobre a eficácia desse treinamento sobre a<br />
musculatura inspiratória, dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de vida.<br />
Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica, treinamento muscular inspiratório, dispnéia, capacidade de<br />
exercícios, qualidade de vida.<br />
ABSTRACT: The Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is characterized by the progressive development<br />
of airflow limitation that is not completely reversible and it results in a loss of the lung function. Individuals with<br />
COPD show inspiratory muscular dysfunction due to a combination of effects, resulting in decreasing inspiratory<br />
muscle strength and in the endurance, what functionally presents as dyspnea and decreasing of exercise tolerance.<br />
Although the inspiratory muscular training (IMT) is not an essential component in the rehabilitation, results of<br />
randomized controlled trials, that investigate the use of IMT in the reduction of dyspnea and an improving in the<br />
exercise capacity in individuals with COPD, are promising, but not conclusive and further researches are required<br />
to identify an optimal strategy of training that makes possible the execution of an efficacious evidence-based treatment.<br />
The objective of this study was to describe the mechanisms and effects of inspiratory muscular dysfunction in<br />
patients with COPD and to review articles that investigated the benefits of IMT in these patients in order to provide<br />
an update about the efficacy of such training on inspiratory muscles, dyspnea, exercise capacity and quality of life.<br />
Key-words: Chronic obstructive pulmonary disease, inspiratory muscle training, dyspnea, exercise capacity, quality<br />
of life.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica<br />
(DPOC) é uma enfermidade respiratória<br />
prevenível e tratável, caracterizada pela limitação<br />
ou pela obstrução crônica ao fluxo aéreo, que<br />
não é completamente reversível, sendo geralmente<br />
progressiva e associada a uma resposta inflamatória<br />
anormal dos pulmões à inalação de partículas<br />
ou gases tóxicos, causada principalmente pelo<br />
tabagismo. 1, 2<br />
Pacientes com DPOC apresentam diversos<br />
níveis de dispnéia e deterioração da capacidade<br />
de exercícios em associação com a debilidade das<br />
1<br />
Trabalho realizado no Curso de Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac/Educare: Centro de Educação<br />
Continuada – Belo Horizonte-MG<br />
2<br />
Supervisor de Estágio em Fisioterapia Respiratória da Universidade Paulista – Unip – Manaus-AM, realizado no <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – <strong>HUGV</strong>.<br />
3<br />
Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />
funções pulmonar e cardiovascular. Sendo assim,<br />
o programa de reabilitação pulmonar (PRP) tem<br />
sido requisitado como método adicional à terapia<br />
convencional, uma vez que é capaz de reduzir<br />
os sintomas, melhorar a qualidade de vida e<br />
aperfeiçoar a participação física e emocional em<br />
atividades cotidianas desses pacientes. 2,3<br />
Segundo a Global Iniciative for Chronic<br />
Obstructive Lung Disease (GOLD), 2 o PRP consiste<br />
de três componentes: educação, acompanhamento<br />
nutricional e treinamento de exercícios com<br />
ênfase nos membros inferiores, mostrando evidência<br />
«A» para benefícios como redução na sensação<br />
de dispnéia e melhora na capacidade de exercícios,<br />
com conseqüente melhora na qualidade de<br />
vida.<br />
Apesar do Treinamento Muscular Respiratório<br />
(TMR) não ser um componente<br />
terapêutico essencial no PRP, cuja evidência «B»<br />
não apóia o seu uso rotineiro, 2 sua recomendação<br />
baseia-se no fato de que, melhorando a força<br />
e/ou endurance da musculatura inspiratória, seja<br />
possível reduzir a dispnéia e melhorar a capacidade<br />
de exercícios. 1 A primeira meta-análise envolvendo<br />
o Treinamento Muscular Inspiratório<br />
(TMI) 4 concluiu que havia pouca evidência apoiando<br />
o seu uso em pacientes com DPOC. Contudo,<br />
algumas críticas 5 lhe foram feitas e o próprio<br />
autor recomendou mais estudos. Posteriormente,<br />
uma segunda meta-análise foi publicada, 6 apoiando<br />
a adição do TMI no PRP, apesar de não ter<br />
deixado claro os modos e a intensidade de treinamento<br />
aplicados. Recentemente, uma revisão sistemática<br />
5 mostrou que o tipo de treinamento, a<br />
freqüência, a duração e a intensidade dos exercícios<br />
devem ser considerados e que o TMI melhora<br />
a força e endurance muscular inspiratória, reduzindo<br />
a dispnéia em adultos com DPOC estável.<br />
Metodologicamente, este estudo trata de<br />
uma revisão bibliográfica de trabalhos científicos<br />
que analisaram as repercussões do TMI em pacientes<br />
com DPOC. A identificação dos artigos foi<br />
feita por meio da busca bibliográfica nas Bases de<br />
Dados MEDLINE e LILACS, referentes aos anos<br />
de 1976 a 2006 e envolveu combinações entre as<br />
palavras: Chronic obstructive pulmonary disease,<br />
inspiratory muscle training, dyspnea, exercise<br />
capacity, quality of life. Foram considerados critérios<br />
de inclusão, estudos experimentais e de observação<br />
analíticos, publicados em português ou<br />
inglês, abordando as alterações e adaptações dos<br />
músculos inspiratórios em indivíduos portadores<br />
de DPOC, bem como o TMI e suas repercussões<br />
nessa população.<br />
O objetivo deste trabalho foi descrever os<br />
mecanismos e as repercussões da disfunção muscular<br />
inspiratória em pacientes portadores de<br />
DPOC e revisar estudos que investigaram os efeitos<br />
do TMI nesses pacientes, de modo a prover<br />
uma atualização sobre a repercussão desse treinamento<br />
sobre a musculatura inspiratória,<br />
dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de<br />
vida.<br />
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
Disfunção Muscular Inspiratória na DPOC<br />
A obstrução crônica ao fluxo aéreo (gerada<br />
pelo broncoespasmo e destruição alveolar, inflamação<br />
e presença de muco nas vias aéreas 7 )<br />
associada à reduzida complacência dinâmica<br />
pulmonar, faz com que os músculos inspiratórios<br />
trabalhem cronicamente contra cargas mecânicas<br />
aumentadas – fato que requer maior geração<br />
de força por parte desses músculos para deslocar<br />
o ar, 8 porém com capacidade reduzida em função<br />
da desvantagem mecânica pelo encurtamento<br />
das fibras diafragmáticas produzido pela<br />
hiperinsuflação.<br />
Considerada uma das mais importantes<br />
anormalidades da mecânica respiratória nestes<br />
pacientes, a hiperinsuflação dinâmica (aumento<br />
dinâmico no volume pulmonar expiratório pela<br />
perda de recolhimento elástico e estreitamento das<br />
pequenas vias aéreas, resultando na sua compressão<br />
e conseqüente aprisionamento de ar durante<br />
a expiração) piora a capacidade dos músculos<br />
inspiratórios de gerar pressão, sendo que há evi-<br />
36<br />
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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />
dência indicando que o diafragma é o músculo<br />
mais afetado da caixa torácica, 8 pela piora na relação<br />
comprimento-tensão, diminuição na zona<br />
de aposição (constituindo apenas 40% da área<br />
total do diafragma em pacientes com DPOC) e<br />
diminuição da sua curvatura (Equação de<br />
Laplace). 8,9 Outros fatores como: aumento no consumo<br />
de oxigênio pelos músculos respiratórios,<br />
perda de massa muscular, fadiga muscular respiratória,<br />
fatores morfológicos e bioquímicos, uso<br />
de esteróides e anormalidades na troca gasosa são<br />
condições que reduzem a eficiência e a força<br />
muscular inspiratória contribuindo para a<br />
dispnéia e limitação ao exercício. 9<br />
Suporte Teórico para o Uso do Treinamento<br />
Muscular Inspiratório na DPOC<br />
Uma queixa comum dos pacientes com<br />
DPOC é a limitação à atividade física gerada pela<br />
dispnéia, 2 definida como uma sensação subjetiva<br />
de desconforto respiratório, que varia em intensidade,<br />
cuja origem é determinada por uma<br />
integração complexa de múltiplos sinais aferentes<br />
e eferentes, 10 refletindo um desequilíbrio entre a<br />
capacidade e a demanda ventilatória. Essa<br />
dissociação neuromecânica pode explicar a contribuição<br />
da disfunção muscular respiratória na<br />
gênese da dispnéia, que aumenta quando o<br />
feedback aferente relatando mudanças na pressão<br />
intra-torácica, comprimento muscular respiratório<br />
e movimento da parede torácica é interpretado<br />
como insuficiente para o correspondente comando<br />
motor. 11<br />
A diminuição de atividades como uma estratégia<br />
de limitar a experiência de dispnéia, resultante<br />
primariamente da disfunção respiratória,<br />
leva a um estilo de vida sedentário, 9,11 com<br />
conseqüente descondicionamento dos músculos<br />
da deambulação, piorando a sensação de<br />
dispnéia, até que esta se torne um sintoma de incapacidade<br />
dos pacientes com DPOC durante as<br />
atividades de vida diária. 11 Baseando-se nisto é<br />
que o TMR tem ganhado relevância, pois, uma<br />
vez que o desequilíbrio entre a capacidade e a<br />
demanda ventilatória é reduzido, uma melhora<br />
na eficiência dos músculos respiratórios produziria<br />
uma diminuição na dispnéia melhorando a<br />
capacidade de exercícios. 11<br />
Treinamento Muscular Inspiratório<br />
O conceito de treinar especificamente os<br />
músculos respiratórios veio a se desenvolver a<br />
partir de 1976, quando Leith e Bradley 12 mostraram<br />
aumento na força e endurance desses músculos<br />
após o TMI em indivíduos saudáveis. Desde<br />
então, um número substancial de estudos envolvendo<br />
os efeitos de tal treinamento em várias desordens,<br />
incluindo a DPOC, tem sido publicado.<br />
De acordo com Reid e Samrai, 13 os princípios<br />
gerais do treinamento, a saber: especificidade,<br />
sobrecarga e reversibilidade são os mesmos adotados<br />
para a musculatura esquelética e os músculos da<br />
respiração podem ser treinados quanto à força,<br />
endurance ou ambas. Baseados nesses princípios,<br />
os programas de treinamento são designados para<br />
melhorar a função muscular.<br />
Tipos de Treinamento Muscular Inspiratório<br />
Treinamento com Cargas de Baixa Pressão e Alto Fluxo<br />
Hiperventilação ou Hiperpnéia Normocápnica<br />
ou Isocápnica: Esta modalidade de TMR é<br />
realizada por meio de altos níveis de ventilação<br />
voluntária, sem a adição de carga externa, 14 cuja<br />
intensidade do treinamento é marcada com uma<br />
porcentagem da Ventilação Voluntária Máxima, 5<br />
por um período de 15 minutos. 13 O equipamento<br />
é constituído por uma escala visual (para que o<br />
paciente realize um nível adequado de ventilação)<br />
e o uso de um sistema de reinalação a fim de<br />
manter constante o nível de dióxido de carbono<br />
durante a hiperventilação. 13,15 Em razão desse<br />
complexo e custoso equipamento, o uso deste treinamento<br />
tem sido reservado para estudos<br />
laboratoriais, com poucos trabalhos relatando sua<br />
utilização na prática clínica. 5,15<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />
Treinamento com Cargas de Alta Pressão e<br />
Baixo Fluxo<br />
Cargas Resistidas (alineares): O TMI com<br />
cargas resistidas é realizado por intermédio de um<br />
aparelho constituído de um bocal, anexado a uma<br />
peça T conectada a uma válvula unidirecional de<br />
um lado e a um sistema de resistência inspiratória<br />
alinear do outro, dada por meio da variação de<br />
orifícios de diferentes diâmetros. 13 Uma desvantagem<br />
deste método é a interdependência ao fluxo,<br />
pois os indivíduos freqüentemente alteram a<br />
respiração, realizando inspirações mais lentas e<br />
profundas, a fim de tolerar mais facilmente a resistência<br />
inspiratória, reduzindo a carga para um<br />
nível abaixo daquele necessário para induzir o<br />
treinamento 14 e, dessa forma, gerando resultados<br />
insatisfatórios, 16,17 questionando, assim, os seus<br />
benefícios. 13 Para minimizar este efeito, o padrão<br />
respiratório dos indivíduos tem sido controlado<br />
por uma escala ou marcador visual (um sistema<br />
de feedback para indicar a magnitude da pressão<br />
gerada). 5,18 Portanto, o treinamento com cargas<br />
resistidas é classificado como: sem carga-alvo ou<br />
com carga-alvo e este último tem consistentemente<br />
mostrado melhores resultados. 18<br />
Geralmente, os programas de TMI usando<br />
cargas resistidas são compostos por repetidos esforços<br />
inspiratórios submáximos, com sessões de<br />
15-30 minutos, 1-4 vezes ao dia, sete dias por semana,<br />
durante 6 a 8 semanas, com a intensidade<br />
de 30-70% da Pressão Inspiratória Máxima<br />
(Pi max<br />
). 18<br />
Cargas Limites (lineares): O TMI com<br />
cargas limites, atualmente, é o tipo de escolha<br />
mais popular para se treinar os músculos<br />
inspiratórios. 11 Isto é explicado pela vantagem da<br />
resistência imposta pelo aparelho ser independente<br />
do fluxo do indivíduo. 19 O treinador consiste<br />
de um bocal conectado a uma válvula<br />
unidirecional que, por sua vez, é acoplada a um<br />
sistema de resistência dado por uma mola (springloaded)<br />
calibrada em cmH 2<br />
O, que impõe uma carga<br />
de treinamento predeterminada constante. 5,13<br />
Durante o treinamento, inicialmente os músculos<br />
inspiratórios realizam uma contração<br />
isométrica até que a válvula se abra, permitindo,<br />
assim, o fluxo inspiratório, e, a partir daí, a contração<br />
se torna isotônica. 11 Em geral, os programas<br />
de treinamento usando cargas limites têm<br />
aplicado estratégias similares àquelas descritas<br />
usando cargas resistidas. 20,21<br />
Repercussões do TMI sobre a Musculatura<br />
Inspiratória do Portador de DPOC<br />
A atividade contrátil é um dos mais eficazes<br />
estímulos que modificam o tipo e o tamanho<br />
da fibra muscular e, apoiando-se nisto, os treinamentos<br />
de endurance (longas sessões de contrações<br />
submáximas) e de resistência (curtas sessões de<br />
contrações máximas) podem promover adaptações<br />
na musculatura esquelética. 22 Um aumento<br />
na velocidade de encurtamento pode ser induzido<br />
por um treinamento moderado 22 e, associadas<br />
à melhora na força e endurance dos músculos<br />
inspiratórios, mudanças morfológicas (aumento<br />
na proporção de fibras tipo I e aumento no tamanho<br />
das fibras tipo II) foram recentemente relatadas<br />
em pacientes com DPOC após um programa<br />
de TMI. 23<br />
O treinamento de resistência é capaz de<br />
causar significante aumento na força e na massa<br />
muscular, enquanto que o treinamento de<br />
endurance melhora a atividade das enzimas<br />
aeróbicas. 13 Estudos bem desenhados metodologicamente,<br />
empregando protocolos de repetidos<br />
esforços submáximos impostos por cargas externas,<br />
relatam ganho na força ou endurance dos músculos<br />
inspiratórios, quando comparados com os<br />
valores iniciais dos grupos experimental e controle.<br />
21,23,24,25,26<br />
Quantificação das Cargas de Treinamento<br />
Muito tem se debatido sobre quantificação<br />
das cargas de treinamento. Atualmente sabe-se<br />
que cargas prescritas com 22% da Pi max<br />
são capazes<br />
de melhorar apenas a endurance muscular respiratória<br />
27 e parece que um mínimo de carga<br />
38<br />
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MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA<br />
marcada em 30% da Pi max<br />
é necessário para que<br />
um aumento da força muscular inspiratória seja<br />
atingido. 20 Vários trabalhos têm empregado os<br />
protocolos de treinamento contínuo (sem intervalo<br />
de repouso), com cargas prescritas em 30-<br />
50% da Pi max<br />
, 21, 23, 24, 26 enquanto outros relatam o<br />
uso de cargas de treinamento marcadas em 70-<br />
80% da Pi max<br />
. 18<br />
Estudos mais recentes mostram uma tendência<br />
dos protocolos de TMI com cargas elevadas,<br />
baseados nos princípios fisiológicos de que a<br />
magnitude da resposta do treinamento é proporcional<br />
à duração e à intensidade do estímulo aplicado<br />
28 e que a força muscular tem uma importante<br />
influência sobre a endurance. 14 Contudo, pela<br />
dificuldade de se manter altas cargas por períodos<br />
prolongados, em função do acúmulo de<br />
lactato e resultante fadiga, as cargas aplicadas na<br />
maioria dos treinamentos contínuos têm sido baixas,<br />
variando de 15-50% da Pi max<br />
. 21,23,24,26 Um recente<br />
estudo, porém, aplicando um protocolo de<br />
treinamento intervalado (com períodos de descanso),<br />
permitiu a utilização de alta carga (95% da<br />
Pi max<br />
), explicada pelo reabastecimento de<br />
fosfocreatina, diminuindo a velocidade de<br />
acúmulo de lactato e resultante decréscimo na<br />
fadiga muscular, induzindo, assim, ganhos máximos<br />
na função muscular inspiratória. 28<br />
Efeitos do Treinamento Muscular Inspiratório<br />
na Dispnéia, Capacidade de Exercícios e Qualidade<br />
de Vida do Portador de DPOC<br />
Não há mais dúvidas de que o TMI bem<br />
prescrito em pacientes com DPOC é capaz de<br />
aumentar a força e endurance dessa musculatura.<br />
5,6 A questão é se tal aumento repercute de<br />
maneira positiva na sensação de dispnéia, capacidade<br />
de exercícios e qualidade de vida desses<br />
pacientes.<br />
Em sua meta-análise, Lötters et al. 6 concluíram<br />
que o TMI sozinho ou associado a exercícios<br />
gerais de recondicionamento é capaz de reduzir<br />
a dispnéia, e que há uma tendência a melhorar a<br />
capacidade de exercícios em pacientes com<br />
DPOC. Recentemente, uma revisão sistemática<br />
publicada por Geddes et al. 5 indicou resultados<br />
satisfatórios com o uso do TMI com carga-limite<br />
ou resistido com carga-alvo, sobre a dispnéia e a<br />
capacidade de exercícios, concluindo sua eficácia<br />
em pacientes com DPOC. Estudos bem desenhados<br />
metodologicamente vão ao encontro das<br />
conclusões observadas por Lötters et al. 6 e Geddes<br />
et al., 5 mostrando a eficácia do TMI na redução<br />
da dispnéia 23,26,29 e melhora na capacidade de<br />
exercícios em pacientes com DPOC. 20,23,24,26,27,29<br />
Com relação à avaliação da qualidade de<br />
vida nos pacientes com DPOC, após o programa<br />
de TMI, Geddes et al. 5 indicarem evidência<br />
inconclusa a respeito desta variável, uma vez que<br />
não foi possível realizar uma meta-análise, pois<br />
os únicos dois estudos que apresentavam critérios<br />
metodológicos satisfatórios usaram diferentes<br />
tipos de questionários, com um trabalho mostrando<br />
mudança significativa na sua pontuação, a<br />
favor do TMI, 26 e o outro não apresentando nenhuma<br />
alteração. 20<br />
Tendências Atuais dos Protocolos de Treinamento<br />
Muscular Inspiratório<br />
O modo de TMI é importante para melhorar<br />
a força e endurance dos músculos inspiratórios,<br />
a dispnéia e a capacidade de exercícios em pacientes<br />
com DPOC. O uso de treinadores que oferecem<br />
cargas-limite ou resistidas-alvo assegura a<br />
ativação e manutenção da intensidade do treinamento<br />
durante os exercícios, cujas freqüência,<br />
duração e supervisão devem ser consideradas. 5<br />
Os estudos disponíveis sugerem uma freqüência<br />
de treinamento de 1-2 vezes ao dia, com uma<br />
duração de 20-30 minutos e o número de sessões<br />
variando de 5-7 dias por semana. 20,21,23,24,26,29<br />
A tendência tem sido a utilização de cargas<br />
elevadas, maiores que 50% da Pi max<br />
21,30,31,33<br />
e<br />
incrementais, 27,28,29 por intermédio de treinamento<br />
intervalado, 27,28 sugerindo que os protocolos de<br />
TMI que induzem maiores benefícios na força<br />
muscular podem resultar em grandes reduções na<br />
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TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA<br />
dispnéia, porém esta relação requer mais estudos.<br />
11<br />
Obedecendo ao princípio da reversibilidade,<br />
o treinamento deve ser mantido, uma vez que<br />
os benefícios adquiridos podem declinar-se gradualmente,<br />
29 o que sugere que o TMI deva se tornar<br />
parte da rotina individual do programa de<br />
exercícios e, ao prescrevê-lo para pacientes com<br />
DPOC, o fisioterapeuta considere as comorbidades,<br />
motivação, nível de dispnéia e severidade<br />
da doença. 5<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Há boas razões teóricas para pensar que<br />
os indivíduos com DPOC podem desenvolver<br />
disfunção muscular respiratória, contribuindo,<br />
desse modo, para a dispnéia e limitação ao exercício.<br />
Desde que se comprovou que o TMI é capaz<br />
de gerar aumentos significativos na força e<br />
endurance desses músculos, tal treinamento tem<br />
sido alvo de inúmeras pesquisas e os resultados<br />
de estudos bem desenhados metodologicamente,<br />
investigando a eficácia do TMI na redução da<br />
dispnéia e melhora na capacidade de exercícios<br />
em pacientes com DPOC são promissores, mas<br />
não conclusivos.<br />
Atualmente, o TMI não é considerado um<br />
componente essencial do PRP e isto tem sido justificado,<br />
em parte, por treinamentos inadequados<br />
e estudos mal conduzidos, refletindo resultados<br />
insatisfatórios que explicam tal consideração.<br />
Além das diferenças nas estratégias de treinamento<br />
e qualidade metodológica, as características dos<br />
pacientes, tais como grau de hiperinsuflação, severidade<br />
da doença e fraqueza muscular respiratória<br />
podem também influenciar a eficácia do<br />
TMI.<br />
Verifica-se, portanto, a necessidade de<br />
mais estudos bem conduzidos e de um consenso<br />
sobre uma estratégia ótima de treinamento, que<br />
possibilitem a execução de um tratamento eficaz,<br />
baseado em evidências, cujas prescrição, intensidade<br />
e duração tenham fundamento em programas<br />
em que os resultados mostrem relevância na<br />
prática clínica.<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS<br />
TRATAMENT<br />
AMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASION<br />
ASIONAD<br />
ADAS<br />
AS<br />
POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A<br />
.A.F): .F): RELATO<br />
DE CASO CLÍNICO<br />
TREATMENT OF FACIAL FRACTURES BY PROJECTILE OF FIREARM: CASE REPORT<br />
PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR. 1 , MARCELLO DA GAMA MENDES 2 , GIORGE PESSOA DE JESUS 3<br />
RESUMO: Com o aumento da violência urbana, tem se tornado comum o atendimento de pacientes vítimas de<br />
acidente por arma de fogo nos serviços de emergência hospitalar. A região maxilo-facial, por sua localização, é um<br />
alvo comum neste tipo de injúria. O presente trabalho tem como objetivo relatar o tratamento cirúrgico de fraturas<br />
faciais de um paciente vítima de ferimento por projétil de arma de fogo, seguindo o protocolo AO/ASIF<br />
(Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). O resultado obtido<br />
foi o restabelecimento estético e funcional, diminuindo as seqüelas do trauma e reintegrando o paciente ao seu<br />
convívio social. Concluímos que o cirurgião buco-maxilo-facial deve estar inserido em uma equipe multidisciplinar,<br />
possibilitando reparo tanto das fraturas faciais como também das funções mastigatórias.<br />
Palavras-chave: Violência urbana, Arma de fogo, Tratamento cirúrgico.<br />
ABSTRACT: In consequence of the increasing of urban violence, it has been common the attendance of patients that<br />
are accident victims by a firearm in the hospital emergency services. The maxillofacial region, because of the location,<br />
is a common target in this type of injury. This work aims to report the surgical treatment of facial fractures of a<br />
patient that is victim of injury by firearm projectile, following the protocol AO/ASIF (Arbeitsgemeinschaft für<br />
Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). The result was the aesthetic and functional<br />
restoration, decreasing the patients’ trauma sequels and restoring their social interaction. Conclusion revealed that<br />
the maxillofacial surgeon should be inserted in a multidisciplinary crew, to make possible the repair of facial<br />
fractures and the masticate functions too.<br />
Key-words: Urban violence, Firearm, Surgical treatment.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Os ferimentos por arma de fogo constituem<br />
problema um de saúde pública, e a região<br />
maxilo-facial, por sua localização anatômica, tem<br />
sido alvo constante deste tipo de injúria. 1,2,3 Estes<br />
ferimentos podem causar desde extensas lesões<br />
ósseas e de tecidos moles até seqüelas estéticas,<br />
funcionais e psicológicas. Em função do grau de<br />
destruição tecidual, comumente são necessários<br />
vários tempos cirúrgicos e períodos longos de tratamento.<br />
4 Geralmente por se tratar de fraturas<br />
cominutivas, a fase reconstrutiva em seqüelas de<br />
fraturas baseia-se no restabelecimento anátomofuncional,<br />
buscando uma estética aceitável, permitindo,<br />
assim, a reintegração do indivíduo ao seu<br />
convívio social. 1,5<br />
RELATO <strong>DO</strong> CASO CLÍNICO<br />
Paciente J.V.M., 32 anos, sexo masculino,<br />
feoderma, foi encaminhado ao serviço de Cirurgia<br />
e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF)<br />
da Faculdade de Odontologia (FAO) da Universidade<br />
Federal do Amazonas (Ufam), com queixa<br />
principal de dificuldade de abertura bucal.<br />
1<br />
Graduando em Odontologia da Ufam.<br />
2<br />
Aluno do Curso de Aperfeiçoamento em CTBMF da Ufam.<br />
3<br />
Professor auxiliar de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Ufam.<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO<br />
Paciente relatou ter sido vítima de ferimento por<br />
projétil de arma de fogo, ocorrido havia dois meses.<br />
Ao exame clínico, verificou-se paralisia parcial<br />
do lábio superior do lado esquerdo,<br />
desoclusão dentária, assimetria facial, limitação<br />
de abertura bucal (Fig. 1), disfonia e disfagia.<br />
Após realização de exames pré-operatórios,<br />
o paciente foi internado no <strong>Hospital</strong> Universitário<br />
Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) para realização de<br />
tratamento cirúrgico sob anestesia geral, com o<br />
objetivo de redução dos cotos fraturados e reabilitação<br />
da oclusão dentária. O acesso de escolha<br />
foi o submandibular (Fig. 4) na região da fratura<br />
cominuitva mandibular esquerda, onde foi realizada<br />
a refratura e mobilização dos cotos (Fig. 5),<br />
seguido do Bloqueio maxilo-mandibular (Fig. 6),<br />
restabelecendo a oclusão dentária.<br />
Figura 1 – Aspecto clínico pré-operatório: Limitação de abetura bucal.<br />
Foram solicitados exames de imagem, com<br />
incidências póstero-anterior e panorâmica (Fig. 2)<br />
de face, nos quais foram observados traços de fraturas<br />
na região mandibular e maxilar do lado esquerdo,<br />
e fragmentos do projétil da arma de fogo<br />
na região de ramo mandibular do mesmo lado.<br />
Figura 4 – Planejamento da incisão com linhas de referência.<br />
Figura 2 – Radiografia panorâmica pré-operatória.<br />
Para estabelecer um adequado plano de<br />
tratamento e delimitar mais precisamente a área<br />
das fraturas, solicitou-se Tomografia Computadorizada<br />
(TC) de face (Fig. 3).<br />
Figura 5 – Abordagem da fratura cominutiva.<br />
Figura 3 – TC de face: Corte coronal: fratura mandibular cominutiva<br />
do lado esquerdo.<br />
Figura 6 – Bloqueio maxilo-mandibular trans-operatório.<br />
44<br />
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PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS<br />
Em seguida foram reduzidos os cotos fraturados<br />
e estabilizados por meio da Fixação Interna<br />
Rígida (FIR) (Fig. 7), utilizando duas<br />
miniplacas de titânio e parafusos do sistema<br />
2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF.<br />
Figura 9 – Pós-operatório de 1 ano e 9 meses: abertura bucal satisfatória.<br />
Figura 7 – Fixação interna rígida.<br />
Na região maxilar não houve alteração<br />
do plano oclusal dentário, sendo realizado o<br />
acesso em fundo de vestíbulo, para remoção dos<br />
fragmentos ósseos desvitalizados, além da<br />
desinserção do tecido fibroso e plastia da fístula<br />
decorrente do trajeto do projétil da arma de<br />
fogo.<br />
Paciente esteve de alta hospitalar após<br />
dois dias, permanecendo em acompanhamento<br />
pós-operatório com exames clínicos e<br />
radiográficos (Fig. 8) periódicos, onde foi orientado<br />
para realização de higiene bucal e fisioterapia<br />
para restabelecimento da função<br />
mastigatória. Após um ano e nove meses, paciente<br />
encontrava-se com abertura bucal (Fig. 9)<br />
e oclusão dentária satisfatória (Fig. 10), permitindo<br />
com isso uma reinserção no seu convívio<br />
social.<br />
Figura 8 – Radiografia panorâmica pós-operatória.<br />
Figura 10 – Oclusão dentária restabelecida.<br />
DISCUSSÃO<br />
As situações de violência têm sido uma<br />
constante na sociedade, afetando indivíduos de<br />
todas as classes sociais, principalmente nos grandes<br />
centros urbanos. 4,6 As fraturas ocasionadas<br />
por projéteis de arma de fogo, geralmente, provocam<br />
dilacerações extensas, envolvendo os tecidos<br />
moles e duros, além da vascularização e<br />
inervação. 1 Embora, no caso relatado, o paciente<br />
não soubesse informar o tipo de arma utilizada<br />
pelo agressor; observaram-se características de<br />
lesões ocasionadas por projéteis de arma de fogo<br />
de baixa velocidade, promovendo laceração e esmagamento<br />
tecidual, os quais, quando atingem<br />
regiões ósseas, formam-se projéteis secundários;<br />
ocasionando fratura cominutiva no corpo mandibular<br />
e perfurações no osso maxilar. O objetivo<br />
principal do tratamento das fraturas mandibula-<br />
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TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO<br />
res é restabelecer a oclusão dentária e a função<br />
mastigatória com movimentação adequada da<br />
Articulação Têmporo Mandibular (ATM). 7 O tratamento<br />
de escolha para a fratura cominutiva<br />
mandibular foi a redução aberta e fixação dos<br />
cotos com uso de miniplacas de titânio do sistema<br />
2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF. Este<br />
sistema, o qual utilizou a F.I.R., promove melhor<br />
estabilidade das fraturas, principalmente em comparação<br />
à osteossíntese com fios de aço; além de<br />
apresentar a vantagem fundamental da biocompatibilidade.<br />
Antes da adaptação e fixação das<br />
miniplacas aos cotos fraturados, foi realizado o<br />
bloqueio maxilo-mandibular, possibilitando o<br />
restabelecimento da oclusão dentária, importante<br />
para reabilitação funcional no pós-operatório. 8<br />
A remoção do projétil é feita se este estiver superficialmente<br />
ou provocando limitação funcional. 9,10<br />
No caso relatado, optou-se pela manutenção dos<br />
fragmentos do projétil, por não haver comprometimento<br />
funcional, mesmo sendo evidenciado,<br />
na imagem da TC, a localização do projétil próximo<br />
à coluna cervical. Geralmente os pacientes<br />
submetidos a intervenções cirúrgicas, no complexo<br />
maxilo-madibular, apresentam como conseqüências<br />
no pós-operatório recente, trismo e dificuldade<br />
na mastigação, as quais devem ser gradualmente<br />
recuperadas por meio do trabalho fisioterápico.<br />
2<br />
CONCLUSÃO<br />
Podemos concluir que, no contexto atual<br />
da violência dos grandes centros urbanos, é imprescindível<br />
que o profissional da área da saúde<br />
esteja cada vez mais preparado para o atendimento<br />
do paciente com ferimentos ocasionados<br />
por arma de fogo, já que este tipo de injúria apresenta<br />
alto grau de complexidade e difícil reabilitação.<br />
O relato deste caso demonstra a importância<br />
do profissional buco-maxilo-facial dentro da<br />
equipe multidisciplinar no atendimento e planejamento<br />
do tratamento à vítima, possibilitando<br />
uma recuperação funcional e estética, devolvendo-o<br />
às suas atividades cotidianas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
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O., FILHO, J. L. T. «Tratamento das lesões faciais<br />
causadas por arma de fogo». Revista da Associação<br />
Maringaense de Odontologia, v. 1, n.º 2, jan./<br />
mar., 2000.<br />
2. PERREIRA, C. C. S., JACOB, R. J.,<br />
TAKAHASHI, A., SHINOHARA, E. H. «Fratura<br />
mandibular por projétil de arma de fogo». Rev.<br />
Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac., Camaragibe, v.<br />
6, n.º 3, p. 39-46, julho/setembro, 2006.<br />
3. SILVA, J. J., MACHA<strong>DO</strong>, R. A., NASCIMEN-<br />
TO, M. M., BRAINER, D., MACE<strong>DO</strong>, T., VALEN-<br />
TE, R. «Lesão por arma de fogo em terço inferior<br />
de face de criança: relato de caso». Revista de Cirurgia<br />
e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, v. 4, n.º<br />
3, p. 163-168, jul./set., 2004.<br />
4. GOLDMAN, R. S. et al. «Protocolo para atendimento<br />
cirúrgico a paciente vítima de ferimento<br />
por arma de fogo com perda de substância de mandíbula».<br />
Revista online APCD. São Paulo, 2000.<br />
5. XAVIER, L. R., MACE<strong>DO</strong>, E. B., PADILHA,<br />
W. W. N., QUINTANILHA, L. E. L. «Incidência<br />
e tratamento inicial das fraturas mandibulares por<br />
arma de fogo na cidade do Rio de Janeiro». Rev.<br />
FOB, v. 8, n.º 1/2, p. 31-35, jan./jun., 2000.<br />
6. OGATA, E., ONO, H. Y., LEANDRO, L. F. L.<br />
«Fraturas mandibulares por projétil de arma de<br />
fogo». RBC, v. 1, n.º 3, p. 212-217, 2003.<br />
7. ANDRADE FILHO, E. F. et al. «Fraturas de<br />
mandíbula: análise de 166 casos». Rev. Ass. Med.<br />
Bras., v. 46, n.º 3, p. 272-276, 2000.<br />
8. CUNNINGHAM, L., HAUG, R. H., FORD, J.<br />
«Firearm injuries to the maxillofacial region: an<br />
overview of currents thoughts regarding<br />
demografics, pathophysiology, and management».<br />
J. Oral Maxillofac. Surg., Philadelphia, v.<br />
61, p. 932-942, 2003.<br />
9. GOMES, A. C. A., SILVA, E. D. O., CARVA-<br />
LHO, R., GOMES, D. O., FEITOSA, D. S., MAIA,<br />
46<br />
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PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS<br />
S. M. H. «Tratamento das fraturas mandibulares:<br />
relatos de caso clínico». Rev. Cir. Traumat.<br />
Buco-Maxilo-Facial, v. 1, n.º 2, p. 31-38, jul./ dez.,<br />
2001.<br />
10. NEUPERT III, E. A., BOYD, S. B.<br />
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wounds to the mandible». Oral Surg. Oral Med.<br />
Oral Pathol, St. Louis, v. 72, p. 383-387, 1991.<br />
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FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA E DANIELLE ABREU DA COSTA<br />
DEFICIÊNCIA CIA DE 11β- HIDROXIL<br />
XILASE - RELATO DE<br />
CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />
TURA<br />
11β - HIDROXYLASE DEFICIENCY – A CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW<br />
FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA 1 E DANIELLE ABREU DA COSTA 2<br />
RESUMO: Neste artigo, apresentamos um caso de puberdade precoce associado à hipertensão arterial sistêmica<br />
em paciente pediátrico do sexo masculino atendido no ambulatório Araújo Lima do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<br />
<strong>Vargas</strong>. Após investigação diagnóstica, foi constatada disfunção congênita da esteroidogênese adrenal, especificamente<br />
hiperplasia congênita de adrenal secundária à deficiência de 11β-Hidroxilase. Dispomos aqui o relato,<br />
discussão do caso clínico e uma breve revisão sobre esta rara deficiência.<br />
Palavras-chave: Puberdade precoce, hiperplasia congênita de adrenal, deficiência de 11β-Hidroxilase.<br />
ABSTRACT: This article presents a case of precocious puberty associated to systemic and arterial hypertension in<br />
a male pediatric patient attended at the Araujo Lima Ambulatory of the University <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong>. After<br />
the diagnostic investigation, it was found congenital dysfunction of the adrenal steroidogenesis, specifically<br />
congenital adrenal hyperplasia secondary to the 11b-Hidroxilase deficiency. Here in the report, there is the discussion<br />
of the case in a brief review on this rare deficiency.<br />
Key-words: Precocious puberty, congenital adrenal hyperplasia, deficiency of 11β-Hydroxylase.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A glândula adrenal é dividida funcionalmente<br />
nas camadas: glomerulosa, reticular e<br />
fasciculada responsáveis pela produção de mineralocorticóides,<br />
hormônios sexuais e glicocorticóides,<br />
respectivamente. Nesta última camada, para<br />
a produção do cortisol são necessárias cinco<br />
enzimas, entre as quais está a 11β-Hidroxilase.<br />
Essa produção hormonal é regulada principalmente<br />
pelo ACTH em um mecanismo de retrocontrole<br />
negativo.<br />
A deficiência de 11β-Hidroxilase é causada<br />
por mutações no gene CYP11B1, sendo a segunda<br />
causa de hiperplasia adrenal congênita<br />
(HAC). Esta condição é bastante rara, ocorrendo<br />
em menos de 5% dos casos. O bloqueio na via de<br />
formação do cortisol implica em perda do retrocontrole<br />
negativo e conseqüente aumento do<br />
ACTH. Ocorre então hiperestimulação das<br />
adrenais com acúmulo de mineralocorticóides,<br />
andrógenos e precursores do cortisol resultando<br />
em puberdade precoce em meninos, virilização<br />
em meninas e hipertensão arterial (HAS). 1,3,8<br />
RELATO <strong>DO</strong> CASO<br />
JVSP, sexo masculino, natural e procedente<br />
de Manaus (AM). Iniciou, aos três anos, quadro<br />
de acne, sudorese, surgimento de pêlos no<br />
púbis e axila, aumento do pênis e da estatura.<br />
Evoluiu com progressão dos sintomas e, aos cinco<br />
anos e oito meses, foi levado ao ambulatório<br />
de endocrinologia pediátrica para investigação<br />
diagnóstica.<br />
Antecedentes: Parto normal, não chorou<br />
ao nascer, peso: 4,210 kg, comprimento: 53 cm,<br />
PC: 35 cm. Andou aos onze meses, falou ao 1 ano<br />
e 2 meses, não estuda. Vacinação completa para<br />
a idade. Mãe relata varicela aos três anos.<br />
1<br />
Especialista em Endocrinologia e Endocrinologia Pediátrica, Médica Assistente do Serviço de Endocrinologia do <strong>HUGV</strong> – Faculdade de Medicina da Ufam<br />
2<br />
Médica Residente de Clínica Médica (R2) – <strong>HUGV</strong><br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />
Ao exame físico, apresentava pêlos<br />
pubianos P4 pelos critérios de Tanner, testículos<br />
pré-púberes, medindo 1,5 e 2,0 cm nos seus maiores<br />
diâmetros e pênis com aumento do diâmetro<br />
e 7,5 cm de comprimento (aproximadamente 2<br />
desvios padrões acima da população de mesma<br />
faixa etária). Desvio padrão de altura de + 5,21,<br />
velocidade de crescimento de 16 cm/ano e idade<br />
óssea de 12 anos (aos quatro anos e onze meses).<br />
PA: 140 x 80 mmHg, elevada para a faixa etária.<br />
Demais órgãos e sistemas sem alterações.<br />
Em função da virilização com presença de<br />
testículos pré-púberes, a hipótese diagnóstica no<br />
ambulatório foi de puberdade precoce periférica,<br />
uma vez que a puberdade precoce de origem central,<br />
com aumento das gonadotrofinas, causaria<br />
o aumento testicular com produção de testosterona<br />
nessa localização. A localização adrenal é a<br />
mais prevalente nesses casos com produção elevada<br />
de andrógenos. 7 As hipóteses etiológicas<br />
foram tumor adrenal produtor de testosterona e,<br />
pela presença de HAS, hiperplasia adrenal congênita<br />
por deficiência de 11β-Hidroxilase.<br />
Tumor adrenal produtor de<br />
Puberdade<br />
testosterona;<br />
precoce periférica<br />
ou Independente 2. Hiperplasia adrenal congênita<br />
de gonadotrofinas}1.<br />
(deficiência de 11β- Hidroxilase<br />
pela presença de HAS).<br />
Figura 1 – Hipóteses diagnósticas<br />
Na figura 2, verificamos o aumento das<br />
gonadotrofinas produzidas na hipófise: Hormônio<br />
Luteinizante (LH) e Folículo Estimulante (FSH);<br />
aumento dos andrógenos (testosterona e 17µ hidroxiprogesterona);<br />
níveis normais de estradiol e<br />
cortisol. Estes valores serão discutidos mais adiante.<br />
Após exames iniciais, em função da hipótese<br />
de HAC por deficiência de 11β-Hidroxilase,<br />
foi realizado o teste da cortrosina (250 mcg) para<br />
definição diagnóstica com o seguinte resultado:<br />
TEMPOS<br />
Cortisol (µg/dL)<br />
17-OHP (ng/dL)<br />
1 1–Desoxicortisol (ng/<br />
mL)<br />
Referência:
FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA E DANIELLE ABREU DA COSTA<br />
Confirmado o diagnóstico de HAC por<br />
deficiência de 11β-Hidroxilase, foram tomadas as<br />
seguintes condutas: Captopril 25 mg/dia (posteriormente<br />
substituído por Espironolactona),<br />
Prednisolona (2 mg/m 2 SC/dia) e Acetato de<br />
Leuprorrelina (pela ativação precoce do eixo conforme<br />
elevação de LH e FSH).<br />
Programação: Realizar estudo genético e<br />
manter o tratamento por 1 ano observando se haverá<br />
resolução das massas adrenais, uma vez que<br />
estes tumores podem tornar-se autônomos, o que<br />
implica em retirada cirúrgica.<br />
Neste paciente, do serviço do <strong>Hospital</strong><br />
Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>), durante a<br />
consulta ambulatorial, já foi feita a hipótese de<br />
puberdade precoce periférica ou independente de<br />
gonadotrofinas pelo exame físico. A presença de<br />
HAS foi fundamental para suspeitar de HAC por<br />
deficiência de 11β-Hidroxilase. Nos exames basais<br />
iniciais ficou constatado o aumento das gonadotrofinas<br />
coriônicas humanas produzidas pela<br />
hipófise, porém essa elevação não afasta a<br />
disfunção adrenal, uma vez que valores permanentemente<br />
elevados de andrógenos podem ativar<br />
o eixo hipotálamo-hipófise-testículo, 3 e o paciente<br />
em questão havia passado anos sem acompanhamento<br />
médico mesmo com alto grau de<br />
virilização.<br />
A HAC causada pela deficiência da enzima<br />
11â-Hidroxilase é o segundo tipo mais comum,<br />
correspondendo, no máximo, a 5% de todos os<br />
casos. 1 A freqüência estimada é de 1:100.000 nascimentos,<br />
podendo ser maior em populações com<br />
alto grau de endogamia, chegando a 1:30.000 em<br />
Israel. Esta deficiência enzimática decorre de mutações<br />
no gene CYP11B1 que a codifica. Nestas<br />
populações de maior prevalência, são observadas<br />
mutações recorrentes, sendo características as<br />
mutações R448H e R448C. Uma terceira mutação,<br />
a Q356X, foi descrita em americanos de origem<br />
africana. Entre brasileiros, esta última foi relatada<br />
em cinco pacientes negros apontando para<br />
uma origem semelhante. 1,2<br />
O quadro clínico é semelhante ao da HCA<br />
por deficiência de 21-Hidroxilase (21-OH) forma<br />
não perdedora de sal. Na ausência de 11â-<br />
Hidroxilase, ocorre uma falha na última etapa da<br />
síntese de glicocorticóides, havendo então diminuição<br />
da produção de cortisol com superprodução<br />
de andrógenos e mineralocorticóides.<br />
DISCUSSÃO<br />
Figura 5 – Córtex Adrenal na deficiência de 11β-Hidroxilase. A síntese<br />
normal de cortisol está prejudicada, causando aumento do<br />
ACTH por perda do feedback negativo. O resultado é a deficiência<br />
de cortisol com excesso de mineralocorticóide e desoxicorticosterona,<br />
além da excessiva secreção adrenal de andrógenos.<br />
Fonte – KRONENBERG, Henry M. et al. Williams Textbook of<br />
Endocrinology. 10. a ed. Philadelphia: Ed. Saunders, p. 532-538,<br />
2003.<br />
Como conseqüência, ocorre virilização do<br />
feto feminino em graus variados, que vão desde<br />
clitoromegalia a uma genitália externa indistinguível<br />
de uma genitália masculina criptorquídica.<br />
Neste último caso, uma menina pode ser criada<br />
como menino até a idade adulta. Esta conduta<br />
deve ser evitada porque as estruturas genitais internas<br />
encontram-se intactas, podendo a doença<br />
ser tratada com reposição hormonal e cirurgia.<br />
Alguns poucos estudos relatam que a deficiência<br />
de 11β-Hidroxilase constitui uma<br />
infreqüente, mas não rara causa de hirsutismo<br />
e/ou oligomenorréia hiperandrogênica na mulher<br />
adulta. 4<br />
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DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA<br />
No sexo masculino, a doença se manifesta<br />
como puberdade precoce. Outros sinais de excesso<br />
de andrógenos incluem acne, diminuição da<br />
espermatogênese, crescimento somático e<br />
maturação esquelética acelerados, causando fechamento<br />
prematuro das epífises e baixa estatura<br />
no adulto.<br />
Um sinal marcante na deficiência de 11β-<br />
Hidroxilase, e que geralmente a distingue da deficiência<br />
de 21-OH é, sem dúvida, a hipertensão<br />
arterial (30 a 60% dos casos) geralmente associada<br />
à alcalose metabólica, ambos conseqüentes ao<br />
excesso de desoxicorticosterona (<strong>DO</strong>C), um precursor<br />
da aldosterona.<br />
Tendo em vista o mecanismo fisiopatológico<br />
da doença, ficam mais claros os critérios<br />
laboratoriais para diagnóstico. Como o 11-<br />
desoxicortisol e a desoxicorticosterona não podem<br />
ser convertidos em cortisol e corticosterona na<br />
zona fasciculada, não ocorre a inibição fisiológica<br />
do ACTH que persiste estimulando a adrenal.<br />
Dessa forma, a deficiência de 11â-Hidroxilase é<br />
confirmada pela elevação sérica basal ou após<br />
estímulo com ACTH destes precursores (o 11-<br />
desoxicortisol costuma apresentar valores basais<br />
extremamente elevados, sendo imprescindível a<br />
sua dosagem). O paciente aqui relatado apresentou<br />
o nível sérico de 11-desoxicortisol basal quase<br />
40 vezes o valor normal, mantendo sempre valores<br />
alterados pós-estímulo com cortrosina.<br />
O cortisol está baixo ou no intervalo esperado.<br />
O ACTH está muito acima da normalidade<br />
e também se mostram elevados os compostos<br />
androgênicos (testosterona e sulfato de desidroepiandrosterona).<br />
Os valores de 17-hidroxiprogesterona<br />
estão aumentados, mas não o suficiente<br />
para caracterizar uma deficiência de 21-OH. 1<br />
O tratamento consiste na reposição de glicocorticóides<br />
na forma de hidrocortisona oral (10<br />
a 20 mg/m 2 /dia) em duas tomadas ou acetato de<br />
cortisona 25 mg/dia em duas tomadas. Naqueles<br />
que apresentam maturação de epífises, podem ser<br />
usados prednisona e dexametasona pela meia vida<br />
maior. Em situações de estresse ou infecção, a dose<br />
deve ser aumentada. 1 Segundo um estudo publicado<br />
em 2004, pacientes com deficiência de 21-<br />
OH, tratados por um ano com dose única matinal<br />
de prednisolona, parecem alcançar melhor controle<br />
clínico e hormonal que aqueles usando três<br />
doses diárias de hidrocortisona. 6<br />
A hipertensão pode ser tratada com<br />
espironolactona ou amiloride (ideal para HAS leve<br />
com hipocalemia em razão da ação da aldosterona).<br />
Se um outro anti-hipertensivo for necessário<br />
está indicado um bloqueador de canais de cálcio.<br />
Para correção de genitália ambígua, no<br />
caso de feto feminino, existe a reconstrução cirúrgica<br />
e psicoterapia.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. MELLO, Maricilda P. & Margaret de Castro.<br />
«Deficiência da 11β-Hidroxilase”. Arquivos Brasileiros<br />
de Endocrinologia e Metabologia, v. 48, n.º<br />
5, p. 713-723, 2004.<br />
2. MONTE, Osmar & Cristiane Kochi.<br />
Endocrinologia para o Pediatra. 3.ª ed. São Paulo:<br />
Ed. Atheneu, p. 269-276, 2006.<br />
3. KRONENBERG, Henry M. et al. Williams<br />
Textbook of Endocrinology. 10.ª ed. Philadelphia:<br />
Ed. Saunders, p. 532-538, 2003.<br />
4. E. CARMINA, G. Malizia, M. PAGANO & A.<br />
JANNI. «Prevalence of Late-onset 11β-<br />
Hydroxylase Deficiency in Hirsute Patients». J.<br />
Endocrinol Invest., september 1, 1988.<br />
5. GOLDMAN, Lee & Dennis Ausiello. Tratado<br />
de Medicina Interna. Tradução da 22.ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Ed. Elsevier, p. 1.650-1.651.<br />
6. C ALDATO, Milena C. F. & Claudio E. Kater.<br />
«One-Year Clinical Evaluation of Single Morning<br />
Dose Prednisolone Therapy for 21 – Hydrosylase<br />
Deficiency». Arquivos Brasileiros de Endocrinologia<br />
e Metabologia, v. 48, n.º 5, p. 705-712, 2004.<br />
7. GREENSPAN, Francis S. & David G. Gardner.<br />
Basic & Clinical Endocrinology. 20.ª ed. EUA:<br />
McGraw-Hill Companies, p. 362-384, 2001.<br />
8. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 3.ª ed. Rio<br />
de Janeiro: Guanabara, p. 451-457, 2006.<br />
52<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., LAURA B. C. FRAIJI, INGRID L. DE QUEIROZ LIMA, DANIELLE C. WESTPHAL<br />
PNEUMONIA NECROS<br />
OSANTE: RELATO DE CASO<br />
NECROTIZING PNEUMONIA: CASE REPORT<br />
FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS DE LIMA 1 , JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO 2 ,<br />
LAURA BIANCA CABRAL FRAIJI 3 , INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA 4 , DANIELLE CRISTINE WESTPHAL 4<br />
RESUMO: Relatar um caso de pneumonia necrotizante tratado por ressecção pulmonar da área acometida. RELA-<br />
TO DE CASO: Paciente do sexo masculino, 2 anos, com história de tosse produtiva e febre, derrame pleural e sinais<br />
de consolidações confirmado pela radiografia de tórax. Após admissão hospitalar, evolui com piora progressiva e<br />
não responsivo ao esquema de antibióticos, quando se decide então proceder-se à toracotomia.<br />
Palavras-chave: Pneumonia necrosante, toracotomia, cirurgia torácica.<br />
ABSTRACT: To report a case of necrotizing pneumonia treated by pulmonary resection of the involved area. CASE<br />
REPORT: A 2-years-old patient, male, presenting productive cough of purulent sputum and fever, with pleural<br />
effusion and signs of consolidation confirmed by radiography. After hospital admission, the patient does not show<br />
a good evolution and does not respond to antibiotics, when it is decided to proceed with thoracotomy.<br />
Key-words: Necrotizing pneumonia, thoracotomy, thoracic surgery.<br />
INTRODUÇÃO<br />
RELATO DE CASO<br />
A pneumonia necrosante (PN) é uma complicação<br />
pouco freqüente da pneumonia lobar, 1<br />
caracterizada por focos de necrose e liquefação<br />
de tecido pulmonar com formação de múltiplas<br />
cavidades não coalescentes, e que, acompanhada<br />
de complicações pleurais, exige a adoção de<br />
medidas mais agressivas para o seu tratamento. 1,2<br />
A maioria dos casos de PN é tratada clinicamente,<br />
porém em determinadas situações, apesar<br />
da otimização e maximização do tratamento<br />
clínico, o paciente persiste com sinais de septicemia<br />
associado ou não a complicações pleurais.<br />
Nestes casos a indicação cirúrgica pode ser a única<br />
terapia para a resolução do quadro.<br />
O objetivo deste trabalho é relatar um caso<br />
de PN tratado por ressecção pulmonar da área<br />
acometida.<br />
Paciente do sexo masculino, dois anos de<br />
idade, natural de Manaus-AM, com história de<br />
tosse produtiva, dispnéia e febre há aproximadamente<br />
duas semanas. À admissão hospitalar,<br />
apresentava-se taquidispnéico, febril, hipocorado<br />
+/+4 e, à ausculta pulmonar, murmúrio vesicular<br />
diminuído em base esquerda e estertores<br />
crepitantes bilateralmente. A radiografia de tórax<br />
à admissão revelou imagem sugestiva de consolidação<br />
em lobo inferior esquerdo e velamento<br />
do seio costofrênico ipsilateral (Figura 1). O<br />
hemograma mostrou o hematócrito de 34,4%,<br />
leucócitos/µL de 1.140 e 140.000 plaquetas. A<br />
amostra do líquido pleural coletada para a análise<br />
laboratorial demonstrou os seguintes resultados:<br />
glicose-50 mg/dl, pH-8, desidrogenase<br />
láctica-2161U/L. A cultura do líquido pleural e a<br />
1<br />
<strong>Hospital</strong> Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />
2<br />
<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />
3<br />
Médico Residente do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>)<br />
4<br />
Acadêmico da Universidade Federal do Amazonas<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO<br />
bacterioscopia foram negativas. Confirmado o<br />
diagnóstico de derrame pleural complicado, procedeu-se<br />
à drenagem do hemitórax esquerdo com<br />
dreno tubular, e à antibioticoterapia com<br />
oxacilina, ceftriaxona e claritromicina.<br />
O paciente foi admitido em Unidade de<br />
Terapia Intensiva (UTI) no 1.º dia de internação,<br />
apresentando-se com toxemia, hipocorado +2/+4<br />
e taquidispnéico. No 2.º dia de internação em UTI,<br />
paciente apresentava-se séptico, sendo iniciadas<br />
dopamina e dobutamina. No 7.º dia de internação<br />
em UTI o dreno torácico estava sem débito e o<br />
quadro clínico manteve-se inalterado a despeito<br />
da antibiocoterapia. Diante da persistência do<br />
quadro, foi solicitada Tomografia Computadorizada<br />
(Figura 2).<br />
No 9.º dia de internação hospitalar, visto<br />
a piora do quadro clínico do paciente, com picos<br />
febris freqüentes e leucocitose (16.600), optou-se<br />
por suspender o esquema anterior e iniciar<br />
teicoplanina e cefepime. O dreno torácico foi retirado<br />
no 11.º dia de internação por ele estar sem<br />
débito.<br />
No 15.º dia de internação hospitalar, sem<br />
melhora importante do quadro clínico, paciente<br />
foi submetido à toracotomia lateral esquerda, sob<br />
anestesia geral e entubação seletiva, colocandose<br />
o paciente em decúbito lateral direito. Durante<br />
a abertura da cavidade pleural e descolamento<br />
do parênquima pulmonar, observou-se sangramento<br />
difuso e abundante. Decorridos quarenta<br />
minutos de cirurgia, o paciente apresentou parada<br />
cardiorrespiratória, que foi revertida após<br />
manobras de ressuscitação. Procedeu-se ao<br />
desbridamento, lobectomia inferior esquerda e<br />
drenagem do espaço pleural com dreno tubular<br />
em selo d’água.<br />
Houve melhora progressiva do estado geral,<br />
com normalização da temperatura e<br />
leucocitose. A retirada do dreno torácico foi feita<br />
no 10.º dia pós-operatório, quando não havia<br />
drenagem de secreção ou escape de ar por ele.<br />
Paciente recebeu alta da UTI no 14.º pós-operatório.<br />
Figura 1 – Radiografia de Tórax mostrando sinais de cavitação em<br />
uma área pulmonar com condensação à esquerda e velamento do<br />
seio costofrênico ipsilateral, sugestivo de derrame pleural.<br />
Figura 2 – Tomografia Computadorizada de Tórax<br />
DISCUSSÃO<br />
Pneumonia Necrosante (PN) e gangrena<br />
pulmonar são freqüentemente usados como sinônimos<br />
e normalmente são associados à desvitalização<br />
do tecido pulmonar em função da infecção.<br />
3 Há poucos estudos na literatura sobre as<br />
características clínicas de PN em crianças.<br />
Vários agentes etiológicos e mecanismos<br />
patogênicos têm sido implicados na gênese da PN,<br />
sendo conseqüência de uma combinação de fatores<br />
do hospedeiro e virulência do microrganismo.<br />
Está associada mais comumente com infecções<br />
pulmonares por Streptococus pneumoniae, mas<br />
outros agentes etiológicos estão implicados, tais<br />
como Streptococus viridans, Staphylococus aureus e<br />
Haemophilus influenzae, entre outros. 4 Em alguns<br />
casos, entretanto, não se consegue definir o agente<br />
etiológico tal como observado neste relato, no qual<br />
não houve crescimento na cultura.<br />
54<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., LAURA B. C. FRAIJI, INGRID L. DE QUEIROZ LIMA, DANIELLE C. WESTPHAL<br />
O diagnóstico inicial de pneumonia<br />
bacteriana do paciente relatado baseou-se no exame<br />
físico e radiológico. O quadro inicial de pneumonia<br />
necrosante não difere de outras pneumonias,<br />
porém normalmente as complicações são<br />
mais freqüentes e relacionadas com necrose do<br />
tecido pulmonar. 2,5<br />
Mais comumente a suspeita de pneumonia<br />
necrosante começa por achados radiológicos,<br />
nos quais se evidenciam sinais de cavitações em<br />
uma área pulmonar com condensação, assim<br />
como no caso relatado. Para o melhor diagnóstico<br />
radiológico, porém, há necessidade da<br />
Tomografia Computadorizada (TC) que é considerada<br />
o padrão-ouro para o diagnóstico de<br />
pneumonia necrosante, além de propiciar um diagnóstico<br />
mais precoce e determinar a possibilidade<br />
e extensão da cirurgia. 1 Para o nosso paciente,<br />
a TC foi solicitada porque não houve melhora<br />
clínica, mesmo na vigência de antibioticoterapia<br />
e drenagem torácica adequada. Os achados<br />
tomográficos para o diagnóstico são perda<br />
da arquitetura normal do parênquima pulmonar,<br />
o que não ocorre com os abscessos, diminuição<br />
do realce parenquimatoso e desenvolvimento de<br />
múltiplas cavidades (< 2 mm) contendo ar ou líquido.<br />
De acordo com a fase do derrame<br />
parapneumônico, foram postulados diferentes tipos<br />
de tratamento: para a fase exudativa opta-se<br />
pela antibioticoterapia (ATB) e drenagem torácica<br />
fechada (DTF); na fase fibrinopurulenta, outros<br />
métodos devem ser aplicados, como ATB + DTF<br />
+/- fibrinolíticos ou ATB + Cirurgia Torácica<br />
Vídeo-Assistida (VAST) ou ATB + decorticação<br />
por toracotomia; e, por último, para a fase<br />
organizacional, ATB e desbridamento cirúrgico. 6<br />
O tratamento da pneumonia bacteriana,<br />
que evolui para necrosante, é um tema controverso<br />
na literatura, enquanto alguns autores situam<br />
a cirurgia como segunda opção ao tratamento<br />
clínico, outros sugerem a ressecção cirúrgica<br />
do tecido necrótico como mandatória para<br />
evitar disfunção orgânica múltipla, sepse e morte.<br />
1,2<br />
Ressecção pulmonar raramente é indicada<br />
na população pediátrica, porém a abordagem<br />
conservadora pode falhar, situação em que outros<br />
recursos terapêuticos podem ser utilizados. 1<br />
O paciente do caso em foco apresentou infecção<br />
refratária ao tratamento conservador, por isso<br />
optou-se pela intervenção cirúrgica.<br />
Sinzobahamvya (1981) observou que a<br />
ressecção pulmonar, na vigência de empiema, aumenta<br />
a incidência de complicações no pós-operatório,<br />
sendo a fístula broncopleural a mais freqüente,<br />
fato não observado em nosso paciente. No<br />
entanto, não contra-indica o procedimento em<br />
casos de emergência. 7<br />
De acordo com Rafaely e Weissberg (1997),<br />
a ressecção pulmonar de emergência é indicada<br />
quando a necrose pulmonar é diagnosticada em<br />
pacientes septicêmicos ou com fístula broncopleural<br />
de alto débito, visando à melhora do prognóstico<br />
dessas crianças, mesmo cientes de que o índice<br />
de morbimortalidade nesses casos é alto. 5<br />
Conclui-se que a pneumonia necrosante é<br />
uma complicação rara, porém grave, da pneumonia<br />
bacteriana, na qual há trombose de vasos pulmonares,<br />
gerando desvitalização e necrose do<br />
parênquima pulmonar. O quadro clínico inicial<br />
não difere de outras pneumonias, porém as complicações<br />
são mais freqüentes. Nos achados radiológicos<br />
são evidenciados sinais de condensação<br />
e cavitação, porém, para um melhor diagnóstico,<br />
a Tomografia Computadorizada é o método de<br />
escolha. A abordagem conservadora pode falhar,<br />
situação em que outros recursos terapêuticos,<br />
como a ressecção pulmonar, podem ser utilizados.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. AYED, A. K., ROWAYEH, A. «Lung resection<br />
in children for infectious pulmonary diseases».<br />
Pedatr. Surg. Int., n.º 21, p. 604-608, 2005.<br />
2. <strong>DO</strong>NNELLY L. F., KLOSTERMAN L. A. «The<br />
yield of CT of children who have complicated<br />
pneumonia and noncontributory chest<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO<br />
radiography». ARJ Am J. Roentgenol, vol. 170, p.<br />
1.627-1.631, 1998.<br />
3. VELHOTE, C. E. P., VELHOTE, M. C. P. «O<br />
papel da cirurgia torácica vídeo-assistida – CTVA<br />
– no tratamento da pneumonia necrosante na<br />
criança». Rev. Col. Bras. Cir., n.º 33, p. 11-14, 2006.<br />
4. HACIMUSTAFAOGLU, M., CELEBI, S.,<br />
SARIMEHMET, H., GURPINAR, A., ERCAN, I.<br />
«Necrotising pneumonia in children». Acta<br />
Paediatr., vol. 93, p. 1.172-1.177, 2004.<br />
5. RAFAELY, Y., WEISSBERG, T. «Gangrene of<br />
the lung: treatment in two stages». Ann Thorac.<br />
Surg., n.º 64, p. 970-974, 1997.<br />
6. DÍAZ, M. L., SÁNCHEZ, J. L. A. P.,<br />
VÁZQUEZ, A. G., NOVILLO, I. C.,<br />
BARBANCHO, D. C., GOR<strong>DO</strong>, M. I. B.<br />
«Empiema pleural. Tratamiento toracoscópico».<br />
Cir. Pediatr., n.º 19, p. 160-162, 2006.<br />
7. SINZOBAHAMVYA, N. «Emergency<br />
pulmonary resection for pneumonia». Scand J.<br />
Thorac. Cardiovasc. Surg., n.º 25, p. 69-71, 1991.<br />
56<br />
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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />
TRATAMENT<br />
AMENTO DA DISCROMIA GENGIV<br />
GIVAL:<br />
COMP<br />
OMPARA<br />
ARAÇÃ<br />
ÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />
TREATMENT OF GINGIVAL DYSCHROMIA: COMPARISON OF TWO TECHNIQUES<br />
REYCE S. KOGA1, RODRIGO M. C. HIRAISHI 1 , MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL 2 ,<br />
SAMUEL LUNGAREZE 3 , FIKRIYE V. YURTSEVER 4<br />
RESUMO: Tem sido constante a busca por melhorias na estética do sorriso, a pigmentação melânica pode<br />
comprometê-lo, causando assim incômodo ao paciente. A técnica cirúrgica periodontal de despigmentação visa à<br />
redução ou eliminação desta alteração, por meio do uso de brocas diamantadas e/ou lâmina de bisturi. Ao realizar<br />
qualquer tipo de cirurgia periodontal, deve-se dar muita atenção ao diagnóstico, aos passos envolvidos nos procedimentos<br />
cirúrgicos para, assim, maximizar a previsibilidade do tratamento.<br />
Palavras-chave: pigmentação melânica, cirurgia periodontal, dermo-abrasão.<br />
ABSTRACT: The search for improvements in the aesthetic of the smile has been constant; the gingival pigmentation<br />
can influence it, and cause bothering on the patient. The periodontal surgical technique of depigmentation aims the<br />
reduction or the elimination of this modification, with the use of diamond burs and/or blade of bistouries. When<br />
carrying through any type of periodontal surgery, it must be given much attention to the diagnosis, to the steps<br />
involved in the surgical procedures, thus to maximize the previsibility of the treatment.<br />
Key-words: Gingival pigmentation, periodontal surgery, dermo-abrasion.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A estética do sorriso constitui um componente<br />
essencial para a harmonia facial.<br />
Pigmentações marrons ou negras e a descoloração<br />
do tecido gengival, sejam fisiológicas ou<br />
patológicas, podem causar problemas estéticos,<br />
especialmente em indivíduos que apresentam<br />
sorriso gengival (ATSAWASUWAN, 2000).<br />
A cor da gengiva é determinada por<br />
diversos fatores, incluindo número e tamanho dos<br />
vasos sangüíneos, espessura do epitélio,<br />
quantidade de queratinização e pigmentos do<br />
epitélio. Melanina, caroteno e hemoglobina são<br />
os pigmentos naturais mais comuns que<br />
contribuem para coloração normal da mucosa<br />
oral (GOLDZIEHER, 1951; DUMMET, 1960;<br />
TAL, 2003).<br />
O excesso de deposição de melanina nas<br />
camadas basal e suprabasal do epitélio podem<br />
freqüentemente ser a causa da hiperpigmentação<br />
do epitélio (MARTINI, 1995),<br />
A melanina é elaborada por células<br />
específicas, os melanócitos. Os grânulos de<br />
melanina, presentes nos melanossomos, são<br />
produzidos por melanócitos presentes entre<br />
células epiteliais na camada basal do epitélio oral<br />
e epiderme (HAERTEL, 2006).<br />
A gengiva é o tecido intra-oral mais<br />
freqüentemente pigmentado e, diferente da<br />
opinião geral das pessoas, a pigmentação gengival<br />
não é confinada somente à população negra.<br />
1<br />
Alunos do 6.º período da Faculdade de Odontologia da Ufam;<br />
2<br />
Professora titular da Disciplina de Periodontia da Ufam, mestranda em Periodontia, especialista em Periodontia e Endodontia;<br />
3<br />
Professor substituto da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia e mestrando em Patologia Tropical;<br />
4<br />
Professora substituta da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia.<br />
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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />
Pessoas de outras nacionalidades também<br />
apresentam a pigmentação melânica gengival<br />
como os franceses, filipinos, árabes, chineses,<br />
indianos, alemães, italianos e gregos (GOLDZIE-<br />
HER, 1951).<br />
Diversas técnicas foram apresentas para a<br />
resolução deste problema, dentre estas estão a<br />
cirurgia utilizando dermo-abrasão com brocas<br />
diamantadas ou lâminas de bisturi (HAERTEL,<br />
2006), uso de agentes químicos (DUMMET, 1960;<br />
GLICKMAM, 1974), criocirurgia e eletrocirurgia<br />
(PERLMUTTER, 1986), com diferentes graus de<br />
sucesso. Recentemente lasers também estão sendo<br />
usados (TAL, 2003).<br />
A técnica abrasiva utilizando-se brocas<br />
esféricas diamantadas com copiosa irrigação é<br />
utilizada em grande escala em função da sua<br />
facilidade e baixo custo. Deve manter-se, porém,<br />
um cuidado no controle da profundidade para<br />
remoção do epitélio (BISHOP, 1994; HAERTEL,<br />
2006).<br />
Na dermo-abrasão com bisturi a frio podem<br />
ser utilizados cabos de bisturi acoplados a lâminas<br />
15 ou 15c, ou gengivótomo de Kirkland<br />
posicionado em 45 graus em relação ao tecido<br />
gengival. Com movimentos suaves atrita-se o<br />
epitélio e tecido conjuntivo até a completa remoção<br />
da pigmentação presente (HAERTEL, 2006).<br />
O objetivo do trabalho é o relato de caso<br />
onde foram comparados os resultados de duas<br />
técnicas: dermo-abrasão com broca diamantada<br />
e lâmina de bisturi, para o tratamento da discromia<br />
gengival. Foram enfocados os aspectos de<br />
conforto, intensidade da dor e cicatrização relatados<br />
pelo paciente.<br />
RELATO DE CASO<br />
Paciente E .G .D., 13 anos, compareceu à<br />
clínica de periodontia II da Ufam com queixa<br />
principal de mancha escura na gengiva.<br />
No exame gengival intra-oral foi detectada<br />
a presença de pigmentação melânica na gengiva<br />
inserida no seguimento anterior superior e inferior<br />
(Figura 1). A gengiva apresentava-se edemaciada<br />
em algumas regiões. Foram examinadas todas as<br />
fases de todos os dentes com sonda tipo Williams<br />
da marca Trinity. O exame periodontal consistiu<br />
de índice de placa O’Leary, índice de<br />
sangramento Aimano e Bay, profundidade de<br />
bolsa, recessão e hiperplasia, nível de inserção<br />
clínica (NIC), lesão de furca e mobilidade<br />
dentária, além de exame radiográfico.<br />
Figura 1 – Aspecto do vestíbulo do paciente.<br />
O índice de placa e índice de sangramento<br />
corresponderam respectivamente a 86,6% e 30,3%<br />
ao exame inicial, com nível de inserção clínica em<br />
média de 1 – 3mm, a gengiva apresentava-se com<br />
sinais de inflamação. Após análise dos achados<br />
clínicos, radiográficos e embasado na literatura,<br />
o diagnóstico foi de gengivite induzida por<br />
biofilme dental e discromia gengival.<br />
O tratamento inicial consistiu na terapia<br />
básica periodontal (fase I) e cirúrgica (fase II). Na<br />
fase I, foram passadas instruções sobre técnica de<br />
escovação, profilaxia com escova de Robson, taça<br />
de borracha e pasta abrasiva.<br />
Em função da deficiência na remoção<br />
mecânica do biofilme, foi orientado ao paciente a<br />
mastigação, durante 8 dias, de uma pastilha<br />
evidenciadora de placa e em seguida remoção das<br />
áreas coradas com o auxílio de escovação,<br />
mostrando ao paciente as regiões onde havia<br />
dificuldade de higienização. Na reavaliação o IP<br />
e o IG estavam menores que 20%, portanto dentro<br />
dos limites aceitáveis para que pudéssemos<br />
prosseguir para a segunda etapa do tratamento.<br />
MATERIAIS E MÉTO<strong>DO</strong>S<br />
Para a realização deste relato optamos por<br />
fazer a comparação das técnicas de dermo-<br />
58<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />
abrasão com bisturi e broca esférica diamantada<br />
no arco superior.<br />
O paciente era menor de idade, então a<br />
responsável autorizou a realização do tratamento<br />
e publicação do relato de caso por meio de um<br />
termo de consentimento livre e esclarecido.<br />
Os parâmetros a serem avaliados foram: o<br />
tempo cirúrgico, conforto do paciente, intensidade<br />
da dor pós-operatória e cicatrização,<br />
Os seguimentos foram escolhidos aleatoriamente<br />
mediante sorteio prévio. A técnica de<br />
dermo-abrasão com broca foi realizada no hemiarco<br />
direito, ficando o hemi-arco esquerdo com a<br />
técnica por lâmina de bisturi.<br />
Para avaliação do tempo cirúrgico, ambas<br />
as técnicas foram cronometradas.<br />
Na avaliação da intensidade da dor, ela<br />
foi estratificada, onde o grau 0 equivale à ausência<br />
de dor até 10 correspondente à dor intensa (ES-<br />
TRELA, 1999).<br />
Ao final do procedimento, foi entregue ao<br />
paciente uma escala de dor para avaliação da<br />
intensidade dela e um questionário para anotação<br />
de qualquer observação pós-operatória. Foi<br />
orientado ao paciente que ele avaliasse individualmente<br />
cada hemi-arco.<br />
gengival marginal, até as áreas ficarem isquêmicas.<br />
Foi removido o epitélio com o auxílio de broca<br />
esférica diamantada 1016HL e instrumento de alta<br />
rotação com copiosa irrigação (Figuras 3 e 4). Em<br />
seguida foi realizada a regularização da gengiva<br />
com a mesma broca. O tempo cirúrgico aproximado<br />
de 4 minutos<br />
Figura 2 – Identificação do vestíbulo.<br />
Figura 3 – Broca 1016HL em posição.<br />
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA<br />
A medicação usada na pré e pós-cirúrgica<br />
foi Dexametazona 4mg, 1 comprimido 1 hora<br />
antes da cirurgia. Analgésico (Paracetamol<br />
750mg), 1 comprimido de 6 em 6 horas durante 1<br />
dia. Enxágüe bucal com clorexidina 0,12% duas<br />
vezes ao dia durante 10 dias. A anti-sepsia intra<br />
e extra-oral foram realizadas clorexidina 0,12% e<br />
2%, respectivamente.<br />
1.º Procedimento cirúrgico – Técnica de<br />
dermo-abrasão com broca esférica diamantada<br />
(hemi-arco direito).<br />
Primeiramente foi feita a identificação do<br />
vestíbulo (Figura 2). No lado direito fez-se<br />
bloqueio do nervo infra-orbitário e houve complementação<br />
com anestesias infiltrativas na<br />
Figura 4 – Remoção do epitélio com broca esférica diamantada<br />
2.º Procedimento cirúrgico – técnicas de<br />
dermo-abrasão com bisturi lâmina 15c (hemi-arco<br />
esquerdo).<br />
No lado esquerdo também fez-se bloqueio<br />
do nervo infra-orbitário e complementação com<br />
anestesias infiltrativas. O epitélio foi removido<br />
com lâmina de bisturi 15c, com movimentos suaves<br />
de raspagem (Figuras 5 e 6). A área foi constantemente<br />
irrigada com solução fisiológica 0,9%.<br />
A regularização da gengival também foi efetuada.<br />
O tempo cirúrgico de aproximadamente 13<br />
minutos.<br />
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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />
Ao final dos procedimentos foi realizada<br />
hemostasia da região com gaze embebida em<br />
solução fisiológica gelada para a vasoconstrição<br />
(Figura 7).<br />
Figura 5 – Lâmina de bisturi 15c em posição.<br />
Não houve diferença estatística no que<br />
diz respeito à intensidade da dor entre um lado<br />
e outro, pois ele relatou não ter apresentado<br />
sintomatologia no pós- operatório. O paciente<br />
sentiu maior conforto no lado em que foi utilizada<br />
a técnica com broca, relatando uma<br />
textura lisa, enquanto o outro lado apresentava<br />
uma textura áspera. Quanto à cicatrização, o<br />
lado executado pela lâmina de bisturi ainda não<br />
tinha completado a epitelização (Figuras 8, 9 e<br />
Figura 6 – Remoção do epitélio com lâmina 15c.<br />
Figura 8 – Cicatrização do lado direito.<br />
Figura 7 – Aspecto final do procedimento.<br />
RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
Após uma semana, o paciente retornou para<br />
a avaliação do procedimento, tendo preenchido a<br />
escala de dor e o questionário de observações.<br />
O Gráfico 1 representa a diferença do<br />
tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas. O<br />
tempo utilizado pela técnica utilizando broca e<br />
lâmina de bisturi foi respectivamente: 4 e 13<br />
minutos. O percentual diferencial entre as duas<br />
técnicas foi de 69,23%.<br />
Figura 9 – Cicatrização do lado esquerdo.<br />
Figura 10 – Aspecto após 7 dias.<br />
DISCUSSÃO<br />
Gráfico 1 – Tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas.<br />
O sucesso para remoção da discromia<br />
gengival tem sido amplamente relatado. Embora<br />
a pigmentação melânica étnica e fisiológica seja<br />
comum, ela não é um problema médico. Alguns<br />
indivíduos podem se tornar conscientes desta<br />
alteração durante o sorriso ou gargalhada e<br />
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REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER<br />
requerer a sua remoção (FARNOOSH, 1990;<br />
MARTINI, 1995; TAL, 2003).<br />
A escolha da técnica de dermo-abrasão<br />
com broca diamantada tem sido largamente utilizada<br />
para o tratamento de discromias gengivais,<br />
tendo sido introduzida por Fox em 1955. Segundo<br />
Haertel (2006), as vantagens desta técnica incluem<br />
a fácil realização e o baixo custo, sendo realizada<br />
sob efeito de anestesia infiltrativa local. Como<br />
pontos contrários discutem-se a dificuldade em<br />
se controlar a profundidade da dermo-abrasão,<br />
o sangramento como dificultador para completa<br />
remoção dos pigmentos, bem como dificuldade<br />
em se obter adequado acesso (ATSAWASUWAN<br />
et al, 2000). No caso relatado observou-se que a<br />
técnica utilizando broca diamantada foi mais<br />
vantajosa em relação ao tempo, já que nesta<br />
técnica foram gastos 4 minutos, a facilidade no<br />
manuseio do instrumental e no controle da<br />
hemostasia.<br />
Na dermo-abrasão com lâmina de bisturi<br />
a frio realizam-se movimentos suaves e atritamse<br />
o epitélio e tecido conjuntivo até a completa<br />
remoção da pigmentação presente. Esta técnica<br />
requer anestesia infiltrativa local previamente à<br />
sua realização. O sangramento presente pode<br />
dificultar a completa remoção dos pigmentos<br />
(HAERTEL, 2006). Em concordância com o autor,<br />
a técnica utilizando lâmina de bisturi apresentar<br />
facilidade de realização e baixo custo, porém o<br />
tempo cirúrgico é maior, aproximadamente 13<br />
minutos, requer uma maior destreza manual do<br />
cirurgião no ato e apresenta maior dificuldade no<br />
controle da hemostasia.<br />
A intensidade da dor é descrita com muita<br />
subjetividade e relacionada não apenas com o envolvimento<br />
patológico e limiar de dor do paciente,<br />
como também a emotividade e aspecto<br />
psicológico. A tentativa de quantificação da dor,<br />
determinando o grau 0 (zero – ausência de dor) a<br />
10 (dez – dor intensa), auxilia na avaliação da<br />
dor (ESTRELA, 1999). De acordo com a avaliação<br />
individual do paciente para cada hemi-arco, não<br />
houve incômodo relacionado à dor, porém no lado<br />
em que foi executada a técnica de dermo-abrasão<br />
com broca houve maior conforto, apresentado<br />
uma textura lisa e uniforme, enquanto o lado<br />
executado com lâmina de bisturi apresentou-se<br />
uma superfície áspera.<br />
A cicatrização por segunda intenção da<br />
área tratada ocorre pelo processo de reepitelização<br />
(epitelização secundária), pois a área da gengiva<br />
marginal foi despida de epitélio e a epitelização é<br />
dada pelo epitélio adjacente que se lastra pelo leito<br />
da ferida (PETTERSON, 2005). Podemos perceber,<br />
clinicamente, que após uma semana o lado direito<br />
estava praticamente epitelizado, enquanto o lado<br />
esquerdo apresentava-se edemaciado e com<br />
alguns pontos sangrantes.<br />
A repigmentação melânica refere-se ao<br />
reaparecimento clínico da pigmentação depois<br />
de um determinado período, e tem sido descrita<br />
em estudos com animais e humanos<br />
(HIRSCHFELD et al, 1951; DUMMETT, 1960;<br />
PERLMUTTER et al, 1986). Esta ocorrência é<br />
descrita como espontânea e tem sido associada<br />
com a migração de células produtoras de<br />
melanina das áreas próximas ao sítio tratado. Em<br />
nosso estudo não foi avaliado recidiva em razão<br />
do tempo de cicatrização ser ainda muito<br />
prematuro.<br />
CONCLUSÃO<br />
A ocorrência da pigmentação melânica é<br />
vasta, podendo acarretar problemas estéticos ao<br />
paciente. Há várias técnicas cirúrgicas para<br />
correção, dentre elas podemos destacar o uso de<br />
dermo-abrasão com brocas diamantadas ou<br />
lâminas de bisturi. Estas técnicas, além de<br />
apresentarem baixo custo, serem relativamente<br />
simples e de curta duração, trazem resultados<br />
favoráveis, devolvendo a harmonia do sorriso ao<br />
paciente. Diante do momento cirúrgico e dos<br />
resultados avaliados pós-operatórios, concluímos<br />
que a técnica de dermo-abrasão com broca<br />
diamantada mostra-se mais vantajosa em relação<br />
à técnica com lâmina de bisturi.<br />
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TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS<br />
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A case report. Dent Update, 1994, 21, p.<br />
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on oral pigmentation». J Periodontol, 1960,<br />
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Biológicos e Mecânicas. 1.ª ed. São Paulo: Artes<br />
Médicas, 1999.<br />
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Philadelphia. Philadelphia: W. B. Saunders CO,<br />
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8. HAERTEL, G. B. Discromias Gengivais. Campinas,<br />
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Oral Med. Oral Pathol., 1951, 4, p. 1.012-1.016.<br />
10. MARTINI, F. H. TIMMONS, M. J. Human<br />
Anatomy. New Jersey: Prentice Hall Publishers<br />
Company, 1995, p. 88-93.<br />
11. PERLMUTTER, S. TAL, H. «Repigmentation<br />
of the gingival following surgical injury». J.<br />
Periodontal, 1986, 57, p. 48-50.<br />
12. PETTERSON, L, ELLIS, E III, HUPP, J,<br />
TRUCKER, M. Cirurgia oral e maxilofacial al<br />
contemporânea. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara<br />
Koogan, 2005.<br />
13. TAL, Haim et. al. «Gingival Depigmentation<br />
by Erbium: YAG Laser: Clinical Observations and<br />
Patient Responses». J. Periodontology, 2003, 74, p.<br />
1.660-1.667.<br />
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REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA<br />
HAMARTOMA HIPOTALÂMIC<br />
ALÂMICO CAUS<br />
USAN<strong>DO</strong><br />
PURBEDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />
HAMARTOMA HYPOTHALAMIC CAUSE CENTRAL PRECOCIOUS PUBERTY: CASE REPORT<br />
REJANE NINA MARTINS NEVES 1 , FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA 2<br />
RESUMO: A puberdade precoce central (PPC) ou verdadeira, também chamada de dependente de gonadotrofinas,<br />
é causada por ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Trata-se de uma desordem rara, com<br />
incidência de 1:5.000 a 1:10.000 crianças/ano. É mais comum em meninas do que em meninos, em uma proporção<br />
de 5-10:1. Apresenta-se com um quadro clínico-laboratorial idêntico ao da puberdade normal, e muitos desses<br />
pacientes tornam-se potencialmente férteis. O prejuízo mais significativo da PPC, a longo prazo, é a redução da<br />
estatura do adulto. Distúrbio do sistema nervoso central (SNC) é uma das principais causas de PPC, entre eles o<br />
hamartoma do túber cinério tema deste relato de caso.<br />
Palavras-chave: Puberdade precoce central, eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, hamartoma do túber cinério.<br />
ABSTRACT: Central precocious puberty (CPP) or complete, it is also called dependent of gonadotrofine; it is caused<br />
by premature activation of the hypothalamic-pituitary-gonadal axis. It is a rare disorder, with incidence from<br />
1:5.000 to 1:10.000 children/year. It is more common in girls than in boys, (5-10:1). The clinical and laboratorial<br />
picture are identical to the one of normal puberty, and many of these patients become potentially fertile. The most<br />
significant damage of CPP is the decreasing of the final height. Central nervous system (CNS) disorder is one of the<br />
major causes of CPP, including the tuber cinereum hamartoma which is the theme of this paper.<br />
Key-words: Central Precocious Puberty, hypothalamic-pituitary-gonadal axis, tuber cinereum hamartoma.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Hamartomas hipotalâmicos (HHs) ou do<br />
túber cinério não são verdadeiros tumores. Tratase<br />
de malformações congênitas compostas de uma<br />
massa heterotrópica de neurônios neurossecretores,<br />
feixes de fibras e células gliais. Os HHs causam<br />
PPC geralmente antes dos três anos de idade<br />
por secretarem o hormônio GnRH (Hormônio<br />
Liberador de Gonadotrofinas), que estimula a<br />
hipófise a produzir LH (Hormônio Luteinizante) e<br />
FSH (Hormônio Folículo Estimulante), os quais, por<br />
sua vez, estimulam as gônadas a produzir os<br />
esteróides sexuais. Em alguns casos, contudo, o HH<br />
secreta o fator de crescimento transformante-á<br />
(TGF-á) que, por sua vez, estimula a secreção de<br />
GnRH. Outras possíveis manifestações incluem<br />
convulsões, sendo as mais características as crises<br />
convulsivas gelásticas (o paciente parece estar sorrindo<br />
permanentemente), cefaléia, sintomas visuais,<br />
retardo mental, distúrbios do comportamento<br />
e síndromes dismórficas.<br />
RELATO <strong>DO</strong> CASO<br />
Paciente do sexo masculino, 3 anos, natural<br />
e procedente de Manaus/AM, apresentou aos<br />
1 ano e 5 meses de idade aumento do pênis, dos<br />
testículos e surgimento de pêlos pubianos. Mãe<br />
afirmava que pronunciava poucas palavras, negou<br />
déficit auditivo e não relatou crises convulsivas.<br />
1<br />
Médica residente de Clínica Médica do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).<br />
2<br />
Médica especialista em endocrinologia e endocrinologia pediátrica assistente do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (<strong>HUGV</strong>) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSAN<strong>DO</strong> PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />
Ao exame físico inicial com idade cronológica<br />
de três anos apresentava acne na face, altura<br />
de 106 cm (acima do percentil 95) e com desvio<br />
padrão de altura de + 3,0 (Figura 1). O peso<br />
na época era de 20,4 kg com índice de massa<br />
corpórea de 18 (no percentil 90). A idade óssea<br />
aos 3 anos era de 7 anos (Figura 2). A altura-alvo<br />
do paciente (altura da mãe + altura do pai + 13 /<br />
2) era de 160,6 cm. O exame dos caracteres sexuais<br />
secundários e das gônadas revelou: pênis de 7<br />
cm de comprimento (desvio padrão para a idade<br />
de + 2,0); testículos de 3 cm no maior diâmetro,<br />
normal para a idade de 12 anos, G2/G3 no critério<br />
de Tanner e pêlos pubianos pigmentados e<br />
grossos no monte pubiano, P3 no critério de<br />
Tanner (Figura 3).<br />
Os exames laboratoriais mostraram LH: 2,3<br />
UI/L (> 0,6); FSH: 2,6 mUI/L (1,5-12,4); Testosterona<br />
total: 1,7 ng/ml (1 a 6 anos 0,03-0,32); TSH<br />
(Hormônio Tireostimulante): 7,2 fUI/mL (0,27-<br />
4,2); T 4<br />
livre (Tiroxina): 12 pmol/l (12-22); DHEA-<br />
S (Sulfato de De-hidropiandrosterona): 13 (1 a 4<br />
anos 0,47-19,4); 17-OHP (17- Hidroxiprogesterona):<br />
0,59 mg/24h (3-9), confirmando puberdade<br />
precoce central.<br />
Nos exames de imagem, a ultra-sonografia<br />
(US) de testículos revelou TD: 3,44 cm 3 , TE: 3,35<br />
cm 3 , o valor normal para idade é de 0,8 cm 3 . A<br />
Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de<br />
hipófise revelou uma formação expansiva,<br />
pedunculada, medindo perto de 1,9 x 1,6 cm,<br />
isointensa em relação à substância cinzenta em<br />
T1 e T2, sem impregnação pós-contraste, sugerindo<br />
hamartoma do túber cinério (Figura 4). Foi<br />
então iniciado tratamento preconizado com o<br />
acetato de leuprorrelida 3,75 mg intramuscular a<br />
cada 28 dias.<br />
DISCUSSÃO<br />
Diante da suspeita de um caso de puberdade<br />
precoce (PP), devemos lembrar as variantes<br />
normais de desenvolvimento pubertário como a<br />
telarca precoce, a telarca exagerada, a adrenarca<br />
precoce e a menarca precoce. Nestes casos, em<br />
geral, há uma progressão lenta e não compromete<br />
a altura final das crianças, raramente necessita<br />
de intervenção terapêutica. O primeiro passo<br />
para o diagnóstico é colher uma história clínica<br />
determinando a idade do início das manifestações.<br />
É considerada PP em meninas o surgimento<br />
de caracteres sexuais secundários antes dos oito<br />
anos de idade, e em meninos antes dos nove anos.<br />
Ainda na história clínica, devemos determinar a<br />
velocidade de progressão, pesquisar antecedentes<br />
mórbidos (infecções do SNC, traumatismo<br />
craniano, exposição a esteróides sexuais) e questionar<br />
sobre sintomas neurológicos ou sugestivos<br />
de hipotiroidismo. 1<br />
No exame físico inicial são dados importantes:<br />
altura, peso e altura-alvo da criança. Em<br />
seguida, verificar no gráfico de altura e peso se a<br />
criança encontra-se muito acima do esperado<br />
para a família, fato comum na PP; o exame das<br />
mamas e dos pêlos pubianos nas meninas e o exame<br />
dos testículos – maior diâmetro em centímetros<br />
– pênis e pêlos pubianos em meninos. Os<br />
caracteres sexuais devem então ser classificados<br />
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revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVE<strong>DO</strong> CORRÊA<br />
de acordo os critérios de Tanner. É importante<br />
também buscar manifestações de excesso de<br />
androgênios em ambos os sexos (acne, hirsutismo<br />
e cliteromegalia), bócio e alterações cutâneas. O<br />
exame neurológico deve ser feito incluindo a<br />
fundoscopia.<br />
Com a história clínica compatível e o exame<br />
físico alterado e/ou não esperado para a idade,<br />
devemos prosseguir solicitando radiografia de<br />
punho e mão para avaliar a idade óssea, a qual<br />
está usualmente avançada, US de testículos visando<br />
descartar neoplasia em caso de aumento<br />
testicular unilateral e US pélvica para avaliar a<br />
morfologia do útero e ovários, cujo tamanho está<br />
aumentado na PPC e normal nas variantes normais<br />
citadas acima. A RNM de hipófise ou a<br />
tomografia computadorizada (TC) de crânio são<br />
úteis para pesquisar a etiologia da PPC, mas devem<br />
ser realizadas somente após a confirmação<br />
bioquímica da PPC.<br />
Os exames bioquímicos são extremamente<br />
úteis no diagnóstico diferencial das formas de<br />
precocidade sexual e compreendem as dosagens<br />
hormonais em condição basal e o teste após estímulo<br />
com GnRH exógeno. Com o advento de<br />
novos imunoensaios mais sensíveis, como o IFMA<br />
(imunofluorométrico), tem sido proposto que a<br />
dosagem basal do LH poderia indicar o início da<br />
secreção aumentada de gonadotrofinas, distinguindo<br />
entre PPC, outras causas de PP e indivíduos<br />
pré-púberes. Níveis basais, portanto, de LH<br />
> 0,6 UI/L em indivíduos com PP seriam<br />
indicativos de PPC em ambos os sexos. No nosso<br />
paciente, o LH basal foi de 2,3 UI/L. O teste do<br />
GnRH se faz necessário apenas nos casos com<br />
valores basais d» a 0,6 UI/L com forte suspeita<br />
clínica. 1 O teste consiste na administração de<br />
GnRH 75 ìg/m 2 , máximo de 100 ìg, e dosagem<br />
do LH e FSH nos tempos: 0, 15, 30, 45 e 60 min. O<br />
teste é considerado positivo se houver pico de 6,9<br />
UI/L em meninas e 9,6 UI/L em meninos. A avaliação<br />
do FSH basal não é útil para o diagnóstico<br />
de PP. Quanto aos esteróides sexuais, os níveis de<br />
testosterona total têm maior sensibilidade<br />
diagnóstica em meninos do que os níveis de<br />
estradiol (E2) em meninas.<br />
Se os exames bioquímicos iniciais mostrarem<br />
o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas bloqueado,<br />
deve-se prosseguir a investigação para puberdade<br />
precoce periférica (PPP), por meio da<br />
dosagem de 17-OHP, androstenediona, DHEA e<br />
cortisol basais e após estímulo com ACTH na suspeita<br />
de hiperplasia adrenal congênita (HAC); testes<br />
de supressão com dexametasona para diferenciar<br />
tumor adrenal de HAC; e dosagem da â-hCG<br />
na pesquisa de tumores secretores de hCG. 1<br />
Embora os análogos agonistas GnRH tenham<br />
se tornado um tratamento estabelecido<br />
para PP, há poucos estudos a longo prazo sobre a<br />
recuperação do eixo hipófise-gonadal (função<br />
reprodutiva) e a saúde geral após a interrupção<br />
da terapia. 2 A indicação de tratamento deve estar<br />
vinculada à idade de apresentação dos<br />
caracteres puberais, como também à rapidez de<br />
sua progressão. Vários estudos correlacionam a<br />
eficiência terapêutica à menor idade de manifestação<br />
e de tratamento da PP, em especial antes<br />
dos cinco ou seis anos de idade. 1<br />
No caso apresentado neste artigo, o curto<br />
tempo de tratamento não permite que sejam feitas<br />
conclusões a respeito da eficácia do tratamento<br />
em longo prazo, principalmente com relação à<br />
altura final atingida.<br />
A patogênese da PPC e das convulsões<br />
gelásticas em função de um HH ainda está em<br />
debate. Foi avaliada em um estudo a relação dos<br />
sintomas clínicos com a morfologia e a localização<br />
dos HHs em 34 pacientes. A maioria dos HHs<br />
dos pacientes com PPC isolada (86,4%) era do sexo<br />
feminino (N = 22; 68,2%). Os HHs apresentaram<br />
uma posição para-hipotalâmica sem afetar o terceiro<br />
ventrículo em 91% dos casos, metade deles<br />
era pedunculada e 40,9% apresentaram um diâmetro<br />
< 10 mm. Em contrapartida, 11 dos 12 pacientes<br />
com crises epilépticas apresentaram<br />
hamartoma séssil intra-hipotalâmico, em dez dos<br />
quais havia distorção do terceiro ventrículo. É<br />
mais provável que a posição do HH e envolvimento<br />
do terceiro ventrículo sejam mais preditivos das<br />
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v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSAN<strong>DO</strong> PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO<br />
características clínicas do que o tamanho e a forma<br />
do HH. 3<br />
Em outro estudo com dez crianças apresentando<br />
sinais físicos de puberdade (cinco meninas<br />
e cinco meninos) com PPC em função de<br />
HH com idade média de 2,2 +/- 1,6 ano. Dois<br />
dos dez tinham uma massa pedunculada, e oito<br />
dos dez tinham uma massa séssil. O HH variou<br />
de diâmetro de 4-25 mm e não mudou com o tempo<br />
(3,5-8,7 anos). Quatro pacientes tinham crises<br />
epilépticas: três com convulsões gelásticas e um<br />
com convulsão tônico-clônica. As formas do HH,<br />
séssil ou pedunculado, não se relacionaram com<br />
a ocorrência de convulsões. Os dados clínicos<br />
eram comparáveis as dez pacientes do sexo feminino<br />
com puberdade precoce idiopática (PPI).<br />
Nove dos dez pacientes com HH e todos com PPI<br />
foram tratados com o agonista do GnRH. A resposta<br />
ao tratamento foi excelente em ambos os<br />
grupos e indistinguível. Embora ressecção cirúrgica<br />
do HH tenha sido recomendada em alguns<br />
artigos, observou-se um aumento da morbi-mortalidade,<br />
e se a remoção for incompleta, não há<br />
melhora clínica. Na experiência do estudo em<br />
questão, a terapia com agonistas do GnRH é preferível<br />
à abordagem cirúrgica. 4<br />
Para estudar a resposta terapêutica ao<br />
agonista GnRH, foi realizado um estudo de segmento<br />
com 11 meninos com HH após 8,8 ± 3,2<br />
anos do tratamento. Os níveis de FSH e LH, testosterona,<br />
volume dos testículos e índice de massa<br />
corporal (IMC) foram comparados com os de<br />
seis rapazes normais em estágio puberal IV-V.<br />
Verificou-se que o LH, o FSH e a testosterona normalizaram<br />
por um ano após a interrupção terapêutica.<br />
Os pacientes com testículos de volumes<br />
menores permaneceram normais até dois anos<br />
após a terapêutica. Após quatro anos do tratamento,<br />
todos os pacientes tinham pêlos pubianos<br />
em estágio puberal V; seu IMC não foi diferente<br />
dos rapazes normais. Os HHs não se alteraram<br />
durante ou após a terapêutica, e nenhum paciente<br />
relatou novos sintomas neurológicos ou sinais<br />
sugestivos de aumento da lesão. 5<br />
Este relato de caso chama a atenção para a<br />
importância do reconhecimento e da investigação<br />
da PP por ter um impacto psicossocial significativo<br />
nas famílias dos pacientes que quase sempre<br />
desconhecem as etiologias e o prognóstico da PP.<br />
O controle da progressão puberal propicia<br />
redução do grau de ansiedade dos familiares<br />
e do maior risco de abuso sexual a que as crianças<br />
com PP estão sujeitas. Pode ainda atuar de<br />
maneira benéfica na fertilidade futura e na redução<br />
do risco de câncer de mama associado à<br />
menarca precoce, 1 além de preservar a estatura<br />
final destes indivíduos.<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. VILAR, L. Endocrinologia Clínica. 3.ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2006, p. 204 a 217.<br />
2. Feuillan P. P., et al. «Reproductive Axis after<br />
Discontinuation of Gonadotropin-Releasing<br />
Hormone Analog Treatment of Girls with<br />
Precocious Puberty: Long Term Follow-Up<br />
Comparing Girls with Hypothalamic Hamartoma<br />
to Those with Idiopathic Precocious Puberty». The<br />
Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, vol.<br />
84, n.º 1, p. 44-49, 1999.<br />
3. Jung, H., Probst, et al. «Association of<br />
Morphological Characteristics with Precocious<br />
Puberty and/or Gelastic Seizures in Hypothalamic<br />
Hamartoma». The Journal of Clinical Endocrinology<br />
& Metabolism, vol. 88, n.º 10, p. 4.590-4.595, 2003.<br />
4. Mahachoklertwattana P., Kaplan S. L.,<br />
GRUMBACH M. M. «The luteinizing hormonereleasing<br />
hormone-secreting hypothalamic<br />
hamartoma is a congenital malformation: natural<br />
history». Journal of Clinical Endocrinology &<br />
Metabolism, vol. 77, p. 118-124, 1993.<br />
5. Feuillan P. P., et al. «Boys with Precocious<br />
Puberty Due to Hypothalamic Hamartoma:<br />
Reproductive Axis after Discontinuation of<br />
Gonadotropin-Releasing Hormone Analog<br />
Therapy». The Journal of Clinical Endocrinology &<br />
Metabolism, vol. 85, n.º 11, p. 4.036-4.038, 2000.<br />
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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />
A IMPORTÂN<br />
ÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJ<br />
ANEJAMENT<br />
AMENTO NA<br />
REABILITAÇÃ<br />
ÇÃO ESTÉTIC<br />
TÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA<br />
CIRUR<br />
URGIA PLÁS<br />
ÁSTIC<br />
TICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE<br />
CASO<br />
THE IMPORTANCE OF PLANNING THE SMILE AESTHETIC REHABILITATION THROUGH PLASTIC<br />
PERIO<strong>DO</strong>NTAL SURGERY: CASE REPORT<br />
LISSA YUKA MENEZES SATO 1 , NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES 1 , MIRIAM RAQUEL ARDIGÓ WESTPHAL 2 ,<br />
SAMUEL LUNGAREZE 3 , FIKRIYE VIGA YURTSEVER 4<br />
RESUMO: A estética é uma ciência que nos dias de hoje está cada vez mais presente e almejada no tratamento<br />
odontológico. Nesse contexto, o planejamento é uma ferramenta essencial para a obtenção de um resultado favorável<br />
para harmonia estética do sorriso. O presente artigo tem por objetivo relatar um caso clínico de planejamento de<br />
cirurgia plástica periodontal empregada na correção do sorriso gengival, com um auxílio de um guia cirúrgico, no<br />
qual foi possível contribuir para sucesso do tratamento e a estética do sorriso.<br />
Palavras-chave: Planejamento, guia cirúrgico, sorriso gengival, erupção passiva alterada, cirurgia plástica<br />
periodontal.<br />
ABSTRACT: The aesthetic is a science that, currently, it is more present and desired in the dental treatment. In this<br />
context, the planning is an essential tool to obtain a favorable result to the aesthetic harmonic smile. This article<br />
aims to report a case of periodontal plastic surgery planning, using a surgical template, used in the correction of the<br />
gummy smile, that contributed to improve the success of the treatment and the smile aesthetics.<br />
Key-words: planning, surgical template, gummy smile, delayed passive eruption, periodontal plastic surgery.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A Periodontia mudou o enfoque nos últimos<br />
anos, deixando de preocupar-se exclusivamente<br />
com a prevenção e tratamento das doenças,<br />
e passando a buscar alternativas efetivas para<br />
reconstrução de uma estética dos tecidos<br />
periodontais perdidos (SILVA et al., 2007). No<br />
século 21, para o sucesso dos tratamentos<br />
odontológicos, os cirurgiões-dentistas deverão ter<br />
a destreza de acompanhar os avanços científicos<br />
e novas tecnologias, assim como compreender<br />
aspectos culturais e hábitos do paciente, proporcionando-lhe<br />
os cuidados necessários para<br />
melhoria de sua condição de saúde bucal, sem<br />
comprometer sua expectativa em relação à estética<br />
(CHESTER et al., 2000).<br />
Condições estéticas relacionadas à saúde<br />
gengival são componentes essenciais para a imagem<br />
e alguns dos parâmetros estéticos envolvidos<br />
no que se diz «sorriso ideal» estão incorporados<br />
à estética facial e gengival, macroestética e<br />
microestética (BORGHETTI, 2002; MORLEY &<br />
EUBANK, 2001).<br />
Numerosas situações podem comprometer<br />
as características normais da gengiva influenciando<br />
a condição estética dentofacial, dentre elas<br />
podemos destacar os processos infecto-inflama-<br />
1<br />
Acadêmicas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas<br />
2<br />
Professora titular da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Endodontia e Periodontia, mestranda em Periodontia – SLMandic/SP<br />
3<br />
Professor substituto da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia, mestrando em Patologia Tropical – Ufam<br />
4<br />
Professora substituta da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia<br />
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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />
tórios, hiperplasias, alterações de cor e recessões<br />
gengivais (FERNÁNDEZ et al., 2005). Uma das<br />
alterações a ser destacada é definida como a exposição<br />
de mais de 3mm de gengiva durante um<br />
sorriso moderado constituindo o sorriso gengival<br />
(ARAÚJO et al., 2007). Este artigo, embasado em<br />
evidências científicas, tem como objetivo o relato<br />
de caso clínico ressaltando a importância do planejamento<br />
cirúrgico para o sucesso da correção<br />
do sorriso gengival.<br />
REVISÃO DE LITERATURA<br />
Mudanças atuais nos paradigmas clínicos<br />
do tratamento periodontal têm criado um ambiente<br />
no qual os procedimentos estéticos periodontais<br />
são, muitas vezes, tão comuns como as terapias<br />
ressectivas realizadas anteriormente. Pode<br />
notar-se na população a tendência em direção ao<br />
reconhecimento da estética gengival e a<br />
comercialização de saúde em benefício próprio,<br />
por isso a demanda torna-se mais sofisticada e<br />
exigente aos profissionais em relação aos procedimentos<br />
odontológicos (MORLEY & EUBANK,<br />
2001; REDDY, 2003).<br />
Primordialmente, os elementos que contribuem<br />
para a estética do periodonto do segmento<br />
anterior estão relacionados no plano facial e labial<br />
e dependem da disposição dentária e da gengiva;<br />
no entanto, é importante correlacionar conjuntamente<br />
todos esses elementos para obter uma<br />
harmonia estética global (DUARTE, 2003).<br />
No «design» do sorriso, o ponto de partida<br />
para o plano de tratamento estético é a linha<br />
sagital mediana, pois esta referência é utilizada<br />
como guia estético facial porque, além de coincidir<br />
com a linha interincisiva, permitindo sua localização,<br />
também avalia as discrepâncias transversais<br />
nas posições dos dentes. Vale salientar que<br />
sua verticalidade é mais importante do que seu<br />
eventual afastamento lateral (BORGHETTI, 2002;<br />
MORLEY & EUBANK, 2001).<br />
A linha do sorriso, um dos fatores de grande<br />
influência da estética dos dentes e da face,<br />
define-se pelo paralelismo na curvatura entre as<br />
linhas incisal e labial inferior. Este fator estético é<br />
classificado em três categorias: alta, representada<br />
pela extensão coronária dos dentes anteriores<br />
superiores e uma faixa contínua de gengiva; média,<br />
que compreende os dentes anteriores superiores<br />
e gengiva interproximal; e baixa, que<br />
corresponde somente aos dentes anteriores superiores,<br />
assim determinando a orientação da linha<br />
do sorriso, o profissional pode projetar sua curvatura<br />
e forma (DUARTE, 2003).<br />
No entanto, quando as bordas incisais dos<br />
incisivos centrais superiores localizam-se abaixo<br />
dos caninos superiores, a linha do sorriso tem<br />
um design convexo, ocasionando um aspecto<br />
harmônico com a linha do lábio inferior. Entretanto,<br />
quando a borda oclusal dos caninos e prémolares<br />
superiores está localizada além da borda<br />
incisal dos incisivos centrais superiores, define-se<br />
a «linha do sorriso reversa» resultando na<br />
desarmonia dentofacial (MORLEY & EUBANK,<br />
2001).<br />
De acordo com os fatores estéticos abordados,<br />
a observação do tipo de sorriso é de fundamental<br />
importância no planejamento estético<br />
dos casos clínicos (SILVA et al., 2007). Há dois<br />
padrões aceitáveis de sorriso classificados de acordo<br />
com relação à altura da margem gengival em<br />
áreas estéticas: 1) a margem gengival dos incisivos<br />
centrais superiores (ICS) e caninos (CS) devem<br />
estar com a margem dos incisivos laterais<br />
(ILS) posicionada à incisal de 1 a 2mm (Classe I);<br />
e 2) o ICS, ILS e CS na mesma altura (Classe II).<br />
Outro aspecto fundamental para o planejamento<br />
estético compreende o zênite gengival, o qual<br />
corresponde à porção mais apical da margem<br />
gengival. Em função da inclinação dos dentes ser<br />
mesial em relação à linha média e interincisiva, o<br />
zênite gengival no segmento anterior é levemente<br />
distal ao eixo axial dos dentes. Isso é valido para<br />
o ICS e CS; já nos ILS o zênite é normalmente<br />
coincidente com seu longo eixo, provavelmente<br />
pela diminuta largura do seu diâmetro cervical<br />
(CHICHE & PINAULT, 1994).<br />
68<br />
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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />
No entanto, comumente os cirurgiões-dentistas<br />
se depararam com os desvios da normalidade<br />
que podem ocasionar no colapso estético<br />
periodontal, por isso a necessidade de o profissional<br />
estar apto a diagnosticar alterações acometidas<br />
ao periodonto, dentre elas destaca-se o sorriso<br />
gengival o qual é considerado um achado<br />
antiestético pelos pacientes. Este tipo de sorriso<br />
pode ser definido como a exposição de mais de<br />
3mm de gengiva durante um sorriso moderado.<br />
Erupção passiva alterada, aumento do volume de<br />
gengiva pelo acúmulo de biofilme dental ou uso<br />
de medicamentos, excesso vertical de maxila, lábio<br />
superior curto e extrusão dentoalveolar estão<br />
dentre os fatores etiológicos desta condição (ARA-<br />
ÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2007).<br />
A erupção passiva alterada (EPA) desenvolve<br />
quando a margem gengival encontra-se<br />
incisalmente da coroa anatômica em indivíduos<br />
adultos e não migra apicalmente para uma posição<br />
próxima do limite amelocementário (LAC)<br />
(BALDA et al., 2006). A EPA foi classificada<br />
correlacionando a quantidade de gengiva<br />
queratinizada à crista óssea. Esta classificação<br />
abrange dois tipos e subtipos, sendo que o tipo I<br />
possui a margem gengival coronária a LAC, considerável<br />
largura gengival e junção mucogengival<br />
(JMG) geralmente apical à crista óssea e o tipo II<br />
determina que a JMG e LAC são geralmente concordantes<br />
e a largura gengival diminuída em relação<br />
à média e localizada na coroa anatômica.<br />
Os subtipos são os seguintes: subtipo A envolve<br />
1,5mm entre o LAC e a crista óssea, e o subtipo B<br />
define que a distância entre a LAC e a crista óssea<br />
está no mesmo nível (COSLET et al., 1977;<br />
DUARTE, 2003).<br />
RELATO <strong>DO</strong> CASO CLÍNICO<br />
Paciente A. P. B, gênero feminino,<br />
leucoderma, 32 anos, compareceu à Clínica de<br />
Periodontia da Faculdade de Odontologia da<br />
Universidade Federal do Amazonas para a realização<br />
de um exame semiológico de rotina. No<br />
exame físico extra-oral, foi observada linha alta<br />
do sorriso, a qual proporcionava o aparecimento<br />
de mais de 3mm de gengiva. No exame intrabucal<br />
foi constatado que a paciente apresentava periodonto<br />
espesso no segmento superior anterior com<br />
características de hiperplasia gengival (Foto 1). No<br />
exame periodontal obteve-se 34% do Índice<br />
Gengival (IG) de Aimano e Bay, 94% do Índice de<br />
Placa (IP) de O’Leary, e no Nível de Inserção Clínico<br />
(NIC) a média obtida foi de 3-4mm, sendo<br />
comprovado pelas radiografias.<br />
Figura 1 – Aspecto Clínico Inicial<br />
Após análise dos achados clínicos e<br />
radiográficos, foi diagnosticado que a paciente<br />
apresentava sorriso gengival em função de uma<br />
alteração no desenvolvimento dos processos de<br />
erupção, denominada como erupção passiva alterada,<br />
sendo classificada em tipo I – subgrupo A. O<br />
tratamento preconizado foi o periodontal básico<br />
de suporte, alisamento radicular, controle da higiene<br />
bucal, orientação da técnica de escovação de<br />
Bass e motivação. A reavaliação foi executada após<br />
15 dias e foi verificada que o IG e IP reduziram<br />
para 32 e 47%, respectivamente; entretanto, não<br />
houve a remissão do quadro hiperplásico.<br />
No planejamento da correção do sorriso<br />
gengival, primeiramente foi confeccionado um<br />
modelo de gesso para auxiliar o estudo do caso.<br />
Em seguida, foi realizada a demarcação dos pontos<br />
nas medidas do NIC da paciente, sendo que<br />
em cada dente foram demarcados três pontos,<br />
localizados na mesial, vestibular e distal (Foto 2).<br />
Após a demarcação dos pontos, foi confeccionado<br />
o traçado da altura desejada da margem<br />
gengival (Foto 3).<br />
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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />
Conforme as marcações realizadas, o guia<br />
cirúrgico foi confeccionado em resina composta<br />
fotopolimerizável, a qual foi colocada sobre as<br />
superfícies dos dentes a serem cirurgicamente tratados<br />
(Foto 5).<br />
Figura 2 – Mapeamento do NIC<br />
Figura 5 – Confecção do guia cirúrgico<br />
Figura 3 – Traçado da altura da margem gengival<br />
O seguinte passo do planejamento foi a demarcação<br />
dos zênites de cada dente para servir de<br />
base na confecção do guia cirúrgico (Foto 4), sendo<br />
que os zênites dos elementos dentários 13, 11 e<br />
21 foram dispostos para a distal e dos elementos<br />
12 e 23 direcionou-se para a eixo axial dos respectivos<br />
elementos. Entretanto, é preconizado que o<br />
zênite dos CS seja deslocado para a distal, sendo<br />
que, neste relato de caso, o zênite do 23 foi deslocado<br />
para sua linha média, pois em razão da ausência<br />
do elemento 22, este se reposicionou no lugar<br />
do ILS. A alteração do zênite do CS para ILS<br />
permitiu a transformação do CS em ILS reabilitando<br />
a paciente para obtenção de um sorriso harmônico<br />
e esteticamente aceitável.<br />
Após a seqüência do planejamento descrito,<br />
foi possível a realização da cirurgia plástica<br />
periodontal, proposta para a correção do sorriso<br />
gengival da paciente deste caso clínico.<br />
A técnica cirúrgica adotada foi de<br />
gengivectomia com osteoplastia utilizando o retalho<br />
de Widman Modificado, sendo que o guia<br />
cirúrgico foi utilizado para a demarcação dos<br />
pontos sangrantes. Em seguida, foram realizadas<br />
as incisões do retalho de Widman Modificado<br />
para a remoção do colarinho gengival (Fotos<br />
6 e 7). Subseqüentemente, o retalho total foi descolado<br />
removendo o tecido de granulação, o que<br />
viabilizou a remodelação do recontorno ósseo<br />
com a osteoplastia, a fim de promover o restabelecimento<br />
do espaço biológico e conseqüentemente<br />
a melhoria da estética periodontal (Foto<br />
8).<br />
Figura 4 – Demarcação dos zênites<br />
Figura 6 – Incisões do Retalhe de Widman Modificado<br />
70<br />
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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />
Figura 7 – Remoção do colarinho gengival<br />
Figura 10 – Aspecto clínico final com reanatomização do CS em ILS<br />
DISCUSSÃO<br />
Figura 8 – Recontorno ósseo com aparecimento do LAC<br />
Concluindo a cirurgia periodontal, depois<br />
da devida irrigação com soro fisiológico e<br />
limpeza da área cirúrgica, reposicionou-se o<br />
retalho para a realização da sutura em<br />
colchoeiro vertical e ponto simples na região das<br />
papilas (Foto 9). Após 7 dias, foram retiradas<br />
as suturas e pôde observar-se o aspecto clínico<br />
final com a reanatomização do CS em ILS (Foto<br />
10). As recomendações pós-operatórias dadas<br />
foram que a paciente deveria evitar a escovação<br />
na região da área cirúrgica e somente fazer a<br />
higienização com digluconato de clorexidina<br />
0,12%.<br />
Figura 9 – Sutura em colchoeiro vertical<br />
Com a evolução das técnicas plásticas periodontais<br />
e o melhor entendimento dos aspectos<br />
ligados à estética do sorriso, diversas alternativas<br />
estão disponíveis no arsenal terapêutico para contribuir<br />
numa abordagem multidisciplinar do tratamento<br />
odontológico. A obtenção do sucesso estético<br />
requer um planejamento criterioso que envolva<br />
a avaliação detalhada de todos os fatores<br />
que interfiram na harmonia e simetria dos elementos<br />
que compõe o sorriso segundo Silva et al.<br />
(2007).<br />
De acordo com Nowzari (2001), todos os<br />
planejamentos dos procedimentos odontológicos<br />
clínicos ou cirúrgicos devem ser baseados em evidências<br />
científicas comprovadas que irão promover<br />
o sucesso do tratamento. Sem antecipar potenciais<br />
falhas, qualquer expectativa almejada e<br />
satisfação imediata do paciente são limitadas e<br />
ignora futuros acidentes que possam vir a ocorrer<br />
durante o trans- e pós-operatório dos procedimentos.<br />
Baseado no modelo de gesso para estudo,<br />
pôde fazer-se o criterioso planejamento estético<br />
para a correção do sorriso gengival da paciente,<br />
sendo que o excesso gengival não causa somente<br />
problemas estéticos, mas também funcionais,<br />
como a proteção diminuída ao traumatismo<br />
da função mastigatória ou colaborando com a<br />
doença periodontal.<br />
Para Borghetti (2002) e Silva et al. (2007),<br />
o planejamento estético periodontal deve-se avaliar<br />
a forma, cor e disposição dos dentes anteriores<br />
e o seu relacionamento com os tecidos moles<br />
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A IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong> PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA <strong>DO</strong> SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIO<strong>DO</strong>NTAL: RELATO DE CASO<br />
que determinam o sorriso, conferindo um contexto<br />
de harmonia em relação à face do paciente, além<br />
de avaliar a condição periodontal, biótipo<br />
periodontal, linha do sorriso e exposição gengival,<br />
contorno e zênite gengival. De acordo com a paciente<br />
do caso em questão, ela se enquadra nos<br />
padrões antiestéticos em relação ao contorno<br />
gengival, pois, quando sorri, fica evidente mais<br />
de 3mm de gengiva caracterizando o sorriso<br />
gengival.<br />
De acordo com Fernández (2005), a erupção<br />
passiva alterada é caracterizada pela presença<br />
de coroa clínica curta com um excesso de gengiva<br />
que cobre parte da coroa anatômica, sendo<br />
que o diagnóstico pode realizar-se verificando a<br />
distância entre a margem gengival e o limite<br />
amelocementário em relação à borda incisal, altura<br />
de gengiva queratinizada, localização da<br />
crista alveolar, posição dos dentes, situação do<br />
freio, nível de inserção clínica e grau de inflamação.<br />
As características clínicas do periodonto e<br />
dente da paciente eram condizentes com as características<br />
descritas por este autor, o que nos<br />
sugeriu o diagnóstico de erupção passiva alterada.<br />
Segundo Borghetti (2002), a linha estética<br />
gengival pode ser definida como uma linha que<br />
une as tangentes dos zênites gengivais marginais<br />
dos ICS e dos CS e ângulo desta linha é formado<br />
pela intersecção dessa linha com a linha<br />
interincisiva. Partindo dos valores normais da relação<br />
comprimento/largura, da anatomia, da<br />
posição e do alinhamento do segmento dentário<br />
anterior, a melhor escolha estética para paciente<br />
foi a classificação tipo II da linha estética gengival,<br />
a qual é definida que localização dos elementos<br />
dentários ICS, ILS e CS estão na mesma altura,<br />
formando o ângulo de 90º com a linha<br />
interincisiva. Entretanto, a classificação tipo I da<br />
linha estética gengival é considerada a mais aceitável<br />
no padrão estético, porém, em função da<br />
ausência do elemento dentário 22 e com<br />
concomitante migração do CS para a distal ICS,<br />
a classificação do tipo I não foi considerada estética<br />
para a paciente deste caso, optando-se assim<br />
pela utilização da classe II também considerada<br />
esteticamente aceitável.<br />
Segundo Duarte (2003) e Silva et al. (2007),<br />
o zênite gengival, fator necessário para o planejamento<br />
estético, é caracterizado por ser a porção<br />
mais apical da margem gengival, sendo que<br />
nos ICS e CS está deslocado para a distal em relação<br />
à linha média e interincisiva, e nos ILS o zênite<br />
normalmente coincide com seu longo eixo, provavelmente<br />
pela diminuta largura do seu diâmetro<br />
cervical A marcação dos zênites da paciente<br />
foi baseada neste dado direcionando os zênites<br />
dos elementos dentários 11 e 13 para a distal,<br />
e do 12 e 23 para linha média do dente em questão.<br />
Para Walker et al. (1998), o planejamento<br />
cirúrgico com o uso do guia de resina no sextante<br />
anterior permite que o cirurgião-dentista possa<br />
visualizar com exatidão a posição da margem<br />
gengival em relação à coroa, principalmente quando<br />
estão envolvidos múltiplos dentes. Em concordância<br />
com o autor, o uso do guia cirúrgico inserido<br />
no planejamento auxiliou na alteração do zênite<br />
do CS para o ILS, o que contribuiu para a<br />
melhoria estética periodontal após a reabilitação<br />
da paciente.<br />
Redlich et al. (1999), ao reportarem um<br />
caso de sorriso gengival, também utilizaram a técnica<br />
de gengivectomia com osteoplastia dando<br />
ênfase que a localização precisa da junção<br />
amelocementária é essencial para atingir uma<br />
melhora estética significativa. Em um trabalho<br />
mais recente, Araújo et al. (2007) afirmaram que<br />
no manejo de um caso de sorriso gengival realizaram<br />
procedimentos de frenectomia,<br />
gengivectomia interna, osteotomia, osteoplastia e<br />
confecção de facetas de porcelana, alcançando<br />
dessa forma a estética almejada. No atual relato<br />
de caso, foi utilizada a técnica de gengivectomia<br />
com o recontorno ósseo pela osteoplastia, a fim<br />
de esculpir arquitetura gengival desejada e restabelecer<br />
o espaço biológico, já que a crista alveolar<br />
estava acima da JAC, o que nos possibilitou realizar<br />
o diagnóstico conclusivo de erupção passiva<br />
alterada.<br />
72<br />
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LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER<br />
Portanto, o estudo do caso e aplicação de<br />
um planejamento, embasado em evidências científicas,<br />
para a correção do sorriso gengival, permitiu<br />
que o resultado estético final fosse almejado,<br />
sendo de suma importância a expectativa<br />
positiva do paciente e do profissional, visto que<br />
as mudanças provocadas por esses procedimentos<br />
cirúrgicos são irreversíveis.<br />
CONCLUSÃO<br />
O planejamento estético depende do entendimento<br />
pleno dos conceitos periodontais, procurando<br />
inter-relacioná-los com informações relevantes<br />
de outras especialidades odontológicas<br />
afins. A importância desta ferramenta está relacionada<br />
ao sucesso do resultado final dos procedimentos<br />
odontológicos, além de concretizar a<br />
expectativa do paciente no restabelecimento de<br />
suas condições estéticas. Em suma, o procedimento<br />
cirúrgico obteve êxito, pois foi alcançado o padrão<br />
estético proposto no planejamento para a<br />
correção do sorriso gengival.<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHAL<br />
RELATO DE CASO: INSUFICIÊNCIA CIA RESPIRATÓRIA<br />
PÓS-PLEURODESE<br />
CASE REPORT: ACUTE RESPIRATORY FAILURE AFTER POST-PLEURODESIS<br />
FERNAN<strong>DO</strong> LUIZ WESTPHAL 1 , LUIZ CARLOS DE LIMA 1 , JOSÉ CORRÊA DE LIMA NETTO 2 , INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA 3 ,<br />
ANA MÁRCIA FREITAS CARLOS 3 , DANIELLE CRISTINE WESTPHAL 3<br />
RESUMO: Relatar caso de insuficiência respiratória pós-pleurodese em paciente com derrame pleural com células<br />
malignas. RELATO DE CASO. Paciente de 51 anos, sexo feminino, com história pregressa de neoplasia de mama,<br />
com queixas de dispnéia, exames de imagem referindo derrame pleural e presença de células malignas à análise do<br />
líquido pleural, tratada com pleurodese com talco e evoluindo com sinais e sintomas de congestão pulmonar.<br />
Palavras-chave: Pleurodese por talco, Insuficiência respiratória, Câncer.<br />
ABSTRACT: To report a case of respiratory failure post-pleurodesis in a patient with pleural effusion of malignant<br />
cells. CASE REPORT. A 51-year-old woman, with previous breast cancer, reporting dyspnea, pulmonary images<br />
revealing pleural effusion and the presence of malignant cells under pleural effusion analysis, treated with talc<br />
pleurodesis and undergoing signs and symptoms of pulmonary congestion.<br />
Key-Words: Talc pleurodeses, Respiratory failure, Cancer.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Acúmulo de derrame pleural com células<br />
neoplásicas pode acompanhar a disseminação<br />
maligna e causar sintomas significativos com comprometimento<br />
na qualidade de vida dos pacientes.<br />
Pleurodese é um procedimento que visa obliterar<br />
a cavidade pleural aliviando os sintomas e<br />
melhorando a qualidade de vida do paciente.<br />
Diversos agentes têm sido utilizados na obtenção<br />
da pleurodese, e, dentre eles, o talco parece ser o<br />
de maior eficácia. 1<br />
Talco é um silicato de magnésio hidratado,<br />
foi utilizado pela primeira vez em 1935 pelo<br />
cirurgião Norman Bethune e tornou-se popular<br />
na segunda metade do século 20 por induzir<br />
pleurodese em diversas doenças pleurais, dentre<br />
elas pneumotórax espontâneo, doenças benignas<br />
e malignas. Comparado com outros agentes<br />
indutores de pleurodese, o talco ainda parece ser<br />
o agente com os melhores resultados em termos<br />
de eficácia e com menor recorrência de efusão. 2<br />
Efusões pleurais malignas são uma das<br />
principais causas de efusão pleural recorrente e<br />
ocorre mais comumente devido a um câncer de<br />
pulmão disseminado em homens e câncer de<br />
mama em mulheres, e a pleurodese é considerada<br />
efetiva no controle da recorrência destas efusões<br />
pleurais. 3 Seu uso, entretanto, não está livre de<br />
efeitos adversos.<br />
A literatura em geral demonstra que febre,<br />
dor de intensidade variável, empiema e falência<br />
respiratória podem ocorrer, principalmente<br />
quando usadas altas doses de talco, 3 além do desenvolvimento<br />
de hipóxia e síndrome da angústia<br />
respiratória do adulto, associada a seu significativo<br />
espectro de toxicidade. 2,5<br />
O objetivo deste trabalho é relatar um<br />
caso de derrame pleural após pleurodese em<br />
um paciente do sexo feminino com efusão pleu-<br />
1<br />
<strong>Hospital</strong> Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de<br />
Cirurgia Torácica<br />
2<br />
<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – Serviço de Cirurgia Torácica<br />
3<br />
Acadêmicas de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam)<br />
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RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE<br />
ral maligna e história pregressa de câncer de<br />
mama.<br />
HISTÓRIA CLÍNICA<br />
Paciente do sexo feminino, 51 anos, queixase<br />
de dispnéia associada a mudanças de decúbito<br />
e em posição ortostática há cerca de 10 meses.<br />
Relata que apresentou neoplasia de mama<br />
esquerda em junho de 2005 e, ainda, metástase<br />
óssea no fim do referido ano. Houve recidiva local<br />
em agosto/2006, quando realizou nova QT e<br />
radioterapia. Refere fratura patológica do colo do<br />
fêmur fazendo prótese total do quadril.<br />
Ao Rx de tórax foi observado derrame pleural<br />
bilateral com maior volume à direita. À análise<br />
do derrame pleural, obteve-se resultado positivo<br />
para células neoplásicas. A tomografia computadorizada<br />
de tórax revelou derrame pleural<br />
bilateral volumoso além de lesões osteolíticas nas<br />
vértebras.<br />
Indicou-se videopleuroscopia com pleurodese<br />
com talco para o tratamento do derrame<br />
pleural neoplásico. O procedimento transcorreu<br />
sem intercorrências e a paciente foi encaminhada<br />
à unidade de terapia intensiva, extubada. Após<br />
cerca de 18 horas, iniciou quadro de dispnéia e<br />
desconforto respiratório e a radiografia de tórax<br />
neste momento revelava presença de congestão<br />
pulmonar (Figura 1). O quadro evoluiu com piora<br />
clínica acentuada, necessitando do suporte<br />
ventilatório não-invasivo. Associado a isto, o<br />
padrão radiológico revelava áreas de consolidação<br />
algodonosas esparsas, mais evidentes à direita<br />
(Figura 2).<br />
Figura 1 – Radiografia de tórax demonstrando congestão pulmonar.<br />
Figura 2– Radiografia de tórax com áreas de consolidações algodonosas<br />
esparsas.<br />
Iniciou-se corticoterapia e restrição hídrica<br />
com períodos de ventilação não-invasiva. Após 4<br />
dias, houve involução do quadro de dispnéia e<br />
melhora do quadro radiológico. O diagnóstico da<br />
complicação pós-operatória foi de edema<br />
pulmonar pós-pleurodese.<br />
DISCUSSÃO<br />
O câncer de mama é uma das neoplasias<br />
mais comuns, causando aproximadamente um<br />
terço de todos os derrames pleurais com células<br />
malignas. A maioria dos pacientes com derrame<br />
pleural neoplásico decorrentes de tumores sólidos<br />
evolui a óbito em 6 meses, enquanto aqueles com<br />
derrame pleural neoplásico por causa da<br />
carcinoma de mama apresentam sobrevida média<br />
maior, fato este que estimula a utilização de estratégias<br />
paliativas para controle da dispnéia na<br />
primeira abordagem cirúrgica e assegura<br />
benefícios a longo prazo com conseqüente<br />
melhora na qualidade de vida. 1,6<br />
Dentre os agentes que causam esclerose<br />
pleural, o talco mostra-se superior a outros<br />
agentes comumente utilizados, com um índice de<br />
sucesso de 81 a 100%, comparado aos 70-85% de<br />
sucesso mostrado pela Tetraciclina. Ainda, com<br />
a utilização do talco livre de asbesto, não há o<br />
aumento de risco de desenvolvimento de<br />
mesotelioma, nem significativo impacto na função<br />
respiratória. 7<br />
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FERNAN<strong>DO</strong> L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHAL<br />
No caso em questão, a paciente tinha<br />
história de câncer de mama e procurou assistência<br />
médica relatando dispnéia causada por derrame<br />
pleural bilateral, confirmado por exames de<br />
imagens, sendo detectado, após análise do líquido,<br />
presença de células neoplásicas, justificando então<br />
a intervenção conservadora por pleurodese com<br />
talco.<br />
Até o momento, entretanto, não há um<br />
consenso acerca da segurança da utilização do<br />
talco na pleurodese. 2 Dentre as complicações mais<br />
comuns na literatura, febre é uma das mais<br />
comuns, 8 seguido de dor e dispnéia. A intensa<br />
reação inflamatória ao talco como a síndrome da<br />
resposta inflamatória sistêmica (SIRS), falência<br />
respiratória aguda e lesão pulmonar aguda, todos<br />
estes ocorrendo mais raramente após a<br />
pleurodese. 1<br />
A paciente, neste relato, evoluiu com<br />
edema pleural após a realização da pleurodese,<br />
acreditando-se ser este evento causado por uma<br />
síndrome da resposta inflamatória sistêmica<br />
desencadeada pela utilização do talco.<br />
Acredita-se que o mecanismo de pleurodese<br />
com talco esteja relacionado a uma resposta<br />
inflamatória na superfície pleural. Em animais,<br />
está reação esta relacionada a desnudamento de<br />
células mesoteliais e recrutamento de infiltrado<br />
mononuclear no tecido conjuntivo subepitelial e<br />
periférico do pulmão e formação de matrizes de<br />
fibrina, podendo o talco penetrar abaixo da<br />
superfície pleural pela quebra da camada<br />
mesotelial e elástica. 1,5<br />
Na análise radiológica do derrame pleural<br />
da paciente, neste relato, pode-se perceber a<br />
presença de consolidações algodonosas esparsas,<br />
causadas pela resposta inflamatória do organismo<br />
ao talco.<br />
Pesquisadores no Brasil e nos Estados<br />
Unidos descreveram casos de síndrome do estresse<br />
respiratório agudo após pleurodese com talco;<br />
contudo, casos semelhantes não foram relatados<br />
em grandes estudos de revisão europeus ou<br />
israelenses. Estudos com animais no Brasil e<br />
Estados Unidos revelaram deposição do material<br />
no parênquima pulmonar e ainda em outros<br />
órgãos, 2,5 enquanto que ele não pode ser visto nos<br />
estudos europeus. Esta discrepância pode ser<br />
explicada pelo tamanho das partículas de talco,<br />
no qual as partículas menores costumam induzir<br />
maior resposta inflamatória do que as maiores. É<br />
difícil, todavia, obter-se certeza das diferenças nas<br />
técnicas com relação ao tamanho das partículas<br />
pelo fato de quase nenhum dos estudos acerca<br />
deste assunto descreveu as particularidades das<br />
partículas de talco utilizadas, levando, portanto,<br />
as complicações causadas pelo talco a serem<br />
superestimadas. 2<br />
Conforme demonstrado pela literatura, a<br />
pleurodese com agentes químicos induz<br />
inflamação e produção de líquido pleural e,<br />
portanto, parece ser mandatória a drenagem do<br />
líquido pleural para atingir a melhor aproximação<br />
das superfícies pleurais. No entanto, em estudo<br />
no qual se propôs a drenagem do líquido pleural<br />
para drenagem por cerca de 2 horas após menos<br />
de 24 horas da realização da pleurodese, efusão<br />
recorrente foi mais freqüente do que nos outros<br />
estudos sem a drenagem pós-pleurodese. 8<br />
Embora diversos estudos tentem<br />
demonstrar os mecanismos envolvidos na<br />
respostas inflamatórias à pleurodese por talco, de<br />
fato ainda não há causas consagradas e sua<br />
etiologia ainda encontra-se obscura e considerada<br />
multifatorial. 1,2,3 A pleurodese química por<br />
videotoracoscopia é considerado procedimento<br />
seguro e eficaz para tratar o derrame pleural<br />
neoplásico e deve ser considerado o tratamento<br />
padrão-ouro para completa reexpansão<br />
pulmonar. 6<br />
Em conclusão, a evolução da paciente após<br />
a pleurodese foi favorável, pois após 6 meses de<br />
evolução houve estabilização do quadro de<br />
derrame pleural, sem necessidade de novas<br />
toracocenteses. Ao indicar-se a pleurodese por<br />
talco, devemos estar cientes das complicações<br />
advindas do método, incluindo a insuficiência<br />
respiratória aguda, assim como devemos estar<br />
aptos a tratá-las adequadamente.<br />
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RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE<br />
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revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
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RESUMO<br />
IMUNIZAÇÃ<br />
ÇÃO ERITROCIT<br />
OCITÁRIA EM PACIENTES COM <strong>DO</strong>ENÇA<br />
FAL<br />
ALCIF<br />
CIFORME NO ESTA<strong>DO</strong> <strong>DO</strong> AMAZONAS<br />
AS<br />
ERITROCITY IMMUNIZATION IN PATIENTS WITH SICKLE DISEASE IN THE STATE OF AMAZON<br />
MIHARU M. MATSUURA, JOSÉ ORLAN<strong>DO</strong> BORDIN<br />
RESUMO: O propósito deste estudo foi analisar o perfil imunohematológico dos pacientes com doença falciforme<br />
do Estado do Amazonas por meio da detecção e identificação de alo e auto-anticorpos antieritrocitários, bem como<br />
caracterizar os principais sistemas de grupo sangüíneo desses pacientes e investigar a freqüência de aloimunização<br />
eritrocitária causada pelas diferenças fenotípicas entre os pacientes com doença falciforme e doadores de sangue do<br />
Hemocentro do Amazonas – Hemoam. A taxa de aloimunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 18,0%,<br />
64,3% dos aloanticorpos antieritrocitários detectados nos pacientes com doença falciforme do Hemoam foram do<br />
sistema Rh e Kell. A taxa de auto-imunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 8,3%, sendo todos os<br />
auto-anticorpos do tipo quente (IgG) e um paciente tinha fração de complemento C3d, além do auto-anti IgG. A<br />
análise estatística mostrou que a taxa de imunização não foi influenciada pelo sexo, faixa etária, número de gestação<br />
ou número de transfusão, mas foi observada diferença estatisticamente significante na relação dos auto-anticorpos<br />
eritrocitários com aloimunização e reação transfusional. Acredita-se que a presença prévia de aloanticorpos<br />
pode predispor a formação de auto-anticorpos eritrocitários e esses auto-anticorpos podem freqüentemente estar<br />
associados com a ocorrência de reação transfusional nos pacientes falcêmicos. Verificou-se que as diferenças encontradas<br />
na fenotipagem eritrocitária entre os doadores e receptores deste estudo não influenciaram a aloimunização<br />
eritrocitária, permitindo supor que os doadores de sangue e pacientes com doença falciforme no Amazonas são<br />
semelhantes nos principais fenótipos de sistema de grupos sangüíneos. Em conclusão, este estudo permitiu contribuir<br />
para um melhor conhecimento da imunização eritrocitária, nos pacientes com doença falciforme, podendo<br />
prevenir o aparecimento de reações transfusionais e promover uma maior segurança e eficácia transfusional.<br />
Palavras-chave: Doença falciforme; Aloimunização; Antígenos eritrocitários; Transfusão sangüínea; Auto-imunização.<br />
ABSTRACT: The intention of this study was to analyze the immunohematologic profile of the patients with sickle<br />
cell disease of the State of Amazon by detecting and identifying irregular allo and selfantibodies against red blood<br />
cells antigens, as well as characterize the main sanguineous group systems of these patients, and investigate the<br />
frequency of eritrocity aloimmunization, caused by phenotypic differences between Amazon Blood Center -<br />
HEMOAM’s blood donors and the patients with sickle cell disease. The found rate of red cell antigens<br />
alloimmunization in this study, was of 18,0%, 64,3% of the detected alloantibodies against red blood cell in the<br />
patients with sickle cell disease of the HEMOAM had been of the system Rh and Kell. The found rate of eritrocity<br />
selfimmunization in this study was of 8,3%, with all the selfantibodies being of the hot type (IgG) and a patient had<br />
complement fraction of C3d, as well as the auto-anti IgG. The statistical analysis showed that the immunization rate<br />
was not influenced by the sex, age, number of gestations or number of transfusions but observed a statistical<br />
significant difference in the relation of the eritrocity selfimmunization with alloimmunization and transfusional<br />
reaction. It is believed that the previous presence of alloantibodies can predispose the eritrocity selfantibodies<br />
formation and these antibodies can frequently be associated with transfusional reaction in the sickle patients. It<br />
was observed that the found differences in the phenotypied red blood cells between blood donors and blood<br />
receivers of this study had not influenced the red cell antigens alloimmunization, allowing one to assume that the<br />
blood donors and patients with sickle cell disease in the Amazon are similar in the main phenotipies of sanguineous<br />
groups systems. In conclusion, this study allowed contributing for better knowledge of the immunization against<br />
the red blood cells in patients with sickle cell disease, being useful to prevent the appearance of transfusional<br />
reactions and to promote a greater security and transfusional effectiveness.<br />
Key-words: Sickle cell disease; Alloimmunization; Red blood cell antigens; Blood transfusion; Selfimmunization.<br />
Correspondência para:<br />
Miharu Maguinoria Matsuura Matos<br />
Rua 23 n.º 935 Conj. Castelo Branco – Parque 10<br />
69055-410 – Manaus – Amazonas – Brasil<br />
E-mail: miharumatos@gmail.com<br />
Dissertação apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do<br />
Título de Mestre em Ciências Hematológicas. Área de concentração: Hematologia e Hemoterapia.<br />
revistahugv – Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006<br />
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REVISTA <strong>DO</strong> HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS<br />
INSTRUÇÕES AOS AUTORES<br />
Verificar os manuscritos antes do Envio (checklist)<br />
Ao enviar seu artigo, o(s) autor (es) dever (á/ão) observar os seguintes itens:<br />
Anexar 03 cópias do trabalho (incluindo figuras, tabelas e gráficos com as respectivas legendas).<br />
Incluir uma (01) cópia em disquete ou CD (gravado em programa Microsoft Word), contendo<br />
tabelas e gráficos com as respectivas legendas. O texto deverá ser redigido em letra Time News<br />
Roman, tamanho da fonte 12, com espaçamento entre as linhas de 1,5, impressão em uma só face e<br />
páginas enumeradas.<br />
O envio do trabalho deve incluir os seguintes itens:<br />
1) Carta de Apresentação do trabalho;<br />
2) Carta de Permissão para Reprodução (incluindo autorização para reprodução de publicação<br />
prévia) e Cessão de Direitos Autorais.<br />
3) Página de Identificação (folha de rosto identificada) contendo Titulo completo em português<br />
e inglês; Nome com Titulação dos autores; Instituição de origem do trabalho; Endereço, Telefone<br />
e e-mail do autor principal;<br />
4) página não-identificada (folha de rosto sem identificação) com Título Completo e Abreviado;<br />
5.a) Resumo e Abstract: Incluir os Objetivos do trabalho, assim como os Materiais (ou Pacientes,<br />
Casuística) e Métodos empregados, comentando os Resultados e Conclusões, sendo que o<br />
número de palavras deverá ter de até 250 palavras.Checar os Descritores (em português e inglês).<br />
5.b) O corpo do trabalho deve constar<br />
1. Introdução – deve constar os objetivos<br />
2. Material/Pacientes e Métodos –<br />
3. Resultados -<br />
4. Discussão –<br />
5. Conclusão –<br />
6. Referências<br />
5.c) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho).<br />
5.d) Checar se as Referências estão de acordo com o padrão da revista, numeradas de<br />
modo consecutivo de acordo com a seqüência de citação no texto.<br />
5.e) Verificar Legendas de Figuras, Gráficos e Ilustrações, que deverão ser apresentadas em<br />
folhas separadas.<br />
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5.f) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho).<br />
A revista do <strong>HUGV</strong> é uma publicação em preto e branco e todas as ilustrações serão<br />
reproduzidas em arquivo digital medindo no mínimo 12 x 17 cm e no máximo 20 x 25 cm e somente<br />
em preto e branco;<br />
Na submissão de estudos com seres humanos é necessária a apresentação do Parecer do Comitê<br />
de Ética em Pesquisa indicado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da<br />
Saúde.<br />
Categorias dos manuscritos<br />
• Artigos originais – máximo 08 páginas<br />
• Resumo e abstract; Introdução; Método; Resultados; Discussão; Referências Bibliográficas<br />
• Breves comunicados – máximo 2 páginas<br />
• Relato de caso – 3 páginas<br />
• Resumo e abstract; Introdução; Relato do Caso; Discussão; Referências Bibliográficas<br />
• Revisões – máximo 05 páginas<br />
• Debates<br />
• Resumos de teses – máximo 2 páginas<br />
• Cartas ao editor – máximo 2 páginas<br />
• Imagem<br />
OBS: O conteúdo e conceitos emitidos nos textos são de inteira responsabilidade dos autores,<br />
não refletindo obrigatoriamente a opinião do Editor e dos membros do Conselho Editorial.<br />
Os manuscritos deverão ser encaminhados para:<br />
Coordenação de Ensino e Pesquisa-<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong><br />
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)<br />
Rua Apurinã, 04 – Praça 14 Tel: (92) 3621-6582<br />
CEP: 69020-170 Manaus/AM<br />
E-mail: revistahugv@ufam.edu.br<br />
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