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relato de caso - Hospital Universitário Getúlio Vargas - Ufam

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ISSN 1677-9169Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong>v.10, n.1-2 jan/jul - 2011Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas - UFAM


evistahugvRevista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONASHOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGASRua Apurinã nº 04 – Praça 14 <strong>de</strong> Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AMFones: (092) 3305-4782/4719 E-mail: revistahugv@ufam.edu.brFUNDADORESRicardo Torres SantanaJorge Alberto MendonçaLISTA DO CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA HUGVEDITOR-CHEFEFernando Luiz WestphalMaria Augusta Bessa RebeloRosane Dias da RosaKathya Augusta Thomé LopesMaria Lizete Guimarães DabelaLISTA DO CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA HUGVAluísio Miranda LeãoÂngela Delfina B. GarridoAntonio Carlos Duarte CardosoCélia Regina Simoneti BarbalhoCláudio ChavesClemencio Cezar Campos CortezCristina <strong>de</strong> Melo RochaDagmar KeisslichDavid Lopes NetoDomingos Sávio Nunes <strong>de</strong> LimaEdson <strong>de</strong> Oliveira Andra<strong>de</strong>Edson Sarkis GonçalvesErmerson SilvaEuci<strong>de</strong>s Batista da SilvaEurico Manoel AzevedoFernando César Façanha FonsecaFernando Luiz WestphalGerson Suguyama NakajimaIone Rodrigues BrumIvan da Costa TramujásJacob CohenJoão Bosco L. BotelhoJosé Correa Lima NettoJulio Mario <strong>de</strong> Melo e LimaKathya Augusta Thomé LopesLourivaldo Rodrigues <strong>de</strong> SouzaLuís Carlos <strong>de</strong> LimaLuiz Carlos <strong>de</strong> Lima FerreiraLuiz Fernando PassosMaria Augusta Bessa RebeloMaria do Socorro L. CardosoMaria Fulgência Costa L. Ban<strong>de</strong>iraMaria Lizete Guimarães DabelaMariano Brasil TerrazasMassanobu TakataniMiharu Magnória Matsuura MatosNeila Falcone BonfimNelson Abrahim FraijiNikeila Chacon <strong>de</strong> O. Con<strong>de</strong>Osvaldo Antônio PalharesRicardo Torres SantanaRosana Cristina Pereira ParenteRosane Dias da RosaRubem Alves da Silva JúniorWilson BulbolZânia Regina Ferreira Pereira


evistahugvRevista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>The Journal of Getulio <strong>Vargas</strong> University <strong>Hospital</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAUNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONASHOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGASCopyright© 2009 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas/HUGVReitora REITORA da DA <strong>Ufam</strong> UFAMProf.ª Dra. Márcia Perales Men<strong>de</strong>s SilvaDIRETOR Diretor do DO hospital HOSPITAL universitário UNIVERSITÁRIO getúlio GETÚLIO vargas VARGASProf. Dr. Dr. Lourivaldo Rodrigues <strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza Souzaeditor chefePRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIALProf.Dr. Fernando Luiz WestphalWagner AlencarProdução gráfica-editorialORGANIZAÇÃOWagner AlencarThaís Borges VianaOrganizaçãoDIRETORA Thaís Borges DA Viana EDUAProf.ª Dra. Irail<strong>de</strong>s Caldas Torresdiretora da eduaDIRETORAProf.ª Dra. Irail<strong>de</strong>sDA REVISTACaldas TorresProfª Dayse Enne BotelhoDiretora da RevistaProf.ª Dayse Enne BotelhoREVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA)Sergio Revisão Luiz lingua PereiraportuguesaSérgio Luiz PereiraCAPAServiço Capa <strong>de</strong> Ergo<strong>de</strong>signServiço <strong>de</strong> Ergo<strong>de</strong>signTIRAGEM 300 EXEMPLAREStiragem 300 exemplaresFICHA CATALOGRÁFICAFicha catalográficaYcaro Verçosa dos Santos CRB-11 287Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287CDU 61(051)R454 Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>.Revista do <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong>. V. 9, n. 1-2 (2010) / Manaus: Editora da Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas, 201091 p.SemestralTítulo da revista em português inglêsISSN – 1677-91691. Medicina-Periódico I. <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> II. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas.CDU 61(051)


SumárioEDITORIAL1. Resgate <strong>de</strong> Autonomia <strong>de</strong> Pessoa com Deficiência Física por meio do acesso à informática1. Resgate da Autonomia <strong>de</strong> Pessoa com Deficiência Física por meio do acesso àpossibilitada pela utilização <strong>de</strong> um mouse ocularinformática Kathya Agusta possibilitada Thomé Lopes, pela Maria utilização Denilza da Silva <strong>de</strong> Cardoso, um mouse Rosângela ocular Martins Gama, Suzy Silva Pinto,Rogério Caetano Lopes et al2.2. PerfisPerfisSociocomportamentaisSociocomportamentaisdos UsuáriosdosdoUsuáriosCentro <strong>de</strong>doTestagemCentroe Aconselhamento<strong>de</strong> Testagem- CTAeemAconselhamentoDST/Aids do <strong>Hospital</strong>– CTAUniversitárioem DST/AidsGetúliodo<strong>Vargas</strong><strong>Hospital</strong>da cida<strong>de</strong>Universitário<strong>de</strong> Manaus/AMGetúlio <strong>Vargas</strong> daMiharu Maguinoria Matsuura Matos, Angélica Karla Jansen Fernan<strong>de</strong>s, Cacilda Satomi Yano Mallmann, Moéziocida<strong>de</strong> Pereira Menezes, <strong>de</strong> Manaus-AM Everton <strong>de</strong> Lima MatosMatos et al3. Análise dos Achados Vi<strong>de</strong>olaringoscópicos <strong>de</strong> Pacientes com História <strong>de</strong> Disfonia3. AnáliseRenatadosFariasAchados<strong>de</strong> Santana,Vi<strong>de</strong>olaringoscópicosMárcia dos Santos da Silva,<strong>de</strong>KarinePacientesFreitas <strong>de</strong> Sousa,com HistóriaRenato Telles<strong>de</strong><strong>de</strong>DisfoniaSouza, GiselleLima Afonso, Jenifer Morais <strong>de</strong> Melo, Camila Men<strong>de</strong>s da Silva, Donn-Thell Frewyd Sawntzy JuniorSantana et al4. Estudo Comparativo dos Fatores Hematológicos Prognósticos da Pneumonia Necrosante na4. Cida<strong>de</strong> Estudo <strong>de</strong> Manaus Comparativo dos Fatores Hematológicos Prognósticos da PneumoniaNecrosante Fernando na Luiz Cida<strong>de</strong> Westphal, <strong>de</strong> Luciana Manaus Carreta Wezka, Luis Carlos <strong>de</strong> Lima, José Correa Lima Netto, Márcia dosSantos daWestphalSilva, Alessandraet alBastos Alves5. Investigação Otorrinolaringológica em Pacientes Portadores <strong>de</strong> Hanseníase5. Investigação Renata Farias <strong>de</strong> Otorrinolaringológica Santana, Fernanda Borowsky em da Rosa, Pacientes Márcia dos Portadores Santos da Silva, <strong>de</strong> Renato Hanseníase Telles <strong>de</strong> Souza,Luiz Carlos Santana Nadaf <strong>de</strong> et Lima, al Marcos Antônio Fernan<strong>de</strong>s111325354353RELATO DE CASO6. Metástases Cutâneas como como Primeira Primeira Manifestação Manifestação <strong>de</strong> Neoplasia <strong>de</strong> Neoplasia <strong>de</strong> Pâncreas: <strong>de</strong> Relato Pâncreas: <strong>de</strong> CasoRelato Lubyanka <strong>de</strong> Caso F. Pereira, Vanessa M. Cardoso, Priscila Lago, Marilu Gomes, Simone <strong>de</strong> A. Damasceno, Cristina MeloPereira et al7. Cardiomiopatia Arritmogênica do Ventrículo Direito e Angiotomografia Cardíaca:Relato <strong>de</strong> Caso7. Cardiomiopatia Arritmogênica do Ventrículo Direito e Angiotomografia Cardíaca:Fre<strong>de</strong>rico Gustavo Cor<strong>de</strong>iro Santos, Marlúcia do Nascimento Nobre, Danielle Abreu da Costa, Anne ElizabethRelato <strong>de</strong> CasoAndra<strong>de</strong> Sadala Marques, Abraão Ferreira Nobre, Gustavo Cavalcante Maio <strong>de</strong> Aguiar, Jaime Arnez MaldonadoSantos et al8. Ictiose Congênita: Relato <strong>de</strong> Caso8. Ictiose Lorena Congênita: Siqueira Cor<strong>de</strong>iro, A Propósito Francisco Rafael <strong>de</strong> Um dos Santos CasoJúnior, Alexandre Lopes Miralha, Vera Lúcia CoutinhoBatista Cor<strong>de</strong>iro et al9. Insulficiência Mitral Mitral por Ruptura por Ruptura <strong>de</strong> Cordoalhas <strong>de</strong> Cordoalhas Tendíneas: Tendíneas: Relato <strong>de</strong> Caso Relato e Revisão <strong>de</strong> Caso <strong>de</strong> eLiteratura Revisão <strong>de</strong> LiteraturaJosé Ferreira Ricardo et Ferreira, al Brena Ferreira, Ziza Sakamoto, Yanna Pontes Prado, Marlúcia Nobre10. Displasia Tanafórica: Tanatofórica: Relato Relato <strong>de</strong> Caso<strong>de</strong> CasoLuciana G. Siqueira, Michelle A. HatcherSiqueira et al11. Tumor Maligno <strong>de</strong> bainha no Nervo Periférico com a Apresentação Clínica na Nasofaringe e11. Tumor Maligno <strong>de</strong> bainha <strong>de</strong> Nervo Periférico com a Apresentação Clínica naCavida<strong>de</strong> Oral <strong>de</strong> uma Criança: Relato <strong>de</strong> CasoNasofaringe e Cavida<strong>de</strong> Oral <strong>de</strong> uma Criança: Relato <strong>de</strong> CasoThaís Ditolvo Alves Costa, Jeanne Lee Oliveira Coutinho, Jeanna Coutinho, Lucas Gabriel Inácio SalinaCosta et al12. Lesão Renal Aguda com Manifestação Inicial <strong>de</strong> Linfoma Não Hodgkin12. Lesão Sueli Oliveira Renal Nascimento, Aguda como Priscila Manifestação Rosal Honorato Inicial <strong>de</strong> Linfoma Não HodgkinNascimento et al61657177818591


Editorial RHUGVA importância da produção científicaA Aca<strong>de</strong>mia na área médica em nosso meio vem sofrendo nas últimas décadas umasucessão <strong>de</strong> perdas, que culminou em um <strong>de</strong>sânimo observado nas principais Universida<strong>de</strong>sdo Estado do Amazonas.Dentre os principais fatores implicados neste sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sventura na Aca<strong>de</strong>miaestão os aspectos hierárquicos, a constante e crescente preocupação do Po<strong>de</strong>r Judiciáriocom a Carreira do Magistério Superior e ao aspecto salarial.Em relação a hierarquia, houve um movimento corporativo na classe médica,protagonizado inicialmente pelos anestesiologistas, e a seguir com as outras especialida<strong>de</strong>s– clínicos, cirurgiões, ortopedistas entre outras, no qual houve um real aumento nos valorespercebidos pelos colegas cooperados. Assim, houve um crescente <strong>de</strong>sinteresse da valorizaçãoda carreira do magistério superior, visto que recém-formados passaram a receber muito maisque o salário dos professores. Portanto, no mo<strong>de</strong>lo capitalista não há hierarquia sem quehaja alguma diferença também nos proventos mensais e na valoração patrimonial da nossasocieda<strong>de</strong>.Quanto ao Po<strong>de</strong>r Judiciário, representados aqui pelos Ministérios Público Fe<strong>de</strong>ral ouEstadual, está em constante investigação, com características persecutórias, dos horáriosdos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na situação <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> cargos levando ao distanciamento ou<strong>de</strong>sligamento <strong>de</strong> profissionais e professores excelentes da aca<strong>de</strong>mia. Estamos localizadosfora dos gran<strong>de</strong>s centros formadores <strong>de</strong> pós-graduação, dos centros <strong>de</strong> pesquisas do país,com carência para a contratação <strong>de</strong> profissionais capacitados para o magistério, leia-seprofissionais com mestrado e doutorado.O maior exemplo da aplicação da lei sem a análise da conseqüência à graduação,po<strong>de</strong>-se observar em algumas disciplinas da Escola Superior <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong>Estadual do Amazonas, nos quais os professores com pós-graduação, com mais <strong>de</strong> 07 anos<strong>de</strong> trabalho, na Instituição foram obrigados a sair da Instituição, em virtu<strong>de</strong> do acúmulo<strong>de</strong> cargos. O problema foi criado, os alunos permaneceram sem aulas, ou com professoressem especialida<strong>de</strong> na área ministrada, sem solução até o momento, e sem perspectivaspara a resolução do impasse. Torcemos arduamente para que numa das fatalida<strong>de</strong>s da vida,durante, por exemplo, um aci<strong>de</strong>nte automobilístico, não sejamos atendidos por um <strong>de</strong>stesalunos que não tiveram aulas importantes durante a formação. Da mesma forma, esperamosque os colegas do Judiciário, que aplicaram a lei sem se importar com a conseqüência doato, tenham a sorte <strong>de</strong> não serem assistidos por estes alunos.Quanto ao terceiro fator implicado neste tripé <strong>de</strong> intempéries, encontra-se o fatorsalarial, com salários <strong>de</strong>fasados e aviltantes a que a carreira do Magistério Superior foisubmetida no passar do tempo. Não raras vezes, os concursos abrem e não há inscritos paraa vaga disponibilizada e, com certeza, a principal causa <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sinteresse é a questãosalarial. O edital para Concurso <strong>de</strong> Magistério Superior para professor adjunto (níveldoutorado), 20 horas semanais discrimina como salário base R$ 747,97, valor em julho docorrente ano, muito menor que muitas outras categorias profissionais que não tem, muitasvezes, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nível Superior.E o título <strong>de</strong>ste editorial <strong>de</strong>veria falar em produção científica, na contextualizaçãodas pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas nas nossas Universida<strong>de</strong>s, na capacitação dos Professores para11revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ascen<strong>de</strong>rem como orientadores <strong>de</strong> pós-graduação, mas como po<strong>de</strong>remos pesquisar, estudare produzir cientificamente, enquanto estamos preocupados com os nossos compromissosfinanceiros ou na labuta capitalista <strong>de</strong> mantermos nosso padrão <strong>de</strong> vida.As mudanças são necessárias, o interesse pela vida acadêmica <strong>de</strong>ve ser estimulado e osnossos colegas do Judiciário <strong>de</strong>vem aplicar a lei sim, mas <strong>de</strong>vem pesquisar ou ter noção dasconseqüências dos seus atos. E a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>ve continuar na busca constante da pesquisa,extensão e formação, mas com condições para tal.12revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COMDEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DO ACESSOÀ INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELAUTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULAR 1Kathya Augusta Thomé Lopes*, Maria Denilza Da Silva Cardoso**, Rosângela Martins Gama***,Suzy Silva Pinto****, Rogério Caetano****** Pedagoga** Pedagoga*** Professora <strong>de</strong> Educação Física,**** Professora <strong>de</strong> Educação Física,***** Engenheiro da Fundação Desembargador Paulo FeitosaRESUMOO presente estudo teve como objetivo <strong>de</strong>svelar o resgate da autonomia <strong>de</strong> sujeitos com<strong>de</strong>ficiência física – com impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> membros superiores – possibilitadapelo acesso à informática por meio da utilização do mouse ocular. Método: Pesquisacom abordagem qualitativa, aplicação <strong>de</strong> entrevistas e realização <strong>de</strong> diários <strong>de</strong> campo;a análise dos dados foi adaptada à Análise <strong>de</strong> Conteúdo. Resultados: Foram i<strong>de</strong>ntificadossete indicadores: Apren<strong>de</strong>ndo a usar o computador; Utilida<strong>de</strong> do uso do computador; Umagran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta; Percepção <strong>de</strong> novas potencialida<strong>de</strong>s; Novas relações sociais; Percepçãoda utilização do mouse para a vida; Perspectiva para o trabalho. Consi<strong>de</strong>rações Finais: Apesquisa sinalizou que a prática realizada com o mouse ocular proporcionou aos sujeitosa <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> em realizar essa adaptação e consequentemente po<strong>de</strong>rresgatar sua autonomia.Palavras-chave: Autonomia; Deficiência Física; Informática.ABSTRACTThe present study it had as objective to uncover the rescue of the autonomy of peoplewith physical impairment – with impossibility of movement of superior members – ma<strong>de</strong>possible by the access computer science through the use of mouse ocular. Method: Researchwith qualitative boarding, application of interviews and accomplishment of daily of field,the analysis of the data was adapted to the Analysis of Content. Results: seven pointers hadbeen i<strong>de</strong>ntified Learning to use the computer. Utility of the use of the computer, a greatdiscovery, Perception of new potentialities, New social relations, Perception of the use ofmouse for the life, Perspective for the work. Conclusion : research in signaled them thatthe practical one carried through with mouse ocular provi<strong>de</strong>d to the citizens of the researchthe discovery of a possibility in carrying through this adaptation and consequently to be ableto rescue its autonomyKeywords: Autonomy; Physical Disability; Computer Science.13revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARIntroduçãoPartindo do pressuposto <strong>de</strong> que mesmocom uma lesão medular alta, caracterizadapor uma tetraplegia – ausência <strong>de</strong> movimentosnos quatro membros, uma pessoa é capazainda <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver muitas ações, sendonecessária apenas a criação <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quadas para que as potencialida<strong>de</strong>sremanescentes <strong>de</strong>ssa pessoa possam serconhecidas por ela.Para uma pessoa com lesãomedular completa ao nível cervical, comcomprometimento dos membros superiores nasua totalida<strong>de</strong>, parece impossível vislumbrarqualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência eautonomia para ela. No entanto, por meioda utilização <strong>de</strong> uma musculatura que estápreservada – a musculatura do globo ocular,é provável que essa pessoa possa conseguiralgum grau <strong>de</strong> autonomia com a utilizaçãodas extensas ferramentas que a informáticapo<strong>de</strong> lhe proporcionar, como, por exemplo,a internet.Este trabalho utilizou a tecnologia queintegra os conhecimentos da fisiologia damovimentação do globo ocular e caracterizatais movimentos pelos seus sinais elétricosbiológicos por meio <strong>de</strong> transdutoresapropriados, on<strong>de</strong> esses sinais sãoacondicionados (amplificados e filtrados),para que possam ser codificados digitalmentee processados no reconhecimento <strong>de</strong> seuspadrões <strong>de</strong> movimentação por intermédio<strong>de</strong> um computador <strong>de</strong> uso específico. Emseguida, a codificação do movimento doglobo ocular é enviada por uma interface<strong>de</strong> comunicação serial para um computadorpessoal do padrão PC. 1No computador PC são traduzidosos movimentos e o piscar dos olhos emmovimentos e clique do cursor do mouse,respectivamente, <strong>de</strong> tal forma que po<strong>de</strong> serutilizado praticamente em qualquer ativida<strong>de</strong>em que se utiliza o mouse tradicional. Entreas oportunida<strong>de</strong>s tecnológicas que o mouseocular oferece, <strong>de</strong>stacamos a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> seus usuários passarem a acessar ainternet com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação<strong>de</strong> todos os recursos disponíveis: enviar ereceber e-mail, navegar no ciberespaço paradistração e aprendizagem. 1A proposta <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>ssa tecnologiapassa em princípio pelo objetivo humanistano sentido <strong>de</strong> reverter a situação <strong>de</strong> uma vida<strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> por uma perspectiva <strong>de</strong> umanova percepção a partir do <strong>de</strong>senvolvimentointelectual estimulado pela disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> acesso à informática, que se encontrana sua maioria acessível pela internet. Essatecnologia foi <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> Mouse Ocular. 2O mouse ocular é motivado pelogran<strong>de</strong> beneficio social trazido para os<strong>de</strong>ficientes que possuem paralisia nosmembros inferiores e superiores. Por meio<strong>de</strong>le, essas pessoas possuem uma interfacecomum com o computador, po<strong>de</strong>ndo realizarqualquer operação apenas com os olhos,seja: comunicando-se, expressando suasopiniões e vonta<strong>de</strong>s, informando-se pelainternet e até mesmo <strong>de</strong>senvolvendo algumaativida<strong>de</strong> profissional, isto é, interagindocom a socieda<strong>de</strong>. 1Aspectos Relacionados à Lesão Medulare Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)A lesão medular provoca alteraçõesprofundas na vida <strong>de</strong> uma pessoa, po<strong>de</strong>levar à paralisia <strong>de</strong> partes da musculaturavoluntária, reduzir a mobilida<strong>de</strong> tanto quantoas habilida<strong>de</strong>s profissionais, e principalmentecomprometer um aspecto muito importantepara a vida <strong>de</strong> uma pessoa – a in<strong>de</strong>pendência. 2As sequelas psicológicas da lesãomedular são igualmente importantes. Apessoa tem <strong>de</strong> enfrentar/conviver com asmudanças corporais, mobilida<strong>de</strong> diminuídae <strong>de</strong>pendência funcional, que, <strong>de</strong> certaforma, constituem aparentemente perdasavassaladoras, e na maioria das vezes não14revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et alestão preparadas para isso. A lesão medulartorna pessoas “normais” em “<strong>de</strong>ficientes”,vulneráveis à discriminação social e a umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> barreiras ambientais, passama ser sujeitos dos preconceitos da socieda<strong>de</strong>com relação à pessoa com <strong>de</strong>ficiência.Arriscamos afirmar que uma lesãomedular po<strong>de</strong> ser um dos traumatismos maissérios a que uma pessoa po<strong>de</strong> sobreviver.Uma pessoa, frequentemente ativa, num<strong>de</strong>terminado momento po<strong>de</strong> andar, correr,nadar, jogar futebol, dirigir, e num outromomento é incapaz <strong>de</strong> mover seus braçose suas pernas. Após alguns dias ou semanasencontra-se paralisada, com incontinência,imóvel, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e isolada. 2A pessoa com lesão medular éproporcionado menos estima e menosstatus. São frequentemente vistos como<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, por conta da <strong>de</strong>svalorizaçãoe o estereótipo relacionados à <strong>de</strong>ficiência.As pessoas ten<strong>de</strong>m a evitar contato, ou seja,isolar-se. 3Apesar da magnitu<strong>de</strong> e da extensão doproblema que a lesão po<strong>de</strong> causar, muitoslesados são capazes <strong>de</strong> ajustar-se a essa novacondição. Para algumas pessoas, uma lesão<strong>de</strong>finitivamente resulta em crescimentopsicológico. Outras não se recuperampsicologicamente da perda. O resultado<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> particularmente do indivíduo edo suporte psicológico que ele recebe. Aosuperar a fase <strong>de</strong> choque, o indivíduo <strong>de</strong>veser capacitado, estimulado a reativar-se,autossuperar-se e a reassumir suas funções.Para que a pessoa com uma lesãomedular possa adquirir uma in<strong>de</strong>pendênciafuncional 2 é necessário que ela adquira oconhecimento da funcionalida<strong>de</strong> do seu corpoapós a lesão. Outras habilida<strong>de</strong>s envolvidas nain<strong>de</strong>pendência funcional incluem habilida<strong>de</strong>sem resolver problemas e <strong>de</strong> sociabilização. Umterceiro, mas não menos importante aspectopara obter autonomia, é ter uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>in<strong>de</strong>pendência. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> umaperspectiva <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, no entanto, émais problemático.Uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores po<strong>de</strong> causaruma resistência inicial ou uma inabilida<strong>de</strong>para participar ativamente no processo<strong>de</strong> reabilitação. Muitas pessoas com lesãomedular apren<strong>de</strong>m a ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Muitasse sentem incapazes <strong>de</strong> tomar conta <strong>de</strong> si porconta dos seus conhecimentos preconceituosossobre pessoas com <strong>de</strong>ficiência. Outras po<strong>de</strong>msimplesmente sentir-se oprimidas. Outrospo<strong>de</strong>m ser passivos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da sua<strong>de</strong>ficiência.A conquista da autonomia e dain<strong>de</strong>pendência é uma característica dacidadania; tal ação possui relação direta como bem-estar do indivíduo e o meio em queele está inserido. Muitas vezes o <strong>de</strong>ficienteé visto pela socieda<strong>de</strong> pela sua <strong>de</strong>ficiênciae não pelas suas potencialida<strong>de</strong>s, pois nãotem oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrá-las, haja vistaas dificulda<strong>de</strong>s em interagir fisicamentecom as outras pessoas. Os <strong>de</strong>ficientesvêm buscando <strong>de</strong>smistificar a imagemsocial que constantemente lhes é imposta.A eliminação <strong>de</strong> barreiras sociais po<strong>de</strong>contribuir para que sejam equiparadas asoportunida<strong>de</strong>s possibilitando sua autonomiae in<strong>de</strong>pendência. 4Inúmeros fatores contribuem parao aumento dos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> lesão medular.As pessoas afetadas por essa <strong>de</strong>ficiênciatornam-se incapazes <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> si próprias,na maioria das vezes têm perda parcial outotal dos movimentos e da sensibilida<strong>de</strong>,o que afeta a sua autoestima e o estilo <strong>de</strong>vida. A pessoa acometida da lesão medularnecessita <strong>de</strong> meios para reabilitar-se à suanova condição <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> forma a melhorar aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> inclusão na socieda<strong>de</strong>. 5Os problemas enfrentados pelos<strong>de</strong>ficientes, em especial os <strong>de</strong> lesãomedular, que per<strong>de</strong>m parte ou totalmenteos movimentos, causam a sensação <strong>de</strong>incapacida<strong>de</strong>, pois ficam impossibilitados <strong>de</strong>realizar as ações consi<strong>de</strong>radas normais. O<strong>de</strong>ficiente passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outras pessoas15revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARpara realizar ativida<strong>de</strong>s antes consi<strong>de</strong>radasinsignificantes. Para tanto, faz-se necessárioadotar métodos que possibilitem aos<strong>de</strong>ficientes meios <strong>de</strong> integração à socieda<strong>de</strong>.A pessoa com lesão medulartraumática, além <strong>de</strong> todas as alteraçõesque comprometem a mobilida<strong>de</strong> e ain<strong>de</strong>pendência física, passa a conviver com asensação <strong>de</strong> morte em vida, a perda que vaiacompanhar por toda a existência. Além <strong>de</strong>todos os problemas físicos, o <strong>de</strong>ficiente passapor conflitos resultantes dos sintomas <strong>de</strong>distanciamento, rejeição, auto<strong>de</strong>gradação,danos à autoestima. 6A esclerose lateral amiotrófica (ELA)é uma doença crônica <strong>de</strong>generativa quese caracterizada pela perda gradativa dosmovimentos. 7 Atinge os neurônios motores docórtex, o tronco cerebral e principalmentea medula espinhal. No Brasil, assim comoem outros países, essa síndrome conhecidatambém como doença <strong>de</strong> Charcot vem sendoestudada a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir as causas ainda<strong>de</strong>sconhecidas. A doença evolui <strong>de</strong> formalenta e gradativa atingindo certas regiõesdo sistema nervoso, a perda progressivados movimentos atinge principalmenteo funcionamento físico, entretanto nãoatinge a sua capacida<strong>de</strong> intelectual, o quepossibilita o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> algumasativida<strong>de</strong>s adaptadas.AutonomiaDefinir autonomia torna-se umadiscussão bastante abrangente, pois interligaquestões física, psicológica e social. Apalavra autonomia <strong>de</strong>nota a capacida<strong>de</strong>que todo indivíduo possui <strong>de</strong> agir, pensar e<strong>de</strong>cidir por si próprio as complexida<strong>de</strong>s davida. A qualida<strong>de</strong> ou estado <strong>de</strong> autogovernarseremete ao sujeito a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>atuação nas diversas áreas da socieda<strong>de</strong><strong>de</strong>sempenhando assim ativida<strong>de</strong> com totaleficácia.O conceito <strong>de</strong> autonomia aborda o tema<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência. A autonomiasignifica a liberda<strong>de</strong> que todo ser humanonecessita para agir, refletir e tomar <strong>de</strong>cisõespor si mesmo. Referem-se também às regras emodos <strong>de</strong> realizar os <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s,que estão relacionados a toda ação própriado indivíduo, sua posição diante dos conflitose necessida<strong>de</strong>s existentes. 8A concepção <strong>de</strong> uma pessoa com<strong>de</strong>ficiência física é a <strong>de</strong> um sujeito<strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> sua competência, tendo entãoo seu <strong>de</strong>sempenho comprometido. Sendoa autonomia a disposição do ser humano<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir e agir livremente, indivíduo quenão possui essa condição <strong>de</strong> autogovernarse,a pessoa com <strong>de</strong>ficiência passa então aconviver com problemas relacionados com assuas necessida<strong>de</strong>s básicas, resultando entãona <strong>de</strong>pendência caracterizada pela perda daautonomia.Consi<strong>de</strong>rando algumas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>característica da autonomia nos diversosníveis da vida <strong>de</strong> uma pessoa, o ser humanonasce livre, sem <strong>de</strong>terminação, po<strong>de</strong>ndoassim <strong>de</strong>finir o seu modo <strong>de</strong> vida, uma vezque possui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governar por sipróprio, <strong>de</strong> autorrealizar-se respon<strong>de</strong>ndoassim pelas suas ações e transformações. 9Levando-se em consi<strong>de</strong>ração o ciclonatural da vida, todo ser humano nascepre<strong>de</strong>stinado a exercer suas funções noprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento físico e mental.Essa <strong>de</strong>finição nos remete à capacida<strong>de</strong>que cada indivíduo possui <strong>de</strong> organizar-se,administrar e dirigir sua vida, enfrentarconflitos, tendo então o seu direito <strong>de</strong> ir e virrespeitado <strong>de</strong>ntro das suas responsabilida<strong>de</strong>s.Para que haja a cidadania faz-senecessário a liberda<strong>de</strong>, a autonomia e aresponsabilida<strong>de</strong>, fatores que, segundoo autor, possibilitam ao indivíduo terparticipação ativa na socieda<strong>de</strong>. 9 O grau <strong>de</strong>autonomia <strong>de</strong> uma pessoa é <strong>de</strong>terminadopelas condições que possui <strong>de</strong> exercerativida<strong>de</strong>s práticas num contexto social.16revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et alO ser humano só é realmenteconsi<strong>de</strong>rado cidadão ao exercer comautonomia seus direitos e <strong>de</strong>veres, <strong>de</strong> formaque a in<strong>de</strong>pendência compreen<strong>de</strong> os valoressociais e culturais necessários para adquirirposição na socieda<strong>de</strong>.A autonomia física é adquirida conformeo <strong>de</strong>senvolvimento da pessoa, que recebe ainfluência do meio para a construção <strong>de</strong> seusmodos, hábitos e pensamento, sua maneira<strong>de</strong> viver e quando o sujeito passa a integrar econviver com os conflitos existentes da vida. 9Os problemas relacionados à autonomiafísica são os que mais afetam o indivíduo, poisimplicam no modo <strong>de</strong> vida, nas limitaçõesque impe<strong>de</strong>m a ele <strong>de</strong> participar do processosocial por conta da falta <strong>de</strong> condições físicas.Assim, caberia nesse contexto a criação <strong>de</strong>novas medidas que possibilitem ao indivíduoadquirir po<strong>de</strong>r ou controle <strong>de</strong> si próprio;po<strong>de</strong> representar uma nova perspectiva, umsentido para a vida do <strong>de</strong>ficiente. Além disso,a concepção <strong>de</strong> autonomia está ligada a umain<strong>de</strong>pendência que o sujeito po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>rou recuperá-la, <strong>de</strong> forma que, se recuperar,po<strong>de</strong> então retomar o controle <strong>de</strong> sua vida.A autonomia intelectual é uma dasmais complexas, pois acarreta vários fatorescaracterizados pela in<strong>de</strong>pendência físicae <strong>de</strong> pensamento. O ser humano possui acapacida<strong>de</strong> intelectual <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r,discutir e tomar <strong>de</strong>cisões. Essa autonomiaintelectual possibilita relacionar-se com omundo. 9O indivíduo é consi<strong>de</strong>rado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua autonomia, pois é por meio <strong>de</strong>laque se concretizam seus objetivos e <strong>de</strong>sejos.A perspectiva da vida <strong>de</strong> uma pessoa estávoltada para a eficácia relacionada ao seu<strong>de</strong>sempenho, <strong>de</strong> forma que se ela per<strong>de</strong> suain<strong>de</strong>pendência física e tenha <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar-sea novos padrões <strong>de</strong> vida, ela ten<strong>de</strong> a passarpor diversos conflitos psicológicos até reunirforças para buscar um novo sentido para suavida, visando assim melhorar suas condições.O sujeito faz uso <strong>de</strong> sua autonomiaquando participa ativamente dos processossociais <strong>de</strong> forma a inferir sobre ele, atuandocom ações e responsabilida<strong>de</strong>, implicandonas transformações da vida, nas questõesimpostas pela socieda<strong>de</strong>. 9 O autor afirmaque o homem é responsável pela criação etransformação existentes na vida dos sereshumanos.Embora existam outros fatoresimportantes na vida <strong>de</strong> uma pessoa, aautonomia é fundamental, pois o serhumano encontra-se em constante busca <strong>de</strong>autonomia, seja pessoal ou profissional, quemelhore seu padrão <strong>de</strong> vida; entretanto, nãoconsegue se enxergar sem a sua autonomiafísica. Para que a pessoa, que se encontrana condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente, possa alcançar aautonomia, ela necessita <strong>de</strong> transformaçõesque impliquem em ações correspon<strong>de</strong>ntes aoseu modo <strong>de</strong> vida.A pessoa com <strong>de</strong>ficiência necessita <strong>de</strong>um ambiente que proporcione condiçõesfavoráveis ao seu estado, <strong>de</strong> forma que elapossa exercer suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suaslimitações. 10A importância da autonomia para umapessoa com <strong>de</strong>ficiência física implica numaperspectiva que exige não só as condiçõesambientes compatíveis à sua necessida<strong>de</strong>,mas também diz respeito à valorização do serhumano <strong>de</strong>ntro dos seus valores intelectuaise emocionais.A autonomia da pessoa com <strong>de</strong>ficiênciaé <strong>de</strong>terminada pelo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho queela <strong>de</strong>senvolve para realizar suas ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>ntro do seu ambiente com maior ou menoreficácia no seu <strong>de</strong>sempenho. 4A in<strong>de</strong>pendência está diretamenterelacionada com a autonomia, pois tanto umacomo a outra aborda a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidire agir sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outras pessoas. Umapessoa com <strong>de</strong>ficiência, porém, po<strong>de</strong> serin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ntro dos limites que lhes épermitido pela sua condição.A autonomia significa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>cidir, <strong>de</strong> agir sobre condições próprias,17revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARsendo assim autor <strong>de</strong> suas ações, sem<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outros. A palavra autonomia éentendida como sinônimo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ações e <strong>de</strong> pensamentos, é condição que todapessoa necessita para utilizar os elementosnecessários para <strong>de</strong>senvolver meios quepossibilitem compreen<strong>de</strong>r melhor a relaçãocom a socieda<strong>de</strong>. 10Assim, a concepção <strong>de</strong> autonomiaresulta no conjunto que envolve a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> atuar com liberda<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência<strong>de</strong>ntro das regras pessoais e das impostaspelo sistema social. Consiste nos fatoresfundamentais que contribuem para ocrescimento que cada pessoa necessita pararealizar-se atingindo seus <strong>de</strong>sejos.Sendo a proposta <strong>de</strong>sta pesquisa <strong>de</strong>svelara percepção do sujeito com <strong>de</strong>ficiência<strong>de</strong> membros superiores em relação a suaautonomia, viabilizada pela acessibilida<strong>de</strong>à informática por meio da utilização <strong>de</strong> ummouse ocular, passamos então a caracterizaro aparelho a ser utilizado nesta investigação.internet, ou seja, realizar ativida<strong>de</strong>s que umcomputador proporciona.Características do mouse: 3a) O módulo eletrônico (Figura 1)É o aparelho que possibilita ofuncionamento do sistema, consi<strong>de</strong>rado assimo coração do aparelho. O módulo capturaatravés dos eletrodos os sinais criados pelosmovimentos dos olhos, e os converte emsequências <strong>de</strong> dados que o programa nocomputador converte em comandos para aexecução.Figura 1.Mouse OcularSegundo o Manual do Mouse Ocular, 1ele é um aparelho <strong>de</strong>stinado a pessoas com<strong>de</strong>ficiências físicas, impossibilitadas <strong>de</strong> usarum mouse ou um teclado <strong>de</strong> um computadorconsi<strong>de</strong>rado padrão. O aparelho foi projetadopara que a pessoa com <strong>de</strong>ficiência físicatenha o mesmo <strong>de</strong>sempenho que teria aoutilizar um mouse comum, e assim po<strong>de</strong>r usaro computador como qualquer outra pessoa.A compatibilida<strong>de</strong> do mouse ocularcom a do mouse padrão é alcançada pelo<strong>de</strong>slocamento vertical e horizontal dos olhosque correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>slocamento do mousepadrão, as piscadas correspon<strong>de</strong>m ao cliquedo botão esquerdo. Os movimentos ocularessão responsáveis pelo controle do mouse,conforme o mo<strong>de</strong>lo convencional, <strong>de</strong> formaque possibilita ao usuário a autonomia paraescrever textos, enviar e-mails, navegar nab) Cabo <strong>de</strong> conexão (Figura 2)Conecta o módulo eletrônico aocomputador.c) Um cabo para a conexão do moduloeletrônico à tomada (Figura 2)Figura 2d) Cabo serial (Figura 3)Faz a conexão do mouse ocular aousuário. O cabo (serial DB9, conexão machofêmea)possui cinco fios, dois que servempara a conexão dos canais verticais e doispara os horizontais, e um que serve como18revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et alreferência do sistema. Os cinco fios sãoconectados ao usuário por meio <strong>de</strong> eletrodos,<strong>de</strong>scartáveis ou não, adquiridos em qualquerloja <strong>de</strong> suprimentos hospitalares.o teclado numérico, assim como as letras.Os <strong>de</strong>senhos e sons facilitam o entendimento(Figura 5).Figura 3e) ProgramasO mouse possui os programas <strong>de</strong>controle do cursor, ao ser ligado pelo auxiliaro usuário assume o controle do computador,po<strong>de</strong>ndo por meio <strong>de</strong>le realizar as ativida<strong>de</strong>s.O controle com parada, a locomoção dos olhospromove o movimento e com duas piscadasabre-se o programa <strong>de</strong>sejado. O controlesem parada necessita apenas <strong>de</strong> uma piscadapara abrir o programa.O programa do teclado virtual dácondições para o usuário escrever textos,mandar e-mail, navegar na internet,assim como realizar outras ativida<strong>de</strong>sproporcionadas pelo computador padrão(Figura 4).Figura 5O programa Pinte Fácil proporciona aousuário o conhecimento das cores, estimulaa criativida<strong>de</strong> na combinação <strong>de</strong>las e naescolha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos disponíveis no programa(Figura 6).Figura 6O programa Jogo da Memória, além<strong>de</strong> divertimento, proporciona ao usuário oraciocínio rápido (Figura 7).Figura 4O teclado infantil proporciona aousuário, em especial aos não alfabetizados, oconhecimento visual das letras, dos sons dasletras e da figura escolhida para representála.Possui também, junto ao teclado infantil,Figura 719revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARb) Como usar o mouse:O sistema <strong>de</strong> operação do mouse écomandado pelo usuário após a conexão doscabos ao computador e a ele. Para que sejafeita a execução dos movimentos é necessárioque o usuário tenha o conhecimento dosmovimentos reconhecidos pelo cursor e pelodispositivo <strong>de</strong> entrada.O usuário fará o <strong>de</strong>slocamento linear, <strong>de</strong>ida do olhar do ponto <strong>de</strong> partida a um pontoimaginário seguido <strong>de</strong> um <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong>retorno para o ponto <strong>de</strong> partida sendo nohorizontal, sentido direito ou esquerdo, ou navertical sentido superior e inferior. Quandoo cursor estiver posicionado, o usuário <strong>de</strong>vepiscar com os dois olhos (a piscada <strong>de</strong>ve sernatural), para que o sistema reconheça.Com base nesse conhecimento,estabelecemos a metodologia para arealização da pesquisa.Metodologia1. EtapasPara alcançar o objetivo <strong>de</strong>stapesquisa – <strong>de</strong>svelar a percepção do sujeitocom <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> membros superioresem relação a sua autonomia, viabilizadapela acessibilida<strong>de</strong> à informática por meioda utilização <strong>de</strong> um mouse ocular – foramrealizadas as seguintes etapas:ficha <strong>de</strong> inscrição no Programa <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>sMotoras para Deficientes – Proam<strong>de</strong>, daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas, queatendia pessoas com lesão medular nohospital universitário; b) indicação <strong>de</strong>outros órgãos que atendiam pessoas com<strong>de</strong>ficiência; c) pessoas que conheciam outrascom os critérios para a pesquisa e souberamdo projeto com o mouse ocular.A partir da indicação, foram realizadasvisitas domiciliares para a i<strong>de</strong>ntificaçãodos dados físicos e pessoais do sujeito, econstatação <strong>de</strong> que possuíam os critérios paraa pesquisa – impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização doteclado e/ou mouse tradicional.Foram elegíveis onze pessoas com<strong>de</strong>ficiência física, sendo oito tetraplégicos,uma com paralisia cerebral, uma comSíndrome <strong>de</strong> Charcot, e uma com amputaçãocongênita <strong>de</strong> membros superiores. Noentanto, para a análise dos dados, foramconsi<strong>de</strong>rados apenas cinco participantes quefinalizaram a pesquisa.3) Instrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dadosOs instrumentos utilizados foram:Entrevistas semiestruturadas no inícioe término do período <strong>de</strong> utilização do mouse(condição <strong>de</strong> vida em situações cotidianas,in<strong>de</strong>pendência, anseios, expectativas,relacionamentos, expectativas para a vida);Diário <strong>de</strong> campo durante as ativida<strong>de</strong>spara o registro das observações.1) DelineamentoTrata-se <strong>de</strong> uma pesquisa cujametodologia utilizada foi a qualitativa, emque os dados coletados foram analisados combase na técnica da análise <strong>de</strong> conteúdo.2) Seleção dos sujeitosOs sujeitos elegíveis para a pesquisa –com ausência <strong>de</strong> movimentos nos membrossuperiores, e com condições visuaisa<strong>de</strong>quadas ao sistema.Os sujeitos foram i<strong>de</strong>ntificados por: a)4) Recursos materiaisForam utilizados na pesquisa:1 Um computador;1 aparelho do mouse ocular (o moduloeletrônico, o cabo serial para a conexão docomputador, o cabo do usuário <strong>de</strong> cinco fiospara a conexão do usuário ao módulo, umcabo <strong>de</strong> potência para a conexão do móduloa uma tomada).Eletrodos <strong>de</strong>scartáveis para a conexãodos cinco fios ao usuário do mouse.Álcool, gel e algodão para fazer a20revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et allimpeza do local <strong>de</strong> conexão dos eletrodosno rosto.5) Coleta dos dadosA pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida no período<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006 a outubro <strong>de</strong> 2007. Comcinco sessões semanais <strong>de</strong> uma hora <strong>de</strong>duração, sendo possibilitados intervalosquando necessários, totalizando 62 sessões.Houve algumas ausências <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s porproblemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos sujeitos e problemastécnicos do mouse ou do transporte.Os participantes foram atendidos emuma sala da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação Física naUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas.Foram realizadas as entrevistas e osdiários <strong>de</strong> campo.Foram utilizados os programas propostospelo mouse ocular, como o teclado infantil,que proporciona o conhecimento das letras,dos sons e das figuras; o teclado da pinturaproporciona o conhecimento das cores; o jogoda memória, e o teclado padrão que é peçachavepara a realização <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s.Cada aluno recebia atendimentoindividual. Durante uma hora o aluno,após ser conectado ao computador pelomouse, realizava as ativida<strong>de</strong>s propostas. Asativida<strong>de</strong>s iniciavam com a <strong>de</strong>monstração dofuncionamento do aparelho, era explicadaa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém para auxiliar naconexão dos eletrodos e ligar o computador.Na maioria das vezes o aluno escolhia oprograma para a sua ativida<strong>de</strong>, pela suaescolha traçava-se a tarefa. O teclado infantilera o primeiro programa a ser utilizado parao aprendizado dos movimentos dos olhos parao funcionamento preciso do aparelho, nasaulas seguintes eram realizadas ativida<strong>de</strong>sdiversificadas: jogo <strong>de</strong> memória, escrita,navegação na internet, partindo inclusivedas sugestões do aluno.No diário <strong>de</strong> campo eram anotadastodas as manifestações do aluno com relaçãoà ativida<strong>de</strong> e o mouse, anotações pertinentesreferentes às perspectivas causadas pelonovo programa.Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa cujametodologia utilizada foi qualitativa, emque os dados coletados foram analisados combase na técnica da análise <strong>de</strong> conteúdo.ResultadosA proposta <strong>de</strong>ste trabalho, como ditoanteriormente, teve como objetivo <strong>de</strong>svelara percepção do sujeito com <strong>de</strong>ficiência<strong>de</strong> membros superiores em relação a suaautonomia, viabilizada pela acessibilida<strong>de</strong>à informática por meio da utilização <strong>de</strong> ummouse ocular. Para isso, optamos em utilizarcomo estratégia a análise <strong>de</strong> conteúdo dasentrevistas e das observações, cujas etapaspartiram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a transcrição das entrevistas,leitura dos diários, passando por uma leituraexaustiva <strong>de</strong>sses dados e i<strong>de</strong>ntificação dossete indicadores temáticos dos aspectos quejulgamos significativos.A análise dos dados nos apontou paraum espectro que inicia no aprendizado douso do computador até a perspectiva para otrabalho.O indicador <strong>de</strong>nominado Apren<strong>de</strong>ndoa usar o computador apontou que osparticipantes, com exceção <strong>de</strong> um, nãoconheciam o uso do computador e que aoapren<strong>de</strong>r como manuseá-lo vislumbraramcom a aquisição <strong>de</strong>ssa habilida<strong>de</strong>. Temos issoexemplificado em alguns trechos.Aprendi a usar o computador que anteseu não sabia / Vim apren<strong>de</strong>r aqui / É umacoisa muito importante estar apren<strong>de</strong>ndo/ Não entendia nada, comecei do básicopor isso mudou a minha vida para melhor /Contribuiu para o conhecimento e manuseiodo computador.Por conseguinte, o segundo indicadorUtilida<strong>de</strong> do uso do computador mostrouas dimensões emocionais positivas comoresultados das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> açõesobjetivas e subjetivas que po<strong>de</strong>riam serexercidas pelos usuários, exemplificadas nos21revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARconteúdos abaixo listados.Consigo fazer meus trabalhos /Pesquisar na internet/ Saber o que estáacontecendo no mundo / Viajar através docomputador / Conheço cada lugar lindo/ Escrevo mensagens / Acesso as coisasque antes eu não podia e hoje eu posso /Autonomia <strong>de</strong> várias formas, passar e-mail /A prática fez com que eu apren<strong>de</strong>sse muitascoisas / Fazer pesquisa foi uma das coisasmais importante para mim.A ausência <strong>de</strong> movimentos leva, namaioria das vezes, a uma percepção inicial<strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar qualquer tipo<strong>de</strong> ação. Ao <strong>de</strong>parar-se com um instrumentoque po<strong>de</strong> contradizer essa percepção, ouseja, po<strong>de</strong>r manusear <strong>de</strong> forma efetiva umcomputador, o que para alguns é um gran<strong>de</strong><strong>de</strong>safio, levou os participantes da pesquisaa ver o mouse ocular como Uma gran<strong>de</strong><strong>de</strong>scoberta, sendo estabelecido assim comoo terceiro indicador. Os conteúdos abaixoconfirmam isso.Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta / Principalmente setiver acesso a um / É uma esperança paraquem não tem movimentos como eu / Anteseu só lia / Ter acesso a uma coisa que anteseu só olhava.O quarto indicador apresentado,Percepção <strong>de</strong> novas potencialida<strong>de</strong>s, nosconduz para o indício <strong>de</strong> que, a partir daaquisição <strong>de</strong> uma habilida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> um novoconhecimento em áreas <strong>de</strong>sconhecidas,evoca <strong>de</strong>sejos e o sentimento <strong>de</strong> ampliarhorizontes anteriormente adormecidos equiçá abandonados, isso <strong>de</strong> certa maneirasugere para o início <strong>de</strong> uma reconquistada autonomia, o que po<strong>de</strong>mos confirmarpor meio <strong>de</strong> Mantoan (apud SILVA, 4 2004),ao afirmar que a autonomia <strong>de</strong> uma pessoacom <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> ser estabelecida pelograu <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho que ela <strong>de</strong>senvolvepara realizar suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seuambiente com maior ou menor eficácia noseu <strong>de</strong>sempenho.As ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas simples,como digitar as letras em or<strong>de</strong>m alfabéticas,que para muitos são consi<strong>de</strong>radas ativida<strong>de</strong>spara se realizar em segundos, para algunslevavam dias, mas os <strong>de</strong>ixava felizes, poissó o fato <strong>de</strong> escrever alguma coisa já erauma gran<strong>de</strong> vitória; a maioria consi<strong>de</strong>ravanão só escrever, como outras ativida<strong>de</strong>s,algo que nunca mais fariam novamente.Po<strong>de</strong>mos conferir isso a partir dos conteúdosapresentados abaixo.Nunca pensei em escrever algum texto,hoje consigo fazer / Puxa, hoje eu escreviuma frase que eu pensei que nunca pu<strong>de</strong>sseescrever / Achava bonito as pessoas teclareme eu não podia / Hoje, posso dizer que possofazer tudo o que eles po<strong>de</strong>m fazer também/ Escrever no computador era mais difícil /Posso escrever o que eu imaginei que jamaisfaria novamente / Aprendi a passar e-mail/ Oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer o sistema <strong>de</strong>computação / Antes eu não fazia nada, sóestudava, tudo se tornou muito melhor / Seique tenho condições <strong>de</strong> fazer muitas coisas /Voltei a estudar.A <strong>de</strong>ficiência grave – causando ausência<strong>de</strong> movimentos importantes, principalmenteas adquiridas, em alguns <strong>caso</strong>s, para nãodizer na maioria das vezes provoca umdistanciamento entre a pessoa das suasrelações em socieda<strong>de</strong> e às vezes do própriorelacionamento familiar. O quinto indicador,nomeado <strong>de</strong> Novas relações sociais, apontounospara uma busca em recuperar e conquistaras interações sociais, porventura perdidas ouoportunizadas, caminhando assim para umareconquista <strong>de</strong> sua autonomia. Isso ocorre namedida em que o sujeito participa ativamentedos processos sociais <strong>de</strong> forma a inferir sobreele, atuando com ações e responsabilida<strong>de</strong>,implicando nas transformações da vida, nasquestões impostas pela socieda<strong>de</strong>. 9 O autorafirma que o homem é responsável pelacriação e transformação existentes na vidados seres humanos. Exemplificamos alguns<strong>de</strong>sses conteúdos.Mando e-mail, coisa que não fazia /22revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et alMelhorou meu relacionamento em casa, comos amigos / Converso mais com pessoas, falosobre o que faço / Novos relacionamentos/ Aumentou meu grupo <strong>de</strong> amigos / Mecomunicar com pessoas que não vejofrequentemente / Estou mais alegre / Baterpapo na internet com pessoas que eu nãoconheço.Com sexto indicador chegamos àPercepção da utilização do mouse paraa vida. É possível inferir no progresso <strong>de</strong>cada um, e como eram motivados pelasconquistas a praticarem mais, o que antesparecia distante e até o impossível estavase tornando real. A utilização do mousetranscen<strong>de</strong>u a informática pura e simples,a percepção <strong>de</strong> como essa ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riaser estendida para outras dimensões da vidae principalmente indicando para resgatarsua autonomia apontou para uma novaperspectiva <strong>de</strong> vida.O mouse só tem trazido coisas boas /Melhorou muita a minha vida, em todos ossentidos / As contribuições são totalmentepositivas / Só o fato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer sozinhasem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos outros é maravilhoso /Antes eu nem imaginava que pu<strong>de</strong>sse fazeralgo assim sozinha, para mim é tudo <strong>de</strong> bom/ Abriu uma janela para o mundo, / Forammuitos os benefícios / Mu<strong>de</strong>i tudo, me sentimais viva e com certeza só melhorou, entronos sites das lojas, faço pesquisa <strong>de</strong> preços,leio e escrevo e-mail para as lojas / Possofazer tudo, basta que alguém coloque oseletrodos e o resto eu faço.E como último indicador, no entantonão menos importante, a Perspectiva parao trabalho, mostrou-nos que houve umaalteração importante e significativa napercepção dos participantes em relação àssuas vidas, perspectiva <strong>de</strong> uma alteração noseu estado <strong>de</strong> completa <strong>de</strong>pendência para umnível <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência parcial, até porquea ausência <strong>de</strong> movimentos continua sendouma realida<strong>de</strong>. Passam a ver como possíveluma forma <strong>de</strong> adquirir alguma renda a partir<strong>de</strong> suas ações, e isso po<strong>de</strong> indicar paraatingir sua autonomia, que é a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong> ser autor <strong>de</strong> suas ações, sem<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outros, sendo ainda sinônimo<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ações e <strong>de</strong> pensamentos. 10Essas percepções po<strong>de</strong>m ser exemplificadasabaixo:Consigo fazer minhas vendas por e-mail/ Posso ter um meio <strong>de</strong> ganho para sobreviver/ Me imagino fazendo digitação <strong>de</strong> textos /Vejo chance <strong>de</strong> conseguir um emprego / Vaiser útil para a profissão e para os estudos quepretendo fazer. / Renovou as expectativas<strong>de</strong> conseguir um emprego / Voltar a estudarpara ter uma vida melhor / Muitas coisas quepo<strong>de</strong>m ser útil em uma carreira profissional/ Tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> eu mesmo trabalhar /Será muito útil em uma carreira profissional/ Posso realizar algum tipo <strong>de</strong> trabalho<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma empresa.Consi<strong>de</strong>rações FinaisA aquisição <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ficiência<strong>de</strong>finitivamente não se configura como umacontecimento totalmente negativo na vida<strong>de</strong> uma pessoa. No entanto, a pessoa queadquire uma <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar,em alguns <strong>caso</strong>s, como uma oportunida<strong>de</strong>ímpar para perceber a vida por meio <strong>de</strong>outros olhares, anteriormente inadmissíveis.Arriscamos afirmar que um dos maioresentraves para a vida <strong>de</strong> uma pessoa com<strong>de</strong>ficiência é a ausência <strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong>uma vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.Os sujeitos <strong>de</strong>sta nossa pesquisa, emúltima instância, são aqueles com um grau<strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> avançado, consequentementecom uma possível ausência <strong>de</strong> perspectivapara usufruir <strong>de</strong> uma vida com autonomia,ou seja, uma privação para exercer sualiberda<strong>de</strong> para agir, refletir e tomar <strong>de</strong>cisõespor si próprios.Contudo, a oportunida<strong>de</strong> em conhecere apropriar-se <strong>de</strong> uma habilida<strong>de</strong> motora23revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


RESGATE DA AUTONOMIA DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA POR MEIO DOACESSO À INFORMÁTICA POSSIBILITADA PELA UTILIZAÇÃO DE UM MOUSE OCULARassociada a uma tecnologia disponívelpossibilitou a essas pessoas a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>novas possibilida<strong>de</strong>s.O homem é um ser dinâmico com umagran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar adaptaçõespara melhor relacionar-se com o mundo;<strong>de</strong>ssa forma, o resultado nos sinalizou quea prática realizada com o mouse ocularproporcionou aos sujeitos da pesquisa,pessoas com ausência <strong>de</strong> movimentosnos membros superiores e inferiores, a<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> em realizaressa adaptação e consequentemente po<strong>de</strong>rresgatar sua autonomia.Agra<strong>de</strong>cimentos1. À Fundação Desembargador PauloFeitosa, pela disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma bolsapara estudante2. À professora <strong>de</strong> Educação FísicaRosângela Martins Gama3. À acadêmica <strong>de</strong> Educação Física SuzySilva Pinto4. Ao engenheiro Rogério Caetano, daFundação Desembargador Paulo Feitosa5. A todos os participantes da pesquisaNotas1. Projeto Financiado pelo CNPq.2. Criação do prof. Dr. Manuel Cardoso,da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas, eaperfeiçoado pela Fundação DesembargadorPaulo Feitosa.3. A fonte das Figuras 1-7 é o Manual doMouse Ocular da FPF 1Referências1. FPF – Fundação Paulo Feitosa – Guia doUsuário Sobre Mouse Ocular 3.0. Manaus,2006.2. Sommers, MF. Spinal Cord Injury. California:Appleton & Lance, 1992.3. Mello, MT. et al. Consi<strong>de</strong>rações sobreaspectos psicológicos em indivíduos lesadosmedulares. In: Freitas, PS. e Cida<strong>de</strong>, RE.Educação Física e Esportes para Deficientes.Coletânea. In<strong>de</strong>sp, 2000, 51-77.4. Silva, RS. Condições <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pessoa com <strong>de</strong>ficiência física na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Manaus [Relatório <strong>de</strong> Pesquisa – Pibic/CNPq.].Manaus: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas,2004.5. VALL, J; Braga, VAB; Almeida, PC. Estudoda qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida em pessoas com lesãomedular traumática. Arq. Neuropsc, 2006;64(2-B):451-455.6. Azevedo, GR; Santos, VLCG. Cuidador <strong>de</strong><strong>de</strong>ficientes: as representações sociais <strong>de</strong>familiares acerca do processo <strong>de</strong> cuidador.Rev. Latino-Am. Enfermagem, 2006;14(5):770-780.7. Cassemiro, CR; Arce, CG. Comunicaçãovisual por computador na esclerose lateralamiotrófica. Arq. Bras Oftal., 2004;67(2):295-300.8. Gomes, AMT; Oliveira, DC. Estudo daestrutura da representação social daautonomia profissional em enfermagem. Rev.da Esc. Enf. USP, 2005; 39(2):145-53.9. Rodrigues, N. Educação: da formaçãohumana à construção do sujeito ético. Educ.Soc., 2001; 22 (76):232-257.10. Mogilka, M. Autonomia e formaçãohumana em situações pedagógicas: um difícilpercurso. Rev. Edu. e Pesq., 1999; 25(2):57-68.TesesMartinez, TY. Impacto da dispneia eparâmetros funcionais respiratórios emmedidas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida relacionadaà saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> pacientes com fibrose pulmonaridiopática [tese]. São Paulo: Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo, 1998.24revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Lopes et alPERFIS SOCIOCOMPORTAMENTAIS DOSUSUÁRIOS DO CENTRO DE TESTAGEM EACONSELHAMENTO – CTA EM DST/AIDS DOHOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGASDA CIDADE DE MANAUS-AMSocio-behavioral profile of users of the Center for Counseling and Testing –CTA STD/ AIDS, University <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong> of Manaus city-AMMiharu Maguinoria Matsuura Matos; Angélica Karla Jansen Fernan<strong>de</strong>s;Cacilda Satomi Yano Mallmann; Moézio Pereira Menezes; Everton <strong>de</strong> Lima MatosFarmacêutico-Bioquímicos, <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas.RESUMOObjetivo: Descrever o perfil socioeconômico, os padrões <strong>de</strong> comportamento sexual eevi<strong>de</strong>nciar os possíveis fatores <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> dos indivíduos que procuraram o Centro<strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento – CTA em DST/Aids do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus-AM. Métodos: Análise <strong>de</strong>scritiva dos dados qualitativos e quantitativos.Resultados: Foram analisados 253 formulários <strong>de</strong> entrevista, respondidos pelas pessoas,da <strong>de</strong>manda espontânea, do CTA/HUGV no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002 a junho <strong>de</strong> 2003. Osresultados <strong>de</strong>monstram que 160 (63,24%) dos usuários eram do sexo feminino, sendo a faixaetária predominante entre 20 a 39 anos no grupo. A maioria dos indivíduos era casada, comnível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> variando entre oito e 11 anos <strong>de</strong> estudo concluídos e aproximadamente70% dos usuários estão <strong>de</strong>ntro do mercado <strong>de</strong> trabalho. O principal motivo <strong>de</strong> procura peloCTA/HUGV foi a prevenção. Em relação ao comportamento <strong>de</strong> risco, 3 (1,19%) referiramcompartilhamento <strong>de</strong> agulhas e 11 (4,35%) relações bissexuais. O motivo principal para onão uso <strong>de</strong> preservativos com parceiro fixo foi a confiança nele, enquanto que com parceiroeventual foi por não gostar <strong>de</strong> usar. Conclusões: Por meio das ações do Centro <strong>de</strong> Testagem eAconselhamento em DST/Aids po<strong>de</strong>-se monitorar o status sorológico, o perfil dos indivíduosinfectados, bem como das características da clientela atendida adaptada à realida<strong>de</strong> local.Portanto, a i<strong>de</strong>ntificação do perfil dos usuários <strong>de</strong>sse serviço é importante para que <strong>de</strong> fatose alcancem os objetivos na prevenção e controle das DST/Aids.Palavras-chave: Testagem; Aconselhamento Sexual; DST, HIV.ABSTRACTObjective: To <strong>de</strong>scribe the socioeconomic profile, patterns of sexual behavior andhighlight the possible factors of vulnerability of individuals who came to the Center andCounseling Center – CTA STD/Aids, University <strong>Hospital</strong> Getúlio <strong>Vargas</strong> of the city of Manaus-AM.Methods: Descriptive analysis of qualitative and quantitative data. Results: We analyzed 253interview forms, answered by people’s spontaneous <strong>de</strong>mand of CTA/HUGV from August 2002to June 2003. The results showed that 160 (63.24%) users were female, and the predominant25revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


PERFIS SOCIOCOMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS DO CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO – CTAEM DST/AIDS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS DA CIDADE DE MANAUS-AMage group was between 20-39 years old group. Most subjects were married, with educationlevels ranging from 8 to 11 years of schooling completed and approximately 70% of users arein the labor market. The main reason for seeking the CTA/HUGV was prevention. In relationto risk behavior, 3 (1.19%) reported sharing needles and 11 (4.35%) bisexual relationships.The main reason for not using condoms with steady partner was the confi<strong>de</strong>nce in it, whereaswith a casual partner was not like of using. Conclusions: By means of the shares of theCenter for Counseling and Testing in HIV/Aids can monitor the status serological profile ofinfected individuals, as well as the characteristics of the clientele tailored to local realities.Therefore, the i<strong>de</strong>ntification of the profile of users of that service is important to actuallyreach the goals in the prevention and control of STD/Aids.Keywords: Testing; Sex Counseling; STDs; HIV.IntroduçãoNo Brasil, os primeiros <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> Aids(Síndrome da Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida)foram i<strong>de</strong>ntificados em 1982. Em face dosriscos, medo e <strong>de</strong>sconhecimento da populaçãoquanto às formas <strong>de</strong> transmissão, o Ministérioda Saú<strong>de</strong>, por meio da Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids(CN-DST/Aids), lança no final da década <strong>de</strong>80 a criação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> testagem, então<strong>de</strong>nominados Centros <strong>de</strong> Orientação e ApoioSorológico – Coas, como uma das importantesestratégias para o enfrentamento daepi<strong>de</strong>mia no país. 1,5Esses serviços, atualmente chamados<strong>de</strong> Centro <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento –CTA, caracterizam-se pela oferta <strong>de</strong> testesorológico para Aids, Sífilis, Hepatites Be C, acompanhada <strong>de</strong> aconselhamentopré e pós-exame, gerando informaçõessocioeconômicas e comportamentais <strong>de</strong>interesse para a vigilância epi<strong>de</strong>miológica<strong>de</strong>ssas doenças. Além disso, asseguraacessibilida<strong>de</strong> e gratuida<strong>de</strong>, voluntarieda<strong>de</strong><strong>de</strong> procura, confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> da origem dasinformações e dos resultados dos testes. 4,6,7Os objetivos <strong>de</strong>stacados dos CTAs são:favorecer o acesso ao diagnóstico da infecçãopelo HIV, contribuindo para a redução dosriscos <strong>de</strong> transmissão e re-infecção das DST/HIV, estimular a adoção <strong>de</strong> práticas sexuaisseguras (prevenção primária), encaminhar aspessoas infectadas pelo HIV para os serviços<strong>de</strong> assistência especializada (prevençãosecundária), auxiliar as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prénatalna avaliação sorológica das gestantes elevar informações sobre prevenção das DST/Aids. 4,6 Os usuários do CTA são indivíduos da<strong>de</strong>manda espontânea, em geral, que procuramo serviço por se consi<strong>de</strong>rar sob maior risco <strong>de</strong>adquirir/transmitir HIV ou acreditar ter vividouma situação <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong>sejam conhecero seu status sorológico. Nesse sentido, ai<strong>de</strong>ntificação e caracterização da <strong>de</strong>mandado grupo atendido são fundamentais para oalcance dos objetivos planejados. 7,8Por tudo isso, consi<strong>de</strong>rando a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> gerar informações epi<strong>de</strong>miológicas napopulação geral, que contribuam para avigilância do HIV, em nível local, o presenteestudo tem como objetivo caracterizar operfil socioeconômico dos indivíduos queprocuram o atendimento do CTA-DST/Aids doHUGV.O Centro <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento– CTA em DST/Aids do <strong>Hospital</strong> UniversitárioGetúlio <strong>Vargas</strong> – HUGV é um dos maisantigos serviços <strong>de</strong> testagem na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Manaus, implantado em agosto <strong>de</strong> 2002 pelaCoor<strong>de</strong>nação Nacional <strong>de</strong> DST e Aids (CN-DST/Aids). Está localizado em área centro-sul, temcomo principal clientela pessoas que morame/ou trabalham na região, é um dos serviços<strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda da re<strong>de</strong> especializadado município e possui larga experiência no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção.26revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Matos et alMetodologiaTrata-se <strong>de</strong> um estudo observacionale <strong>de</strong>scritivo do perfil dos indivíduos queprocuram o atendimento do Centro <strong>de</strong>Testagem e Aconselhamento em DST/Aids doHUGV por meio <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> dados.As informações foram obtidas pela análise<strong>de</strong> formulários <strong>de</strong> entrevista <strong>de</strong> 253 pessoas,da <strong>de</strong>manda espontânea do CTA/HUGV,que retornaram para receber o resultadosorológico <strong>de</strong> HIV, período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002a junho <strong>de</strong> 2003.Os formulários analisados forampreenchidos durante a entrevista por um dosaconselhadores do CTA/HUGV, on<strong>de</strong> foramavaliados a situação socioeconômica e padrões<strong>de</strong> comportamento sexual <strong>de</strong> acordo com oscritérios estabelecidos pelo MS-CN-DST/Aids,com isso foi possível caracterizar o perfilpopulacional quanto ao sexo, ida<strong>de</strong>, estadocivil, situação profissional, escolarida<strong>de</strong>, tipo<strong>de</strong> parceiros, motivos da procura pelo CTA/HUGV e a origem da <strong>de</strong>manda atendida, além<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os motivos mais frequentes quelevaram o indivíduo a não usar preservativos,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do tipo <strong>de</strong> parceirosexual.Para a análise dos dados foi empregada<strong>de</strong>scrição estatística simples, utilizandoo programa do sistema <strong>de</strong> informação dosCentros <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento emAids (SI-CTA), versão 1.2/2002.ResultadosA visão panorâmica do perfil dos usuáriosdo Centro <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento –CTA em DST/Aids do <strong>Hospital</strong> UniversitárioGetúlio <strong>Vargas</strong> – HUGV está <strong>de</strong>monstrada naTabela 1.SexoEstado CivilCritérioEscolarida<strong>de</strong>(anos cursados)Situação ProfissionalItemTotal(n=253)Perc%Feminino 160 63,24Masculino 93 36,76Casado(a)/Amigado 139 54,94Solteiro(a) 90 35,57Separado(a) 19 7,51Viúvo(a) 5 1,98Nenhum 2 0,791 a 3 20 7,914 a 7 66 26,098 a 11 102 40,3212 ou mais 62 24,51Não informado 1 0,40Empregado 147 58,10Autônomo 29 11,46Desempregado 30 11,86Estudante 21 8,30Do lar 18 7,11Aposentado 8 3,1627revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


PERFIS SOCIOCOMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS DO CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO – CTAEM DST/AIDS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS DA CIDADE DE MANAUS-AMOrigem DemandaRecorte populacional(população-alvo)Número <strong>de</strong> parceirossexuais no último anoTipo(s) <strong>de</strong> parceiro(s)Usa preservativo comparceiros fixosRisco do parceiro fixoUsa preservativo comoutros parceiros fixosMaterial <strong>de</strong> Divulgação 78 30,83Serviço/Profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 68 26,88Amigos/Usuários 45 17,79Jornais/rádio/televisão 34 13,44Banco <strong>de</strong> Sangue 1 0,40Serviço <strong>de</strong> informação telefônica 1 0,40Outros 26 10,28População em geral 197 77,87Profissionais da saú<strong>de</strong> 44 17,39Homens que fazem sexo com homens 4 1,58Caminhoneiro 3 1,19Portadores <strong>de</strong> DST 2 0,79População confinada 1 0,40Usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis (UDI) 1 0,40Hemolíticos e politransfundidos 1 0,401 147 58,102 a 4 64 25,305 a 10 17 6,7211 a 50 5 1,9851 a 100 0 0,0Mais <strong>de</strong> 100 2 0,79Nenhum 17 6,72Não informado 1 0,40Homens 159 62,85Mulheres 78 30,83Homens e mulheres 11 4,35Não se aplica 5 1,98Nunca 98 38,74Às vezes 94 37,15Sempre 34 13,44Não se aplica 21 8,30Não informado 6 2,37Não atribui risco 62 24,51Não sabe 37 14,62Desconfia <strong>de</strong> relação extraconjugal 34 13,44Passado sexual 28 11,07Relação extraconjugal 21 8,30Homo/bissexualismo 2 0,79Transfundido 2 0,79UDI 1 0,40DST 1 0,40Outros 3 1,19Não se aplica 58 22,92Não informado 4 1,58Sempre 59 23,32Às vezes 51 20,16Nunca 39 15,42Não se aplica 102 40,32Não informado 2 0,7928revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Matos et alMotivo da procuraCompartilhou drogasinjetáveis no último mêsPrevenção 124 49,01Conhecimento do status sorológico 49 19,37Exposição à situação <strong>de</strong> risco 39 15,42Encaminhado <strong>de</strong> serv. <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 15 5,93Exame pré-natal 6 2,37DST 5 1,98Sintomas relacionados ao HIV/Aids 2 0,79Conferir resultado anterior 2 0,79Janela imunológica 1 0,40Outros 10 3,95Não 109 43,08Sim 3 1,19Não lembra 2 0,79Não informado 29 11,46Não se aplica 110 43,48Tabela 1 – Perfil epi<strong>de</strong>miológico dos usuários do Centro <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento – CTA em DST/Aids do <strong>Hospital</strong>Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – HUGV da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ManausA análise dos 253 formulários <strong>de</strong> entrevista do CTA/HUGV, no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002a junho <strong>de</strong> 2003, <strong>de</strong>monstrou que 93 (36,76%) eram do sexo masculino e 160 (63,24%) do sexofeminino. A ida<strong>de</strong> foi agrupada em faixa etária <strong>de</strong> acordo com o sexo, sendo que a que maisprocurou o atendimento, entre os homens, foi <strong>de</strong> 30 a 39 anos, e entre as mulheres <strong>de</strong> 20a 29 anos, <strong>de</strong>monstrando faixa etária compatível com o período reprodutivo, a distribuiçãoestá <strong>de</strong>monstrada na Tabela 2.Faixa EtáriaHomens(n=93 \ 36,76%)Masc %.Mulheres(n=160 \ 63,24%)Fem. %1 – 9 1 1,08% 0 0,00%10 – 19 7 7,53% 13 8,12%20 – 29 21 22,58% 61 38,13%30 – 39 25 26,88% 52 32,50%40 – 49 24 25,80% 22 13,75%50 – 59 11 11,83% 11 6,88%Acima <strong>de</strong> 60 4 4,30% 1 0,62%Total do perfil 93 100% 160 100%Tabela 2 – Distribuição da faixa etária <strong>de</strong> acordo com o sexo dos usuários do CTA/HUGVAs Tabelas 3 e 4 apresentam os motivos do não uso <strong>de</strong> preservativo com parceiros fixose não fixos, respectivamente, restringindo-se ao total <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> uso às vezes ou nãouso da camisinha. Foram <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados os indivíduos que <strong>de</strong>claram usar sempre nas suasrelações sexuais e os que não iniciaram ativida<strong>de</strong> sexual.Sexo/ Estado civil Homens (n=67 \ 34,90%0) Mulheres (n=125 \ 65,10%)Motivo <strong>de</strong> não usarCasado/AmigadoSolteiro/ Separado/ Viúvo/Casada/AmigadaSolteira/ Separada/ Viúva/Confia no parceiro 23 6 4 - 28 8 2 229revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


PERFIS SOCIOCOMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS DO CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO – CTAEM DST/AIDS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS DA CIDADE DE MANAUS-AMParceiro não aceita 1 - - - 21 4 2 1Não gosta 10 1 - - 9 5 2 -Não dispunha no momento 4 2 - - - 6 - -Negociou não usar preservativo - - - - 4 1 - -Não tem tempo/tesão 3 1 - 1 1 1 - -Não tinha consciência - - - - 3 3 1 -Desejo <strong>de</strong> ter filhos - 1 - - 2 1 - -Não consegue negociar - - - - 2 - - -Acha que não vai pegar 1 - - - 1 1 - -Achou que o outro não tinha - - - - 1 1 - 1Tamanho do preservativopequeno- - - - - 1 - -Não tem condições <strong>de</strong> comprar 1 - - -Outros - - - - 1 - - -Não se aplica 2 3 - - 1 3 - -Não informado 1 - 1 - - 1 1 -TOTAL 47 14 5 1 77 36 8 4Percentagem 24,47% 7,29% 2,60% 0,52% 40,10% 18,75% 4,16% 2,08%Tabela 3 – Motivos que levaram ao não uso do preservativo entre parceiros fixos relacionado ao sexo e estado civildos usuários do CTA/HUGVTotal <strong>de</strong> ocorrências sem preservativo com parceiro fixo: 192.Sexo/Estado civilHomens(n=46 \ 51,11%)Mulheres(n=44\ 48,89%)Motivo <strong>de</strong> não usarCasado/Amigado Solteiro/ Separado/ Viúvo/ Casada/Solteira/AmigadaSeparada/ Viúva/Não gosta 6 1 1 - 3 - 2 1Não sabe usar 1 - - -Não dispunha no momento 2 1 - - 4 5 - -Confia no parceiro 6 2 1 1 3 - - -Acha que não vai pegar 2 - - - 1 1 - -Não tem condições <strong>de</strong>comprar1 1 - - 1 - - -Não tem tempo/tesão - 2 - - - 1 - -Desejo <strong>de</strong> ter filhos - - 1 - - 1 - -Não se aplica 5 4 - - 7 1 - 1Não informado - - - - 1 1 - -Parceiro não aceita 1 - - - 1 - - -Não consegue negociar - - - - 1 - - -Não tinha consciência 2 1 - - 6 2 - -Não acredita na eficácia 1 - - - - - - -Uso <strong>de</strong> drogas / álcool 1 - - - - - - -Estupro - 1 - - - - - -Outros - - 1 - - - - -TOTAL 28 13 4 1 28 12 2 2Percentagem 31,11% 14,44% 4,44% 1,11% 31,11% 13,33% 2,22% 2,22%Tabela 4 – Motivos que levaram ao não uso do preservativo entre parceiros não fixos relacionado ao sexo e estadocivil dos usuários do CTA/HUGVTotal <strong>de</strong> ocorrências sem camisinha com parceiros não fixo: 90.30revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Matos et alDiscussãoA análise dos formulários <strong>de</strong> entrevistada <strong>de</strong>manda espontânea, neste estudo,evi<strong>de</strong>nciou a maior busca do sexo femininopelos serviços do CTA/HUGV no período <strong>de</strong>agosto <strong>de</strong> 2002 a junho <strong>de</strong> 2003, indicandouma vulnerabilida<strong>de</strong> das mulheres emrelação ao risco <strong>de</strong> transmissão/aquisição <strong>de</strong>doenças sexualmente transmissíveis. A ida<strong>de</strong>foi agrupada em faixa etária <strong>de</strong> acordo como sexo, sendo que a que mais procurou oatendimento, entre as mulheres, foi <strong>de</strong> 20 a29 anos, e entre os homens <strong>de</strong> 30 a 39 anos.Esses dados conferem com a observação <strong>de</strong>que, no Brasil, a propagação da infecçãopelo HIV vem sofrendo transformaçõessignificativas no seu perfil epi<strong>de</strong>miológico;entretanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da epi<strong>de</strong>mia, ogrupo etário <strong>de</strong> 20 a 39 anos tem sido o maisatingido. 9,10Um dado interessante, relatado porBerer, 11 diz que as mulheres contraem o HIVem ida<strong>de</strong> mais precoce à dos homens, poisten<strong>de</strong>m a ter relações sexuais com homensmais velhos que elas, seja <strong>de</strong>ntro ou forado casamento. E os homens casados muitasvezes têm relações extraconjugais commulheres mais jovens. Consequentemente,os homens têm mais chance <strong>de</strong> se expor aoHIV, tanto por serem mais velhos como porterem mais relações sexuais e maior número<strong>de</strong> parceiras.Em relação ao perfil socio<strong>de</strong>mográfico,observou-se que quem mais buscou oatendimento no CTA/HUGV foram, em geral,casados/amigados, com nível fundamentale médio <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Quanto à situaçãoprofissional, aproximadamente 70% dosusuários estavam <strong>de</strong>ntro do mercado <strong>de</strong>trabalho, sendo empregados ou trabalhandocomo autônomos, sugerindo que a maioriados usuários do CTA vem <strong>de</strong> uma camadapopulacional aparentemente estabilizada.Geralmente, os indivíduos procuramo serviço do Centro <strong>de</strong> Testagem eAconselhamento por terem sido expostos àsituação <strong>de</strong> risco; entretanto, neste estudo,verificou-se que a principal motivação pelaprocura <strong>de</strong> atendimento foi a prevenção parauma possível infecção pelo HIV, seguido do<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conhecer o seu status sorológico.Esses dados são interessantes, pois indicamque as pessoas querem conhecer a suasituação sorológica, buscando ampliaralternativas preventivas contras as DST/Aids.As pessoas que procuraram oatendimento do CTA/HUGV fazem parte dapopulação em geral, sendo encaminhadaspor materiais <strong>de</strong> divulgação. Entretanto,vale ressaltar que os profissionais doserviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aliados aos amigos eusuários, também <strong>de</strong>sempenharam um fator<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante para a origem da <strong>de</strong>manda,sugerindo que a propaganda do tipo “boca aboca” é bastante eficiente. Já os meios <strong>de</strong>comunicação – jornais, rádios e televisão –ocupam uma posição discreta em relação aos<strong>de</strong>mais. Esse dado é preocupante, uma vezque <strong>de</strong>monstra que a mídia não tem, ainda,alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> difusão na população em geralsobre os serviços do CTA.Em relação ao comportamento <strong>de</strong> risco,3 (1,19%) referiram compartilhamento <strong>de</strong>agulhas, 11 (4,35%) relações bissexuais e 2(0,79%) relacionamento sexual com mais <strong>de</strong>cem parceiros no último ano. Quanto ao dadosobre o uso <strong>de</strong> drogas injetáveis, ele é poucosignificativo se observado isoladamente, masassume maior relevância quando associadoaos riscos sexuais. Nesse sentido, essaspessoas acabam sofrendo duplo risco <strong>de</strong>infecção, tanto pela via sexual como pelocompartilhamento <strong>de</strong> agulhas.Quanto ao comportamento sexual,a maioria dos usuários se <strong>de</strong>nominouheterossexual, referiu menor número <strong>de</strong>parceiros e utilização menos frequente dopreservativo em se tratando <strong>de</strong> parceirofixo. Enten<strong>de</strong>-se por parceiro fixo aqueleque envolve, além <strong>de</strong> situação <strong>de</strong> casamentoou união consensual, relação afetivo-sexual31revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


PERFIS SOCIOCOMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS DO CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO – CTAEM DST/AIDS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS DA CIDADE DE MANAUS-AMcom relações sexuais regulares. 12 Os dadosencontrados mostram que a constância nasrelações sexuais ainda é uma característicapara mais da meta<strong>de</strong> dos usuários.Neste estudo foi observado que o usodo preservativo no grupo com parceiro fixonão é uma prática incorporada no cotidianodas pessoas, justificada por várias razões.Entretanto, um dos principais motivosapontados para o não uso do preservativo foia confiança no seu parceiro, principalmenteentre as mulheres. Essa “confiança noparceiro” é a maior fonte <strong>de</strong> resistência àprevenção, levando, na maioria das vezes,a achar que o parceiro não oferece nenhumrisco, uma vez que tem a certeza da soli<strong>de</strong>zdo relacionamento.Outro dado interessante é a proporção<strong>de</strong> mulheres que referiram o não uso <strong>de</strong>preservativos pela recusa do parceiro emaceitar. Em menor proporção, elas relataramque não gostam do uso do preservativo.Frequentemente, o comportamento femininoainda se encontra vinculado à subalternida<strong>de</strong>na relação da mulher com o homem, umavez que confiam no parceiro, aceitam asimposições <strong>de</strong>le e, ainda, compartilham danão vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar o preservativo.O Relatório do Fundo das Nações Unidaspara a população <strong>de</strong>staca que as normas<strong>de</strong> gênero limitam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociaçãodas mulheres e, consequentemente, a suaproteção efetiva durante os relacionamentossexuais, tornando-as mais susceptíveisàs DST/Aids. 13 Segundo Griep et. al., 10 ascondições sociais põem os homens comoresponsáveis pela administração dos riscosnas questões sexuais e às mulheres, emgeral, cabe correspon<strong>de</strong>r, com passivida<strong>de</strong>,as investidas e <strong>de</strong>sejos masculinos.A frequência do uso do preservativoaumenta quando as relações sexuaisacontecem com parceiros casuais. O não uso<strong>de</strong> preservativos com parceiros eventuais émenos frequente quando comparado com osindivíduos que possuem parceiros estáveis.Ao se realizar uma eventual associação entreo uso do preservativo e o tipo <strong>de</strong> parceirossexuais (estáveis e eventuais), nota-se que otipo <strong>de</strong> parceiro é um gran<strong>de</strong> preditor quantoà exposição às DST/Aids.O motivo para o não uso do preservativofoi o simples fato <strong>de</strong> não gostar <strong>de</strong> usar opreservativo. Outro motivo <strong>de</strong>stacado foi o<strong>de</strong> não dispor no momento da relação sexual,supondo que o relacionamento com parceiroseventuais ocorre mais frequentemente semplanejamento, levando a uma exposição <strong>de</strong>risco maior. No entanto, o fato <strong>de</strong> usar opreservativo está ligado com o autocuidadoe a importância da prevenção, posto queaqueles que estão convictos da necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> se proteger costumam carregar consigo opreservativo <strong>de</strong> forma constante, evitando,<strong>de</strong>sse modo, transtornos futuros.ConclusãoO reconhecimento <strong>de</strong> que o aconselhamentoé uma das estratégias mais importantes na lutacontra a transmissão das doenças sexualmentetransmissíveis, principalmente a Aids, na medidaem que fornece orientações sobre os riscos <strong>de</strong>infecção, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diagnóstico precocee prevenção <strong>de</strong>ssas doenças, aumenta-se, cadavez mais, o número <strong>de</strong> pessoas que procuramo atendimento nos Centros <strong>de</strong> Testagem eAconselhamento – CTA em DST/Aids.Por meio das ações <strong>de</strong>sses centrospo<strong>de</strong>-se monitorar o status sorológico, operfil dos indivíduos infectados, bem comodas características da clientela atendidaadaptada à realida<strong>de</strong> local. Portanto, ai<strong>de</strong>ntificação do perfil dos usuários <strong>de</strong>sseserviço é importante para que <strong>de</strong> fatose alcancem os objetivos na prevenção econtrole das DST/Aids.32revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Matos et alReferências1. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Manual <strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong>aconselhamento em DST, HIV e Aids. 2.ª ed.Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 1999.2. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Aconselhamento em DST, HIV eAids: diretrizes e procedimentos básicos. 4.ªed. Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2000a.3. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Treinamento para o manejo <strong>de</strong><strong>caso</strong>s <strong>de</strong> doenças sexualmente transmissíveis:módulos 1, 2 e 3. Brasília: Ministério daSaú<strong>de</strong>, 2000b.4. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Diretrizes dos Centros <strong>de</strong>Testagem e Aconselhamento (CTA): manual.Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2000c.5. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>naçãoNacional <strong>de</strong> DST/Aids. Vigilância do HIV noBrasil: Novas Diretrizes. Brasília: Ministérioda Saú<strong>de</strong>, 2002a.6. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Sistema <strong>de</strong> informação dosCentros <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento emAids (SI-CTA): Manual <strong>de</strong> Utilização. Brasília:Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2002b.7. Ferreira, MPS; Silva, CMFP; Gomes, MCF;Silva, SMB. Testagem sorológica para o HIVe a importância dos Centros <strong>de</strong> Testagem eAconselhamento (CTA) – resultados <strong>de</strong> umapesquisa no município do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Ciência & Saú<strong>de</strong> Coletiva, 2001; 6(2):481-49.8. Bassichetto, KC; Mesquita, F; Zacaro,C; Santos, EA; Oliveira, SM; Veras MASM;Bergamachi, DP. Perfiis epi<strong>de</strong>miológicosdos usuários <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Testageme Aconselhamento para DST/HIV da Re<strong>de</strong>Municipal <strong>de</strong> São Paulo, com sorologiapositiva para o HIV. Rev. Bras. Epi<strong>de</strong>miol.,2004; 7(3):302-310.9. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação Nacional<strong>de</strong> DST/Aids. Aids: Boletim Epi<strong>de</strong>miológico[periódico on-line] 2001; 15(1). Disponívelem: http://www.aids.gov.br.10. Griep, RH; Araújo, CLF; Batista, SM.Comportamento <strong>de</strong> risco para a infecçãopelo HIV entre adolescentes atendidos emum centro <strong>de</strong> testagem e aconselhamentoem DST/Aids no Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro,Brasil. Epi<strong>de</strong>miologia e Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,2005; 14(2):119-126.11. Berer, M. Mulheres e HIV/Aids: um livrosobre recursos internacionais: informação,ativida<strong>de</strong>s e materiais relativos às mulheresHIV/Aids, saú<strong>de</strong> reprodutiva e relaçõessexuais. São Paulo: Brasiliense, 1997.12. Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Curitiba. SecretariaMunicipal da Saú<strong>de</strong> – Centro <strong>de</strong> Testageme Aconselhamento. Perfil dos Usuários doCentro <strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento <strong>de</strong>Curitiba: características da população,motivo da procura, comportamento sexual eatitu<strong>de</strong> com relação às questões relativas aoHIV/Aids no ano <strong>de</strong> 2008. Curitiba, 2001.13. Fondo <strong>de</strong> Población <strong>de</strong> las NacionesUnidas. Estado <strong>de</strong> la población mundial 2003:inversiones em su salud e SUS <strong>de</strong>rechos. NovaYork: UNFPA, 2003.33revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


34revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ANÁLISE DOS ACHADOSVIDEOLARINGOSCÓPICOS DE PACIENTESCOM HISTÓRIA DE DISFONIAAnalysis Of Vi<strong>de</strong>olaryngoscopic Findings Of Patients With History Of DisphonyaRenata Farias <strong>de</strong> Santana * , Márcia dos Santos da Silva * , Karine Freitas <strong>de</strong> Sousa ** , Renato Telles <strong>de</strong> Souza *** , Giselle LimaAfonso **** , Jenifer Morais <strong>de</strong> Melo **** , Camila Men<strong>de</strong>s da Silva **** , Donn-Thell Frewyd Sawntzy Junior *****Médica resi<strong>de</strong>nte do Serviço <strong>de</strong> Otorrinolaringologia do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>**Preceptora da Residência <strong>de</strong> Otorrinolaringologia do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>***Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas, coor<strong>de</strong>nador da Residência <strong>de</strong> Otorrinolaringologia do <strong>Hospital</strong> UniversitárioGetúlio <strong>Vargas</strong>****Acadêmicos do Curso <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do AmazonasInstituição <strong>de</strong> origem do trabalho: <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – HUGVRESUMOObjetivo: Descrever os achados vi<strong>de</strong>olaringoscópicos <strong>de</strong> pacientes com história <strong>de</strong>disfonia, buscando-se traçar o perfil epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong>sses pacientes, verificar associaçãocom tabagismo e abuso vocal e averiguar quais são as principais patologias que cursam comindicação cirúrgica. Métodos: Estudo <strong>de</strong>scritivo restrospectivo por intermédio da análise <strong>de</strong>prontuários <strong>de</strong> pacientes com queixa <strong>de</strong> disfonia submetidos ao exame <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopia,no Serviço <strong>de</strong> Otorrinolaringologia do Ambulatório Araújo Lima – HUGV, durante o ano <strong>de</strong>2009. Resultados: De um total <strong>de</strong> 22 pacientes, os achados foram: nódulo (4,5%), lesões<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> refluxo gastroesofágico (4,5%), e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke (4,5%), sinéquia (4,5%),lesão papilomatosa (13,63%), fenda (13,63%), pólipo (18,18%), lesões vegetantes (27,27%),sem alterações (9,09%). Conclusão: Os resultados encontrados divergem daqueles presentesnas crianças, faixa etária em que a maioria dos estudos está focada. Assim, é importante quemais pesquisas nesse sentido sejam realizadas, a fim <strong>de</strong> caracterizar melhor as principaislesões presentes nos adultos.Palavras-chave: Disfonia; Laringoscopia; Laringe.ABSTRACTObjective: To <strong>de</strong>scribe the vi<strong>de</strong>olaryngoscopic findings of patients with a historyof dysphonia, seeking to trace the epi<strong>de</strong>miological profile of these patients, assess theassociation with smoking and vocal abuse and find out what are the main pathologies thatcourse with surgical indication. Methods: A <strong>de</strong>scriptive study using retrospective analysis ofmedical records of patients complaining of dysphonia be examined by laryngoscopy in theOtorhinolaryngology Service of Ambulatory Araujo Lima – HUGV during the year 2009. Results:In a total of 22 patients, the findings were: nodule (4.5%), injury from gastroesophagealreflux (4.5%), Reinke’s e<strong>de</strong>ma (4.5%), synechia (4.5%), papillomatous lesion (13.63%), cleft(13.63%), polyps (18.18%), vegetating lesions (27.27%), unchanged (9.09%). Conclusion: Our35revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ANÁLISE DOS ACHADOS VIDEOLARINGOSCÓPICOS DE PACIENTES COM HISTÓRIA DE DISFONIAresults differ from those present in children, age at which most studies focus. It is thereforeimportant that more research in this direction are carried out in or<strong>de</strong>r to better characterizethe main lesions present in adults.Key-words: Dysphonia; Laryngoscopy; Larynx.IntroduçãoA disfonia é <strong>de</strong>finida como qualquerdificulda<strong>de</strong> na emissão vocal que impeçaa produção natural da voz, po<strong>de</strong>ndomanifestar-se por esforço à emissão do som,dificulda<strong>de</strong> em manter a voz, cansaço aofalar, variações na frequência vocal habitual,falta <strong>de</strong> volume, entre outros. A disfonia po<strong>de</strong>interferir seriamente na comunicação e,consequentemente, na vida pessoal, social eprofissional. O diagnóstico da disfonia parte<strong>de</strong> um sintoma principal – a disfonia em si– que se expan<strong>de</strong> para múltiplos aspectosetiológicos: hipertonia, fatores psicológicos,refluxo gastroesofágico, problemas com atécnica vocal etc. 1O exame físico po<strong>de</strong> ser efetuado pelosprocedimentos simples, como o espelho <strong>de</strong>Garcia, ou por meio da vi<strong>de</strong>olaringoscopia, aqual contribuiu enormemente para o avanço dapropedêutica laríngea, sendo extremamenteútil na avaliação anatômica e funcional. 2Nos Estados Unidos a prevalência <strong>de</strong>disfonia varia <strong>de</strong> 3 a 9% da população, 3 sendoescassos dados a respeito no Brasil.As principais causas <strong>de</strong> disfoniacitadas na literatura são: 1) disfoniasfuncionais (advindas do próprio uso da voz);2) alterações estruturais mínimas, quesão variações constitucionais da anatomialaríngea, classificando-se em assimetriada laringe, variações da proporção glóticae alterações da cobertura (sulco vocal,cisto epi<strong>de</strong>rmoi<strong>de</strong>, microdiafragma, ponte<strong>de</strong> mucosa, vasculodisgenesia); 3) lesõesbenignas das pregas vocais, que incluemos nódulos, pólipos, e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke,granulomas inespecíficos, úlceras <strong>de</strong> contatoe a papilomatose respiratória recorrente,causada pelo vírus HPV; 4) paralisia daprega vocal (PV); 5) alterações congênitas,como a laringomalácia, estenoses, fendas,hemangiomas, Síndrome <strong>de</strong> Cri-du-Chat;6) lesões malignas da laringe; 7) laringitesagudas e crônicas. 2O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é avaliar aincidência das diversas lesões laríngeas nosexames <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopia <strong>de</strong> pacientescom queixa <strong>de</strong> disfonia atendidos pelo Serviço<strong>de</strong> Otorrinolaringologia do AmbulatórioAraújo Lima – <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<strong>Vargas</strong> (HUGV) em Manaus, Amazonas,durante o ano <strong>de</strong> 2009.MétodosEstudo <strong>de</strong>scritivo restrospectivo pormeio da análise <strong>de</strong> prontuários <strong>de</strong> pacientescom queixa <strong>de</strong> disfonia submetidos aoexame <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopia, no Serviço <strong>de</strong>Otorrinolaringologia do Ambulatório AraújoLima – HUGV, durante o ano <strong>de</strong> 2009.Foram excluídos os indivíduos comhistória <strong>de</strong> disfonia, porém que realizaramexames <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopia em outrosserviços.Os pacientes foram avaliados quantoà ida<strong>de</strong>, sexo, profissão, abuso vocal,tabagismo, tipo <strong>de</strong> lesão, presença <strong>de</strong>lesões associadas ou doenças sistêmicas etratamento realizado.Com base nos dados obtidos, foipreenchido protocolo <strong>de</strong> avaliação formuladopara o estudo, conforme Figura 1.ResultadosDe um total <strong>de</strong> 22 pacientes, 12(54,54%) eram do sexo feminino e <strong>de</strong>z dosexo masculino (45,45%). A ida<strong>de</strong> média dospacientes foi <strong>de</strong> 47,91 anos (±17,14).36revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santana et alTreze pacientes (59%) foramsubmetidos ao tratamento cirúrgico noHUGV após realizado exame físico e examevi<strong>de</strong>olaringoscópico. Seis pacientes (27,27%)receberam tratamento fonoaudiológico, nãose fazendo necessário tratamento cirúrgico.Dentre os pacientes submetidos à cirurgia, asprincipais indicações foram: seis pacientes(46,15%) com lesão vegetante, quatro(30,76%) com pólipo <strong>de</strong> PV e três (23,07%)com papilomatose laríngea, <strong>de</strong>scritos naTabela 2.Indicação <strong>de</strong>tratamento cirúrgicoFrequênciaPorcentagemFigura 1 – Protocolo <strong>de</strong> investigação vi<strong>de</strong>olaringoscópica<strong>de</strong> pacientes com disfoniaAnalisando-se a história patológicapregressa, observou-se que 12 pacientes(54,5%) apresentavam histórico <strong>de</strong> abusovocal, 13 eram fumantes (59%) – com cargatabágica média <strong>de</strong> 13,52 maços/ano –, e trêspacientes (13,63%) já haviam sido submetidosa uma cirurgia prévia para tratamentoda disfonia, sendo todas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>papilomatose laríngea.As principais lesões encontradasno exame vi<strong>de</strong>olaringoscópico foram asvegetantes (27%) seguidas pelos pólipos <strong>de</strong>PVs (18%). As <strong>de</strong>mais lesões encontradasestão <strong>de</strong>scritas na Tabela 1.Achadosvi<strong>de</strong>olaringoscópicosFrequênciaPorcentagemLesão vegetante 6 27,27%Pólipo <strong>de</strong> prega vocal 4 18,18%Papilomatose 3 13,63%Fenda glótica 3 13,63%Sem alterações 2 9,09%Nódulo <strong>de</strong> prega vocal 1 4,5%Refluxo faringolaríngeo 1 4,5%E<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke 1 4,5%Sinéquia <strong>de</strong> prega vocal 1 4,5%Total 22 100%Tabela 1 – Achados vi<strong>de</strong>olaringoscópicos em pacientesportadores <strong>de</strong> disfoniaLesão vegetante 6 46,15%Pólipo <strong>de</strong> prega vocal 4 30,76%Papilomatose 3 23,07%Total 13 100%As lesões com indicação <strong>de</strong> tratamentofonoaudiológico foram fenda glótica emtrês (50%) pacientes, nódulo <strong>de</strong> PV em um(16,6%) paciente, e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke em um(16,66%) paciente e sinéquia em pequenaárea <strong>de</strong> comissura anterior <strong>de</strong> região glótica,<strong>de</strong>scritos na Tabela 3.Indicação <strong>de</strong>tratamentofonoaudiológicoTabela 2 – Patologias com indicação <strong>de</strong> tratamentocirúrgico em pacientes portadores <strong>de</strong> disfoniaFrequênciaPorcentagemFenda glótica 3 50%Nódulo <strong>de</strong> prega vocal 1 16,66%E<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke 1 16,66%Sinéquia <strong>de</strong> pregavocal1 16,66%Total 13 100%Tabela 3 – Patologias com indicação <strong>de</strong> tratamentofonoaudiológico em pacientes portadores <strong>de</strong>disfoniaEm relação ao abuso vocal, doze (54,5%)pacientes confirmaram uso ina<strong>de</strong>quado davoz. Quanto à profissão, dois (9%) pacienteseram agricultores, três (13,63%) eram donas<strong>de</strong> casa, dois (9%) eram motoristas, cinco(22,72%) eram professores, três (13,63%)37revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ANÁLISE DOS ACHADOS VIDEOLARINGOSCÓPICOS DE PACIENTES COM HISTÓRIA DE DISFONIAtrabalhavam em serviços gerais, dois (9%)eram ven<strong>de</strong>dores e cinco (22,72%) possuíamoutras profissões. Dentre os pacientes comhistória <strong>de</strong> abuso vocal, sete (58,3%) exerciamativida<strong>de</strong>s laborais com uso constante davoz, sendo cinco (41,66%) professores e dois(16,66%) ven<strong>de</strong>dores.Dentre os quatro pacientes comdiagnóstico <strong>de</strong> pólipo <strong>de</strong> pregas vocais, doisrelataram abuso vocal associado e três tinhamhistória <strong>de</strong> tabagismo. Os tipos <strong>de</strong> fendaencontrados foram fenda em ampulheta emdois pacientes e fenda em paralelo em um.Um paciente apresentava nódulo em regiãoglótica, bilateralmente, em terço médio <strong>de</strong>pregas vocais. Um paciente, do sexo feminino,tabagista, possuía e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke.DiscussãoA voz é o mais importante meio<strong>de</strong> comunicação do ser humano, tendocaracterísticas pessoais particulares quetraduzem a personalida<strong>de</strong> e o estadoemocional do indivíduo, <strong>de</strong>vendo seri<strong>de</strong>almente agradável ao ouvinte. 4A produção da fala envolve trêsprocessos principais: a produção do somglótico pela vibração das PVs, a ressonânciae a articulação <strong>de</strong>sse som, que ocorrem naregião supraglótica. Durante a fonação,as PVs convertem a energia aerodinâmicagerada pelo fluxo expiratório em energiaacústica. Para tal, é necessária a presença <strong>de</strong>uma estrutura vibrátil a<strong>de</strong>quada. Quando aestrutura da PV é violada, sobretudo em suascamadas mais profundas, suas proprieda<strong>de</strong>svibratórias são perdidas e a qualida<strong>de</strong> vocal<strong>de</strong>teriora. 5A disfonia é um sintoma presente emvários distúrbios, ora se apresentando comosecundário, ora como principal. Muitasvezes, é o sintoma mais importante <strong>de</strong> umadoença, sendo consi<strong>de</strong>rada como a própriadoença, como ocorre nos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> disfoniafuncional. Em outros <strong>caso</strong>s, é a apenas umsintoma menor inserido no quadro clínico <strong>de</strong>doenças sistêmicas.Existem diversas formas <strong>de</strong> avaliara fonação em seus diferentes aspectos.Os procedimentos mais utilizados são alaringoscopia indireta por espelho circular,laringoscopia indireta com fibra ótica,estroboscopia laríngea, vi<strong>de</strong>oquimografiae laringoscopia direta tradicional. Alaringoscopia indireta com fibra ótica(vi<strong>de</strong>olaringoscopia) permite umavisualização satisfatória das estruturaslaríngeas e <strong>de</strong> sua movimentação durante afonação. 2 Embora 9% dos exames <strong>de</strong>scritosneste trabalho não tenham apresentadonenhuma alteração, em 40% dos pacientes oexame vi<strong>de</strong>olaringoscópico foi crucial paraa i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> lesões potencialmentemalignas – lesões papilomatosas e vegetantes–, caracterizando esse exame comoimportante ferramenta diagnóstica e <strong>de</strong>triagem.De acordo com a literatura, existepredomínio <strong>de</strong> alterações vocais em pacientesdo sexo feminino. 6 Estudos <strong>de</strong>monstram aocorrência <strong>de</strong> mudanças significativas naconfiguração glótica <strong>de</strong> mulheres durante afonação prolongada com loudness elevado,possivelmente por diferenças constitucionaise anatômicas. 7 Na presente amostra,apesar <strong>de</strong> pequena, também foi observadopredomínio do sexo feminino.A relação entre disfonia e abuso vocalé amplamente relatada pela literatura,sobretudo em profissionais que utilizama voz como instrumento <strong>de</strong> trabalho. 8Em nossa casuística, 54,5% dos pacientestinham história prévia <strong>de</strong> abuso vocal.Destes, 58,3% exerciam ativida<strong>de</strong>s laboraisrelacionadas ao uso constante da voz,sendo a maioria professores, resultadoscompatíveis com os relatados por outrosautores. 9 Comprovadamente, há maiorrisco <strong>de</strong> ocorrência das disfonias nessegrupo; todavia, as disfonias têm origem38revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santana et almultifatorial, tornando difícil relacionálasa uma única causa. O mais provável éque o abuso vocal atue como um fator <strong>de</strong>risco potencial na presença <strong>de</strong> condiçõesanatômicas e estruturais prévias.Outro fator <strong>de</strong> risco apontado pelaliteratura é o tabagismo, uma vez que afumaça quente do cigarro é altamenteprejudicial a todo trato vocal e sistemarespiratório. A fumaça age diretamentesobre a mucosa, provocando aumento daprodução <strong>de</strong> muco e parada dos batimentosciliares. Em condições normais, o ar <strong>de</strong>slizapelas pare<strong>de</strong>s da laringe com atrito reduzido,enquanto que, no fumante, a camadaprotetora modificada aumenta o atrito doar. Assim, ocorre um turbilhonamento doar e mais trauma mucoso, levando a um<strong>de</strong>sarranjo no ciclo vibratório que altera aqualida<strong>de</strong> vocal. 10 Dos 22 pacientes avaliadosem nosso serviço, cerca <strong>de</strong> 60% <strong>de</strong>les eramtabagistas; entretanto, trabalhos recentesnão conseguiram confirmar a associaçãoentre tabagismo e disfonia. 11Embora as lesões benignas da laringenão sejam entida<strong>de</strong>s nosológicas <strong>de</strong> maiorgravida<strong>de</strong>, as principais lesões proporcionamum impacto dramático na voz. Entre aslesões benignas da laringe, <strong>de</strong>stacam-se:nódulos, cistos epi<strong>de</strong>rmoi<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> retenção,sulco vocal, pólipos, e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke,vasculodisgenesias, micromembranas,granulomas e papilomas. 12 Um estudorealizado com 40 pacientes submetidos àmicrocirurgia <strong>de</strong> laringe i<strong>de</strong>ntificou umpredomínio maior <strong>de</strong> lesões do tipo cistos,seguidos pelo pólipos e nódulos <strong>de</strong> PV. 13 Emnosso estudo, as lesões mais encontradasforam as do tipo vegetantes, seguidaspelos pólipos, papilomatose laríngea, fendaglótica, nódulos e e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke.Os pólipos são lesões exofíticaslocalizadas predominantemente no terçoanterior da porção membranosa das PVs.Macroscopicamente, são massas comaparência lisa, gelatinosas e translúcidas.A etiologia ainda é obscura, porém seacredita que o abuso vocal resultando emtrauma mecânico seja o principal fatorpredisponente. 14 Dentre os quatro <strong>caso</strong>s<strong>de</strong> pólipo <strong>de</strong> PV relatados, dois relataramabuso vocal associado e três também eramtabagistas.A papilomatose laríngea é um tipo<strong>de</strong> lesão vegetante causada pelo PapilomaVírus Humano (HPV). Atualmente, a lesãoé classificada em dois tipos: papilomalaríngeo <strong>de</strong> início juvenil e papiloma laríngeo<strong>de</strong> início na ida<strong>de</strong> adulta. Os papilomaslaríngeos <strong>de</strong> início juvenil são associadosao HPV transmitidos por via vertical <strong>de</strong>uma mãe com infecção anogenital ativa oulatente. Os papilomas laríngeos <strong>de</strong> iníciona ida<strong>de</strong> adulta acometem indivíduos commaior número <strong>de</strong> parceiros sexuais e maiorfrequência <strong>de</strong> contatos orogenitais. Ahipótese <strong>de</strong> transmissão orogenital é baseadano fato <strong>de</strong> que a papilomatose da laringe e oscondilomas genitais apresentam os mesmosHPVs das infecções associadas, HPVs 6 e11, sendo o tipo 6 o mais frequente. 15 Emnosso serviço, a diferenciação entre as duasformas <strong>de</strong> acometimento é difícil, visto quea maioria dos pacientes já chega em umestado avançado da doença e muitos nãosabem precisar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início da disfoniaou história <strong>de</strong> HPV materno.As fendas glóticas são alteraçõesposturais das pregas vocais caracterizadaspor um fechamento glótico imperfeito. Asfendas po<strong>de</strong>m variar quanto ao tamanho econfiguração, <strong>de</strong> acordo com a qualida<strong>de</strong>vocal, frequência e intensida<strong>de</strong> da emissão. 16Os tipos <strong>de</strong> fenda encontrados em nossoestudo foram o tipo ampulheta e em paralelo.Os nódulos são protuberâncias bilateraisencontradas nos bordos livres e na superfícieinferior das PVs, no ponto <strong>de</strong> transição entreo terço anterior e os dois terços posterioresda PV membranosa. São lesões por excelênciacausadas por fonotrauma. 16 O único <strong>caso</strong><strong>de</strong> nódulo <strong>de</strong> PV, conforme <strong>de</strong>scrito na39revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ANÁLISE DOS ACHADOS VIDEOLARINGOSCÓPICOS DE PACIENTES COM HISTÓRIA DE DISFONIAliteratura, foi encontrado em um pacientecom história <strong>de</strong> abuso vocal que trabalhavacomo professor.O e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> Reinke é o bilateral dacamada superficial da lâmina própria ou doespaço <strong>de</strong> Reinke. O padrão clássico <strong>de</strong>ssetipo <strong>de</strong> lesão é o paciente do sexo feminino,na quarta ou quinta década <strong>de</strong> vida, tabagista<strong>de</strong> longa data, 16 características idênticas asencontradas em nossa paciente.As manifestações laríngeas do refluxogastroesofágico são cada vez mais encontradasnos consultórios otorrinolaringológicos.Estudos revelam sua associação em mais <strong>de</strong>80% dos pacientes com queixa <strong>de</strong> rouquidãocrônica, 17 índice muito maior que oapresentado nesta casuística (4,5%); todavia,sabe-se que o refluxo gastroesofágico commanifestações laringofaríngeas ainda é umaentida<strong>de</strong> subdiagnosticada.O tratamento cirúrgico das lesõesbenignas <strong>de</strong> laringe visa melhorar ofechamento glótico e eliminar os fatores queinterferem na vibração normal das pregasvocais. A remoção ou correção das lesões pormeio da microcirurgia <strong>de</strong> laringe apresentabons resultados quando bem indicada. 12 Emnosso serviço, a microcirurgia foi indicadaem 13 dos 22 pacientes, sendo as principaisindicações as lesões vegetantes, os pólipos ea papilomatose laríngea.O tratamento fonoaudiológico baseiasena reeducação do paciente a fim <strong>de</strong>eliminar comportamentos nocivos e instituircomportamentos favoráveis por meio <strong>de</strong>exercícios e técnicas vocais, até que ocorraa automatização dos novos padrões. Agran<strong>de</strong> maioria dos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> disfonia possuiindicação <strong>de</strong> tratamento fonoaudiológico,quer seja <strong>de</strong> forma isolada ou adjuvante.Neste trabalho, a fonoterapia foi indicadacomo única forma <strong>de</strong> tratamento em seispacientes, obtendo-se um resultado clínicosatisfatório. Todos os pacientes cirúrgicosmantiveram acompanhamento fonoterápicoapós a cirurgia, com intuito <strong>de</strong> maximizar aqualida<strong>de</strong> vocal.ConclusãoDados a respeito das principais causas<strong>de</strong> disfonia da ida<strong>de</strong> adulta são escassos, naliteratura. Este estudo mostrou que a dificulda<strong>de</strong>na emissão vocal possui fatores etiológicosdistintos, conforme a faixa etária.No intuito <strong>de</strong> enriquecer os dadosepi<strong>de</strong>miológicos a respeito da disfonia, a fim <strong>de</strong>que se tenha maior conhecimento das patologiasmais frequentes, mais estudos nesse sentido sãonecessários, fazendo-se imperativo aumentar acasuística para resultados mais acurados.ReferênciasJunqueira, PAS; Trezza, PM. Princípios Básicosda Terapia Vocal. In: Costa, SS; Cruz, OLM;Oliveira, JAA. Otorrinolaringologia – Princípiose Prática. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 898-907.Ramos, HVL; Azevedo, R; Pontes, PAL. AvaliaçãoClínica e Laboratorial da Voz. In: Costa, SS;Cruz, OLM; Oliveira, JAA. Otorrinolaringologia:Princípios e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2006,p. 892-897.Routsalainen, JH; Sellman, J; Lehto. L,Jauhiainen; M, Verbeek, JH. Intervencionespara el tratamento <strong>de</strong> la disfonía funcional emadultos. La Biblioteca Cochrane Plus. Oxford,2007, 1(2):3-26.De Biase, NG. Alterações estrutuais mínimas dacobertura das pregas vocais. Estudo comparativodos vasos sanguineos à vi<strong>de</strong>otelelaringoscopia.[tese]. São Paulo: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SãoPaulo, 1997. Tsuji, DH; Imamura, R; Sennes, LU.Fisiologia da Laringe. In: Costa, SS; Cruz, OLM;Oliveira, JAA. Otorrinolaringologia: Princípios ePrática. 2.ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006, p.869-882.Bouchayer, M; Cornut, G, Loire; R, Roche, JB;Witzig, E; Bastian, RW. Epi<strong>de</strong>rmoid cysts, sulci40revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


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ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORESHEMATOLÓGICOS PROGNÓSTICOS DA PNEUMONIANECROSANTE NA CIDADE DE MANAUSComparative study of hematological prognostic factors of Necrotizing Pneumonia inManausAutores:Fernando Luiz Westphal – Professor-adjunto e coor<strong>de</strong>nador da disciplina <strong>de</strong> Cirurgia Torácica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doAmazonasLuciana Carreira Wezka – Médica intensivista pediátricaLuís Carlos <strong>de</strong> Lima – Chefe do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Torácica do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>José Corrêa Lima Netto – Médico assistente do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Torácica do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>Márcia dos Santos da Silva – Médica resi<strong>de</strong>nte do 1.º ano <strong>de</strong> OtorrinolaringologiaAlessandra Bastos Alves – Médica assistenteInstituição em que o trabalho foi realizado:Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas – Departamento <strong>de</strong> Clínica CirúrgicaRESUMOObjetivos: Avaliar os fatores hematológicos prognósticos da pneumonia necrosante emcrianças. Métodos: Estudo observacional, prospectivo. O trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido em doishospitais infantis da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus. Os pacientes foram selecionados a partir <strong>de</strong> dadosclínicos e radiológicos, e divididos em três grupos, um com pneumonia necrosante (grupo1), um com pneumonia associada a <strong>de</strong>rrame pleural (grupo 2) e outro com pneumonia grave(grupo 3). Foram analisados parâmetros inflamatórios (PCR e contagem <strong>de</strong> leucócitos) e <strong>de</strong>hipercoagulabilida<strong>de</strong> sanguínea (contagem <strong>de</strong> plaquetas, TAP e TTPA). Os exames laboratoriaisforam realizados no 1.º, 7.º e 14.º dias <strong>de</strong> internação hospitalar. Foi calculada a mediana dadiferença entre o 7.º dia em relação ao 1.º, 14.º em relação ao 1.º e 14.º em relação ao 7.º, eos valores encontrados em cada grupo foram comparados por meio do teste <strong>de</strong> Kruskal-Wallis.Resultados: Foram incluídos 24 pacientes, com média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 21,9 (±10,1) meses, sendo17 (70,8%) do sexo masculino. No grupo 1, foram alocados seis pacientes; no grupo 2, oitopacientes, e no grupo 3, <strong>de</strong>z pacientes. A análise do PCR mostrou níveis persistentementeelevados no grupo 1, e redução progressiva nos grupos 2 e 3 (p = 0,056). A análise dosfatores <strong>de</strong> hipercoagulabilida<strong>de</strong> não i<strong>de</strong>ntificou diferenças significativas na evolução dostrês grupos, bem como a contagem <strong>de</strong> leucócitos. Conclusão: Nesse grupo <strong>de</strong> pacientes nãoencontramos alterações significativas nos parâmetros analisados, com exceção do valor daPCR, que se encontrava maior no grupo 1.Descritores: Pneumonia; Complicações; Abscesso Pulmonar; Necrose; Fatores <strong>de</strong>Coagulação Sanguínea.ABSTRACTObjectives: Analyze the prognostic hematological factors of necrotizing pneumoniain children. Methods: Observational, prospective and <strong>de</strong>scriptive study with analytical43revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORES HEMATOLÓGICOS PROGNÓSTICOSDA PNEUMONIA NECROSANTE NA CIDADE DE MANAUScomponent. The study was conducted in two children’s hospitals in Manaus. Patients wereselected based on clinical and radiological data, and divi<strong>de</strong>d into three groups, one withnecrotizing pneumonia (group 1), one with pneumonia associated with pleural effusion (group2) and another with severe pneumonia (group 3). We analyzed inflammatory parameters(CRP and leukocyte count) and hypercoagulable (platelet count, APTT and TAP). Laboratorytests were conducted on the 1st, 7th and 14th days of hospitalization. We calculated themedian difference between day 7 compared to 1st, 14th compared to 1st and 14th comparedto 7th day and the values found in each group were compared using the Kruskal-Wallis test.Results: Were inclu<strong>de</strong>d 24 patients with average age of 21.9 (± 10.1) months, and 17 (70.8%)were males. In the group 1 were allocated six patients, in group 2, eight patients, and group3, ten patients. PCR analysis showed persistently high levels in group 1, and progressivereduction in groups 2 and 3 (p = 0.056). Factors of hypercoagulability analysis not i<strong>de</strong>ntifyany significant differences in the evolution of three groups, as well as the leukocyte counts.Conclusions: In this group of patients we didn’t find significant changes in the parametersanalyzed, except the value of CRP, which had become greater in group 1.Keywords: Pneumonia; Complications; Lung Abscess; Necrosis; Blood CoagulationFactors.IntroduçãoA pneumonia necrosante (PN) faz parte<strong>de</strong> um espectro <strong>de</strong> doenças caracterizadaspela <strong>de</strong>svitalização do parênquima pulmonar,secundárias a um processo infecciosoinvasivo, que inclui, além da PN, o abscessoe a gangrena pulmonar. 1A PN sempre foi consi<strong>de</strong>rada umacomplicação rara da pneumonia (PNM) lobar.Até algumas décadas atrás, a maior partedos <strong>caso</strong>s ocorria em pacientes adultoscom história <strong>de</strong> alcoolismo, diabetesmelitus, doenças respiratórias crônicas ou<strong>de</strong>ficiências nutricionais. Os <strong>caso</strong>s relatadosem crianças geralmente estavam associadosa fatores <strong>de</strong> risco conhecidos, tais comoimuno<strong>de</strong>ficiência, distúrbios neurológicos e<strong>de</strong>snutrição. Mais recentemente, o padrãoepi<strong>de</strong>miológico da PN parece estar em fase<strong>de</strong> transformação, com aumento significativono número <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s em crianças com PNMadquirida na comunida<strong>de</strong> sem nenhum fatorpredisponente para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>infecções invasivas. 2O gran<strong>de</strong> marco da PN é o infartopulmonar <strong>de</strong> um segmento ou lobo,juntamente com as artérias e brônquios queo nutrem; no entanto, a sequência <strong>de</strong> eventosque leva a necrose permanece <strong>de</strong>sconhecida. 1Alguns autores sugerem que o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>svitalização seja secundário a um eventotrombótico e outros apontam a plaquetosecomo um dos fatores predisponentes ao<strong>de</strong>senvolvimento da trombose da artériapulmonar, porém não há consenso a esserespeito. 3,4São raros os trabalhos publicadossobre a evolução clínica da PN em crianças,além <strong>de</strong> eles não elucidarem o motivo doaparente aumento da incidência <strong>de</strong>ssacomplicação. Na tentativa <strong>de</strong> contribuir parao esclarecimento <strong>de</strong>ssas questões, o presentetrabalho preten<strong>de</strong> caracterizar a evoluçãoclínica e laboratorial das PNMs que po<strong>de</strong>rãoevoluir com necrose pulmonar e i<strong>de</strong>ntificarpossíveis fatores <strong>de</strong>terminantes da evoluçãopara a PN por meio da análise das principaisprovas <strong>de</strong> coagulação em pacientes na faixaetária pediátrica, internados nos prontossocorrosinfantis da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus.44revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Westphal et alMetodologiaTrata-se <strong>de</strong> um estudo observacional,prospectivo, realizado no <strong>Hospital</strong> e Pronto-Socorro Infantil da Zona Sul e no <strong>Hospital</strong>e Pronto-Socorro Infantil da Zona Leste, nacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus-AM.Foram selecionados 24 pacientes,divididos em três grupos com base nosseguintes critérios, avaliados por dois dospesquisadores:Grupo 1: foram consi<strong>de</strong>rados portadores<strong>de</strong> PN os pacientes com PNM progressiva,sem resolução apesar <strong>de</strong> antibioticoterapiai<strong>de</strong>al, associada a achados laboratoriais <strong>de</strong>processo inflamatório, como altos níveis<strong>de</strong> Proteína C Reativa (PCR), e as seguintescaracterísticas positivas na tomografiaaxial computadorizada <strong>de</strong> tórax (TAC): área<strong>de</strong> consolidação sem perda <strong>de</strong> volume;imagem necrótica radiolúcida <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssaárea; presença <strong>de</strong> pneumatocele irregular,solitária ou múltipla, sem nível hidroaéreoou formação <strong>de</strong> abscesso.Grupo 2: foram classificados comoportadores <strong>de</strong> PNM associada a <strong>de</strong>rrame pleuralos pacientes com PNM e evidências <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrameparapneumônico na radiografia <strong>de</strong> tórax (RT).Grupo 3: pacientes com PNM grave quenecessitaram <strong>de</strong> internação hospitalar, masnão possuíam PN nem <strong>de</strong>rrame pleural.Foram realizados os seguintes exameslaboratoriais: hemograma com contagem <strong>de</strong>leucócitos, contagem <strong>de</strong> plaquetas, tempo<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> da protrombina (TAP), tempo <strong>de</strong>tromboplastina parcial ativada (TTPA) e PCR.Os exames foram realizados no 1.º (D0),7.º (D7) e 14.º (D14) dias <strong>de</strong> internação.Os dados foram apresentados por meio<strong>de</strong> tabelas <strong>de</strong> frequência, sendo que para asvariáveis quantitativas quando apresentavamdistribuição normal foi calculada a médiae o <strong>de</strong>svio-padrão (DP), no <strong>caso</strong> da nãocomprovação da hipótese <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>foi calculado a mediana, primeiro (Q1) eterceiro (Q3) quartil. Na comparação dasmedianas em relação aos grupos foi utilizadoo teste <strong>de</strong> Kruskal-Wallis.Na análise dos exames laboratoriaisfoi calculada a mediana da diferença entreo sétimo dia em relação ao primeiro (D7 –D0), décimo quarto em relação ao primeiro(D14 – D0) e décimo quarto em relação aosétimo (D14 – D7), caracterizando a evoluçãona primeira (D7 – D0) e segunda (D14 – D7)semanas, e a evolução final (D14 – D0).O software utilizado na análise dos dadosfoi o Epi-Info versão 3.5.1 para Windows e onível <strong>de</strong> significância fixado para aplicaçãodos testes estatísticos foi <strong>de</strong> 5%.O trabalho foi aprovado pelo Comitê<strong>de</strong> Ética em Pesquisa da Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas em junho/2009 (CAE0080.0.115.000-09).ResultadosNa amostra total <strong>de</strong> 24 pacientes, 17(70,8%) eram do sexo masculino. A média<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 21,9 meses (±10,1). Adistribuição segundo o gênero e a ida<strong>de</strong> dospacientes <strong>de</strong> acordo com a divisão por gruposestá representada na Tabela 1.VariáveisGrupo 1 (n = 6) Grupo 2 (n = 8) Grupo3 (n = 10)f i% f i% f i%GêneroFeminino 2 33,3 1 12,5 4 40Masculino 4 66,6 7 87,5 6 60Ida<strong>de</strong> (meses)Média ± DP 28,83 ±11,53 21 ± 11,69 18,50 ± 5,93Tabela 1 – Distribuição segundo gênero e ida<strong>de</strong> dos pacientes <strong>de</strong> acordo com a divisão dos gruposf i= frequência absoluta simples; DP = <strong>de</strong>svio padrão45revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORES HEMATOLÓGICOS PROGNÓSTICOSDA PNEUMONIA NECROSANTE NA CIDADE DE MANAUSAs características clínicas da amostra estudada estão expostas na Tabela 2. Os principaissintomas encontrados foram febre (100%), tosse (95,8%) e expectoração (62,5%). Todos ospacientes apresentavam algum sinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto respiratório (tiragem subcostal, retração<strong>de</strong> fúrcula esternal ou dispneia intensa) no momento da admissão, indicando a gravida<strong>de</strong>dos <strong>caso</strong>s. Quanto à ausculta pulmonar, as principais alterações foram crepitações (100%) ediminuição do murmúrio vesicular (58,4%), duas características da síndrome <strong>de</strong> consolidaçãopulmonar, roncos (58,3%) e sibilos (41,7%), que indicam a presença <strong>de</strong> secreção em viasaéreas e broncoespasmo, respectivamente.Variáveis (n = 24) f i%Febre 24 100Tosse 23 95,8Expectoração 15 62,5Sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto respiratório 24 100,0Dor pleurítica 11 45,8Dor abdominal 11 45,8Ausculta pulmonarCrepitações 24 100,0Roncos 14 58,3Sibilos 10 41,7Sopro tubário 4 16,7Atrito pleural 2 8,3Murmúrio vesicularAumentado 8 33,3Ausente 2 8,3Diminuído 14 58,4Duração da febre (dias)Média ± DP 8,8 ± 5,2Tempo <strong>de</strong> internação (dias)Média ± DP 28,8 ± 11,8Tabela 2 – Distribuição segundo a frequência das características clínicas dos pacientes na amostra totalf i= frequência absoluta simples; DP = <strong>de</strong>svio padrãoQuanto à duração da febre em cada grupo, os grupos 1 e 2 apresentaram médiasemelhante (médias = 11,3 ± 2,87 e 10,12 ± 6,72, respectivamente), com duração maior queo grupo com PNM grave (média = 6,3 ± 4,21).Os agentes etiológicos foram i<strong>de</strong>ntificados por meio <strong>de</strong> hemocultura em apenas dois<strong>caso</strong>s (8,3%), sendo encontrado o Staphylococcus epi<strong>de</strong>rmidis e Staphylococcus aureusresistente à meticilina.A análise da evolução laboratorial dos pacientes está exposta na Tabela 3.Grupo 1 Grupo 2 Grupo3Variáveis Med. Q 1/Q 3Med. Q 1/Q 3Med. Q 1/Q 3p*LeucócitosD7 – D0 -940 -6300/3100 -3380 -15395/5250 750 -3830/3200 0,534D14 – D0 -8900 -10220/7100 -14990 -32170/5400 -2555 -7500/-1300 0,429D14 – D7 -4165 -10740/-1100 -4740 -10680/-2900 -3400 -12200/2020 0,875Plaquetas (x 10 3 )D7 – D0 97,5 -222,0/189,0 235,0 21,5/467,5 254,0 58,0/408,0 0,249D14 – D0 76,5 -83,0/524,0 131,0 65,0/433,0 47,0 -53,0/127,0 0,77446revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Westphal et alD14 – D7 174 -93,0/437,0 -206,5 -333,0/150,0 -176,5 -289,0/32,0 0,136TAP (seg)D7 – D0 -2,0 -4,0/0,0 0,5 -0,5/1,0 0,5 0,0/1,0 0,083D14 – D0 -0,5 -3,0/0,0 0,0 -1,0/0,0 1,0 0,0/1,0 0,159D14 – D7 0,5 0,0/3,0 0,0 -1,0/0,0 0,0 0,0/0,0 0,215TAP (%)D7 – D0 9,0 0,0/19,0 0,0 -6,0/14,0 0,0 0,0/0,0 0,261D14 – D0 0,0 0,0/0,0 1,0 0,0/7,0 0,0 -7,0/0,0 0,076D14 – D7 -0,5 -18,0/0,0 0,0 0,0/8,0 0,0 -8,0/0,0 0,092TTPA (seg)D7 – D0 -10,5 -18,0/-5,0 -1,5 -9,0/2,0 1,0 -3,0/2,0 0,308D14 – D0 -0,5 -7,0/11,0 -4,0 -7,0/0,0 0,0 -2,0/2,0 0,397D14 – D7 10,5 -1,0/16,0 -1,0 -7,0/0,0 0,0 0,0/1,0 0,132PCRD7 – D0 9,0 -54,0/41,0 -83,5 -173,5/-47,5 -22,5 -90,5/-9,0 0,089D14 – D0 -19,0 -54,0/62,0 -122,5 -235,0/-62,0 -13,0 -93,0/-8,0 0,056D14 – D7 13,5 -22,0/28,0 -30,0 -39,0/-12,0 0,0 -21,0/0,0 0,084Tabela 3 – Distribuição segundo a mediana da diferença dos valores dos exames laboratoriais para 7 e 14 dias <strong>de</strong>evolução em cada grupo* Teste <strong>de</strong> Kruskal-Wallis; Med.= mediana; Q i= quartis.Observou-se uma redução na contagem<strong>de</strong> leucócitos na primeira semana (D7 – D0) nosgrupos 1 e 2, e aumento no grupo 3, enquantoque na segunda semana (D14 – D7) houveredução em todos os grupos, indicando umapossível resolução do processo infeccioso.Não houve diferença estatisticamentesignificativa na evolução dos três grupos.O grupo 1 apresentou níveispersistentemente elevados <strong>de</strong> PCR na primeirae na segunda semanas, enquanto que os grupos2 e 3 apresentaram redução progressiva;entretanto, a diferença encontrada não foiestatisticamente relevante.Os três grupos apresentaram aumentono número <strong>de</strong> plaquetas durante a primeirasemana <strong>de</strong> evolução, porém os grupos 2 e 3apresentaram redução na segunda semanaenquanto que o grupo 1 apresentou novoaumento. Na evolução total (D14 – D0), foiobservado aumento em todos os grupos, nãohavendo diferença estatística entre eles.Na análise do TAP (avaliação da viaextrínseca da coagulação) medido emporcentagem, o grupo 1 apresentou aumentona primeira semana e redução na segunda, semdiferença na evolução total, enquanto que osgrupos 2 e 3 não apresentaram alterações naprimeira e segunda semanas <strong>de</strong> evolução. Aoanalisarmos o mesmo parâmetro medido emsegundos, houve redução na primeira semanano grupo 1 e aumento nos grupos 2 e 3. Nasegunda semana houve aumento no grupo 1,enquanto os grupos 2 e 3 não apresentaramalterações. Apesar <strong>de</strong>ssas observações, adiferença encontrada entre os três gruposnão foi estatisticamente significante.Outro parâmetro utilizado para avaliaro sistema <strong>de</strong> coagulação dos pacientesfoi o TTPA (avaliação da via intrínseca dacoagulação). Os grupos 1 e 2 apresentaramredução do TTPA na primeira semana,enquanto o grupo 3 apresentou aumentonesse mesmo período. Na segunda semana,houve aumento do TTPA no grupo 1 e reduçãono grupo 2, sem alterações no grupo 3.A principal complicação observada nospacientes foi a formação <strong>de</strong> pneumatocele,que ocorreu em cinco (83,3%) pacientes dogrupo 1 e em dois (25%) pacientes do grupo 2.O encarceramento pulmonar foi encontradoem cinco (83,3%) pacientes do grupo 1 e em47revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORES HEMATOLÓGICOS PROGNÓSTICOSDA PNEUMONIA NECROSANTE NA CIDADE DE MANAUSdois (25%) pacientes do grupo 2. Outro achado comum foi o empiema pleural, presente emcinco (83,3%) pacientes do grupo 1 e em três (37,5%) pacientes do grupo 2.A insuficiência respiratória aguda ocorreu em dois (33,3%) pacientes do grupo 1, emdois pacientes (25%) do grupo 2 e em quatro (40%) pacientes do grupo 3. As principaiscomplicações observadas nos pacientes estão dispostas na Tabela 4.ComplicaçõesGrupo 1 (n = 6) Grupo 2 (n = 8) Grupo3 (n = 10)f i% f i% f i%IRpA 2 33,3 2 25 4 40Encarceramento pulmonar 5 83,3 2 25 0 -FBP 1 16,6 1 12,5 0 -Pneumatocele 5 83,3 3 37,5 0 -Pneumotórax 1 16,6 0 - 0 -Piopneumotórax 3 50 1 12,5 0 -Atelectasias 4 66,6 2 25 0 -Empiema 5 83,3 3 37,5 0 -Nenhuma 0 - 2 25 6 60Tabela 4 – Complicações pré-operatórias observadasf i= frequência absoluta simples; IRpA = insuficiência respiratória aguda; FBP = fístula broncopleuralQuanto ao tratamento cirúrgico realizado nos pacientes com PN, a ressecção doparênquima pulmonar foi necessária em três <strong>caso</strong>s, sendo realizadas uma (16,6%) lobectomia eduas segmentectomias (33,3%). Apenas um (16,6%) paciente não necessitou <strong>de</strong> procedimentocirúrgico. Os procedimentos realizados estão expostos na Tabela 5.Variáveis (n=6) f i%Lobectomia 1 16,6Segmentectomia 2 33,3Descorticação pleuropulmonar 5 83,3Nenhuma 1 16,6Tabela 5 – Cirurgias realizadas nos pacientes com pneumonia necrosanteDiscussãoA persistência <strong>de</strong> febre, dor torácica,sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto respiratório, piorado quadro clínico ou surgimento <strong>de</strong> novascomplicações secundárias à PNM na vigência<strong>de</strong> antibioticoterapia otimizada são osparâmetros classicamente utilizados para asuspeição diagnóstica <strong>de</strong> necrose pulmonar. 5,6A resposta clínica <strong>de</strong>ve ocorrer após 48 a72 horas do início da antibioticoterapia,com redução da febre e da dispneia. Numestudo que revisou o processo <strong>de</strong> internação<strong>de</strong> 15 pacientes na faixa etária pediátricacom o diagnóstico <strong>de</strong> PN, foi observadaa persistência da febre e dos sinais <strong>de</strong><strong>de</strong>sconforto respiratório em média por 13e cinco dias, respectivamente. 7 Em outroestudo, foi observada uma média <strong>de</strong> duraçãoda febre e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigênioinalatório significativamente maior nascrianças com PNM complicada em relaçãoà PNM não complicada. 8 Neste trabalho, amédia <strong>de</strong> duração da febre no grupo com PNfoi <strong>de</strong> 11,3 dias, uma duração próxima aoobservado pelos autores citados e maior que48revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Westphal et ala apresentada pelos pacientes classificadoscomo portadores <strong>de</strong> PNM grave (média <strong>de</strong> 6,3dias), confirmando a persistência do quadroclínico como forte indício <strong>de</strong> evolução paranecrose pulmonar.Estudos <strong>de</strong>monstram que o aumento naconcentração sérica <strong>de</strong> PCR ocorre na gran<strong>de</strong>maioria dos pacientes portadores <strong>de</strong> PNM,com elevação dos seus níveis já nas fasesiniciais da inflamação sistêmica e do estado<strong>de</strong> sepse, porém sem aumento significativonas fases mais tardias e severas. 9,10 Dessaforma, a dosagem sérica <strong>de</strong> PCR é um bomparâmetro para o diagnóstico <strong>de</strong> inflamaçãosistêmica em crianças com PNM, sendo útilpara i<strong>de</strong>ntificar <strong>caso</strong>s graves ainda na faseinicial. Os pacientes com PN analisados nestetrabalho apresentaram níveis elevados <strong>de</strong> PCRdurante as duas semanas <strong>de</strong> acompanhamento,enquanto os pacientes com <strong>de</strong>rrame pleurale PNM grave evoluíram com redução <strong>de</strong>ssemesmo parâmetro, um comportamentopróximo ao relatado na literatura. Porconta do pequeno número <strong>de</strong> pacientes naamostra estudada, porém, não foi possívelencontrar diferença estatisticamentesignificativa que nos permita afirmar queos níveis persistentemente elevados <strong>de</strong> PCRforam indicativos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do quadroclínico nos pacientes com PN em relação aosdois grupos controle. De forma oposta aoque foi apresentado, uma análise realizadautilizando uma amostra maior em cada grupo(n = 36) encontrou diferenças significativasnos valores <strong>de</strong> PCR e leucócitos, confirmandoa maior gravida<strong>de</strong> dos pacientes com PN. 11A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> trombose dosgran<strong>de</strong>s vasos pulmonares e vasos brônquicosfez surgir a hipótese <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>svitalizaçãodo parênquima pulmonar fosse secundáriaao evento trombótico e não apenas à açãoinvasiva dos patógenos envolvidos. 12 Váriosfatores foram apontados como indutores datrombose pulmonar, entre eles a vasculiteresultante da infecção bacteriana e aliberação <strong>de</strong> substâncias procoagulantespelos microrganismos, sem, no entanto,haver um consenso a esse respeito. 1 Nessapequena série <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s, não foram observadasdiferenças significativas entre os gruposem termos provas <strong>de</strong> coagulação. Estudosmaiores também não conseguiram i<strong>de</strong>ntificarum estado <strong>de</strong> hipercoagulabilida<strong>de</strong> sanguíneaque predispusesse as crianças com PN aeventos trombóticos. 11O mais provável é que a PN seja <strong>de</strong>origem multifatorial, com o envolvimento<strong>de</strong> um microrganismo invasor capaz <strong>de</strong>liberar diferentes toxinas com capacida<strong>de</strong>proteolítica e procoagulante, e <strong>de</strong> induziruma resposta inflamatória exacerbadapelo hospe<strong>de</strong>iro, com gran<strong>de</strong> produção <strong>de</strong>citocinas e lesão endotelial. A interação<strong>de</strong>sses fatores levaria à trombose pulmonarcom obstrução progressiva do suprimentosanguíneo que nutre o parênquima pulmonaracometido e o brônquio proximal, comredução na oferta <strong>de</strong> oxigênio e falha dacorrente sanguínea em levar os antibióticosaté o segmento em questão, agravandoa <strong>de</strong>svitalização tecidual já iniciada pelopróprio patógeno. Para a confirmação<strong>de</strong>ssa hipótese seriam necessários estudosmais <strong>de</strong>talhados a respeito das citocinasinflamatórias produzidas pelo hospe<strong>de</strong>iroe das toxinas liberadas pelos patógenosenvolvidos no processo.A <strong>de</strong>finição do agente etiológico daPNM grave, que ocorre <strong>de</strong> forma rapidamenteprogressiva, po<strong>de</strong>ria direcionar <strong>de</strong> forma maisa<strong>de</strong>quada a antibioticoterapia, no entantoisso nem sempre é possível. As técnicas maisutilizadas são a hemocultura e a análise dolíquido pleural nos <strong>caso</strong>s em que há <strong>de</strong>rramepleural associado. Em ambos os métodos,o resultado é positivo numa porcentagemvariável <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do agenteetiológico, faixa etária do paciente e do usoprévio <strong>de</strong> antibióticos. 7 Dados na literaturarelatam percentuais <strong>de</strong> crescimento bacterianoentre 10 e 35% nas hemoculturas e 50 a 70% nacultura <strong>de</strong> aspirado pleural, sendo que o uso49revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORES HEMATOLÓGICOS PROGNÓSTICOSDA PNEUMONIA NECROSANTE NA CIDADE DE MANAUSprévio <strong>de</strong> antibióticos é a principal dificulda<strong>de</strong>encontrada para isolar o patógeno. 13 Nestetrabalho, foram coletadas duas amostras parahemocultura em cada paciente, todavia ocrescimento bacteriano só ocorreu em dois<strong>caso</strong>s (8,3%). Os agentes i<strong>de</strong>ntificados foramStaphylococcus epi<strong>de</strong>rmidis e Staphylococcusaureus resistente à meticilina. Nos pacientescom <strong>de</strong>rrame pleural associado também foirealizada a cultura do líquido pleural, mas nãohouve crescimento em nenhum <strong>caso</strong>. O baixoíndice <strong>de</strong> positivida<strong>de</strong> das técnicas utilizadasse <strong>de</strong>ve principalmente às altas doses <strong>de</strong>antibiótico administradas aos pacientes antesda coleta do material para cultura.Cerca <strong>de</strong> 80% dos pacientes com PNapresentavam empiema pleural associado,índice maior que o encontrado em outrosestudos. 7,14 Sabe-se que o empiema pleuralsurge a partir da evolução <strong>de</strong> um <strong>de</strong>rramepleural exsudativo e po<strong>de</strong> culminar com oencarceramento pulmonar na sua fase maistardia. 15 Nos estudos citados, apesar da baixaassociação da PN com empiema, houve umagran<strong>de</strong> associação da PN com o <strong>de</strong>rramepleural exsudativo. Dessa forma, é provávelque o índice maior <strong>de</strong> empiema encontradonessa série <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s se <strong>de</strong>va principalmenteao fato <strong>de</strong> o diagnóstico ter sido realizadotardiamente, num momento mais avançado dadoença. O encarceramento pulmonar ocorreuem todos os pacientes com PN e empiemapleural, sendo necessária a realização <strong>de</strong><strong>de</strong>corticação pleuropulmonar.O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> FBP possui forteassociação com a PN e seu achado em <strong>caso</strong>s <strong>de</strong>PNM grave com <strong>de</strong>rrame pleural associado po<strong>de</strong>indicar necrose pulmonar adjacente. 11 Nestetrabalho, a FBP foi encontrada em apenas umpaciente com PN, uma incidência bem abaixodo observado por outros autores. 16,17 Isso se<strong>de</strong>ve, provavelmente, ao pequeno tamanhoda amostra analisada.A formação <strong>de</strong> pneumatoceles foiobservada em cinco pacientes (83,3%) comPN e em três pacientes (37,5%) com PNMassociada a <strong>de</strong>rrame pleural. Esse achadofoi maior que o relatado por outros autores,porém as pneumatoceles parecem ocorrer<strong>de</strong> forma esporádica na PNM, não havendoassociação com a necrose pulmonar. 7Um total <strong>de</strong> 83% dos pacientes com PNnecessitaram <strong>de</strong> procedimento cirúrgico,sendo que a ressecção pulmonar (lobectomia/segmentectmia) foi necessária em 50% dos<strong>caso</strong>s, um índice elevado em relação a outrostrabalhos. 18,19 Entretanto, a ressecção cirúrgicado tecido necrosado po<strong>de</strong> ser necessária nos<strong>caso</strong>s mais graves. 20ConclusãoNa análise das provas inflamatórias,os pacientes com PN apresentaram níveispersistentemente elevados enquanto que osgrupos com PNM associado a <strong>de</strong>rrame pleurale PNM grave evoluíram com redução nos níveis<strong>de</strong> PCR; entretanto, a análise estatísticanão mostrou diferença significativa entre osgrupos.Os três grupos evoluíram com redução nonúmero <strong>de</strong> leucócitos, não sendo i<strong>de</strong>ntificadadiferença <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> entre os três grupospor meio <strong>de</strong>sse parâmetro.Não houve diferença estatisticamentesignificativa entre os três grupos na análisedas provas <strong>de</strong> coagulação, tornando poucoprovável que o estado <strong>de</strong> hipercoagulabilida<strong>de</strong>do hospe<strong>de</strong>iro seja o principal fatorpredisponente para a trombose pulmonar econsequente evolução para necrose.Dentre os parâmetros analisados, nãoforam encontrados fatores prognósticos paraa PN.Referências1. Penner, C; Maycher, B; Long, R. Pulmonarygangrene: A complication of bacterialpneumonia. Chest., 1994; 105(2):567-73.50revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Westphal et al2. Hausdorff, W. Invasive pneumococcaldisease in children: geographic and temporalvariations in inci<strong>de</strong>nce and serotypedistribution. Eur J Ped., 2002; 161(2):S135-9.3. Danner, P; McFarland, D; Felson, B. Massivepulmonary gangrene. Am J Roentgenology.,1968; 103(3):548-54.4. Humphreys, DR. Spontaneous lobectomy.Br Med J., 1945; 2(4.414):185-6.5. Wong, KS; Chiu, CH; Yeow, KM; Huang, YC;Liu, HP; Lin, TY. Necrotising pneumonitis inchildren. Eur J Pediatr., 2000; 159(9):684-8.6. Kerem, E; Bar Ziv, Y; Ru<strong>de</strong>nski, B; Katz, S;,Kleid, D; Branski, D. Bacteremic necrotizingpneumococcal pneumonia in children. Am JRespir Crit Care Med., 1994; 149(1):242-4.7. Barreira, JL; Pissarra, S; Nunes, T; Sousa,AR; Azevedo, I; Gue<strong>de</strong>s-Vaz, ML. Pneumoniasnecrosantes em crianças previamentesaudáveis. Rev Port Pneumol., 2002; 8(1):1-13.8. Tan, TQ; Mason, EO, Jr.; Wald, ER; Barson,WJ; Schutze, GE; Bradley, JS et. al. Clinicalcharacteristics of children with complicatedpneumonia caused by Streptococcuspneumoniae. Pediatrics., 2002; 110(1 Pt1):1-6.9. Hedlund, J; Hansson, LO. Procalcitoninand C-reactive protein levels in communityacquiredpneumonia: correlation withetiology and prognosis. Infection., 2000;28(2):68-73.10. Castelli, GP; Pognani, C; Meisner, M;Stuani, A; Bellomi, D; Sgarbi, L. Procalcitoninand C-reactive protein during systemicinflammatory response syndrome, sepsisand organ dysfunction. Crit Care., 2004;8(4):R234-42.11. Hacimustafaoglu, M; Celebi, S;Sarimehmet, H; Gurpinar, A; Ercan, I.Necrotizing pneumonia in children. ActaPaediatr., 2004; 93(9):1.172-7.12. Krishnadasan, B; Sherbin, VL; Vallières,E; Karmy-Jones, R. Surgical management oflung gangrene. Can Respir J., 2000; 7(5):401-4.13. Rodrigues, JC; Silva Filho, LVF; Bush, A.Diagnóstico etiológico das pneumonias: umavisão crítica. J Ped., 2002; 78(2): S129-S140.14. Sawicki, GS; Lu, FL; Valim, C; Cleveland,RH; Colin, AA. Necrotising pneumonia isan increasingly <strong>de</strong>tected complication ofpneumonia in children. Eur Respir J., 2008;31(6):1285-91.15. Velhote, CEP; Velhote, MCP; Velhote, TFO.Decorticação pleural precoce no tratamentodo empiema pleural complicado na criança.Rev Col Bras Cir., 2000; 27(1):41-4.16. Hoffer, FA; Bloom, DA; Colin, AA;Fishman, SJ. Lung abscess versus necrotizingpneumonia: implications for interventionaltherapy. Pediatr Radiol., 1999; 29(2):87-91.17. Hodina, M; Hanquinet, S; Cotting,J; Schny<strong>de</strong>r, P; Gudinchet, F. Imaging ofcavitary necrosis in complicated childhoodpneumonia. Eur Radiol., 2002; 12(2):391-6.18. Chen, JS; Huang, KC; Chen, YC; Hsu,HH; Kuo, SW; Huang, PM et. al. Pediatricempyema: outcome analysis of thoracoscopicmanagement. J Thorac Cardiovasc Surg.,2009; 137(5):1.195-9.19. Macedo, M; Meyer, KF; Oliveira,TCM. Pneumonia necrosante em criançassubmetidas à toracoscopia por empiemapleural: incidência, tratamento e evoluçãoclínica. J Bras Pneumol., 2010; 36(3):301-5.20. Westphal, FL; Lima, LC; Ferreira, CA;Carvalho, MA. Tratamento cirúrgico dapneumonia necrosante: análise <strong>de</strong> quatro<strong>caso</strong>s. J Bras Pneumol., 2000; 26(1):1-4.51revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


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INVESTIGAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICAEM PACIENTES PORTADORES DEHANSENÍASEOtorhinolaryngologic Research In Patients With LeprosyRenata Farias <strong>de</strong> Santana*, Fernanda Borowsky da Rosa ** , Márcia dos Santos da Silva*, Renato Telles <strong>de</strong> Souza***, Luiz CarlosNadaf <strong>de</strong> Lima****, Marcos Antônio Fernan<strong>de</strong>s** Médico resi<strong>de</strong>nte em Otorrinolaringologia do HUGV**Fonoaudióloga mestranda da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas*** Chefe do Serviço <strong>de</strong> Otorrinolaringologia e Residência Médica em Otorrinolaringologia do HUGV**** Médico assistente do Serviço <strong>de</strong> Otorrinolaringologia e preceptor da Residência Médica em Otorrinolaringologia do HUGVInstituição <strong>de</strong> origem do trabalho:<strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> – HUGVRESUMOObjetivo: Avaliar os principais achados otorrinolaringológicos em pacientes comdiagnóstico <strong>de</strong> hanseníase. Método: Trata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo retrospectivo, baseadona avaliação <strong>de</strong> pacientes com diagnóstico prévio <strong>de</strong> hanseníase, encaminhados paraavaliação otorrinolaringológica pelo Serviço <strong>de</strong> Otorrinolaringologia, no Ambulatório AraújoLima do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>. A avaliação otorrinolaringológica baseou-seem anamnese e exame físico, além <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> nasofibroscopia e vi<strong>de</strong>olaringoscopia.Resultados: Foram selecionados cinco pacientes, <strong>de</strong>ntre os quais quatro eram homens euma era mulher. A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 37,6 anos. Dois indivíduos foram encaminhados comdiagnóstico <strong>de</strong> hanseníase multibacilar e, os <strong>de</strong>mais, portadores <strong>de</strong> hanseníase paucibacilar.A média do tempo <strong>de</strong> evolução da doença foi <strong>de</strong> 12,2 meses. Em um paciente, constatousesinal <strong>de</strong> hipoestesia em orofaringe; um possuía epiglote <strong>de</strong> aspecto granulomatoso; umapresentava <strong>de</strong>sabamento da pirâmi<strong>de</strong> nasal, além <strong>de</strong> hiperemia, ulcerações, sinéquiase crostas em cavida<strong>de</strong> nasal. Conclusão: O médico otorrinolaringologista tem papel <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> importância para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> muitos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong>ssa doença e até mesmo para oacompanhamento <strong>de</strong> pacientes que já possuem diagnósticos prévios, uma vez que a mucosaoral e nasal está envolvida nas manifestações e transmissão da doença.Palavras-chave: Hanseníase; Otorrinolaringologia; Mucosa.ABSTRACTObjective: To evaluate findings in patients with leprosy. Methods: This is retrospective<strong>de</strong>scriptive study, based on the finding charts of patients previously diagnosed with leprosy,sent for evaluation by the Otorhinolaringology Service of the University <strong>Hospital</strong> Getúlio<strong>Vargas</strong>. The examination was based on history and physical examination, and tests of nasalendoscopy and laryngoscopy. Results: We studied five patients, among whom four were menand one was a woman. The average age was 37.6 years. Two subjects were referred with adiagnosis of leprosy and other bearers of paucibacillary leprosy. The average time to diseaseprogression was 12.2 months. In one patient, there was a sign of numbness in the oropharynx,epiglottis had a granulomatous aspect, had a collapse of the nasal pyramid, and hyperemia,53revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


INVESTIGAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICA EM PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASEulcers, crusts and synechia in the nasal cavity. Conclusion: The otorhinolaringologistphysician has important role to <strong>de</strong>tect many cases of this disease and even for monitoringpatients who already have previous diagnostic, since the oral and nasal mucosa are involvedin disease transmission and manifestations.Key-words: Leprosy; Otolaryngology; Mucosa.IntroduçãoA hanseníase é uma doença infecciosacrônica causada pelo Mycobacterium leprae,que afeta principalmente pele, nervosperiféricos e mucosas. 1 Embora a forma <strong>de</strong>transmissão exata não seja conhecida, o altonúmero <strong>de</strong> microrganismos nas secreçõesnasais sugere que, em alguns <strong>caso</strong>s, o sítioinicial <strong>de</strong> infecção possa ser a mucosa nasalou orofaríngea. 2A transmissão é direta do pacientebacilífero não tratado, que elimina osbacilos pelas vias aéreas superioresdurante convivência íntima e prolongada,principalmente intradomiciliar. Também sãocontaminantes os hansenomas ou qualquerlesão erosada da pele <strong>de</strong> pacientes bacilíferos.O M. leprae, apesar <strong>de</strong> altamente infectante,tem baixa patogenicida<strong>de</strong> e virulência. 3 Operíodo <strong>de</strong> incubação da doença é longo,variando com o estado imune do indivíduo,em média <strong>de</strong> três a sete anos ou mais. 4Dentre os exames laboratoriais, abaciloscopia é um procedimento <strong>de</strong> fácilexecução e <strong>de</strong> baixo custo, sendo um dosmétodos mais utilizados em nosso meio. Temcomo finalida<strong>de</strong> o diagnóstico e a classificaçãoclínica da doença pela i<strong>de</strong>ntificação do baciloálcool-ácido resistente (BAAR). O materialexaminado é o raspado intradérmico colhidonos lóbulos das orelhas, dos cotovelos e dalesão cutânea com infiltração. O esfregaçocorado pela técnica <strong>de</strong> Ziehl-Neelsenpermite o achado do M. leprae em materialque contenha pelo menos 10 4 bacilos/mL. 3,5Para fins operacionais e instituição<strong>de</strong> tratamento poliquimioterápico, aOrganização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS)recomenda o uso <strong>de</strong> classificação simplificada,sendo consi<strong>de</strong>rados paucibacilares (PB)os pacientes com baciloscopia negativa ecom até cinco lesões cutâneas disestési<strong>caso</strong>u multibacilares (MB), os pacientes combaciloscopia positiva e com mais <strong>de</strong> cincolesões cutâneas disestésicas. 6As lesões orais na hanseníase<strong>de</strong>senvolvem-se insidiosamente, geralmenteassintomáticas e secundárias às alteraçõesnasais, porém, atualmente, por contados diagnósticos mais precoces e o uso dapoliquimioterapia, as lesões orais não sãofrequentemente observadas. Entretanto, amucosa oral sem lesões evi<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong> estarcomprometida nos pacientes em estágiosmenos avançados da doença, como constatadoem diferentes estudos anteriores. 7,8 A regiãomais frequentemente afetada é o palatoduro. 7 A infiltração da micobactéria namucosa e nas terminações nervosas dosnervos sensoriais e motores da laringe po<strong>de</strong>mcausar paralisia ou paresia <strong>de</strong> pregas vocaise possível alteração na sensibilida<strong>de</strong> damucosa. 9 A <strong>de</strong>terioração sensorial ou motorapo<strong>de</strong> causar aspiração e broncopneumonia,por conta da disfagia orofaríngea, o que po<strong>de</strong>ser investigado por meio <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>oendoscopiae vi<strong>de</strong>ofluoroscopia da <strong>de</strong>glutição. 10 Autilização da vi<strong>de</strong>oendoscopia em pacientescom hanseníase oferece uma melhoracurácia na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> lesões mucosase precocida<strong>de</strong> no diagnóstico. 11Ao contrário das lesões cutâneas, quesão amplamente <strong>de</strong>scritas na literatura,existem poucos estudos voltados paraas alterações otorrinolaringológicas nahanseníase. A maior parte dos trabalhos54revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santana et alé antiga, da época em que os pacientesevoluíam durante anos em razão da falta<strong>de</strong> tratamento eficaz contra a doença. Oobjetivo <strong>de</strong>ste estudo é relatar os principaisachados otorrinolaringológicos em pacientesportadores <strong>de</strong> hanseníase utilizando, além doexame otorrinolaringológico convencional, aendoscopia nasal e a vi<strong>de</strong>olaringoscopia.foi preenchido protocolo <strong>de</strong> investigaçãoformulado para a pesquisa. Para análise dosdados foi utilizado software Epi-Info versão3.2.O trabalho foi aprovado pelo Comitê<strong>de</strong> Ética da Fundação Alfredo da Matta, comparecer número 015/2010 – CEP/Fuam.MetodologiaTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivoretrospectivo, baseado na verificação <strong>de</strong>prontuários <strong>de</strong> pacientes com diagnósticoprévio <strong>de</strong> hanseníase, encaminhados paraavaliação otorrinolaringológica pelo Serviço<strong>de</strong> Otorrinolaringologia, no AmbulatórioAraújo Lima do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<strong>Vargas</strong>, durante o ano <strong>de</strong> 2010.Os pacientes foram inclusos por meio<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda espontânea, sendo selecionadosaqueles maiores <strong>de</strong> 18 anos e com ida<strong>de</strong>inferior a 60 anos, <strong>de</strong> ambos os sexos, comdiagnóstico clínico e/ou laboratorial <strong>de</strong>hanseníase.Foram exclusos da pesquisa sujeitos <strong>de</strong>etnia indígena, mulheres grávidas, sujeitosque apresentavam sequelas <strong>de</strong> lesão noSistema Nervoso Central e/ou sequela <strong>de</strong>tratamento <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> cabeça e pescoço,a fim <strong>de</strong> que doenças inerentes a essapopulação não pu<strong>de</strong>ssem interferir nosresultados da investigação.A avaliação otorrinolaringológicabaseou-se em anamnese e exame físico,além <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> nasofibroscopiae vi<strong>de</strong>olaringoscopia. O exame <strong>de</strong>nasofibroscopia foi realizado com ótica rígida(Endoview) <strong>de</strong> 0º e 4 mm <strong>de</strong> diâmetro, paraavaliação <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> nasal e rinofaringe, eo exame <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopia foi realizadocom ótica rígica (Endoview) <strong>de</strong> 70º e 8 mm<strong>de</strong> diâmetro, para avaliação <strong>de</strong> hipofaringe eregião laríngea.A partir das informações obtidas,ResultadosForam selecionados cinco pacientes,<strong>de</strong>ntre os quais quatro eram homens e umaera mulher. A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 37,6 anos(<strong>de</strong>svio-padrão <strong>de</strong> 15,34). Dois indivíduosforam encaminhados com diagnóstico <strong>de</strong>hanseníase multibacilar e, os <strong>de</strong>mais,portadores <strong>de</strong> hanseníase paucibacilar. Amédia do tempo <strong>de</strong> evolução da doençafoi <strong>de</strong> 12,2 meses (<strong>de</strong>svio-padrão <strong>de</strong> 7,36).Nenhum referia história <strong>de</strong> tabagismo ou uso<strong>de</strong> qualquer outra droga ilícita.À anamnese <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> oral, faringe elaringe, não houve <strong>relato</strong> <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>percepção do sabor dos alimentos, sensação<strong>de</strong> boca seca, tosse ou engasgo durante ouapós alimentação, disfagia ou história <strong>de</strong>pneumonia por broncoaspiração, nem dor, ousangramento proveniente <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> oral.Apenas um indivíduo paucibacilar mencionousensação <strong>de</strong> globo faríngeo.Ao exame físico da cavida<strong>de</strong> oral eorofaringe, não foram <strong>de</strong>tectadas vegetações,ulcerações, hiperemia, placas ou paresia <strong>de</strong>língua. Em apenas um paciente multibacilarfoi observado sinal <strong>de</strong> hipoestesia emorofaringe.À vi<strong>de</strong>olaringoscopia, evi<strong>de</strong>nciou-se umpaciente com nódulo em prega vocal esquerdae um com áreas <strong>de</strong> telangiectasias. Somenteum portador <strong>de</strong> hanseníase multibacilarpossuía epiglote <strong>de</strong> aspecto granulomatoso,conforme <strong>de</strong>scrito na Tabela 1.55revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


INVESTIGAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICA EM PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASEVi<strong>de</strong>olaringoscopia Multibacilares PaucibacilaresEpiglotegranulomatosa1 0Telangiectasias 1 0Nódulo <strong>de</strong> pregavocal0 1Total 2 1Tabela 1 – Achados, segundo exame <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>olaringoscopiaÀ anamnese da cavida<strong>de</strong> nasal, houveduas pessoas com queixas obstrutivas nasais,duas com rinorreia e uma com prurido nasal.Um dos indivíduos multibacilares <strong>relato</strong>u,além <strong>de</strong> obstrução nasal, a formação <strong>de</strong>crostas, epistaxe e dor, <strong>de</strong> acordo coma Tabela 2. Nenhum <strong>relato</strong>u hiposmia ouanosmia.Sintomas nasais Multibacilares PaucibacilaresObstrução nasal 1 1Rinorria 1 1Prurido nasal 0 1Crostas nasais 1 0Epistaxe 1 0Dor 1 0Total 5 3Tabela 2 – Sintomas nasais em pacientes portadores<strong>de</strong> hanseníaseAo exame físico da cavida<strong>de</strong> nasal,apenas um paciente multibacilar possuía<strong>de</strong>sabamento da pirâmi<strong>de</strong> nasal, com<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> cartilagens laterais superiorese inferiores e <strong>de</strong> septo nasal.À nasofibroscopia, evi<strong>de</strong>nciou-se umpaciente com pali<strong>de</strong>z mucosa, um comhiperemia mucosa, ulcerações, sinéquias,perfuração septal e crostas nasais; trêscom hipertrofia <strong>de</strong> cornetos nasais; um comatrofia <strong>de</strong> cornetos nasais e três com <strong>de</strong>svio<strong>de</strong> septo nasal, segundo a Tabela 3. Nenhummanifestou insuficiência velofaríngea.Nasofibroscopia Multibacilares PaucibacilaresHipertrofiacornetos nasais<strong>de</strong>0 3Desvio <strong>de</strong> septonasalUlceraçõesmucosaem1 21 0Crostas nasais 1 0Sinéquias 1 0Hiperemia mucosa 1 0Pali<strong>de</strong>z mucosa 0 1Atrofia <strong>de</strong> cornetosnasais1 0Perfuração septal 1 0Total 7 6Tabela 3 – Achados, segundo exame <strong>de</strong> nasofibroscopiaDiscussãoEmbora o Brasil tenha registradodiminuição na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s novos, ahanseníase ainda constitui um problema<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no país, principalmente nasRegiões Norte, Nor<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste, que concentram 53,5% dos <strong>caso</strong>s<strong>de</strong>tectados em apenas 17,5% da populaçãobrasileira. 12 Apesar da elevada casuística,o número <strong>de</strong> pacientes diagnosticadoscom hanseníase, que são encaminhadosou conseguem chegar a atendimentootorrinolaringológico complementar, éextremamente baixo. Tal realida<strong>de</strong> não é ai<strong>de</strong>al, pois sabe-se que a região da mucosanasal e orofaríngea é a principal porta <strong>de</strong>entrada e <strong>de</strong> eliminação bacilar. Com isso,o exame otorrinolaringológico é importanteno diagnóstico precoce pelo acometimentofrequente das vias aérea superiores emcaráter <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, ou seja, inicia pelasfossas nasais e, a seguir, boca e laringe.A mucosa nasal geralmente écomprometida nas fases iniciais da doença,frequentemente prece<strong>de</strong>ndo o aparecimentodas lesões cutâneas. 13 As manifestaçõespo<strong>de</strong>m ser divididas em três grupos: asprecoces, caracterizada por infiltraçãoda mucosa e ressecamento anormal; asintermediárias, na qual a infiltração aumenta56revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santana et algerando obstrução nasal e hipersecreçãomucosa originando crostas, e, por últimas,as manifestações tardias, marcadas pelocomportamento mutilante da doença comulceração, infecção secundária e reduçãodo aporte sanguíneo ao pericôndrio levandoa perfuração do septo nasal, alterações dasensibilida<strong>de</strong> e do olfato. A <strong>de</strong>struição dosepto nasal caracteriza o nariz em sela,<strong>de</strong>formida<strong>de</strong> típica da hanseníase. 14 Nessaavaliação, somente um paciente multibacilarpossuía <strong>de</strong>sabamento <strong>de</strong> pirâmi<strong>de</strong> nasal, com<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> cartilagens alares superiores einferiores e septo nasal.Nessa série <strong>de</strong> <strong>caso</strong>s, todos os pacientesrelataram alguma queixa nasal, sendo asmais frequentes obstrução e rinorreia,ambos em dois pacientes cada. Um dospacientes com obstrução nasal queixava-setambém <strong>de</strong> eliminação <strong>de</strong> crostas, epistaxee dor. Apenas um paciente queixou-se <strong>de</strong>prurido nasal e nenhum referiu alteraçõesno olfato. Todos esses achados foram citadospor outros estudos, sendo a obstrução nasale a eliminação <strong>de</strong> crostas os sintomas mais<strong>de</strong>scritos em um trabalho maior realizadonum centro <strong>de</strong> referência. 15 Nesse mesmoestudo, o exame físico nasal revelou apresença <strong>de</strong> hipertrofia <strong>de</strong> conchas nasaisem 36% dos <strong>caso</strong>s, atrofia <strong>de</strong> conchas nasaise hiperemia mucosa em 22% dos pacientes,cada, e pali<strong>de</strong>z mucosa em 20%. Não foramrelatados <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> septo. Emnossa casuística, a hipertrofia <strong>de</strong> conchasnasais também foi o principal achado emtrês pacientes. A atrofia <strong>de</strong> conchas nasais,hiperemia e pali<strong>de</strong>z mucosas só foramencontrados em um paciente, cada. Foramobservados três <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> septonasal.É comum que alguns pacientes nãotenham queixas nasais e, quando as possui,não as relacionam à hanseníase, mostrandoa importância <strong>de</strong> um acompanhamentosistemático <strong>de</strong> um otorrinolaringologista numcentro <strong>de</strong> tratamento da hanseníase.Na cavida<strong>de</strong> oral, os locais afetadosem or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> frequência são: palato duro,palato mole, gengiva, língua, lábios emucosa jugal. Os tecidos moles afetadosapresentam-se inicialmente como pápulasfirmes, amareladas ou vermelhas, sésseis,<strong>de</strong> tamanho crescente, que ulceram enecrosam, sendo seguidas por uma tentativa<strong>de</strong> cicatrização por segunda intenção. Po<strong>de</strong>ocorrer a perda completa da úvula e fixaçãodo palato mole. As lesões linguais surgemprincipalmente no terço anterior e muitasvezes começam como áreas <strong>de</strong> erosão, quepo<strong>de</strong>m resultar em gran<strong>de</strong>s nódulos. 16,2 Nopresente estudo, não foram <strong>de</strong>tectadaslesões, ao exame físico, <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> orale orofaringe, muitas vezes, porque ospacientes já se encontravam em tratamento,na ocasião da consulta. A menor incidência<strong>de</strong> lesões orais observadas recentemente,comparado com os <strong>relato</strong>s mais antigos,po<strong>de</strong> ser explicada pelo fato <strong>de</strong> o tratamentopoliquimioterápico vigente ser mais efetivoe iniciado precocemente, e, provavelmente,também pelo melhoramento da higiene oral. 7A mucosa oral oferece uma resistêncianatural para o surgimento da hanseníase e aslesões orais po<strong>de</strong>m estar restritas a estágiosavançados da doença. A invasão da mucosaoral po<strong>de</strong> ocorrer quando há uma bacteremia<strong>de</strong> M. leprae. Entretanto, a mucosa oralpo<strong>de</strong> ser um local para a localização do M.leprae, até mesmo sem sinais macroscópicose isso precisa ser confirmado usando técnicashistológicas e biologia molecular. 17Em pesquisas realizadas pela PCR, combiópsias em mucosa, aparentemente normal<strong>de</strong> palato duro e mole em sete pacientesmultibacilares, em tratamento, obteve-sepositivida<strong>de</strong> em seis dos sete <strong>caso</strong>s (85,7%)para <strong>de</strong>tecção molecular do M. leprae. 18Dentre os nervos cranianos, o maisafetado pela hanseníase é o trigêmeo (V par)responsável pela sensibilida<strong>de</strong> da face, dos2/3 anteriores da língua e do palato duro emole, e, em seguida, o nervo facial (VII par)57revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


INVESTIGAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICA EM PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASEresponsável pela inervação dos músculos damímica facial e pela sensibilida<strong>de</strong> gustativados 2/3 anteriores da língua. 19 Nestacasuística, não houve <strong>relato</strong> <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> percepção do sabor dos alimentos nemsensação <strong>de</strong> boca seca. Apenas um pacientemultibacilar apresentou hipoestesia emorofaringe.O prejuízo sensorial ou motor emcavida<strong>de</strong> oral e orofaringe po<strong>de</strong> causaralterações na <strong>de</strong>glutição, pois, para que estaocorra <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, exige-se umacomplexa coor<strong>de</strong>nação neuromuscular, queenvolve sensibilida<strong>de</strong>, mobilida<strong>de</strong> e tônusorofaríngeo; sendo assim, indivíduos comhanseníase po<strong>de</strong>m apresentar disfagia. 20,21A literatura reflete a importância dasensibilida<strong>de</strong> oral para uma <strong>de</strong>glutiçãoeficiente. O déficit <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> alterarespostas motoras e a anestesia local emorofaringe causa um significante aumentona duração da <strong>de</strong>glutição e uma diminuiçãodo volume <strong>de</strong>glutido, e, algumas vezes, atémesmo resulta em aspiração. 22 Neste trabalho,nenhum paciente referiu tosse ou engasgodurante ou após alimentação, disfagia ouhistória <strong>de</strong> pneumonia por broncoaspiração.Apenas um indivíduo mencionou sensação <strong>de</strong>globo faríngeo.A vi<strong>de</strong>oendoscopia é o método escolhidopara avaliação da mucosa da faringe elaringe. 23 A utilização da vi<strong>de</strong>oendoscopiaem pacientes com hanseníase ofereceuma melhor acurácia na i<strong>de</strong>ntificação<strong>de</strong> lesões mucosas e precocida<strong>de</strong> nodiagnóstico. 11 Nesta casuística, por meio <strong>de</strong>vi<strong>de</strong>olaringoscopia, <strong>de</strong>tectou-se um portador<strong>de</strong> hanseníase multibacilar com epiglote <strong>de</strong>aspecto granulomatoso. Por intermédio <strong>de</strong>nasofibroscopia, verificou-se que um pacientemultibacilar apresentava ulcerações emmucosa nasal, presença <strong>de</strong> crostas, sinéquiase atrofia <strong>de</strong> cornetos nasais. Isso mostra aimportância <strong>de</strong> todos os pacientes passarempela avaliação otorrinolaringológica, comotambém comprova que, apesar do pacientenão ter a queixa <strong>de</strong> sintoma nasal, a cavida<strong>de</strong>nasal po<strong>de</strong> estar acometida.A maior parte dos achados, quantoà anamnese, exame físico e exames <strong>de</strong>nasofibroscopia e vi<strong>de</strong>olaringoscopia, foiobservada em pacientes multibacilares,porém é importante ressaltar que todosos pacientes, mesmo os paucibacilares,apresentavam queixas nasais e três <strong>de</strong>lespossuíam alterações ao exame endoscópico,o que sugere um comprometimento do narizainda nas fases inciais da doença Assim, oexame otorrinolaringológico é importante nodiagnóstico precoce da hanseníase em razãodo acometimento frequente das vias aéreasuperiores. 15Em conclusão à persistência dos altosíndices <strong>de</strong> hanseníase no país, aponta para anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluí-la entre os diagnósticosdiferenciais <strong>de</strong> diversas granulomatoses.O médico otorrinolaringologista tem papel<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>muitos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong>ssa doença e até mesmopara o acompanhamento <strong>de</strong> pacientes quejá possuem diagnósticos prévios, uma vezque as mucosas oral e nasal estão envolvidasnas manifestações e transmissão dadoença. A investigação endoscópica <strong>de</strong>ssespacientes contribui para diagnósticos e,consequentemente, tratamentos precoces,evitando o seu avanço e inibindo a evoluçãopara sequelas mutilantes e estigmatizantes.Referências1. Martins, MD; Russo, MP; Lemos, JBD;Fernan<strong>de</strong>s, KPS; Bussadore, SK; Corrêa, CT;Martins, MAT. Orofacial lesions in treatedsoutheast Brazilian leprosy patients: a crosssectionalstudy. Oral Diseases., 2007; 13:270-273.2. Neville, BW; Damm, DD; Allen, CM; Bouquot,J. Patologia Oral e Maxilofacial. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Elsevier; 2009.3. Osugue, SM; Osugue, JY. Hanseníase. In:58revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


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METÁSTASES CUTÂNEAS COMO PRIMEIRAMANIFESTAÇÃO DE NEOPLASIA DEPÂNCREAS: RELATO DE CASOCutaneous Metastases As First Manifestation In Pancreatic Neoplasia: A CasesReport*Lubyanka F. Pereira, *Vanessa M. Cardoso, *Priscila Lago, *Marilu Gomes, *Simone <strong>de</strong> A. Damasceno, **Cristina Melo*Médicas resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Clínica Médica do HUGV**Doutora em Gastroenterologia pela UnifespRESUMOA neoplasia <strong>de</strong> pâncreas é uma das principais causas <strong>de</strong> morte por câncer noOci<strong>de</strong>nte. Apesar do avanço alcançado nas técnicas <strong>de</strong> imagem e no manejo cirúrgico, a suamortalida<strong>de</strong> permanece elevada, chegando a um percentual <strong>de</strong> 4% do total <strong>de</strong> mortes porcâncer no Brasil. De fato, 80-90% <strong>de</strong>ssas neoplasias são diagnosticadas por apresentaremdoença localmente avançada ou em estágio metástatico. Metástases cutâneas originadas <strong>de</strong>neoplasias pancreáticas são incomuns e muito raramente po<strong>de</strong>m ser o primeiro achado <strong>de</strong>ssetipo <strong>de</strong> câncer. Geralmente estas se localizam mais frequentemente na região umbilical.Este <strong>caso</strong> relata uma apresentação atípica <strong>de</strong> metástases cutâneas, em tórax e membroinferior esquerdo, como manifestação inicial <strong>de</strong> carcinoma pancreático.Palavras-chave: Neoplasia <strong>de</strong> Pâncreas; Nódulos Subcutâneos; Metástases Cutâneas.ABSTRACTThe neoplasm of the pancreas is a major cause of cancer <strong>de</strong>ath. Despite advances inimaging and surgical management, its mortality remains high, plus a percentage of 4% of all<strong>de</strong>aths from cancer in Brazil. In<strong>de</strong>ed, 80-90% of these cancers are diagnosed because theyhad locally advanced disease or metastatic stage. Cutaneous metastases originating frompancreatic neoplasms are uncommon and, very rarely, can be the first found of this type ofcancer. Usually these metastases are located most often in the umbilical region. This case<strong>de</strong>monstrates an unusual presentation of cutaneous metastases in the chest and left leg asthe initial manifestation of pancreatic carcinoma.Keywords: Pancreas Cancer; Subcutaneous Nodules; Skin Metastases.61revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


METÁSTASES CUTÂNEAS COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇÃODE NEOPLASIA DE PÂNCREAS: RELATO DE CASOIntroduçãoO carcinoma <strong>de</strong> pâncreas é uma dasprincipais causas <strong>de</strong> morte por malignida<strong>de</strong>no Oci<strong>de</strong>nte. Dados do Instituto Nacionaldo Câncer (Inca) o colocam como sendoresponsável por 2% <strong>de</strong> todos os tipos <strong>de</strong>câncer e 4% do total <strong>de</strong> mortes por câncerno Brasil. 1 A ressecção da lesão é possível emmenos <strong>de</strong> 20% dos <strong>caso</strong>s por conta da presença<strong>de</strong> metástases regionais ou a distância nomomento do diagnóstico. 2As metástases a distância do carcinomapancreático são mais frequentementeencontradas no fígado, pulmão, TGI, entreoutros órgãos. 3 Metástases cutâneas sãoraras e geralmente estão situadas na regiãoperiumbilical.São infrequentes os <strong>caso</strong>s <strong>de</strong>scritosna literatura <strong>de</strong> metástases <strong>de</strong> localizaçãoextraumbilical que se apresentem comomanifestação inicial <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> neoplasia.O objetivo <strong>de</strong>ste <strong>relato</strong> é <strong>de</strong>screver o <strong>caso</strong> <strong>de</strong>uma paciente que apresentou lesões cutâneasem localização não usual como achado inicial<strong>de</strong> um carcinoma pancreático.Referia perda pon<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 8 kg nesse ínterime surgimento <strong>de</strong> novas lesões nodularessubcutâneas em membro superior direitoe região torácica anterior, acompanhadas<strong>de</strong> dor e parestesia local. Encontravaseanictérica, afebril com presença <strong>de</strong>nódulos subcutâneos arrendondados, bem<strong>de</strong>limitados, <strong>de</strong> consistência endurecida,sem sinais <strong>de</strong> flogose, localizados em membroinferior direito, região torácica anteriordireita e ná<strong>de</strong>ga direita. Inicialmentemóveis, tornaram-se progressivamentea<strong>de</strong>ridos aos planos profundos, com dorintensa à mobilização <strong>de</strong>stes. No total eramnove nódulos, sendo o maior <strong>de</strong>les <strong>de</strong> 13 x 13cm e o menor <strong>de</strong> 2 cm.Relato <strong>de</strong> <strong>caso</strong>Paciente do sexo feminino, 51 anos,proveniente do interior do Estado do Amazonas,apresentando há três meses da internaçãoquadro <strong>de</strong> tumorações indolores, localizadasinicialmente em um terço [1/3] superior dohemitórax direito, região supraescapulardireita e membro inferior direito (Figura1), <strong>de</strong> crescimento progressivo. Após seissemanas do início do quadro, evoluiu comdor abdominal importante, febre mo<strong>de</strong>rada(38ºC), diarreia líquida sem sangue ou muco,cerca <strong>de</strong> três episódios/dia. Na admissãohospitalar, apresentava dor abdominal emcólica em flanco esquerdo com irradiaçãopara epigástrio, que melhorava com posiçãoantálgica e piorava com <strong>de</strong>cúbito dorsal.62revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011Figura 1: Nódulo subcutâneo em membro inferiordireitoNo exame físico do abdome notou-sepresença <strong>de</strong> massa palpável em mesogástrio,pétrea, com bordos irregulares e poucamobilida<strong>de</strong>, medindo aproximadamente 8 cm.Ausência <strong>de</strong> linfonodomegalias periféricas ouem região umbilical.A paciente foi submetida a tomografiascomputadorizadas, com contraste oral evenoso, <strong>de</strong> tórax, abdome e pelve, que<strong>de</strong>monstraram massas com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>partes moles em região <strong>de</strong> hemitórax direito(HTD) (Figura 3), lesão neoplásica emtopografia <strong>de</strong> cabeça <strong>de</strong> pâncreas (Figura 2)e ná<strong>de</strong>ga direita (Figura 4), respectivamente.


Pereira et alfoi submetida a uma laparotomia exploradorapara biópsia da lesão pancreática e <strong>de</strong>rivaçãobiliodigestiva, consecutivamente. O estudohistopatológico das referidas lesões cutâneas<strong>de</strong>monstrou a<strong>de</strong>nocarcinoma metastáticoe da massa abdominal, a<strong>de</strong>nocarcinomapancreático. A paciente faleceu seis diasapós o procedimento cirúrgico por quadro <strong>de</strong>tromboembolismo pulmonar e disfunção <strong>de</strong>múltiplos órgãos.Figura 2 – Neoplasia da cabeça <strong>de</strong> pâncreas, <strong>de</strong>terminandomínima dilatação das vias biliares intrae extra-hepáticas do ducto pancreático principal,indissociável da veia cava inferior e envolvendoos vasos mesentéricos. A lesão me<strong>de</strong> 9,6 x 5,3 cmFigura 3 – Massa com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partes moles,medindo 8,6 x 6,2 cm, localizada no TCS da faceanterior do terço superior do HTD, indissociáveldo músculo pequeno peitoral subjacenteFigura 4 – Massa com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partes moleslocalizada no tecido celular subcutâneo da regiãoglútea à direita, medindo 5,0 x 4,5 x cm nos maioresdiâmetrosProcedido então biópsias das lesõesnodulares cutâneas e da lesão pancreática, pormeio <strong>de</strong> laparotomia exploradora. A pacienteDiscussãoMetástases cutâneas representam 3a 5% dos sítios <strong>de</strong> tumores metastáticos, esão características <strong>de</strong> neoplasias em estágioavançado. Ocasionalmente elas prece<strong>de</strong>m à<strong>de</strong>scoberta do câncer primário principalmenteno <strong>caso</strong> das metástases pulmonares ou renais. 2Tumores que comumente metastatizam paraa pele incluem o carcinoma broncogênico,hipernefroma, câncer <strong>de</strong> mama, melanomamaligno, carcinoma <strong>de</strong> estômago e ovário. 3Apesar <strong>de</strong> qualquer parte do tegumento po<strong>de</strong>rser afetada por metástases, as localizaçõesmais frequentes são a pare<strong>de</strong> abdominalanterior, seguida pelo tórax, face, pescoço,couro cabeludo e periferia. 4Os locais mais acometidos pormetástases do carcinoma pancreáticocomo sendo linfonodos regionais, pulmões,fígado, adrenais, rins e ossos. 5 Metástasescutâneas <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> neoplasia são rarase geralmente são localizadas na regiãoperiumbilical, sendo conhecidas comolinfonodo ou nódulo <strong>de</strong> Sister Mary-Joseph. 6,7O mecanismo envolvido nessas metástasesnão está bem esclarecido. Estudos prévioseram baseados na hipótese da “sementee solo”, 3 na qual a semeadura do tumor nacavida<strong>de</strong> intrabdominal comumente ocorriaem consequência a uma ressecção tumoralcom intenção curativa. A<strong>de</strong>mais, é sabidoque o carcinoma pancreático metastatizarapidamente para o sistema linfático por63revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


METÁSTASES CUTÂNEAS COMO PRIMEIRA MANIFESTAÇÃODE NEOPLASIA DE PÂNCREAS: RELATO DE CASOinfiltração, embolização e retrogradamente em razão da obstrução linfática do pâncreas. 3,8Segundo alguns autores, o envolvimento cutâneo po<strong>de</strong> ocorrer por três formasdiferentes: invasão direta, doença com metástase local e a distância. De acordo com essasérie, o último mecanismo é o menos comum e, quando ocorre, lesões cutâneas surgem comomúltiplos nódulos agrupados em uma área do corpo. 9Outro autor publicou cinco <strong>caso</strong>s e revisou <strong>de</strong>zessete com metástases cutâneasoriginalmente <strong>de</strong> neoplasia pancreática. 10 Em 20 <strong>caso</strong>s, as lesões da pele estavam presentesantes do diagnóstico do câncer primário. Em 11 <strong>de</strong>sses <strong>caso</strong>s, estas eram a primeiramanifestação da neoplasia como o <strong>caso</strong> aqui relatado. Esse estudioso também constatouque o local mais comum <strong>de</strong> lesão cutânea metastática da neoplasia pancreática é a regiãoperiumbilical.Portanto, nosso <strong>relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong> faz menção a uma apresentação clínica rara <strong>de</strong>câncer <strong>de</strong> pâncreas, que teve como manifestação inicial nódulos subcutâneos metastáticoslocalizados fora da região periumbilical, sendo esta última comumente citada na literaturamundial como o sítio cutâneo mais comum <strong>de</strong> metástases do câncer <strong>de</strong> pâncreas. A pacienteapresentava ainda massa abdominal palpável em região <strong>de</strong> mesogástrio, porém icterícia,que frequentemente é a manifestação mais marcante <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> neoplasia, era ausentena admissão <strong>de</strong>la.Embora a pele não esteja entre os locais mais comumente afetados por metástases, éimportante que essa hipótese entre no diagnóstico diferencial das lesões cutâneas na práticaclínica.64revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Pereira et alCARDIOMIOPATIA ARRITMOGÊNICA DOVENTRÍCULO DIREITO E ANGIOTOMOGRAFIACARDÍACA: RELATO DE CASOArrhythmogenic Right Ventricular Dysplasia And Heart Angiotomography: A CaseReportFre<strong>de</strong>rico Gustavo Cor<strong>de</strong>iro Santos*, Marlúcia do Nascimento Nobre**,Danielle Abreu da Costa*, Anne Elizabeth Andra<strong>de</strong> Sadala Marques*,Abraão Ferreira Nobre*, Gustavo Cavalcante Maio <strong>de</strong> Aguiar*** eJaime Arnez Maldonado***** Médico(a) resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cardiologia do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>* Médica especialista em cardiologia*** Médico cardiologista especialista em tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética cardíacas**** Médico cardiologista especialista em eletrofisiologia e estimulação cardíacaRESUMOA cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (CAVD) é uma doença quese caracteriza por infiltração <strong>de</strong> tecido fibroadiposo no miocárdio do ventrículo direito(VD). Acomete, predominantemente, homens jovens, resultando em arritmias graves emorte súbita (MS), por taquicardia ventricular (TV). O diagnóstico é difícil e subestimado,sendo utilizados critérios maiores e menores para tentar estabelecê-lo. A disfunção do VDé consi<strong>de</strong>rada como um dos critérios maiores para o diagnóstico e a ressonância nuclearmagnética cardíaca (RNMc) constitui-se no melhor teste não invasivo para avaliar a função<strong>de</strong>ssa câmara. Entretanto, a tomografia cardíaca vem sendo estudada como alternativa àRNMc. Descrevemos um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> um paciente jovem, com história <strong>de</strong> episódios repetidos <strong>de</strong>síncope e TV documentada, on<strong>de</strong> foi optado por implante <strong>de</strong> cardio<strong>de</strong>sfibrilador, pelo altorisco <strong>de</strong> MS. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) cardíaca após o procedimentopara avaliar a função ventricular direita, sendo obtidos achados compatíveis com CAVD(hipocinesia severa, infiltração gordurosa e dilatação ventricular direita). Nesse contexto,a TC cardíaca <strong>de</strong>sponta como alternativa para o auxílio diagnóstico da CAVD, po<strong>de</strong>ndoconstituir-se em um método tão acurado quanto a RNMc para a avaliação da função do VD,apresentando vantagem pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser utilizada em portadores <strong>de</strong> marcapasso oucardio<strong>de</strong>sfibrilador.Palavras-chave: Cardiomiopatia Arritmogênica Ventricular Direita; Tomografia; Imagempor Ressonância Magnética.ABSTRACTArrhythmogenic right ventricular dysplasia (ARVD) is a difficult disease to diagnose,which is characterized by fibrofatty replacement of the right ventricular myocardium.Affects principally young man resulting in arrhythmias and sud<strong>de</strong>n cardiac <strong>de</strong>ath (SD) byventricular tachycardia (VT). The diagnosis of early and mild forms of disease is often65revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


CARDIOMIOPATIA ARRITMOGÊNICA DO VENTRÍCULO DIREITOE ANGIOTOMOGRAFIA CARDÍACA: RELATO DE CASOdifficult and based on a series of diagnostic criteria (major and minor) proposed. The severedilation and reduction of right ventricular ejection fraction is consi<strong>de</strong>red as a major criteriaand the cardiac magnetic resonance imaging (MRi) is the gold-standard test to evaluatethis dysfunction. However, multislice computed tomography (CT) has been studied as analternative to MRi. We <strong>de</strong>scribe a case of a twenty-six years old man with frequent episo<strong>de</strong>sof syncope and documented VT, in which a cardioverter-<strong>de</strong>fibrillator (ICD) was implanted,for the high risk of SD, and a cardiac computed tomography was performed to assess rightventricular function. Changes consistent of ARVD (severe hipokinesia, fat infiltration, andright ventricular enlargement) were observed. In this context, the cardiac CT emerges asan alternative to help the diagnosis of ARVD, it can be used as an accurate method as thecardiac MRi for assessing right ventricular function, and used in patients with pacemaker orimplantable cardioverter-<strong>de</strong>fibrillator.Keywords: Arrhythmogenic Right Ventricular Dysplasia; Tomography; MagneticResonance Imaging.IntroduçãoA Cardiomiopatia Arritmogênica doVentrículo Direito (CAVD) é uma entida<strong>de</strong>caracterizada por substituição gradual dascélulas miocárdicas do ventrículo direito(VD) por tecido fibroadiposo, <strong>de</strong> etiologiaainda não i<strong>de</strong>ntificada. 1 Esse infiltradofibroadiposo po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se para oventrículo esquerdo o qual confere ao quadrouma maior gravida<strong>de</strong>. 2Inicialmente, foi i<strong>de</strong>ntificada empacientes submetidos a tratamento cirúrgico<strong>de</strong> taquicardia ventricular (TV), porém semhistória prévia <strong>de</strong> cardiomiopatias e nãorespon<strong>de</strong>dores a tratamento medicamentoso. 3A prevalência na população geral é <strong>de</strong>6/10.000, acometendo, predominantemente,jovens do sexo masculino. 4,5 Tem amploespectro <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> extrassistoliaventricular isolada até TV sustentada,po<strong>de</strong>ndo ocorrer como primeira manifestaçãoa morte súbita, sendo esta uma importantecausa <strong>de</strong> MS em jovens adultos menores <strong>de</strong> 35anos. 5 As principais manifestações clínicas sãoarritmias ventriculares, insuficiência cardíacae morte súbita. 6 Há uma importante relaçãoentre o esforço físico e o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amentoda TV, sendo este um dos principais motivos<strong>de</strong> morte súbita em atletas. 7Anatomicamente, a CAVD caracterizasepor substituição gradual do miocárdio doVD por tecido fibrogorduroso acometendo oepicárdio e a região central do miocárdio e,menos frequentemente, o endocárdio. 8,9O diagnóstico é difícil e subestimadoem razão da existência <strong>de</strong> formas menosexuberantes, sendo utilizada umacombinação <strong>de</strong> critérios (maiores e menores)para estabelecê-lo. O diagnóstico da CAVDestaria firmado na presença <strong>de</strong> dois critériosmaiores ou um critério maior associado a doismenores <strong>de</strong> grupos distintos ou ainda quatrocritérios menores. Esses critérios incluem: 1)disfunção global e/ou regional e alteraçõesestruturais (<strong>de</strong>tectadas ao ecocardiograma,angiografia, ventriculografia contrastadae ressonância nuclear magnética) sendoconsi<strong>de</strong>rados maiores a dilatação severa eredução da fração <strong>de</strong> ejeção (FE) do VD comnenhum (ou discreto) comprometimento doVE, aneurismas localizados no VD e dilataçãosevera do VD e menor a dilatação globaldiscreta ou redução da FE do VD com VEnormal; 2) característica do tecido parietal,tendo como critério maior a substituiçãofibrogordurosa do tecido miocárdico nabiópsia endomiocárdica; 3) anormalida<strong>de</strong>sda repolarização (consi<strong>de</strong>rado comocritério menor) com ondas T invertidas nas66revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santos et al<strong>de</strong>rivações precordiais direitas (V2 e V3,na ausência <strong>de</strong> bloqueio do ramo direito –BRD); 4) anormalida<strong>de</strong>s da <strong>de</strong>spolarizaçãoe da condução, tendo como critériosmaior a presença <strong>de</strong> ondas épsilon ouprolongamento localizado do QRS (>110ms)em <strong>de</strong>rivações precordiais direitas e menora presença <strong>de</strong> potenciais tardios <strong>de</strong>tectadosao eletrocardiograma <strong>de</strong> alta resolução; 5)presença <strong>de</strong> arritmias, consi<strong>de</strong>rado critériomenor a TV (sustentada ou não) commorfologia tipo bloqueio do ramo esquerdo(BRE) e ectopias ventriculares frequentes(>1000/24h); 6) história familiar, consi<strong>de</strong>radacritério maior a doença familiar confirmadapela cirurgia ou necropsia e critérios menoresa história familiar <strong>de</strong> morte súbita em jovens(


CARDIOMIOPATIA ARRITMOGÊNICA DO VENTRÍCULO DIREITOE ANGIOTOMOGRAFIA CARDÍACA: RELATO DE CASOcoronárias normais e ventriculografia comhipertrofia do VE, aumento do volumediastólico final e hipocinesia 3+/4 do VD. Emuso <strong>de</strong> amiodarona, foi submetido a estudoeletrofisiológico invasivo (EEFi) por meiodo qual foi reproduzida a TV clínica, comrepercussão hemodinâmica. Aplicando-se oscritérios, um maior e dois menores estavampresentes (dilatação severa e redução da FEdo VD, TV com morfologia <strong>de</strong> BRE e históriafamiliar <strong>de</strong> MS), sendo diagnosticado CAVD.Após o diagnóstico, e como prevençãosecundária <strong>de</strong> morte súbita, foi implantadoum cardio-<strong>de</strong>sfibrilador (CDI). Apósquatro meses, o paciente foi submetidoà angiotomografia cardíaca. O exame foirealizado em tomógrafo GE Light Speed <strong>de</strong>64 <strong>de</strong>tectores e resolução <strong>de</strong> 0,625 mm,com infusão <strong>de</strong> contraste iodado não iônico,e evi<strong>de</strong>nciou áreas <strong>de</strong> infiltração gordurosa(Figura 2A) com hipocinesia global severa eáreas <strong>de</strong> discinesia segmentar (anterolateral,em regiões basal e apical) do miocárdio doVD (Figura 3), fração <strong>de</strong> ejeção do VD <strong>de</strong> 28%e com volumes sistólico e diastólico finais<strong>de</strong> 190 ml e 267 ml, respectivamente. O VEapresentou-se com função normal.Figura 3. – Tomografia cardíaca – <strong>de</strong>monstração dafunção do VD, mostrando as fases diastólica (A) esistólica (B) finais. Nas setas (brancas), observa-seárea <strong>de</strong> discinesia anterolateralAtualmente, o paciente encontraseem seguimento ambulatorial, e recebeuvários choques apropriados dados peloCDI. Na tentativa <strong>de</strong> minimizar as terapiasdo CDI, foi submetido a uma ablação porcateter utilizando sistema <strong>de</strong> mapeamentotridimensional com mapas <strong>de</strong> voltagem (Figura2B) e <strong>de</strong> ativação do VD, sendo induzidastrês morfologias <strong>de</strong> TV e realizada ablaçãodaquela que consi<strong>de</strong>ramos a responsávelpelas terapias dadas pelo CDI.DiscussãoFigura 2. A – Tomografia cardíaca <strong>de</strong>monstrandoinfiltração gordurosa no miocárdio do ventrículodireito. B. Mapeamento <strong>de</strong> voltagem <strong>de</strong>monstrandoextensa área <strong>de</strong> cicatriz <strong>de</strong>nsa (cinza) dapare<strong>de</strong> livre do VD, que se esten<strong>de</strong> da via <strong>de</strong> saídaaté a pare<strong>de</strong> inferiorA CAVD é uma entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> difícildiagnóstico, po<strong>de</strong>ndo ter como primeiramanifestação a morte súbita em jovens,como observado em alguns estudos. 16 Opaciente, embora não atleta, era praticante<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física regular e jovem.A doença acomete, predominantemente,o VD, porém o acometimento biventricularpo<strong>de</strong> estar presente e, mais raramente, o VEisoladamente po<strong>de</strong>rá estar envolvido. 17 No<strong>caso</strong> reportado, apenas o VD apresentava-sedoente.O diagnóstico baseia-se na <strong>de</strong>monstraçãohistológica <strong>de</strong> infiltrado fibrogorduroso nomiocárdio do VD, po<strong>de</strong>ndo a amostra serobtida por biópsia, cirurgia ou autópsia.Entretanto, a biópsia endomiocárdicaapresenta sensibilida<strong>de</strong> baixa (67%), com68revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Santos et alespecificida<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong> 92%, não sendo,na maioria dos <strong>caso</strong>s, indicada, pelo risco<strong>de</strong> lesão da pare<strong>de</strong> ventricular e pelapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se obter amostra <strong>de</strong> tecidonormal. 6O ETT po<strong>de</strong> auxiliar no diagnóstico,porém apresenta limitação importante paraavaliação da função do VD. 19 A angiografiaapresenta sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>baixas. 17 O mapeamento <strong>de</strong> voltagemtridimensional do VD po<strong>de</strong> melhorar aacurácia diagnóstica e i<strong>de</strong>ntificar umsubgrupo <strong>de</strong> pacientes que preenchem oscritérios diagnósticos, mas apresentameletrograma <strong>de</strong> voltagem preservado, além<strong>de</strong> permitir melhor avaliação das arritmias. 11A RNMc, por apresentar alta resoluçãoespacial e permitir a avaliação anatômicae funcional dos ventrículos, é consi<strong>de</strong>radacomo método não invasivo mais apropriadopara avaliação da função do VD. 13 Asalterações observadas na RNMc fazem partedos critérios maiores e menores para odiagnóstico da doença. 17 No <strong>caso</strong> em questão,foi realizado o diagnóstico <strong>de</strong> CAVD por meio<strong>de</strong>sses critérios e para prevenção secundáriafoi implantado CDI, o que contraindicou arealização da RNMc.Em 1986, foi <strong>de</strong>monstrado, pelaprimeira vez, pela TC cardíaca, a dilataçãoe hipocinesia importante do VD em umpaciente com CAVD. 19 Atualmente, como advento dos novos equipamentos commúltiplos <strong>de</strong>tectores, a TC cardíaca tornoupossível observar a infiltração gordurosa e asalterações morfológicas e funcionais do VD,assemelhando-se às vistas pela RNMc. Estudosrecentes <strong>de</strong>monstram essa possibilida<strong>de</strong>. 14Por esse motivo e pela presença do CDI, aTC cardíaca foi realizada e evi<strong>de</strong>nciou umaimportante disfunção (alterações contráteissegmentares) do VD, bem como a infiltração<strong>de</strong> gordura na pare<strong>de</strong> livre <strong>de</strong>ssa câmara.Nesse contexto, a TC cardíaca surgecomo alternativa para avaliação da funçãodo VD, nos pacientes com CAVD, po<strong>de</strong>ndoconstituir-se em um método tão acuradoquanto a RNMc, porém com vantagem <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r ser realizada em doentes portadores<strong>de</strong> marcapasso ou cardio-<strong>de</strong>sfibrilador, comoocorreu nesse <strong>caso</strong>.Referências1. Marcus, FI; Fontaine, GH; Guiraudon,G; Frank, R; Laurenceau, JL; Malergue, C;Grosgogeat, Y. Right ventricular dysplasia: areport of 24 adult cases. Circulation., 1982;65:384-398.2. Basso, C; Gaetano, T; Corrado, D; Angelini,A; Nava, A; Valente, M. Arrhythmogenicright ventriclar cardiomyopathy. Dysplasia,dystrophy, or myocarditis?. Circulation.,1996; 94:983-91.3. Fontaine, G; Guirudon, G; Frank, R.Stimulation studies and epicardial mapping inventricular tachycardia: study of mechanismsand selection for surgery. Lancaster., 1977;1:334-50.4. Corrado, D; Thiene, G; Nava, A; Rossi,L; Pennelli, N. Sud<strong>de</strong>n <strong>de</strong>ath in youngcompetitive athletes: clinicopathologiccorrelations in 22 cases. Am. J. Medicine.,1990; 89:588-596.5. Dalal, D; Nasir, K; Bomina, C.Arrhythmogenic right ventricular dysplasia– A United States experience. Circulation.,2005; 112:3.823-32.6. Elias, J; Tonet, J; Frank, R; Fontaine, G.Displasia arritmogênica do ventrículo direito.Arq. Bras. Cardiol., 1998; 70(6):449-456.7 Vermani, R; Robinowitz, M; Clark, MA;McAllister, HA. Sud<strong>de</strong>n <strong>de</strong>ath and partialabsence of the right ventricular myocardium.Arch Pathol Lab. Med., 1982; 106:163-7.8. Indik, JH; Marcus, FI. Arrhythmogenicright ventricular cardiomyopathy/dysplasia.Indian Pacing Electrophysiol J., 2003; 3:148-156.69revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


CARDIOMIOPATIA ARRITMOGÊNICA DO VENTRÍCULO DIREITOE ANGIOTOMOGRAFIA CARDÍACA: RELATO DE CASO9. Marcus, FI; McKenna, WJ; Sherrill, D;Basso, C. Diagnosis of Arrhythmogenic RightVentricular Cardiomyopathy/Dysplasia.Proposed Modification of the Task ForceCriteria. Circulation., 2010; 121:1.533-41.10. McKenna, WJ; Thiene, G; Nava, A;Fontaliran, F; Blomstrom-Lundqvist, C;Fontaine, G et. al. Diagnosis of arrhythmogenicright ventricular dysplasia/cardiomyopathy.Br. Heart J., 1994; 71:215-18.11. Corrado, D; Basso, C; Leoni, L; Tokajuk,B. Three-Dimensional ElectroanatomicVoltage Mapping Increases Accuracy ofDiagnosing Arrhythmogenic Right VentricularCardiomyopathy/Dysplasia. Circulation.,2005; 111:3.042-50.12. Auffermann, W; Wichter, T; Breithardt, G.Arrhythmogenic right ventricular disease: MRimaging versus angiography. Am. J. Radiol.,1993; 161:549-55.13. Tandri, H; Saranathan, M; Rodriguez,ER. Noninvasive <strong>de</strong>tection of myocardialfibrosis in Arrhythmogenic right ventricularcardiomyopathy using <strong>de</strong>layed-enhancementmagnetic resonance imaging. J. Am. Coll.Cardiol., 2005; 45:98-103.14. Raney, AR; Saremi, F; Kenchaiah,SSV. Multi<strong>de</strong>tector computed tomographyshows intramyocardial fat <strong>de</strong>position. J.of Cardiovascular Computed Tomography.,2008; 2:152-163.15. Turrini, P; Corrado, D; Basso, C. Noninvasiverisk stratification in arrhythmogenic rightventricular cardiomyopathy. A.N.E., 2003;8:161-169.16. Aouate, P; Fontaliran, F; Fontaine, G.Holter et mort subite. Interêt dans un cas <strong>de</strong>dysplasie ventriculaire droite arythmogéne.Arch. Mal. Coeur, 1993; 86:363-7.17. Arda, K; Ciledag, N; Kacmaz, F;Tufekcioglu, O; Sereflisan, Y. Arrhyyhmogenicright ventricular dysplasia; radiologicfindings of the left ventricle: a case reportand review of the literature. Ind. J. Radiol.Imag., 2006; 16:131-34.18. Diamon, Y; Watanabe, S; Takeda,S; Hijikata, Y; Komuro, I. Two-layeredappearance of noncompaction of theventricular myocardium on magneticresonance imaging. Circulation., 2002;66:619-21.19. Dery, R; Lipton, MJ; Garrett, JS; Abbott,J; Higgins, CB; Scheinman, MM. Cinecomputedtomography of arrhythmogenicright ventricular dysplasia. J. Comput. Assist.Tomogr., 1986; 10:120-23.70revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ICTIOSE CONGÊNITA: A PROPÓSITO DE UMCASOLorena Siqueira Cor<strong>de</strong>iro 1 , Francisco Rafael dos Santos Júnior 2 , Alexandre Lopes Miralha 3 , Vera Lúcia Coutinho Batista 41Médica resi<strong>de</strong>nte (R2) <strong>de</strong> Pediatria do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (HUGV) / Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doAmazonas(<strong>Ufam</strong>)2Médico assistente/pediatra da Cooperativa Pediátrica <strong>de</strong> Assistência Neonatal do Amazonas – Coopaneo, na Maternida<strong>de</strong> AnaBraga, Manaus, Amazonas3Professor da disciplina <strong>de</strong> Pediatria do Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Materno Infantil (DSMI) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas(<strong>Ufam</strong>). Preceptor do Submódulo <strong>de</strong> Neonatologia do Programa <strong>de</strong> Residência Médica em Pediatria do HUGV / <strong>Ufam</strong>. Mestradoem Medicina Tropical (UEA/FMTAM)4Médica pediatra, neonatologista e supervisora do Programa <strong>de</strong> Residência Médica em Pediatria do HUGV/<strong>Ufam</strong>RESUMOA ictiose congênita (bebê arlequim) é uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m rara, autossômica recessiva,caracterizada por espessamento cutâneo excessivo, com a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s placas <strong>de</strong>pele separadas por fissuras profundas, especialmente em áreas <strong>de</strong> flexão. É uma doençaque acomete algo em torno <strong>de</strong> 1: 300.000 recém-nascidos, em todo o mundo. Os recémnascidosacometidos são suscetíveis a alterações metabólicas e processos infecciosos logoapós o nascimento. A sobrevivência costuma ser baixa, mas há vários <strong>relato</strong>s <strong>de</strong> sobreviventes<strong>de</strong>scritos na literatura. Relatamos o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> um recém-nascido atendido no 2.º dia <strong>de</strong> vida,filho <strong>de</strong> pais consaguíneos, nascido no interior no Amazonas com ictiose congênita, queapresentou evolução favorável com o tratamento tópico e cuidados intensivos. O diagnósticoprecoce com o manejo multidisciplinar a<strong>de</strong>quado po<strong>de</strong> reduzir a mortalida<strong>de</strong> da doença noperíodo neonatal.Palavras-chave: Ictiose; Feto Arlerquim; Relato <strong>de</strong> Caso; Tratamento.ABSTRACTThe congenital icthyosis (harlequin baby) is a rare disor<strong>de</strong>r, autossomal recessive,characterized by excessive skin thickening in the presence of large skin plates separated by<strong>de</strong>ep fissures, especially in areas of flexion. It is a disease that affects somewhere around1:300.000 newborns worldwi<strong>de</strong>. The affected newborns are susceptible to metabolic andinfectious processes shortly after birth. Survival is usually low, but there are several cases ofsurvivors. We report a newborn admitted at 2 days of age, whose parents consanguinity, bornwithin congenital ichthyosis, which presented a favorable outcome with topical treatmentand care. Early diagnosis with appropriate treatment options can reduce the mortality of thedisease in the neonatal period.Key-Words: Ichthyosis; Harlequin Fetus; Case Report; Treatment.71revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ICTIOSE CONGÊNITA: A PROPÓSITO DE UM CASOIntroduçãoA Ictiose é uma doença <strong>de</strong>rmatológicacongênita causada por uma anomalia noprocesso <strong>de</strong> regeneração da pele, pelos eunhas. Caracteriza-se por ser um distúrbiocutâneo hereditário raro, caracterizado porpele ressecada e escamosa. 1,2 A ictiose Arlequim(Ichthyosis fetalis; Harlequin fetus) é umdistúrbio genético raro da pele, sendo a formamais severa da ictiose congênita. 3,4 A ocorrência<strong>de</strong>ssa patologia é muito pequena, em torno<strong>de</strong> 1:300.000. Sua característica principal é oengrossamento da camada <strong>de</strong> queratina na vidaintrauterina. As finas placas po<strong>de</strong>m esticar,repuxar a pele do rosto e distorcer, assim, ascaracterísticas faciais, bem como restringir acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respiração e alimentação. 4,5Clinicamente o recém-nascido apresentaeritema generalizado e está envolto porrevestimento <strong>de</strong> extrato córneo espesso quese assemelha ao colódio, causando eversãodas pálpebras e, às vezes, dos lábios; asáreas flexoras são acometidas, ocorrendoespessamento e <strong>de</strong>scamação <strong>de</strong> palmas <strong>de</strong> mãose plantas <strong>de</strong> pés. 6,7,8Os autores relatam a seguir um <strong>caso</strong> <strong>de</strong>ictiose congênita com evolução clínica favoráveldiante do início precoce do tratamento.Relato do <strong>caso</strong>Recém-nascido do sexo feminino, corbranca, nascida <strong>de</strong> parto vaginal, a termo, jáapresentando lesões <strong>de</strong> pele com <strong>de</strong>scamaçãoexcessiva ao nascimento. Pesou 2.520 gramas,mediu 48 cm <strong>de</strong> comprimento e 32 cm <strong>de</strong>perímetro cefálico, Apgar 8/9, sem necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> manobras <strong>de</strong> reanimação. O parto ocorreuem ambiente hospitalar, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maués(AM).No primeiro dia <strong>de</strong> vida, o RN foi transferidopara a Maternida<strong>de</strong> Ana Braga, consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>referência na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus (AM), on<strong>de</strong>ficou internado por 14 dias na unida<strong>de</strong> neonatal.À admissão, apresentava placas laminares<strong>de</strong>scamativas generalizadas, além <strong>de</strong> fissurasextensas e membrana endurecida (carapaça)em todo o corpo. Tendo como hipótese fetoArlequim (Figuras 1-A).Figura 01-A: Pele endurcida com rachaduras <strong>de</strong>ixandoáreas avermelhadas com exposição da<strong>de</strong>rmeFigura 01-B:Ectrópio e EclábioA mãe tinha 26 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, primigesta,realizou seis consultas <strong>de</strong> pré-natal, comsorologias negativas para HIV, Sífilis eToxoplasmose; e USG obstétrico que mostravagestação tópica <strong>de</strong> 34 semanas, sem nenhumaalteração. Pai com 22 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ambossaudáveis e sem patologia semelhante nafamília. Ambos, primos em segundo grau.No segundo dia <strong>de</strong> vida, apresentavaectrópio e eclábio (Figura 1-B), além <strong>de</strong><strong>de</strong>scamação progressiva da pele com<strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> queratina,<strong>de</strong>ixando áreas avermelhadas e pele lisasubjacente; iniciou com quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfortorespiratório mo<strong>de</strong>rado necessitando <strong>de</strong>oxigenioterapia com baixas frações <strong>de</strong> oxigêniopor três dias. Foi internada na unida<strong>de</strong> neonatal,mantida em incubadora aquecida e umidificada,recebendo leite materno via sonda orogástrica<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia <strong>de</strong> internação.No tratamento foi utilizado colírio<strong>de</strong> metilcelulose para lubrificação ocular,analgesia com dipirona e tramal, usoucreme lanette com ureia a 10% para ocorpo. Apesar dos exames laboratoriais nãoapresentarem um padrão infeccioso, foiiniciada a antibioticoterapia como profilaxia<strong>de</strong> infecções secundárias com ampicilina egentaminica endovenoso por sete dias.Com nove dias <strong>de</strong> vida já estava com o72revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Cor<strong>de</strong>iro et alestado geral melhor, sugando o seio maternoem livre <strong>de</strong>manda, com melhora expressivado ectrópio e eclábio. Recebeu alta hospitalarcom 14 dias <strong>de</strong> vida. Atualmente está comseis meses e em acompanhamento noambulatório do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio<strong>Vargas</strong>, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Manaus, com lesões<strong>de</strong>rmatológicas em franca regressão e semsequelas (Figura 2-A). Mantém aleitamentomaterno exclusivo, fazendo uso somente <strong>de</strong>creme <strong>de</strong> ureia a 10% e sabonete <strong>de</strong> glicerina(Figura 2-B).Figura 02-A: Lesões Dermatológicas em franca regressão.Figura 02-B: Lactente em acompanhamento ambulatorialsem sequelas.DiscussãoA ictiose congênita é uma condiçãorara, autossômica recessiva, caracterizadapor queratinização <strong>de</strong>feituosa e <strong>de</strong>scamaçãoda epi<strong>de</strong>rme. 5,9,10 Está habitualmenteassociada com <strong>de</strong>feito no transporte <strong>de</strong>lipí<strong>de</strong>os intracelulares que levam a formação<strong>de</strong> grânulos lamelares anormais que sãosecretados na epi<strong>de</strong>rme e <strong>de</strong>terminam oaparecimento <strong>de</strong> escamas hiperceratósicasespinhosas. 5,11O diagnóstico ao nascer éeminentemente clínico, não necessitando <strong>de</strong>exames laboratoriais sofisticados. Durante operíodo gestacional, o encontro da cavida<strong>de</strong>oral, hipoplasia nasal, orelhas rudimentares,massas císticas na região da órbita, mãos fixasou em garras, placas da pele do feto e restriçãoaos movimentos do feto ao ultrassom po<strong>de</strong>msugerir o diagnóstico <strong>de</strong> ictiose arlequim. 12 Odiagnóstico po<strong>de</strong> ser confirmado por biópsiada pele do feto entre 21 e 23 semanas<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> gestacional. 13 Nessa época, asanormalida<strong>de</strong>s características da pele jáestão presentes no feto. 13 O aconselhamentogenético é fundamental para familiares <strong>de</strong>recém-nascidos acometidos pela doença.Normalmente pais que já tiveram um filhocom ictiose congênita correm o risco <strong>de</strong> 25%em cada gestação. 14No feto humano, a cornificação dapele inicia por volta <strong>de</strong> 14 a 16 semanas<strong>de</strong> gestação. A microscopia óptica mostrahiperceratose com hipertrofia da camadacórnea medindo até <strong>de</strong>z vezes em relação àespessura normal. 15 Nesse <strong>caso</strong> foi realizadobiópsia <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> pele (coxas direitae esquerda) que exibiu hiperceratosecompacta, com perda do padrão normal,sem núcleos paraceratóticos e <strong>de</strong>rme comdiscreto infiltrado inflamatório, compatívelcom ictiose.Apesar do tratamento especializado,o óbito é muito frequente nas primeirassemanas <strong>de</strong> vida em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> infecçãoda corrente sanguínea após colonizaçãocutânea, 2 mas alguns sobrevivem comcuidados clínicos apropriados, como no <strong>caso</strong>em questão.Ao nascer, normalmente o recémnascidoapresenta uma aparência bemcaracterística com a pele muito espessada,com a coloração esbranquiçada, semelhanteà armadura, atravessada por sulcos vermelhose profundos, muitas vezes retratando oformato <strong>de</strong> um losango bem parecido comum traje <strong>de</strong> arlequim. 16,17 Parece estarenvolto em uma membrana apergaminhada,que permite pouco movimento e mantém osmembros semiflexionados. 6,7,9 No <strong>caso</strong> emquestão, além da limitação aos movimentos,foi observada restrição na expansibilida<strong>de</strong>da caixa torácica, com surgimento <strong>de</strong><strong>de</strong>sconforto respiratório, o que levou ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oxigenioterapia.Anomalias faciais bilaterais po<strong>de</strong>m73revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


ICTIOSE CONGÊNITA: A PROPÓSITO DE UM CASOestar presentes, tais como ectrópio (eversãodas pálpebras com oclusão total dos olhos)e eclábio (eversão dos lábios), ausência<strong>de</strong> orelha externa e hipoplasia nasal. 12 No<strong>caso</strong> em questão, foi observado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> onascimento o ectrópio e o eclábio. A bocaficava permanentemente aberta levando adificulda<strong>de</strong> para sugar o seio materno.O prognóstico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da presença <strong>de</strong>complicações. A sobrevivência <strong>de</strong> criançasque nasceram com essa condição temmelhorado bastante ao longo dos anos, masainda são uma importante causa <strong>de</strong> óbito noperíodo neonatal por sepse. 2,3,13 Após a altahospitalar, o médico da atenção primária<strong>de</strong>ve acompanhar atentamente as criançasem relação ao crescimento e <strong>de</strong>senvolvimentoda pele.A prevenção das complicaçõessecundárias é <strong>de</strong> extrema importância.Diversas medidas, tais como a prevenção<strong>de</strong> infecção e <strong>de</strong>sidratação, juntamentecom a manutenção da temperatura corporal<strong>de</strong>vem ser a<strong>de</strong>quadas. 18 O uso <strong>de</strong> cremesserve para manter a integrida<strong>de</strong> da pele, atextura e o estado <strong>de</strong> hidratação. Os agentesqueratolíticos irão promover um peeelingcom o a<strong>de</strong>lgaçamento do estrato córneo. Alubrificação da córnea em <strong>caso</strong>s com ectrópioé importante na prevenção da cegueira. 12,13 Oganho <strong>de</strong> peso e a ingestão <strong>de</strong> líquidos <strong>de</strong>vemser monitorizados cuidadosamente durantetoda a internação, em função dos riscos <strong>de</strong><strong>de</strong>sidratação por perdas aumentadas pela viacutânea. 18Por fim, ressalta-se a importância<strong>de</strong> uma abordagem multidisciplinar 13,18 naunida<strong>de</strong> neonatal, como ponto <strong>de</strong> partidapara a evolução favorável, com pouca ounenhuma complicação, que po<strong>de</strong>rá não sóprolongar a sobrevivência, mas tambémmelhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do recémnascido.Referências1. Brito, MSA; Figueiroa, F. Evaluation ofthe si<strong>de</strong> effects of acitretin on childrenwith ichthyosis: a one-year study. An BrasDermatol., 2004, mai-jun; 79(3):283-8.2. Ceccon, Maria Esther R. Jurfest et. al.Ictiose Congênita. Instituto da CriançaProfessor Pedro <strong>de</strong> Alcântara do HC da FMUSP –Departamento <strong>de</strong> Pediatria da FMUSP. ArtigosEspeciais. São Paulo: Pediatria, 16(3):115-119, 1994.3. Digiovanna, J. Ichthyosis – Etiology,Diagnosis, and Management. Am J ClinDermatol, 2003; 4(2):81-95.4. Freedberg, I. Dermatology in GeneralMedicine. 6 th ed., McGraw-Hill, 2003.5. Kelsell, DP; Norgett, EE; Unsworth, H;The, MT; Cullup, T; Mein, CA et. al. Mutationsin ABCA12 un<strong>de</strong>rlie the severe congenitalskin disease harlequin ichthyosis. Am J HumGenet, 2005; 76:794-803.6. Okulicz, JF; Schwartz, RA; Hereditaryand acquired ichthyosis vulgaris. Int SocDermatol, 2003; 42:95-8.7. Smith, FJ; Irvine, AD; Terron-Kwiatkowski,A; Sandilands, A; Campbell, LE; Zhao, Y etal. Loss-of-function mutations in the geneencoding filaggrin cause ichthyosis vulgaris.Nat Genet., 2006; 38:337-42.8. Schwartz, RA; Williams, ML. Acquiredichthyosis: a marker for internal disease. AmFam Physician, 1984; 29:181-4.9. Sakai, K et. al. Localization of ABCA12from Golgi apparatus to lamellar granules inhuman upper epi<strong>de</strong>rmal keratinocytes. ExpDermatol, 2007; 16(11):920-926.10. Milner, ME, O’Guin, WM; Hilbrook, KA;Dale, BA. Abnormal lamellar granules inharlequin’s ichthyosis. J Invest Dermatol,1992; 99:824-829.11. Akiyama M et al. Mutations in ABCA12 inharlequin ichthyosis and functional rescue bycorrective gene transfer. J Clin Invest, 2005;115:1.777-84.12. Chany, YC; Tay, YK; Tan, LK; Happle, R;74revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


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INSUFICIÊNCIA MITRAL POR RUPTURA DECORDOALHAS TENDÍNEAS: RELATO DE CASOE REVISÃO DE LITERATURAMitral regurgitation by disruption of chordae tendineae: a case report and updatethe topicJosé Ricardo Ferreira*, Brena Ferreira*, Ziza Sakamoto*, Yanna Pontes Prado*, Marlúcia Nobre***Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Clínica Médica do HUGV**Preceptora titular <strong>de</strong> Cardiologia do HUGVRESUMOA ruptura <strong>de</strong> cordoalhas tendíneas representa hoje a causa mais comum <strong>de</strong> regurgitaçãopura e consequente insuficiência mitral em países <strong>de</strong>senvolvidos, sendo responsável pormais <strong>de</strong> 90% dos <strong>caso</strong>s agudos. A maioria dos pacientes portadores <strong>de</strong> insuficiência mitralaguda (IMA) necessita <strong>de</strong> tratamento cirúrgico no prazo <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> instalação da doença,já que se apresenta com insuficiência cardíaca congestiva (ICC) rapidamente progressivae elevação da pressão capilar pulmonar. Relatamos um <strong>caso</strong> que enfatiza a necessida<strong>de</strong> daintervenção cirúrgica precoce e que <strong>de</strong>monstra a imediata melhora clínica do paciente apóso procedimento.Palavras-chave: Insuficiência Mitral; Ruptura <strong>de</strong> Cordoalhas Tendíneas; InsuficiênciaCardíaca.ABSTRACTRupture of chordae tendineae represents today the most common cause of pure mitralregurgitation in <strong>de</strong>veloped countries, accounting for more than 90% of acute cases. Mostpatients with acute mitral insufficiency (IMA) require surgical treatment within 1 year ofonset of the disease, since it is present with congestive heart failure (CHF) and rapidlyprogressive elevation of pulmonary capillary pressure. We report a case that emphasizes theneed for early surgical intervention and that <strong>de</strong>monstrates the patient’s immediate clinicalimprovement after the procedure.KeyWords: Mitral regurgitation; Rupture Of Chordae Tendineae; Heart Failure.77revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


INSULFICIÊNCIA MITRAL POR RUPTURA DE CORDOALHAS TENDÍNEAS:RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURAIntroduçãoA insuficiência mitral po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>forma aguda pelo comprometimento <strong>de</strong> umaou várias estruturas que compõem o aparelhovalvar mitral, quais sejam as cúspi<strong>de</strong>s, ascordoalhas tendíneas, os músculos papilares,o anel fibroso e as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustentaçãoatrial e ventricular. 1A ruptura <strong>de</strong> cordoalha com consequentefalha na coaptação dos folhetos representahoje a causa mais comum <strong>de</strong> regurgitaçãomitral pura em países <strong>de</strong>senvolvidos, sendoresponsável por mais <strong>de</strong> 90% dos <strong>caso</strong>sagudos, dos quais 60% não apresentam fatoresetiológicos preexistentes. 2,1 A etiologia maisfrequente é a <strong>de</strong>generação mixomatosa, 3seguindo-se a endocardite e a doençacoronária.Para a investigação <strong>de</strong> ruptura<strong>de</strong> cordoalhas o ecocardiograma é umaimportante ferramenta diagnóstica, sendoque o ecocardiograma transesofágico(ETE) se mostra mais sensível e específicono diagnóstico do que o ecocardiogramatranstorácico (ETT), pois permite uma melhorexploração da cavida<strong>de</strong> atrial e da estruturado aparelho valvar.A indicação precoce do tratamentocirúrgico é imperativa nessa patologia, poisos mecanismos compensatórios tradicionaisda insuficiência cardíaca vão sofrendo umrápido <strong>de</strong>clínio.O objetivo <strong>de</strong>ste <strong>relato</strong> é justamente<strong>de</strong>monstrar que a indicação e realizaçãoprecoce do procedimento cirúrgico nainsuficiência cardíaca aguda por ruptura <strong>de</strong>cordoalhas tendíneas é crucial na melhoraclínica e no prognóstico do paciente.Relato do <strong>caso</strong>Paciente do sexo masculino, <strong>de</strong> 52anos, natural <strong>de</strong> Manaquiri, Estado doAmazonas, iniciou havia três meses <strong>de</strong> formasúbita, dispneia aos pequenos esforços,ortopneia, dispneia paroxística noturna ee<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> membros inferiores. Foi admitidono <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>,sendo feito tratamento clínico com Diurético(Furosemida), Inibidor da ECA (captopril) eBetabloqueador (atenolol), com melhoraparcial dos sintomas, mas no <strong>de</strong>correr dainternação apresentou piora do quadro,tendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> otimização da terapiapara controle da dispneia e ortopneia. Aoexame físico apresentava regular estadogeral, pali<strong>de</strong>z cutânea ++/4+, e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong>membros inferiores ++/++++, taquipneicoe taquicárdico. Ao exame cardiovascular,apresentava RCR 3T B3, M1 hipofonética,P2>A2, sopro holossistólico +++/++++ emfoco mitral com irradiação para regiãoaxilar esquerda e foco tricúspi<strong>de</strong>, soprositólico em foco tricúspi<strong>de</strong> com manobra <strong>de</strong>Riveiro Carvalho positiva. Turgência jugularmo<strong>de</strong>rada a 60 graus. Na ausculta pulmonarapresentava estertores crepitantes na basedireita. Abdome flácido, fígado há 6 cmRCD. Foi realizada Radiografia <strong>de</strong> tórax,Eletrocardiograma (ECG), ETT (Figuras 1, 2 e3) e solicitado Cineangiocoronariografia. Naradiografia do tórax foi visualizado aumentoda área cardíaca e congestão em base direita.No ECG foi evi<strong>de</strong>nciada uma taquicardiasinusal e sobrecarga atrial esquerda.No ETT se observou uma regurgitaçãomitral importante, ruptura <strong>de</strong> cordoalhatendinosa <strong>de</strong> 1. o grau com prolapso <strong>de</strong> folhetoposterior da valva mitral, insuficiênciatricúspi<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada e hipertensão pulmonar<strong>de</strong> grau mo<strong>de</strong>rado. Pela faixa etária, foisubmetido a estudo hemodinâmico, quemostrou coronárias normais.Após a realização dos examescomplementares, o paciente foi entãoencaminhado para o procedimento cirúrgico(troca valvar com implante <strong>de</strong> bioprótesemitral e plastia <strong>de</strong> tricúspi<strong>de</strong>).Já no pós-operatório imediato, opaciente obteve melhora parcial dos78revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Ferreira et alsintomas, sendo suspensas gradualmenteas medicações para insuficiência cardíaca.Após um mês da realização do procedimentoo paciente encontrava-se clinicamenteassintomático, com melhora do padrãoradiológico, <strong>de</strong>monstrado pela reduçãoda área cardíaca e ausência <strong>de</strong> infiltradopulmonar. No ETT foi evi<strong>de</strong>nciado regressãono tamanho da área cardíaca e melhora nafração <strong>de</strong> ejeção.DiscussãoA ruptura <strong>de</strong> cordoalha tendínea da valvamitral foi <strong>de</strong>scrita em 1806, 3 porém apenasrecentemente sua frequência, como causa<strong>de</strong> doença valvar mitral, tem sido apreciada.O estudo ecodopplercardiográfico realizadoprecocemente é imperativo, pois <strong>de</strong>fine oestado anatômico e funcional da valva mitrale das câmaras esquerdas, fornecendo umaorientação terapêutica e prognóstico. 1O folheto posterior é frequentemente omais acometido, com estudos <strong>de</strong>monstrandoseu acometimento em até 83% dos <strong>caso</strong>s. 3,6,7 Aimensa maioria dos pacientes portadores <strong>de</strong>insuficiência mitral aguda (IMA) por ruptura<strong>de</strong> cordoalhas necessita <strong>de</strong> tratamentocirúrgico <strong>de</strong> imediato.Esses pacientes tipicamente seapresentam em insuficiência cardíacacongestiva (ICC) rapidamente progressiva eelevação da pressão capilar pulmonar comonda “v” elevada, requerendo intervençãocirúrgica precoce. 5 Ocasionalmente,porém, a ruptura po<strong>de</strong> não se associar auma <strong>de</strong>terioração hemodinamicamentesignificativa, pelo menos inicialmente, o quepo<strong>de</strong> ser atribuído ao grau <strong>de</strong> regurgitaçãomitral que, por sua vez, é influenciadopor fatores como posição, localização enúmero <strong>de</strong> cordas rotas, processo patológicosubjacente, complacência do AE e funçãosistólica do ventrículo esquerdo (VE). 9Tal <strong>caso</strong> caracteriza justamente essa<strong>de</strong>terioração hemodinâmica significativa,já que os mecanismos compensatóriosda ICC (aumento da frequência cardíaca,hipertrofia ventricular esquerda, aumento dacontratilida<strong>de</strong> dos miócitos remanescentes,dilatação ventricular e hipervolemia<strong>de</strong>corrente da retenção <strong>de</strong> sódio e águapelos rins) foram rapidamente se tornandoineficazes, levando o paciente à piora dossintomas e instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica,<strong>de</strong>monstrando que é imperativa a cirurgiaprecoce nesses <strong>caso</strong>s.Após o tratamento cirúrgico, o pacienteem questão teve uma evolução clínicae radiológica progressivamente melhor,chegando a um estágio caracterizado porausência total <strong>de</strong> sintomas e regressão <strong>de</strong>alterações estruturais observados no ETT.ConclusãoEsse <strong>caso</strong> é característico <strong>de</strong> um quadro<strong>de</strong> insuficiência mitral aguda por ruptura<strong>de</strong> cordoalhas tendíneas, e <strong>de</strong>monstra <strong>de</strong>maneira clara a consolidação do tratamentocirúrgico precoce como a terapêutica <strong>de</strong>escolha para a patologia. Tal fato se traduzna apresentação <strong>de</strong> resultados imediatos eduradouros, o que possibilita ao pacienteuma rápida recuperação da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidaprévia, sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapias clínicaspaliativas frustas ou estendidas.Referências1. Braunwald, E. Mitral regurgitation:Physiologic, clinical and surgicalconsi<strong>de</strong>rations. New Eng J Med., 1969; 281-425.2. Himelman, RB; Kusumoto, F; Oken, K et.al. The flail mitral valve: echocardiographicfindings by precordial and transesophagealimaging and doppler color flow mapping. JAm Coll Cardiol., 1991; 1:272-9.79revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


INSULFICIÊNCIA MITRAL POR RUPTURA DE CORDOALHAS TENDÍNEAS:RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA3. Pearson, AC; Vrain, JC; Mrosek, D; Labovitz,AJ. Color Doppler echocardiographicevaluation of patients with a flail mitralleaftlet. J Am Coll Cardiol., 1990; 1:232-9.4. San<strong>de</strong>rs, CA; Austen, WG; Harthorne, JW;Dinsmore, RE; Scanell, JG. Clinical outcomeof mitral regurgitation due to flail leaflet. NEngl J Med., 1967; 276:943-9.5. Caldas S et. al. Diagnóstico e evolução dafalência <strong>de</strong> valva mitral. Arq Bras Cardiol.,1998; 71(6):763-767.6. Ling, LH; Enriquez-Sarano, M; Seward,JB et. al. Clinical outcome of mitralregurgitation due to flail leaflet. N Engl JMed., 1996; 335:1.417-23.7. Sweatman, T; Selzer, A; Kamagaki, M;Cohn, K. Echocardiographic diagnosis ofmitral regurgitation due to ruptured chordaetendineae. Circulation., 1972; 46:580-6.8. Leal, JC; Gregori, JR; Galina, LE;Thevenard, RS; Braile, DM. Avaliaçãoecocardiográfica em pacientes submetidos àsubstituição <strong>de</strong> cordas tendíneas rotas. RevBras Cir Cardiovasc., 2007; 22(2):184-91.9. Depace, NL; Minitz, GR; Ren, JF et. al.Diagnosis and surgical treatment of mitralregurgitation secondary to ruptured chordaetendineae. Am J Cardiol., 1983; 52:789-95.FigurasFigura 1 – Radiografia <strong>de</strong> tórax em posteroanteriorFigura 2 – Eletrocardiograma mostrando taquicardia sinusal esobrecarga atrial esquerdaFigura 3 – Ecocardiograma com Doppler mostrando regurgitaçãomitral importante80revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


DISPLASIA TANATOFÓRICA: RELATO DE CASOThanatophoric Dysplasia: A Case ReportLuciana G. Siqueira*, Michelle A. Hatcher*** Docente <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Criança da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Amazonas** Resi<strong>de</strong>nte em Pediatria da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do AmazonasRESUMOA Displasia Tanatofórica (DT) é rara e ocorre em aproximadamente um em cada 33,330a 47,620 nascidos vivos. 1 A DT é uma doença condroplásica esquelética caracterizada pormembros superiores e inferiores extremamente diminuídos e quantida<strong>de</strong> excessiva <strong>de</strong> peleem dobras <strong>de</strong> pernas e braços, entre outras características. A sobrevida nesses pacientes érara após o período neonatal. Neste trabalho, relatamos o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> dois anose sete meses com displasia tanatofórica.Palavras-chave: Displasia Tanatofórica; Acondroplasia; Genética.ABSTRACTThanatophoric Dysplasia is rare occurring in approximately one out of 33,330 to47,620 live births. 1 Thanatophoric dysplasia is a skeletal disease characterized by extremelysmall superior and inferior limbs and excessive skin on leg and arm curves, amongst othercharacteristics. Survival of these patients is rare after the neonatal period. In this study, wereport a case of thanatophoric dysplasia in a child two years and seven months old.Key-words: Thanatophoric Dysplasia; Achondroplasia; Genetic.81revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


DISPLASIA TANAFÓRICA: RELATO DE CASOIntroduçãoA Displasia tanatofórica (DT) é umadoença esquelética com alta taxa <strong>de</strong>mortalida<strong>de</strong> no período neonatal. 1,2 A DT écausada mutações <strong>de</strong> novo no gene FGFR. 3,4A mutação gênica se expressa nosindivíduos por meio <strong>de</strong> anomalias do tipohipo<strong>de</strong>senvolvimento pulmonar, tóraxestreito, membros superiores e inferioresextremamente diminuídos, quantida<strong>de</strong>excessiva <strong>de</strong> pele em dobras <strong>de</strong> pernas ebraços, costelas encurtadas, macrocefalia,fontanela anterior alargada, rebaixamento<strong>de</strong> ponte nasal e hipotonia. 5,6,7Raros <strong>caso</strong>s acima <strong>de</strong> um ano têm sido<strong>de</strong>scritos. Mcdonald et. al. <strong>de</strong>screveram dois<strong>caso</strong>s <strong>de</strong> crianças acima <strong>de</strong> três anos em 1989.Ambas necessitaram <strong>de</strong> suporte ventilatórioa partir dos primeiros dois meses <strong>de</strong> vida.Há um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> criança do sexo masculino<strong>de</strong>scrito com sobrevida até os 17 anos,também com suporte ventilatório precoce. 9A maioria dos pacientes nascidos vivos evoluipara um quadro clínico <strong>de</strong> insuficiênciarespiratória e morte nas primeiras horas <strong>de</strong>vida. Relatamos o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong>dois anos e meio, que sobreviveu ao primeiroano e meio <strong>de</strong> vida sem assistência médicaintensiva.proporção toraco-abdominal em forma<strong>de</strong> sino, abaulamento abdominal, membrossuperiores e inferiores curtos, quantida<strong>de</strong>excessiva <strong>de</strong> pele em dobras <strong>de</strong> pernas e braços.Os exames radiológicos evi<strong>de</strong>nciarammacrocrania em forma <strong>de</strong> trevo (Figura 3),membros superiores curtos com ossos longos,largos e encurvados, arcos costais curtos,coluna espinhal com platispondilia (corposvertebrais achatados), pélvis pequena, ossosfemorais em forma <strong>de</strong> telefone. A TC <strong>de</strong> crânionão apresentou sinais <strong>de</strong> hidrocefalia, EEG semanormalida<strong>de</strong>s.O RN chorou ao nascer, porém evoluiucom insuficiência respiratória nas primeirashoras <strong>de</strong> vida, necessitando <strong>de</strong> ventilaçãomotora assistida. A paciente permaneceu trêsmeses em cuidados intensivos apresentandomelhora do quadro respiratório, progredindopara respiração em ar ambiente. Permaneceuinternada por mais um mês em ar ambienterecebendo alta com melhora clínica. Dos quatromeses até um ano e meio <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> a paciente nãoapresentou internações ou intercorrências. Alémdisso, também não apresentou hidrocefalia,patologias renais, convulsões ou necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>suporte ventilatório.Após a realização <strong>de</strong> estudos genéticosmoleculares, foi confirmada a mutação no geneFGFR3 e o diagnóstico <strong>de</strong> displasia tanatofórica.Relato do <strong>caso</strong>DiscussãoRN, sexo feminino, nascida com 39semanas, mãe primípara, parto cesariano,peso 2,825 kg, 35 cm comprimento, PC = 39cm. Gestação com presença <strong>de</strong> oligodrâmnio,com ultrassom <strong>de</strong> 28 semanas, apresentandoacondroplasia.No exame pós-natal o pacienteapresentava macrocrania, fontanela anterioraumentada, testa larga e proeminente,espaçamento aumentado entre os olhos,olhos levemente proptóticos, ponte nasalrebaixada, face achatada, tórax estreito,O diagnóstico da displasia tanatofórica ébaseado no exame físico e estudos radiológicos,e po<strong>de</strong> ser confirmado com estudos genéticosmoleculares do FGFR3. 1,2,9 A DT é uma doençaautossômica dominante causada por mutações<strong>de</strong> novo no gene FGFR3, 3 responsável pelacodificação da proteína receptora do fator <strong>de</strong>crescimento fibroblástico 3, que atua comocontrarregulador do crescimento endocondraldo osso na condrogênese e ontogênese. 4 O geneFGFR3 tem sua localização no lócus cromossomal4p16.3. 5 Mutações <strong>de</strong> novo ocorrem em famílias82revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Siqueira et alsem história prévia <strong>de</strong> mutações similares. Amaioria dos indivíduos portadores da doençanão sobrevive até a ida<strong>de</strong> adulta, minimizandoos riscos <strong>de</strong> recorrência.Existem duas formas <strong>de</strong> displasiatanatofórica: tipo I e tipo II. O tipo 1 tem apresença <strong>de</strong> ossos da coxa curvados e curtos(micromelia) e algumas variações rarasapresentando crânio em forma <strong>de</strong> trevo. O tipoII é caracterizado por ossos da coxa estreitos eanormalida<strong>de</strong>s cranianas em formato <strong>de</strong> trevoque variam <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada a severa. 9,10No <strong>caso</strong> <strong>de</strong>ste estudo, a pacienteapresentou DT tipo I, com características<strong>de</strong> fêmur em formato <strong>de</strong> “telefone”, o maisfrequente dos tipos <strong>de</strong> displasia tanatofórica(Figura 2). O diagnóstico sugestivo <strong>de</strong>acondroplasia foi feito no período neonatalpor ultrassom, e o diagnóstico <strong>de</strong> DisplasiaTanatofórica especificado no período pósnatalpor meio do exame físico e evidênciasradiológicas.Os achados radiográficos na DT evi<strong>de</strong>nciamencurtamento rizomélico dos ossos longos,achatamento <strong>de</strong> vértebras (platispondilia) eforâmen magno pequeno. Alguns pacientesapresentam compressão do tronco encefálico,malformações do lobo temporal, hidrocefalia ehipoplasia do tronco encefálico. 7,11 Pacientes comDT também po<strong>de</strong>m apresentar anormalida<strong>de</strong>scardíacas como ductus arterioso patente e<strong>de</strong>feito do septo atrial, anormalida<strong>de</strong>s renais,síndromes convulsivas e hipotonia. 9A criança do nosso estudo não apresentoucrises convulsivas, hidrocefalia, malformaçõesrenais ou cardíacas e, ao contrário da maioriados pacientes, teve ótima evolução pós-natal,enfatizando que no primeiro ano <strong>de</strong> vida nãonecessitou assistência respiratória.A paciente evoluiu com insuficiênciarespiratória apenas com um ano e seismeses <strong>de</strong> vida em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> umapneumonia aspirativa. Pacientes com DT têmhipo<strong>de</strong>senvolvimento pulmonar e estreitamento<strong>de</strong> costelas, o que impe<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada expansão erecuperação pulmonar. Até o presente momentoa criança permanece em cuidados intensivos ecom o auxílio <strong>de</strong> ventilação motora.Referências1. Waller, DK; Correa, A; Vo, TM; Wang, Y;Hobbs, C; Langlois, PH et. al. The populationbasedprevalence of achondroplasia andthanatophoric dysplasia in selected regionsof the US. Am J Med Genet A, 2008, Sep 15;146A(18):2.385-9.2. Galvão, HCR; Silva, VSX; Ordones, MB;Amaral, TDN; Campos, AS; Aguiar, RALP et.al. Displasias Ósseas Letais em <strong>Hospital</strong>Universitário <strong>de</strong> Minas Gerais (HU-UFMG). In:Anais do XXII Congresso Brasileiro <strong>de</strong> GenéticaMédica, 2010, Salvador. Salvador: Socieda<strong>de</strong>Brasileira <strong>de</strong> Triagem Neonatal, 2010.3. Bellus, GA; Spector, EB; Speiser, PW; Weaver,CA; Garber, AT; Bryke, CR et. al. Al. Distinctmissense mutations of the FGFR3 lys650 codonmodulate receptor kinase activation and theseverity of the skeletal dysplasia phenotype.Am J Hum Genet., 2000; 67:1.411-21.4. Pereira, M. Estudo Molecular emAcondroplasia, Hipocondroplasia e NanismoTanatofórico no Laboratório <strong>de</strong> GenéticaHumana e Médica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>Ribeirão Preto (Tese). São Paulo: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto, 2001.5. Lemyre, E; Azouz, EM; Teebi, AS;Glanc, P; Chen, MF. Bone dysplasia series.Achondroplasia, hypochondroplasia andthanatophoric dysplasia: review and update.Can Assoc Radiol J., 1999; 50:185-97.6. Passos-Bueno, MR; Wilcox, WR; Jabs, EW;Sertie, AL; Alonso, LG; Kitoh, H. Clinicalspectrum of fibroblast growth factor receptormutations. Hum Mutat., 1999; 14:115-25.7. De Biasio, P; Prefumo, F; Baffico, M; Baldi,M; Priolo, M; Lerone, M; Toma, P; Venturini,PL. Sonographic and molecular diagnosis ofthanatophoric dysplasia type I at 18 weeks ofgestation. Prenat Diagn., 2000; 20:835-7.8. MacDonald, IM; Hunter, AG; MacLeod, PM;83revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


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TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVOPERIFÉRICO COM APRESENTAÇÃO CLÍNICANA NASOFARINGE E CAVIDADE ORAL DE UMACRIANÇA: RELATO DE CASOMalignant Peripheral Nerve Sheath Tumor With Clinical Presentation In TheNasopharynge And Oral Cavity Of A Child: Case ReportThais Ditolvo Alves Costa*; Jeanne Lee Oliveira Coutinho**; Jeanna Coutinho***; Lucas Gabriel Inácio Salina***** Médica Resi<strong>de</strong>nte em Pediatria - HUGV/UFAM** Oncopediatra do Serviço <strong>de</strong> Oncologia Pediátrica/FCECON-AM*** Acadêmica <strong>de</strong> Medicina-UFAM****Médico Formado pela UFAMRESUMOTumor maligno da bainha <strong>de</strong> nervo periférico (TMBNP) é um sarcoma <strong>de</strong> célulasfusiformes extremamente raro, constituindo aproximadamente 3 a 10% <strong>de</strong> todos os sarcomas.Ocorre principalmente em adultos na terceira e sexta décadas <strong>de</strong> vida e somente 10-20% sãodiagnosticados nas primeiras duas décadas. Acomete principalmente tronco e raramente aregião da cabeça e pescoço. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi relatar a evolução <strong>de</strong> um TMBNP<strong>de</strong> localização primária <strong>de</strong> nasofaringe com invasão <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong> oral não metastático em umpaciente do sexo feminino, 12 anos, e discutir os achados clínicos e tratamento utilizandorevisão <strong>de</strong> prontuário da paciente e literatura especializada. O diagnóstico <strong>de</strong>finitivo érealizado com histopatológico e imuno-histoquímica, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra positivida<strong>de</strong> para aproteína S-100 em 50 a 70% dos <strong>caso</strong>s e frequente supressão do anticorpo p53. O tratamentobaseia-se em cirurgia com ressecção total e radioterapia no pós-operatório. Quimioterapia ésugerida e po<strong>de</strong> ser efetiva em pacientes com tumor irressecáveis ao diagnóstico. Conclui-seque TMBNP é um tumor agressivo e raro em crianças, existindo pouca informação disponívelsobre o manejo clínico nessa faixa etária.Descritores: Criança; Nasofaringe; Sarcoma.ABSTRACTMalignant peripheral nerve sheath (MPNST) is an extremely rare spindle cell sarcomaconsisting about 3-10% of all soft tissue sarcomas. It occurs mainly in adults of the thirdto sixth <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s of life and only 10-20% are diagnosed in the first two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s. It occursmainly in trunk, head and neck. The aim of this study was to <strong>de</strong>scribe the evolution of aprimary site of MPNST nasopharynx invasion of non-metastatic oral cavity in a 12 years oldfemale patient, and discuss the clinical features and treatment using the patient chartreview and literature. The <strong>de</strong>finitive diagnosis can be achieved by histopathologic andimmunohistochemistry, which shows positivity for S-100 protein in 50 to 70% of cases andfrequent <strong>de</strong>letion of p53 antibody. The treatment relies on surgery with total resection andpostoperative radiotherapy. Chemotherapy is suggested and can be effective in patients85revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO COM A APRESENTAÇÃO CLÍNICA NANASOFARINGE E CAVIDADE ORAL DE UMA CRIANÇA: RELATO DE CASOwith unresectable tumor at diagnosis. We conclu<strong>de</strong> that MPNST is a rare aggressive tumor inchildren, and there is few information available about the clinical management in this agegroup.Keywords: Child; Nasopharynx; Sarcoma.IntroduçãoTumores da bainha <strong>de</strong> nervos periféricospo<strong>de</strong>m ser classificados em benignos emalignos. A categoria benigna inclui neuromatraumático, neurofibroma, neurilemomae neuroma encapsulado paliçado (PEN)enquanto a categoria maligna consiste notumor maligno <strong>de</strong> bainha <strong>de</strong> nervo periférico(TMBNP). 1 TMBNP é uma entida<strong>de</strong> rara quecorrespon<strong>de</strong> a 5-10% dos sarcomas e surgeprincipalmente no tronco (50%), seguidopelas extremida<strong>de</strong>s (30%) e região <strong>de</strong> cabeçae pescoço (20%). 1,5 Ocorre principalmente emadultos e apenas 10 a 20% dos TMBNPs sãodiagnosticados nas duas primeiras décadas<strong>de</strong> vida, entretanto representam um dosmais frequentes não rabdomiossarcomas emida<strong>de</strong> pediátrica. 4 Existe pouca informaçãodisponível sobre o manejo clínico <strong>de</strong>ssaneoplasia, particularmente em pacientespediátricos. 4Relato do <strong>caso</strong>O presente <strong>caso</strong> refere-se a um pacientedo sexo feminino, 12 anos, parda, natural <strong>de</strong>Borba e proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Nova Olinda do Norte(Amazonas/Brasil), que apresentou umalesão expansiva no palato, com evolução<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> três meses associada dispneia,epistaxe e obstrução nasal. O exame físicorevelou uma massa na topografia da maxilaque ocupava aproximadamente dois terçosdo palato duro e palato mole medindo perto<strong>de</strong> 2 x 2 cm 2 e linfa<strong>de</strong>nopatia cervical emnível II à esquerda (Figura 1).Figura 1 – Massa em topografia da maxila, ocupandoaproximadamente dois terços do palato duroFoi realizada tomografiacomputadorizada <strong>de</strong> face revelando uma lesãoexpansiva heterogênea, com realce irregularpelo meio <strong>de</strong> contraste, mal <strong>de</strong>finida, <strong>de</strong>localização posterior interessando a porçãoesquerda da cavida<strong>de</strong> nasal, esten<strong>de</strong>ndo-seaté a coana, promovendo a erosão óssea dopalato duro, com um componente <strong>de</strong>ntro dacavida<strong>de</strong> oral; erosão da pare<strong>de</strong> medial eposterior do seio maxilar esquerdo, base doprocesso pterigoi<strong>de</strong> e pterigoi<strong>de</strong>s medial àesquerda, medindo 4,3 x 4,2 x 4,0 cm (Figura2).86revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Costa et alFigura 2 – Tomografia computadorizada revelandolesão expansiva heterogênea em cavida<strong>de</strong> oral enasalFoi realizada uma biópsia incisionalda lesão cujo fragmento <strong>de</strong> examehistopatológico revelou aspecto malignogeralmente fusiformes, com núcleoshipercromáticos, principalmente vesiculosa,pleomorfismo e mitoses atípicas (Figura 3).A imuno-histoquímica revelou positivida<strong>de</strong>para os anticorpos p53 e S100 e negativospara HHF35, <strong>de</strong>smina, SMA e AE1/AE3.Figura 3 – Células com aspecto fusiforme, comnúcleos hipercromáticos, pleomorfismo e mitosesatípicasCom base no perfil morfológico e imunohistoquímico,o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo dalesão foi <strong>de</strong> sarcoma <strong>de</strong> células fusiformescompatível com tumor maligno da bainha<strong>de</strong> nervo periférico. Após todos os examespara o estadiamento, incluindo tomografia<strong>de</strong> tórax, mielograma, biópsia óssea ecintilografia óssea, nenhuma evidência dadoença foi encontrada a distância. Em razãoda irressecabilida<strong>de</strong> da lesão, a paciente foisubmetida à quimioterapia neoadjuvante combase no protocolo POG9553, tendo realizadotrês ciclos <strong>de</strong> quimioterapia com esquema VID:vincristina (1,5 mg/m 2 ), ifosfamida (3 g/m 2 )e doxorrubicina (30 mg/m 2 ). Clinicamente,a paciente apresentou melhora dos sintomasiniciais mantendo lesão irressecável com basena tomografia computadorizada <strong>de</strong> face apóso terceiro ciclo <strong>de</strong> quimioterapia. Optousepor manter o esquema VID até completarseis ciclos, tal como proposto pelo protocoloPOG9553. Após o sexto ciclo <strong>de</strong> quimioterapia,a paciente manteve os resultadostomográficos inalterados <strong>de</strong>cidindo-se poriniciar o tratamento radioterápico. A pacienterecebeu uma dose <strong>de</strong> 5080 cGy, divididas em25 frações, sem resposta satisfatória. Aindamostrando lesão irressecável, optou-se poriniciar o segundo esquema <strong>de</strong> quimioterapiaVP/IFO (vepesi<strong>de</strong> e ifosfamida) com VAC(vincristina, adriamicina e ciclofosfamida)nas respectivas doses: vepesi<strong>de</strong> (150 mg/m 2 );ifosfamida (1.800 mg/m 2 ); vincistina (1,5 mg/m 2 ); adriamicina (25 mg/m 2 ); ciclofosfamida(600 mg/m 2 ).A paciente foi submetida a três ciclos<strong>de</strong>sse regime até ser encaminhada para otratramento fora <strong>de</strong> domicílio (TFD), emSão Paulo/Brasil, para avaliação cirúrgicaretornando com o parecer reiterando airresecabilida<strong>de</strong> da lesão e com a proposta <strong>de</strong>regime quimioterápico alternativo Vincristina(1,5 mg/m 2 ) / Irinotecano (20 mg/m 2 ), doqual recebeu três ciclos sem resposta clínica,evoluindo no terceiro ciclo com neutropeniafebril, choque séptico e óbito.DiscussãoOs tumores malignos da bainha donervo periférico surgem a partir <strong>de</strong> ramosmaiores ou menores <strong>de</strong> nervo periférico oubainha <strong>de</strong> fibras nervosas periféricas. Essestumores po<strong>de</strong>m surgir espontaneamente em87revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO COM A APRESENTAÇÃO CLÍNICA NANASOFARINGE E CAVIDADE ORAL DE UMA CRIANÇA: RELATO DE CASOpacientes adultos embora 5 a 42% dos TMBNPstêm uma associação bem documentada comneurofibromatose tipo I (NF1). 1,9 TMBNPocorre mais comumente em pacientes entre20 e 50 anos e inci<strong>de</strong> em ida<strong>de</strong>s mais jovens nospacientes com NF1. Entre os pacientes comNF1, 4-29% <strong>de</strong>senvolvem TMBNP, geralmenteapós um período <strong>de</strong> latência <strong>de</strong> 10-20 anos. 2,7Nesse <strong>caso</strong>, temos um paciente jovem, semcaracterísticas <strong>de</strong> NF1 que conflita comos principais dados da literatura. 1,9 Outromecanismo envolvido com o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> TMBNP é a radioterapia prévia. 5,10,14Estudo <strong>de</strong>monstra que 10% dos pacientesque receberam radiação para tumores antesnão especificados evoluíram com TMBNP. 10A apresentação clínica é uma massa <strong>de</strong>tecido mole no tronco, extremida<strong>de</strong>s oumais raramente na cabeça e região cervical,com ou sem dor e disestesia. 4,6 Quando otumor aparece em topografia <strong>de</strong> cabeça epescoço, locais frequentes são nasofaringe,seios paranasais, cavida<strong>de</strong> nasal, cavida<strong>de</strong>oral, órbita, nervos cranianos, a laringe,o espaço parafaríngeo ou pterigomaxilar,glândul as salivares menores e na glândulatireoi<strong>de</strong>. 5 Metástases são também comuns(40-80%) por meio <strong>de</strong> extensão direta edisseminação hematogênica perineural. Oslocais mais comuns são o fígado, pulmão emais raramente metástase ganglionares. 2,5Apesar da alta frequência relatada naliteratura, metástases não foram observadasnesse <strong>caso</strong>. O diagnóstico <strong>de</strong>sses tumorespo<strong>de</strong> ser sugerindo por técnicas <strong>de</strong> imagem,cujo aspecto correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong> sarcomas<strong>de</strong> tecidos moles e é útil para avaliação <strong>de</strong>infiltração <strong>de</strong> estruturas ósseas. 2,13O diagnóstico <strong>de</strong>finitivo po<strong>de</strong> serrealizado com a combinação da histopatologiae estudo imuno-histoquímico. 2,6Histologicamente, esses tumores não têmapresentação <strong>de</strong>finida ou clássica aparência.Alguns achados importantes são a presença<strong>de</strong> células fusiformes, com uma alta taxa <strong>de</strong>mitose dispostas em feixes ou fascículos. 5A imuno-histoquímica é importante paraexcluir fibrossarcoma, sarcoma sinoviale histiocitoma fibroso e <strong>de</strong>monstrapositivida<strong>de</strong> S-100 em 50 a 70% dos <strong>caso</strong>s efrequentemente mostra positivida<strong>de</strong> parap53 que se correlaciona com a agressivada<strong>de</strong>do tumor. 2,5,6,9 O painel imuno-histoquímico<strong>de</strong>sse paciente foi compatível com aliteratura. No que se refere ao tratamento<strong>de</strong>sses tumores, a ressecção cirúrgicaradical é a conduta <strong>de</strong> eleição naqueles commargem cirúrgica. 6 TMBNPs são geralmenteconsi<strong>de</strong>rados resistentes à radioterapia e àquimioterapia, entretanto a radioterapiaadjuvante com a dose total <strong>de</strong> pelo menos60Gy tem sido recomendada como parte dotratamento principalmente para aquelesportadores <strong>de</strong> tumores com pior prognóstico(alto grau ou recorrente); entretandoradioterapia adjuvante não tem sido citadacomo um importante fator prognóstico. 2,5,6,7Consi<strong>de</strong>rando que os TMBNPs são integrantesdo grupo dos não rabdomiossarcomas, aquimioterapia, baseada no protocolo POG9553para não rabdomiossarcomas, tem sido<strong>de</strong>scrita pelo Grupo <strong>de</strong> Oncologia Pediátrica(POG) como terapêutica para TMBNPsirressecáveis ou metastáticos ao dignósticoainda com resultados pouco promissoresincluindo: resposta parcial; sem respostae doença estável a <strong>de</strong>speito do regimequimioterápico. 15 No <strong>caso</strong> relatado, o tumorda paciente foi consi<strong>de</strong>rado irressecável<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dignóstico e optado pelo protocoloPOG9553 sem alteração significativa aotérmino <strong>de</strong>le (extensão inalterada do tumor)corroborando com os dados da literatura.O prognóstico em geral é pobre com taxa<strong>de</strong> sobrevida em cinco anos entre 48-50% eelevado risco <strong>de</strong> recorrência 38-45%. 2 Ida<strong>de</strong>acima <strong>de</strong> sete anos, sexo masculino, presença<strong>de</strong> neurofibromatose, localização centrale tumores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões têm sidorelatados como fatores <strong>de</strong> mau prognóstico. 2,6A sobrevida da paciente relatada foi <strong>de</strong>quinze meses provavelmete por conta dos88revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Costa et alfatores <strong>de</strong> mau prognóstico envolvidos com o<strong>caso</strong>, pincipalmente o tamanho da lesão, quea <strong>de</strong>finiu como irressecavél ao diagnósticoe a localização em topografia <strong>de</strong> cabeça epescoco. 2,5,6 Em conclusão, a <strong>de</strong>speito dasmodalida<strong>de</strong>s terapêuticas em vigência,incluindo cirurgia, radioterapia adjuvantee quimioterapia para tumores sem margemcirúrgica e/ou metastáticos, o prognósticodos TMBNPs continua bastante reservadonecessitando ampliação dos conhecimentosterapêuticos provavelmente por meio <strong>de</strong>estudos multicêntricos a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>finirestratégias terapêuticas mais promissoras.Referências1. Salla, J; Johann, A; Garcia, B; Aguiar, M;Mesquita, A. Retrospective analysis of oralperipheral nerve sheath tumors in Brazilians.Braz Oral Res., 2009; 23(1):438.2. Start, A; Buhl, R; Hugo, H; Mehdoorn, H.Malignant Peripheral Nerve Sheath Tumors –Report of 8 Cases and Review of Literature. ActaNeurochirurgia., 2001; 143:357-364.3. Pinedo, R; Rebello, C; Barbosa, L; Bartoline,C; Cintra, L. Malignant Peripheral Nerve SheathTumor of Central Origin: Case Report and Reviewof literature. Brazilian Journal of Oncology.,2001; 47(4):435-39.4. Carli, M; Ferrari, A; Mattke, A; Zanetti,I; Casanova, M; Bisogno, G et. al. PediatricMalignant Peripheral Nerve Sheath Tumor:The Italian and German Soft Tissue SarcomaCooperative Group. Journal of Clinical Oncology.,2005, nov; 23(33):8.422-30.5. Patil, K; Mahima, V; Ambika, L. MalignantPeripheral Nerve Sheath Tumor: An elusivediagnosis. Indian Journal of Dental Research.,2007; 18(1):19-22.6. Kar, M; Deo, S; Shukla, N; Malik, A; DattaGupta,S; Mohanti, B et. al. Malignant Peripheral NerveSheath Tumors (MPNST) – Clinicopathological studand treatment outcome of twenty-four cases.World Journal of Surgical Oncology on line, 2006,ago; (app 8). Available from: http://www.wjso.com/content/4/I/55.7. Bess, N; Mireaux, C; Kiely E. Gastric malignantschwannoma in a chid. The British Journal OfRadiology., 1997, set; (70):952-55.8. Martins, M; Jesus, L; Fernan<strong>de</strong>s, K; Bussarodi, S;Taghloubi, S; Martins, A. Intra-oral shiwannoma:Case report and literature review. Indian Journalof Dental Research., 2009; 20(1):121-25.9. Brent, K; Ogawa, M; David, L; Skaggs, M;Robert, M. Malignant Peripheral Nerve SheathTumor of the Lumbar Spine. American Journal ofOrthopedics., 2009; 38(5):E89-E92.10. Wong, W; Hirose, T; Scheithauer, B; Schild, S;Gun<strong>de</strong>rson, L. Malignant peripheral nerve sheathtumor: analysis of treatment outcome. Int JRadiat Oncol Biol Phys., 1998; 42(2):351-60.11. Coffin, C; Cassity, J; Viskochil, D; Randall,R; Albritton, K. Non-neurogenic sarcomas in fourchildren and young adults with neurofibromatosistype 1. Am J Med Genet A., 2004; 127A(1):40-3.12. Amin, A; Saifuddin, A; Flanagan, A; Patterson,D; Lehovsky, J. Radiotherapyinduced malignantperipheral nerve sheath tumor of the caudaequina. Spine., 2004; 29(21):E506-E509.13. Lesic, A; Bumbasirevic, M; Atkinson, HDE;Maksimovic, R; Sopta, J; Atanackovic, M.Malignant intraosseous peripheral nerve sheathtumour of the proximal femur: a case report.Journal of Orthopaedic Surgery, 2006; 14(1):84-9.14. Okoshi, A; Shiga, K; Sasaki, K; Asada, Y;Nishikawa, H; Kobayashi, T; Watanabe, M.Two cases of radiation-induced sarcoma afterradiation therapy in nasopharyngeal carcinoma.Nippon Jibiinkoka Gakkai Kaiho, 2008, Jul;111(7):533-6.15. Pappo, A; Devidas, M; Jenkis, J; Rao, B;Marcus, R; Thomas, P; Gebhardt, M; Pratt,C; Grier, H. Phase II Trial of NeoadjuvantVincristine, Ifosfami<strong>de</strong>, and Doxorubicin WithGranulocyte Colony-Stimulating Factor Supportin Children and Adolescents With Advanced-Stage Nonrhabdomyosarcomatous Soft TissueSarcomas: A Pediatric Oncology Group Study. JClin Oncol., 2005; 23:4.031-38.89revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


90revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃOINICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINSueli Oliveira Nascimento; Priscila Rosal HonoratoRESUMORelata-se um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> lesão renal aguda causada por infiltração <strong>de</strong> células tumoraisem parênquima renal. A paciente apresentou lesão renal aguda secundária linfoma nãoHodgkin. O diagnóstico foi realizado por biópsia renal percutânea que <strong>de</strong>monstrou infiltraçãodos rins pela neoplasia. Essa causa <strong>de</strong> lesão renal aguda <strong>de</strong>ve ser lembrada em doençaslinfoproliferativa, pois apresenta evolução renal favorável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o diagnóstico etratamento sejam estabelecidos em tempo hábil.Palavras-chave: Lesão Renal Aguda; Linfoma Não Hodgkin; Doença Linfoproliferativa.ABSTRACTAcute kidney injury as initial manifestation of non-Hodgkin lymphoma SummaryWe report a case of acute kidney injury caused by infiltration of tumor cells in the renalparenchyma. The patient <strong>de</strong>veloped acute kidney injury secondary non-Hodgkin lymphoma.The diagnosis was ma<strong>de</strong> by percutaneous renal biopsy which showed infiltration of the kidneytumor. This cause of acute kidney injury must be consi<strong>de</strong>red in lymphoproliferative diseases,as it has favorable renal evolution since the diagnosis and treatment are established in time.Keywords: Acute Kidney Injury; Non-Hodgkin Lymphoma; Lymphoproliferative Disease.91revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃO INICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINA lesão renal aguda (LRA) po<strong>de</strong>ocorrer em 10 a 30% dos <strong>caso</strong>s <strong>de</strong> doençalinfoproliferativa. 1,2 O acometimentorenal dos diferentes tipos <strong>de</strong> linfoma po<strong>de</strong>ocorrer em função do efeito direto dopróprio tumor (trombose venosa, obstruçãoureteral) a manifestações extrarrenais<strong>de</strong>les (hiperparaproteinemia, hemólise,hipercalcemia, hiperuricemia) ou maisraramente ao envolvimento renal primáriopelo tumor.Relato <strong>de</strong> <strong>caso</strong>Paciente do sexo feminino, 37 anos,parda, com quadro clínico evolutivo <strong>de</strong> setedias da data <strong>de</strong> internação hospitalar comfebre, artralgia progressiva <strong>de</strong> pequenase gran<strong>de</strong>s articulações. Acompanhado <strong>de</strong>vômitos, e<strong>de</strong>ma progressivo <strong>de</strong> membrosinferiores evoluindo para anasarca eoligúria. Relatou episódio <strong>de</strong> pancreatiteaguda quatro meses antes da internaçãohospitalar. História familiar negativa paradoença maligna prévia. Admitida no <strong>Hospital</strong>Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong> (HUGV) parainvestigação diagnóstica.Ao exame físico, apresentava-sehipertensa (140/104 mmHg), hipocorada(+2/+4) com restante dos dados vitaisestáveis. Destacavam-se úlcera oral empalato, petéquias em face, tronco e membrosinferiores. Não foram observadas alteraçõesna ausculta cardíaca e pulmonar. Abdomedoloroso à palpação difusa, a presença<strong>de</strong> visceromegalias não foi possível porabundante tecido adiposo. Os pulsos estavampresentes e sem alterações, não sendoevi<strong>de</strong>nciadas a<strong>de</strong>nomegalias periféricas.Os exames laboratoriais revelaram:hemoglobina 10,4 g/dL, hematócrito 29,1%(VCM 87fl), leucócitos 2400, segmentados74%, bastonetes 1%, linfócitos 22,5%,eosinófilos 3%, monócitos 7% e plaquetas63000/mm 3 . Ureia 405 mg/dL, creatinina 9,4mg/dL, potássio 5,2 mEq/L, sódio 137 mEq/L,urina I: pH 5,0, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> 1010, leucócitos:5.000/mL, hemácias: 6.000/mL, ausência <strong>de</strong>cristais e dismorfismo eritrocitário, proteínastotais 6,6 g/dL (albumina sérica 4,13 g/dL),ácido úrico 12,5 mg/dL, glicemia 96 mg/dL, cálcio 10,2 mg/dL, fósforo 6,2 mg/dL,bicarbonato sérico 18 mEq/L, DHL 585 U/L.Volume urinário <strong>de</strong> 400 ml/24h. Não foi feitacoleta proteinúria <strong>de</strong> 24h.Os rins apresentaram-se ao ultrassomrenal tópicos, com discreto aumento daecogenicida<strong>de</strong>, rim direito 12 x 4,9 x 4,8cm e rim esquerdo 11 x 5,1 x 5,3 cm, comausência <strong>de</strong> hidronefrose e litíase renal,relação córtico-medular preservada. Peloquadro <strong>de</strong> LRA, foi submetida à terapia <strong>de</strong>substituição renal (TSR) tipo hemodiálise.Durante a investigação clínica realizou-sebiópsia renal guiada por ecografia <strong>de</strong> rimdireito, com obtenção <strong>de</strong> material paraanálise histopatológica e IF. As lâminas<strong>de</strong>monstravam fragmento córtico-medular <strong>de</strong>rim contendo cinco glomérulos. A histologiaindicou achados morfológicos <strong>de</strong> infiltraçãopor linfoma não Hodgkin (LNH) <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>scélulas. No relatório <strong>de</strong> imunofluorescência,ratificou padrão <strong>de</strong> lesão não imune. Paraavaliação completa do <strong>caso</strong>, realizou-sebiópsia <strong>de</strong> medula óssea com análise imunohistoquímicaconfirmando o diagnóstico<strong>de</strong> linfoma não Hodgkin <strong>de</strong> células T, osmarcadores LCA, CD3 e KI-67 foram positivos,sendo esse presente em 100% das célulasneoplásicas. A pesquisa <strong>de</strong> Epstein Barr,anti-DNA ase, FAN, crioglobulinas, Anca C e P,sorologia para hepatite B, C e HIV tipo I e IIresultou negativa.Evi<strong>de</strong>nciou-se na tomografia <strong>de</strong> tóraxnódulos pulmonares (menores que 5 cm),<strong>de</strong> natureza inespecífica e atelectasias nopulmão direito. E no abdome <strong>de</strong>monstroulinfonodos (medindo 0,8 cm) na ca<strong>de</strong>ia ilíacaesquerda. O estadiamento clínico foi do tipoIV.Houve diminuição da ureia e creatinina,92revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Nascimento et alrecebendo alta da nefrologia após setesessões <strong>de</strong> hemodiálise. Transferida parao Serviço da Hematologia. A pacienteiniciou quimioterapia com esquema Chop(ciclofosfamida, daunorrubicina, vincristinae prednisona).No oitavo dia após o primeiro ciclo daquimioterapia, procurou o serviço <strong>de</strong> urgênciacom quadro <strong>de</strong> febre, dor abdominal ediarreia sanguinolenta. Exames admissionaisevi<strong>de</strong>nciavam leucócitos <strong>de</strong> 800/mm 3 ,segmentados 35%, linfócitos 9%, eosinófilos1%, monócitos 35,9% e plaquetas 77.000/mm 3 ,ureia <strong>de</strong> 235 mg/dl, creatinina <strong>de</strong> 3 mg/dl,potássio 3,3 mEq/L, sódio 130 mEq/L. Evoluiucom sepse foco abdominal, necessitando<strong>de</strong> suporte ventilatório, antibioticoterapia<strong>de</strong> amplo espectro e antifúngico. Os níveis<strong>de</strong> ureia e creatinina retornaram <strong>de</strong>ntrodos limites da normalida<strong>de</strong> após a<strong>de</strong>quadahidratação. Houve piora hemodinâmica eóbito após oito dias.DiscussãoO envolvimento renal é comum empacientes com linfoma sistêmico nãoHodgkin. 3 O linfoma renal representariametástases hematogênicas ou invasão diretado tumor crescendo no espaço perirrenal. 4 Amaioria dos LNHs com acometimento renal sãoagressivos (RICHARDS et. al., 1990). Emboraa evidência clínica <strong>de</strong> envolvimento renalcom linfoma só é visto em 2 a 14% <strong>de</strong> todos ospacientes, uma elevação <strong>de</strong> creatinina séricaé relatada em 26 a 56%. 5 A infiltração do rimpor células malignas ocorre basicamente nointerstício e resulta em atrofia tubular compreservação do glomérulo. 6No <strong>caso</strong> apresentado, a LRA parece tersido originada a partir <strong>de</strong> infiltração <strong>de</strong> célulastumorais, sendo revertida após TSR. Os níveisaumentados <strong>de</strong> ácido úrico e fósforo po<strong>de</strong>mser explicados somente pela perda da funçãorenal. Não havia evidências <strong>de</strong> obstrução dasvias urinárias nos exames ultrassonográficos.Outras causas <strong>de</strong> insuficiência renal foramafastadas pela análise dos dados clínicos elaboratoriais.Entre as séries <strong>de</strong> pacientes publicadasna literatura há prevalência <strong>de</strong> homens commédia etária <strong>de</strong> 48 anos ao diagnóstico, sendoque na maioria dos <strong>caso</strong>s a creatinina séricaao diagnóstico era superior a 3,5 mg/dl. 7A apresentação clínica dos linfomasvaria muito, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo. 8 O quadroclínico da infiltração renal costuma ser, namaioria das vezes, inespecífico. A pacienteapresentou hematúria, hipertensão arteriale anemia <strong>de</strong> doença crônica. A ocorrência<strong>de</strong> lesão renal em pacientes com linfomapo<strong>de</strong> surgir em razão do comprometimentodireto do sistema urinário (obstruçãoureteral ou dos vasos renais, infiltraçãodo parênquima renal, ou ruptura renalou ureteral), a alterações endócrinometabólicas(hipercalemia, secreção <strong>de</strong> PTHsímilee paraproteinemias) ou por efeito dotratamento (nefrite radioativa e síndrome <strong>de</strong>lise tumoral). 9 Em um estudo realizado pelaSchnie<strong>de</strong>rjan e Osunkoya 10 sobre os 40 <strong>caso</strong>s<strong>de</strong> neoplasias linfoi<strong>de</strong>s do trato geniturinário,o local mais comum <strong>de</strong> envolvimento foi orim, predominou linfoma não Hodgkin difuso<strong>de</strong> células B.Apesar dos meios <strong>de</strong> imagem forneceremindícios do diagnóstico, esse só é obtido <strong>de</strong>forma inequívoca por meio da biópsia renal. 11A <strong>de</strong>speito dos significativos avançosno tratamento dos pacientes com linfomaagressivo não Hodgkin, a maioria não écurada com a terapia convencional. 12O relatório atual <strong>de</strong>screve um pacientecom antece<strong>de</strong>nte função renal normal,que <strong>de</strong>senvolveu LRA associada com LNHevoluindo a óbito.Em resumo, apesar da infiltraçãodo parênquima renal por doençaslinfoproliferativas ser pouco investigada, <strong>de</strong>ve93revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃO INICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINser consi<strong>de</strong>rada em pacientes portadores oucom suspeita diagnóstica <strong>de</strong>ssas neoplasias.A importância <strong>de</strong> estabelecer o diagnóstico einstituir o tratamento a<strong>de</strong>quado é enfatizadapela rápida reversão da lesão renal observadano <strong>caso</strong> <strong>de</strong>scrito.Referências1. Richmond, J; Sherman, RS; Diamond, HD;Craver, LF. Renal lesions associated withmalignant lymphoma. Am J Med., 1962;32:184-207.2. Merrill, D; Jackson Jr., H. The renalcomplications of leukemia N Engl J Med.,1943; 228:271-76.3. Arnold S Freedman; Jonathan WFriedberg; Andrew Lister; Rebecca F Connor.Evaluation, staging, and prognosis of non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topiclast updated: September 16, 2010 (More).Disponível em http://www.uptodate.com.Acesso janeiro 2011.4. Carol Pontes <strong>de</strong> Miranda Maranhão; TufikBauab Jr. Linfoma renal: espectro <strong>de</strong> imagensna tomografia computadorizada. RevistaBrasileira <strong>de</strong> Radiologia, 2005; 38(2):133-140.5. Emmanuel <strong>de</strong> A. Burdomann; José MauroV. Júnior; Edivaldo Celso Vidal. Nefropatiatóxica e tubulointersticial. In: Miguel CarlosRiella. Principios <strong>de</strong> nefrologia e distúrbioshidroeletrolíticos. 4.ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Guanabara Koogan S.A. 2003, p. 481.6. Malbrain, MLN; Lambrecht, GLY;Daelemans, R et. al. Acute renal failuredue to bilateral lymphomatous infiltrates.Primary extranodal non-Hodgkin’s lymphoma(p-EN-NHL) of the kidneys: does it reallyexist? Clinical Nephrology, 1994, v. 42, n.º 3,p. 163-7.7. Arnold S Freedman; Jonathan WFriedberg; Jon C Aster; Andrew Lister.Clinical presentation and diagnosis of non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topic lastupdated: August 17, 2010 (More). Disponívelem http://www.uptodate.com. Acessojaneiro 2011.8. Malbrain, MLN. Lambrecht, GLY;Daelemans, R et. al. Acute renal failuredue to bilateral lymphomatous infiltrates.Primary extranodal non-Hodgkin’s lymphoma(p-EN-NHL) of the kidneys: does it reallyexist? Clinical Nephrology, 1994, v. 42, n.º 3,p. 163-9.9. Schnie<strong>de</strong>rjan, SD; Osunkoya, AO. Lymphoidneoplasms of the urinary tract and malegenital organs: a clinicopathological study of40 cases. Mod Pathol, 2009; 22:1.057-65.10. José Gastão Rocha <strong>de</strong> Carvalho; JeanRodrigo Tafarel; Wilson Beleski <strong>de</strong> Carvalho;Ana Paula <strong>de</strong> Azambuja; Eliceia SoraiaZenaro; Rodrigo Bendlin. Insuficiência renalaguda como manifestação inicial <strong>de</strong> linfoma<strong>de</strong> Burkitt renal. J Bras Patol Med Lab.,junho, 2006, v. 42, n.º 3, p. 179-183.11. Arnold S Freedman; Jonathan W Friedberg;Robert S Negrin; Rebecca F Connor. Treatmentof recurrent or refractory aggressive non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topiclast updated: September 24, 2009 (More).Disponível em http://www.uptodate.com.Acesso janeiro 2011.94revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio <strong>Vargas</strong>v.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011

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