11.07.2015 Views

lesão renal aguda como manifestação inicial de linfoma não hodgkin

lesão renal aguda como manifestação inicial de linfoma não hodgkin

lesão renal aguda como manifestação inicial de linfoma não hodgkin

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃOINICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINSueli Oliveira Nascimento; Priscila Rosal HonoratoRESUMORelata-se um caso <strong>de</strong> lesão <strong>renal</strong> <strong>aguda</strong> causada por infiltração <strong>de</strong> células tumoraisem parênquima <strong>renal</strong>. A paciente apresentou lesão <strong>renal</strong> <strong>aguda</strong> secundária <strong>linfoma</strong> nãoHodgkin. O diagnóstico foi realizado por biópsia <strong>renal</strong> percutânea que <strong>de</strong>monstrou infiltraçãodos rins pela neoplasia. Essa causa <strong>de</strong> lesão <strong>renal</strong> <strong>aguda</strong> <strong>de</strong>ve ser lembrada em doençaslinfoproliferativa, pois apresenta evolução <strong>renal</strong> favorável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o diagnóstico etratamento sejam estabelecidos em tempo hábil.Palavras-chave: Lesão Renal Aguda; Linfoma Não Hodgkin; Doença Linfoproliferativa.ABSTRACTAcute kidney injury as initial manifestation of non-Hodgkin lymphoma SummaryWe report a case of acute kidney injury caused by infiltration of tumor cells in the <strong>renal</strong>parenchyma. The patient <strong>de</strong>veloped acute kidney injury secondary non-Hodgkin lymphoma.The diagnosis was ma<strong>de</strong> by percutaneous <strong>renal</strong> biopsy which showed infiltration of the kidneytumor. This cause of acute kidney injury must be consi<strong>de</strong>red in lymphoproliferative diseases,as it has favorable <strong>renal</strong> evolution since the diagnosis and treatment are established in time.Keywords: Acute Kidney Injury; Non-Hodgkin Lymphoma; Lymphoproliferative Disease.91revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃO INICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINA lesão <strong>renal</strong> <strong>aguda</strong> (LRA) po<strong>de</strong>ocorrer em 10 a 30% dos casos <strong>de</strong> doençalinfoproliferativa. 1,2 O acometimento<strong>renal</strong> dos diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>linfoma</strong> po<strong>de</strong>ocorrer em função do efeito direto dopróprio tumor (trombose venosa, obstruçãoureteral) a manifestações extrarrenais<strong>de</strong>les (hiperparaproteinemia, hemólise,hipercalcemia, hiperuricemia) ou maisraramente ao envolvimento <strong>renal</strong> primáriopelo tumor.Relato <strong>de</strong> casoPaciente do sexo feminino, 37 anos,parda, com quadro clínico evolutivo <strong>de</strong> setedias da data <strong>de</strong> internação hospitalar comfebre, artralgia progressiva <strong>de</strong> pequenase gran<strong>de</strong>s articulações. Acompanhado <strong>de</strong>vômitos, e<strong>de</strong>ma progressivo <strong>de</strong> membrosinferiores evoluindo para anasarca eoligúria. Relatou episódio <strong>de</strong> pancreatite<strong>aguda</strong> quatro meses antes da internaçãohospitalar. História familiar negativa paradoença maligna prévia. Admitida no HospitalUniversitário Getúlio Vargas (HUGV) parainvestigação diagnóstica.Ao exame físico, apresentava-sehipertensa (140/104 mmHg), hipocorada(+2/+4) com restante dos dados vitaisestáveis. Destacavam-se úlcera oral empalato, petéquias em face, tronco e membrosinferiores. Não foram observadas alteraçõesna ausculta cardíaca e pulmonar. Abdomedoloroso à palpação difusa, a presença<strong>de</strong> visceromegalias não foi possível porabundante tecido adiposo. Os pulsos estavampresentes e sem alterações, não sendoevi<strong>de</strong>nciadas a<strong>de</strong>nomegalias periféricas.Os exames laboratoriais revelaram:hemoglobina 10,4 g/dL, hematócrito 29,1%(VCM 87fl), leucócitos 2400, segmentados74%, bastonetes 1%, linfócitos 22,5%,eosinófilos 3%, monócitos 7% e plaquetas63000/mm 3 . Ureia 405 mg/dL, creatinina 9,4mg/dL, potássio 5,2 mEq/L, sódio 137 mEq/L,urina I: pH 5,0, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> 1010, leucócitos:5.000/mL, hemácias: 6.000/mL, ausência <strong>de</strong>cristais e dismorfismo eritrocitário, proteínastotais 6,6 g/dL (albumina sérica 4,13 g/dL),ácido úrico 12,5 mg/dL, glicemia 96 mg/dL, cálcio 10,2 mg/dL, fósforo 6,2 mg/dL,bicarbonato sérico 18 mEq/L, DHL 585 U/L.Volume urinário <strong>de</strong> 400 ml/24h. Não foi feitacoleta proteinúria <strong>de</strong> 24h.Os rins apresentaram-se ao ultrassom<strong>renal</strong> tópicos, com discreto aumento daecogenicida<strong>de</strong>, rim direito 12 x 4,9 x 4,8cm e rim esquerdo 11 x 5,1 x 5,3 cm, comausência <strong>de</strong> hidronefrose e litíase <strong>renal</strong>,relação córtico-medular preservada. Peloquadro <strong>de</strong> LRA, foi submetida à terapia <strong>de</strong>substituição <strong>renal</strong> (TSR) tipo hemodiálise.Durante a investigação clínica realizou-sebiópsia <strong>renal</strong> guiada por ecografia <strong>de</strong> rimdireito, com obtenção <strong>de</strong> material paraanálise histopatológica e IF. As lâminas<strong>de</strong>monstravam fragmento córtico-medular <strong>de</strong>rim contendo cinco glomérulos. A histologiaindicou achados morfológicos <strong>de</strong> infiltraçãopor <strong>linfoma</strong> não Hodgkin (LNH) <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>scélulas. No relatório <strong>de</strong> imunofluorescência,ratificou padrão <strong>de</strong> lesão não imune. Paraavaliação completa do caso, realizou-sebiópsia <strong>de</strong> medula óssea com análise imunohistoquímicaconfirmando o diagnóstico<strong>de</strong> <strong>linfoma</strong> não Hodgkin <strong>de</strong> células T, osmarcadores LCA, CD3 e KI-67 foram positivos,sendo esse presente em 100% das célulasneoplásicas. A pesquisa <strong>de</strong> Epstein Barr,anti-DNA ase, FAN, crioglobulinas, Anca C e P,sorologia para hepatite B, C e HIV tipo I e IIresultou negativa.Evi<strong>de</strong>nciou-se na tomografia <strong>de</strong> tóraxnódulos pulmonares (menores que 5 cm),<strong>de</strong> natureza inespecífica e atelectasias nopulmão direito. E no abdome <strong>de</strong>monstroulinfonodos (medindo 0,8 cm) na ca<strong>de</strong>ia ilíacaesquerda. O estadiamento clínico foi do tipoIV.Houve diminuição da ureia e creatinina,92revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


Nascimento et alrecebendo alta da nefrologia após setesessões <strong>de</strong> hemodiálise. Transferida parao Serviço da Hematologia. A pacienteiniciou quimioterapia com esquema Chop(ciclofosfamida, daunorrubicina, vincristinae prednisona).No oitavo dia após o primeiro ciclo daquimioterapia, procurou o serviço <strong>de</strong> urgênciacom quadro <strong>de</strong> febre, dor abdominal ediarreia sanguinolenta. Exames admissionaisevi<strong>de</strong>nciavam leucócitos <strong>de</strong> 800/mm 3 ,segmentados 35%, linfócitos 9%, eosinófilos1%, monócitos 35,9% e plaquetas 77.000/mm 3 ,ureia <strong>de</strong> 235 mg/dl, creatinina <strong>de</strong> 3 mg/dl,potássio 3,3 mEq/L, sódio 130 mEq/L. Evoluiucom sepse foco abdominal, necessitando<strong>de</strong> suporte ventilatório, antibioticoterapia<strong>de</strong> amplo espectro e antifúngico. Os níveis<strong>de</strong> ureia e creatinina retornaram <strong>de</strong>ntrodos limites da normalida<strong>de</strong> após a<strong>de</strong>quadahidratação. Houve piora hemodinâmica eóbito após oito dias.DiscussãoO envolvimento <strong>renal</strong> é comum empacientes com <strong>linfoma</strong> sistêmico nãoHodgkin. 3 O <strong>linfoma</strong> <strong>renal</strong> representariametástases hematogênicas ou invasão diretado tumor crescendo no espaço perir<strong>renal</strong>. 4 Amaioria dos LNHs com acometimento <strong>renal</strong> sãoagressivos (RICHARDS et. al., 1990). Emboraa evidência clínica <strong>de</strong> envolvimento <strong>renal</strong>com <strong>linfoma</strong> só é visto em 2 a 14% <strong>de</strong> todos ospacientes, uma elevação <strong>de</strong> creatinina séricaé relatada em 26 a 56%. 5 A infiltração do rimpor células malignas ocorre basicamente nointerstício e resulta em atrofia tubular compreservação do glomérulo. 6No caso apresentado, a LRA parece tersido originada a partir <strong>de</strong> infiltração <strong>de</strong> célulastumorais, sendo revertida após TSR. Os níveisaumentados <strong>de</strong> ácido úrico e fósforo po<strong>de</strong>mser explicados somente pela perda da função<strong>renal</strong>. Não havia evidências <strong>de</strong> obstrução dasvias urinárias nos exames ultrassonográficos.Outras causas <strong>de</strong> insuficiência <strong>renal</strong> foramafastadas pela análise dos dados clínicos elaboratoriais.Entre as séries <strong>de</strong> pacientes publicadasna literatura há prevalência <strong>de</strong> homens commédia etária <strong>de</strong> 48 anos ao diagnóstico, sendoque na maioria dos casos a creatinina séricaao diagnóstico era superior a 3,5 mg/dl. 7A apresentação clínica dos <strong>linfoma</strong>svaria muito, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo. 8 O quadroclínico da infiltração <strong>renal</strong> costuma ser, namaioria das vezes, inespecífico. A pacienteapresentou hematúria, hipertensão arteriale anemia <strong>de</strong> doença crônica. A ocorrência<strong>de</strong> lesão <strong>renal</strong> em pacientes com <strong>linfoma</strong>po<strong>de</strong> surgir em razão do comprometimentodireto do sistema urinário (obstruçãoureteral ou dos vasos renais, infiltraçãodo parênquima <strong>renal</strong>, ou ruptura <strong>renal</strong>ou ureteral), a alterações endócrinometabólicas(hipercalemia, secreção <strong>de</strong> PTHsímilee paraproteinemias) ou por efeito dotratamento (nefrite radioativa e síndrome <strong>de</strong>lise tumoral). 9 Em um estudo realizado pelaSchnie<strong>de</strong>rjan e Osunkoya 10 sobre os 40 casos<strong>de</strong> neoplasias linfoi<strong>de</strong>s do trato geniturinário,o local mais comum <strong>de</strong> envolvimento foi orim, predominou <strong>linfoma</strong> não Hodgkin difuso<strong>de</strong> células B.Apesar dos meios <strong>de</strong> imagem forneceremindícios do diagnóstico, esse só é obtido <strong>de</strong>forma inequívoca por meio da biópsia <strong>renal</strong>. 11A <strong>de</strong>speito dos significativos avançosno tratamento dos pacientes com <strong>linfoma</strong>agressivo não Hodgkin, a maioria não écurada com a terapia convencional. 12O relatório atual <strong>de</strong>screve um pacientecom antece<strong>de</strong>nte função <strong>renal</strong> normal,que <strong>de</strong>senvolveu LRA associada com LNHevoluindo a óbito.Em resumo, apesar da infiltraçãodo parênquima <strong>renal</strong> por doençaslinfoproliferativas ser pouco investigada, <strong>de</strong>ve93revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011


LESÃO RENAL AGUDA COMO MANIFESTAÇÃO INICIAL DE LINFOMA NÃO HODGKINser consi<strong>de</strong>rada em pacientes portadores oucom suspeita diagnóstica <strong>de</strong>ssas neoplasias.A importância <strong>de</strong> estabelecer o diagnóstico einstituir o tratamento a<strong>de</strong>quado é enfatizadapela rápida reversão da lesão <strong>renal</strong> observadano caso <strong>de</strong>scrito.Referências1. Richmond, J; Sherman, RS; Diamond, HD;Craver, LF. Renal lesions associated withmalignant lymphoma. Am J Med., 1962;32:184-207.2. Merrill, D; Jackson Jr., H. The <strong>renal</strong>complications of leukemia N Engl J Med.,1943; 228:271-76.3. Arnold S Freedman; Jonathan WFriedberg; Andrew Lister; Rebecca F Connor.Evaluation, staging, and prognosis of non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topiclast updated: September 16, 2010 (More).Disponível em http://www.uptodate.com.Acesso janeiro 2011.4. Carol Pontes <strong>de</strong> Miranda Maranhão; TufikBauab Jr. Linfoma <strong>renal</strong>: espectro <strong>de</strong> imagensna tomografia computadorizada. RevistaBrasileira <strong>de</strong> Radiologia, 2005; 38(2):133-140.5. Emmanuel <strong>de</strong> A. Burdomann; José MauroV. Júnior; Edivaldo Celso Vidal. Nefropatiatóxica e tubulointersticial. In: Miguel CarlosRiella. Principios <strong>de</strong> nefrologia e distúrbioshidroeletrolíticos. 4.ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Guanabara Koogan S.A. 2003, p. 481.6. Malbrain, MLN; Lambrecht, GLY;Daelemans, R et. al. Acute <strong>renal</strong> failuredue to bilateral lymphomatous infiltrates.Primary extranodal non-Hodgkin’s lymphoma(p-EN-NHL) of the kidneys: does it reallyexist? Clinical Nephrology, 1994, v. 42, n.º 3,p. 163-7.7. Arnold S Freedman; Jonathan WFriedberg; Jon C Aster; Andrew Lister.Clinical presentation and diagnosis of non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topic lastupdated: August 17, 2010 (More). Disponívelem http://www.uptodate.com. Acessojaneiro 2011.8. Malbrain, MLN. Lambrecht, GLY;Daelemans, R et. al. Acute <strong>renal</strong> failuredue to bilateral lymphomatous infiltrates.Primary extranodal non-Hodgkin’s lymphoma(p-EN-NHL) of the kidneys: does it reallyexist? Clinical Nephrology, 1994, v. 42, n.º 3,p. 163-9.9. Schnie<strong>de</strong>rjan, SD; Osunkoya, AO. Lymphoidneoplasms of the urinary tract and malegenital organs: a clinicopathological study of40 cases. Mod Pathol, 2009; 22:1.057-65.10. José Gastão Rocha <strong>de</strong> Carvalho; JeanRodrigo Tafarel; Wilson Beleski <strong>de</strong> Carvalho;Ana Paula <strong>de</strong> Azambuja; Eliceia SoraiaZenaro; Rodrigo Bendlin. Insuficiência <strong>renal</strong><strong>aguda</strong> <strong>como</strong> manifestação <strong>inicial</strong> <strong>de</strong> <strong>linfoma</strong><strong>de</strong> Burkitt <strong>renal</strong>. J Bras Patol Med Lab.,junho, 2006, v. 42, n.º 3, p. 179-183.11. Arnold S Freedman; Jonathan W Friedberg;Robert S Negrin; Rebecca F Connor. Treatmentof recurrent or refractory aggressive non-Hodgkin lymphoma. Last literature reviewversion 18.3: September 2010. This topiclast updated: September 24, 2009 (More).Disponível em http://www.uptodate.com.Acesso janeiro 2011.94revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 1-2 jan./jul. – 2011

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!