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4. Síndrome de alport: relato de caso - Hospital Universitário Getúlio ...

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Elami<strong>de</strong> et alSÍNDROME DE ALPORT: RELATO DE CASOAlport’s Syndrome:case reportBruno Correia Elami<strong>de</strong> 1 , Manoel Ribeiro das Neves Júnior 2 , Priscila Rosal Honorato 2 , Monicely Rodrigues Sales 2 , Galileu ZacariasCaldas <strong>de</strong> Moraes 3 , Ricardo da Silva Sena 2 , Antônio Carlos Duarte Cardoso 4RESUMOOs autores <strong>de</strong>screvem um <strong>caso</strong> <strong>de</strong> paciente <strong>de</strong> 19 anos, sexo masculino, com história <strong>de</strong>uremia e evolução para nefropatia crônica bilateral, apresentando também baixa acuida<strong>de</strong>visual e hipoacusia. Com essa clínica, foi iniciada investigação para Síndrome <strong>de</strong> Alportpor meio dos <strong>de</strong>z critérios para o diagnóstico, confirmando a doença. A Síndrome <strong>de</strong> Alporté uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m hereditária que consiste por comprometimento renal, associada à perdaauditiva e <strong>de</strong>feitos oculares. É uma doença genética que causa alterações na estrutura docolágeno tipo IV. A doença evolui progressivamente com a ida<strong>de</strong>, sendo em muitos <strong>caso</strong>s jána adolescência encontrada perda visual e auditiva total e insuficiência renal crônica.ABSTRACTThe authors <strong>de</strong>scribe a case of a male, 19 years, with a history of uremia and progressionto bilateral chronic kidney disease, also presenting visual impairment and hearing loss.With this clinic, we begun a research for Alport’s syndrome through the 10 criteria for thediagnosis, confirming the disease. The Alport’s syndrome is a hereditary disor<strong>de</strong>r that consistsof renal disor<strong>de</strong>rs associated with hearing loss and ocular <strong>de</strong>fects. This lead to alterations inthe structure of collagen type IV. The disease evolves gradually with age, and in many casesin adolescence, found total loss of vision and hearing and chronic renal failure.1. Interno do Curso <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Amazonas2. Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Nefrologia do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargas3. Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Oftalmologia do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargas<strong>4.</strong> Médico nefrologista e preceptor do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargas35revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 2 jul./<strong>de</strong>z. – 2011


SÍNDROME DE ALPORT: RELATO DE CASOSíndrome <strong>de</strong> AlportIntroduçãoA Síndrome <strong>de</strong> Alport (SA) é uma<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m hereditária que consiste porcomprometimento renal, que po<strong>de</strong> levar ànefropatia terminal, e extrarrenal, muitasvezes associada à perda auditiva e <strong>de</strong>feitosoculares. 1 Ocorre mais frequentemente emhomens do que em mulheres. Existe em duasformas <strong>de</strong> herança da doença, sendo umaligada ao X, em 85% dos <strong>caso</strong>s, explicada pormutações no gene COL4A5, e outros <strong>caso</strong>srelacionados à forma autossômica, po<strong>de</strong>ndoser recessiva (em 10 a 14% dos <strong>caso</strong>s) edominante, que é rara. 2,3As mutações presentes na SA produzemalterações na estrutura do colágeno tipo IV,resultando <strong>de</strong>feitos no enlaçamento e namontagem incorreta da molécula, sendo essaforma anômala <strong>de</strong>gradada rapidamente. 4Com relação ao quadro clínico, ahematúria microscópica é uma das principaiscaracterísticas e observada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> onascimento ou nos primeiros meses <strong>de</strong> vida,po<strong>de</strong>ndo posteriormente ser acompanhada<strong>de</strong> proteinúria e, no <strong>de</strong>correr da doença,<strong>de</strong>senvolver falência renal terminal. 5 Aperda auditiva neurossensorial é bilateral,simétrica e progressiva. Nas alteraçõesoculares, po<strong>de</strong>m-se encontrar manchasoculares, catarata, nistagmo e miopia, maso lentecone anterior, encontrado em 10 a30% dos <strong>caso</strong>s, é consi<strong>de</strong>rado patognomônicoda SA por muitos autores. A doença evoluiprogressivamente com a ida<strong>de</strong>, sendo emmuitos <strong>caso</strong>s já na adolescência encontradaperda visual e auditiva total e insuficiênciarenal crônica. 6,7Relato <strong>de</strong> <strong>caso</strong>Jovem <strong>de</strong> 19 anos, sexo masculino,natural <strong>de</strong> Manacapuru/AM e proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>Manaus/AM. Iniciou, em janeiro <strong>de</strong> 2011,quadro <strong>de</strong> astenia, inapetência, febre nãoaferida, calafrios com predomínio no turnomatutino, tosse com expectoração hialina,dor retroesternal e icterícia. Evoluiu comdiminuição da diurese, sem alterações dacoloração. Negou <strong>de</strong>mais queixas pulmonares,urinárias e perda pon<strong>de</strong>ral. Nos antece<strong>de</strong>ntespessoais <strong>relato</strong>u duas transfusões sanguínease varicela na infância. Na história familiar,irmão com IRC não especificada, transplantadoem 2010. Desconhece outras doenças nafamília. Admitido no Serviço <strong>de</strong> Nefrologiado <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargas/Ufam com Exame <strong>de</strong> Urina tipo I mostrandoglicose 4+/4+, albumina 3+/4+, hemoglobina+/4+, 10 leucócitos por campo, bacteriúriaacentuada, células epiteliais frequentes,cristais <strong>de</strong> urato amorfos e hemáciasincontáveis. Exame <strong>de</strong> sangue mostrou ureia<strong>de</strong> 19.9, creatinina <strong>de</strong> 324 e CPK <strong>de</strong> 3479. Foirealizada ultrassonografia <strong>de</strong> rins, indicandonefropatia crônica bilateral. Iniciadoterapia <strong>de</strong> substituição renal (hemodiálise).Durante a internação foi observado quepaciente apresentava baixa acuida<strong>de</strong> visuale hipoacusia. Iniciou-se investigação paraSíndrome <strong>de</strong> Alport. Solicitado parecer daOftalmologia, que confirmou baixa acuida<strong>de</strong>visual e, à lâmpada <strong>de</strong> fenda, foi visualizadocom sinal <strong>de</strong> reflexo em gota <strong>de</strong> óleo emolho esquerdo, confirmando a presença<strong>de</strong> lentecone anterior (Figura 1). Por meioda Otorrinolaringologia, foi realizadaaudiometria, que evi<strong>de</strong>nciou perda auditivaneurossensorial severa em OD e mo<strong>de</strong>radaem OE. Com cinco critérios dos <strong>de</strong>z propostospara o diagnóstico <strong>de</strong> Síndrome <strong>de</strong> Alport,proposto por Pyrson em 1999 (Tabela 1), opaciente em questão fecha o diagnóstico.Evoluiu com melhora durante a internação.Otimizado tratamento medicamentoso econfeccionado fístula arteriovenosa paradiálise. Solicitado outros exames paracomplementação diagnóstica, tanto para opaciente quanto para os irmãos.36revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 2 jul./<strong>de</strong>z. – 2011


Elami<strong>de</strong> et alFigura 1: Biomicroscopia do paciente mostrando sinal da gota<strong>de</strong> óleo – lentecone anterior.Diagnóstico Clínico da Síndrome <strong>de</strong> Alport1. Antece<strong>de</strong>ntes familiares <strong>de</strong> nefrite ou hematuria emfamiliar <strong>de</strong> primeiro grau;2. Hematuria persistente sem evidência <strong>de</strong> outranefropatia hereditária;3. Sur<strong>de</strong>z neurossensorial bilateral, ausente na infânciae estabelecida antes dos 30 anos;<strong>4.</strong> Mutação nos genes correspon<strong>de</strong>ntes (COL4A3,COL4A4, COL4A5);5. Evidência imuno-histoquímica <strong>de</strong> falta do epítopo <strong>de</strong>Alport nas membranas basais glomerulares, epidérmi<strong>caso</strong>u ambas;6. Mudanças ultraestruturais da MBG: a<strong>de</strong>lgaçamento,espessamento ou laminação;7. Lesões oculares: lentecone, catarata subcapsularposterior, distrofia polimórfica posterior;8. Insuficiência renal crônica no paciente ou ao menosdois familiares;9. Macrotrombocitopenia ou inclusões granulocíticas;10. Leiomiomatose difusa do esôfago, genitais femininasou ambos.Tabela 1: Critérios diagnósticos para a Síndrome <strong>de</strong> Alport.DiscussãoA Síndrome <strong>de</strong> Alport foi <strong>de</strong>scrita pelaprimeira vez por Alport em 1927, quandopassou a relacionar quadros <strong>de</strong> nefropatiahereditária com hipoacusia. Sohar (1954)observou alterações visuais acompanhandoa síndrome, mas apenas em 1959 Nieth<strong>de</strong>screveu o lentecone anterior como sendoa alteração oftalmológica mais frequente. Écaracterizada pela tría<strong>de</strong> clássica <strong>de</strong> nefritecrônica hereditária, disacusia neurossensorialprogressiva e lentecone anterior. 4,8No paciente <strong>de</strong>scrito, as alteraçõesapareceram mais tardiamente, com umperíodo <strong>de</strong> evolução mais acelerado,progredindo rapidamente para insuficiênciarenal crônica e distúrbio auditivo e visualseveros. As manifestações iniciais da nefritehereditária po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a hematúriaassintomática ou proteinúria, que seinicia geralmente na infância, chegando àadolescência com alterações significativas,po<strong>de</strong>ndo até ter já falência terminal. Apesardisso, também po<strong>de</strong> ser diagnosticada noadulto, apesar <strong>de</strong> ser infrequente. A perdaauditiva ocorre comumente na infância,iniciando com a perda dos sons agudos,po<strong>de</strong>ndo progredir para a sur<strong>de</strong>z total em 30a 50% dos <strong>caso</strong>s. Já as manifestações ocularesparecem estar associadas à evolução dafunção renal. 1,9,10É importante pesquisar a doença emparentes <strong>de</strong> portadores da doença, apesar<strong>de</strong> que o tipo <strong>de</strong> transmissão genética éainda bastante controverso, mas a teoriamais aceita é a <strong>de</strong> transmissão por meio <strong>de</strong>um gene autossômico dominante ligado aocromossomo X, <strong>de</strong> penetrância e expressãovariáveis, levando à heterogenicida<strong>de</strong>genética. Esse <strong>de</strong>feito é que levaria aalterações bioquímicas na composiçãoda membrana basal glomerular, cápsulado cristalino e algumas partes do ouvidointerno. 9,11Outra característica da doença é apresença <strong>de</strong> leiomiomatose, principalmente<strong>de</strong> esôfago, que po<strong>de</strong> ocasionar dorretroesternal ou em epigástrico, disfagia,vômitos pós-prandiais e leiomiomatose naárvore traqueobrônquica, que se manifestacom bronquite recorrente, dispneia eestridor. 7A biópsia renal ainda é consi<strong>de</strong>radapor muitos autores como imprescindível37revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 2 jul./<strong>de</strong>z. – 2011


síndrome <strong>de</strong> <strong>alport</strong>: <strong>relato</strong> <strong>de</strong> <strong>caso</strong>ao diagnóstico da SA, mas as alteraçõeshistológicas à microscopia óptica sãoespecíficas apenas na fase terminal dainsuficiência renal. 12Outros autores relatam alteraçõesprecoces altamente sugestivas à microscopiaeletrônica, como mudança na espessura,contorno e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> eletrônica damembrana glomerular, representadas porlamelação da lâmina <strong>de</strong>nsa da membranaglomerular basal, mas mesmo essas não sãoconsi<strong>de</strong>radas patognomônicas. 12A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverinsuficiência renal terminal antes dos40 anos chega em 10 a 12% em mulheresheterozigóticas, em comparação comhomens homozigóticos, com chance <strong>de</strong> 90%.Como tratamento, o transplante renal é o <strong>de</strong>melhor escolha para a SA. A vida <strong>de</strong> enxertoé similar a outras doenças. Vários estudosvêm sendo feitos para pesquisar eficácia <strong>de</strong>tratamentos para a AS, que traz expectativaspara o futuro. 13,14Referências5. Me<strong>de</strong>iros-Domingo M et. al. Síndrome <strong>de</strong>Alport. Bol Med Hosp Infant Mex. 2008;65:331-340.6. Viveiros CM, Pereira LD, Kirsztajn GM.Auditory Perception in Alport’s Syndrome.Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(6):811-16.7. Santiago-Cabán L, Cruz C, IzquierdoNJ. Cataract in a patient with the Alportsyndrome and diffuse Leiomyomatosis. RevBras Oftalmol. 2008;67(6):309-12.8. Estripeaut DI, Ríos C. Síndrome <strong>de</strong> Alport.Revista Del <strong>Hospital</strong> Del Niño Panamá.2003;9(1):68-72.9. Leal FAM, Gonçalves EA, Liarth JCS, SoaresFM. Síndrome <strong>de</strong> Alport: estudo <strong>de</strong> umafamília. Arq Bras Oftalmol. 2000;63(6):455-8.10. Silvestrim MC, Ferreira D, Cohen J.Síndrome <strong>de</strong> Alport: <strong>relato</strong> <strong>de</strong> um <strong>caso</strong>com recuperação total. Arq Bras Oftalmol.2001;64:461-3.1. Alves FRA, Ribeiro FAQ. Revisão sobrea perda auditiva na Síndrome <strong>de</strong> Alport,analisando os aspectos clínicos, genéticos ebiomoleculares. Rev Bras Otorrinolaringol.Nov./<strong>de</strong>z. 2005, v. 71, n.º 6:813-9.2. Enrique TZC, Juan MA. Síndrome <strong>de</strong> Alportautosómico recesivo. A propósito <strong>de</strong> un <strong>caso</strong>.Rev Med Hered. 2008;19(1):25-8.3. Alves FRA, Ribeiro FAQ. Roteirodiagnóstico e <strong>de</strong> conduta frente à perdaauditiva sensorioneural genética. Rev BrasOtorrinolaringol. 2007;73(3):412-7.<strong>4.</strong> Alves FRA, Ribeiro FAQ. Dados clínicose da audição em indivíduos com Síndrome<strong>de</strong> Alport. Rev Bras Otorrinolaringol.2008;74(6):807-1<strong>4.</strong>11. Feingold J et al. Genetic heterogeneityof Alport syndrome. Kidney International,vol. 27 (1985):672-677.12. Hei<strong>de</strong>t L, Gubler MC. The Renal Lesionsof Alport Syndrome. J Am Soc Nephrol.2009;20:1.210-1.215.13. Gross O et al. Stem cell therapy forAlport syndrome: the hope beyond the hype.Nephrol Dial Transplant. 2009;24:731-73<strong>4.</strong>1<strong>4.</strong> LeBleu V et al. Stem Cell TherapiesBenefit Alport Syndrome. J Am Soc Nephrol.2009;20:2.359-2.370.38revistahugv - Revista do <strong>Hospital</strong> Universitário Getúlio Vargasv.10. n. 2 jul./<strong>de</strong>z. – 2011

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