Homofobia & Educação – Um Desafio ao Silêncio - Cepac
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<strong>Homofobia</strong> & <strong>Educação</strong><br />
campo de significações heterossexista, que deslegitima outros<br />
dizeres, outras vozes, outras possibilidades vivenciais e discursivas<br />
sobre a sexualidade e o gênero. 1<br />
O silêncio e a censura implícita <strong>–</strong> conceito de Butler 7 <strong>–</strong> são<br />
formas produtivas de poder, pois estão atrelados à construção<br />
e à proliferação de discursos, e não apenas à sua negação ou<br />
proibição. Butler traça uma distinção entre censura explícita e<br />
censura implícita. A primeira se refere às formas declaradas de<br />
proibição da fala, facilmente reconhecíveis. A segunda, mais<br />
eficaz que a primeira, na avaliação da autora, se situa no campo<br />
dentro do qual se pode falar. Assim como o silêncio, ela reforça<br />
os sentidos do que é passível de enunciação. A censura é implícita<br />
a uma determinada formação discursiva e demarca, portanto, o<br />
campo do que pode ser dito. Da mesma forma, falar em uma<br />
política do silêncio sobre a diversidade sexual implica atentar<br />
para a dimensão produtiva do poder heteronormativo e para os<br />
campos de exclusão gerados. A censura implícita às formações<br />
discursivas heteronormativas cria espaços de exclusão, limitando<br />
aquilo que é dizível e representável. Compreender o silêncio sobre<br />
a diversidade sexual nos livros didáticos é compreender os modos<br />
de significação que ele põe em jogo.<br />
O silêncio sobre a diversidade sexual é atrelado à<br />
naturalização da heterossexualidade <strong>–</strong> a heteronormatividade.<br />
Esta deixa pouco espaço para que outros sentidos das sexualidades<br />
surjam. O silêncio heteronormativo reflete visões homofóbicas<br />
de mundo, pois prioriza os discursos que ligam a sexualidade<br />
à reprodução, de maneira que a relação sexual heterossexual se<br />
torna a única possibilidade legítima. A heteronormatividade, <strong>ao</strong><br />
silenciar sobre a diversidade sexual, acaba por não contribuir<br />
para o enfrentamento da homofobia. Como afirma Guacira<br />
Louro, “a negação dos homossexuais no espaço legitimado da<br />
sala de aula acaba por confiná-los às gozações e <strong>ao</strong>s insultos dos<br />
recreios e dos jogos, fazendo com que, deste modo, jovens gays e<br />
lésbicas só possam se reconhecer como desviantes, indesejados<br />
ou ridículos”. 8:68<br />
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