Homofobia & Educação – Um Desafio ao Silêncio - Cepac
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Fernando Pocahy, Rosana de Oliveira e Thaís Imperatori<br />
já que o exercício apenas veicula o termo pejorativo “bicha”,<br />
sem, no entanto, explicitamente sinalizar para o enfrentamento<br />
do preconceito contra homossexuais. A pergunta que se segue<br />
à afirmação, pelo modo diretivo em que é formulada, sugere<br />
que o segundo beijo deva representar algo e não promove um<br />
debate. Como o filme não tem uma posição definitiva a respeito<br />
da orientação sexual de Billy, essa pergunta incita aquele que<br />
lê a moralizar o beijo do personagem como sinal exclusivo de<br />
amizade, ou a levantar dúvidas sobre sua heterossexualidade.<br />
A questão poderia engendrar o debate se fosse formulada<br />
de outra forma, como, por exemplo, “debatam/discutam os<br />
possíveis sentidos desse beijo”. Ou, ainda, “quais as possíveis<br />
interpretações desse beijo?”. Entretanto, a pergunta “o que este<br />
beijo representa?” 14:225 induz quem lê a buscar uma única resposta<br />
e um sentido verdadeiro. O modo como a discussão é conduzida<br />
presta-se a resgatar Billy de suspeitas de homossexualidade,<br />
calcadas em seu gosto pelo balé ou no beijo que deu no amigo.<br />
Consequentemente, não abre a possibilidade real de existência<br />
legítima de vidas homossexuais. Por outro lado, vale destacar que,<br />
a depender de como o(a) professor(a) trabalhar o tema em sala de<br />
aula, o exercício pode suscitar o reconhecimento da possibilidade<br />
de uma heterossexualidade menos rígida e atemorizada pelo perigo<br />
da homossexualidade, que rondaria certas escolhas profissionais<br />
ou o carinho entre amigos do mesmo sexo.<br />
É necessário indagar o porquê do deslocamento na<br />
escolha dos termos pelos quais a discussão é fomentada. Se o<br />
tema é diversidade sexual e gênero, por que formular o debate<br />
em termos de preconceito em torno das escolhas profissionais? 14<br />
A linguagem utilizada indica a fragilidade dos discursos que se<br />
propõem a enfrentar algumas das cores e dores do preconceito. A<br />
dor dos preconceitos homofóbicos é tratada como preconceito<br />
sobre escolha profissional, de forma a reduzir o âmbito do<br />
debate sobre as formas de vida e de sexualidade que podem ser<br />
vividas, reconhecidas e respeitadas.<br />
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