Homofobia & Educação – Um Desafio ao Silêncio - Cepac
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Rogério Diniz Junqueira<br />
caricata que resulta desse processo tende, porém, a expressar as<br />
limitações internas de quem projeta o preconceito. 50 Por isso, é<br />
preciso não perder de vista que os estereótipos constituem mais<br />
do que elementos de percepção e de invisibilização dos sujeitos<br />
observados através deles.<br />
Com efeito, Bhabha chama a atenção para o fato de que<br />
o estereótipo se faz acompanhar por “um efeito de verdade<br />
probabilística e predictibilidade que [...] deve sempre estar em<br />
excesso do que pode ser provado empiricamente ou explicado<br />
logicamente”. 38:106 Implicados em relações sociais e de poder,<br />
os estereótipos articulam-se com disposições normativas e<br />
contribuem para a produção de economias de visibilidade, de<br />
percepção e de autopercepção de todas as partes envolvidas. São<br />
processos ambivalentes “de projeção e introjeção, estratégias<br />
metafóricas e metonímicas” que envolvem “deslocamento,<br />
sobredeterminação, culpa, agressividade, mascaramento e<br />
cisão de saberes ‘oficiais’ e fantasmagóricos para construir as<br />
posicionalidades e as oposicionalidades do discurso racista”,<br />
sexista, heterossexista, etc. 38:125<br />
De um lado, mecanismos, crenças e sistemas classificatórios<br />
produzem representações sociais estereotipadas graças às quais<br />
determinadas características são, taxativa e repetidamente,<br />
atribuídas <strong>ao</strong> indivíduo marcado como outro <strong>–</strong> e esse outro, em tal<br />
processo de objetivação, tende a ficar reduzido às suas supostas<br />
características, à sua suposta natureza intrínseca. De outro lado,<br />
as mesmas características são tacitamente afastadas de quem as<br />
aponta. Afinal, se dizemos que árabes são mentirosos, e judeus,<br />
sovinas, é porque “nós não-árabes e não-judeus” supostamente<br />
somos honestos e generosos. 51:104-112 Analogamente, afirmar<br />
que homossexuais seriam fadados(as) à infelicidade amorosa e<br />
conjugal comporta crer que heterossexuais estejam imunes à<br />
imponderabilidade e <strong>ao</strong>s revezes das relações afetivas, bem como<br />
ignorar que o ideal das condutas sexuais nem sempre esteve<br />
associado à conjugalidade ou à parceria homem-mulher.<br />
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