mobilizar desde já contra o “pacotaço” do governo lula - PCO
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30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B2<br />
as idéias que influenciaram a literatura negra<br />
O SURGIMENTO DO PAN-<br />
AFRICANISMO NOS PAÍSES<br />
ANGLÓFONOS: INGLATERRA,<br />
ESTADOS UNIDOS E JAMAICA<br />
O rápi<strong>do</strong> desenvolvimento<br />
da literatura negra a partir das<br />
primeiras décadas <strong>do</strong> século<br />
XX representava uma etapa de<br />
amadurecimento de um movimento<br />
anterior de evolução da<br />
consciência política e cultural<br />
<strong>do</strong> negro nos diversos países<br />
onde se en<strong>contra</strong>va, sobretu<strong>do</strong><br />
no que diz respeito à busca pela<br />
a firmação de sua raça, a característica<br />
distintiva desta nova<br />
literatura.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, uma das<br />
mais importantes e influentes<br />
correntes intelectuais negras,<br />
seria o chama<strong>do</strong> pan-africanismo,<br />
surgi<strong>do</strong> primeiro na Inglaterra,<br />
mas que alcançaria um<br />
grande desenvolvimento apenas<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Através de um intenso trabalho<br />
intelectual e de agitação<br />
cultural e política, estas idéias<br />
se espalhariam a partir daí<br />
para o restante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> negro,<br />
no Caribe, nos demais países<br />
europeus e finalmente, na<br />
África, onde serviria de ferramenta<br />
teórica para os grandes<br />
movimentos políticos de libertação<br />
nacional após o término<br />
da Segunda Guerra. Estas lutas<br />
seriam um <strong>do</strong>s mais importantes<br />
e amplos fenômenos políticos<br />
da segunda metade <strong>do</strong> século<br />
XX, lutas que tiveram seu<br />
perío<strong>do</strong> de preparação durante<br />
as primeiras cinco décadas <strong>do</strong><br />
século.<br />
Sylvester<br />
Williams e o<br />
nascimento <strong>do</strong><br />
pan-africanismo<br />
na Inglaterra<br />
Sylvester Williams<br />
Nasci<strong>do</strong> na ilha caribenha<br />
de Trinidad, colônia britânica,<br />
Henry Sylvester William foi um<br />
proeminente advoga<strong>do</strong> e militante<br />
<strong>do</strong> movimento negro que,<br />
partin<strong>do</strong> para a metrópole colonial<br />
inglesa, se tornaria um <strong>do</strong>s<br />
grandes pioneiros das idéias<br />
pan-africanas.<br />
Depois de militar durante<br />
muitos anos em seu país natal,<br />
chegou à Inglaterra em 1896,<br />
onde formou, um ano mais tarde,<br />
a Associação Africana, buscan<strong>do</strong><br />
lutar <strong>contra</strong> o racismo e<br />
o colonialismo <strong>do</strong> imperialismo<br />
britânico.<br />
A organização teria vida efêmera,<br />
mas teve uma influência<br />
decisiva em to<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />
posterior das idéias panafricanas.<br />
Sua iniciativa mais<br />
importante foi a realização em<br />
Londres, em 1900, da Conferência<br />
Pan-Africana, onde se<br />
reuniram negros vin<strong>do</strong>s de diversas<br />
nações na África Ocidental<br />
e <strong>do</strong> Sul, Caribe e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s.<br />
Entre os 30 delega<strong>do</strong>s presentes<br />
na reunião estava o norte-americano<br />
W. E. B. Du Bois,<br />
que se tornará em seu país, o<br />
mais importante propaga<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> pan-africanismo no perío<strong>do</strong><br />
seguinte. Segun<strong>do</strong> Du Bois afirmaria<br />
mais tarde, foi esta conferência<br />
que fixou pela primeira<br />
vez o termo “pan-africanismo”<br />
com um conteú<strong>do</strong> defini<strong>do</strong>, a<br />
tentativa de unificação <strong>do</strong>s movimentos<br />
negros de diferentes<br />
países em torno de uma organização<br />
internacional comum.<br />
Este encontro foi de suma importância.<br />
Através <strong>do</strong>s contatos<br />
pessoais destes delega<strong>do</strong>s, os<br />
debates aí levanta<strong>do</strong>s teriam<br />
repercussão mesmo entre o <strong>governo</strong><br />
inglês.<br />
Após esta reunião, imediatamente<br />
foram instaladas frentes<br />
de difusão <strong>do</strong> pan-africanismo<br />
em países como Trinidad, Jamaica<br />
e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Frentes<br />
que seriam responsáveis<br />
pelo primeiro impulso importante<br />
para a aproximação de<br />
militantes negros destes países.<br />
Sylvester William continuaria<br />
sua atividade política viajan<strong>do</strong><br />
por diferentes nações<br />
propagan<strong>do</strong> seu programa,<br />
sem, contu<strong>do</strong>, ter consegui<strong>do</strong><br />
nunca formar uma organização<br />
consistente que resguardasse<br />
os ideais <strong>do</strong> pan-africanismo.<br />
Ele morreria por fim em 1911,<br />
época em que trabalhava na Libéria,<br />
importante país africano<br />
que <strong>já</strong> havia conquista<strong>do</strong> sua independência<br />
ainda no final <strong>do</strong><br />
século XIX, e visto assim como<br />
um símbolo de resistência para<br />
to<strong>do</strong>s os países negros que buscavam<br />
sua soberania.<br />
O pan-africanismo, de um<br />
mo<strong>do</strong> geral defenderá a unificação<br />
das comunidades negras,<br />
dentro e fora da África, em<br />
um terreno comum, buscan<strong>do</strong>,<br />
antes de tu<strong>do</strong>, a libertação<br />
política da população negra <strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>mínio branco, e a partir daí,<br />
impulsionar um efetivo desenvolvimento<br />
econômico, político<br />
social e cultural.<br />
Estes intelectuais e militantes<br />
<strong>do</strong> movimento negro defenderão<br />
programas políticos<br />
varia<strong>do</strong>s. Enquanto que o escritor<br />
e tribuno político norteamericano<br />
W. E. B. Du Bois defenderá<br />
a luta <strong>do</strong>s negros pela<br />
conquista de direitos políticos<br />
iguais aos brancos até sua integração<br />
na sociedade onde nasceram,<br />
duas décadas mais tarde,<br />
Marcus Garvey defenderá<br />
uma política de segregação racial,<br />
através da qual ele veria a<br />
única possibilidade de progresso<br />
para os negros, defenden<strong>do</strong><br />
seu retorno à África, segun<strong>do</strong><br />
ele, a “pátria-mãe” de to<strong>do</strong>s os<br />
negros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Apesar das<br />
diferentes estratégias de luta,<br />
ambos partiam da mesma premissa:<br />
a urgente necessidade<br />
de libertação <strong>do</strong>s negros no interior<br />
da sociedade branca. Daí<br />
a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> pan-africanismo<br />
como ideologia geral destes<br />
movimentos, que expressava<br />
a busca pela unificação <strong>do</strong> movimento<br />
negro internacional<br />
em torno de seus objetivos comuns.<br />
Desta luta inicial virá, na<br />
etapa seguinte, a grande valorização<br />
por parte de uma ala<br />
da intelectualidade negra, da<br />
cultura autóctone africana, <strong>do</strong><br />
folclore popular negro de seus<br />
países, das religiões negras, de<br />
suas lendas, a tradição da literatura<br />
oral vinda das tribos<br />
negras como parte <strong>do</strong> esforço<br />
de criar uma base cultural para<br />
o desenvolvimento da luta <strong>do</strong><br />
negro.<br />
A literatura surgida a partir<br />
da influência destas idéias<br />
entre os escritores negros fará<br />
deste sentimento de comunhão<br />
um <strong>do</strong>s mais importantes aspectos<br />
da literatura negra moderna,<br />
forman<strong>do</strong> artistas que<br />
manifestariam uma profunda<br />
empatia com a miséria física e<br />
espiritual <strong>do</strong> povo negro em to<strong>do</strong>s<br />
os países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
As primeiras manifestações<br />
intelectuais no senti<strong>do</strong> de se<br />
formular um programa mais<br />
abrangente de união <strong>do</strong>s povos<br />
negros no mun<strong>do</strong> surgiriam <strong>já</strong><br />
nos séculos XVII e XVIII. Mas<br />
estas idéias ainda embrionárias<br />
apenas se manifestariam como<br />
uma tendência mais definida a<br />
partir da reação anticolonialista<br />
que se seguiu à partilha da<br />
África, realizada entre as potências<br />
imperialistas européias<br />
em 1884.<br />
O programa educacional<br />
de Booker T. Washington<br />
Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, onde<br />
o pan-africanismo terá grande<br />
desenvolvimento, estas idéias<br />
começariam a surgir de forma<br />
marcante algumas décadas<br />
após a abolição <strong>do</strong> escravismo<br />
em 1865. Neste momento, todas<br />
as expectativas <strong>do</strong>s negros<br />
de viverem como homens livres<br />
acabariam frustradas pela instauração,<br />
principalmente nas<br />
cidades <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> país, de rígidas<br />
leis segregacionistas, conhecidas<br />
como Leis Jim Crow, que<br />
criariam um novo obstáculo à<br />
inserção <strong>do</strong>s negros no interior<br />
da sociedade norte-americana.<br />
Nesse perío<strong>do</strong> surgiria uma<br />
importante tradição de militantes<br />
negros, <strong>já</strong> <strong>desde</strong> finais <strong>do</strong><br />
século XVIII, mas que ganharia<br />
verdadeira importância após<br />
1865. Já no final <strong>do</strong> século XIX,<br />
o mais importante destes representantes,<br />
entre 1890 e 1915,<br />
seria Booker T. Washington.<br />
Washington pode ser considera<strong>do</strong><br />
um continua<strong>do</strong>r da luta<br />
de to<strong>do</strong>s os líderes negros norteamericanos<br />
<strong>desde</strong> 1830, colocan<strong>do</strong><br />
em prática diversas idéias<br />
<strong>já</strong> expressas pelo líder abolicionista<br />
Frederick Douglass.<br />
Washington fora um ex-escravo<br />
e membro da classe operária<br />
negra. Sua atuação se baseava<br />
na idéia de que a libertação<br />
<strong>do</strong> negro no interior da sociedade<br />
se daria unicamente através<br />
de sua educação. Era <strong>contra</strong> a<br />
luta política <strong>do</strong>s negros por seus<br />
direitos democráticos, restringin<strong>do</strong><br />
o movimento a reivindicações<br />
puramente econômicas.<br />
Washington acreditava que a<br />
segregação racial era positiva e<br />
natural. Em uma sociedade com<br />
duas nações distintas, cada uma<br />
delas deveria desenvolver suas<br />
próprias instituições.<br />
Considerava degradante a<br />
luta <strong>do</strong>s negros pela sua inserção<br />
Du Bois, em defesa <strong>do</strong>s direitos civis <strong>do</strong>s negros<br />
Ten<strong>do</strong> começa<strong>do</strong> sua militância<br />
como discípulo de Booker T.<br />
Washington, Du Bois <strong>já</strong> nos últimos<br />
anos <strong>do</strong> século XIX, passou a<br />
desferir duras críticas <strong>contra</strong> suas<br />
concepções. Du Bois baseou sua<br />
política em um minucioso balanço<br />
<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da luta puramente<br />
econômica <strong>do</strong> grupo de Washington.<br />
Segun<strong>do</strong> Du Bois concluiu, sem<br />
influência política alguma no <strong>governo</strong>,<br />
as conquistas econômicas<br />
se revelaram efêmeras e vulneráveis.<br />
Acrescentava que mesmo seu<br />
programa educacional era limita<strong>do</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> suas conclusões, deveria<br />
incluir o ensino das ciências<br />
políticas, para que daí pudessem<br />
surgir os líderes tão necessários ao<br />
movimento negro.<br />
Em uma época onde a violência<br />
<strong>contra</strong> os negros alcançava níveis<br />
alarmantes, Du Bois passaria então<br />
a defender a luta política <strong>do</strong>s<br />
negros pela conquista de direitos<br />
democráticos que de fato resguardassem<br />
a integridade física de seu<br />
povo, mas que também assegurassem<br />
as mesmas oportunidades<br />
e conquistas trabalhistas que os<br />
brancos na indústria.<br />
Cada vez mais convenci<strong>do</strong> destas<br />
conclusões, Du Bois se tornará<br />
também um influente líder negro,<br />
um <strong>do</strong>s maiores da primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XX, através de sua<br />
militância política e cultural na<br />
NAACP, sigla em inglês para Associação<br />
Nacional para o Avanço das<br />
Pessoas de Cor.<br />
Em 1900, descontente com a<br />
política de Washington, Du Bois<br />
participará <strong>do</strong> Congresso Pan-<br />
Africano de Sylvester William.<br />
Retornan<strong>do</strong> aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
em 1903 romperá definitivamente<br />
com Washington. Dois anos mais<br />
tarde, fundará o histórico Movimento<br />
Niágara, volta<strong>do</strong> para a luta<br />
política <strong>do</strong>s negros que Washington<br />
rejeitava.<br />
O grupo encerraria suas atividades<br />
em 1909, mas apenas um<br />
ano mais tarde, em 1910, Du Bois<br />
estaria entre os funda<strong>do</strong>res da influente<br />
NAACP, organização em<br />
atividade até os dias de hoje.<br />
Entre os princípios políticos<br />
que elaborou, defendeu que entre<br />
a população negra existia uma<br />
vanguarda culta, intelectualmente<br />
esclarecida, que tinha o dever de se<br />
engajar na luta <strong>do</strong> povo negro por<br />
melhores condições de existência.<br />
Esta concepção, que possui um<br />
paralelo óbvio com o conceito marxista<br />
de vanguarda política, faria<br />
com que Du Bois voltasse a propaganda<br />
política de sua organização<br />
equivocamente, sempre para pequenas<br />
elites intelectuais, ao invés<br />
da mobilização verdadeiramente<br />
ampla das massas negras no País.<br />
Outro aspecto que Du Bois levantou<br />
pela primeira vez, e que<br />
teria grande influência sobre a<br />
literatura negra no perío<strong>do</strong> posterior,<br />
era a grande contribuição<br />
cultural que os negros deram ao<br />
país, mas que os brancos esforçavam<br />
por manter como uma cultura<br />
marginal aos olhos de to<strong>do</strong>s. Em<br />
um de seus ensaios de artigos políticos<br />
mais importantes, As Almas<br />
<strong>do</strong> Povo Negro, ele refletirá sobre<br />
o assunto. “Nossa canção, nosso<br />
trabalho, nossa disposição e advertência<br />
têm si<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s a esta nação<br />
em irmandade de sangue. Tais dádivas<br />
não serão dignas de oferecer?<br />
Nem nosso trabalho e empenho? A<br />
América seria a América sem o seu<br />
povo negro?”. Perguntas decisivas<br />
para o surgimento de uma nova visão<br />
a respeito <strong>do</strong> caráter da nação<br />
norte-americana, onde a cultura<br />
própria <strong>do</strong>s negros teria desempenha<strong>do</strong><br />
um papel decisivo na formação<br />
de sua nacionalidade.<br />
Esta será uma das principais<br />
tarefas que os escritores negros da<br />
Renascença <strong>do</strong> Harlem irão buscar<br />
resolver a partir da década de<br />
1920. O que trás à tona, por sua<br />
vez, a grande similaridade que a<br />
moderna literatura negra terá com<br />
outros modernismos americanos<br />
e sua busca pela representação artística<br />
da formação original de sua<br />
própria cultura.<br />
Du Bois e o NAACP, cuja sede estava<br />
instalada no Harlem, teriam<br />
grande influência e participação<br />
Um <strong>do</strong>s objetivos mais essenciais que motivará<br />
a maioria <strong>do</strong>s escritores negros no século XX,<br />
será o programa pan-africano surgi<strong>do</strong> na virada<br />
<strong>do</strong> século e propaga<strong>do</strong> por diferentes intelectuais<br />
negros em sua militância. Apresentamos a seguir<br />
um resumo destas idéias de forma panorâmica<br />
em uma sociedade branca que o<br />
desprezava, afirman<strong>do</strong> que o negro<br />
deveria trilhar seu próprio<br />
caminho. Era um defensor da<br />
igualdade de direitos <strong>do</strong>s negros<br />
diante <strong>do</strong>s brancos, mas não da<br />
integração das duas populações.<br />
Buscou apoio para suas<br />
idéias entre diversos setores<br />
burgueses, tanto no Norte<br />
quanto no Sul. Iniciativa bem<br />
sucedida devi<strong>do</strong> tanto ao caráter<br />
modera<strong>do</strong> de suas posições,<br />
quan<strong>do</strong> ao grande talento de<br />
Washington como político e líder<br />
carismático.<br />
O Compromisso de<br />
Atlanta e a defesa<br />
da segregação racial<br />
Como sua política se baseava<br />
em formulações puramente<br />
econômicas, lutou pela criação<br />
de escolas, universidades e instituições<br />
de qualificação técnica<br />
profissional voltadas para o ingresso<br />
<strong>do</strong>s negros na indústria.<br />
Ele mesmo foi diretor de uma<br />
importante escola para negros,<br />
o Instituto de Tuskegee, no Alabama,<br />
a partir de 1881 e até sua<br />
morte em 1915.<br />
O auge da popularidade de<br />
Washington se deu por volta de<br />
1895, ocasião em que conseguiu<br />
consolidar a unidade entre industriais<br />
<strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Sul pela<br />
qual Washington tanto aguardara,<br />
através de um famoso discurso<br />
mais tarde lembra<strong>do</strong> como<br />
o Compromisso de Atlanta.<br />
Pronuncia<strong>do</strong> para uma platéia<br />
de industriais brancos da<br />
Atlanta Cotton States, Booker<br />
T. Washington apresentava de<br />
forma mais acabada suas idéias<br />
para a solução <strong>do</strong> problema <strong>do</strong>s<br />
negros nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Aí ele diria: “Em todas as coisas<br />
puramente sociais, podemos<br />
ser tão separa<strong>do</strong>s como os cinco<br />
neste movimento literário negro,<br />
organizan<strong>do</strong>, publican<strong>do</strong> e promoven<strong>do</strong><br />
muitos destes escritores nacional<br />
e internacionalmente.<br />
O pan-africanismo<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
W.E.B. Du Bois fora um intelectual<br />
negro singular em seu país.<br />
Nasci<strong>do</strong> em um família burguesa,<br />
teve oportunidade de estudar nos<br />
melhores colégios na juventude.<br />
Foi o primeiro negro norte-americano<br />
a formar-se na Universidade<br />
de Harvard e posteriormente na<br />
Universidade de Berlim, na Alemanha.<br />
Nestas instituições, estudan<strong>do</strong><br />
as mais avançadas idéias de liberdade<br />
e democracia, baseadas na<br />
tradição alemã, inglesa e norteamericana,<br />
percebeu que o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro era<br />
assunto proibi<strong>do</strong> para discussão,<br />
relega<strong>do</strong> a segun<strong>do</strong> plano, e nunca<br />
apresenta<strong>do</strong> como uma <strong>contra</strong>dição<br />
de fato.<br />
Sua experiência militante o levaria<br />
<strong>do</strong> programa educacional de<br />
Washington, à luta política de fato<br />
no movimento Niágara e posteriormente<br />
na NAACP.<br />
Sempre buscou relacionar a luta<br />
<strong>do</strong>s negros em seu país com aquela<br />
travada em outras nações negras.<br />
Seu primeiro contato com estas<br />
idéias ocorreu em 1900, através de<br />
de<strong>do</strong>s e, no entanto, podemos<br />
ser um, como a mão, em todas<br />
as coisas essenciais ao progresso<br />
mútuo”.<br />
Reafirmaria o descaso da sociedade<br />
branca em combater o<br />
problema <strong>do</strong> racismo no interior<br />
<strong>do</strong> País, mas se posicionava <strong>contra</strong><br />
a integração das raças: “os<br />
mais sábios entre minha raça<br />
entendem que a agitação em<br />
torno das questões de igualdade<br />
social é a mais extrema loucura”.<br />
Suas posições iam ao encontro<br />
tanto aos interesses <strong>do</strong>s capitalistas<br />
<strong>do</strong> Sul, que encarava<br />
estas idéias como a capitulação<br />
definitiva das idéias de igualdade<br />
entre as raças; quanto <strong>do</strong><br />
Norte que via aí a possibilidade<br />
de um lucrativo trabalho conjunto.<br />
Este acor<strong>do</strong> – apelida<strong>do</strong><br />
posteriormente por W. E. B.<br />
Du Bois como “Acomodação de<br />
Atlanta” – tornaria Washington<br />
o mais influente líder negro de<br />
sua geração.<br />
Suas posições só podem<br />
ser corretamente compreendidas<br />
diante <strong>do</strong> fato que, em<br />
sua época, estimula<strong>do</strong>s pela<br />
burguesia norte-americana, a<br />
hostilidade <strong>do</strong>s brancos para<br />
com os negros era gigantesca,<br />
de maneira que muitos setores<br />
eram leva<strong>do</strong>s a encarar o<br />
fim da segregação como uma<br />
impossibilidade, ou simplesmente<br />
nociva para os negros.<br />
Posições que, no entanto, que<br />
seriam duramente combatidas<br />
e criticadas na etapa seguinte.<br />
Defenden<strong>do</strong> a segregação,<br />
Washington conclui que o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro só<br />
poderia ser contorna<strong>do</strong> com sua<br />
ascensão econômica, através da<br />
formação educacional e técnica<br />
pra o merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
O grande sucesso <strong>do</strong> programa<br />
de ensino <strong>do</strong> Instituto de<br />
Tuskegee também daria uma<br />
Sylvester William, por ocasião <strong>do</strong><br />
Congresso Pan-Africano <strong>do</strong> qual<br />
participava como delega<strong>do</strong>. Estas<br />
idéias confluiriam com as que lhe<br />
seriam apresentadas em 1906, assistin<strong>do</strong><br />
a uma palestra de Franz<br />
Boas na Universidade de Atlanta,<br />
apresentan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s pioneiros<br />
sobre a importância da cultura <strong>do</strong>s<br />
negros subsaarianos na para o desenvolvimento<br />
das antigas civilizações<br />
<strong>do</strong> Mediterrâneo.<br />
Nestes anos, Du Bois passaria<br />
cada vez mais a relacionar o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro em<br />
torno de um problema geral, que<br />
unificava a to<strong>do</strong>s os movimentos<br />
negros.<br />
Na medida em que percebia o<br />
permanente encobrimento das<br />
contribuições originais <strong>do</strong>s negros<br />
à cultura e à sociedade em geral,<br />
motivada por uma <strong>do</strong>minação política<br />
comum a to<strong>do</strong>s eles, Du Bois<br />
foi aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> suas idéias humanistas<br />
da juventude em virtude<br />
de uma nova consciência da real situação<br />
de opressão <strong>do</strong>s negros pelo<br />
colonialismo e pelo imperialismo,<br />
cujo exemplo norte-americano era<br />
apenas uma expressão particular<br />
de um problema geral. Em outras<br />
palavras, um verdadeiro humanismo,<br />
que compreendia agora o<br />
problema <strong>do</strong> negro e não mais o<br />
pseu<strong>do</strong>-humanismo ensina<strong>do</strong> pelas<br />
universidades das metrópoles<br />
coloniais.<br />
A obra de Du Bois seria a importante<br />
expansão das fronteiras<br />
contribuição decisiva para a<br />
influência de suas idéias. Seu<br />
programa concilia<strong>do</strong>r, que se<br />
declarava também <strong>contra</strong> a luta<br />
sindical política, conseguiu um<br />
apoio imenso de inúmeros setores<br />
de industriais, e mesmo de<br />
políticos no <strong>governo</strong>, como presidente<br />
norte-americano Theo<strong>do</strong>re<br />
Roosevelt.<br />
Isso porque Washington era<br />
também <strong>contra</strong> a revolta social<br />
<strong>do</strong>s negros, favorável a uma<br />
convivência pacífica, que seria<br />
alicerçada na resolução <strong>do</strong>s<br />
problemas <strong>do</strong>s negros através<br />
de sua própria iniciativa independente<br />
<strong>do</strong>s brancos, no que<br />
ele chamou de “auto-ajuda”.<br />
Formulação que, apesar de limitada,<br />
era importante em diversos<br />
aspectos, expressan<strong>do</strong> <strong>já</strong> a<br />
consciência que o problema <strong>do</strong>s<br />
negros só poderia ser resolvi<strong>do</strong><br />
pelos próprios negros, e não da<br />
iniciativa <strong>do</strong>s brancos, como<br />
acreditavam outros setores <strong>do</strong><br />
movimento negro nesta época.<br />
Durante algum tempo, seu<br />
programa educacional alcançaria<br />
grandes êxitos, ten<strong>do</strong><br />
como principal virtude a de<br />
ter dissemina<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o<br />
país a idéia de que a educação<br />
industrial <strong>do</strong>s negros era fundamental<br />
para sua independência<br />
econômica, e parte de<br />
sua luta pela libertação política,<br />
conclusão que Washington<br />
ignorava mas que seria tirada<br />
pelo movimento negro posterior.<br />
Na virada <strong>do</strong> século, a política<br />
de Washington começaria<br />
a ser criticada de forma cautelosa,<br />
mas determinada, por<br />
um de seus segui<strong>do</strong>res, que se<br />
tornaria, a partir <strong>do</strong> novo século,<br />
seu mais duro e influente<br />
opositor, o intelectual e militante<br />
negro William Edward<br />
Burghardt Du Bois.<br />
<strong>do</strong> provinciano movimento negro<br />
norte-americano, para o terreno<br />
favoravelmente mais amplo <strong>do</strong><br />
pan-africanismo. Movimento internacionalista<br />
por excelência. Seu<br />
programa em defesa da libertação<br />
negra, na etapa madura, se alinharia<br />
em torno de um eixo político<br />
defini<strong>do</strong> de apoio a todas as nações<br />
oprimidas pelo imperialismo,<br />
como os países asiáticos e da África<br />
Branca.<br />
Em uma palestra de 1920 ele<br />
afirmará:“É evidente que, em face<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento da África<br />
Central, o Egito deve ser livre e<br />
independente, no grande caminho<br />
que conduz a uma Índia livre e independente,<br />
ao passo que o Marrocos,<br />
a Argélia, a Tunísia e Trípoli<br />
devem religar-se à Europa, modernizan<strong>do</strong>-se<br />
na independência”.<br />
Idéias que mostram uma aproximação<br />
de Du Bois <strong>do</strong> programa <strong>do</strong><br />
internacionalismo revolucionário<br />
da classe operária e sua defesa das<br />
nações oprimidas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Parte<br />
inerente da revolução socialista,<br />
defendi<strong>do</strong> pelos marxistas.<br />
Antes de Du Bois, não havia<br />
intercâmbio algum entre as experiências<br />
políticas e idéias <strong>do</strong>s<br />
movimentos africanos e o norteamericano.<br />
Esta talvez tenha si<strong>do</strong><br />
sua obra mais importante, consolidada<br />
a partir <strong>do</strong>s importantes congressos<br />
pan-africanos promovi<strong>do</strong>s<br />
por Du Bois em diversos países ao<br />
longo de toda a primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XX.