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mobilizar desde já contra o “pacotaço” do governo lula - PCO

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semanário nacional operário e socialista<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 DE MAIO A 5 DE JUNHO DE 2010 • SP, MG e RJ R$ 4,00 • DEMAIS ESTADOS R$ 5,00<br />

A tarefa <strong>do</strong> momento:<br />

MOBILIZAR DESDE JÁ CONTRA O<br />

“PACOTAÇO” DO GOVERNO LULA<br />

Um corte no orçamento no<br />

valor de R$ 10 bilhões, que<br />

<strong>já</strong> havia si<strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong> no<br />

último dia 13 pelo ministro<br />

da Fazenda de Lula, Gui<strong>do</strong><br />

Mantega, foi confirma<strong>do</strong><br />

pelo <strong>governo</strong> e é apenas o<br />

primeiro passo de um plano<br />

para arrochar a classe<br />

operária e tentar impedir a<br />

falência <strong>do</strong>s capitalistas em<br />

crise. Página A6<br />

O corte no Orçamento expõe o fato de que o <strong>governo</strong> Lula indica para o próximo <strong>governo</strong>, seja este <strong>do</strong> PT ou <strong>do</strong> PSDB, a política econômica a ser seguida.<br />

REAJUSTE zero<br />

Lula vai vetar<br />

aumento para<br />

os aposenta<strong>do</strong>s<br />

Página A6<br />

MOVIMENTO OPERÁRIO<br />

SINTECT-MG:<br />

MAIS um ato de barbárie <strong>do</strong>s pelegos <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB<br />

Elemento <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB<br />

esfaqueia companheiros da<br />

corrente Ecetistas em Luta<br />

Um <strong>do</strong>s companheiros foi hospitaliza<strong>do</strong> com risco de vida.<br />

ELEIÇões no SINTECT-MG<br />

Grande vitória <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e da<br />

política revolucionária: quase 70% de apoio<br />

da categoria à chapa de Ecetistas em Luta em<br />

apenas um dia de votação<br />

Página A9<br />

CORREIOS - MG: Fracassa tentativa de golpe <strong>do</strong>s<br />

PATRõES <strong>contra</strong> a organização sindical<br />

Fura greves, trai<strong>do</strong>res e golpistas tentam dar golpe<br />

até na justiça e são derrota<strong>do</strong>s mais uma vez<br />

Página A9<br />

CORREIOS - SÃO PAULO<br />

Mais uma traição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. <strong>contra</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res: diretoria <strong>do</strong> Sintect-SP decide<br />

quebrar greve decidida nacionalmente Página A11<br />

nacional<br />

DILMA ROUSSEff E SERRA<br />

Duas candidaturas, o mesmo programa a<br />

serviço <strong>do</strong>s banqueiros<br />

Página A7<br />

economia<br />

UNIÃO EUROPÉIA<br />

QUER...<br />

Punir os<br />

que não<br />

atacarem os<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

<br />

Página A8<br />

internacional<br />

EUA<br />

O que o imperialismo pode fazer para<br />

evitar o colapso de Wall Street? Página A17<br />

A crise européia<br />

O salto mortal <strong>do</strong> euro<br />

SOANDO O ALARME<br />

A Espanha pode ser a próxima “Grécia”? Já é...<br />

MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />

ESCUTAS telefônicas<br />

Juízes biônicos e Polícia Federal<br />

aperfeiçoam sistema de vigilância<br />

<strong>contra</strong> a população<br />

<br />

PERNAMBUCO<br />

Página A5<br />

Mais um líder sem-terra<br />

assassina<strong>do</strong> pelo latifúndio<br />

Página A7<br />

Página A17<br />

Página A18<br />

USP<br />

Rodas é fraco: ampliar a mobilização para<br />

derrubar o reitor-interventor<br />

Página A14<br />

ENTREVISTA da semana:<br />

segun<strong>do</strong> caderno<br />

atividades<br />

A PRISÃO DOS CINCO CUBANOS NOS EUA<br />

“Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar<br />

destruir a Revolução Cubana que<br />

não puderam. Com to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s<br />

<strong>contra</strong>-revolucionários, a CIA e toda a<br />

sabotagem, não conseguiram”<br />

Causa Operária entrevista Miguel Arango Moral, funda<strong>do</strong>r<br />

da Associação Nacional de Cubanos Residentes no Brasil José<br />

Martí, que denuncia a condenação de cinco cubanos nos EUA<br />

em um processo-farsa. Página A20<br />

mulhERES<br />

Prioridade<br />

DA TROPA de<br />

ChOQUE da<br />

DIREITA<br />

Comissão da<br />

Câmara aprova<br />

Estatuto <strong>do</strong><br />

Nascituro<br />

Página A4<br />

teoria<br />

A questão da<br />

frente úNICA<br />

Os<br />

bolcheviques<br />

e os sovietes<br />

<br />

Página A16<br />

Série ESPECIAL: O DESPERTAR DA<br />

LITERATURA NEGRA<br />

O desenvolvimento <strong>do</strong>s movimentos<br />

literários negros no Caribe e na África<br />

Neste número da série destacamos algumas das principais<br />

manifestações da vanguarda da literatura negra durante as<br />

décadas de 1920 e 1930<br />

hIST[ORIA<br />

65 anos <strong>do</strong> massacre imperialista<br />

O mar de fogo em Dresden<br />

<br />

Página A15<br />

MÁRIO PEIxOTO,<br />

VERA CRUZ e CINEMA NOVO<br />

Palestras, exibição de filmes<br />

e bate-papo sobre cinema<br />

brasileiro no CCBP<br />

O Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) promoveu, no<br />

último final de semana, diversas atividades importantes sobre<br />

movimentos e obras históricas <strong>do</strong> cinema nacional, incluin<strong>do</strong><br />

a pré-estréia <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário <br />

Página A12


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

PANORAMA POLÍTICO DA SEMANA A2<br />

Cortes públicos x greves<br />

Burguesia ataca e<br />

trabalha<strong>do</strong>res europeus reagem<br />

Os trabalha<strong>do</strong>res europeus não estão dispostos a aceitar mais<br />

ataques da burguesia européia. Com a greve na British Airways<br />

e as mobilizações na Espanha, os trabalha<strong>do</strong>res deram mais<br />

uma demonstração de que não irão aceitar pagar a conta da<br />

crise <strong>do</strong> capitalismo<br />

Na última semana o agravamento<br />

da recessão mundial<br />

acentuou a crise política em<br />

diversos países.<br />

Já no início da semana, os<br />

tripulantes da British Airways<br />

iniciaram uma greve que paralisou<br />

toda a companhia aérea.<br />

Na terça-feira, 25, os pilotos,<br />

co-pilotos e navega<strong>do</strong>res<br />

da empresa iniciaram<br />

uma greve para reivindicar o<br />

aumento salarial e melhores<br />

condições de trabalho.<br />

A paralisação foi anunciada<br />

no dia anterior depois que<br />

negociações com a direção da<br />

empresa e a direção <strong>do</strong> sindicato<br />

fracassaram.<br />

A greve da British Airway<br />

mobilizou 15 mil trabalha<strong>do</strong>res,<br />

mediante este quadro<br />

a direção da companhia colocou<br />

em prática um “plano<br />

de contingência” para tentar<br />

manter funcionamento pelo<br />

menos 60% das suas rotas.<br />

Esta <strong>já</strong> é a terceira greve<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res da British<br />

Airways este ano. Em março<br />

a categoria <strong>já</strong> havia realiza<strong>do</strong><br />

duas outras paralisações.<br />

Em 18 de maio estava programada<br />

uma greve, mas a<br />

empresa conseguiu uma ordem<br />

judicial e impediu que os<br />

trabalha<strong>do</strong>res entrassem em<br />

greve.<br />

O grau de radicalização <strong>do</strong><br />

movimento pode ser medi<strong>do</strong><br />

também pelo empenho <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res. No sába<strong>do</strong>, 22,<br />

durante uma das reuniões de<br />

negociação, os trabalha<strong>do</strong>res<br />

ocuparam o prédio e a polícia<br />

foi acionada para proteger o<br />

executivo-chefe da companhia,<br />

Willie Walsh que saiu<br />

escolta<strong>do</strong> <strong>do</strong> local.<br />

Além <strong>do</strong> reajuste salarial e<br />

garantia de emprego, os trabalha<strong>do</strong>res<br />

estão reivindican<strong>do</strong><br />

o retorno <strong>do</strong>s privilégios<br />

de viagem <strong>do</strong>s funcionários<br />

que aderiram à paralisação<br />

em março e que tiveram seus<br />

benefícios corta<strong>do</strong>s pela empresa.<br />

Há também funcionários<br />

que estão sofren<strong>do</strong> processos<br />

administrativos por estarem<br />

participan<strong>do</strong> da greve.<br />

Entre os benefícios corta<strong>do</strong>s<br />

está o desconto de até 90%<br />

nas tarifas locais para que os<br />

trabalha<strong>do</strong>res se desloquem<br />

entre os países europeus para<br />

trabalhar.<br />

A crise na British Airways<br />

é um sintoma da crise geral<br />

européia que está mobilizan<strong>do</strong><br />

os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s países<br />

europeus endivida<strong>do</strong>s que<br />

a<strong>do</strong>taram a política de cortes<br />

de gastos públicos. A mesma<br />

tentativa <strong>do</strong> <strong>governo</strong> inglês<br />

em fazer os trabalha<strong>do</strong>res pagarem<br />

pela crise <strong>do</strong>s patrões<br />

terá conseqüências catastróficas<br />

para o imperialismo britânico.<br />

O fato de a greve ter atingi<strong>do</strong><br />

os tripulantes da British<br />

Airways, considerada uma<br />

categoria de elite entre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res britânicos, prenuncia<br />

que não falta muito<br />

para as demais categorias da<br />

classe operária britânica, também<br />

se <strong>mobilizar</strong>em.<br />

Mais ataque aos<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

europeus<br />

Nesta última semana novos<br />

países europeus bateram<br />

o martelo para os planos de<br />

austeridade.<br />

Nesta semana foi o <strong>governo</strong><br />

italiano que aprovou o plano<br />

de “austeridade” <strong>contra</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res.<br />

O <strong>governo</strong> italiano não<br />

poupou cinismo para justificar<br />

a aprovação de cortes<br />

diretos nos benefícios <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Para o <strong>governo</strong> de<br />

Berlusconi, “as medidas vão<br />

implicar sacrifícios difíceis,<br />

que o <strong>governo</strong> é obriga<strong>do</strong> a<br />

impor imediatamente. É preciso<br />

agir o mais rápi<strong>do</strong> possível<br />

para salvar o nosso país<br />

de... digamos o ‘risco grego’,<br />

por assim dizer” (Euronews,<br />

25/5/2010).<br />

A meta <strong>do</strong>s cortes italianos<br />

é diminuir em 24 bilhões de<br />

euros o orçamento <strong>do</strong> País. A<br />

política de cortes <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

italiano será a mesma implantada<br />

pelos demais países fali<strong>do</strong>s<br />

da zona <strong>do</strong> euro, ou seja,<br />

sugar tu<strong>do</strong> que for possível<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res para aliviar<br />

as contas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e fazer<br />

com que os capitalistas não<br />

percam lucro.<br />

Entre as medidas italianas<br />

está o congelamento <strong>do</strong>s salários<br />

<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res públicos<br />

até o ano de 2013. Também<br />

será proibi<strong>do</strong> haver novas<br />

<strong>contra</strong>tações no setor público.<br />

O plano ainda prevê redução<br />

de verbas para áreas sociais<br />

como saúde e o ataque aos<br />

trabalha<strong>do</strong>res aposenta<strong>do</strong>s<br />

com o aumento <strong>do</strong> tempo de<br />

serviço da aposenta<strong>do</strong>ria.<br />

A Itália demorou a aderir<br />

ao plano de austeridade, pois<br />

entre os países endivida<strong>do</strong>s<br />

possui um <strong>do</strong>s menores déficits<br />

da Europa, 5,3% <strong>do</strong> PIB<br />

(Produto Interno Bruto).<br />

As bolsas reagiram mal ao<br />

plano de austeridade italiano,<br />

despencaram no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />

Esta reação é bastante justificada,<br />

pois a economia italiana<br />

é a terceira maior da zona <strong>do</strong><br />

euro e sete vezes maior que a<br />

economia grega. A política de<br />

cortes na Itália é muito mais<br />

preocupante que na Grécia,<br />

pois indica que o mesmo deve<br />

acontecer com os demais países<br />

imperialistas europeus o<br />

que pode levar à falência de<br />

to<strong>do</strong> o bloco europeu de 16<br />

países que compõem a zona<br />

<strong>do</strong> euro.<br />

As bolsas também caíram<br />

pelo aprofundamento da crise<br />

entre as Coréias. O resulta<strong>do</strong><br />

das bolsas asiáticas e européias<br />

foi o pior em oito meses,<br />

<strong>desde</strong> setembro <strong>do</strong> ano<br />

passa<strong>do</strong>.<br />

Em resposta à continuidade<br />

e aprofundamento da crise<br />

européia e a piora na relação<br />

entre Coréia <strong>do</strong> Norte e Coréia<br />

<strong>do</strong> Sul, as bolsas da Europa<br />

tiveram nesta semana a<br />

maior queda <strong>desde</strong> setembro<br />

<strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />

A Itália ainda apresenta um<br />

quadro bastante alarmante,<br />

15% das famílias estão profundamente<br />

abaladas com a<br />

crise financeira e mais de <strong>do</strong>is<br />

milhões de jovens entre 15 e<br />

29 anos estão desemprega<strong>do</strong>s<br />

e sem condições de estudar.<br />

Por um voto<br />

Outro país europeu que<br />

ratificou a política de cortes<br />

foi a Espanha. O parlamento<br />

espanhol aprovou o plano de<br />

austeridade com apenas um<br />

voto de diferença.<br />

Este resulta<strong>do</strong> demonstrou<br />

a profunda crise política criada<br />

pela tentativa <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

Zapatero de aplicar um amplo<br />

plano de cortes <strong>contra</strong> o<br />

funcionalismo público e as<br />

condições de vida da classe<br />

trabalha<strong>do</strong>ra.<br />

O pacote espanhol foi aprova<strong>do</strong><br />

com críticas de to<strong>do</strong>s os<br />

la<strong>do</strong>s, tanto da direita quanto<br />

da esquerda. A votação foi de<br />

169 a favor e 168 votos <strong>contra</strong>.<br />

O projeto <strong>do</strong> <strong>governo</strong> só<br />

passou porque o parti<strong>do</strong> de<br />

centro-direita catalão CiU se<br />

absteve.<br />

O plano de austeridade espanhol<br />

pretende cortar 15 bilhões<br />

de euros <strong>do</strong> orçamento.<br />

Em <strong>contra</strong> partida ao pacote<br />

espanhol, os trabalha<strong>do</strong>res<br />

espanhóis, a exemplo <strong>do</strong>s gregos,<br />

<strong>já</strong> estão se organizan<strong>do</strong>.<br />

Com o anúncio <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

Zapatero <strong>do</strong> corte de 5% nos<br />

salários em to<strong>do</strong> o País, os<br />

protestos <strong>já</strong> se espalham pela<br />

Europa.<br />

Bastou este anúncio para<br />

que a resposta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

viesse com protestos e<br />

greves <strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong>s na Espanha.<br />

A greve <strong>do</strong> setor público<br />

está marcada para o próximo<br />

dia 8. Com os cortes, os<br />

trabalha<strong>do</strong>res espanhóis perdem<br />

bastante porque a média<br />

salarial <strong>do</strong> setor público é de<br />

1.500 euros. Com o plano de<br />

austeridade em vigor, os acor<strong>do</strong>s<br />

salariais <strong>já</strong> estabeleci<strong>do</strong>s,<br />

entre o funcionalismo público<br />

perdem a validade.<br />

Um <strong>do</strong>s protestos realiza<strong>do</strong>s<br />

pelos trabalha<strong>do</strong>res foi<br />

diante <strong>do</strong>s prédios <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

na última semana.<br />

A Espanha é um <strong>do</strong>s países<br />

mais afeta<strong>do</strong>s com a crise<br />

econômica de toda a zona <strong>do</strong><br />

euro. O desemprego atinge<br />

20% da população, sen<strong>do</strong> que<br />

em 2008 era de 8%.<br />

Com estes cortes, a tensão<br />

entre <strong>governo</strong> e trabalha<strong>do</strong>res<br />

deve aumentar porque os benefícios<br />

e auxílios até mesmo<br />

para os desemprega<strong>do</strong>s vão<br />

ser corta<strong>do</strong>s.<br />

Jamaica: mais um<br />

ataque <strong>do</strong> imperialismo<br />

Novamente os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s interfere para conter a<br />

crise revolucionária na América<br />

Latina. Desta vez é na Jamaica.<br />

No último dia 24, mais<br />

de 40 civis foram mortos a<br />

pretexto da captura de um traficante<br />

chama<strong>do</strong>, Christopher<br />

“Dudus” Coke.<br />

Os mora<strong>do</strong>res estão desespera<strong>do</strong>s<br />

e acusam os solda<strong>do</strong>s<br />

jamaicanos de atirar em qualquer<br />

pessoa sem nenhuma<br />

ressalva. O número de mortos<br />

pode chegar a mais de 70.<br />

Os conflitos iniciaram<br />

quan<strong>do</strong> tropas <strong>do</strong> Exército e<br />

a polícia ocuparam os bairros<br />

pobres de Tivoli Gardens, a<br />

oeste da capital Kingston.<br />

A operação foi realizada a<br />

pretexto <strong>do</strong> mandato de prisão<br />

e extradição <strong>do</strong> traficante<br />

“Dudus” Coke. A “operação”<br />

foi encomendada pelos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e <strong>já</strong> tomou proporções<br />

de uma verdadeira<br />

guerra civil.<br />

Desde o início da semana<br />

passada o número de mortos<br />

em confrontos, com o que a<br />

imprensa internacional chama<br />

de “ban<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

traficantes”, chegou a 73.<br />

É claro que a imprensa<br />

burguesa está manipulan<strong>do</strong><br />

as informações e o que está<br />

ocorren<strong>do</strong> não trata de uma<br />

gangue, pois Coke tem uma<br />

série de adeptos que se manifestaram<br />

nas ruas da capital<br />

<strong>do</strong> País nos últimos dias <strong>contra</strong><br />

sua extradição.<br />

Enquanto a imprensa acusa<br />

a população de traficantes,<br />

o número de mortes e de armas<br />

apreendidas pela polícia<br />

revela a farsa. Segun<strong>do</strong> o<br />

Defensor Publico Earl Witter<br />

“Há disparidade entre os números<br />

de mortos e o número<br />

de armas apreendidas. As forças<br />

de segurança, até agora<br />

foram responsáveis por quatro<br />

armas de fogo apreendidas.”<br />

(jamaicaobserver.com,<br />

26/5/2010).<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s querem<br />

prender Coke a qualquer custo<br />

para julgá-lo e condená-lo<br />

a prisão perpétua e para isso<br />

está assassinan<strong>do</strong> a queima<br />

roupa dezenas de jamaicanos.<br />

Esta operação foi possível<br />

mediante um pacto que o <strong>governo</strong><br />

jamaicano assinou com<br />

os EUA, em 1998, permitin<strong>do</strong><br />

que policiais e militares pudessem<br />

entrar no país e perseguir<br />

suspeitos de trafico de<br />

drogas.<br />

A reação popular a favor<br />

de Coke é porque o traficante<br />

ajuda os pobres <strong>do</strong> País como<br />

se fosse um Robin Hood moderno,<br />

coloca crianças na escola,<br />

entrega dinheiro para os<br />

pobres e ajuda os mora<strong>do</strong>res<br />

dan<strong>do</strong> assistência básica.<br />

Como a situação econômica<br />

da Jamaica não foge à<br />

regra mundial, ou seja, está<br />

profundamente crítica. Os<br />

políticos <strong>do</strong> País fizeram um<br />

acor<strong>do</strong> com os traficantes.<br />

Enquanto os políticos governam<br />

oficialmente, os traficantes,<br />

por meio da popularidade<br />

entre os pobres, conseguem<br />

benefícios em troca de votos.<br />

A mobilização da população<br />

jamaicana em favor <strong>do</strong><br />

“traficante” reflete mais que<br />

um apoio a Coke, mas um<br />

descontentamento generaliza<strong>do</strong><br />

que existe no País diante<br />

da total falência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> jamaicano<br />

que é um reflexo da<br />

falência <strong>do</strong> capitalismo como<br />

um to<strong>do</strong>.<br />

22 SÁB<br />

• Obama anuncia a<br />

nova Estratégia de<br />

Defesa <strong>do</strong>s EUA.<br />

• Pior queda nas bolsas<br />

européias e asiáticas<br />

<strong>desde</strong> setembro de<br />

2009<br />

• 80 pessoas<br />

morrem em<br />

atenta<strong>do</strong>s<br />

cometi<strong>do</strong>s no<br />

Paquistão<br />

Exército jamaicano assassina 73 civis como pretexto de captura de traficantes,<br />

Christopher “Dudus” Coke<br />

Depois de fracasso nas negociações trabalha<strong>do</strong>res da empresa aérea British Airways<br />

entram em greve.<br />

Espanha aprova plano de austeridade fiscal com votação super apertada que vai<br />

promover cortes de gastos públicos de mais de 15 bilhões de euros<br />

Devi<strong>do</strong> às acusações da Coréia <strong>do</strong> Sul <strong>contra</strong> a Coreia <strong>do</strong> Norte, de ter torpedea<strong>do</strong> um<br />

navio, os EUA junto com a Coréia <strong>do</strong> Sul iniciaram novamente a política de pressões<br />

<strong>contra</strong> os norte-coreanos<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

Funda<strong>do</strong> em junho de 1979<br />

Editor - Rui Costa Pimenta - Tiragem - seis mil e quinhentos exemplares - Redação - Av. Miguel Stéfano nº 349,<br />

Saúde, São Paulo, Capital, CEP 04301-010 - Telefone (11) 5584-9322 - Sede Nacional - São Paulo - Av Miguel<br />

Stéfano, nº 349, Saúde, São Paulo, Capital, CEP 04301-010, Fone (11) 5584-9322 - Correspondência e assinaturas<br />

- Todas as cartas, pedi<strong>do</strong>s de assinaturas ou de informações sobre as publicações Causa Operária devem<br />

ser enviadas para a redação ou para o endereço eletrônico - pco@pco.org.br, página na internet - www.pco.<br />

org.br/causaoperaria<br />

ACONTECEU NA ÚLTIMA SEMANA<br />

23 <strong>do</strong>m<br />

• Anuncia<strong>do</strong> o<br />

assassinato de mais<br />

um trabalha<strong>do</strong>r<br />

sem-terra, Zito José<br />

Gomes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

de Pernambuco<br />

• Chacina na<br />

Jamaica mata no<br />

mínimo 73 civis<br />

24 seg<br />

• Trabalha<strong>do</strong>res<br />

da British Airways<br />

entram em greve<br />

25 ter 26 qua<br />

27 qui<br />

21 sex<br />

• Congresso<br />

espanhol aprova <strong>do</strong><br />

plano de austeridade<br />

por apenas um voto<br />

de diferença<br />

Semanário de circulação nacional<br />

Ano XXX - nº 588 - de 30 de maio a 5 de junho de 2010<br />

SP, MG e RJ R$ 4,00 • demais esta<strong>do</strong>s R$ 5,00


30 de maio 2010 CAUSA OPERÁRIA A3<br />

Editoriais<br />

A falência da União Européia<br />

A<br />

crise grega expôs as fissuras fundamentais na união<br />

monetária da União Européia. Diante de uma das<br />

maiores crises que <strong>já</strong> atingiu o bloco, este não foi<br />

capaz não só de evitar a crise, como impedir que<br />

ela se espalhasse para os outros países europeus, com o endividamento<br />

desses países e a desvalorização <strong>do</strong> euro.<br />

Uma das características da união monetária européia é a<br />

eliminação <strong>do</strong>s riscos envolvi<strong>do</strong>s no câmbio entre os países.<br />

No entanto, uma crise como a da Grécia está ameaçan<strong>do</strong> de<br />

falência o crédito nacional <strong>do</strong>s demais países da zona <strong>do</strong> euro<br />

e a própria moeda <strong>do</strong> bloco.<br />

Isso porque o me<strong>do</strong> da falência da Grécia levou o merca<strong>do</strong><br />

financeiro a aumentar os custos <strong>do</strong>s empréstimos a outros<br />

países cuja economia tem características semelhantes, como<br />

Espanha e Portugal, as mais fracas <strong>do</strong> bloco. O que demonstrou<br />

a fragilidade <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> financeiro estabeleci<strong>do</strong> no bloco, que se<br />

rompeu diante da crise, e da própria existência <strong>do</strong> bloco europeu<br />

ameaça<strong>do</strong> de falência.<br />

Um efeito em cadeia se seguiu atingin<strong>do</strong> os países-membros<br />

mais fortes da União Européia diante da alta exposição <strong>do</strong>s seus<br />

bancos ao risco Grécia.<br />

A crise <strong>já</strong> está consumin<strong>do</strong> os recursos disponíveis <strong>do</strong>s países<br />

europeus e coloca a possibilidade de falência <strong>do</strong> euro em um<br />

curto espaço de tempo. É possível que o bloco europeu não dure<br />

Brasil: terra <strong>do</strong> grampo e <strong>do</strong>s juízes biônicos<br />

O<br />

aperfeiçoamento <strong>do</strong>s grampos telefônicos que acaba<br />

de ser decidi<strong>do</strong> pelo Conselho Nacional de Justiça,<br />

presidi<strong>do</strong> hoje pela figura que representa a direita no<br />

Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, é um exemplo<br />

de que os juízes biônicos estabelecem uma terra sem lei no País.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que a imprensa burguesa afirma, de que<br />

seriam os juízes biônicos, indica<strong>do</strong>s pelo <strong>governo</strong>, as grandes<br />

autoridades, as pessoas mais lúcidas e com maior preparo para<br />

decidir sobre questões polêmicas, estes provam ser parte da<br />

ala direitista mais raivosa no Esta<strong>do</strong>.<br />

Foram estes juízes, por meio <strong>do</strong> Conselho Nacional de Justiça,<br />

que decidiram nos basti<strong>do</strong>res, junto com a Polícia Federal,<br />

que estes órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> poderão ter centrais instaladas nas<br />

empresas de telefonia para ter acesso a to<strong>do</strong>s os telefones no<br />

País e que, mediante autorizações <strong>do</strong>s mesmos juízes, a PF<br />

poderá interceptar qualquer ligação.<br />

Os juízes alimentam um monstro, um esquema apoia<strong>do</strong> por<br />

um esta<strong>do</strong> de exceção que pode se voltar <strong>contra</strong> to<strong>do</strong>s, por um<br />

poder sem limites que é da<strong>do</strong> a um órgão policial.<br />

O Brasil <strong>já</strong> é hoje uma “terra sem lei” quan<strong>do</strong> se trata de<br />

grampos e escutas telefônicas.<br />

Da<strong>do</strong>s oficiais <strong>do</strong> Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de<br />

maio deste ano, são de que o País tem 10,5 mil casos de interceptações<br />

em curso, decretadas pela Justiça nos esta<strong>do</strong>s e pela<br />

Caso da furadeira: não houve engano,<br />

mas intenção de matar<br />

Charge da semana<br />

nem mais uma década. As diferenças estão colocadas apenas<br />

sobre como a crise vai se desenvolver.<br />

O imperialismo europeu e norte americano preparam um<br />

conjunto de medidas drásticas a serem aplicadas na Grécia para<br />

evitar o colapso financeiro <strong>do</strong> país que <strong>já</strong> atinge outros países<br />

europeus. A redução drástica <strong>do</strong> déficit público <strong>do</strong> país, com<br />

cortes salariais, corte de empregos, aposenta<strong>do</strong>rias e direitos<br />

elementares da população, como saúde e educação, são medidas<br />

que até mesmo a cúpula <strong>do</strong> imperialismo acredita serem inviáveis<br />

para evitar o colapso <strong>do</strong> país e a falência da União Européia.<br />

O bloco europeu en<strong>contra</strong>-se em perigo diante da eminência<br />

de falência <strong>do</strong>s seus países-membros. Os <strong>governo</strong>s da<br />

Alemanha, França, Espanha, Itália, Portugal e Reino Uni<strong>do</strong> <strong>já</strong><br />

anunciam medidas para conter a crise que se espalha e atinge<br />

suas economias.<br />

Em resposta aos ataques <strong>do</strong> <strong>governo</strong>s, os trabalha<strong>do</strong>res gregos<br />

estão realizan<strong>do</strong>, <strong>desde</strong> o início <strong>do</strong> ano, enormes mobilizações de<br />

massa. Mobilizações que estão sen<strong>do</strong> seguidas pelos demais trabalha<strong>do</strong>res<br />

europeus e que evoluem em um senti<strong>do</strong> revolucionário.<br />

O impasse en<strong>contra</strong><strong>do</strong> pelo imperialismo é que diante <strong>do</strong><br />

ataque sem precedentes que pretendem realizar <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res<br />

europeus não há nenhuma forma de evitar a revolta<br />

desses trabalha<strong>do</strong>res e o desenvolvimento da tendência revolucionária<br />

dessas mobilizações.<br />

Justiça Federal.<br />

Em 2007 foram realizadas 407 mil interceptações telefônicas,<br />

o que foi levanta<strong>do</strong> na CPI <strong>do</strong> grampo, segun<strong>do</strong> as próprias<br />

empresas de telefonia.<br />

Diante das atuais mudanças e <strong>do</strong>s números que são aberrantes,<br />

o CNJ mostra o que pretende <strong>contra</strong> a população.<br />

A juíza auxiliar da Correge<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> CNJ, Salise Monteiro<br />

Sanchotene, chegou a declarar à Agência Esta<strong>do</strong> no último<br />

dia 23 de maio que este “é um número relativamente pequeno<br />

de interceptações, não é nada para um País de 180 milhões<br />

de habitantes”.<br />

Por comparação com outros países, as leis que garantem<br />

no Brasil o direito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de realizar os grampos só se<br />

assemelham às arbitrariedades realizadas pelo imperialismo<br />

norte-americano como o Patriotic Act que varreu da Constituição<br />

<strong>do</strong>s EUA direitos democráticos sob a pressão <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

de George W. Bush.<br />

No Brasil, as escutas não só são usadas como um <strong>do</strong>s meios<br />

principais em uma investigação, como é dada autorização de<br />

acor<strong>do</strong> com o escalão <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s em promover as escutas,<br />

como se viu no caso <strong>do</strong> banqueiro Daniel Dantas e da<br />

briga entre empresas de telefonia nacionais e internacionais<br />

no Brasil, como também são usadas <strong>contra</strong> os movimentos<br />

populares e a esquerda.<br />

O<br />

caso de Hélio Barreira Ribeiro, executa<strong>do</strong> por policiais<br />

simplesmente porque estava com um furadeira, que<br />

supostamente foi confundida com uma arma, foi o<br />

último exemplo de barbaridade policial a vir à tona.<br />

Para se ter idéia <strong>do</strong> absur<strong>do</strong>, apenas nas últimas semanas<br />

os policiais foram denuncia<strong>do</strong>s por promover ao menos três<br />

chacinas, entre elas a chacina da Baixada Santista, São Paulo,<br />

na qual os policiais em uma única semana mataram 23 pessoas<br />

e planejavam executar outras 50. Isso sem falar nos casos <strong>do</strong>s<br />

motoboys que foram brutalmente assassina<strong>do</strong>s e agora o caso<br />

<strong>do</strong> jovem executa<strong>do</strong> por um cabo <strong>do</strong> Batalhão de Operações<br />

Policiais Especiais (Bope) porque estava seguran<strong>do</strong> uma<br />

furadeira.<br />

O crime aconteceu na uinta-feira, dia 20, no Andaraí, na<br />

zona Norte <strong>do</strong> Rio de Janeiro. De acor<strong>do</strong> com testemunhas<br />

a vítima Hélio Barreira Ribeiro estava instalan<strong>do</strong> um tol<strong>do</strong><br />

no terraço da sua casa quan<strong>do</strong> foi atingi<strong>do</strong> por uma bala de<br />

fuzil disparada pelo cabo <strong>do</strong> Bope. A desculpa esfarrapada<br />

apresentada pela Polícia e por toda a imprensa burguesia foi<br />

a de que o policial havia “confundi<strong>do</strong>” a furadeira com uma<br />

arma. O cinismo da afirmação é grotesco. É óbvio que não<br />

houve nenhuma confusão. É impossível que qualquer pessoa<br />

que esteja a poucos metros de distância de uma furadeira, que<br />

vale a pena salientar tinha um fio de mais de 24 cm, a confunda<br />

com uma arma. Não só isso. Mesmo que fosse uma arma,<br />

isso não daria à polícia o direito de simplesmente executar o<br />

seu porta<strong>do</strong>r.<br />

O descaramento da polícia fica ainda mais evidente pelo<br />

fato de o assassino ser um <strong>do</strong>s cabos mais experientes, responsável<br />

por atuar na linha de frente durante incursões da<br />

tropa nas favelas. Um policial que está na polícia há mais<br />

de 12 anos e que inclusive fez curso de tiros nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e na Polícia Federal. Ou seja, não se tratava de um<br />

mero policial, de uma pessoa sem experiência, mas de uma<br />

figura importante, que sem sombra de dúvidas tinha a plena<br />

certeza <strong>do</strong> que estava fazen<strong>do</strong>. Para piorar a situação, depois<br />

de executar o mora<strong>do</strong>r os policiais ainda invadiram a casa,<br />

apontaram o fuzil para a esposa da vítima (que não possuía<br />

nenhuma “arma” na mão), mandan<strong>do</strong> aos gritos que ela se<br />

jogasse no chão. O que mostra que não havia nenhum engano,<br />

mas uma clara intenção de matar.<br />

O que também chama atenção é que poucas horas antes<br />

de Hélio Ribeiro ser executa<strong>do</strong>, policiais <strong>do</strong> 6º Batalhão de<br />

Polícia Militar da Tijuca estavam realizan<strong>do</strong> uma operação no<br />

Morro <strong>do</strong> Andaraí, que terminou com a morte de pelo menos<br />

três pessoas. Como se vê, o caso é apenas uma demonstração<br />

<strong>do</strong> que acontece diariamente com a população pobre e<br />

trabalha<strong>do</strong>ra, principalmente a que mora nas favelas, onde<br />

essas ações são ainda piores, <strong>já</strong> que existe to<strong>do</strong> um acor<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s setores da burguesia para ocultar esses casos, permitin<strong>do</strong><br />

assim o extermínio produzi<strong>do</strong> pela polícia.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> o que se coloca para a população é a necessidade<br />

imediata de organizar uma reação às matanças da PM.<br />

Para isso apenas a criação de milícias populares, escolhida<br />

pela população de cada comunidade, pode solucionar o problema.<br />

Apenas dessa forma a classe operária, principal alvo<br />

da política de extermínio da burguesia, pode se defender <strong>do</strong>s<br />

ataques promovi<strong>do</strong>s pelos setores mais direitistas.<br />

Enquanto demagogia<br />

ecológica corre solta,<br />

monopólios capitalistas<br />

produzem um <strong>do</strong>s<br />

maiores desastres<br />

ecológicos da História<br />

Rui Costa Pimenta<br />

que representa 75 milhões de dólares para uma<br />

O empresa que tem faturamento anual de 246, 1<br />

bilhões? Apenas 0,03%. Ou seja, nada.<br />

Este é o valor que a British Petroleum vai pagar de<br />

multa pelo que <strong>já</strong> é considera<strong>do</strong> o pior derramamento<br />

de petróleo da História, até agora estima<strong>do</strong> em 148<br />

milhões de litros, mas que pode ser mais de duas vezes<br />

maior, com danos inestimáveis para o meio ambiente.<br />

Vale lembrar que estamos em meio à maior onda de<br />

demagogia ecológica que a humanidade <strong>já</strong> conheceu.<br />

O imperialismo mundial se esforça ao máximo para<br />

convencer a to<strong>do</strong>s que há mudanças climáticas que<br />

estariam colocan<strong>do</strong> o planeta em perigo.<br />

Sob esse pretexto queriam, por exemplo, impor uma<br />

drástica redução na produção industrial de países como<br />

o Brasil, Índia e China. A histeria em torno <strong>do</strong> “aquecimento<br />

global” serviria também para que estes países<br />

<strong>do</strong>assem somas bilionárias para um “fun<strong>do</strong>” que ficaria,<br />

evidentemente, sob controle <strong>do</strong> próprio imperialismo. Os<br />

países imperialistas fazem uma campanha internacional<br />

em defesa da Amazônia que os primitivos brasileiros<br />

não teriam condições de preservar e precisariam ser tutela<strong>do</strong>s<br />

pelos limpos e evoluí<strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s imperialistas.<br />

Enquanto isso, o <strong>governo</strong> norte-americano deu carta<br />

branca para que a British Petroleum e outras companhias<br />

agissem livremente na exploração <strong>do</strong> petróleo e gás no<br />

Golfo <strong>do</strong> México, não exigin<strong>do</strong> que essas seguissem<br />

qualquer regulamento de segurança nos procedimentos<br />

que executam. Esta medida é uma das responsáveis pelas<br />

trágicas conseqüências <strong>do</strong> acidente. Há mais de um mês,<br />

<strong>desde</strong> a explosão de uma plataforma, estima-se que até<br />

11 milhões de litros de petróleo estejam vazan<strong>do</strong> por<br />

dia, o que poderia ter si<strong>do</strong> evita<strong>do</strong>.<br />

A demagogia ecológica serve, assim, muito bem ao<br />

propósito de procurar barrar o desenvolvimento industrial<br />

<strong>do</strong>s países atrasa<strong>do</strong>s e de extorquir esses países para<br />

financiar os banqueiros e capitalistas internacionais.<br />

Serve igualmente para exercer muita pressão moral e<br />

política sobre a população em geral. No entanto, quan<strong>do</strong><br />

os polui<strong>do</strong>res são os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ou o Reino Uni<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> são os gigantescos monopólios capitalistas, ou<br />

seja, quan<strong>do</strong> eles mesmos se revelam como os maiores<br />

polui<strong>do</strong>res e causa<strong>do</strong>res de desastres naturais, não há<br />

defesa da ecologia, mas apenas a defesa <strong>do</strong> lucro <strong>do</strong>s<br />

grandes capitalistas.<br />

Como eles disseram...<br />

“(...) para a revolução não basta que as massas exploradas e<br />

oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar<br />

viven<strong>do</strong> como vivem e exijam transformações; para a revolução<br />

é necessário que os explora<strong>do</strong>res não possam continuar<br />

viven<strong>do</strong> e governan<strong>do</strong> como vivem e governam. Só quan<strong>do</strong> os<br />

“de baixo” não querem e os “de cima” não podem continuar<br />

viven<strong>do</strong> à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em<br />

outras palavras, esta verdade exprime-se <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que<br />

afete explora<strong>do</strong>s e explora<strong>do</strong>res). Por conseguinte, para fazer a<br />

revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria<br />

<strong>do</strong>s operários (ou, em to<strong>do</strong> caso, a maioria <strong>do</strong>s operários<br />

conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a<br />

fun<strong>do</strong> a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar<br />

a vida por ela ; em segun<strong>do</strong> lugar, é preciso que as classes<br />

dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à<br />

política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda<br />

revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação <strong>do</strong><br />

número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes<br />

à massa trabalha<strong>do</strong>ra e oprimida, antes apática), que<br />

reduza o <strong>governo</strong> à impotência e. torne possível sua rápida<br />

derrubada pelos revolucionários”.<br />

Datas<br />

Vladimir Ilitch Lênin<br />

de Esquerdismo: <strong>do</strong>ença infantil <strong>do</strong> comunismo.<br />

31 de maio de 1819<br />

Nasce Walt Whitman, poeta norte-americano.<br />

2 de junho de 1964<br />

Criação da Organização para a Libertação da Palestina<br />

(OLP).<br />

3 de junho de 1906<br />

Nascimento de Josephine Baker, cantora, atriz e ativista<br />

norte-americana<br />

3 de junho de 1924<br />

Morre Franz Kafka, escritor tcheco , autor de A metamorfose<br />

4 de junho de 1969<br />

O Exército de Mobutu reprime manifestação no Congo,<br />

causan<strong>do</strong> a morte de mais de 100 estudantes.<br />

Frases da semana<br />

“To<strong>do</strong>s que mostram reação negativa (ao acor<strong>do</strong> entre<br />

Brasil, Turquia e Irã) têm armas nucleares”, Recep Tayyip<br />

Er<strong>do</strong>gan, premiê da Turquia sobre o acor<strong>do</strong> com Teerã.<br />

“As medidas vão implicar sacrifícios difíceis, que o <strong>governo</strong><br />

é obriga<strong>do</strong> a impor imediatamente. É preciso agir o<br />

mais rápi<strong>do</strong> possível para salvar o nosso país de... digamos<br />

o ‘risco grego’, por assim dizer”, afirmou ao Euronews o<br />

subsecretário da presidência <strong>do</strong> Conselho de Ministros da<br />

Itália sobre o pacote de retenção de gastos aprova<strong>do</strong> pelo<br />

<strong>governo</strong> italiano.<br />

“[o movimento na Tailândia] expandiu-se para se assemelhar<br />

a um grande movimento social em relação aos segmentos menos<br />

favoreci<strong>do</strong>s da sociedade tailandesa rebelan<strong>do</strong>-se <strong>contra</strong> o que<br />

eles dizem que é uma elite que tenta controlar as instituições<br />

democráticas da Tailândia”, nota da imprensa internacional<br />

sobre o desenvolvimento <strong>do</strong>s conflitos na Tailândia.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MULHERES A4<br />

PRIORIDADE DA TROPA DE CHOQUE DA DIREITA<br />

Comissão da Câmara aprova Estatuto <strong>do</strong> Nascituro<br />

Comissão de Seguridade Social e Família aprovou o<br />

projeto de lei que pretende acabar com o direito das<br />

mulheres ao aborto em casos de violência sexual,<br />

criminalizar a fertilização in vitro e pesquisas com<br />

cé<strong>lula</strong>s-tronco embrionárias<br />

Sessão da CSSF que aprovou o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />

No último dia 19, a Comissão<br />

de Seguridade Social e<br />

Família (CSSF), da Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s aprovou o Projeto<br />

de Lei 478/2007 que cria<br />

o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />

O projeto é a junção de uma<br />

série de outros projetos da tropa<br />

de choque da direita <strong>contra</strong><br />

as mulheres que no Congresso<br />

Nacional atuam para<br />

atacar os direitos das mulheres.<br />

O Estatuto reúne absur<strong>do</strong>s<br />

jurídicos, ataque a princípios<br />

constitucionais, retrocesso<br />

da legislação atual em diversos<br />

aspectos, além de criar<br />

empecilhos para estu<strong>do</strong>s, por<br />

exemplo, com cé<strong>lula</strong>s-tronco<br />

embrionárias e fertilização in<br />

vitro.<br />

Como <strong>já</strong> foi dito aqui, o projeto<br />

é a prioridade da tropa de<br />

choque da direita. É o “PAC”<br />

<strong>do</strong>s conserva<strong>do</strong>res e fundamentalistas<br />

para este ano eleitoral.<br />

A aprovação <strong>do</strong> projeto<br />

é fundamental para justificar o<br />

financiamento de suas candidaturas,<br />

seja por parte da Igreja,<br />

de organismos internacionais,<br />

de caixa <strong>do</strong>is ou coisa que<br />

o valha. É parte <strong>do</strong> programa<br />

político da hierarquia da Igreja<br />

Católica para impor <strong>do</strong>gmas<br />

através de leis, e a prisão de<br />

mulheres em nome <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>.<br />

E ainda parte <strong>do</strong> programa da<br />

direita internacional que diante<br />

da crise <strong>do</strong> regime vem aumentan<strong>do</strong><br />

sua ação repressiva<br />

em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e pretende<br />

cada vez mais restringir os direitos<br />

democráticos de toda a<br />

população.<br />

CPI DO ABORTO<br />

Mais uma indicação<br />

No mesmo dia em que foi<br />

aprova<strong>do</strong> o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />

a CPI <strong>do</strong> aborto recebeu<br />

mais uma indicação. Agora são<br />

11 titulares. Faltam <strong>do</strong>is para a<br />

CPI ser instalada<br />

No último dia 19, a Comissão<br />

de Seguridade Social e Família<br />

(CSSF) da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s<br />

aprovou o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />

Na noite desse mesmo dia, o<br />

PSDB indicou seu terceiro titular<br />

a compor a CPI <strong>do</strong> aborto.<br />

A mais nova integrante é a deputada<br />

Professora Raquel Teixeira<br />

(PSDB-GO) que divide as<br />

vagas <strong>do</strong> bloco PSDB/DEM/<br />

PPS com os deputa<strong>do</strong>s Bispo<br />

Gê Tenuta (DEM-SP), João<br />

Campos (PSDB-GO), Zenal<strong>do</strong><br />

Coutinho (PSDB-PA) e Jorge<br />

Tadeu Mudalen (DEM-SP).<br />

A deputada Professora Raquel<br />

Teixeira esteve no 3º Encontro<br />

de Legisla<strong>do</strong>res e Governantes<br />

pela Vida, onde dividiu a<br />

mesa com Solange Almeida<br />

(PMDB-RJ), relatora <strong>do</strong> Estatuto<br />

<strong>do</strong> Nascituro, e a presidenta<br />

<strong>do</strong> Psol, Heloísa Helena. Com<br />

sua indicação a CPI fica com 11<br />

titulares e um suplente. Ficam<br />

faltan<strong>do</strong> apenas <strong>do</strong>is titulares<br />

para que a CPI seja instalada.<br />

É importante lembrar alguns<br />

aspectos que estão por detrás<br />

dessa Comissão Parlamentar de<br />

Inquérito.A CPI <strong>do</strong> aborto é a<br />

prioridade de número <strong>do</strong>is da<br />

tropa de choque da direita <strong>contra</strong><br />

as mulheres no Congresso<br />

Nacional. A prioridade número<br />

um é o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />

proposto pelo deputa<strong>do</strong> Luiz<br />

Bassuma (ex-PT-BA, atual PV)<br />

e Miguel Martini (PHS-MG) que<br />

foi aprova<strong>do</strong>, como dito anteriormente,<br />

pela CSSF, e agora vai<br />

Um retrocesso<br />

O projeto aprova<strong>do</strong> pela Comissão<br />

de Seguridade Social e<br />

Família foi o substitutivo da<br />

deputada Solange Almeida<br />

(PMDB-RJ), relatora <strong>do</strong> projeto<br />

na Comissão, ao Projeto de<br />

Lei 478/07, <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s Luiz<br />

Bassuma (ex-PT-BA, atual PV)<br />

e Miguel Martini (PHS-MG),<br />

que cria o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />

Fundamentalmente, o Estatuto<br />

pretende impor o entendimento<br />

filosófico de que “a vida<br />

começa na concepção”. Identifican<strong>do</strong><br />

o embrião como “ser<br />

humano não nasci<strong>do</strong>”, o projeto<br />

estabelece que “<strong>desde</strong> a concepção<br />

são reconheci<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s<br />

os direitos <strong>do</strong> nascituro, em<br />

especial o direito à vida, à saúde,<br />

ao desenvolvimento, à integridade<br />

física e os demais direitos”.<br />

Nesse entendimento estão,<br />

inclusive, embriões produzi<strong>do</strong>s<br />

por fertilização in vitro ainda<br />

não transferi<strong>do</strong>s para o útero da<br />

mulher. Deixan<strong>do</strong> em aberto o<br />

futuro da prática no País.<br />

O projeto abertamente pretende<br />

ser um retrocesso na legislação<br />

atual. Isto porque o<br />

Código Penal de 1940, em seu<br />

artigo 128, permite o aborto em<br />

casos de estupro ou quan<strong>do</strong> há<br />

risco para a vida da mulher.<br />

Diante da polêmica sobre o assunto,<br />

mesmo com os deputa<strong>do</strong>s<br />

da tropa de choque da direita<br />

na Comissão, a deputada<br />

Solange Almeida sinalizou que<br />

poderia fazer uma complementação<br />

de voto para, supostamente,<br />

assegurar que o Estatuto<br />

não alteraria o Artigo 128 <strong>do</strong><br />

Código Penal. Uma manobra.<br />

Um golpe.<br />

Os propositores <strong>do</strong> projeto,<br />

inclusive sua relatora, Solange<br />

Almeida, declararam mais de<br />

uma vez que o Estatuto pretende<br />

impedir qualquer possibilidade<br />

de aborto no Brasil.<br />

Não é possível que o projeto<br />

garanta a execução <strong>do</strong> Código<br />

Penal uma vez que seu conteú<strong>do</strong><br />

é a exata <strong>contra</strong>dição <strong>do</strong> art.<br />

128.<br />

O projeto estabelece:<br />

“Art. 12. É veda<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong><br />

ou a particulares causar<br />

dano ao nascituro em razão de<br />

ato cometi<strong>do</strong> por qualquer de<br />

seus genitores.<br />

“Art. 13. O nascituro concebi<strong>do</strong><br />

em decorrência de estupro<br />

terá assegura<strong>do</strong> os seguintes<br />

direitos:<br />

I – direito à assistência prénatal,<br />

com acompanhamento<br />

psicológico da mãe;<br />

II – direito de ser encaminha<strong>do</strong><br />

à a<strong>do</strong>ção, caso a mãe<br />

assim o deseje.<br />

§ 1º Identifica<strong>do</strong> o genitor<br />

<strong>do</strong> nascituro ou da criança <strong>já</strong><br />

nascida, será este responsável<br />

por pensão alimentícia nos termos<br />

da lei.<br />

§ 2º Na hipótese de a mãe<br />

vítima de estupro não dispor de<br />

meios econômicos suficientes<br />

para cuidar da vida, da saúde <strong>do</strong><br />

desenvolvimento e da educação<br />

da criança, o Esta<strong>do</strong> arcará<br />

com os custos respectivos até<br />

que venha a ser identifica<strong>do</strong> e<br />

responsabiliza<strong>do</strong> por pensão o<br />

genitor ou venha a ser a<strong>do</strong>tada<br />

a criança, se assim for a vontade<br />

da mãe.”<br />

Leia-se: mesmo que a gestação<br />

seja fruto de uma violência<br />

hedionda, o estupro, nem o<br />

Esta<strong>do</strong>, a justiça, o médico e<br />

nem mesmo a mulher vítima<br />

dessa violência poderá decidir<br />

pela interrupção da gestação. E<br />

após o assédio moral e o terror<br />

psicológico para forçá-la a<br />

manter a gestação, a proposta é<br />

que o estupra<strong>do</strong>r seja localiza<strong>do</strong>,<br />

apenas para ser estabelecida<br />

a tortura de recorrer à justiça<br />

não para garantir a punição <strong>do</strong><br />

seu algoz, mas uma “pensão alimentícia”<br />

ao nascituro! Para,<br />

além <strong>do</strong> filho, manter o vínculo<br />

da vítima com seu estupra<strong>do</strong>r<br />

por pelo menos 18 anos. À<br />

mulher, nenhum direito, apenas<br />

o assédio, a tortura, o terror.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, mesmo<br />

quan<strong>do</strong> a vida da mulher estiver<br />

em risco, ela será obrigada<br />

a dispor de sua vida para<br />

para a CCFFC (Comissão de<br />

Fiscalização Financeira e Controle)<br />

por haver no projeto proposta<br />

que gera ônus para o Esta<strong>do</strong>,<br />

a chama<strong>do</strong> “bolsa estupro”.<br />

A CPI foi aprovada no final <strong>do</strong><br />

ano passa<strong>do</strong>, por ação <strong>do</strong> então<br />

presidente da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s<br />

Arlin<strong>do</strong> Chinaglia (PT-SP),<br />

que para tentar reaver a confiança<br />

<strong>do</strong> movimento de mulheres esteve<br />

na votação <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong><br />

Nascituro, na CSSF, onde votou<br />

<strong>contra</strong> o projeto, como líder <strong>do</strong><br />

<strong>governo</strong>. No entanto, sua encenação<br />

na CSSF não retira <strong>do</strong> PT<br />

e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> a responsabilidade<br />

pela ameaça da CPI <strong>do</strong> aborto e<br />

pela própria aprovação <strong>do</strong> Estatuto<br />

<strong>do</strong> Nascituro.<br />

O objetivo da tropa de choque<br />

da direita com a CPI é ampliar a<br />

perseguição à qual as mulheres<br />

<strong>já</strong> estão submetidas diante da<br />

ilegalidade <strong>do</strong> aborto. A idéia é<br />

utilizar o precedente <strong>do</strong> Mato<br />

Grosso <strong>do</strong> Sul, onde quase<br />

10.000 mulheres foram acusadas<br />

e indiciadas por “crime de<br />

aborto”, com base em prontuários<br />

médicos, <strong>do</strong>cumentos sigilosos<br />

apreendi<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s<br />

ilegalmente pela polícia. E que<br />

não continham provas suficientes<br />

para acusar, indiciar e prender<br />

mulheres. Mas tu<strong>do</strong> isso<br />

aconteceu.<br />

Outro objetivo da tropa de<br />

choque da direita é investigar e<br />

criminalizar as organizações de<br />

mulheres que lutam pela legalização<br />

<strong>do</strong> aborto. Sinal disso <strong>já</strong> foi<br />

da<strong>do</strong> com uma ação <strong>do</strong> Ministério<br />

Público de S. Paulo <strong>contra</strong> a<br />

organização Católicas pelo Direito<br />

de Decidir, que no final de<br />

2008 foi acusada, por denuncia<br />

anônima, de “incitação e facilitação<br />

<strong>do</strong> crime”. Isso porque a<br />

organização trabalha com pesquisas<br />

e divulgação <strong>do</strong>s direito<br />

das mulheres ao aborto legal.<br />

Portanto, além de ser um ataque<br />

aos direitos individuais das<br />

mulheres de disporem sobre seu<br />

corpo, de decidirem sobre o<br />

aborto, a CPI é um ataque aos<br />

direitos coletivos e políticos das<br />

mulheres. Visa caçar sua liberdade<br />

de expressão, de organização<br />

política. A ofensiva da direita,<br />

que deve tomar proporções ainda<br />

maiores com a CPI, pretende<br />

intimidar, calar a voz das mulheres<br />

e daqueles que defendem<br />

seus direitos. Querem impor a<br />

hipocrisia e o silêncio. Para realizarem<br />

ataques ainda mais ferozes,<br />

<strong>contra</strong> as mulheres e toda<br />

população.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> é preciso denunciar<br />

em to<strong>do</strong>s os lugares a<br />

tropa de choque da direita, e<br />

seus representantes ditos de<br />

“esquerda”, presentes <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

e na oposição, como é o<br />

caso de Heloísa Helena <strong>do</strong> Psol.<br />

Mais <strong>do</strong> que nunca faz-se<br />

necessário que as mulheres e<br />

suas organizações rompam<br />

com o <strong>governo</strong> da frente popular,<br />

trai<strong>do</strong>r das reivindicações<br />

femininas e aban<strong>do</strong>nem todas<br />

as ilusões no Congresso Mensalão,<br />

que simplesmente não<br />

têm nenhuma preocupação com<br />

as mazelas a que estão submetidas<br />

as mulheres, não reconhecem<br />

suas necessidades mais<br />

sentidas.<br />

Só a mobilização massiva, a<br />

organização independente e a<br />

luta política <strong>contra</strong> a direita e<br />

seus alia<strong>do</strong>s na esquerda poderão<br />

barrar a CPI <strong>do</strong> aborto, bem<br />

como garantir os direitos democráticos<br />

das mulheres.<br />

tentar resguardar a sobrevida<br />

<strong>do</strong> feto, mesmo quan<strong>do</strong> estiver<br />

confirma<strong>do</strong> que o embrião<br />

tenha algum tipo de malformação<br />

incompatível com a vida<br />

extra-uterina. Ou seja, será sacrificada<br />

a vida, a saúde da<br />

mulher por um feto natimorto.<br />

Tacitamente, sem expressar<br />

claramente tal intenção, o<br />

projeto revoga o art. 128 <strong>do</strong><br />

Código Penal, <strong>do</strong> fascista Esta<strong>do</strong><br />

Novo. Impedin<strong>do</strong> que o<br />

direito ao Aborto Legal seja<br />

garanti<strong>do</strong> às mulheres.<br />

A proposta aprovada retirou<br />

o artigo que previa o reconhecimento<br />

<strong>do</strong> aborto como crime<br />

hedion<strong>do</strong>. Mas como se<br />

pôde observar no que restou<br />

<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>, o projeto<br />

continua sen<strong>do</strong> uma ameaça,<br />

um retrocesso e uma afronta<br />

aos direitos das mulheres.<br />

De Bush a<br />

Berlusconi. Um<br />

programa de<br />

direita<br />

Esse é um programa da direita<br />

internacional. Leis semelhantes<br />

foram aprovadas pelo<br />

<strong>governo</strong> de George W. Bush,<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, e Silvio<br />

Berlusconi, na Itália.<br />

No projeto original de Bassuma<br />

e Martini, a aprovação<br />

de legislação semelhante pelos<br />

<strong>governo</strong>s direitistas e ultraconserva<strong>do</strong>res<br />

de Bush e Berlusconi<br />

é apresentada como<br />

razão para a<strong>do</strong>ção de medida<br />

semelhante pelo Brasil.<br />

“Em 25 de março de 2004,<br />

o Sena<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

da América aprovou um projeto<br />

de lei que concede à criança<br />

por nascer (nascituro) o<br />

status de pessoa, no caso de<br />

um crime. No dia 1º de abril,<br />

o presidente George W. Bush<br />

sancionou a lei, chamada “Unborm<br />

Victims of Violence Act”<br />

(Lei <strong>do</strong>s Nascituros Vítimas de<br />

Violência). De agora em diante,<br />

pelo direito norte-americano,<br />

se alguém causar morte ou<br />

lesão a uma criança no ventre<br />

de sua mãe, responderá criminalmente<br />

pela morte ou lesão<br />

ao bebê, além da morte ou lesão<br />

à gestante. Na Itália, em<br />

março de 2004, entrou em<br />

vigor uma lei que dá ao embrião<br />

humano os mesmos direitos de<br />

um cidadão.”<br />

O que a tropa de choque da<br />

direita no Brasil não revela são<br />

as conseqüências dessa legislação<br />

e o fato de que na Itália,<br />

por exemplo,<br />

estão sen<strong>do</strong><br />

estudadas alterações<br />

nessa<br />

lei, para adaptar<br />

a legislação<br />

aos inevitáveis<br />

avanços tecnológicos.<br />

Inclusive<br />

para<br />

a<strong>do</strong>ção de legislação<br />

compatível<br />

com<br />

outros países<br />

europeus.<br />

A proposta<br />

é tão reacionária<br />

que na defesa<br />

<strong>do</strong> Estatuto,<br />

a relatora<br />

Solange Almeida<br />

chegou<br />

a declarar que “A criança não<br />

pode pagar pelo erro <strong>do</strong>s pais”.<br />

A mesma opinião expressa, e<br />

rejeitada internacionalmente,<br />

pelo então Arcebispo de Recife<br />

e Olinda, <strong>do</strong>m José Car<strong>do</strong>so<br />

Sobrinho, quan<strong>do</strong> em<br />

2009, diante da violência sofrida<br />

por uma menina de nove<br />

anos na cidade de Alagoinha,<br />

em Pernambuco, que acabou<br />

fican<strong>do</strong> grávida de gêmeos e<br />

decidiu pelo aborto para preservar<br />

a sua vida, declarou que<br />

“o aborto é pior que o estupro”.<br />

Com o cínico argumento de<br />

“defesa da vida” a tropa de<br />

choque da direita oferece a defesa<br />

<strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> feto em<br />

detrimento das necessidades e<br />

<strong>do</strong>s direitos das mulheres. Os<br />

alia<strong>do</strong>s da Opus Dei fingem<br />

proteger os direitos <strong>do</strong> nascituro<br />

para atacar os direitos<br />

conquista<strong>do</strong>s a duras penas<br />

pelas mulheres.<br />

Através <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />

querem impor uma<br />

moralidade, um <strong>do</strong>gma, uma<br />

única visão autoritária.<br />

É importante dizer que esse<br />

setor defende a escravidão das<br />

mulheres. Rejeita toda possibilidade<br />

de emancipação e libertação<br />

feminina. Não as<br />

compreende como sujeito de<br />

direitos. Com garantias constitucionais,<br />

direito à dignidade,<br />

liberdade, igualdade e autonomia.<br />

A encenação<br />

<strong>do</strong> PT<br />

Para fazer demagogia com<br />

o movimento de mulheres, o<br />

PT participou com parte da<br />

sua bancada da CSSF votan<strong>do</strong><br />

<strong>contra</strong> o Estatuto. Mas nem<br />

to<strong>do</strong>s os deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PT na<br />

Comissão estiveram presentes<br />

para votar. O que demonstra<br />

o nível de preocupação <strong>do</strong> PT<br />

e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> com os projetos<br />

que ameaçam os direitos e a<br />

vida das mulheres. Se fosse<br />

um projeto de interesse <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />

como o pré-sal ou o<br />

PAC, que envolvesse grandes<br />

somas de dinheiro e votos,<br />

seria cobrada a presença e o<br />

voto de toda bancada governista<br />

para garantir os interesses<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> e seus alia<strong>do</strong>s,<br />

os banqueiros e empresários.<br />

Ao contrário disso, além de<br />

<strong>do</strong>is ou três deputa<strong>do</strong>s da Comissão,<br />

o PT man<strong>do</strong>u à CSSF<br />

o deputa<strong>do</strong> José Genuíno (PT-<br />

SP) para discursar, e o deputa<strong>do</strong><br />

Arlin<strong>do</strong> Chinaglia (PT-<br />

SP) que como líder da bancada<br />

<strong>do</strong> PT se pronunciou e votou<br />

<strong>contra</strong> o projeto.<br />

A atuação <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s<br />

petistas não passou e não passa<br />

de mera encenação, haja<br />

vista que a aprovação <strong>do</strong> projeto<br />

é fruto da total falta de<br />

compromisso <strong>do</strong> PT e <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

com as necessidades<br />

<strong>do</strong>s setores oprimi<strong>do</strong>s da sociedade.<br />

Vale destacar a presença <strong>do</strong><br />

deputa<strong>do</strong> Arlin<strong>do</strong> Chinaglia<br />

que apenas participou da votação<br />

da CSSF para tentar<br />

desfazer o mal estar com o<br />

movimento de mulheres. Isto<br />

porque Chinaglia é o responsável<br />

direto pela CPI <strong>do</strong> Aborto.<br />

A CPI <strong>do</strong> aborto foi uma das<br />

últimas ações de Chinaglia<br />

como presidente da Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, no final <strong>do</strong> ano<br />

passa<strong>do</strong>. Ele assinou a autorização<br />

para a instalação da CPI,<br />

apesar de um dia antes ter se<br />

comprometi<strong>do</strong> em reunião<br />

com o movimento de mulheres<br />

a tentar impedir a sua abertura.<br />

Psol nem dá as<br />

caras<br />

Deputadas Solange Almeida, Professora Raquel<br />

Teixeira e a presidenta <strong>do</strong> Psol Heloísa Helena, em<br />

Encontro para organizar a ofensiva <strong>contra</strong> as mulheres.<br />

O Psol, que soltou uma<br />

nota, na internet manifestan<strong>do</strong><br />

seu posicionamento contrário<br />

ao Estatuto manteve sua posição<br />

convencional quan<strong>do</strong> se<br />

trata <strong>do</strong>s problemas que afetam<br />

diretamente a vida das<br />

mulheres: não fez absolutamente<br />

nada.<br />

Os digníssimos deputa<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Psol na Câmara, que representam<br />

correntes que supostamente<br />

defendem o direito<br />

das mulheres ao aborto e por<br />

isso não concordam com o posicionamento<br />

da presidente <strong>do</strong><br />

parti<strong>do</strong> Heloísa Helena, sequer<br />

apareceram para encenar<br />

como fizeram os deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

PT.<br />

E mais. Pode-se considerar<br />

que o Psol não apenas corroborou,<br />

como possibilitou a<br />

aprovação <strong>do</strong> Estatuto <strong>já</strong> que<br />

não ocuparam sua vaga na<br />

CSSF deixan<strong>do</strong> que ela fosse<br />

ocupada pelos deputa<strong>do</strong>s Arman<strong>do</strong><br />

Abílio (PTB-PB), e<br />

Roberto Brito (PP-BA). Estes<br />

não apenas estiveram presentes<br />

como votaram favoráveis<br />

ao Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />

Enquanto isso, <strong>do</strong> Psol<br />

não se viu nada. Nem uma palavra<br />

a respeito da votação<br />

<strong>do</strong> Estatuto que representa<br />

um ataque e retrocesso histórico<br />

para as mulheres.<br />

Não ao ataque da<br />

direita <strong>contra</strong> as<br />

mulheres!<br />

Como <strong>já</strong> foi dito aqui, para<br />

além das eleições, o Estatuto <strong>do</strong><br />

Nascituro é a prioridade número<br />

um da tropa de choque da<br />

direita, seguida pela CPI <strong>do</strong><br />

aborto, e o Estatuto das Famílias.<br />

Isso ficou claro no 3º Encontro<br />

de Legisla<strong>do</strong>res e Governantes<br />

pela Vida, realiza<strong>do</strong><br />

no final de abril.<br />

Na mesa composta pela<br />

musa da tropa de choque da<br />

direita e da Frente de Esquerda,<br />

Heloísa Helena, pela deputada<br />

Solange Almeida, relatora<br />

<strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong> Nascituro e<br />

pela deputada Professora Raquel<br />

Teixeira (PSDB-GO),<br />

mais nova indicada para compor<br />

a CPI <strong>do</strong> aborto, as parlamentares<br />

defenderam tais iniciativas<br />

como fundamentais e<br />

prioritárias para este ano eleitoral.<br />

Não é à toa que a tropa de<br />

choque da direita concentrou<br />

suas forças na aprovação <strong>do</strong><br />

projeto na CSSF e agora vai<br />

fazer de tu<strong>do</strong> para instaurar a<br />

CPI <strong>do</strong> aborto antes mesmo<br />

das eleições.<br />

No tramite legislativo, o Estatuto<br />

vai agora para a Comissão<br />

de Finanças e Tributação<br />

(CFT), <strong>já</strong> que prevê ônus ao<br />

Esta<strong>do</strong>, através da chamada<br />

“bolsa estupro”. Sen<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong><br />

tambémna CFT, o projeto<br />

segue para a Comissão de<br />

Constituição, Justiça e Cidadania,<br />

para então ser vota<strong>do</strong> no<br />

Plenário da Casa. Posteriormente,<br />

será analisa<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong>.<br />

A aprovação <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong><br />

Nascituro é um ataque sem<br />

precedentes aos direitos das<br />

mulheres. Mas é também mais<br />

um exemplo da completa indigência<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula, <strong>do</strong><br />

PT, no que tange representar<br />

minimamente os interesses<br />

<strong>do</strong>s setores oprimi<strong>do</strong>s da população.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>,a aprovação<br />

<strong>do</strong> projeto é uma experiência<br />

fundamental com a esquerda<br />

pequeno-burguesa e a Frente<br />

Popular no <strong>governo</strong>.<br />

Para o movimento organiza<strong>do</strong><br />

de mulheres está colocada<br />

na ordem <strong>do</strong> dia reorientar<br />

suas ações, e aban<strong>do</strong>nar definitivamente<br />

qualquer ilusão na<br />

frente popular ou<br />

na via parlamentar,<br />

através <strong>do</strong><br />

Congresso Mensalão.<br />

Não aos ataques<br />

da direita<br />

<strong>contra</strong> os direitos<br />

democráticos das<br />

mulheres!<br />

Pela organização<br />

política independente,<br />

e de<br />

massas das mulheres!<br />

Pela legalização<br />

<strong>do</strong> aborto!<br />

Saiba quem são<br />

os deputa<strong>do</strong>s que<br />

estiveram na<br />

CSSF e não votaram<br />

<strong>contra</strong> o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro:<br />

Titulares – Manato<br />

(PDT-ES), Angela Portela (PT-<br />

RR), Arman<strong>do</strong> Abílio (PTB-<br />

PB, vaga <strong>do</strong> Psol), Arnal<strong>do</strong> Faria<br />

de Sá (PTB-SP), Chico<br />

D’Angelo (PT-RJ), Dr. Paulo<br />

César (PR-RJ), Dr. Talmir<br />

(PV-SP), Eduar<strong>do</strong> Barbosa<br />

(PSDB-MG), Henrique Afonso<br />

(ex-PT, PV-AC), Jofran Frejat<br />

(PR-DF), Pe. José Linhares<br />

(PP-CE), Lael Varella (DEM-<br />

MG), Miguel Martini (PHS-<br />

MG), Raimun<strong>do</strong> Gomes de<br />

Matos (PSDB-CE), Ribamar<br />

Alves (PSB-MA), Saraiva Felipe<br />

(PMDB-MG) e Vadão Gomes<br />

(PP-SP). Suplentes: Antonio<br />

Bulhões (PRB-SP), Antonio<br />

Cruz (PP-MG), Assis <strong>do</strong> Couto<br />

(PT-PR), Camilo Cola (PMDB-<br />

ES), Colbert Martins (PMDB-<br />

BA), Fátima Pelaes (PMDB-AP),<br />

João Campos (PSDB-GO), Leandro<br />

Sampaio (PPS-RJ), Leonar<strong>do</strong><br />

Vilela (PSDB-GO), Luciana<br />

Costa (PR-SP), Luiz Bassuma<br />

(ex-PT, PV-BA), Manoel<br />

Junior (PMDB-PB), Mauro<br />

Nazif (PSB-RO), Neilton Mulim<br />

(PR-RJ), Otavio Leite<br />

(PSDB-RJ), Roberto Britto<br />

(PP-BA, vaga <strong>do</strong> Psol), Ronal<strong>do</strong><br />

Caia<strong>do</strong> (DEM-GO), Solange<br />

Almeida (PMDB-RJ),<br />

Takayama (PSC-PR) e Wilson<br />

Braga (PMDB-PB).


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POLÍTICA E ECONOMIA<br />

A TAREFA DO MOMENTO:<br />

Mobilizar <strong>desde</strong> <strong>já</strong><br />

<strong>contra</strong> o <strong>“pacotaço”</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula<br />

Página A6<br />

DILMA ROUSSEFF E SERRA<br />

Duas candidaturas,<br />

o mesmo programa<br />

a serviço <strong>do</strong>s<br />

banqueiros<br />

Página A7<br />

UNIÃO EUROPÉIA QUER...<br />

Punir os que<br />

não atacarem os<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

Página A8<br />

PERNAMBUCO<br />

Mais um líder sem-terra assassina<strong>do</strong> pelo<br />

latifúndio<br />

Página A7<br />

FICHA LIMPA<br />

Um projeto para salvar os parti<strong>do</strong>s<br />

burgueses<br />

Página A7<br />

PORTUGAL É GRÉCIA<br />

Mais cortes em Portugal e em outros países<br />

da zona <strong>do</strong> euro<br />

Página A8<br />

Juízes biônicos e Polícia Federal aperfeiçoam<br />

sistema de escuta <strong>contra</strong> a população<br />

§¨©¢¥¡ ¦ ¡¢£¤¥¡¤<br />

O Conselho Nacional de Justiça e a Polícia Federal decidem aperfeiçoar as escutas telefônicas, dan<strong>do</strong> a si mesmos o monopólio total<br />

de informações sobre um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s pela burguesia para perseguir os trabalha<strong>do</strong>res e suas organizações<br />

O controle total sobre as operações realizadas pela Polícia Federal é uma tentativa de impedir que a população tenha acesso às atividades policiais, o que é na prática a volta <strong>do</strong>s<br />

<br />

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órgãos de inteligência a serviço <strong>do</strong>s regimes de exceção.<br />

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Jornalistas são<br />

reprimi<strong>do</strong>s pela polícia<br />

por filmar manifestação<br />

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Acima a imagem <strong>do</strong> estudante sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong> com uma arma no Distrito federal e abaixo foto <strong>do</strong><br />

jornalista preso em Santa Catarina.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA A6<br />

A TAREFA DO MOMENTO:<br />

Mobilizar <strong>desde</strong> <strong>já</strong> <strong>contra</strong> o<br />

<strong>“pacotaço”</strong> <strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula<br />

Um corte no orçamento no valor de R$ 10 bilhões, que<br />

<strong>já</strong> havia si<strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong> no último dia 13 pelo ministro<br />

da Fazenda de Lula, Gui<strong>do</strong> Mantega, foi confirma<strong>do</strong> pelo<br />

<strong>governo</strong> e é apenas o primeiro passo de um plano para<br />

arrochar a classe operária e tentar impedir a falência <strong>do</strong>s<br />

capitalistas em crise<br />

Em relatório divulga<strong>do</strong> pelo<br />

Ministério <strong>do</strong> Planejamento no último<br />

dia 20 reafirmou-se a previsão<br />

de um corte de R$ 10 bilhões<br />

no orçamento <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

federal.<br />

O anúncio <strong>do</strong> corte <strong>já</strong> havia<br />

si<strong>do</strong> feito pelo ministro da Fazenda,<br />

Gui<strong>do</strong> Mantega na semana<br />

anterior. Este foi descrito pelo<br />

ministro como uma medida para<br />

“desaquecer” a economia e evitar<br />

a inflação. A previsão <strong>do</strong> corte<br />

foi anunciada depois que a equipe<br />

econômica <strong>do</strong> <strong>governo</strong> divul-<br />

sas da ordem de R$ 30 milhões.<br />

A primeira parte <strong>do</strong> corte foi realizada<br />

quan<strong>do</strong> R$ 21,8 bilhões<br />

foram retira<strong>do</strong>s das despesas<br />

de ministérios e empresas estatais<br />

no início <strong>do</strong> ano.<br />

Cortes <strong>contra</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

No dia 31 de maio, segun<strong>do</strong><br />

o <strong>governo</strong>, serão divulga<strong>do</strong>s<br />

mais detalhes sobre o corte.<br />

Mantega, no entanto, afirmou<br />

impedir que se gaste, em última<br />

medida, com o salário <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res para impedir que<br />

a classe operária compre e que<br />

assim movimente a economia.<br />

Em outra declaração em que<br />

Mantega defendeu o corte, este<br />

justificou ser “vantagem em relação<br />

a outros instrumentos”<br />

dizen<strong>do</strong> que “para combater a<br />

inflação [com o corte] você faz<br />

isso na veia. Quan<strong>do</strong> você eleva<br />

a taxa de juros, ela demora<br />

a fazer efeito” (O Globo, 13/5/<br />

2010). Não que os bancos não<br />

pretendam aumentar os juros,<br />

pelo contrário, a taxa básica<br />

(Selic) será elevada pelo Banco<br />

Central no próximo mês, encarecen<strong>do</strong><br />

os empréstimos e os<br />

juros no país, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />

divulga<strong>do</strong>s pelo mesmo jornal<br />

na quarta-feira (dia 26).<br />

mento aos salários pagos aos<br />

operários” (Idem, 15/5/2010).<br />

O <strong>“pacotaço”</strong> da<br />

burguesia <strong>contra</strong> a<br />

população<br />

O corte no Orçamento expõe o<br />

fato de que o <strong>governo</strong> Lula indica<br />

para o próximo <strong>governo</strong>, seja este<br />

<strong>do</strong> PT ou <strong>do</strong> PSDB, a política econômica<br />

a ser seguida: cortar ainda<br />

mais na carne da população<br />

que é favorável a que Lula vete o<br />

reajuste de 7,7% para os aposenta<strong>do</strong>s<br />

que ganham mais de um salário<br />

mínimo, proposta votada na<br />

Câmara e no Sena<strong>do</strong>.<br />

“O mínimo que os aposenta<strong>do</strong>s<br />

vão ganhar é 6,14% [índice proposto<br />

pelo <strong>governo</strong>]. Isso é o mínimo.<br />

Isso eles <strong>já</strong> ganharam. A<br />

grande questão é saber se tem<br />

dinheiro para dar mais. Acho que<br />

o presidente vai negar isso. Se eu<br />

tivesse nessa condição, eu teria de<br />

olhar a mesma coisa” (iG, 26/5/<br />

2010).<br />

O <strong>governo</strong> Lula procura garantir<br />

à burguesia nacional e internacional<br />

sua política de salvar os banqueiros<br />

e empresários da crise<br />

colocan<strong>do</strong> nas mãos <strong>do</strong> próximo<br />

<strong>governo</strong> a responsabilidade por<br />

colocar em prática o restante <strong>do</strong><br />

pacote de “freio” à economia.<br />

O corte no orçamento <strong>do</strong>s ministérios<br />

é apenas uma primeira<br />

uma onda inflacionária, dada a precariedade<br />

da infraestrutura <strong>do</strong> parque<br />

industrial brasileiro e <strong>do</strong> relativo<br />

“raquitismo” <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional.<br />

Esta tendência, <strong>já</strong> assinalada<br />

pela imprensa estrangeira especializa<br />

em economia, no entanto,<br />

só vai se desenvolver plenamente<br />

no próximo perío<strong>do</strong>. Isto é, caberá<br />

ao sucessor de Lula administrar<br />

uma crise da qual tanto o <strong>governo</strong>,<br />

quanto a alta roda das finanças<br />

internacionais, <strong>já</strong> têm pleno conhecimento.<br />

O <strong>“pacotaço”</strong> de Lula está dividi<strong>do</strong><br />

em <strong>do</strong>is. A primeira parte<br />

está sen<strong>do</strong> colocada em prática<br />

agora, com um “acerto” aparentemente<br />

banal das contas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

A segunda será a que o próximo<br />

<strong>governo</strong> vai realizar e esta,<br />

inevitavelmente, terá suas semelhanças<br />

com os pacotes que os<br />

<strong>governo</strong>s europeus estão tentan<strong>do</strong><br />

aplicar: demissões, redução<br />

A evolução <strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong>s<br />

ministérios nos últimos quatro anos<br />

A demanda pública, a que se refere Mantega, é o merca<strong>do</strong> de compra, ou seja, os<br />

trabalha<strong>do</strong>res que serão ou demiti<strong>do</strong>s ou terão cortes nos salários<br />

gou as previsões de que a economia<br />

brasileira tende crescer até<br />

7% neste ano com base nas taxas<br />

de crescimento <strong>do</strong> primeiro<br />

e <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> trimestre.<br />

“Já fizemos um contingenciamento<br />

de R$ 20 bilhões e serão<br />

mais R$ 10 bilhões, que serão um<br />

complemento. É a melhor maneira<br />

de jogar um pouco de água<br />

fria na fervura. Um instrumento<br />

forte e rápi<strong>do</strong> é você diminuir os<br />

gastos <strong>do</strong> <strong>governo</strong>”, declarou<br />

Mantega na primeira vez que<br />

anunciou os cortes (O Globo, 23/<br />

5/2010). O ministro afirmou,<br />

durante um encontro com o diretor-geral<br />

<strong>do</strong> FMI, Dominique<br />

Strauss-Kahn, que o objetivo das<br />

medidas tomadas agora é impedir<br />

que o PIB brasileiro cresça<br />

mais <strong>do</strong> que 6% o que, segun<strong>do</strong><br />

ambos, seria “perigoso demais”.<br />

O corte de R$ 10 bilhões é<br />

um complemento a um corte <strong>já</strong><br />

realiza<strong>do</strong> em março, totalizan<strong>do</strong><br />

um enxugamento de despe-<br />

que os gastos sociais serão<br />

manti<strong>do</strong>s pelo <strong>governo</strong>.<br />

“A medida não afeta os principais<br />

projetos <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />

mas é um sacrifício que os ministérios<br />

terão que fazer”<br />

(Idem, 13/5/2010).<br />

A “economia” nas contas<br />

<strong>do</strong>s ministérios não passa de cinismo.<br />

Segun<strong>do</strong> agências de<br />

economia, o corte irá se reverter<br />

em superávit primário, isto<br />

é, “caixa” para que no segun<strong>do</strong><br />

semestre e no próximo ano<br />

haja fun<strong>do</strong>s para serem reaplica<strong>do</strong>s<br />

através de isenções fiscais,<br />

“estímulos” a empresários<br />

e banqueiros. Cálculos da<br />

LCA Consultoria são de que “o<br />

arrocho fiscal vai ajudar a engordar<br />

o superávit primário <strong>do</strong><br />

<strong>governo</strong> em pelo menos 0,3<br />

ponto percentual” (Correio<br />

Braziliense, 15/5/2010).<br />

Um corte tão profun<strong>do</strong> para<br />

“desaquecer” a economia,<br />

como diz o <strong>governo</strong>, significa<br />

“Este ano, achamos que o<br />

setor priva<strong>do</strong> está in<strong>do</strong> muito<br />

bem, a demanda privada está<br />

in<strong>do</strong> muito bem, então nós vamos<br />

diminuir um pouco a demanda<br />

pública, para que o crescimento<br />

não seja excessivo”,<br />

declarou Mantega (BBC Brasil,<br />

13/5/2010).<br />

A medida, que é um ataque utiliza<strong>do</strong><br />

pela burguesia para conter<br />

a crise, só não foi assumida<br />

pelo ministro da Fazenda, mas<br />

é confirmada pelos próprios<br />

analistas econômicos <strong>do</strong>s jornais<br />

burgueses.<br />

Segun<strong>do</strong> o economista Bráulio<br />

Borges, autor <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da<br />

LCA Consultoria, o corte de R$<br />

10 bilhões tem um impacto na<br />

economia de R$ 14 bilhões, <strong>já</strong><br />

que são cortes também nos salários<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

“Ao se fazer uma obra, por<br />

exemplo, tu<strong>do</strong> vira riqueza, <strong>do</strong><br />

dinheiro gasto no empreendi-<br />

Fonte: Siafi/SIGA Brasil<br />

para salvar empresários e banqueiros<br />

da sua própria crise.<br />

Assim como a equipe de Serra<br />

deixou escapar que este possui um<br />

<strong>“pacotaço”</strong> <strong>contra</strong> a população,<br />

que inclui medidas como aumento<br />

de impostos e cortes nos gastos<br />

estatais, também Dilma Rousseff<br />

tem um pacote econômico e<br />

este é, em linhas gerais, idêntico.<br />

Em entrevista à rádio Tupi AM<br />

em São Paulo, na quarta-feira (dia<br />

26), a candidata <strong>do</strong> PT declarou<br />

etapa <strong>do</strong> <strong>“pacotaço”</strong> prepara<strong>do</strong><br />

pelo <strong>governo</strong> Lula e que só será<br />

“aberto” no próximo <strong>governo</strong>. A<br />

visita <strong>do</strong> diretor-geral <strong>do</strong> FMI ao<br />

Brasil nesta semana evidenciou em<br />

que consiste o plano.<br />

Tanto o <strong>governo</strong>, quanto <strong>do</strong><br />

FMI, alertaram <strong>contra</strong> o perigo <strong>do</strong><br />

“superaquecimento” da economia.<br />

Segun<strong>do</strong> o ministro da Fazenda<br />

e o diretor-geral <strong>do</strong> FMI, há um<br />

“risco” de que a economia “cresça<br />

demais” e que isto se reverta em<br />

salarial, reforma das aposenta<strong>do</strong>rias,<br />

reforma trabalhista etc.<br />

É preciso <strong>mobilizar</strong> <strong>desde</strong> <strong>já</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res <strong>contra</strong> este ataque<br />

que está sen<strong>do</strong> planeja<strong>do</strong> pelo <strong>governo</strong><br />

e pelo imperialismo. A classe<br />

operária deve dizer “não” ao<br />

pacote <strong>do</strong> <strong>governo</strong>. Cabe aos trabalha<strong>do</strong>res<br />

iniciar uma ampla campanha<br />

<strong>contra</strong> a tentativa da burguesia<br />

brasileira e <strong>do</strong> imperialismo<br />

de impor à classe operária o ônus<br />

da crise que eles mesmos criaram.<br />

REAJUSTE ZERO<br />

Lula vai vetar aumento<br />

para os aposenta<strong>do</strong>s<br />

Um reajuste de 7,7% para os<br />

aposenta<strong>do</strong>s que ganham mais<br />

de um salário mínimo, vota<strong>do</strong> no<br />

Sena<strong>do</strong> e na Câmara, está nas<br />

mãos de Lula. Além <strong>do</strong> reajuste,<br />

cabe a Lula decidir sobre o<br />

fim <strong>do</strong> fator previdenciário,<br />

aprova<strong>do</strong> em 1999 no <strong>governo</strong><br />

FHC, que prevê que se reduza<br />

o percentual de ganho daqueles<br />

que se aposentaram por tempo<br />

de serviço, mas não atingiram<br />

uma idade mínima de aposenta<strong>do</strong>ria.<br />

Depois de reunião com Lula<br />

na segunda-feira, dia 24, três<br />

ministros - o das Relações Institucionais,<br />

Alexandre Padilha, o<br />

da Fazenda, Gui<strong>do</strong> Mantega e<br />

<strong>do</strong> Planejamento, Orçamento e<br />

Gestão, Paulo Bernar<strong>do</strong> - deram<br />

declarações que revelam as intenções<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> de derrubar<br />

o reajuste.<br />

"O presidente se mostrou<br />

preocupa<strong>do</strong> porque quer manter<br />

as contas equilibradas não só<br />

neste ano, mas também para<br />

entregar a seu sucessor",disse<br />

Paulo Bernar<strong>do</strong> (Reuters, 24/5/<br />

2010).<br />

Já Gui<strong>do</strong> Mantega declarou<br />

que "o presidente tem que analisar<br />

as consequências <strong>do</strong> ponto<br />

de vista político e econômico.<br />

Nós (área econômica) estamos<br />

responden<strong>do</strong> aqui pela<br />

questão da sustentabilidade fiscal<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong>. É importante<br />

deixar as finanças sólidas para<br />

o próximo <strong>governo</strong>" (Idem, 24/<br />

5/2010).<br />

Padilha declarou: “não vamos<br />

deixar que o clima eleitoral<br />

ou as pressões de setores da<br />

sociedade comprometam a estabilidade<br />

fiscal <strong>do</strong> Brasil. Não<br />

iremos brincar com isso” (Correio<br />

Braziliense, 25/5/2010).<br />

O que a equipe econômica de<br />

Lula indica é que, com a crise,<br />

não pretende aumentar qualquer<br />

gasto com a população, mesmo<br />

sen<strong>do</strong> este um reajuste limita<strong>do</strong><br />

à reposição das perdas com a<br />

inflação <strong>do</strong>s anos anteriores. O<br />

que a burguesia e os banqueiros<br />

provam é que a estabilidade fiscal,<br />

como declarou Padilha,<br />

nada tem a ver com os “setores<br />

da sociedade”, ou seja, a população<br />

pobre, i<strong>do</strong>sa e que trabalhou<br />

a vida inteira deve ser esfolada<br />

para que empresários e<br />

banqueiros, aqui e no exterior,<br />

não percam um centavo de seus<br />

lucros.<br />

A equipe econômica <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

e a imprensa burguesa<br />

procuram estabelecer como um<br />

fato a noção de que um reajuste<br />

das aposenta<strong>do</strong>rias levaria à<br />

criação de um “rombo” da Previdência.<br />

Segun<strong>do</strong> o <strong>governo</strong>, o<br />

reajuste custaria R$ 8,4 bilhões.<br />

Além disso, o veto ao reajuste de<br />

7,7% pode deixar sem qualquer<br />

reajuste os aposenta<strong>do</strong>s este ano,<br />

pois para se vetar os 7,7% teria<br />

de se vetar os 6,4% assina<strong>do</strong>s<br />

no início <strong>do</strong> ano entre o <strong>governo</strong><br />

e as centrais sindicais.<br />

A oposição burguesa de direita<br />

procura aproveitar-se da crise<br />

que pode gerar o veto ao<br />

reajuste no Congresso Nacional<br />

às vésperas das eleições. No<br />

entanto, a direita é também a<br />

favor de um duro ataque <strong>contra</strong><br />

os aposenta<strong>do</strong>s.<br />

A bancada <strong>do</strong> PSDB prometeu<br />

ir além, apresentan<strong>do</strong> uma<br />

emenda ao projeto sugerin<strong>do</strong><br />

idade mínima para a Previdência<br />

conceder aposenta<strong>do</strong>ria.<br />

A equipe que no <strong>governo</strong> Lula<br />

preparou a entrega <strong>do</strong>s pacotes<br />

econômicos para os empresários<br />

em valores estratosféricos,<br />

se recusa a pagar a quem mais<br />

necessita.<br />

Para se ter uma idéia, em<br />

maio de 2008, no auge da crise<br />

internacional, o <strong>governo</strong> Lula<br />

renegociou a dívida agrária <strong>do</strong>s<br />

empresários rurais dan<strong>do</strong> descontos<br />

de até 80% nas dividas de<br />

fazendeiros e latifundiários, uma<br />

isenção de R$ 70 bilhões. Naquele<br />

mesmo mês a indústria recebeu<br />

um pacote de R$ 24,1 bilhões<br />

em isenção de impostos e outros<br />

R$ 6,1 bilhões em subsídios a<br />

investimentos. Se sobrou dinheiro<br />

para premiar os empresários<br />

e banqueiros, porque um<br />

reajuste miserável para os trabalha<strong>do</strong>res<br />

aposenta<strong>do</strong>s é a<br />

grande ameaça à estabilidade <strong>do</strong><br />

país e da Previdência?<br />

O que o <strong>governo</strong> Lula prova<br />

O veto ao reajuste de 7,7% pode deixar sem qualquer reajuste vários<br />

aposenta<strong>do</strong>seste ano.<br />

mais uma vez, ao final de seu<br />

mandato, é que os únicos que<br />

são beneficia<strong>do</strong>s em seu <strong>governo</strong><br />

são os empresários e os<br />

banqueiros, acumulan<strong>do</strong> lucros<br />

recordes pagos por meio da<br />

exploração da maioria da população


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA A7<br />

DILMA ROUSSEFF E SERRA<br />

Duas candidaturas, o mesmo<br />

programa a serviço <strong>do</strong>s banqueiros<br />

A agenda <strong>do</strong>s candidatos escolhi<strong>do</strong>s pela burguesia<br />

para brilhar na disputa da presidência, Dilma<br />

Rousseff <strong>do</strong> PT e José Serra <strong>do</strong> PSDB, deixa claro que<br />

ambos os candidatos representam os mesmos<br />

interesses, em defesa <strong>do</strong>s capitalistas, <strong>contra</strong> os<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

A pré-candidata <strong>do</strong> PT à<br />

presidência, Dilma Rousseff,<br />

participou de um evento em<br />

Nova Iorque na última sextafeira,<br />

dia 20, em homenagem<br />

ao presidente <strong>do</strong> Banco Central,<br />

Henrique Meirelles.<br />

Além de participar de um<br />

jantar da Câmara de Comércio<br />

Brasil-Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s onde<br />

Meirelles foi premia<strong>do</strong>, Dilma<br />

Rousseff participou de um seminário<br />

com especula<strong>do</strong>res<br />

financeiros norte-americanos.<br />

Segun<strong>do</strong> comentários <strong>do</strong>s<br />

colunistas <strong>do</strong>s jornais burgueses,<br />

o encontro serviu<br />

para a candidata <strong>do</strong> PT reforçar<br />

o compromisso com os<br />

bancos internacionais e garantir<br />

que seus interesses<br />

serão atendi<strong>do</strong>s.<br />

O diário carioca O Globo<br />

afirmou que Rousseff “tenta<br />

passar tranquilidade ao merca<strong>do</strong><br />

de investi<strong>do</strong>res internacionais<br />

e desfazer a imagem<br />

de radical de esquerda <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>,<br />

apresentará na sextafeira<br />

metas de inflação, política<br />

fiscal e câmbio flutuante<br />

a empresários estrangeiros<br />

num seminário organiza<strong>do</strong><br />

É preciso realizar uma ampla campanha de esclarecimento da classe trabalha<strong>do</strong>ra nas<br />

eleições de denúncia das candidaturas que se alinhamaos empresários e o imperialismo.<br />

pela BMF/Bovespa” (O Globo,<br />

18/5/2010).<br />

Depois de Dilma Rousseff<br />

participar desse evento organiza<strong>do</strong><br />

pelos especula<strong>do</strong>res<br />

financeiros internacionais, o<br />

próximo a debater com os representantes<br />

de bancos e<br />

grandes grupos financeiros<br />

internacionais será José Serra,<br />

em um evento que será realiza<strong>do</strong><br />

em Londres nesta se-<br />

mana.<br />

Candidaturas<br />

apoiadas pelo<br />

imperialismo<br />

Já havíamos denuncia<strong>do</strong> na<br />

última semana que José Serra<br />

tem um pacote econômico não<br />

anuncia<strong>do</strong> <strong>contra</strong> a população,<br />

como ficou claro em matéria<br />

da agência internacional de<br />

notícias Reuters.<br />

No dia 26 de abril a agência<br />

noticiou que interlocutores <strong>do</strong><br />

pessedebista disseram nos<br />

basti<strong>do</strong>res que este possui um<br />

pacote econômico para as eleições<br />

e que as “medidas fiscais<br />

e renegociação de alguns <strong>contra</strong>tos”<br />

deste pacote seriam<br />

colocadas em prática assim<br />

que assumisse a presidência.<br />

A disputa <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is candidatos<br />

para conseguir o apoio <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> financeiro norteamericano<br />

e internacional<br />

mostra que ambos têm um<br />

único e mesmo programa.<br />

A agenda de Dilma Rousseff<br />

mostra que esta, assim como<br />

o candidato tucano, promove<br />

um estelionato eleitoral e também<br />

tem um <strong>“pacotaço”</strong> secreto<br />

<strong>contra</strong> a população.<br />

É preciso realizar uma ampla<br />

campanha de esclarecimento<br />

da classe trabalha<strong>do</strong>ra<br />

nas eleições não apenas levantan<strong>do</strong><br />

suas próprias reivindicações,<br />

como o faz o Parti<strong>do</strong><br />

da Causa Operária, único representante<br />

<strong>do</strong>s interesses da<br />

classe operária <strong>contra</strong> os empresários<br />

e os banqueiros nas<br />

eleições, mas também denúnciar<br />

as candidaturas que se alinham,<br />

da esquerda à direita,<br />

com os interesses econômicos<br />

<strong>do</strong>s banqueiros, empresários e<br />

<strong>do</strong> imperialismo.<br />

FICHA LIMPA<br />

Um projeto para salvar<br />

os parti<strong>do</strong>s burgueses<br />

O Sena<strong>do</strong> aprovou na quinta-feira,<br />

dia 20, por unanimidade,<br />

com 76 votos <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res,<br />

o chama<strong>do</strong> projeto “Ficha<br />

Limpa”.<br />

O projeto foi lança<strong>do</strong> por<br />

suposta “iniciativa popular” depois<br />

de 1,6 milhões de assinaturas,<br />

que na realidade foram<br />

recolhidas por setores de direita<br />

como a Confederação Nacional<br />

<strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil<br />

(CNBB), uma série de organizações<br />

e instituições da Igreja<br />

e de juízes.<br />

O projeto, que seria para impedir<br />

a eleição de parlamentares<br />

corruptos, previa que os<br />

condena<strong>do</strong>s em primeira instância<br />

poderiam tornar-se inelegíveis<br />

por diversos crimes.<br />

Entre estes estão crimes <strong>contra</strong><br />

a economia popular, a fé pública,<br />

os costumes, a administração<br />

pública, o patrimônio<br />

público, o meio ambiente, a<br />

saúde pública, o merca<strong>do</strong> financeiro,<br />

pelo tráfico de entorpecentes<br />

e drogas afins, por<br />

crimes <strong>do</strong>losos <strong>contra</strong> a vida,<br />

crimes de abuso de autoridade,<br />

por crimes eleitorais, por crimes<br />

de lavagem e ocultação de<br />

bens, direitos e valores, pela exploração<br />

sexual de crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes e utilização de<br />

mão-de-obra em condições<br />

análogas à de escravo.<br />

Na prática, o que reivindicavam<br />

estes setores reacionários<br />

era a criação de um impedimento<br />

para que pessoas condenadas<br />

por crimes comuns, em primeira<br />

instância, incluin<strong>do</strong> depredação<br />

<strong>do</strong> “patrimônio público”,<br />

sobre os quais são comumente<br />

acusa<strong>do</strong>s manifestantes<br />

e grevistas, pudessem se candidatar<br />

às eleições.<br />

Sobre a condenação <strong>do</strong>s<br />

parlamentares, que têm foro<br />

privilegia<strong>do</strong>, o texto foi vota<strong>do</strong><br />

com várias alterações que incluem<br />

medidas para impedir<br />

estes de serem puni<strong>do</strong>s.<br />

Em primeiro lugar a nova lei<br />

não servirá para tornar inelegíveis<br />

os parlamentares corruptos<br />

<strong>do</strong> Congresso Nacional que<br />

estão sen<strong>do</strong> condena<strong>do</strong>s, mas<br />

apenas os que forem condena<strong>do</strong>s<br />

no futuro.<br />

O texto é <strong>contra</strong>ditório,<br />

como o artigo terceiro que diz<br />

que “os recursos <strong>do</strong>s que se<br />

en<strong>contra</strong>m condena<strong>do</strong>s podem<br />

ser adita<strong>do</strong>s após a aprovação<br />

da lei” que se trataria das atuais<br />

condenações.<br />

No entanto, a principal alteração<br />

ocorreu na Câmara <strong>do</strong>s<br />

Deputa<strong>do</strong>s em emenda <strong>do</strong> deputa<strong>do</strong><br />

José Eduar<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>zo<br />

(PT-SP), que transformou em<br />

inelegível apenas quem é condena<strong>do</strong><br />

por um órgão colegia<strong>do</strong>.<br />

Este tipo de julgamento, que<br />

ocorre principalmente com as<br />

decisões de segunda instância<br />

da Justiça, não inclui quase nenhum<br />

parlamentar.<br />

Segun<strong>do</strong> o sítio na internet<br />

Transparência Brasil, 31 sena<strong>do</strong>res<br />

respondem a processos<br />

na Justiça, nenhum deles condena<strong>do</strong><br />

por órgão colegia<strong>do</strong>, o<br />

que ocorre também com a quase<br />

totalidade <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s<br />

condena<strong>do</strong>s, que são hoje 202.<br />

O texto diz ainda que os parlamentares<br />

que forem condena<strong>do</strong>s<br />

por um colegia<strong>do</strong> da justiça<br />

de segunda instância podem<br />

recorrer novamente a um<br />

órgão colegia<strong>do</strong>.<br />

A medida serve para que os<br />

parlamentares usem o STF e os<br />

tribunais federais de juízes indica<strong>do</strong>s<br />

para recorrer de suas<br />

condenações.<br />

O projeto, altera<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong><br />

com os interesses <strong>do</strong>s parlamentares,<br />

serve não para<br />

condenar os corruptos como<br />

procura apresentar a imprensa<br />

capitalista, mas como uma tábua<br />

de salvação <strong>do</strong>s parlamentares<br />

corruptos.<br />

PERNAMBUCO<br />

Mais um líder sem-terra<br />

assassina<strong>do</strong> pelo latifúndio<br />

Mais um assassinato brutal<br />

de liderança sem-terra ocorreu<br />

no esta<strong>do</strong> de Pernambuco,<br />

município de Pombos.<br />

Zito José Gomes, dirigente<br />

da Federação <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />

na Agricultura<br />

Familiar de Pernambuco<br />

foi assassina<strong>do</strong> por<br />

pistoleiros a man<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

latifundiários.<br />

Gomes foi surpreendi<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> caminhava<br />

sobre uma passarela na<br />

BR-232 em direção a uma<br />

atividade em que participaria<br />

numa igreja local. O<br />

assassino disparou um tiro<br />

à queima roupa <strong>contra</strong> a liderança.<br />

Gomes coordenava<br />

os trabalha<strong>do</strong>res semterra<br />

acampa<strong>do</strong>s em<br />

área da falida usina<br />

Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo.<br />

Este <strong>já</strong> havia denuncia<strong>do</strong><br />

que vinha sen<strong>do</strong><br />

ameaça<strong>do</strong> pelos latifundiários<br />

interessa<strong>do</strong>s na<br />

área. As terras da usina<br />

estavam ocupadas há<br />

sete anos pelos sem-terra,<br />

que reivindicavam a<br />

desapropriação da área.<br />

Este é o segun<strong>do</strong> assassinato<br />

de um líder da<br />

Fetraf em menos de <strong>do</strong>is<br />

meses. No dia 1º de abril<br />

deste ano o líder da<br />

Fetraf <strong>do</strong> Pará, Pedro<br />

Alcântara, foi morto na<br />

cidade de Redenção,<br />

com cinco tiros na cabeça.<br />

Este também foi mais<br />

um <strong>do</strong>s diversos assassinatos<br />

de sem-terra em<br />

Pernambuco além de prisões<br />

que foram efetuadas<br />

no último perío<strong>do</strong>.<br />

No dia 1º de fevereiro<br />

de 2009, trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> MST acampa<strong>do</strong>s<br />

no município de São<br />

Joaquim <strong>do</strong> Monte,<br />

agreste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

Pernambuco, enfrentaram<br />

arma<strong>do</strong>s e mataram<br />

quatro jagunços que cercaram<br />

seu acampamento.<br />

Em seguida três deles foram<br />

presos, Alceu Ferreira<br />

<strong>do</strong>s Santos, Paulo Alves Cursino<br />

e Severino Alves da Silva,<br />

simplesmente por agirem<br />

em sua própria defesa.<br />

No dia 6 de julho de 2009,<br />

cinco sem-terra foram assassina<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> trabalhavam<br />

na construção de uma casa, no<br />

município de Brejo da Madre<br />

de Deus, no acampamento<br />

Garrote. No dia 7 de dezembro<br />

de 2009, liderança <strong>do</strong>s semterra<br />

de Pernambuco, Joseval<strong>do</strong><br />

Fonseca Fontes Junior, de<br />

20 anos, conheci<strong>do</strong> como “Capitão”<br />

foi assassina<strong>do</strong> no assentamento<br />

Vacaria com diversas<br />

facadas no rosto.<br />

É preciso exigir a imediata punição aos assassinos <strong>do</strong>s sem-terra e que os<br />

sem-terra e pequenos agricultores possam defender-se <strong>do</strong>s latifundiários que<br />

promovem um verdadeiro massacre no campo.<br />

O massacre não cessa. Na<br />

segunda-feira, dia 16, houve<br />

uma chacina em um assentamento<br />

na zona rural de Floresta,<br />

onde seis pessoas foram<br />

mortas, incluin<strong>do</strong> uma mulher<br />

grávida e quatro jovens entre<br />

14 e 21 anos. Apesar de se tratar<br />

de um crime cometi<strong>do</strong> <strong>contra</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>res sem-terra, a<br />

polícia nem suspeitou, nem<br />

considerou o caso como fruto<br />

de conflito agrário, consideran<strong>do</strong><br />

simplesmente a hipótese<br />

de chacina por vingança.<br />

Os próprios membros da<br />

Fetraf lembram as lideranças<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> que foram vítimas<br />

de assassinatos até hoje não<br />

resolvi<strong>do</strong>s ou puni<strong>do</strong>s.<br />

“Em 8 de março de<br />

2000, no acampamento<br />

da fazenda Brioza, no<br />

município de Glória <strong>do</strong><br />

Goitá (PE), o dirigente<br />

sindical Severino Manoel<br />

<strong>do</strong>s Santos também<br />

foi assassina<strong>do</strong> e até<br />

hoje os criminosos continuam<br />

impunes. Até<br />

quan<strong>do</strong> o judiciário brasileiro<br />

deixará esses criminosos<br />

impunes? Os<br />

trabalha<strong>do</strong>res estão<br />

acampa<strong>do</strong>s na usina<br />

Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo<br />

há sete anos, tempo<br />

mais que suficiente para<br />

o <strong>governo</strong> desapropriar<br />

as terras. Quantos trabalha<strong>do</strong>res<br />

ainda terão que<br />

morrer para que se faça<br />

a reforma agrária?”, disse<br />

João Santos, coordena<strong>do</strong>r<br />

geral da Federação<br />

<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />

na Agricultura Familiar<br />

de Pernambuco (sítio da<br />

Fetraf, 19/5/2010).<br />

É preciso exigir a<br />

imediata punição aos<br />

assassinos <strong>do</strong>s sem-terra<br />

e defender que as famílias<br />

sem-terra e de pequenos<br />

agricultores possam<br />

defender-se <strong>do</strong>s latifundiários<br />

que promovem<br />

um verdadeiro massacre<br />

no campo. Os camponeses<br />

devem ter o direitos<br />

de garantir os meios<br />

para esta defesa.<br />

Diante das verdadeiras<br />

milícias no campo<br />

pagas pelos grandes proprietários<br />

de terra e que<br />

atuam impunemente assassinan<strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>res,<br />

é preciso exigir a liberdade<br />

de armamento<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res semterra<br />

e pequenos agricultores,<br />

o que hoje foi torna<strong>do</strong><br />

ilegal com a lei <strong>do</strong> desarmamento<br />

de Lula que impede os<br />

trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> campo de terem<br />

armas legalmente.<br />

BRASÍLIA<br />

Índios tentam<br />

ocupar a Câmara e<br />

são reprimi<strong>do</strong>s<br />

No dia 19 de maio, em<br />

Brasília, índios realizavam<br />

um protesto em frente à<br />

Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s <strong>contra</strong><br />

um decreto <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

Lula, que alterou a estrutura<br />

da Fundação Nacional <strong>do</strong><br />

Índio (Funai) e também pela<br />

saída <strong>do</strong> presidente da entidade,<br />

Márcio Meira.<br />

Eles participaram de uma<br />

audiência pública e tentaram<br />

entrar no Plenário da Câmara<br />

sen<strong>do</strong> duramente reprimi<strong>do</strong>s<br />

pela polícia legislativa,<br />

que chegou a espancar um<br />

índio de 80 anos de idade, o<br />

que não foi nega<strong>do</strong> pela própria<br />

segurança. “No meio <strong>do</strong><br />

empurra-empurra ninguém<br />

pergunta a idade”, declarou<br />

o diretor <strong>do</strong> departamento de<br />

polícia judiciária da Câmara,<br />

Antonio Carlos de Abreu<br />

(G1,19/5/2010).<br />

Após serem impedi<strong>do</strong>s de<br />

chegar ao Plenário da Câmara<br />

pela segurança <strong>do</strong> Congresso,<br />

os índios ocuparam<br />

o Plenário da Comissão de<br />

Constituição e Justiça. Estes<br />

denunciaram que suas terras<br />

estão sen<strong>do</strong> invadidas pelo<br />

Exército e que o <strong>governo</strong> age<br />

arbitrariamente para deliberar<br />

sobre o futuro <strong>do</strong>s indígenas.<br />

Já a atual direção da Funai,<br />

sequer escuta as reivindicações<br />

<strong>do</strong>s índios que se<br />

en<strong>contra</strong>m isola<strong>do</strong>s em suas<br />

terras à mercê <strong>do</strong>s ataques<br />

<strong>do</strong>s interesses econômicos<br />

<strong>do</strong>s latifundiários.<br />

“Cerca de 500 índios estão<br />

acampa<strong>do</strong>s em Brasília<br />

há quatro meses e não conseguem<br />

ser ouvi<strong>do</strong>s pelo<br />

presidente da Funai, que<br />

está sen<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong> pela<br />

Força de Segurança Nacional<br />

(...) ‘Se não resolverem<br />

nossos problemas, podemos<br />

derrubar torres de<br />

transmissão elétrica e deixar<br />

muitas cidades sem<br />

energia, e aí os brancos vão<br />

culpar a gente”, disse o advoga<strong>do</strong><br />

Arão Lopes, da etnia<br />

Arariboia (O Globo, 19/<br />

5/2010).<br />

A reestruturação da Funai,<br />

o decreto 7.056 que<br />

Lula assinou no final de dezembro<br />

sem mesmo consultar<br />

as comunidades indígenas,<br />

é um ataque <strong>contra</strong> a<br />

própria existência <strong>do</strong>s indígenas.<br />

Se estes <strong>já</strong> eram desassisti<strong>do</strong>s<br />

pelo Esta<strong>do</strong>, e<br />

ataca<strong>do</strong>s por milícias <strong>do</strong>s latifundiários<br />

e empresas de<br />

exploração, depois <strong>do</strong> decreto<br />

estão ainda mais vulneráveis.<br />

O decreto acabou com 24<br />

administrações regionais da<br />

Funai, 14 núcleos de apoio,<br />

10 postos de vigilância e 344<br />

postos indígenas. A organização<br />

da Funai nos esta<strong>do</strong>s,<br />

que <strong>já</strong> era insuficiente para<br />

tentar estabelecer algum<br />

controle <strong>contra</strong> os ataques<br />

aos indígenas, foi extinta, o<br />

que é um apoio para a ação<br />

feroz <strong>do</strong>s latifundiários <strong>contra</strong><br />

a população indígena.<br />

Em janeiro deste ano centenas<br />

de indígenas <strong>já</strong> haviam<br />

se dirigi<strong>do</strong> a Brasília e ocuparam<br />

a sede da Funai além<br />

de realizar protestos em vários<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>contra</strong> este decreto.<br />

É preciso exigir a imediata<br />

revogação da reestruturação<br />

da Funai e colocar esta<br />

sob controle <strong>do</strong>s indígenas<br />

e suas comunidades, inclusive<br />

amplian<strong>do</strong> o número de<br />

postos de segurança <strong>do</strong>s<br />

índios e garantin<strong>do</strong> a demarcação<br />

das terras indígenas<br />

ameaçadas.<br />

A campanha realizada<br />

pela direita, como a revista<br />

Veja que em suas últimas<br />

edições declarou ser um<br />

oportunismo <strong>do</strong>s setores<br />

intelectuais defenderem a<br />

demarcação das terras indígenas,<br />

serve para apoiar um<br />

massacre que pode ocorrer<br />

caso os indígenas não tenham<br />

o direito de se estabelecerem<br />

em suas terras garanti<strong>do</strong>.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ECONOMIA A8<br />

UNIÃO EUROPÉIA QUER...<br />

Punir os que não atacarem os trabalha<strong>do</strong>res<br />

Cúpula <strong>do</strong> bloco europeu se reúne para estabelecer<br />

regras <strong>contra</strong> os países que não se enquadrarem às regras<br />

de cortes de gastos<br />

Em um encontro da União<br />

Européia (UE) que reuniu os<br />

ministros das Finanças <strong>do</strong>s países<br />

europeus foi constatada<br />

necessidade de impor punições<br />

aos países <strong>do</strong> bloco que não se<br />

enquadrarem nas normas de<br />

controle de dívidas, ou seja, que<br />

não aplicar os cortes aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Na reunião realizada em Bruxelas,<br />

os ministros discutiram<br />

formas de combater a atual<br />

crise econômica que elevou as<br />

dívidas <strong>do</strong>s principais países<br />

europeus e está promoven<strong>do</strong> a<br />

desvalorização <strong>do</strong> euro.<br />

Com a desculpa de que os<br />

orçamentos têm que ser equilibra<strong>do</strong>s<br />

os ministros das finanças<br />

querem apertar o cerco<br />

<strong>contra</strong> os gastos públicos.<br />

As medidas que serão impostas<br />

pela União Européia vão<br />

punir os países que não seguirem<br />

à risca as determinações de<br />

corte de verbas públicas. A<br />

punição consistirá no não recebimento<br />

de verbas vindas <strong>do</strong>s<br />

pacotes econômicos e até mesmo<br />

na suspensão <strong>do</strong> direito de<br />

voto nas decisões que forem<br />

tomadas nas reunião <strong>do</strong> bloco<br />

europeu.<br />

A justificativa apresentada<br />

pelo presidente <strong>do</strong> Conselho<br />

Europeu, Herman van Rompuy<br />

foi de que anteriormente tais<br />

medidas não foram aprovadas<br />

a tempo. “No passa<strong>do</strong>, medidas<br />

corretivas foram tomadas tarde<br />

demais, os instrumentos<br />

legais disponíveis não eram suficientemente<br />

usa<strong>do</strong>s. Por isso<br />

Um cerco está sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> pelos países europeus para tentar segurar o avanço da crise<br />

econômica nos países europeus, principalmente os que estão endivida<strong>do</strong>s na zona <strong>do</strong> euro.<br />

precisamos agir de formas diferentes”<br />

(BBC, 24/5/2010).<br />

Esta reunião da cúpula da<br />

União Européia reuniu os 27<br />

ministros de Finanças <strong>do</strong>s 27<br />

países que são membros <strong>do</strong><br />

bloco. Além <strong>do</strong>s ministros estavam<br />

presentes o comissário<br />

europeu para Economia e Negócios<br />

Financeiros, Olli Rehn,<br />

o presidente <strong>do</strong> BCE (Banco<br />

Central Europeu), Jean Claude<br />

Trichet e o presidente <strong>do</strong> Eurogroup,<br />

Jean-Claude Juncker.<br />

O cerco que está sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong><br />

pelos países europeus para<br />

tentar segurar o avanço da crise<br />

econômica nos países europeus,<br />

principalmente os que<br />

estão endivida<strong>do</strong>s na zona <strong>do</strong><br />

euro, tem o claro objetivo de<br />

colocar sobre as costas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

to<strong>do</strong> ônus da crise.<br />

A punição que está sen<strong>do</strong><br />

estabelecida aos países que não<br />

controlarem o orçamento, ou<br />

seja, os cortes de gastos públicos<br />

é uma medida de desespero<br />

destes países diante da maior<br />

crise da economia européia<br />

de to<strong>do</strong>s os tempos.<br />

A punição também é um sinal<br />

de que os países vão ser<br />

obriga<strong>do</strong>s a realizar os cortes,<br />

mesmo diante da grande resistência<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

PORTUGAL É GRÉCIA<br />

Mais cortes em<br />

Portugal e em outros<br />

países da zona <strong>do</strong> euro<br />

Depois <strong>do</strong> plano de austeridade<br />

grego, Portugal também<br />

aprova ajuda à Grécia e<br />

plano de cortes aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Na última semana o Parlamento<br />

português aprovou o<br />

empréstimo de 2,064 bilhões<br />

de euros à Grécia. Este montante<br />

é uma parte <strong>do</strong>s 110 bilhões<br />

de euros <strong>do</strong> pacote de<br />

ajuda à Grécia. Este pacote<br />

foi estabeleci<strong>do</strong> pela União<br />

Européia e pelo FMI (Fun<strong>do</strong><br />

Monetário Internacional). No<br />

acor<strong>do</strong> que estabeleceu o<br />

pacote, to<strong>do</strong>s os países da<br />

zona <strong>do</strong> euro se comprome-<br />

como hoje foi tão importante<br />

a estabilidade econômica e<br />

monetária da Europa” (Hoje<br />

Portugual, 8/5/2010).<br />

Outros países também <strong>já</strong><br />

aprovaram o pacote de ajuda<br />

à Grécia, entre eles Espanha,<br />

Itália e Alemanha.<br />

O Parlamento alemão vai<br />

liberar a quantia de 22,4 bilhões<br />

de euros à Grécia . A<br />

chanceler Angela Merkel, defendeu<br />

o pacote afirman<strong>do</strong><br />

que o mesmo serviria não só<br />

para salvar a Grécia, mas<br />

também a Europa e a própria<br />

Alemanha.<br />

Apesar <strong>do</strong> auxílio financei-<br />

novos impostos.<br />

O primeiro-ministro português<br />

José Sócrates fez declarações<br />

cínicas sobre a<br />

aprovação <strong>do</strong> plano de austeridade.<br />

Sócrates disse que as<br />

medidas eram necessárias<br />

“para defender Portugal e a<br />

moeda única” e que também<br />

seria “um esforço justo, coletivo<br />

e bem distribuí<strong>do</strong>”.<br />

Portugal está tão endivida<strong>do</strong><br />

quanto a Grécia e a Espanha.<br />

O déficit público português<br />

é de 9,4% <strong>do</strong> PIB (Produto<br />

Interno Bruto). A meta<br />

estabelecida pela Comissão<br />

Européia é de que to<strong>do</strong>s os<br />

A TODO VAPOR<br />

Reino Uni<strong>do</strong> não perde tempo<br />

e inicia cortes de U$$ 9 bilhões<br />

O novo <strong>governo</strong> de Conserva<strong>do</strong>res<br />

e Liberal-democratas <strong>já</strong><br />

anunciou que os cortes de gastos<br />

no valor de 9 bilhões de<br />

dólares estão programa<strong>do</strong>s para<br />

entrar em vigor imediatamente.<br />

Está programa<strong>do</strong> para o dia<br />

24 de maio o início da aplicação<br />

<strong>do</strong>s cortes de gastos. Esta foi a<br />

data divulgada pelo novo <strong>governo</strong><br />

britânico de coalizão entre<br />

Conserva<strong>do</strong>res e Liberal-democratas.<br />

Ainda serão defini<strong>do</strong>s projetos<br />

de lei que incluem regras<br />

para o funcionamento <strong>do</strong>s bancos<br />

e reformas políticas.<br />

Segun<strong>do</strong> George Osborne,<br />

ministro das Finanças <strong>do</strong> Reino<br />

Uni<strong>do</strong>, em 2010 serão economiza<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong> País,<br />

6,25 bilhões de libras esterlinas<br />

ou o mesmo que 9 bilhões de<br />

dólares.<br />

O novo projeto pretende reduzir<br />

o altíssimo déficit público<br />

<strong>do</strong> País que está em 13% <strong>do</strong> PIB<br />

(Produto Interno Bruto) algo em<br />

torno de 156 bilhões de libras de<br />

déficit orçamentário.<br />

A meta é economizar 6 bilhões<br />

de libras esterlinas este<br />

ano, ou seja, cortar <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

para socorrer os capitalistas<br />

fali<strong>do</strong>s.<br />

O ministro das Finanças foi<br />

taxativo ao dizer que os cortes<br />

serão prolonga<strong>do</strong>s. “Nós precisamos<br />

tomar ações urgentes<br />

para manter nossas taxas de<br />

juros mais baixas por mais tempo,<br />

para fortalecer a confiança<br />

na economia e proteger empregos,<br />

para mostrar ao mun<strong>do</strong> que<br />

nós podemos viver segun<strong>do</strong><br />

nossos próprios meios” (Reuters,<br />

24/5/2010).<br />

Os cortes vão reduzir gastos<br />

nos setores <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e também<br />

vão atacar a população.<br />

Como o corte integral, ou seja,<br />

o fim de um programa social <strong>do</strong><br />

<strong>governo</strong> Brown chama<strong>do</strong> Child<br />

Trust Fund, programa que reserva<br />

dinheiro para crianças no<br />

ato de seu nascimento, mas que<br />

somente será resgata<strong>do</strong> após os<br />

18 anos. Medidas recentes de<br />

programas para a geração de<br />

empregos também foram corta<strong>do</strong>s.<br />

Outro programa social,<br />

que oferece dinheiro para os pais<br />

investirem no futuro <strong>do</strong>s filhos<br />

também será extinto até 2011.<br />

Outros 500 milhões de libras<br />

vão ser transferidas de moradias<br />

sociais, programas para formação<br />

de aprendizes e educação<br />

universitária.<br />

O ex-ministro das Finanças,<br />

o trabalhista, Alistair Darling,<br />

criticou o novo <strong>governo</strong> destacan<strong>do</strong><br />

o prejuízo que será para<br />

o emprego, “esses cortes irão<br />

afetar seriamente o apoio aos<br />

negócios, significan<strong>do</strong> menos<br />

empregos para os jovens e atingin<strong>do</strong><br />

os estudantes” (Idem).<br />

As verbas de áreas como a<br />

defesa, ajuda ao exterior e saúde,<br />

segun<strong>do</strong> o <strong>governo</strong> de coalizão,<br />

serão mantidas, pelo menos<br />

para este ano. Mas para<br />

2011 virão cortes com certeza.<br />

Para David Laws, o viceministro<br />

das Finanças, “quanto<br />

mais fun<strong>do</strong> formos neste<br />

processo, mais difíceis ficarão<br />

as decisões a serem tomadas”,<br />

ou seja, esta política de cortes<br />

vai afetar profundamente o<br />

País.<br />

Os cortes iniciais anuncia<strong>do</strong>s<br />

pelo <strong>governo</strong> de coalização<br />

<strong>já</strong> indicam que a situação política<br />

da Inglaterra tende se convulsionar<br />

como está ocorren<strong>do</strong><br />

na Grécia e nos demais países<br />

endivida<strong>do</strong>s que estão pratican<strong>do</strong><br />

as medidas <strong>do</strong> plano de austeridade.<br />

Os cortes em áreas e<br />

programas sociais vão provocar<br />

inevitavelmente a mobilização<br />

da classe operária inglesa e<br />

desestabilizar o <strong>já</strong> instável novo<br />

<strong>governo</strong> britânico agravan<strong>do</strong> e<br />

aceleran<strong>do</strong> a crise capitalista<br />

em toda a Europa.<br />

Portugal está tão endivida<strong>do</strong> quanto a Grécia e a Espanha. O déficit público português é de<br />

9,4% <strong>do</strong> PIB (Produto Interno Bruto). A meta estabelecida pela Comissão Européia é de que<br />

to<strong>do</strong>s os países da zona <strong>do</strong> euro tenham um déficit de no máximo 3% <strong>do</strong> PIB ao ano.<br />

teram em contribuir. Os 2 bilhões<br />

de euros aprova<strong>do</strong>s<br />

pelo <strong>governo</strong> português foi a<br />

parte destinada a Portugal.<br />

Segun<strong>do</strong> os parlamentares<br />

que votaram a favor <strong>do</strong> pacote,<br />

grupo composto pelo<br />

PSD, PS e CDS, o empréstimo<br />

vai contribuir para a estabilização<br />

da zona euro. Para<br />

os que foram contrários, parlamentares<br />

<strong>do</strong> PCP e <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />

Verde, o pacote consiste<br />

em prolongar os problemas<br />

financeiros <strong>do</strong> País, ou seja,<br />

o dinheiro não será emprega<strong>do</strong><br />

para salvar a Grécia, mas<br />

agravará a crise.<br />

Mesmo o secretário <strong>do</strong><br />

Tesouro português, Costa<br />

Pina, ao defender a o empréstimo<br />

à Grécia destacou<br />

que a ajuda não surtirá efeito<br />

na economia portuguesa, “o<br />

dinheiro que será empresta<strong>do</strong><br />

será totalmente absorvi<strong>do</strong><br />

pelas dívidas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> grego.<br />

O momento que estamos<br />

viven<strong>do</strong> na Europa e no mun<strong>do</strong><br />

é um verdadeiro ataque à<br />

UE e à zona <strong>do</strong> euro. Nunca<br />

ro da<strong>do</strong> pela União Européia<br />

e o Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

(FMI), o <strong>governo</strong> grego<br />

e de outros países europeus<br />

estão de olho na classe<br />

trabalha<strong>do</strong>ra grega que será a<br />

mais afetada com as medidas<br />

e a menos disposta a aceitar<br />

os ataques, o que tem grandes<br />

chances de contagiar o restante<br />

da classe operária européia,<br />

ou seja, um perigo iminente<br />

para a estabilidade da<br />

burguesia nesses Países.<br />

Além da ajuda à Grécia, o<br />

<strong>governo</strong> português aprovou<br />

o corte de gastos. Entre as<br />

medidas aprovadas pelo<br />

Congresso português há uma<br />

taxa que será cobrada sobre<br />

o 13º salário, o aumento de<br />

impostos, como o IVA (Imposto<br />

sobre Valor Agrega<strong>do</strong>)<br />

que incide na compra de produtos<br />

ou na prestação de<br />

serviços. O IVA vai ter aumento<br />

de 1%. Estão previstos<br />

também cortes e congelamento<br />

nos salários, a exemplo<br />

<strong>do</strong> que foi feito na Grécia<br />

e na Espanha e a criação de<br />

países da zona <strong>do</strong> euro tenham<br />

um déficit de no máximo<br />

3% <strong>do</strong> PIB ao ano. Para<br />

os países endivida<strong>do</strong>s a meta<br />

é que cheguem a este percentual<br />

até 2013.<br />

As metas para este ano são<br />

de uma redução <strong>do</strong> déficit de<br />

9,4% para 7,3% até o final de<br />

2010. Para o próximo ano<br />

deve cair ainda mais, para<br />

5,1% <strong>do</strong> PIB.<br />

A medidas ainda não foram<br />

todas anunciadas, mas serão<br />

todas a favor <strong>do</strong>s interesses<br />

<strong>do</strong>s capitalistas e <strong>contra</strong> classe<br />

trabalha<strong>do</strong>ra. Estão ainda<br />

em pauta o congelamento de<br />

salários, a venda de empresas<br />

e demissões no funcionalismo.<br />

Os <strong>governo</strong>s europeus estão<br />

tentan<strong>do</strong>, mais uma vez,<br />

medidas paliativas para conter<br />

a crise, em nome <strong>do</strong>s lucros<br />

capitalistas, mas enfrentarão<br />

uma forte resistência<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res que <strong>já</strong><br />

mostraram que não estão dispostos<br />

a bancar a falência<br />

capitalista.<br />

NOTAS<br />

Falência de banco<br />

espanhol derruba<br />

moeda européia<br />

Na segunda-feira, dia 24, o<br />

euro viveu mais um dia de<br />

grande instabilidade após o <strong>governo</strong><br />

espanhol intervir no CajaSur,<br />

instituição de poupança<br />

que entrou em colapso.<br />

Houve queda nos investimentos<br />

das bolsas européias<br />

que mantiveram a tendência de<br />

pelo menos duas semanas, diante<br />

<strong>do</strong> agravamento da situação<br />

econômica de países periféricos<br />

<strong>do</strong> bloco, como Grécia<br />

e Espanha.<br />

A incerteza diante da falta de<br />

coesão política <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s<br />

europeus em meio ao avanço<br />

da crise tem repercuti<strong>do</strong> diretamente<br />

na desvalorização sucessiva<br />

<strong>do</strong> euro. Neste perío<strong>do</strong>,<br />

a moeda européia <strong>já</strong> caiu<br />

quase 1,5% em relação ao<br />

dólar. Na sexta-feira, dia 21, o<br />

euro, que estava cota<strong>do</strong> em<br />

1,2583 dólares, caiu para<br />

1,2383 na segunda-feira, 24.<br />

A falência <strong>do</strong> banco espanhol,<br />

apesar de ser considerada<br />

uma instituição de pequeno<br />

porte, revela a profundidade <strong>do</strong><br />

problema atual. A falência <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s europeus está produzin<strong>do</strong><br />

um novo efeito em cadeia<br />

de contaminação e quebra <strong>do</strong>s<br />

setores priva<strong>do</strong>s que haviam<br />

empresta<strong>do</strong> para estes <strong>governo</strong>s.<br />

FMI cobra da<br />

Espanha medidas<br />

de austeridade<br />

fiscal para conter<br />

avanço da crise<br />

européia<br />

O Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

(FMI) cobrou da Espanha<br />

a implementação de medidas<br />

econômicas de austeridade<br />

fiscal, reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

de trabalho e mudanças no<br />

sistema bancário.<br />

Os analistas <strong>do</strong> FMI exigiram<br />

“uma ação urgente e decidida”.<br />

Entre as medidas estão a<br />

contenção da enorme taxa de<br />

desemprego com flexibilização<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho (terceirizações,<br />

redução de direitos<br />

trabalhistas para reduzir<br />

“gastos” <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e etc.),<br />

reforma <strong>do</strong> sistema bancário e<br />

uma “consolidação orçamentária”.<br />

A Espanha a<strong>do</strong>tou medidas<br />

de austeridade adicionais para<br />

2010 e 2011 de um total de 25<br />

bilhões de euros (US$ 18,72<br />

bilhões) para reduzir o déficit<br />

público <strong>do</strong> país.<br />

A previsão que estabelecia a<br />

meta de crescimento <strong>do</strong> país<br />

em 1,8% baixou para 1,3%. A<br />

crise ameaça levar à bancarrota<br />

to<strong>do</strong>s os países europeus.<br />

Grécia recorrerá<br />

mais vezes ao<br />

pacote de socorro<br />

ainda este ano<br />

Em comunica<strong>do</strong> o Ministério<br />

de Finanças grego anunciou<br />

que muito provavelmente o País<br />

será obriga<strong>do</strong> a recorrer ainda<br />

em 2010 ao pacote de resgate<br />

fiscal europeu.<br />

O pacote, no valor de 110<br />

bilhões de euros, foi aprova<strong>do</strong><br />

há poucas semanas pelo FMI<br />

em parceria com a União Européia.<br />

Seu objetivo era salvar da<br />

falência a economia grega, cuja<br />

bancarrota ameaça ainda agora<br />

a estabilidade econômica de<br />

to<strong>do</strong>s os países na zona <strong>do</strong> euro.<br />

Desde a aprovação <strong>do</strong> empréstimo<br />

o <strong>governo</strong> grego tem<br />

recorri<strong>do</strong> cautelosamente à<br />

quantia na medida em que necessita<br />

saudar suas dívidas. Na<br />

semana passada, por exemplo,<br />

a Grécia pagou 9 bilhões de<br />

euros em bônus graças à liberação<br />

de 14,5 bilhões pertencentes<br />

ao pacote econômico.<br />

Na nota, o Ministério afirma:<br />

“Nos nove meses, de abril a<br />

dezembro [2009], o <strong>governo</strong><br />

grego possui dívidas estimadas<br />

em • 39,7 bilhões. Na medida<br />

em que recorrer aos merca<strong>do</strong>s<br />

de bônus não seria aconselhável,<br />

os acor<strong>do</strong>s de empréstimos<br />

com a União Europeia e o FMI<br />

devem cobrir as necessidades<br />

remanescentes de empréstimos<br />

<strong>do</strong> país”.<br />

A liberação <strong>do</strong> restante <strong>do</strong><br />

pacote acontecerá caso, e apenas<br />

se, o <strong>governo</strong> grego consiguir<br />

implementar as medidas de<br />

austeridade fiscal, incluin<strong>do</strong> os<br />

ataques aos direitos trabalhistas<br />

que desencadearam sucessivas<br />

greves gerais no País.<br />

A burguesia grega neste<br />

momento se vê acuada de ambos<br />

os la<strong>do</strong>s. As imposições<br />

fiscais <strong>do</strong> imperialismo por um<br />

la<strong>do</strong>, e a barreira erguida pelos<br />

trabalha<strong>do</strong>res gregos <strong>contra</strong> a<br />

política <strong>do</strong> <strong>governo</strong>, por outro.<br />

Esta situação tende a se agravar<br />

e a dissolver completamente<br />

o regime político grego<br />

aprofundan<strong>do</strong> a crise revolucionária<br />

no País.


CAUSA OPERÁRIA<br />

MOVIMENTO OPERÁRIO<br />

Grande vitória <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e da<br />

política revolucionária: quase 70% de<br />

apoio da categoria à chapa de Ecetistas em<br />

Luta em apenas um dia de votação<br />

©¨ ¥¢¦¨ ¥¦§ ¢£¤ ¡<br />

Mesmo com os golpes da pretensa oposição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB, <strong>do</strong>s chefes e da direção da ECT, que tentou impedir as eleições para<br />

confundir os trabalha<strong>do</strong>res, atacar a organização sindical da categoria para colocá-la nas mãos <strong>do</strong>s patrões, os trabalha<strong>do</strong>res de Minas<br />

Gerais votaram na chapa que vai fortalecer a campanha <strong>contra</strong> a privatização da empresa<br />

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30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO OPERÁRIO A10<br />

SINTECT-MG: MAIS UM ATO DE BARBÁRIE DOS PELEGOS DO PCDOB/CTB<br />

Elemento <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB esfaqueia<br />

companheiros da corrente<br />

Ecetistas em Luta<br />

Um <strong>do</strong>s companheiros está no hospital e corre risco de<br />

vida<br />

Desespera<strong>do</strong>s com a rejeição<br />

da categoria e com a vitória<br />

expressiva da Chapa 1 – Ecetistas<br />

em Luta, os elementos<br />

marginais que tentaram montar<br />

uma pretensa oposição à atual<br />

diretoria <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s Correios, ultrapassaram<br />

to<strong>do</strong>s os limites e<br />

usaram de extrema violência,<br />

chegan<strong>do</strong> inclusive a esfaquear<br />

companheiros que estavam<br />

apoian<strong>do</strong> a Chapa 1, numa tentativa<br />

de impedir a to<strong>do</strong> custo<br />

a vitoria <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res nas<br />

eleições.<br />

Depois de inúmeras tentativas,<br />

todas fracassadas, de tomar<br />

no tapetão o sindicato mais<br />

combativo de toda a categoria<br />

<strong>do</strong>s correios, o sindicato de<br />

Minas Gerais, incluin<strong>do</strong> ainda a<br />

tentativa de dar o golpe na própria<br />

justiça a que apelaram para<br />

tentar tomar o sindicato, induzin<strong>do</strong>-a<br />

ao erro ao entrar com<br />

<strong>do</strong>is processos idênticos, mas<br />

em varas distintas, desespera<strong>do</strong>s<br />

com a votação expressiva<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, partiram<br />

para a agressão física <strong>contra</strong> os<br />

apoia<strong>do</strong>res da chapa 1 – Ecetistas<br />

em Luta, não só isso. Um<br />

<strong>do</strong>s líderes da “oposição”, um<br />

conheci<strong>do</strong> puxa-saco <strong>do</strong>s chefes,<br />

Orozimbo Roberto <strong>do</strong>s<br />

Santos, tentou matar a facadas<br />

<strong>do</strong>is companheiros <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />

da Causa Operária, o companheiro<br />

Avelar Viana, secretario<br />

geral <strong>do</strong> Sintect-ES, e o companheiro<br />

Edson Dorta, carteiro<br />

de Campinas, membro da<br />

corrente Ecetistas em Luta e<br />

ex-secretário-geral da Federação<br />

Nacional. Ambos se<br />

en<strong>contra</strong>m no hospital. O<br />

companheiro Avelar, esfaquea<strong>do</strong><br />

na testa e no peito,<br />

em uma altura um pouco a<br />

cima <strong>do</strong> coração, corre inclusive<br />

risco de vida, enquanto<br />

que o companheiro<br />

PRIMEIRO BALANÇO DA PARALISAÇÃO DO DIA<br />

Uma importante<br />

mobilização impulsiona a<br />

luta da categoria<br />

Em quase to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> País, os ecetistas paralisaram<br />

suas atividades no<br />

dia 26, para lutar <strong>contra</strong> o<br />

excesso de trabalho, por uma<br />

ores representantes e defensores<br />

<strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s patrões<br />

dentro <strong>do</strong>s sindicatos<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, a máfia <strong>do</strong><br />

PC<strong>do</strong>B/CTB conseguiu impe-<br />

sília, por me<strong>do</strong> da categoria,<br />

agora agiram para sabotar a<br />

paralisação, foram derrota<strong>do</strong>s<br />

em vários lugares, mas ainda<br />

conseguiram dar o golpe no<br />

Edson Dorta terá que ser submeti<strong>do</strong><br />

a uma cirurgia na mão<br />

direita, corren<strong>do</strong> o risco de<br />

perder a mobilidade da mão.<br />

A ação <strong>do</strong> grupo de oposição,<br />

financia<strong>do</strong> pelo PC<strong>do</strong>B S.A/<br />

CTB e pela empresa, é típica de<br />

Os companheiros Édson Dorta e Avelar Viana, agredi<strong>do</strong>s por Orozimbo Roberto <strong>do</strong>s Santos <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/SA.<br />

gangsteres. De acor<strong>do</strong> com os<br />

relatos das testemunhas, os<br />

companheiros da corrente<br />

Ecetistas em Luta estavam<br />

panfletan<strong>do</strong> na porta da agência<br />

e conversan<strong>do</strong> com os trabalha<strong>do</strong>res,<br />

chaman<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

a votar. Nesse momento o elemento<br />

marginal da oposição,<br />

Orozimbo, saiu da agência<br />

com a faca em punho e partiu<br />

para cima <strong>do</strong> companheiro<br />

Avelar Viana. O companheiro<br />

Edson Dorta foi esfaquea<strong>do</strong><br />

ao tentar desarmá-lo. Foi uma<br />

clara tentativa de homicídio,<br />

premedita<strong>do</strong> pelos representantes<br />

<strong>do</strong>s patrões no movimento<br />

sindical <strong>do</strong>s Correios.<br />

O papel dessa máfia, chamada<br />

PC<strong>do</strong>B/CTB, é a de intimidar<br />

os trabalha<strong>do</strong>res e a sua luta.<br />

Chamamos as organizações<br />

de trabalha<strong>do</strong>res, em<br />

particular <strong>do</strong>s Correios, a<br />

repudiar a política patronal<br />

que não se detém diante de<br />

nada, nem da fraude, nem da<br />

mais desenfreada violência,<br />

para quebrar a oposição e<br />

impor a política de privatização<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> e <strong>do</strong>s capitalistas.<br />

A partir da próxima semana, o Sindicato vai convocar novas atividades, realizar<br />

reuniões nos setores para discutir a ampliação desta mobilização em nosso Esta<strong>do</strong><br />

A paralisação <strong>do</strong> dia 26 foi apenas mais um passo da grande luta <strong>contra</strong> a privatização.<br />

PLR de no mínimo R$ 2.000<br />

e principalmente para iniciar<br />

uma grande mobilização <strong>contra</strong><br />

a privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />

CTB/PC<strong>do</strong>B<br />

vendi<strong>do</strong>s e<br />

trai<strong>do</strong>res<br />

Mostran<strong>do</strong> que são os mai-<br />

dir a paralisação no maior Sindicato<br />

<strong>do</strong> País, São Paulo,<br />

que tem mais de 20 mil trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Evidenciaram, mais uma<br />

vez, que são verdadeiros sabota<strong>do</strong>res<br />

das lutas da categoria<br />

e inimigos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

e mesmo ten<strong>do</strong> vota<strong>do</strong><br />

na mobilização na Plenária<br />

Nacional da Fentect, em Bra-<br />

Sintect - SP.<br />

Êxito da<br />

mobilização em<br />

Minas Gerais<br />

A mobilização da categoria<br />

em nossa região deu continuidade<br />

a uma série de atividades<br />

que nosso Sindicato e a Corrente<br />

Nacional Ecetistas em<br />

Luta, vem promoven<strong>do</strong> para<br />

impulsionar a campanha <strong>contra</strong><br />

a privatização e em defesa<br />

das reivindicações da categoria.<br />

Foram quatro assembléias<br />

que reuniram, juntas, mais de<br />

500 trabalha<strong>do</strong>res; foram<br />

mais de 500 mil exemplares<br />

da Carta Aberta à População<br />

distribuí<strong>do</strong>s em três semanas;<br />

na última sexta (21) realizamos<br />

um ato nacional no centro<br />

de BH com representantes<br />

da maioria <strong>do</strong>s Sindicatos da<br />

Frente <strong>do</strong>s 17 Sindicatos e<br />

Oposições contrários ao acor<strong>do</strong><br />

bianual e à privatização da<br />

ECT e, ontem, a paralisação<br />

que atingiu a maioria <strong>do</strong>s setores.<br />

Caravanas <strong>do</strong>s setores paralisa<strong>do</strong>s<br />

foram se juntan<strong>do</strong><br />

no Correio Central, na Afonso<br />

Penna, reunin<strong>do</strong> mais de<br />

300 pessoas, ao longo <strong>do</strong> dia.<br />

Por volta <strong>do</strong> meio-dia foi realizada<br />

uma passeata, chaman<strong>do</strong><br />

a atenção da população<br />

para nossa luta e nossas reivindicações.<br />

Agora, vamos<br />

preparar a greve<br />

geral<br />

Nossa paralisação foi uma<br />

primeira resposta ao golpe da<br />

direção da empresa, que<br />

anunciou que quer pagar uma<br />

PLR de no máximo R$ 836<br />

aos trabalha<strong>do</strong>res, enquanto<br />

planeja pagara mais de R$ 40<br />

mil para os altos escalões da<br />

ECT. Os que não trabalham<br />

ganham muito e os que produzem<br />

a riqueza da empresa,<br />

ganham uma miséria.<br />

A paralisação <strong>do</strong> dia 26 foi<br />

apenas mais um passo da<br />

grande luta <strong>contra</strong> a privatização,<br />

o excesso de trabalho<br />

e por uma PLR de R$ 2 mil.<br />

Ela serviu para mostrar a disposição<br />

de nossa categoria<br />

para organizar a greve geral<br />

de toda a categoria, que nosso<br />

Sindicato e toda Frente<br />

<strong>do</strong>s 17 sindicatos estão defenden<strong>do</strong><br />

que seja na primeira<br />

quinzena de julho.<br />

A partir da próxima semana,<br />

o Sindicato vai convocar<br />

novas atividades, realizar<br />

reuniões nos setores para<br />

discutir a ampliação desta<br />

mobilização em nosso Esta<strong>do</strong><br />

e também a luta <strong>contra</strong> os<br />

pelegos da CTB/PC<strong>do</strong>B no<br />

Sintect – SP e outras regiões<br />

que precisam ser derrota<strong>do</strong>s<br />

para permitir o avanço da luta<br />

da categoria.<br />

Parábens, companheiros<br />

pela mobilização. Pela nossa<br />

união, que derrotou – em Minas<br />

Gerais – os trai<strong>do</strong>res que<br />

queriam tomar nosso Sindicato<br />

para colocá-lo <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> patrão, <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Nas ruas, nas assembléias,<br />

nas plenárias e reuniões,<br />

os ecetistas mineiros, junto<br />

com a Corrente Ecetistas em<br />

Luta, ocuparam mais uma<br />

vez um papel de liderança da<br />

luta da categoria.<br />

TRABALHADOR DOS CORREIOS,<br />

Distribua também o boletim Ecetistas em Luta<br />

Acompanhe todas as semanas o órgão da corrente nacional<br />

Ecetistas em Luta, de trabalha<strong>do</strong>res, militantes e simpatizantes<br />

<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da Causa Operária nos Correios, com as principais<br />

denúncias da categoria, a análise <strong>do</strong>s acontecimentos e da política<br />

da direção da empresa.<br />

Um órgão de defesa <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Correios<br />

na sua luta cotidiana, distribuí<strong>do</strong> nacionalmente.<br />

Entre em contato e distribua o boletim também no seu<br />

setor de trabalho: correios@pco.org.br<br />

Tel. 11-5584-7040


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO OPERÁRIO A11<br />

ENCONTRO DA FRENTE DOS 17 SINDICATOS DELIBEROU<br />

Ampliar a mobilização <strong>contra</strong> a<br />

privatização da ECT e propor a antecipação<br />

da greve por tempo indetermina<strong>do</strong><br />

turas em um abaixo-assina<strong>do</strong>s<br />

<strong>contra</strong> a privatização <strong>do</strong>s Correios,<br />

conforme modelo aprova<strong>do</strong><br />

na reunião;<br />

g) Pronunciar-se <strong>contra</strong> a in-<br />

as mulheres ecetistas possam<br />

realmente debater suas posições;<br />

g) Realizar a próxima reunião<br />

da Frente <strong>do</strong>s sindicatos contrá-<br />

Reunião em Belo Horizonte da Frente de Sindicatos<br />

contrários ao acor<strong>do</strong> bianual e à privatização da ECT<br />

decidiu organizar novos atos públicos, fortalecer a luta<br />

<strong>contra</strong> o bloco trai<strong>do</strong>r nos Sindicatos, e fazer uma<br />

campanha pela antecipação da greve por tempo<br />

indetermina<strong>do</strong> para a primeira quinzena de julho<br />

No último dia 22, reuniramse<br />

em Belo Horizonte, representantes<br />

<strong>do</strong>s sindicatos que compõe<br />

a Frente de sindicatos contrários<br />

ao acor<strong>do</strong> bianual e à privatização<br />

da ECT.<br />

A reunião foi precedida de um<br />

combativo Ato <strong>contra</strong> a privatização<br />

da ECT, realiza<strong>do</strong> no dia<br />

21 de maio em frente à Agência<br />

Central <strong>do</strong>s Correios, segui<strong>do</strong><br />

de passeata pelas ruas de Belo<br />

Horizonte, com cerca de 200<br />

trabalha<strong>do</strong>res.<br />

O Ato público mostrou a disposição<br />

de luta presente entre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res e reforçou a necessidade<br />

da reunião aprovar<br />

deliberações no senti<strong>do</strong> de ampliar<br />

as mobilizações da categoria<br />

diante <strong>do</strong>s ataques organiza<strong>do</strong>s<br />

pela direção da ECT <strong>contra</strong><br />

os trabalha<strong>do</strong>res, pois os trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>já</strong> perceberam que o<br />

que está em jogo é o emprego da<br />

categoria com a ameaça da privatização<br />

da ECT.<br />

Os representantes sindicais<br />

concluíram que toda política de<br />

sucateamento da direção da<br />

ECT, como a não <strong>contra</strong>tação<br />

de trabalha<strong>do</strong>res, a precarização<br />

<strong>do</strong> serviço, a exigência de<br />

trabalho nos fins de semana,<br />

destruição <strong>do</strong> plano de saúde,<br />

implementação <strong>do</strong> PCCS/2008<br />

da escravidão, acor<strong>do</strong> bianual,<br />

to<strong>do</strong>s estes ataques fazem parte<br />

<strong>do</strong> processo da privatização<br />

da ECT. Diante disso, foram<br />

aprovadas na reunião importantes<br />

resoluções, entre as quais:<br />

a) Impulsionar em to<strong>do</strong>s os<br />

Esta<strong>do</strong>s a paralisação ocorrida<br />

no dia 26/5, colocan<strong>do</strong> para os<br />

trabalha<strong>do</strong>res que to<strong>do</strong> este processo<br />

de exploração dentro da<br />

ECT representa a privatização<br />

da ECT, apontan<strong>do</strong> a antecipação<br />

<strong>do</strong> calendário da Fentect,<br />

antecipan<strong>do</strong> a greve geral por<br />

tempo indetermina<strong>do</strong>, marcada<br />

para agosto, para a primeira<br />

quinzena de julho;<br />

b) Campanha permanente<br />

<strong>contra</strong> o acor<strong>do</strong> bianual, pela<br />

campanha salarial em 2010;<br />

c) Intensificar a campanha<br />

<strong>contra</strong> a integral formulação <strong>do</strong><br />

PCCS/2008. Que nenhum trabalha<strong>do</strong>r<br />

assine <strong>do</strong>cumentos<br />

para enquadramento no PCCS/<br />

2008 da escravidão;<br />

d) Realizar atos públicos nos<br />

sindicatos da Frente e nas bases<br />

onde há Oposição ao Bloco Trai<strong>do</strong>r,<br />

aos moldes <strong>do</strong> Ato realiza<strong>do</strong><br />

na cidade de Belo Horizonte;<br />

e) Produzir uma Carta Aberta<br />

à População da Frente, para<br />

distribuição em to<strong>do</strong> o País<br />

(ten<strong>do</strong> como proposta inicial de<br />

texto a carta que está sen<strong>do</strong><br />

distribuída pelo Sindicato de<br />

Minas Gerais); se opon<strong>do</strong> ao<br />

modelo apresenta<strong>do</strong> pelos trai<strong>do</strong>res<br />

da Fentect, que não denuncia<br />

a sabotagem intencional<br />

da empresa por sua direção e<br />

reforça ainda mais a campanha<br />

da imprensa capitalista de que os<br />

carteiros estão atrasan<strong>do</strong> as correspondências;<br />

f) Colher milhares de assina-<br />

O Ato público mostrou a disposição de luta presente entre<br />

os trabalha<strong>do</strong>res e reforçou a necessidade de ampliar as<br />

mobilizações da categoria<br />

tervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nos<br />

Sintect’s MG, PE e RR e em<br />

todas as organizações sindicais<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res;<br />

f) Propor a reformulação <strong>do</strong>s<br />

critérios aprova<strong>do</strong>s pelo bloco<br />

majoritário da direção da Fentect<br />

para o Encontro de Mulheres<br />

Ecetistas, no senti<strong>do</strong> de que<br />

rios ao acor<strong>do</strong> bianual no dia 7/<br />

6, na cidade de São José <strong>do</strong> Rio<br />

Preto, realizan<strong>do</strong> um ato público<br />

<strong>contra</strong> a privatização da<br />

ECT, a fim de fortalecer a chapa<br />

<strong>do</strong>s companheiros da diretoria<br />

<strong>do</strong> Sintect - SJO que integra<br />

o Bloco <strong>do</strong>s 17 sindicatos <strong>contra</strong><br />

o Bloco trai<strong>do</strong>r da Fentect.<br />

CORREIOS SÃO PAULO<br />

Mais uma traição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res: diretoria<br />

<strong>do</strong> Sintect-SP decide quebrar greve decidida nacionalmente<br />

Na terça-feira (25), ocorreram<br />

assembléias <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s Correios em<br />

to<strong>do</strong> o País para aprovar a<br />

paralisação nacional da categoria<br />

prevista no calendário<br />

nacional, aprova<strong>do</strong> na 35ª<br />

Plenária Nacional da Fentect.<br />

Em São Paulo, o PC<strong>do</strong>B<br />

S.A. ou CTB S. A., a famosa<br />

“máfia <strong>do</strong> crime” que dirige<br />

o sindicato, mais uma vez<br />

traiu a categoria mostran<strong>do</strong><br />

que atua como uma ala patronal<br />

no movimento sindical<br />

<strong>do</strong>s Correios. Esses pelegos<br />

convocaram uma assembléia<br />

para um local fecha<strong>do</strong>, de<br />

difícil acesso, para não ter<br />

que enfrentar os trabalha<strong>do</strong>res,<br />

<strong>já</strong> que sabem que a categoria<br />

não agüenta a situação<br />

nos setores de trabalho. Armaram<br />

um palco para poder<br />

dar mais um golpe a favor da<br />

empresa.<br />

Passan<strong>do</strong> por cima <strong>do</strong> calendário<br />

que eles mesmos<br />

aprovaram, <strong>contra</strong> a sua vontade,<br />

na 35ª Plenária Nacional,<br />

os representantes <strong>do</strong><br />

PC<strong>do</strong>B/CTB S. A. – o “Peixe”<br />

e o “Divisa” - foram<br />

<strong>contra</strong> a paralisação. A posição<br />

desses trai<strong>do</strong>res revela o<br />

que os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s<br />

Correios em nível nacional <strong>já</strong><br />

sabem: eles são os principais<br />

agentes da direção da ECT e<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> para defender a<br />

privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />

A manobra <strong>do</strong>s diretores<br />

<strong>do</strong> sindicato para não aprovar<br />

a paralisação foi orquestrada<br />

conjuntamente com a<br />

direção da empresa. Desde<br />

que a greve foi deliberada a<br />

empresa vem fazen<strong>do</strong> campanha<br />

<strong>contra</strong> ela e usaram os<br />

seus cupinchas no interior <strong>do</strong><br />

movimento sindical para tentar<br />

desmontá-la. Aprovaram<br />

a greve em Brasília, apenas<br />

para traí-la em uma assembléia<br />

feita pelas costas <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res. São trai<strong>do</strong>res<br />

e covardes. A “máfia <strong>do</strong> crime”<br />

quer quebrar toda a luta<br />

da categoria <strong>contra</strong> o excesso<br />

de trabalho nos setores e<br />

principalmente a luta <strong>contra</strong><br />

a privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />

Essa é a função <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/<br />

CTB S.A. no movimento sindical<br />

<strong>do</strong>s Correios, por isso<br />

está na direção <strong>do</strong> Sintect-<br />

SP, o mais importante da categoria.<br />

O PC<strong>do</strong>B foi coloca<strong>do</strong><br />

nesse sindicato por uma<br />

manobra <strong>do</strong>s patrões e da justiça,<br />

que nomeou uma junta<br />

interventora durante as eleições<br />

passadas, para que o <strong>governo</strong><br />

pudesse ter seus homens<br />

de confiança e assim<br />

facilitar a privatização, frean<strong>do</strong><br />

a luta no maior sindicato<br />

da categoria.<br />

Esta nova traição mostra<br />

que é necessária a união de<br />

toda a categoria em nível nacional<br />

para expulsar esses<br />

pelegos <strong>do</strong> Sintect-SP e <strong>do</strong>s<br />

demais sindicatos que controlam<br />

com apoio <strong>do</strong>s patrões,<br />

o Sintect-RJ e oSintect-DF.<br />

A derrota <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B<br />

em São Paulo é uma das condições<br />

fundamentais para o<br />

desenvolvimento da luta <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Correios<br />

em to<strong>do</strong> o País, para derrotar<br />

a privatização.<br />

SÃO PAULO<br />

Segurança <strong>do</strong> Jaguaré tenta<br />

censurar distribuição <strong>do</strong> boletim<br />

Ecetistas em Luta<br />

Os companheiros militantes<br />

da corrente Ecetistas me Luta<br />

foram aborda<strong>do</strong>s pelos seguranças<br />

no Jaguaré enquanto distribuíam<br />

o boletim aos trabalha<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> setor.<br />

A entrada <strong>do</strong> prédio <strong>do</strong> CTP<br />

Jaguaré é tradicionalmente um<br />

local onde os sindicalistas distribuem<br />

seus panfletos e conversam<br />

com os trabalha<strong>do</strong>res.<br />

No entanto, é comum de tempos<br />

em tempos a segurança <strong>do</strong><br />

prédio tentar intimidar algum<br />

companheiro que esteja fazen<strong>do</strong><br />

o trabalho sindical na entrada<br />

<strong>do</strong> prédio.<br />

Os militantes da Corrente de<br />

Oposição Ecetistas em Luta, na<br />

última semana, como <strong>já</strong> ocorreram<br />

inúmeras outras vezes,<br />

foram aborda<strong>do</strong>s pelos seguranças<br />

da empresa, que afirmaram<br />

que os companheiros não<br />

poderiam distribuir o boletim, nem<br />

vender o jornal Causa Operária.<br />

Os companheiros estavam <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong> prédio, mesmo<br />

assim os seguranças queriam que<br />

a distribuição <strong>do</strong> boletim Ecetistas<br />

em Luta ocorresse apenas na<br />

calçada.<br />

É uma ditadura da direção da<br />

empresa, em particular da diretoria<br />

regional de São Paulo Metropolitana,<br />

que não querem deixar<br />

que os trabalha<strong>do</strong>res possam ser<br />

informa<strong>do</strong>s sobre os problemas<br />

da categoria. Isso porque a direção<br />

da empresa tem me<strong>do</strong> que a<br />

categoria se organize em torno da<br />

oposição e da corrente Ecetistas<br />

em Luta, que é a organização que<br />

está enfrentan<strong>do</strong> os ataques da<br />

empresa e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e a luta<br />

<strong>contra</strong> a privatização da empresa.<br />

Os trabalha<strong>do</strong>res têm direito<br />

a se organizar nos locais de trabalho<br />

e a serem informa<strong>do</strong>s pelas<br />

diferentes correntes políticas<br />

que fazem parte <strong>do</strong> movimento<br />

sindical. Já não basta o assédio<br />

<strong>do</strong>s chefes e o excesso de trabalho<br />

nos setores, a direção da<br />

empresa quer censurar o direito<br />

da categoria de se organizar.<br />

Convocamos os trabalha<strong>do</strong>res<br />

a denunciar qualquer tipo de<br />

censura dentro da empresa. Os<br />

patrões e os sindicalistas trai<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. sabem que<br />

estão perden<strong>do</strong> a luta e que os<br />

trabalha<strong>do</strong>res vão se levantar<br />

para derrotar a privatização e derrubar<br />

os pelegos <strong>do</strong> Sintect-SP.<br />

REUNIÃO DA FRENTE DOS 17<br />

Sindicatos deliberam rejeitar Encontro<br />

de Mulheres antidemocrático da<br />

burocracia sindical<br />

Na última reunião da Frente de<br />

Sindicatos <strong>contra</strong> o acor<strong>do</strong> Bianual<br />

e a privatização <strong>do</strong>s Correios, os<br />

companheiros presentes, representan<strong>do</strong><br />

os sindicatos e as forças<br />

políticas da frente deliberaram por<br />

uma resolução de protesto <strong>contra</strong><br />

os moldes <strong>do</strong> Encontro de Mulheres<br />

da Fentect.<br />

Os companheiros da Corrente<br />

Ecetistas em Luta, <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da<br />

Causa Operária, apresentaram<br />

uma declaração da companheira<br />

Anaí Caproni, Secretária de Mulheres<br />

da Fentect, protestan<strong>do</strong><br />

<strong>contra</strong> os méto<strong>do</strong>s e critérios a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

pela maioria da Comissão de<br />

Mulheres da Fentect para a realização<br />

<strong>do</strong> encontro.<br />

As representantes da Articulação,<br />

ASS e MSB <strong>do</strong> PT decidiram<br />

realizar um encontro de mulheres<br />

Desconsideraram as principais discussões que existem na<br />

categoria e que dizem respeito a to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res,<br />

especialmente às mulheres.<br />

seguin<strong>do</strong> os moldes <strong>do</strong>s congressos<br />

feitos pela burocracia sindical,<br />

sem discussão política, em que<br />

pretensamente opiniões técnicas<br />

exporiam os problemas da mulher<br />

ecetista. Na realidade, esses supostos<br />

“técnicos” são apenas cobertura<br />

para a defesa de posições reacionárias<br />

dentro da categoria.<br />

Isso ficou bem claro na última<br />

35ª Plenária Nacional da Fentect,<br />

em que o PC<strong>do</strong>B e a Articulação,<br />

pagaram R$ 26 mil para um “técnico”<br />

ir defender o projeto de<br />

Correios S.A. Na discussão sobre<br />

a composição da mesa que tratará<br />

<strong>do</strong> tema de aborto, por exemplo,<br />

a política reacionária desses grupos<br />

ficou explícita: defenderam a<br />

presença de um elemento da extrema-direita<br />

para defender <strong>contra</strong> o<br />

direito das mulheres ao aborto.<br />

Isso significa dizer que, em um<br />

problema central da luta das trabalha<strong>do</strong>ras,<br />

a burocracia vai dar espaço<br />

para um representante da<br />

repressão <strong>contra</strong> as mulheres.<br />

Além disso, de maneira completamente<br />

antidemocrática, as<br />

representantes da burocracia sindical<br />

se opuseram que o Encontro<br />

de Mulheres discutisse a questão<br />

<strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> Bianual e <strong>do</strong> PCCS<br />

2008 da escravidão.<br />

Desconsideraram as principais<br />

discussões que existem na categoria<br />

e que dizem respeito a to<strong>do</strong>s os<br />

trabalha<strong>do</strong>res, especialmente às<br />

mulheres. Fizeram isso pois sabem<br />

que toda a base rejeita tanto<br />

o PCCS como o acor<strong>do</strong> bianual.<br />

A reunião da Frente de Sindicatos<br />

<strong>contra</strong> o Acor<strong>do</strong> Bianual<br />

debateu o tema e deliberou por<br />

protestar <strong>contra</strong> esses méto<strong>do</strong>s<br />

antidemocráticos da burocracia<br />

sindical e exigir em todas as Assembléias<br />

e no próprio encontro<br />

que esses méto<strong>do</strong>s sejam revistos.<br />

Em defesa das posições políticas<br />

e <strong>do</strong> livre debate de idéias<br />

entre as mulheres ecetistas.<br />

A companheira Loreti, <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul presente na reunião,<br />

delegada sindical, afirmou<br />

que esse tipo de política é comum<br />

nos encontros anteriores. Disse<br />

ainda que no encontro <strong>do</strong> ano<br />

passa<strong>do</strong>, no qual esteve presente,<br />

ela e outras companheiras da<br />

base protestaram por não haver<br />

espaço de discussão para que as<br />

mulheres participem.<br />

Devemos romper com to<strong>do</strong>s<br />

esses méto<strong>do</strong>s burocráticos. O<br />

Encontro de mulheres deve ser<br />

um modelo, em que as discussões<br />

sejam abertas e as posições<br />

políticas que existem dentro da<br />

categoria possam ser expressas<br />

e debatidas pelas trabalha<strong>do</strong>ras.<br />

O Encontro da Frente <strong>do</strong>s 17<br />

Sindicatos aprovou a seguinte<br />

resolução sobre o tema:<br />

“Como <strong>já</strong> foi abertamente discuti<strong>do</strong><br />

pelas correntes políticas<br />

aqui representadas durante as<br />

reuniões da Comissão de Mulheres,<br />

o bloco <strong>do</strong>s 17 sindicatos<br />

que fazem oposição à direção majoritária<br />

da Fentect, protesta<br />

<strong>contra</strong> a tentativa das representantes<br />

<strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B e Articulação,<br />

de realizar um Encontro de<br />

Mulheres sem discussão política.<br />

Esses méto<strong>do</strong>s servem para<br />

esconder o debate que existe na<br />

categoria, abrin<strong>do</strong> espaço para<br />

supostos “técnicos”, que normalmente<br />

representam as posições<br />

políticas mais reacionárias.<br />

Serve também para excluir das<br />

trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s Correios o<br />

direito de debater os problemas<br />

dentro <strong>do</strong>s locais de trabalho.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que nos encontros<br />

anteriores o mesmo<br />

méto<strong>do</strong> e os critérios foram<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s, não deixan<strong>do</strong> espaço<br />

para que as mulheres pudessem<br />

expor seus problemas e as diversas<br />

opiniões políticas existentes<br />

dentro da categoria. O bloco <strong>do</strong>s<br />

17 sindicatos protesta e propõe<br />

a revisão desses critérios, no<br />

senti<strong>do</strong> de que as mulheres ecetistas<br />

possam realmente debater<br />

suas posições.”<br />

“Belo Horizonte, 22 de maio de<br />

2010”<br />

SUCATEAMENTO NA ECT<br />

CDD´s em Campinas<br />

estão um lixo, por falta de<br />

funcionários da limpeza<br />

O sucateamento <strong>do</strong>s Correios<br />

está sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> às últimas<br />

conseqüências pela direção da<br />

ECT, na cidade de Campinas e<br />

região, interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo, os carteiros estão ten<strong>do</strong><br />

que trabalhar em locais sujos e fe<strong>do</strong>rentos,<br />

porque a direção da<br />

ECT não quer <strong>contra</strong>tar trabalha<strong>do</strong>res<br />

para fazer a limpeza nas unidades.<br />

O esquema anterior da direção<br />

da ECT de <strong>contra</strong>tar empresas<br />

terceirizadas para fazer a<br />

limpeza das unidades <strong>do</strong>s correios<br />

faliu, pois estas empresas<br />

eram <strong>contra</strong>tadas em esquemas<br />

fraudulentos, que beneficiavam<br />

financeiramente diretores da<br />

ECT, como aconteceu no caso<br />

<strong>do</strong> mensalão e <strong>do</strong> caso Deja jú,<br />

conforme foi comprova<strong>do</strong> pelas<br />

denúncias que se tornaram<br />

públicas pelos jornais e televisão.<br />

No caso da limpeza, as empresas<br />

recebiam o dinheiro <strong>do</strong>s<br />

correios para fazer o serviço e<br />

depois de alguns meses apresentavam<br />

a falência, davam o calote<br />

nos trabalha<strong>do</strong>res e jogavam<br />

para as costas da ECT o pagamento<br />

das indenizações <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Por Campinas passaram várias<br />

empresas terceirizadas para<br />

fazer este serviço e todas foram<br />

embora com este esquema de<br />

falência.<br />

A última empresa terceirizada<br />

que fazia a limpeza nos CDD´s de<br />

Campinas deixou para trás um<br />

calote em mais de 100 trabalha<strong>do</strong>res<br />

da área da limpeza, que além<br />

de terem perdi<strong>do</strong> o emprego, não<br />

receberam pelos serviços presta<strong>do</strong>s<br />

na ECT. A direção da ECT<br />

tem a obrigação de ser responsável<br />

por estes trabalha<strong>do</strong>res, e<br />

ainda resolver a situação <strong>do</strong> caos<br />

que se transformaram os CDD´s<br />

com a ausência de limpeza nestas<br />

unidades.<br />

Já são mais de 40 dias que os<br />

CDD´s não têm serviço de limpeza,<br />

acumulan<strong>do</strong> lixo nos<br />

chãos, nos banheiros, sem contar<br />

o mau cheiro e pó que ficam<br />

nas paredes e móveis, crian<strong>do</strong> um<br />

local propício ao contágio de<br />

<strong>do</strong>enças adquiridas pelo ar.<br />

Por ser responsável pelo caos<br />

que causou nas unidades <strong>do</strong>s<br />

correios, exigimos que a direção<br />

<strong>do</strong>s correios <strong>contra</strong>te imediatamente<br />

to<strong>do</strong>s os funcionários da<br />

área da limpeza que trabalhavam<br />

na última presta<strong>do</strong>ra de serviço<br />

nesta área. Incorporan<strong>do</strong>-os aos<br />

quadros de funcionários da ECT.<br />

Que seja desfeito to<strong>do</strong>s os<br />

<strong>contra</strong>tos com empresas terceirizadas<br />

na área de limpeza e que<br />

os trabalha<strong>do</strong>res desta área sejam<br />

<strong>contra</strong>ta<strong>do</strong>s diretamente pela<br />

ECT, incorporan<strong>do</strong> os que <strong>já</strong><br />

estão trabalhan<strong>do</strong> e <strong>contra</strong>tan<strong>do</strong><br />

novos funcionários através de<br />

concurso público.<br />

- Pela <strong>contra</strong>tação imediata de<br />

trabalha<strong>do</strong>res para fazer a limpeza<br />

nos CDD´s de Campinas e região,<br />

- Contra a terceirização dentro<br />

da ECT em todas as atividades.<br />

- Destituição da Diretoria<br />

corrupta da ECT, controle da<br />

ECT pelos próprios trabalha<strong>do</strong>res,<br />

através de eleições direitas<br />

para to<strong>do</strong>s os cargos de direção,<br />

de Presidente a Supervisor.<br />

- Abaixo à sabotagem da direção<br />

da ECT <strong>contra</strong> a empresa.<br />

Não à privatização da ECT.<br />

Correios públicos e de qualidade,<br />

sob o controle <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res!


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ATIVIDADES A12<br />

“O MAR DE MÁRIO”<br />

CCBP recebe pré-estréia de<br />

<strong>do</strong>cumentário sobre Mário Peixoto<br />

No último dia 22, o Centro Cultural Benjamin Perét teve<br />

a honra de exibir pela primeira vez o <strong>do</strong>cumentário “O<br />

Mar de Mário” como parte das atividades especiais sobre<br />

Cinema Brasileiro<br />

Entre as atividades especiais<br />

<strong>do</strong> mês de maio <strong>do</strong> Centro Cultural<br />

Benjamin Peret (CCBP)<br />

destacam as palestras realizadas<br />

no dia 22. Neste dia, o palestrante<br />

Adilson Mendes, pesquisa<strong>do</strong>r<br />

da Cinemateca Brasileira apresentou<br />

o tema <strong>do</strong> “Cinema<br />

Novo”.<br />

Adilson analisou inicialmente<br />

as condições políticas e econômicas<br />

em que surgiu o movimento<br />

mais conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> cinema<br />

brasileiro. Apresentou também<br />

as principais características<br />

deste movimento que foi<br />

uma ruptura com o cinema produzi<strong>do</strong><br />

pela indústria até então.<br />

Nasci<strong>do</strong> nos últimos anos da<br />

década de 1950, em meio à reabertura<br />

da crise revolucionária<br />

brasileira, os realiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Cinema Novo iriam buscar resgatar<br />

a tradição iniciada pela<br />

segunda geração modernista,<br />

de retrato e crítica da sociedade<br />

brasileira de sua época. O contato<br />

com outros movimentos<br />

que estavam acontecen<strong>do</strong> na<br />

Europa, como a “Nouvelle Vague”<br />

francesa ou o “Neorealismo<br />

Italiano” também foram referência<br />

para diretores como<br />

Glauber Rocha, Roberto Santos,<br />

Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos<br />

etc. A importância da criação da<br />

Cinemateca Brasileira pelo crítico<br />

Paulo Emílio Sales Gomes<br />

e toda discussão a respeito da<br />

produção cinematográfica que<br />

existia também foi um estímulo<br />

para os diretores <strong>do</strong> cinema<br />

novo.<br />

Entre as inovações deste cinema<br />

estavam o retrato inova<strong>do</strong>r<br />

de temas como o sertão<br />

brasileiro, o desenvolvimento<br />

industrial e problemas sociais.<br />

Em decorrência <strong>do</strong>s poucos<br />

O pesquisa<strong>do</strong>r da Cinemateca, Adilson Mendes, fala sobre<br />

“Cinema Novo”.<br />

recursos que dispunham, as<br />

produções que eram extremamente<br />

baratas transformaram<br />

esta dificuldade em criatividade.<br />

Os filmes eram fetos em cenários<br />

reais, com iluminação natural,<br />

interpretações mais naturalistas<br />

<strong>do</strong>s atores etc.<br />

Ao final da palestra, Adilson<br />

Mendes, exibiu o importante<br />

curta-metragem “Pedreira de<br />

São Diogo”, de Leon Hirszman,<br />

realiza<strong>do</strong> em 1962, durante seus<br />

anos no Centro Popular de<br />

Cultura da UNE (União Nacional<br />

<strong>do</strong>s Estudantes).<br />

O mar de Mário<br />

Peixoto<br />

O cineasta Reginal<strong>do</strong> Gontijo, o professor Ismail Xavier e o poeta Francisco K em bate-papo<br />

sobre o <strong>do</strong>cumentário “O Már de Mário”.<br />

Na parte da tarde aconteceu<br />

o encontro entre três especialistas<br />

e admira<strong>do</strong>res da obra “Limite”<br />

de Mário Peixoto. O cineasta<br />

Regina<strong>do</strong> Gontijo, realiza<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário inédito “O<br />

Mar de Mário; sobre Mário<br />

Peixoto, o poeta Francisco K,<br />

autor de uma tese sobre o filme<br />

“Limite” e o maior especialista<br />

<strong>do</strong> cinema brasileiro Ismail<br />

Xavier, uma das maiores autoridades<br />

<strong>do</strong> assunto na atualidade,<br />

professor da ECA-USP e<br />

autor de mais de 15 livros sobre<br />

cinema.<br />

A atividade teve início com<br />

uma apresentação inicial <strong>do</strong> professor<br />

Ismail Xavier que tratou<br />

da “Modernidade <strong>do</strong> Cinema<br />

Brasileiro”. Ismail Xavier relacionou<br />

o cinema convencional,<br />

que não foge da rotina com a<br />

produção independente, “alternativa”<br />

ou até mesmo chama<strong>do</strong><br />

de cinema de vanguarda.<br />

Este cinema diferente que nos<br />

faz pensar foi coloca<strong>do</strong> em oposição<br />

à indústria cinematográfica<br />

estabelecida.<br />

Após esta apresentação foi<br />

realizada a pré-estréia <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário<br />

“O Mar de Mário”.<br />

Cria<strong>do</strong> a partir de seis horas de<br />

gravações com depoimentos e<br />

conversas com Mário Peixoto<br />

entre os anos de 1986 a 1988. O<br />

filme é uma obra de grande valor<br />

poético revelan<strong>do</strong> uma personalidade<br />

<strong>do</strong> famoso diretor pouco<br />

conhecida. Mário Peixoto aparece<br />

no filme de maneira despojada,<br />

é filma<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> não convencional.<br />

Desta forma o cineasta<br />

Gontijo conseguiu revelar<br />

um pouco da personalidade e das<br />

idéias <strong>do</strong> grande cineasta.<br />

Entre as diversas imagens<br />

registradas, destaca-se a expressiva<br />

seqüência onde Mário Peixoto<br />

lê a famosa carta que durante<br />

anos foi atribuída ao cineasta<br />

soviético Serguei Eisenstein,<br />

sobre o filme “Limite”. Posteriormente,<br />

revelou-se que o texto<br />

na verdade fora escrito pelo próprio<br />

Mário Peixoto, o que acrescenta<br />

novos da<strong>do</strong>s sobre a personalidade<br />

<strong>do</strong> brasileiro, bem<br />

como sua apreciação sobre a<br />

Cena <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário inédito “O Mar de Mário”, de<br />

Reginal<strong>do</strong> Gontijo, exibi<strong>do</strong> no CCBP.<br />

própria obra. Escondi<strong>do</strong> sob o<br />

pseudônimo de Eisenstein, Peixoto<br />

terá escrito o que foi certamente<br />

sua mais sincera opinião<br />

sobre este hermético longa-metragem<br />

experimental concebi<strong>do</strong><br />

por ele em 1931.<br />

Após a exibição foi inicia<strong>do</strong> o<br />

bate-papo entre os convida<strong>do</strong>s e<br />

a platéia presente. Entre as considerações<br />

a respeito <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário<br />

o “O Mar de Mário”, foi<br />

destaca<strong>do</strong> sua habilidade em não<br />

seguir a regra básica <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentários,<br />

mas sim revelar um<br />

Mário Peixoto novo, mais humano<br />

e ainda bastante lúci<strong>do</strong><br />

com quase 80 anos de idade. O<br />

<strong>do</strong>cumentário também dialogou<br />

com o filme “Limite” chegan<strong>do</strong><br />

a reproduzir algumas<br />

cenas que foram perdidas durante<br />

a restauração <strong>do</strong> filme na<br />

década de 1970. Alguns truques<br />

e efeitos estéticos como<br />

imagem em negativo também<br />

aparecem para destacar a intenção<br />

experimental <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário.<br />

A exibição de “O Mar de<br />

Mário” no CCBP foi um <strong>do</strong>s<br />

primeiros acontecimentos<br />

mais importantes <strong>desde</strong> sua<br />

inauguração em outubro de<br />

2009. O filme foi exibi<strong>do</strong> a partir<br />

de uma cópia em DVD <strong>do</strong> original<br />

grava<strong>do</strong> em vídeo, mas está<br />

sen<strong>do</strong> transforma<strong>do</strong> em película<br />

para ser exibi<strong>do</strong> nos cinemas<br />

<strong>do</strong> País.<br />

CINEMA BRASILEIRO<br />

A experiência cinematográfica de “Limite”<br />

Na sexta-feira, dia 21, o Centro<br />

Cultural Benjamin Péret<br />

(CCBP) iniciou atividades especiais<br />

<strong>do</strong> mês de maio sobre o Cinema<br />

Brasileiro.<br />

A primeira delas foi uma palestra-debate<br />

sobre o filme “Limite”,<br />

único filme concluí<strong>do</strong> <strong>do</strong> diretor.<br />

Inicialmente foi feita a exibição <strong>do</strong><br />

filme, obra-prima de Mário Peixoto,<br />

realiza<strong>do</strong> em 1930 e exibi<strong>do</strong><br />

pela primeira fez em 1931. O<br />

filme foi um marco na história <strong>do</strong><br />

cinema brasileiro. Suas inovações<br />

técnicas se revelaram uma novidade<br />

em meio à produção cine-<br />

matográfica brasileira da época.<br />

Foi amplamente estuda<strong>do</strong> e<br />

classifica<strong>do</strong> como uma expressão<br />

das mais avançadas vanguardas<br />

européias. “Limite”, um filme<br />

mu<strong>do</strong> de quase duas horas de<br />

duração demonstrou por meio da<br />

utilização <strong>do</strong>s recursos cinematográficos,<br />

imagens que são lembradas<br />

até hoje.<br />

Após o filme foi realizada uma<br />

palestra com João André Dorta e<br />

Filipe Florence Rios, membros <strong>do</strong><br />

GARI (Grupos por uma Arte<br />

Revolucionária Independente)<br />

grupo liga<strong>do</strong> ao <strong>PCO</strong> (Parti<strong>do</strong> da<br />

Causa Operária).<br />

Na palestra, foi discuti<strong>do</strong><br />

como Mário Peixoto realizou<br />

“Limite”, destacan<strong>do</strong> suas diversas<br />

inovações, além de alguns<br />

momentos importantes de sua<br />

biografia. Entre eles, a importância<br />

de seu contato com outros<br />

intelectuais brasileiros <strong>do</strong> meio<br />

cinematográfico, como os diretores<br />

Humberto Mauro, Adhemar<br />

Gonzaga e a atriz Carmem Santos.<br />

Curiosidades da produção <strong>do</strong><br />

filme também foram menciona<strong>do</strong>s.<br />

A utilização de não-atores<br />

para os personagens, como é o<br />

caso de Olga Breno, uma vende<strong>do</strong>ra<br />

de bombons. Outros detalhes<br />

da produção incluíam o fato<br />

das câmeras utilizadas nas filmagens<br />

terem si<strong>do</strong> emprestadas e<br />

to<strong>do</strong> o custo <strong>do</strong> filme banca<strong>do</strong><br />

pelo próprio diretor. Da<strong>do</strong> importante<br />

é que as inovações artísticas<br />

apresentadas em "Limite", por<br />

meio de diversos ângulos de câmeras<br />

e pela montagem arrojada,<br />

foram influenciadas pelo cinema<br />

de vanguarda europeu e soviético.<br />

Uma das peças fundamentais<br />

para a criação desta obra-prima foi<br />

o diretor de fotografia, Edgar Brazil,<br />

profissional da área de cinema<br />

que foi capaz de colocar em prática<br />

todas as idéias de Peixoto a<br />

respeito da concepção das cenas.<br />

Edgar Brazil montou diversas<br />

“engenhocas” para suprir as deficiências<br />

financeiras. Como não<br />

era possível importar os equipamentos<br />

necessários, o fotógrafo<br />

construiu um eleva<strong>do</strong>r para câmera<br />

para realizar filmagens <strong>do</strong><br />

alto, além disso, foi cria<strong>do</strong> um<br />

carrinho para as filmagens em<br />

movimento, no qual o carro era<br />

transporta<strong>do</strong> por quatro homens.<br />

Foi ainda a primeira vez que se<br />

utilizou filme pancromático em<br />

uma produção nacional, película<br />

importada e extremamente sensível,<br />

capaz de reproduzir tons de<br />

cinzas com muito mais nuances<br />

e contornos.<br />

“Limite” é um filme extremamente<br />

experimental que possui<br />

qualidades técnicas na manipulação<br />

da câmera, <strong>do</strong>s enquadramentos<br />

e ritmos <strong>do</strong> filme que facilmente<br />

podem ser compara<strong>do</strong>s com<br />

grandes filmes de diretores como<br />

Dziga Vertov, Serguei Eisenstein<br />

ou F.W. Murnau. O filme surpreendeu<br />

também pela força poética<br />

das imagens que contam uma história<br />

aparentemente simples, mas<br />

utilizan<strong>do</strong> os diversos recursos<br />

próprios <strong>do</strong> cinema, uma grande<br />

novidade em sua época.<br />

“Limite” teve poucas exibições<br />

no Brasil e não teve distribuição<br />

comercial. Ficou perdi<strong>do</strong> por mais<br />

de 50 anos até que foi restaura<strong>do</strong> por<br />

amigos de Mário Peixoto e voltou<br />

a ser exibi<strong>do</strong> somente em 1978.<br />

VERA CRUZ<br />

O cinema brasileiro<br />

esmaga<strong>do</strong> pelo imperialismo<br />

A última palestra <strong>do</strong> especial<br />

sobre o Cinema Brasileiro no<br />

Centro Cultural Benjamin Perét<br />

foi com o tema “Vera Cruz”,<br />

sobre os estúdios cinematográficos<br />

brasileiros cria<strong>do</strong>s no final<br />

da década de 1940.<br />

A palestra foi apresentada<br />

pelos membros <strong>do</strong> GARI, João<br />

André Dorta e Filipe Florence<br />

Rios, a exposição se concentrou<br />

nas características da Companhia<br />

Vera Cruz como indústria,<br />

sua evolução no senti<strong>do</strong> de<br />

produzir um cinema em escala<br />

industrial e as dificuldades en<strong>contra</strong>das<br />

por ela em sua implantação<br />

no merca<strong>do</strong> nacional.<br />

Inicialmente foi feito um<br />

panorama da situação política e<br />

econômica no Brasil nos anos<br />

que precederam a criação da<br />

Vera Cruz. Foi fala<strong>do</strong> das outras<br />

empreitadas cinematográficas<br />

brasileiras como os estúdios da<br />

Cinédia e da Atlântida.<br />

A Vera Cruz foi um <strong>do</strong>s projetos<br />

mais ambiciosos <strong>do</strong> cinema<br />

brasileiro. Foi banca<strong>do</strong> por<br />

um grupo de industriais paulistas,<br />

como Francisco Matarazzo,<br />

o principal financia<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

projeto. Estes industriais estavam<br />

interessa<strong>do</strong>s em realizar um<br />

cinema universal que por meio<br />

de sua distribuição nacional e<br />

internacional proporcionasse a<br />

ascensão desta burguesia no<br />

merca<strong>do</strong> mundial.<br />

O projeto grandioso da Vera<br />

Cruz também foi ressalta<strong>do</strong>.<br />

Foram trazi<strong>do</strong>s técnicos e especialistas<br />

em cinema de mais<br />

de 27 nacionalidades para colocar<br />

em prática os projetos.<br />

Nomes como Alberto Cavalcanti,<br />

o primeiro produtor <strong>do</strong>s<br />

estúdios, organizou toda a equipe<br />

que foi trazida de fora para<br />

montar a estrutura da Vera<br />

Cruz.<br />

A idéia inicial <strong>do</strong> projeto era<br />

produzir 12 filmes por ano com<br />

a meta de chegar a 20 filmes<br />

anualmente. Com isso pretendiam<br />

competir com o cinema<br />

internacionalmente. Mas as dificuldades<br />

foram maiores que<br />

os êxitos, com diversos problemas<br />

decorrentes da submissão<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro ao merca<strong>do</strong><br />

estrangeiro.<br />

A Vera Cruz durou apenas<br />

cinco anos, produziu cerca de<br />

20 filmes, entre eles sucessos<br />

internacionais como “Tico-tico<br />

no Fubá” (1952) e “O Cangaceiro”<br />

(1953), mas os constantes<br />

problemas de produção, distribuição<br />

e falta de dinheiro foram<br />

mais determinantes. O<br />

projeto da Vera Cruz foi finalmente<br />

vítima <strong>do</strong> gigantesco<br />

monopólio de Hollywood sobre<br />

o merca<strong>do</strong> cinematográfico<br />

brasileiro. Diversas empresas<br />

norte-americanas como a<br />

Columbia e Universal <strong>do</strong>minavam<br />

diversos setores no País e<br />

sufocaram o desenvolvimento<br />

da Vera Cruz.<br />

Finalmente a Vera Cruz faliu<br />

e seu projeto aborta<strong>do</strong> pela<br />

<strong>do</strong>minação imperialista no Brasil,<br />

assim como aconteceu com<br />

diversos outros empreendimentos<br />

brasileiros.<br />

O cineasta Mário Peixoto,<br />

diretor de um filme só, conseguiu<br />

com “Limite” fazer um cinema<br />

extremamente moderno, cinematográfico<br />

que entrou para a<br />

história <strong>do</strong> cinema brasileiro.<br />

O cineasta Mário Breves Peixoto,<br />

ou Mário Peixoto como é<br />

mais conheci<strong>do</strong>, é um <strong>do</strong>s nomes<br />

<strong>do</strong> cinema brasileiro que se<br />

transformou em um mito. Fez<br />

apenas um filme, “Limite”, em<br />

1931, e entrou para história <strong>do</strong><br />

cinema nacional e mundial.<br />

CINEMA DE VANGUARDA<br />

Quem foi Mário Peixoto?<br />

Mário Peixoto.<br />

Ele nasceu em 25 de março de<br />

1908, provavelmente na Bélgica. É<br />

originário de uma família burguesa.<br />

Tinha como avô materno o<br />

comenda<strong>do</strong>r Joaquim José de<br />

Souza Breves, um<br />

<strong>do</strong>s maiores planta<strong>do</strong>res<br />

de café da<br />

época <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong><br />

Império e também o<br />

maior traficante de<br />

escravos. Seu pai<br />

era de uma família de<br />

usineiros de açúcar.<br />

Aos 18 ano foi<br />

estudar na Inglaterra,<br />

próximo de Eastbourne,<br />

no Sussex<br />

entre os anos de<br />

1926 e 1927.<br />

Quan<strong>do</strong> voltou<br />

ao Brasil conheceu<br />

diversas pessoas<br />

que o fizeram ter um<br />

contato maior com<br />

o cinema. Entre eles, Brutus Pedreira,<br />

os irmãos Silvio e Raul Schnoor,<br />

o cineasta Adhemar Gozaga<br />

e Pedro Lima.<br />

Fun<strong>do</strong>u Chaplin Club em 1928,<br />

o primeiro cineclube brasileiro.<br />

Destas discussões surgiu a publicação<br />

O FAN entre 1928 e 1930.<br />

Mário Peixoto voltou para a<br />

Europa em 1929 e nesta ocasião<br />

um acontecimento foi determinante<br />

para a vida <strong>do</strong> futuro cineasta.<br />

Em um passeio nas ruas de<br />

Paris, Peixoto viu uma foto na revista<br />

VU. Nela uma mulher é<br />

envolta por braços masculinos<br />

que estão algema<strong>do</strong>s. A foto fez<br />

com que o diretor escrevesse na<br />

mesma noite um texto que depois<br />

se tornaria o roteiro de “Limite”.<br />

Ao voltar para o Brasil, apresentou<br />

o texto para os amigos <strong>do</strong><br />

Chaplin Club que tiveram a idéia<br />

de fazer o filme.<br />

“Limite” foi filma<strong>do</strong> em 1930<br />

e estreou um ano depois, no Rio<br />

de Janeiro. A repercussão <strong>do</strong> filme<br />

nacional e internacionalmente<br />

elevou o nome de Peixoto ao primeiro<br />

time <strong>do</strong> cinema. O cienasta<br />

tinha apenas 21 anos e seu filme<br />

foi amplamente comenta<strong>do</strong>.<br />

Após “Limite”, Peixoto envolveu-se<br />

na produção de outros filmes,<br />

mas não concluiu mais nenhum<br />

outro. Dentre eles destaca-se<br />

também “Onde a Terra<br />

Acaba”.<br />

Publicou livros de poesia, um<br />

romance e textos de crítica cinematográfica.<br />

Morreu em 1992,<br />

aos 84 anos, pobre e praticamente<br />

desconheci<strong>do</strong>.


CAUSA OPERÁRIA<br />

MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />

Contra a segunda fraude <strong>do</strong> Psol no DCE<br />

¡¥¤¦¨¤¥¦ §£¡¨©¥¡ ¡¢£¡¤¥¦¡<br />

Foi convoca<strong>do</strong> para os dias de 27 a 30 de maio o X Congresso <strong>do</strong>s Estudantes da USP. É preciso chamar a atenção <strong>do</strong>s estudantes para o<br />

verdadeiro golpe que prepara o Psol e a burocracia estudantil <strong>contra</strong> o movimento de conjunto.<br />

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ampliar a mobilização<br />

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2010<br />

Funcionários da USP<br />

em greve paralisam<br />

reitoria<br />

Página A14<br />

No lugar da assembléia geral democrática, massiva, onde qualquer estudante pode participar, a burocracia estudantil<br />

quer colocar o Conselho de Centros Acadêmicos (CCA), verdadeiro parlamento estudantil<br />

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30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO ESTUDANTIL A14<br />

USP SÃO CARLOS<br />

Estudantes ocupam coordena<strong>do</strong>ria <strong>contra</strong><br />

a interferência no processo de seleção<br />

Amplian<strong>do</strong> a luta iniciada em São Paulo, os estudantes<br />

da USP de São Carlos também ocupam coordena<strong>do</strong>ria<br />

Os estudantes devem exigir o fim da Coseas em to<strong>do</strong>s os<br />

campi da USP com o apoio e a ampliação da ocupação.<br />

Nesta segunda-feira, os estudantes<br />

da Universidade de<br />

São Paulo <strong>do</strong> campus de São<br />

Carlos ocuparam a sede da<br />

Coseas <strong>contra</strong> a intervenção<br />

no processo de seleção de<br />

mora<strong>do</strong>res.<br />

Os estudantes reivindicam<br />

que o processo de seleção realiza<strong>do</strong><br />

pelos estudantes seja<br />

reconheci<strong>do</strong> pela universidade.<br />

Após 40 anos em que a moradia<br />

de São Carlos existe e é<br />

administrada pelos mora<strong>do</strong>res,<br />

agora a Coseas quer interferir<br />

na seleção.<br />

Em São Paulo, os estudantes<br />

ocupam há mais de <strong>do</strong>is<br />

meses a Coseas <strong>contra</strong> a política<br />

de vigilância <strong>do</strong> órgão e<br />

da irregularidade <strong>do</strong> processo<br />

ABAIXO A DITADURA<br />

de seleção <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res e a<br />

interferência na vida <strong>do</strong>s estudantes.<br />

Agora querem impor o<br />

mesmo sistema, rejeita<strong>do</strong> em<br />

São Paulo, para os estudantes<br />

em São Carlos.<br />

Independência<br />

<strong>do</strong>s estudantes<br />

para administrar<br />

a moradia<br />

Desde o início da gestão de<br />

Rodas, o reitor-interventor de<br />

Serra-Goldman, os estudantes<br />

da moradia <strong>do</strong> campus de<br />

São Carlos estão sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong>s<br />

de perder a autonomia<br />

para gerir o local onde moram.<br />

Em fevereiro, a reunião da<br />

burocracia universitária, chama<strong>do</strong><br />

Conselho diretor foi<br />

aprova<strong>do</strong> que os estudantes<br />

não participariam <strong>do</strong> processo<br />

seletivo <strong>do</strong>s ingressantes<br />

na moradia.<br />

Foi aprovada ainda a formulação<br />

de um regulamento<br />

com “regras de vivência” e<br />

também os estudantes não<br />

fariam parte.<br />

Segun<strong>do</strong> relato <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res,<br />

recentemente foi implantação<br />

das coordena<strong>do</strong>rias<br />

de campi (Coseas) e as reuniões<br />

trancadas e com seguranças<br />

na porta.<br />

A moradia estudantil de São<br />

Carlos, <strong>desde</strong> que surgiu há<br />

42 anos, é administrada pelos<br />

mora<strong>do</strong>res.<br />

Os mora<strong>do</strong>res que organizavam<br />

os critérios e o processo<br />

de seleção e também para<br />

o auxílio-moradia (auxílio-financeiro).<br />

Havia uma comissão de seleção<br />

é formada por cinco<br />

mora<strong>do</strong>res, eleitos em assembléia<br />

geral, quatro professores<br />

(um de cada unidade) e a<br />

assistente social.<br />

Isso não é a primeira vez<br />

que acontece. A administração<br />

<strong>do</strong> Campus, através da<br />

sua Coordena<strong>do</strong>ria, ameaça a<br />

independência <strong>do</strong>s estudantes.<br />

Querem excluir os estudantes<br />

<strong>do</strong> processo e aplicar<br />

os critérios de seleção a<strong>do</strong>ta-<br />

Rodas é fraco: ampliar a mobilização<br />

para derrubar o interventor<br />

Nenhuma concessão ao<br />

reitor-interventor na USP.<br />

Greve geral para acabar com<br />

a itadura da burocracia universitária,<br />

Rodas e Serra-<br />

Goldman.<br />

O movimento <strong>do</strong>s estudantes<br />

e funcionários da USP<br />

deve ultrapassar a barreira<br />

formada pelas direções das<br />

entidades para se enfrentar e<br />

derrubar o reitor-interventor.<br />

Rodas é repudia<strong>do</strong> até mesmo<br />

por um setor da burocracia<br />

universitária. As eleições<br />

realizadas em um pequeno<br />

setor da burocracia haviam<br />

da<strong>do</strong> a Rodas o segun<strong>do</strong> lugar.<br />

Os estudantes da faculda-<br />

LUTA ESTUDANTIL<br />

de de Direito, da qual Rodas<br />

era diretor, reivindicam o<br />

“fora Rodas”.<br />

No dia da posse de Rodas,<br />

de forma desproporcional,<br />

este colocou a polícia para<br />

reprimir duramente menos de<br />

cem estudantes que protestavam<br />

em frente à Sala São Paulo,<br />

local em que foi realizada<br />

a cerimônia. Três estudantes<br />

foram presos no protesto.<br />

Este <strong>já</strong> era o primeiro indício<br />

de que o chama<strong>do</strong> “diálogo”<br />

em 2009 era apenas uma<br />

tentativa de acalmar a oposição<br />

ao interventor.<br />

Na primeira manifestação<br />

na gestão de Rodas, a ocupação<br />

da Coseas, o reitor-interventor<br />

tentou incitar a direita<br />

<strong>contra</strong> os estudantes.<br />

Após os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

CRUSP descobrirem diversos<br />

<strong>do</strong>cumentos que comprovam<br />

a vigilância e a perseguição<br />

<strong>contra</strong> os estudantes, Rodas<br />

afirmou que seriam privilegia<strong>do</strong>s<br />

por reivindicarem o fim<br />

da perseguição e aumento de<br />

vagas.<br />

No primeiro dia da greve<br />

<strong>do</strong>s funcionários, Rodas aprovou<br />

multa <strong>contra</strong> o sindicato<br />

e o impedimento <strong>do</strong>s piquetes,<br />

que são uma atividade legítima<br />

da greve.<br />

Rodas tenta sufocar o movimento<br />

de oposição para<br />

manter a intervenção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

capitalista na universidade.<br />

Para isso, conta com as direções<br />

pelegas nas entidades.<br />

Seus recursos estão fican<strong>do</strong> escassos<br />

e quase não tem onde se<br />

apoiar.<br />

A palavra de ordem de “fora<br />

Rodas” resume toda a luta que<br />

vêm travan<strong>do</strong> os estudantes nos<br />

últimos anos.<br />

Mais <strong>do</strong> que em outros momentos<br />

está colocada a luta pela<br />

verdadeira autonomia da universidade<br />

diante <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> capitalista.<br />

O interventor de Serra é fraco<br />

e uma mobilização ampla e<br />

conseqüente pode derrubá-lo,<br />

por isso os estudantes devem<br />

aprovar a greve e paralisar toda<br />

a universidade.<br />

AJR faz campanha na USP pelo “fora<br />

Rodas” e a greve com ocupação<br />

Estudantes da AJR distribuem<br />

dez mil panfletos na cidade<br />

universitária, com passagem<br />

em sala de aula para esclarecer<br />

e ampliar a luta <strong>do</strong>s estudantes<br />

<strong>contra</strong> a ditadura <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e<br />

seu interventor na USP.<br />

Para combater a direita na<br />

universidade, é necessário fortalecer<br />

a organização que demonstra<br />

em to<strong>do</strong>s os momentos<br />

estar ao la<strong>do</strong> da luta <strong>do</strong>s<br />

estudantes e <strong>do</strong> verdadeiro<br />

movimento estudantil.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a Aliança da<br />

Juventude Revolucionária, organização<br />

que é um instrumento<br />

para o desenvolvimento da luta<br />

<strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s estudantes,<br />

distribuiu nesta semana dez mil<br />

panfletos reforçan<strong>do</strong> a necessidade<br />

da deflagração da greve<br />

<strong>contra</strong> a burocracia universitária<br />

e o interventor de Serra na<br />

USP.<br />

A campanha pela Greve com<br />

ocupação <strong>contra</strong> Rodas e a ditadura<br />

na universidade ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> feita sistematicamente pela<br />

AJR com passagem em sala de<br />

aula, colagem de cartazes, manifestações<br />

e propostas nas<br />

assembléias para organizar este<br />

movimento.<br />

É preciso ser concreto e a<br />

greve com ocupação é a resposta<br />

necessária <strong>contra</strong> a ditadura<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> na universidade. Os<br />

estudantes da moradia <strong>já</strong> denunciaram<br />

o sistema de vigilância<br />

monta<strong>do</strong> <strong>contra</strong> eles para perseguir<br />

qualquer luta <strong>contra</strong> o regime.<br />

É preciso levantar um programa<br />

claro de luta, com as reivindicações<br />

<strong>do</strong> movimento estudantil<br />

e assim unificar as tendências<br />

existentes entre os estudantes<br />

em um grande movimento<br />

<strong>contra</strong> o reitor-interventor<br />

e a ditadura na universidade.<br />

A campanha será ampliada<br />

com intensa agitação e propaganda<br />

através de cartazes, boletins,<br />

folhetos, além de várias<br />

matérias no Causa Operária<br />

Notícias Online, no semanário<br />

Causa Operária e na revista<br />

Juventude Revolucionária que<br />

analisaram esta questão a partir<br />

<strong>do</strong>s mais diferentes aspectos.<br />

Com polêmicas com as correntes<br />

no movimento estudantil,<br />

com a direita e explican<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

da luta na universidade.<br />

O objetivo é agrupar os estudantes<br />

que querem lutar <strong>contra</strong><br />

a ditadura na universidade imposta<br />

pelo <strong>governo</strong> e para isso<br />

precisam se enfrentar também<br />

com a burocracia estudantil.<br />

2010<br />

Funcionários da USP em greve paralisam reitoria<br />

Fortalecen<strong>do</strong> a greve <strong>do</strong>s<br />

funcionários, os trabalha<strong>do</strong>res<br />

da reitoria da USP aderiram a<br />

greve que ocorre há mais de 20<br />

dias e a reitoria foi bloqueada.<br />

No dia 25 de maio os funcionários<br />

da Universidade de São<br />

Paulo (USP) bloquearam o prédio<br />

da reitoria.<br />

A decisão ocorreu após assembléia<br />

entre funcionários <strong>do</strong><br />

prédio que aprovaram o apoio ao<br />

movimento que ocorre <strong>desde</strong> o<br />

dia 5 de maio.<br />

A greve reivindica a extensão<br />

<strong>do</strong> reajuste salarial de 6% concedi<strong>do</strong><br />

aos professores também<br />

para a categoria <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res.<br />

Os trabalha<strong>do</strong>res da USP, Unicamp<br />

(Universidade Estadual de<br />

Campinas) e da Unesp reivindicam<br />

também aumento salarial de<br />

16% mais R$ 200.<br />

É positiva a iniciativa que<br />

deve se ampliar para toda a<br />

universidade e derrotar a política<br />

<strong>do</strong> reitor-interventor que quer<br />

impedir o direito de greve.<br />

Antes de a greve <strong>do</strong>s funcionários<br />

começar, na terça-feira<br />

dia 4, o reitor interventor João<br />

Grandino Rodas, conseguiu na<br />

Justiça liminar preven<strong>do</strong> o corte<br />

<strong>do</strong>s dias para<strong>do</strong>s pelo e multa<br />

ao sindicato da categoria, o Sintusp,<br />

em R$ 1 mil por dia, “caso<br />

sejam monta<strong>do</strong>s piquetes e o<br />

acesso aos prédios da instituição<br />

fique prejudica<strong>do</strong>”.<br />

A tentativa era inibir a mobilização<br />

geral da universidade<br />

<strong>contra</strong> a fraca gestão de Rodas.<br />

Em 2009, a tentativa de inibir<br />

as atividades de greve <strong>do</strong>s funcionários<br />

com a entrada da PM<br />

na USP fortaleceu o movimento<br />

<strong>do</strong>s estudantes. O repúdio à<br />

entrada da PM foi generaliza<strong>do</strong><br />

e a burocracia estudantil que<br />

estava a meses conten<strong>do</strong> a tendência<br />

de luta <strong>do</strong>s estudantes foi<br />

anulada.<br />

A entrada <strong>do</strong>s estudantes na<br />

greve foi fundamental e conseguiu<br />

demonstrar a enorme crise<br />

da burocracia universitária na<br />

USP. Pela primeira vez no País<br />

os estudantes se enfrentaram<br />

diretamente com a polícia, lançan<strong>do</strong><br />

o que tinham a mão para<br />

<strong>do</strong>s pela Coseas (Coordena<strong>do</strong>ria<br />

de Serviço e Assistência<br />

Social da USP). E assim como<br />

veio à tona com a ocupação no<br />

campus Butantã, cumprir a<br />

função definida pela reitoria<br />

de vigiar e controlar a vida <strong>do</strong>s<br />

estudantes.<br />

Os mora<strong>do</strong>res da USP de<br />

São Carlos, em assembléia decidiram<br />

manter o processo<br />

seletivo das moradias com a<br />

participação estudantil e seguin<strong>do</strong><br />

os critérios aprova<strong>do</strong>s<br />

também em assembléia.<br />

To<strong>do</strong> apoio à<br />

ocupação<br />

To<strong>do</strong> o movimento estudantil<br />

da USP deve apoiar a<br />

luta <strong>do</strong>s estudantes de São<br />

Carlos, que estão sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong>s<br />

pela política de Rodas,<br />

que foi coloca<strong>do</strong> por Serra<br />

para o novo interventor justamente<br />

por ser conheci<strong>do</strong> por<br />

atacar os estudantes e defender<br />

a privatização da universidade.<br />

A ocupação da sede da Coseas<br />

em São Paulo expôs<br />

como se organiza a ditadura<br />

na universidade <strong>contra</strong> os estudantes<br />

da moradia.<br />

Os estudantes precisam<br />

agir energicamente <strong>contra</strong><br />

esta medida e bloquear a ação<br />

da Coseas em to<strong>do</strong>s os campi<br />

da USP com o apoio e a ampliação<br />

da ocupação.<br />

impedir a invasão policial.<br />

Este amadurecimento <strong>do</strong><br />

movimento não pode ser reverti<strong>do</strong><br />

e este é o me<strong>do</strong> de Rodas.<br />

A mobilização deste ano é a<br />

continuidade da luta realizada no<br />

último perío<strong>do</strong> na USP. O reitor-interventor<br />

conta apenas<br />

com o apoio da frente popular<br />

e <strong>do</strong>s pelegos <strong>do</strong> movimento<br />

estudantil para se segurar no<br />

cargo.<br />

Por isso a diretoria <strong>do</strong> DCE<br />

(Psol) está boicotan<strong>do</strong> a greve<br />

estudantil que irá dar um salto<br />

de qualidade da mobilização, em<br />

defesa <strong>do</strong>s interesses de estudantes<br />

e servi<strong>do</strong>res <strong>contra</strong> a<br />

ditadura de Serra e <strong>do</strong> PSDB na<br />

universidade.<br />

Veja aqui Carta Aberta <strong>do</strong><br />

Alojamento ao Campus<br />

de São Carlos<br />

Os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Alojamento<br />

informam aos demais estudantes,<br />

funcionários e professores <strong>do</strong><br />

Campus que, <strong>desde</strong> o impasse<br />

gera<strong>do</strong> pela Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />

Campus quanto ao processo seletivo<br />

para as bolsas moradia e<br />

auxílio-moradia, temos busca<strong>do</strong><br />

diversas tentativas de diálogo com<br />

esta, visan<strong>do</strong> resolver a situação.<br />

Sem obter sucesso, deliberamos<br />

em assembléia geral <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res<br />

nossa permanência na Coordena<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> Campus até que tal<br />

impasse seja resolvi<strong>do</strong>. Para que<br />

to<strong>do</strong>s possam compreender<br />

melhor nossas reivindicações,<br />

segue breve histórico de to<strong>do</strong> o<br />

processo, bem como alguns <strong>do</strong>s<br />

principais pontos que constituem<br />

tal discussão:<br />

2005/2006: Formação de uma<br />

Comissão de Revisão <strong>do</strong> Regimento<br />

para Concessão de Bolsas<br />

Moradia e Auxílio-Moradia<br />

(composta por professores, estudantes<br />

e a assistente social <strong>do</strong><br />

campus). A proposta <strong>do</strong> Regimento<br />

é amplamente debatida<br />

durante um ano pela Comissão,<br />

pela Assembléia de mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Aloja e no Conselho de Campus<br />

(atual Conselho Gestor).<br />

Junho/2006: Aprovação <strong>do</strong><br />

Regimento da Seleção no Conselho<br />

de Campus, após análise da<br />

proposta e de diversos pareceres.<br />

24/Fev/2010: Conselho Gestor<br />

<strong>do</strong> Campus desconsidera to<strong>do</strong><br />

o processo anterior e alega que o<br />

Regimento não é váli<strong>do</strong>, pois o<br />

mesmo não passou pela CLR em<br />

2006.<br />

No entanto, o próprio Estatuto<br />

da USP deixa bem claro que a<br />

CLR (Comissão de Legislação de<br />

Recursos) trata-se de uma comissão<br />

assessora que se restringe ao<br />

Conselho Universitário. Ou seja,<br />

nada tem a ver com as decisões<br />

tomadas pelo Conselho Gestor <strong>do</strong><br />

Campus. Além disso, mesmo<br />

quan<strong>do</strong> esta emite algum parecer,<br />

os Conselhos tem total autonomia<br />

para tomar suas decisões,<br />

mesmo que contrárias a tal parecer.<br />

Tal constatação deixa claro<br />

que a argumentação apresentada<br />

não é válida e que o Conselho<br />

Gestor tenta aproveitar-se da situação<br />

para propor uma nova<br />

comissão de revisão <strong>do</strong> regimento,<br />

visan<strong>do</strong> excluir a participação<br />

<strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong> processo.<br />

4/Março/2010: Em Assembléia<br />

Geral de Mora<strong>do</strong>res, o Aloja<br />

decide manter, fundamenta<strong>do</strong>s na<br />

legitimidade <strong>do</strong> Regimento, a realização<br />

<strong>do</strong> processo seletivo para<br />

as bolsas moradias e auxílio-moradia.<br />

5/Março/2010: Reunião entre<br />

representantes <strong>do</strong> Alojamento e<br />

Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Campus. Esta<br />

se restringe ao caráter meramente<br />

informativo por parte da Coordena<strong>do</strong>ria<br />

quanto às decisões<br />

tomadas pelo Conselho Gestor.<br />

23/Março/2010: O Aloja propõe<br />

e realiza reunião entre representantes<br />

<strong>do</strong> Alojamento, Coordena<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> Campus e professores<br />

que faziam parte da comissão<br />

de seleção. Novamente não há<br />

qualquer abertura para diálogo ou<br />

negociação.<br />

Março-Abril/2010: Descoberta<br />

a existência de <strong>do</strong>cumentos da<br />

COSEAS que comprovam as<br />

práticas de vigilância e invasão de<br />

privacidade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

CRUSP (Conjunto Residencial da<br />

USP de SP). Realização de debate<br />

no Campus, informativos,<br />

coleta de assinaturas e moções de<br />

apoios.<br />

14/Maio/2010: Novamente o<br />

Aloja tenta dialogar pedin<strong>do</strong> nova<br />

reunião com a Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />

Campus. Apesar de to<strong>do</strong>s os<br />

<strong>contra</strong>-argumentos coloca<strong>do</strong>s<br />

pelos mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> alojamento,<br />

a Coordena<strong>do</strong>ria decide manter<br />

sua decisão e deixa claro que não<br />

aceitará qualquer outra que seja<br />

diferente.<br />

24/Maio/2010: Os mora<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Alojamento permanecem na<br />

Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Campus para<br />

resolver o impasse gera<strong>do</strong>.<br />

Porque os estudantes devem<br />

continuar participan<strong>do</strong> de todas<br />

as etapas <strong>do</strong> processo seletivo?<br />

Faz 42 anos (<strong>desde</strong> que existe)<br />

que os estudantes participam<br />

de todas as etapas <strong>do</strong> processo<br />

para garantir que os critérios<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na seleção <strong>do</strong> alojamento<br />

sejam transparentes e justos<br />

para to<strong>do</strong>s. Dessa forma temos<br />

a certeza de que os critérios discuti<strong>do</strong>s<br />

e aprova<strong>do</strong>s em assembléia<br />

geral sejam de fato coloca<strong>do</strong>s<br />

em prática e não serão incluí<strong>do</strong>s<br />

critérios que exigem mais <strong>do</strong>s<br />

que precisam. Ou seja, buscamos<br />

com isso garantir condições de<br />

permanência <strong>do</strong>s menos favoreci<strong>do</strong>s<br />

para que estes continuem<br />

estudan<strong>do</strong> e se forman<strong>do</strong> de forma<br />

a diminuir as desigualdades<br />

sociais. Vale ressaltar que a aprovação<br />

<strong>do</strong>s critérios em assembléia<br />

só acontece em São Carlos<br />

, o que é resulta<strong>do</strong> da participação<br />

<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Além disso,<br />

os estudantes conhecem muito<br />

mais a realidade daqueles que precisam<br />

de auxílios para se manter<br />

na universidade, sen<strong>do</strong> assim,<br />

contribuem para uma avaliação<br />

mais qualificada.<br />

Em outros campi da USP existem<br />

vários casos comprova<strong>do</strong>s<br />

de abusos e injustiças cometidas<br />

pela COSEAS no processo de seleção.<br />

Por isso, aqui em São Carlos<br />

, os mora<strong>do</strong>res fazem questão de<br />

participar de todas as etapas <strong>do</strong><br />

processo seletivo.<br />

A constituição de uma comissão<br />

em que os estudantes não<br />

participam de todas as etapas não<br />

contempla os pontos aqui apresenta<strong>do</strong>s.<br />

A questão da legalidade e da<br />

legitimidade.<br />

O regimento no qual o processo<br />

<strong>do</strong> Aloja se baseia foi resulta<strong>do</strong><br />

de uma ampla discussão, na<br />

qual participaram alunos, professores<br />

e a assistente social <strong>do</strong><br />

campus. A proposta, com alterações,<br />

foi aprovada pelo Conselho<br />

de Campus (atual Conselho Gestor)<br />

em julho de 2006. Diferentemente<br />

<strong>do</strong> alega a Coordena<strong>do</strong>ria,<br />

o regimento passou pelas<br />

instâncias que deveria passar e é<br />

legal, inclusive há pareceres jurídicos<br />

que comprovam a sua legalidade.<br />

O processo seletivo <strong>do</strong> Aloja<br />

<strong>já</strong> está finaliza<strong>do</strong> e foi feito e divulga<strong>do</strong><br />

com base no regimento<br />

aprova<strong>do</strong> em 2006, contan<strong>do</strong><br />

com 413 inscritos. O processo<br />

seletivo da COSEAS não segue<br />

nenhum regimento, os critérios<br />

não foram defini<strong>do</strong>s e nem divulga<strong>do</strong>s,<br />

não foram aprova<strong>do</strong>s pela<br />

comunidade, ainda não está finaliza<strong>do</strong><br />

e não obteve número suficiente<br />

de inscritos. Isso demonstra<br />

claramente a legitimidade <strong>do</strong><br />

processo realiza<strong>do</strong> com a participação<br />

plena <strong>do</strong>s estudantes.<br />

Intransigência da Coordena<strong>do</strong>ria<br />

A decisão de excluir os estudantes<br />

<strong>do</strong> processo seletivo para<br />

bolsa moradia e auxílio-moradia<br />

tomada pelo Conselho Gestor <strong>do</strong><br />

Campus em 24 de fevereiro foi<br />

unilateral: nem os estudantes, nem<br />

os professores que compõe a<br />

comissão de seleção, nem a assistente<br />

social <strong>do</strong> campus foram<br />

procura<strong>do</strong>s para opinar à respeito.<br />

Desde o impasse gera<strong>do</strong>, o<br />

Aloja procurou a Coordena<strong>do</strong>ria<br />

a fim de resolvê-lo marcan<strong>do</strong> pelo<br />

menos três reuniões. Nessas reuniões<br />

a Coordena<strong>do</strong>ria colocou<br />

que não acataria nenhuma proposta<br />

que não a sua, se colocan<strong>do</strong><br />

numa posição meramente<br />

informativa.<br />

Essa postura da Coordena<strong>do</strong>ria<br />

é apenas um reflexo <strong>do</strong> que<br />

pode ser observa<strong>do</strong> nas demais<br />

esferas de decisão da universidade<br />

e diante de outras demandas,<br />

grupos e entidades.<br />

O alinhamento com essa postura<br />

vem sen<strong>do</strong> mais evidente<br />

<strong>desde</strong> a mudança das Prefeituras<br />

de Campi para Coordena<strong>do</strong>rias.<br />

A partir de então as reuniões <strong>do</strong><br />

Conselho Gestor tem se resumi<strong>do</strong><br />

a referendar decisões <strong>já</strong> tomadas<br />

por um grupo ainda mais restrito<br />

que o próprio conselho, deixan<strong>do</strong><br />

de la<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o debate necessário<br />

em torno de cada pauta<br />

e com a comunidade uspiana.<br />

Isso tem gera<strong>do</strong> muito descontentamento.<br />

Para manter a tomada<br />

de decisão dessa forma, a USP<br />

se vale de mecanismos como a<br />

instalação de câmeras, restrição<br />

da entrada e presença de seguranças<br />

no prédio da Coordena<strong>do</strong>ria<br />

para coibir possíveis manifestações.<br />

Essas medidas foram tomadas<br />

assumidamente pelo Coordena<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Campus para evitar<br />

questionamentos em torno de<br />

suas decisões.<br />

Urgência de resolução<br />

Além de tu<strong>do</strong> o que <strong>já</strong> foi exposto<br />

anteriormente, a resolução<br />

da questão ganha mais urgência<br />

devi<strong>do</strong> aos novos <strong>contra</strong>tos das<br />

bolsas auxílio-moradia que devem<br />

ser efetua<strong>do</strong>s até o final de<br />

maio para garantir o pagamento<br />

desses bolsistas a partir de junho.<br />

Dessa forma, é fundamental<br />

que a Coordena<strong>do</strong>ria reconheça<br />

o processo seletivo em conformidade<br />

com o aprova<strong>do</strong> em<br />

2006, visto a sua legalidade, legitimidade<br />

e ampla discussão realizada<br />

para sua aprovação.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA HISTÓRIA A15<br />

MASSACRE IMPERIALISTA<br />

O mar de fogo em Dresden<br />

Há 65 anos um <strong>do</strong>s mais monstruosos crimes <strong>do</strong> imperialismo foi cometi<strong>do</strong> nos últimos<br />

momentos da Segunda Guerra Mundial, a destruição da cidade alemã de Dresden<br />

Era o mês de fevereiro e um<br />

bombardeio de proporções inimagináveis<br />

trouxe o inferno<br />

<strong>do</strong>s céus para as ruas de Dresden,<br />

matan<strong>do</strong> centenas de milhares<br />

de civis indiscriminadamente<br />

em um <strong>do</strong>s genocídios<br />

mais espantosos provoca<strong>do</strong>s<br />

pelo imperialismo.<br />

Entre os dias 13 e 15 de fevereiro<br />

de 1945, um intenso<br />

bombardeio transformou a<br />

cidade alemã de Dresden em<br />

uma gigantesca bola de fogo,<br />

matan<strong>do</strong> centenas de milhares<br />

de civis indefesos, num <strong>do</strong>s<br />

morticínios mais aterrorizantes<br />

da história da humanidade<br />

causada pelo imperialismo,<br />

equivalentes às duas bombas<br />

atômicas jogadas pouco depois<br />

no Japão.<br />

Perto <strong>do</strong> fim<br />

A Segunda Guerra Mundial<br />

(1939-1945), foi realizada<br />

como uma grande disputa de<br />

interesses coloniais entre os<br />

países imperialistas, que em<br />

virtude da grande crise política<br />

e econômica da época necessitavam<br />

ampliar os merca<strong>do</strong>s<br />

e também sua influência<br />

política no cenário mundial,<br />

numa luta de vida ou morte.<br />

A guerra se deu entre <strong>do</strong>is<br />

blocos imperialistas, de um<br />

la<strong>do</strong> a França, Inglaterra e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e no outro la<strong>do</strong><br />

a Alemanha, o Japão e a Itália,<br />

que formavam o “Eixo”.<br />

Por detrás da fachada <strong>do</strong>s<br />

ideais da democracia a guerra<br />

escondia os verdadeiros interesses<br />

imperialistas de ampliação<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio sobre os<br />

merca<strong>do</strong>s.<br />

A Segunda Guerra Mundial<br />

foi amplamente marcada<br />

pela destruição em massa provocada<br />

pelo imperialismo.<br />

Primeiro houve a invasão<br />

alemã da Polônia que iniciou<br />

a guerra em 1939.<br />

Em 1941 os países <strong>do</strong><br />

Eixo, com destaque para o<br />

exército alemão, avançaram e<br />

ocuparam boa parte da Europa,<br />

a Polônia, Noruega, Iugoslávia,<br />

o Norte da França, a,<br />

Ucrânia e Albânia.<br />

Houve ainda o ataque japonês<br />

à base de Pearl Harbor o<br />

que ofereceu o pretexto para<br />

que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s entrassem<br />

no conflito.<br />

Se de um la<strong>do</strong> havia as atrocidades<br />

de Hitler com os campos<br />

de concentração e a ocupação<br />

da URSS e <strong>do</strong>s países<br />

europeus, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> os Alia<strong>do</strong>s,<br />

comanda<strong>do</strong>s pelos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s não deixaram a<br />

desejar.<br />

Logo ao final da guerra, os<br />

EUA despejaram duas bombas<br />

atômicas sobre as cidades de<br />

Nagazaki e Hiroshima, exterminan<strong>do</strong>,<br />

sem contemplação,<br />

centenas de milhares de pessoas.<br />

Mas um fato, ocorri<strong>do</strong> no<br />

início de 1945, nos últimos<br />

“atos” da Segunda Guerra demonstrou<br />

o caráter destrutivo<br />

<strong>do</strong> imperialismo em sua<br />

busca incessante pelos interesses<br />

econômicos.<br />

Massacre<br />

imperialista<br />

Depois <strong>do</strong> lançamento da<br />

bomba atômica <strong>contra</strong> as cidades<br />

japonesas, fato histórico<br />

mais conheci<strong>do</strong> da Segunda<br />

Guerra Mundial, o imperialismo<br />

norte-americano e britânico<br />

ainda mostraram <strong>do</strong><br />

que eram capazes com o bombardeio<br />

desencadea<strong>do</strong> na cidade<br />

alemã de Dresden em fevereiro<br />

de 1945.<br />

Já no final da Segunda<br />

Guerra Mundial, a cidade de<br />

Dresden,, foi aniquilada por<br />

toneladas e mais toneladas de<br />

bombas incendiárias em ataques<br />

aéreos realiza<strong>do</strong>s pela<br />

Força Aérea <strong>do</strong>s EUA e pela<br />

RAF (Royal Air Force), da Inglaterra.<br />

Entre os dias 13 e 15<br />

de fevereiro de 1945, um intenso<br />

bombardeio transformou<br />

a cidade em uma gigantesca<br />

bola de fogo.<br />

Na noite <strong>do</strong> dia 13 daquele<br />

mês se iniciou um <strong>do</strong>s ataques<br />

mais mortíferos de toda a história<br />

da humanidade <strong>contra</strong><br />

uma população. Foram cerca<br />

de mil aviões Lancasters da<br />

O primeiro ataque descarregou milhares de bombas com alto poder de destruição lançada por<br />

800 bombardeiros.<br />

Real Força Aérea britânica,<br />

sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiroministro<br />

Winston Churchil<br />

foram despejadas mais de<br />

1.400 bombas explosivas e<br />

1.180 bombas incendiárias.<br />

No dia 14 foi a vez da Força<br />

Aérea norte-americana que<br />

despejou mais 1.800 bombas<br />

incendian<strong>do</strong> toda a cidade e<br />

matan<strong>do</strong> mais de 130.000 pessoas.<br />

É preciso ressaltar que a cidade<br />

de Dresden não representava<br />

nenhum objetivo estratégico<br />

militar ou industrial<br />

para a guerra. O ataque foi<br />

projeta<strong>do</strong> para esmagar a população<br />

civil.<br />

Não possuía bases militares<br />

e nem mesmo indústria pesada.<br />

A cidade sequer tinha<br />

defesa antiaérea.<br />

Dresden contava com 630<br />

mil habitantes antes da guerra,<br />

mas à época a cidade estava<br />

com quase o <strong>do</strong>bro de<br />

pessoas, pois tinha se torna<strong>do</strong><br />

um refúgio para as pessoas<br />

<strong>do</strong> Leste que fugiam das<br />

barbáries cometidas pelos<br />

solda<strong>do</strong>s stalinistas.<br />

A população da cidade ultrapassava<br />

um milhão de pessoas<br />

e mais de 80% eram mulheres<br />

e crianças. A maioria<br />

<strong>do</strong>s homens estavam nas frentes<br />

de combate. Era conhecida<br />

como “Cidade <strong>do</strong>s Refugia<strong>do</strong>s”<br />

.<br />

Cidade em<br />

chamas<br />

O Secretário de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Tesouro <strong>do</strong>s EUA, Robert<br />

Morgenthau, na Conferência<br />

de Casablanca, propôs um<br />

projeto que se baseava na aniquilação<br />

de 50% da população<br />

alemã, aprovada pelo presidente<br />

Franklin Roosevelt e o<br />

premiê Wiston Churchil.<br />

A operação “Clarion” previa<br />

1.200 bombardeiros ingleses<br />

e norte-americanos sobre<br />

Dresden no dia 13 de fevereiro<br />

e que durariam 14 horas,<br />

queiman<strong>do</strong> literalmente a cidade.<br />

O primeiro ataque descarregou<br />

milhares de bombas<br />

com alto poder de destruição<br />

lançada por 800 bombardeiros<br />

da RAF. Milhares de prédios<br />

tiveram seus telha<strong>do</strong>s e<br />

35 mil pessoas foram identificadas e mais de 100 mil irreconhecíveis. Há ainda uma variação<br />

nas estimativas entre 300 mil e 500 mil que se transformaram em uma gosma amarelada.<br />

coberturas destruí<strong>do</strong>s, para<br />

logo mais outros bombardeios<br />

fazerem o serviço de espalhar<br />

napalm por toda a região<br />

e transformar o lugar em um<br />

verdadeiro caos. Os alvos<br />

escolhi<strong>do</strong>s pretendiam desorganizar<br />

qualquer tentativa de<br />

socorro às vítimas, onde os<br />

quartéis de bombeiros foram<br />

conscientemente destruí<strong>do</strong>s.<br />

O incêndio provocou a elevação<br />

da temperatura em mais<br />

de 1.000 graus centígra<strong>do</strong>s e<br />

ventos que chegavam a 160<br />

quilômetros aspiravam to<strong>do</strong> o<br />

oxigênio existente.<br />

Enquanto dezenas de milhares<br />

de pessoas corriam desesperadamente<br />

pelas ruas,<br />

queiman<strong>do</strong> vivas, o terceiro<br />

bombardeio executa<strong>do</strong> por<br />

1.200 aviões, foi um genocídio<br />

em massa. O oxigênio<br />

existente servia apenas para<br />

alimentar as chamas, o número<br />

de mortos aumentava com<br />

os que morriam sufoca<strong>do</strong>s<br />

nas ruas.<br />

Devi<strong>do</strong> ao impacto <strong>do</strong> intenso<br />

bombardeio e as enormes<br />

labaredas de fogo, as<br />

pessoas eram totalmente sugadas<br />

pelo ar e iam direto para<br />

as chamas sem qualquer<br />

chance de se salvar, como se<br />

fossem um simples objeto.<br />

Para se ter uma idéia da força<br />

<strong>do</strong> ar provocada pelas altas<br />

temperaturas, as árvores e casas<br />

eram totalmente arrancadas<br />

e alimentavam cada vez<br />

mais o fogo.<br />

Não bastassem o fogo das<br />

bombas, pessoas eram metralhadas<br />

nas ruas por aviões<br />

Mustang que davam vôos rasantes<br />

pela cidade para não<br />

dar nenhuma chance de salvação<br />

às pessoas.<br />

Os alvos atingi<strong>do</strong>s pelas<br />

bombas eram simplesmente<br />

escolhi<strong>do</strong>s à vontade pelos pilotos,<br />

pois poucos realmente<br />

conheciam a natureza <strong>do</strong>s alvos<br />

que bombardeavam.<br />

No momento <strong>do</strong>s bombardeios<br />

as únicas instruções dadas<br />

pelo Chefe de Bombardeio<br />

eram de distribuir bombas nos<br />

distritos ainda não atingi<strong>do</strong>s.<br />

A idéia era deixar em chamas<br />

toda a cidade. Mesmo<br />

áreas totalmente desprovidas<br />

de qualquer resistência eram<br />

atingidas pelas bombas.<br />

O clima de pesadelo e desespero<br />

tomava conta de todas<br />

as pessoas. Centenas<br />

eram queimadas vivas e no<br />

desespero se atiravam ao rio<br />

Elba, que atravessava o centro<br />

da cidade, mas até mesmo<br />

o rio estava encoberto pelas<br />

chamas e corpos como tochas.<br />

Outros tipos de bombas<br />

eram lança<strong>do</strong>s e explodiam a<br />

1,5 metro <strong>do</strong> chão, pessoas<br />

eram mutiladas instantaneamente.<br />

Toneladas de<br />

bombas<br />

Em 14 horas sob a chuva<br />

de bombardeios de aviões ingleses<br />

e norte-americanos,<br />

Dresden resultou em várias<br />

pilhas de centenas de cadáveres<br />

carboniza<strong>do</strong>s e retorci<strong>do</strong>s<br />

em meio aos destroços de<br />

monumentos históricos da<br />

arte barroca, reduzin<strong>do</strong> verdadeiros<br />

patrimônios da humanidade<br />

a cinzas. O ataque foi<br />

realiza<strong>do</strong> três meses antes que<br />

a Alemanha declarasse sua<br />

derrota na guerra, mas <strong>já</strong> em<br />

fevereiro o país <strong>já</strong> estava completamente<br />

rendi<strong>do</strong>, não haven<strong>do</strong><br />

qualquer motivo para<br />

ataque.<br />

Mais de 3.750 toneladas de<br />

bombas foram descarregadas<br />

de <strong>do</strong>is mil bombardeiros alia<strong>do</strong>s,<br />

equivalen<strong>do</strong> a 10 mil<br />

bombas explosivas e 650 mil<br />

bombas incendiárias.<br />

Na contagem <strong>do</strong>s corpos,<br />

uma média de 35 mil pessoas<br />

foram identificadas e mais de<br />

100 mil irreconhecíveis. Há<br />

ainda uma variação nas estimativas<br />

entre 300 mil e 500<br />

mil vítimas que se transformaram<br />

em uma espécie de gosma<br />

amarelada que se juntou<br />

ao asfalto das ruas se desintegran<strong>do</strong>.<br />

Os números são assusta<strong>do</strong>res.<br />

Um levantamento divulgou<br />

que <strong>do</strong>s mortos 83 mil<br />

compunham-se de bebês e crianças,<br />

12 mil pessoas que trabalhavam<br />

da área de resgate e<br />

DRESDEN<br />

330 mil que foram considera<strong>do</strong>s<br />

apenas homens e mulheres<br />

civis, além de mais de 55 mil<br />

feri<strong>do</strong>s de todas as formas.<br />

Através da ordem <strong>do</strong> comandante-chefe<br />

da RAF, Arthur<br />

Harris, o Marechal <strong>do</strong> Ar,<br />

Sir Robert Saundby, foi responsável<br />

por desfechar e confirmar<br />

o ataque a Dresden, transmitin<strong>do</strong><br />

mais cinco quartéisgenerais<br />

<strong>do</strong>s Grupos de Bombardeiros<br />

que cumprissem a<br />

missão.<br />

Além de Dresden, o Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s foram responsáveis<br />

pela morte 80 mil em Hiroshima,<br />

70 mil em Nagasaki com as<br />

duas bombas atômicas. No<br />

Japão foram entre 80 mil a 140<br />

mil em um ataque aéreo em<br />

Tóquio.<br />

Outro fracasso imperialista<br />

foi a Guerra <strong>do</strong> Vietnã de 1959<br />

a 1975, onde foram mortos<br />

mais de um milhão de vietnamitas.<br />

A completa falência <strong>do</strong> imperialismo<br />

e <strong>do</strong> regime capitalista<br />

se prova indubitavelmente<br />

na ocupação <strong>do</strong> Iraque, uma<br />

vez que o Esta<strong>do</strong> capitalista só<br />

pode se manter no poder através<br />

<strong>do</strong> uso da força e <strong>do</strong> Exército.<br />

Milhares de solda<strong>do</strong>s norteamericanos<br />

<strong>já</strong> morreram <strong>desde</strong><br />

o início da guerra em março de<br />

2003, com altos índices de deserção.<br />

A idéia de democracia levada<br />

pelos EUA na “guerra ao terror”<br />

não passa de pura falsidade<br />

para a defesa de seus interesses<br />

imperialistas, que só<br />

resultou na exterminação da<br />

população mundial.<br />

O bombardeio de Dresden,<br />

e todas as atrocidades cometidas<br />

por ambos os la<strong>do</strong>s na<br />

Segunda Guerra, fazem parte<br />

da estratégia militar imperialista<br />

que tem como objetivo não<br />

derrotar o inimigo apenas militarmente,<br />

mas atacar também<br />

a população civil e impedir<br />

qualquer capacidade de resistência<br />

<strong>do</strong> povo <strong>contra</strong> a guerra<br />

para assim manter a <strong>do</strong>minação<br />

imperialista.<br />

A “Florença <strong>do</strong> Elba”<br />

Vista aérea da cidade de Dresden depois <strong>do</strong> bombardeio de mais de 14 horas.<br />

A cidade Dresden ficou<br />

conhecida como a “Florença<br />

<strong>do</strong> Elba” em referência à histórica<br />

cidade italiana e em<br />

grande medida devi<strong>do</strong> à sua<br />

primorosa arquitetura barroca,<br />

cidade às margens <strong>do</strong> Rio<br />

Elba, que ficou banha<strong>do</strong> pelo<br />

sangue das vítimas <strong>do</strong> bombardeio.<br />

Dresden foi durante séculos<br />

a capital da arte, compon<strong>do</strong><br />

uma das maiores regiões<br />

em se tratan<strong>do</strong> de arte e cultura.<br />

Muitos monumentos arquitetônicos<br />

foram totalmente<br />

perdi<strong>do</strong>s para sempre em<br />

apenas 14 horas de ataque. A<br />

cidade abrigou gênios como<br />

Johann Sebastian Bach, Georg<br />

Friedrich Haendel, Richard<br />

Wagner, Goethe e Dostoiévski,<br />

entre outros.<br />

Um <strong>do</strong>s principais símbolos<br />

da cidade é a igreja Frauenkirche,<br />

construída entre<br />

1726 e 1743, se transforman<strong>do</strong><br />

em ruínas após os ataques.<br />

Somente em 1994 a<br />

igreja foi reconstruída, levan<strong>do</strong><br />

10 anos para que fosse<br />

completa<strong>do</strong> o trabalho.<br />

Outro monumento é o palácio<br />

Residenzschloss, que <strong>desde</strong><br />

o século XII foi sede <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

da Saxônia, permanecen<strong>do</strong><br />

assim até 1918. Em<br />

1701 o palácio sofreu um grande<br />

incêndio e precisou passar<br />

por uma ampla reconstrução,<br />

e novamente foi destruída<br />

pelos bombardeios, sen<strong>do</strong><br />

somente terminada recentemente.<br />

No entanto, vários<br />

outros monumentos e obras de<br />

arte importantes desapareceram<br />

em 1945 e atualmente<br />

várias obras ainda estão sen<strong>do</strong><br />

reconstruídas.<br />

A destruição e a dizimação<br />

da população, bem como da<br />

arte barroca causada pelo ataque<br />

foi até mais devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

que os ataques das épocas bárbaras.<br />

Winston Churchill, que chegou<br />

a ganhar Prêmio Nobel de<br />

literatura em 1953, foi o responsável<br />

por autorizar uma<br />

das piores execuções <strong>contra</strong><br />

a humanidade, alegan<strong>do</strong> que<br />

“preferia a devastação total<br />

das cidades alemãs à perda de<br />

um só osso de um granadeiro<br />

inglês”.<br />

Poucos anos depois <strong>do</strong> fim<br />

<strong>do</strong> conflito mundial na época<br />

<strong>do</strong> pós-guerra, milhares<br />

de voluntários trabalharam<br />

na limpeza da cidade retiran<strong>do</strong><br />

os escombros. Nos anos<br />

1950, milhares de prédios residenciais<br />

e comerciais foram<br />

construí<strong>do</strong>s, bem como<br />

a tentativa de restauração das<br />

obras arquitetônicas.<br />

O famoso castelo Zwinger<br />

foi concluí<strong>do</strong> somente em<br />

1964. Construções como a<br />

Hofkirche, Johanneum, Albertinum,<br />

Stallhof e a Semperoper<br />

também foram reerguidas<br />

com uso de tecnologia<br />

moderna. Entretanto,<br />

mesmo com tantos esforços,<br />

a arte da cidade continua incompleta.


9<br />

30<br />

DE<br />

de<br />

MAIO<br />

maio<br />

DE<br />

de<br />

2010<br />

2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

teoria A16<br />

<br />

<br />

A questão da frente única<br />

<br />

<br />

<br />

Os bolcheviques e os sovietes<br />

Reproduzimos aqui trechos <strong>do</strong> livro “História da Revolução<br />

Russa” escrito por Leon Trótski em 1930, nos quais<br />

o revolucionário russo descreve e explica a aliança<br />

temporária estabelecida durante a revolução entre o Parti<strong>do</strong><br />

Bolchevique e as forças ligadas ao <strong>governo</strong> Kerenski <strong>contra</strong><br />

a tentativa de golpe encabeçada por Kornilov<br />

<br />

(...) Para os bolcheviques questões práticas de defesa.<br />

que <br />

inspiravam os bairros, o “Sobre que assunto desejais<br />

levante <br />

de Kornilov não era conversar conosco”, exclamou<br />

de maneira alguma inespera<strong>do</strong>. um <strong>do</strong>s ora<strong>do</strong>res bolcheviques...<br />

“Nossos líderes estão<br />

Haviam-no previsto, denuncia<strong>do</strong>,<br />

e, na ocasião necessária, presos e, entretanto, vós nos<br />

<br />

<br />

foram os primeiros a ocupar as chamais a discutir problemas<br />

<br />

posições devidas. Sokolnikov, que se referem à defesa da<br />

<br />

<br />

<strong>desde</strong> a sessão unificada <strong>do</strong>s<br />

<br />

capital”. Na qualidade de operários<br />

de indústria, e de cida-<br />

comitês -executivos, realizada<br />

a 27 de agosto, havia dãos da república burguesa, os<br />

<br />

<br />

<br />

comunica<strong>do</strong> que o Parti<strong>do</strong> proletários<br />

<br />

<strong>do</strong> bairro de Viborg<br />

Bolchevique <strong>já</strong> tomara todas não se mostravam, de mor<strong>do</strong><br />

<br />

as medidas ao seu alcance para algum, dispostos a sabotar a<br />

<br />

avisar<br />

<br />

o povo que o perigo se<br />

<br />

defesa da capital revolucionária.<br />

Mas, na qualidade de<br />

<br />

aproximava, e para preparar<br />

<br />

a defesa; os bolcheviques bolcheviques e de membros <strong>do</strong><br />

<br />

<br />

declaravam-se dispostos a<br />

<br />

parti<strong>do</strong>, nem por um segun<strong>do</strong><br />

<br />

combinar a própria ação combativa<br />

com a <strong>do</strong>s órgãos <strong>do</strong><br />

<br />

desejavam compartilhar, com<br />

<br />

os dirigentes, da responsabilidade<br />

da guerra, perante o<br />

<br />

Comitê-Executivo. Em sessão<br />

<br />

<br />

noturna da organização militar<br />

<br />

povo russo e perante os povos<br />

<br />

<strong>do</strong>s bolcheviques, da qual participaram<br />

delega<strong>do</strong>s de nume-<br />

<br />

<strong>do</strong>s outros países. Temen<strong>do</strong><br />

<br />

que o espírito de defensiva<br />

<br />

rosos contingentes de topas,<br />

<br />

se transformasse em política<br />

<br />

decidiu-se exigir a prisão de<br />

<br />

de defesa nacional, Lênin<br />

<br />

to<strong>do</strong>s os conspira<strong>do</strong>res, armar<br />

<br />

escrevia: “nós só nos tornaremos<br />

partidários da defesa<br />

os operários, fornecer-lhes<br />

<br />

<br />

instrutores escolhi<strong>do</strong>s dentre<br />

<br />

nacional após a passagem <strong>do</strong><br />

os solda<strong>do</strong>s, garantir a defesa<br />

<br />

poder ao proletaria<strong>do</strong>... nem<br />

<br />

da capital com os elementos<br />

<br />

a tomada de Riga, nem a conquista<br />

de Piter [Petrogra<strong>do</strong>]<br />

da base e, ao mesmo tempo,<br />

<br />

preparar-se para a criação<br />

<br />

poderão transformar-nos em<br />

de <br />

um poder revolucionário<br />

<br />

partidários da defesa nacional:<br />

até o momento presente,<br />

<br />

de operários e solda<strong>do</strong>s. A<br />

<br />

<br />

organização militar iniciou<br />

<br />

empenhamo-nos na revolução<br />

<br />

reuniões em toda a guarnição.<br />

<br />

proletária, somos <strong>contra</strong> a<br />

<br />

Os solda<strong>do</strong>s eram convida<strong>do</strong>s<br />

<br />

guerra, não somos partidários<br />

<br />

a manter-se de sobreaviso,<br />

<br />

da defesa nacional”. “A queda<br />

<br />

fuzil na mão em condições de<br />

<br />

de Riga”, escrevia Trótski da<br />

<br />

poderem sair ao primeiro sinal<br />

<br />

prisão, “é um rude golpe. A<br />

<br />

de alarme.<br />

<br />

queda de Petrogra<strong>do</strong> seria<br />

(...)<br />

uma calamidade. Mas a queda<br />

O Comitê Executivo, por da política internacional <strong>do</strong><br />

<br />

telefonograma, pediu a Kronstadt<br />

e a Viborg a remessa de catástrofe”. Doutrinarismo de<br />

proletaria<strong>do</strong> russo seria uma<br />

importantes efetivos de tropas fanáticos? Naqueles mesmos<br />

para Petrogra<strong>do</strong>. Os contingentes<br />

começaram a chegar bolcheviques e os marinheiros<br />

dias, em que os caça<strong>do</strong>res<br />

<strong>desde</strong> a manhã de 29. Eram, caíam em defesa de Riga, o<br />

principalmente, destacamentos<br />

bolcheviques: para que o para esmagar os bolcheviques;<br />

<strong>governo</strong> selecionava tropas<br />

apelo <strong>do</strong> Comitê Executivo se e o generalíssimo preparavamostrasse<br />

eficaz, fora necessáriaa<br />

<br />

confirmação prévia <strong>do</strong> <br />

<strong>governo</strong>. A favor da política<br />

-se para guerrear <strong>contra</strong> o<br />

<br />

Comitê central <strong>do</strong>s bolcheviques.<br />

Um pouco antes, lá para <br />

a favor da defensiva, como<br />

no <br />

front, como na retaguarda;<br />

<br />

<br />

o meio-dia de 28, a guarda <strong>do</strong> <br />

pela ofensiva, os bolcheviques<br />

<br />

Palácio de Inverno, por ordem<br />

de Kerenski - ordem que <br />

assumir uma sombra que fosse<br />

<br />

não podiam, nem desejavam,<br />

<br />

<br />

muito se assemelhava a uma <br />

de responsabilidade. Caso de<br />

<br />

solicitação obsequiosa - ficaria <br />

conduzissem de outro mo<strong>do</strong>,<br />

<br />

constituída de marinheiros <strong>do</strong> <br />

não seriam bolcheviques.<br />

<br />

cruza<strong>do</strong>r Aurora, sen<strong>do</strong> que <br />

Kerenski e Kornilov constituíam<br />

duas variantes dum só e<br />

<br />

uma parte ainda estava encarcerada<br />

na prisão de Kresti, por mesmo <br />

perigo; essas variantes,<br />

<br />

<br />

<br />

motivo de haver participa<strong>do</strong> da <br />

uma insinuante, outra aguda,<br />

<br />

manifestação de julho. Durante<br />

as horas de folga, os mari-<br />

<br />

em posição irredutível, uma<br />

<br />

em fins de agosto ficaram<br />

<br />

<br />

nheiros acorriam à prisão, para <br />

<strong>contra</strong> a outra. Era preciso,<br />

<br />

visitar os homens de Kronstadt <br />

antes de mais nada, repelir<br />

<br />

ali deti<strong>do</strong>s, assim como para <br />

o perigo agu<strong>do</strong>, para, em seguida,<br />

liquidar com o perigo<br />

visitar <br />

Trótski, Raskolnikov <br />

<br />

e outros. “Já não é tempo de <br />

insinuante. Os bolcheviques<br />

<br />

prender o Governo?” perguntavam<br />

os visitantes. “Não, não <br />

de defesa - se bem que estives-<br />

<br />

não só entraram para o Comitê<br />

<br />

<br />

é” - ouviam como resposta: <br />

sem condena<strong>do</strong>s a ocupar ali<br />

<br />

“colocai o fuzil no ombro de apenas <br />

a posição de pequena<br />

Kerenski e atirai <strong>contra</strong> Kornilov.<br />

<br />

Acertaremos depois as <br />

que, na luta <strong>contra</strong> Kornilov,<br />

<br />

minoria - como declararam<br />

<br />

contas com Kerenski”. Em junho<br />

e julho, esses marinheiros <br />

“uma aliança militarmente<br />

<br />

estavam prontos a concluir<br />

<br />

<br />

absolutamente não se dispunham<br />

a atender aos argumentos <br />

com um Diretório. Sukhanov,<br />

<br />

técnica”, mesmo que fosse<br />

<br />

<br />

da estratégia revolucionária. <br />

a esse respeito, escreve: “os<br />

<br />

Nesses <strong>do</strong>is meses, ainda não <br />

bolcheviques demonstraram<br />

<br />

totalmente decorri<strong>do</strong>s, <strong>já</strong> haviam<br />

aprendi<strong>do</strong> muito. Quan-<br />

<br />

bem verdade que, ao partirem<br />

<br />

grande sabe<strong>do</strong>ria política... É<br />

<br />

<br />

<strong>do</strong> apresentavam a questão da<br />

<br />

para um compromisso que não<br />

prisão <br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong>, faziam-no <br />

correspondia à natureza deles,<br />

<br />

por auto-crítica e para adquirirem<br />

a consciência nítida <strong>do</strong> certos <br />

fins particulares, impre-<br />

<br />

os bolcheviques perseguiam<br />

<br />

<br />

fato. Já podiam, pelos próprios<br />

recursos, compreender <br />

Nessa questão, entretanto, a<br />

<br />

visíveis até para seus alia<strong>do</strong>s.<br />

<br />

<br />

a inelutável continuidade <strong>do</strong>s<br />

<br />

sabe<strong>do</strong>ria deles revelou-se ainda<br />

mais”. “Nada havia de não<br />

<br />

acontecimentos. Na primeira<br />

<br />

<br />

quinzena de julho - derrota<strong>do</strong>s, específico <br />

para o bolchevismo<br />

<br />

condena<strong>do</strong>s, calunia<strong>do</strong>s: - ao<br />

<br />

em semelhantes política: ao<br />

fim de agosto - a mais segura contrário, ela correspondia da<br />

guarda <strong>do</strong> Palácio de Inverno melhor maneira possível ao<br />

<br />

<strong>contra</strong> os kornilovianos, romperão<br />

eles, ao fim de outubro, viques eram revolucionários<br />

caráter <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>. Os bolche-<br />

<strong>contra</strong> o mesmo Palácio de de ação e não de gestos; de<br />

Inverno, o fogo <strong>do</strong>s canhões essência e não de forma”. A<br />

<strong>do</strong> Aurora.<br />

política deles era determinada<br />

(...)<br />

pelo agrupamento real das<br />

Os acontecimentos, no teatro<br />

da guerra, submeteram, pelas antipatias. Acua<strong>do</strong> pelos<br />

froças, não pelas simpatias ou<br />

sem demora, a política <strong>do</strong> socialistas-revolucionários e<br />

parti<strong>do</strong> <br />

a uma prova muito <br />

pelos mencheviques, Lênin<br />

<br />

séria, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> internacionalismo.<br />

Após a queda <br />

<strong>do</strong> julgar que o proletaria<strong>do</strong><br />

escrevia: <br />

“seria erro profun-<br />

<br />

<br />

de Riga, o destino de Petrogra<strong>do</strong><br />

empolgou, vivamente, <br />

por assim dizer, ‘vingar-se’<br />

<br />

revolucionário, procuran<strong>do</strong>,<br />

<br />

<br />

os operários e os solda<strong>do</strong>s. O <strong>do</strong>s <br />

socialistas-revolucionários<br />

e <strong>do</strong>s mencheviques, que<br />

menchevique <br />

Mazurenko, oficiial<br />

que, pouco antes, dirigira <br />

apoiaram o esmagamento <strong>do</strong>s<br />

<br />

<br />

<br />

o desarmamento <strong>do</strong>s operários <br />

bolcheviques, as execuções<br />

<br />

de Petrogra<strong>do</strong>, apresentou, à <br />

no front e o desarmamento<br />

<br />

reunião <strong>do</strong>s comitês de fábricas<br />

e de usinas no Smolni, um <br />

recusar-se a ‘apoiá-los’ em se<br />

<br />

<strong>do</strong>s operários, fosse capaz de<br />

<br />

<br />

relatório sobre o perigo que <br />

tratan<strong>do</strong> da <strong>contra</strong>-revolução”.<br />

<br />

ameaçava a capital, e propôs <br />

Dar apoio técnico, porém<br />

não apoio político. Contra o A questão se resume, toda ela,<br />

apoio político, Lênin advertia: em saber se eles o querem...<br />

“nem mesmo no momento Em um momento de impulsividade,<br />

os concilia<strong>do</strong>res<br />

presente devemos dar apoio<br />

ao <strong>governo</strong> de Kerenski. Seria declararam que a coligação<br />

falta de princípios. Certo é com os cadetes não era mais<br />

que perguntarão: mas não é concebível. Se é assim, então<br />

preciso combater Kornilov? é inconcebível de um mo<strong>do</strong><br />

<br />

Claro que sim! Mas não é a geral. Contestar a coligação<br />

<br />

mesma coisa e mesmo assim só pode, porém, significar a<br />

<br />

há um limite; esse limite está passagem <strong>do</strong> poder aos concilia<strong>do</strong>res.<br />

<br />

<br />

sen<strong>do</strong> ultrapassa<strong>do</strong> por alguns<br />

<br />

bolcheviques que descambam Lênin apreendeu, imediatamente,<br />

a essência da nova<br />

<br />

<br />

para o “espírito concilia<strong>do</strong>r”,<br />

<br />

<br />

ao deixarem-se arrastar pela situação, e dela tirou as deduções<br />

indispensáveis. A 3 de<br />

<br />

<br />

torrente <strong>do</strong>s acontecimentos”.<br />

<br />

Lênin sabia pegar no ar setembro, redigiu seu notável<br />

<br />

os matizes <strong>do</strong>s movimentos artigo sobre os compromissos.<br />

<br />

de <br />

opinião política. A 29 de Modificou-se, novamente, o<br />

<br />

<br />

agosto, durante a sessão da papel <strong>do</strong>s sovietes, constata<br />

<br />

Duma municipal de Kiev, G. ele: em começos de julho,<br />

<br />

Piatakov, um <strong>do</strong>s dirigentes eram órgãos de luta <strong>contra</strong><br />

<br />

bolcheviques locais, declara: <br />

o proletaria<strong>do</strong> em fins de<br />

<br />

“neste momento de perigo <br />

agosto, tornaram-se órgãos<br />

<br />

devemos esquecer todas as <br />

de luta <strong>contra</strong> a burguesia. Os<br />

<br />

velhas dissensões... Unir-nos sovietes tornaram a en<strong>contra</strong>r<br />

<br />

a to<strong>do</strong>s os parti<strong>do</strong>s revolucionários<br />

que se esforçam por A<br />

as tropas à disposição deles.<br />

<br />

história entreabre, ainda<br />

<br />

combater, resolutamente, a <br />

uma vez, a possibilidade de<br />

<br />

<strong>contra</strong>-revolução. Lanço um <br />

um desenvolvimento pacífico<br />

<br />

apelo à unidade” etc. Era, <br />

da revolução. É uma possibilidade<br />

excepcionalmente<br />

<br />

justamente, <strong>contra</strong> esse falso<br />

tom político que Lênin <br />

<br />

rara e preciosa: é preciso<br />

<br />

advertia para que to<strong>do</strong>s se <br />

que se faça uma tentativa<br />

<br />

acautelassem. “Esquecer-se as de<br />

<br />

realizá-la. Lênin troça,<br />

<br />

velhas dissensões” era o mesmo<br />

que abrir novos créditos <br />

<br />

de passagem, os frasea<strong>do</strong>res<br />

que julgam inadmissíveis os<br />

<br />

aos candidatos à bancarrota. <br />

compromissos, quaisquer que<br />

<br />

“Guerrearemos , guerreamos <br />

sejam: o problema consiste<br />

em, “através de to<strong>do</strong>s os<br />

<br />

<strong>contra</strong> Kornilov”, escrevia <br />

<br />

Lênin, “porém não apoiamos <br />

compromissos, na medida que<br />

<br />

Kerenski e denunciamos a <br />

forem inevitáveis, realizar-se<br />

<br />

fraqueza dele. Há nisso certa os<br />

<br />

próprios fins e as tarefas<br />

<br />

diferença... As frases... formuladas<br />

a respeito <strong>do</strong> apoio <br />

<br />

próprias”. “Para nós, o compromisso”,<br />

diz ele, “é nossa<br />

<br />

<br />

a ser da<strong>do</strong> ao Governo Provisório,<br />

etc., etc., devem ser <br />

de julho: to<strong>do</strong> o poder aos<br />

<br />

volta à reivindicação de antes<br />

<br />

<br />

combatidas impie<strong>do</strong>samente, sovietes,<br />

<br />

um <strong>governo</strong> de socialistas-revolucionários<br />

e de<br />

<br />

precisamente como frases”. <br />

<br />

Os operários não se iludiam<br />

quanto ao caráter <strong>do</strong> perante os sovietes. Agora, e<br />

mencheviques responsáveis<br />

“bloco”forma<strong>do</strong> com o Palácio somente agora, talvez, no máximo,<br />

durante alguns dias, ou<br />

de Inverno. “Lutan<strong>do</strong> <strong>contra</strong><br />

Kornilov, o proletaria<strong>do</strong> combaterá,<br />

não a favor da ditadura tal <strong>governo</strong> poder-se-á cons-<br />

então uma ou duas semanas,<br />

de Kerenski, porém a favor de tituir e consolidar-se de mo<strong>do</strong><br />

todas as conquistas da revolução”,<br />

assim se expressvam curto prazo fixa<strong>do</strong> devia ca-<br />

as usinas, uma após outra, em racterizar toda a gravidade<br />

Petrogra<strong>do</strong>, em Moscou, nas da situação: os concilia<strong>do</strong>res<br />

absolutamente pacífico”. O<br />

províncias. Por não fazerem as têm os dias conta<strong>do</strong>s a fim de<br />

menores concessões políticas escolher entre a burguesia e o<br />

<br />

aos concilia<strong>do</strong>res; por não<br />

<br />

proletaria<strong>do</strong>.<br />

<br />

confundirem, nem as organizações,<br />

nem as bandeiras, os <strong>do</strong>res<br />

<br />

Apressaram-se os concilia-<br />

<br />

em afastar a proposta<br />

<br />

bolcheviques estavam, como<br />

<br />

leninista como se fosse um<br />

<br />

sempre estiveram, prontos a<br />

<br />

pérfi<strong>do</strong> ardil. Na verdade, a<br />

<br />

combinar as ações deles com<br />

<br />

proposta não continha uma<br />

<br />

as de qualquer adversário ou<br />

<br />

sombra sequer de malícia:<br />

<br />

inimigo, toda vez que isso<br />

<br />

persuadi<strong>do</strong> de que seu parti<strong>do</strong><br />

<br />

trouxesse a possibilidade de<br />

<br />

era chama<strong>do</strong> a assumir a direção<br />

<strong>do</strong> país, Lênin fez uma<br />

<br />

assestarem um golpe <strong>contra</strong><br />

<br />

<br />

outro inimigo, mais perigoso<br />

<br />

franca tentativa para atenuar<br />

<br />

no momento presente.<br />

<br />

a luta, enfraquecen<strong>do</strong> a resistência<br />

<strong>do</strong>s adversários que ele<br />

<br />

Na luta <strong>contra</strong> Kornilov, os<br />

<br />

<br />

bolcheviques perseguiam “fins colocava<br />

<br />

perante o inevitável.<br />

<br />

particulares”. Sukhanov demonstra,<br />

com essas palavras,<br />

<br />

As audaciosas evoluções de<br />

<br />

Lênin, que procedem sempre<br />

<br />

que , <strong>já</strong> naquele momento, os<br />

<br />

da modificação na situação<br />

<br />

bolcheviques se impunham<br />

<br />

mesma e conservam, invariavelmente,<br />

a unidade da<br />

<br />

como tarefa a transformação<br />

<strong>do</strong> Comitê de defesa em<br />

<br />

<br />

concepção estratégica, constituem<br />

importante escola de<br />

<br />

instrumento que favorecesse<br />

<br />

a insureição<br />

<br />

proletária. Que<br />

<br />

estratégia revolucionária. A<br />

<br />

os comitês revolucionários proposta <strong>do</strong> compromisso<br />

<br />

das jornadas kornilovianas se<br />

<br />

tinha o senti<strong>do</strong> de uma lição<br />

<br />

tornaram, até certo ponto, a<br />

<br />

de coisas, e, sobretu<strong>do</strong>, para o<br />

prefiguração <strong>do</strong>s órgãos que próprio Parti<strong>do</strong> Bolchevique.<br />

dirigiram, mais tarde, o levante Ela demonstra que, apesar da<br />

<strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, é indiscutível, experiência adquirida com<br />

mas Sukhanov, sem dúvida, Kornilov, não restava mais<br />

confere, aos bolcheviques, um aos concilia<strong>do</strong>res uma só<br />

excesso de perspicácia, ao julgar<br />

que eles tivessem previsto ção. Depois disso o parti<strong>do</strong><br />

curva no caminho da revolu-<br />

esse detalhe na organização. <strong>do</strong>s bolcheviques sentiu-se,<br />

Os “fins particulares” consistiam<br />

em esmagar a <strong>contra</strong>- o único parti<strong>do</strong> da revolução.<br />

definitivamente, como sen<strong>do</strong><br />

-revolução, separar, caso o Os concilia<strong>do</strong>res negaramconseguissem,<br />

os cadetes <strong>do</strong>s -se a desempenhar o papel de<br />

concilia<strong>do</strong>res, agrupar, tanto intermediários passan<strong>do</strong> o<br />

quanto possível, as massas poder das mãos da burguesia<br />

sob a direção bolchevique e para as <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, assim<br />

em armar o maior número que como, em março, desempenhara<br />

esse mesmo papel de<br />

pudessem de operários revolucionários.<br />

Os bolcheviques intermediário ao passar o<br />

não <br />

faziam mistério algum poder das mãos <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong><br />

às mãos da burguesia.<br />

em torno desses desígnios.<br />

O parti<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong> acorria E, por esta razão, a palavra<br />

em socorro de um <strong>governo</strong> de de ordem “o poder aos sovietes”<br />

teve que permanecer,<br />

repressão e de calúnia; mas<br />

ele apenas o salvava de uma novamente, em suspenso, mas<br />

derrocada militar, para matá- não por muito tempo: alguns<br />

-lo, de mo<strong>do</strong> mais seguro, no dias depois os bolcheviques<br />

terreno político.<br />

Os últimos dias <strong>do</strong> mês de<br />

obtiveram maioria no Soviete<br />

de Petrogra<strong>do</strong> e, a seguir,<br />

agosto produziram, novamente,<br />

um deslocamento súbito palavra de ordem “o poder<br />

em muitos outros sovietes. A<br />

<br />

nas relações de forças, dessa <br />

aos sovietes” não foi, por<br />

<br />

vez da direita para a esquerda. <br />

conseguinte, retirada uma<br />

<br />

As massas, chamadas à luta, segunda vez da ordem <strong>do</strong> dia,<br />

<br />

restabeleceram, sem esforço, mas <br />

tomou um novo senti<strong>do</strong>:<br />

a situação que os sovietes <br />

to<strong>do</strong> o poder aos sovietes bolcheviques.<br />

Sob esse aspecto<br />

desfrutavam <br />

antes da crise de <br />

<br />

julho. Doravante, o destino a palavra de ordem deixava, <br />

<br />

<strong>do</strong>s sovietes estava, novamente,<br />

nas próprias mãos deles. O <br />

uma evolução pacífica. O<br />

<br />

definitivamente, de ser a de<br />

<br />

<br />

poder podia ser toma<strong>do</strong> pelos <br />

parti<strong>do</strong> penetra no caminho<br />

<br />

sovietes sem combate. Os <br />

da insurreição armada através<br />

<br />

concilia<strong>do</strong>res, para tanto, precisavam,<br />

apenas, consolidar o <br />

sovietes.<br />

<br />

<strong>do</strong>s sovietes e em nome <strong>do</strong>s<br />

<br />

<br />

que de fato <strong>já</strong> estava forma<strong>do</strong>. <br />

(...)


ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 de maio a 5 de junho de 2010<br />

Internacional<br />

Soan<strong>do</strong> o alarme<br />

A Espanha pode ser a<br />

próxima “Grécia”? Já é...<br />

<br />

Página A18<br />

Jamaica<br />

Exército protagoniza<br />

matança de civis e<br />

trabalha<strong>do</strong>res<br />

<br />

A17<br />

Página A19<br />

EUA<br />

O que o imperialismo pode fazer para evitar o<br />

colapso de Wall Street?<br />

O Sena<strong>do</strong> norte-americano aprovou, no último dia 20, após meses de discussão, o plano apresenta<strong>do</strong> por Obama para aumentar a regulação <strong>do</strong>s bancos e<br />

atividades <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro norte-americano<br />

A reforma <strong>do</strong> sistema financeiro<br />

norte-americano aprovada<br />

no Sena<strong>do</strong> no último dia<br />

20, é a segunda parte <strong>do</strong> plano<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Obama para tentar<br />

conter a crise <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res<br />

e especula<strong>do</strong>res. O texto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong><br />

deve ser, agora, fundi<strong>do</strong><br />

com o aprova<strong>do</strong> na Câmara<br />

em dezembro passa<strong>do</strong>, para<br />

que possam entrar em vigor<br />

como lei.<br />

A chamada Lei para Restaurar<br />

a Estabilidade Financeira<br />

<strong>do</strong>s EUA, aprovada no Sena<strong>do</strong>,<br />

reflete boa parte das diretrizes<br />

apresentadas por Obama logo<br />

que assumiu o <strong>governo</strong>.<br />

Entre outras provisões consideradas<br />

“irrelevantes” pela<br />

revista especializada The Economist,<br />

a lei procura aprimorar<br />

o sistema de controle <strong>do</strong> risco<br />

sistêmico <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s. A<br />

lei aprovada dará poderes à<br />

Companhia de Seguros Federal<br />

Deposit para administrar<br />

os gigantes financeiros que<br />

venham a falir, dividin<strong>do</strong> as<br />

perdas entre cre<strong>do</strong>res e acionistas.<br />

O texto prevê, ainda,<br />

a criação de uma secretaria<br />

independente de proteção ao<br />

consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s de<br />

risco e o endurecimento <strong>do</strong><br />

controle <strong>do</strong>s derivativos com a<br />

imposição de que a maior parte<br />

<strong>do</strong>s <strong>contra</strong>tos sejam conduzi<strong>do</strong>s<br />

às claras e negocia<strong>do</strong>s da<br />

mesma forma que outros títulos,<br />

liquidan<strong>do</strong> a lucratividade<br />

exorbitante deste sistema, que<br />

quase levou ao colapso das<br />

bolsas mundialmente.<br />

Os porta-vozes de Wall Street,<br />

em um intenso lobby para<br />

impedir a reforma, chegaram<br />

a declarar que esta vai restringir<br />

o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />

pelos bancos e reduzir sua<br />

lucratividade nos próximos<br />

anos. Obama, por sua vez,<br />

afirmou que a reforma vai jogar<br />

a responsabilidade pela crise<br />

sobre os bancos e empresas <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> financeiro, mas “não<br />

sufocará o livre merca<strong>do</strong>”.<br />

Alguns pontos de conflito<br />

devem ser novamente examina<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is projetos<br />

de lei, o <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e o da<br />

Câmara, forem confronta<strong>do</strong>s.<br />

Um deles, segun<strong>do</strong> a imprensa<br />

especializada, é a proposta de<br />

limitar o swap bancário, isto é,<br />

os empréstimos feitos de banco<br />

a banco para que possam cobrir<br />

suas contas. De acor<strong>do</strong> com as<br />

expectativas <strong>do</strong>s parlamentares<br />

<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Democrata, o texto<br />

final deve ser entregue para que<br />

Obama o ratifique até o dia 4<br />

de julho, feria<strong>do</strong> nacional da<br />

independência <strong>do</strong>s EUA.<br />

A maior reforma <strong>desde</strong> a<br />

década de 30<br />

A reforma <strong>do</strong> sistema financeiro<br />

norte-americano é<br />

aguardada pelos bancos e agentes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>desde</strong> a posse<br />

de Obama. Foi apresentada<br />

como a maior reforma <strong>desde</strong><br />

a crise <strong>do</strong>s anos 30, quan<strong>do</strong><br />

os primeiros mecanismos de<br />

contenção <strong>do</strong>s excessos <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> financeiro foram introduzi<strong>do</strong>s<br />

pelo <strong>governo</strong>.<br />

Apresenta<strong>do</strong> como uma espécie<br />

de “prestação de contas”<br />

à população sobre a crise <strong>do</strong>s<br />

últimos anos, o projeto vem<br />

acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s comentários<br />

<strong>do</strong> próprio presidente norteamericano<br />

sobre como a nova<br />

legislação vai limitar as práticas<br />

que levaram à crise.<br />

Segun<strong>do</strong> a própria revista<br />

The Economist, representante<br />

da opinião pre<strong>do</strong>minante no<br />

merca<strong>do</strong> financeiro e altamente<br />

especializada no tema, a reforma<br />

não poderia, por si só, ter<br />

impedi<strong>do</strong> a crise. A reforma<br />

poderá, quan<strong>do</strong> muito, minimizar<br />

os efeitos devasta<strong>do</strong>res da<br />

falência de um grande banco de<br />

investimentos como o Morgan<br />

Stanley, o Lehman Brothers, o<br />

CitiBank, e grandes empresas<br />

que atuam no merca<strong>do</strong> como<br />

a mega-segura<strong>do</strong>ra AIG.<br />

A criação de um dispositivo<br />

- um órgão <strong>do</strong> <strong>governo</strong> norteamericano<br />

- para administrar a<br />

falência de instituições como<br />

essas é a alternativa menos<br />

custosa, tanto em termos financeiros,<br />

quanto políticos, para o<br />

<strong>governo</strong> e para os banqueiros.<br />

Ao invés de assumir o controle<br />

<strong>do</strong>s bancos e outras empresas<br />

que venham a falir, como o<br />

<strong>governo</strong> norte-americano fez,<br />

tornan<strong>do</strong>-se o acionista majoritário<br />

para, em seguida, administrar<br />

a massa falida, um órgão<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> vai determinar a<br />

divisão das responsabilidades<br />

e prejuízos entre acionistas e<br />

clientes destas empresas.<br />

O Federal Reserve manterá<br />

to<strong>do</strong>s os poderes que recebeu<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> para atuar como<br />

um super-regula<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sistema<br />

bancário. Wall Street, no<br />

entanto, continua mandan<strong>do</strong>.<br />

Uma emenda que pretendia<br />

limitar o tamanho <strong>do</strong>s bancos<br />

e outra, que pretendia impor<br />

restrições aos juros cobra<strong>do</strong>s<br />

nos cartões de crédito, não foram<br />

incluídas no projeto final<br />

aprova<strong>do</strong> no Sena<strong>do</strong>.<br />

No entanto, pouco se sabe<br />

sobre os meios que estão sen<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s neste exato momento,<br />

nos basti<strong>do</strong>res, pelos<br />

bancos e grandes especula<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro<br />

para driblar as barreiras que<br />

o <strong>governo</strong> norte-americano<br />

pretende levantar. O projeto<br />

tem as características de uma<br />

tentativa de encobrir, novamente,<br />

a crise que continua<br />

a se desenvolver a olhos vistos,<br />

gestan<strong>do</strong> um colapso <strong>do</strong><br />

sistema financeiro sobre suas<br />

próprias bases.<br />

A crise européia<br />

O salto mortal <strong>do</strong> euro<br />

tro da zona <strong>do</strong> euro mostram<br />

porque ela pode não durar mais<br />

uma década sem que, pelo menos,<br />

alguns de seus membros<br />

a aban<strong>do</strong>nem”.<br />

Já Charles Wyplosz, professor<br />

de Economia Internacional<br />

<strong>do</strong> Instituto Graduate, de<br />

Genebra, afirma acreditar que<br />

“ainda há uma chance de que<br />

a união monetária saia fortalecida,<br />

e não enfraquecida. Mas<br />

os políticos terão que aumentar<br />

sua aposta radicalmente”.<br />

Com estimativas de que a<br />

Grécia tenha que cortar muito<br />

mais <strong>do</strong> que os 10% que prometeu<br />

de seu PIB para reduzir<br />

o déficit estatal, as expectativas<br />

são de que o país amargue pelo<br />

menos cinco anos de drástica<br />

redução da renda e <strong>do</strong> emprego.<br />

Em outras palavras, o<br />

“remédio” en<strong>contra</strong><strong>do</strong> para a<br />

<strong>do</strong>ença crônica <strong>do</strong> capitalismo<br />

europeu pode, por assim dizer,<br />

“matar” o <strong>do</strong>ente. As medidas<br />

são tão drásticas que nem mesmo<br />

a cúpula <strong>do</strong> imperialismo<br />

europeu e os agentes financeiros<br />

de Washington acreditam<br />

que possam ser aplicadas na<br />

sua totalidade, tampouco que<br />

terão o efeito deseja<strong>do</strong>.<br />

A desvalorização da moeda<br />

da União Européia pode levar<br />

a uma crise sem precedentes<br />

na região. Os primeiros episódios<br />

da falência <strong>do</strong> bloco<br />

foram evidencia<strong>do</strong>s pela crise<br />

na Grécia e pela sequência de<br />

crises que está toman<strong>do</strong> conta<br />

das principais economias <strong>do</strong><br />

continente.<br />

A “reação adversa” que<br />

to<strong>do</strong>s esperam <strong>já</strong> demonstrou<br />

seus primeiros sintomas: a<br />

enorme mobilização das massas<br />

trabalha<strong>do</strong>ras da Grécia<br />

<strong>contra</strong> o <strong>“pacotaço”</strong> <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />

os ataques ao salário,<br />

ao emprego e às condições de<br />

vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. O atrito<br />

entre as massas e os <strong>governo</strong>s<br />

burgueses europeus evolui<br />

num senti<strong>do</strong> revolucionário.<br />

Se, <strong>contra</strong> isso, há mais de<br />

meio século atrás, a “solução”<br />

en<strong>contra</strong>da pelo imperialismo<br />

foi, de certa forma, dar aos<br />

trabalha<strong>do</strong>res o que eles reivindicavam<br />

(pleno emprego,<br />

os salários mais altos que um<br />

trabalha<strong>do</strong>r poderia ganhar<br />

no mun<strong>do</strong>, saúde, educação,<br />

assistência médica pagos pelo<br />

esta<strong>do</strong> etc.) o que será utiliza<strong>do</strong><br />

agora, quan<strong>do</strong> justamente estão<br />

tentan<strong>do</strong> tirar de uma só vez<br />

aquilo que os trabalha<strong>do</strong>res<br />

conquistaram? O imperialismo<br />

não tem uma resposta. Os<br />

trabalha<strong>do</strong>res, por sua vez, <strong>já</strong><br />

expressaram a sua: é preciso<br />

estatizar os bancos e grandes<br />

empresas, acabar com a farra<br />

<strong>do</strong>s especula<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

financeiro e os <strong>governo</strong>s <strong>do</strong>s<br />

banqueiros e <strong>do</strong>s patrões. A<br />

resposta é: “revolução, <strong>governo</strong><br />

operário e socialismo”.<br />

Em queda...<br />

A crise grega expôs as fissuras<br />

fundamentais na união<br />

monetária da União Européia.<br />

Desprovida de uma autoridade<br />

fiscal e política comum,<br />

a União se viu desprovida<br />

de recursos para evitar que o<br />

colapso da economia grega se<br />

espalhe.<br />

Se o merca<strong>do</strong> financeiro<br />

pode gozar da eliminação <strong>do</strong>s<br />

riscos envolvi<strong>do</strong>s no câmbio<br />

entre os países europeus, a<br />

ameaça <strong>do</strong> risco de falência <strong>do</strong><br />

crédito nacional <strong>do</strong>s países da<br />

zona <strong>do</strong> euro se tornou o pior<br />

pesadelo <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res.<br />

O me<strong>do</strong> da falência da Grécia<br />

levou o merca<strong>do</strong> financeiro<br />

a aumentar os custos <strong>do</strong>s empréstimos<br />

a outros países cuja<br />

economia tem características<br />

semelhantes, como Espanha<br />

e Portugal, as mais fracas no<br />

bloco.<br />

Um efeito em cadeia se seguiu,<br />

com o pânico toman<strong>do</strong><br />

conta <strong>do</strong>s países-membros<br />

mais fortes da União Européia<br />

diante da alta exposição de seus<br />

bancos ao risco Grécia.<br />

A própria sobrevivência <strong>do</strong><br />

euro, enquanto moeda única de<br />

27 países europeus, foi colocada<br />

em xeque pela chanceler<br />

alemã, Angela Merkel em um<br />

discurso no último dia 19. A<br />

falência <strong>do</strong> euro resultaria,<br />

inevitavelmente, na falência<br />

da Europa.<br />

Um debate inicia<strong>do</strong> nesta<br />

semana pela revista britânica<br />

The Economist, porta-voz da<br />

citi londrina e da alta roda das<br />

finanças européias, colocou a<br />

questão nestes termos: “esta<br />

casa acredita que a zona <strong>do</strong><br />

euro vai se fragmentar nos<br />

próximos 10 anos”. Os representantes<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pontos de<br />

vista, no entanto, não puderam<br />

senão convergir a um mesmo<br />

ponto de vista: a crise é real<br />

e inevitável, mais ainda: <strong>já</strong><br />

vem consumin<strong>do</strong> os recursos<br />

disponíveis e coloca a falência<br />

<strong>do</strong> euro como algo palpável<br />

a curto prazo. As diferenças<br />

estão colocadas apenas sobre<br />

como a crise vai se desenvolver.<br />

O professor de Economia<br />

da Universidade de Havard,<br />

Martin Feldstein, acredita que<br />

“embora a União Monetária da<br />

Europa tenha sobrevivi<strong>do</strong> por<br />

11 anos, as tensões atuais den-<br />

A desvalorização <strong>do</strong> euro é um <strong>do</strong>s principais motivos de preocupação <strong>do</strong>s banqueiros europeus. O<br />

plano de expansão da moeda para outros 9 países a partir <strong>do</strong> ano que vem pode ser descarta<strong>do</strong>. Países<br />

que <strong>já</strong> aderiram ao bloco econômico da União Européia podem se ver força<strong>do</strong>s a sair.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A18<br />

SOANDO O ALARME<br />

A Espanha pode ser a<br />

próxima “Grécia”? Já é...<br />

O anúncio <strong>do</strong> plano de ataque ao funcionalismo público<br />

e a reação <strong>do</strong>s sindicatos prenunciam a etapa de<br />

convulsão social pela qual o país deve passar no próximo<br />

perío<strong>do</strong><br />

A Grécia, com 13,6% <strong>do</strong> PIB<br />

comprometi<strong>do</strong> com o endividamento<br />

público é um espelho para<br />

a situação da Espanha.<br />

“A Espanha tem uma situação<br />

lariais e a redução <strong>do</strong>s encargos necessários<br />

para demitir um trabalha<strong>do</strong>r.<br />

O plano de austeridade <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

Zapatero está orça<strong>do</strong> em 15<br />

bilhões de euros e inclui, entre<br />

outras medidas, o <strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong><br />

corte de 5% nos salários <strong>do</strong> funcionalismo.<br />

Antes de colocar o seu dinheiro<br />

à disposição <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s europeus<br />

endivida<strong>do</strong>s, o Fun<strong>do</strong> Monetário<br />

Internacional, a Comissão<br />

Européia e os <strong>governo</strong>s “empresta<strong>do</strong>res”,<br />

que vão disponibilizar, ao<br />

to<strong>do</strong>, 750 bilhões de euros, querem<br />

ter a “garantia” de que a dívida<br />

não crescerá. Para tanto, os<br />

<strong>governo</strong>s europeus estão to<strong>do</strong>s<br />

ajustan<strong>do</strong> seus planos de ataque<br />

<strong>contra</strong> as massas. O choque,<br />

entretanto, é inevitável . O desenvolvimento<br />

da crise e, particularmente,<br />

a luta das massas operárias<br />

européias, serão os principais<br />

acontecimentos a serem observa<strong>do</strong>s<br />

no próximo perío<strong>do</strong>.<br />

Greve geral está marcada<br />

para o próximo dia 8<br />

A greve <strong>do</strong> setor público está marcada para o próximo dia 8.<br />

A luta das massas operárias européias será o principal acontecimento a ser observa<strong>do</strong> no<br />

Os banqueiros internacionais<br />

pedem “reformas de longo alcance”<br />

para que o <strong>governo</strong> espanhol<br />

saia da rota de colisão com as<br />

massas trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> seu país.<br />

O Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />

(FMI) afirmou, nesta segundafeira<br />

(dia 24), que o país passa por<br />

desafios “graves”, incluin<strong>do</strong> a necessidade<br />

de reformar urgentemente<br />

o merca<strong>do</strong> de trabalho “disfuncional”<br />

e o sistema bancário.<br />

As declarações foram dadas<br />

depois que o Banco Central espanhol<br />

interveio na crise <strong>do</strong> banco de<br />

empréstimos regional Cajasur, à<br />

beira da falência, com um pacote<br />

próximo perío<strong>do</strong>.<br />

de 2,7 bilhões de euros. O resgate<br />

foi anuncia<strong>do</strong> no sába<strong>do</strong>, dia 22,<br />

depois que o banco recusou a proposta<br />

de fusão com o Unicaja, na<br />

véspera.<br />

A crise <strong>do</strong> Cajasur despertou os<br />

temores de uma falência <strong>do</strong> sistema<br />

financeiro espanhol no merca<strong>do</strong><br />

financeiro. O <strong>governo</strong> Zapatero<br />

está mergulha<strong>do</strong> em uma dívida<br />

pública superior a 11% <strong>do</strong> PIB<br />

e as expectativas de crescimento<br />

da economia são praticamente<br />

nulas. O endividamento espanhol<br />

é quase quatro vezes maior <strong>do</strong> que<br />

o limite imposto pela União Européia<br />

de 3%.<br />

muito difícil porque está potencialmente<br />

envolvida” no plano de<br />

resgate de 750 bilhões de euros<br />

coloca<strong>do</strong>s à disposição para os<br />

Esta<strong>do</strong>s da zona <strong>do</strong> euro em dificuldades,<br />

declarou na quarta-feira<br />

da semana passada o ministro<br />

alemão <strong>do</strong> Interior, Thomas de<br />

Maizière (AFP, 22/5/2010).<br />

A Bolsa espanhola também<br />

vem sentin<strong>do</strong> os efeitos da recessão<br />

e da crise <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro.<br />

O índice Ibex-35 perdeu<br />

mais de 20% <strong>desde</strong> o início <strong>do</strong> ano.<br />

A reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho<br />

que o FMI está pedin<strong>do</strong> inclui<br />

a flexibilização das faixas sa-<br />

Mais um <strong>governo</strong> que se arriscou<br />

a colocar em prática a sua<br />

versão <strong>do</strong> “plano Grécia” terá,<br />

como resposta, a reação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

com protestos e greves<br />

<strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong>s na Espanha.<br />

A greve <strong>do</strong> setor público está<br />

marcada para o próximo dia 8. O<br />

anúncio foi feito depois que o<br />

<strong>governo</strong> decidiu promover um<br />

corte nos salários <strong>do</strong> funcionalismo<br />

em torno de 5% neste ano e o<br />

congelamento das pensões, programa<strong>do</strong><br />

para o ano que vem. A<br />

maior parte <strong>do</strong> funcionalismo público<br />

na Espanha, a 12ª maior economia<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ganha cerca de<br />

1.500 euros por mês (o equivalente<br />

a cerca de R$ 3.440 ou US$<br />

1.840) um valor baixo se compara<strong>do</strong><br />

ao PIB per capita <strong>do</strong> país<br />

(cerca de 33.400 euros, o equivalente<br />

a 2.592 euros por mês).<br />

Na última semana, os funcionários<br />

públicos protestaram diante<br />

de prédios <strong>do</strong> <strong>governo</strong> em to<strong>do</strong><br />

o país, convoca<strong>do</strong>s pela CCOO<br />

(Confederação Sindical de Comissões<br />

Operárias) e a CGT (Central<br />

Geral <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res).<br />

Os cortes promovi<strong>do</strong>s pelo<br />

<strong>governo</strong> rasgam os acor<strong>do</strong>s feitos<br />

com os sindicatos anteriormente<br />

no que diz respeito à remuneração<br />

<strong>do</strong> funcionalismo.<br />

O <strong>governo</strong> Zapatero é mais um<br />

que começou a trilhar o mesmo<br />

caminho por onde passou o <strong>governo</strong><br />

grego. Altamente endividada, a<br />

economia espanhola mergulhou<br />

em uma situação desespera<strong>do</strong>ra<br />

para os investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

financeiro e os políticos à frente <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>. A combinação de recessão,<br />

desemprego e inflação, conhecida<br />

por seus efeitos explosivos<br />

entre os trabalha<strong>do</strong>res - os<br />

principais afeta<strong>do</strong>s - <strong>do</strong>minou<br />

completamente o panorama no<br />

último perío<strong>do</strong>.<br />

O plano de ataque <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

<strong>contra</strong> a renda <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

é consequência <strong>do</strong> esgotamento<br />

da capacidade de o<br />

Esta<strong>do</strong> financiar o setor priva<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong> e os bancos,<br />

por um la<strong>do</strong>, e sustentar um<br />

plano global de auxílio aos desemprega<strong>do</strong>s<br />

e financiar a manutenção<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

A economia espanhola desacelerou<br />

em 2007, depois de 15<br />

anos consecutivos de crescimento<br />

<strong>do</strong> PIB, entran<strong>do</strong> em recessão<br />

no segun<strong>do</strong> trimestre de<br />

2008. O desemprego disparou<br />

<strong>do</strong>s 8% registra<strong>do</strong>s em 2007 para<br />

mais de 19%, em dezembro de<br />

2009 e continua a subir.<br />

A CRISE EUROPÉIA<br />

Itália aprova seu pacote<br />

<strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res<br />

Depois de Grécia, Espanha e<br />

Portugal chegou à vez da Itália<br />

lançar seu plano de “austeridade”<br />

<strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Segun<strong>do</strong> o subsecretário da<br />

presidência <strong>do</strong> Conselho de Ministros,<br />

“as medidas vão implicar<br />

sacrifícios difíceis, que o<br />

<strong>governo</strong> é obriga<strong>do</strong> a impor<br />

imediatamente. É preciso agir o<br />

mais rápi<strong>do</strong> possível para salvar<br />

o nosso país de... digamos o<br />

‘risco grego’, por assim dizer”<br />

(Euronews, 25/5/2010).<br />

O objetivo <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

italiano é o de poupar 24<br />

bilhões de euros, para isso a<br />

idéia é cortar as despesas <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>.<br />

Para alcançar seu objetivo, o<br />

<strong>governo</strong> italiano optou pelo<br />

mesmo plano ao qual os outros<br />

países estão aderin<strong>do</strong>, isto é,<br />

salvar suas economias e empresários<br />

sugan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os direitos<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

A versão italiana <strong>do</strong> pacote<br />

grego prevê o congelamento de<br />

salários <strong>do</strong>s funcionários públicos<br />

até 2013, o bloqueio de novas<br />

<strong>contra</strong>tações também no<br />

setor público, aumento <strong>do</strong> tempo<br />

para a aposenta<strong>do</strong>ria, redução<br />

<strong>do</strong>s gastos com a saúde,<br />

entre outras coisas.<br />

Para tentar reduzir o impacto<br />

<strong>do</strong> anúncio, o <strong>governo</strong> disse<br />

que não incluirá nas medidas o<br />

aumento <strong>do</strong>s impostos. Apesar<br />

disso, a Itália possui um <strong>do</strong>s<br />

impostos mais altos da União<br />

Européia. No ano passa<strong>do</strong> o<br />

valor <strong>do</strong>s impostos estava em<br />

43,2%, enquanto que a média<br />

da Europa é de 39,5%.<br />

A Itália há anos vem combaten<strong>do</strong><br />

o aumento de seu déficit<br />

e no ano de 2009, o mesmo ficou<br />

em torno de 5,3% <strong>do</strong> Produto<br />

Interno Bruto (PIB). Apesar<br />

das tentativas de conter o<br />

crescimento, a dívida da Itália<br />

é uma das mais elevadas da zona<br />

<strong>do</strong> euro.<br />

O fato de a Itália apresentar<br />

o seu próprio plano de “austeridade”<br />

foi motivo para a queda<br />

das bolsas no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, isso<br />

porque o país, que é <strong>do</strong>no da<br />

terceira maior economia da zona<br />

<strong>do</strong> euro, - sete vezes maior <strong>do</strong><br />

que a grega - apresentou problemas<br />

em suas contas públicas e,<br />

a repetição de uma falência à<br />

grega poderia ser encarada<br />

como a decretação de falência<br />

<strong>do</strong>s países mais ricos <strong>do</strong> bloco,<br />

<strong>do</strong>s quais depende a sustentação<br />

<strong>do</strong>s mais fracos.<br />

Em resposta à continuidade<br />

e aprofundamento da crise européia<br />

e a piora na relação entre<br />

Coréia <strong>do</strong> Norte e Coréia <strong>do</strong> Sul,<br />

as bolsas da Europa tiveram<br />

nesta semana a maior queda<br />

<strong>desde</strong> setembro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />

Apesar de o <strong>governo</strong> italiano<br />

afirmar que as medidas estão<br />

sen<strong>do</strong> tomadas como uma “garantia”<br />

<strong>contra</strong> a crise, a economia<br />

italiana vem seguin<strong>do</strong> o<br />

mesmo ritmo <strong>do</strong> restante <strong>do</strong> bloco<br />

.<br />

Desde 2008, a crise financeira<br />

<strong>já</strong> atingiu mais de 15% das<br />

famílias no país. De acor<strong>do</strong><br />

com uma pesquisa realizada,<br />

tais famílias deixaram de ter<br />

condições de enfrentar o desemprego<br />

ou subemprego de<br />

um de seus familiares e seus<br />

níveis de poder de compra são<br />

menores <strong>do</strong> que no ano 2000,<br />

enquanto que os impostos subiram.<br />

Outro fator é que mais de<br />

<strong>do</strong>is milhões de jovens entre 15<br />

a 29 anos, por conta <strong>do</strong> agravamento<br />

da crise <strong>desde</strong> 2008,<br />

estão desemprega<strong>do</strong>s e sem<br />

condições de estudar, o que<br />

resulta em 21,1% <strong>do</strong>s jovens <strong>do</strong><br />

país fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho<br />

e moran<strong>do</strong> com os pais.<br />

A CRISE COMEÇA A PEGAR FOGO NA<br />

INGLATERRA<br />

Tripulação da British Airways<br />

entra em greve após fracasso<br />

nas negociações<br />

Os pilotos, co-pilotos e navega<strong>do</strong>res<br />

da companhia aérea<br />

britânica anunciaram no<br />

dia 24 de maio, uma greve de<br />

cinco dias reivindican<strong>do</strong> aumento<br />

salarial e melhores condições<br />

de trabalho.<br />

A paralisação foi anunciada<br />

após as negociações preliminares<br />

entre a direção da empresa<br />

e o sindicato terem fracassa<strong>do</strong>,<br />

afetan<strong>do</strong> milhares de<br />

passageiros.<br />

Com cerca de 15 mil trabalha<strong>do</strong>res<br />

em greve, a British<br />

Airways anunciou que pretendia<br />

colocar em prática um<br />

“plano de contingência” e<br />

manter em funcionamento<br />

60% das suas rotas. Para tanto<br />

seria necessário licenciar os<br />

vôos e pilotos de outras companhias<br />

britânicas e européias.<br />

A categoria <strong>já</strong> entrou em<br />

greve duas vezes em março<br />

deste ano e, após diversas tentativas,<br />

as negociações ainda<br />

não se colocaram à altura das<br />

reivindicações da categoria.<br />

O sindicato Unite havia planeja<strong>do</strong><br />

realizar quatro greves,<br />

a primeira dela a se iniciar em<br />

18 de maio, mas a empresa<br />

conseguiu uma ordem judicial<br />

para impedir as paralisações.<br />

A última reunião entre a empresa<br />

e o sindicato foi suspensa<br />

no dia 22, depois que os trabalha<strong>do</strong>res<br />

ocuparam o prédio<br />

onde estava sen<strong>do</strong> realizada. A<br />

polícia teve que escoltar o executivo-chefe<br />

da companhia,<br />

Willie Walsh, para evitar o confronto<br />

com os trabalha<strong>do</strong>res.<br />

As direções sindicais se<br />

mostraram dispostas a um<br />

compromisso e anunciaram<br />

que podem suspender a greve<br />

caso a empresa resolva fazer<br />

concessões aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />

O sindicato reivindica, entre<br />

outras coisas, o retorno <strong>do</strong>s<br />

privilégios de viagem <strong>do</strong>s funcionários<br />

que aderiram à paralisação<br />

em março e que tiveram<br />

seus benefícios corta<strong>do</strong>s pela<br />

empresa. Outros funcionários<br />

enfrentam processo administrativo<br />

por terem aderi<strong>do</strong> à<br />

greve. Os benefícios de viagem<br />

permitem que os emprega<strong>do</strong>s<br />

da British Airways se desloquem<br />

<strong>do</strong> trabalho para casa,<br />

na Inglaterra ou qualquer outro<br />

lugar da Europa, com uma<br />

tarifa no valor de apenas 10%<br />

das tarifas comerciais.<br />

A crise capitalista começa<br />

a dar os sinais <strong>do</strong> enorme conflito<br />

que será trava<strong>do</strong> entre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res e a burguesia<br />

das economias mais ricas <strong>do</strong><br />

continente europeu. Se na<br />

Grécia, com uma classe operária<br />

muito menor e mais fraca<br />

<strong>do</strong> que a inglesa, os resulta<strong>do</strong>s<br />

foram desastrosos, a<br />

tentativa de fazer os trabalha<strong>do</strong>res<br />

pagarem pela crise criada<br />

pelos patrões na Inglaterra<br />

terá conseqüências catastróficas<br />

para o imperialismo<br />

britânico. Nesta nova etapa,<br />

a greve <strong>do</strong>s tripulantes da British<br />

Airways, uma elite, é apenas<br />

um primeiro episódio <strong>do</strong><br />

que está por vir quan<strong>do</strong> os demais<br />

destacamentos da classe<br />

operária britânica, extremamente<br />

bem organizada e<br />

desenvolvida, entrarem em<br />

movimento.<br />

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30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A19<br />

JAMAICA<br />

Exército protagoniza matança de<br />

civis e trabalha<strong>do</strong>res<br />

Violência explode na Jamaica, sob as ordens <strong>do</strong>s EUA.<br />

A situação atual é explicada pela situação de<br />

deterioração financeira e política <strong>do</strong> país que está sob<br />

o crivo <strong>do</strong>s EUA<br />

O conflito para capturar o<br />

suposto traficante Christopher<br />

“Dudus” Coke <strong>já</strong> provocou<br />

uma chacina na região de<br />

Kingston. São mais de 70 civis<br />

mortos. Mora<strong>do</strong>res, desespera<strong>do</strong>s,<br />

acusam os solda<strong>do</strong>s<br />

de atirar em qualquer coisa<br />

que se mexa. Desmentin<strong>do</strong> as<br />

estatísticas de que as mortes<br />

eram de traficantes, o próprio<br />

Defensor Publico Earl Witter<br />

questionou: “Há disparidade<br />

entre os números de mortos e<br />

o número de armas apreendidas.<br />

As forças de segurança,<br />

até agora foram responsáveis<br />

por quatro armas de fogo<br />

apreendidas”(jamaicaobserver.com,<br />

26/5/2010)<br />

O início da operação de invasão<br />

da favela pelo exército<br />

começou no <strong>do</strong>mingo a pedi<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s EUA, que querem prender<br />

Coke a qualquer custo. O objetivo<br />

<strong>do</strong>s militares e da polícia<br />

eram invadir a favela no bairro<br />

de Tivoli Gardens, em uma<br />

zona periférica de Kingston. Os<br />

norte-americanos querem julgar<br />

Coke nos EUA, e condenálo<br />

a prisão perpétua.<br />

Em 1998, o <strong>governo</strong> da Jamaica<br />

assinou um pacto com<br />

os EUA permitin<strong>do</strong> que policiais<br />

e militares pudessem entrar<br />

no país e perseguir suspeitos<br />

de trafico de drogas.<br />

Coke seria uma espécie de<br />

Robin Hood para sua comunidade.<br />

Coloca crianças na escola,<br />

dá dinheiro para pobres<br />

e atende as necessidades básicas<br />

<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Alguns<br />

mora<strong>do</strong>res das favelas advertiram<br />

que Coke só seria captura<strong>do</strong><br />

sobre seus cadáveres.<br />

Mesmo o atual primeiro-ministro<br />

da Jamaica Bruce Golding,<br />

resistiu em entregá-lo ao<br />

<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s EUA. Golding<br />

teria empréstimos de entidades<br />

<strong>do</strong> imperialismo em troca<br />

da prisão de Coke.<br />

A situação de endividamento<br />

e empobrecimento na Jamaica,<br />

<strong>desde</strong> o final da década<br />

de 90, criou no país uma<br />

parceria quase publica entre<br />

políticos e traficantes. Os primeiros<br />

governam oficialmente.<br />

O segun<strong>do</strong>, pela sua popularidade<br />

em comunidades pobres,<br />

teria benefícios em troca<br />

de voto.<br />

A deterioração da situação<br />

da Jamaica, e o esta<strong>do</strong> de emergência<br />

imposto pelo <strong>governo</strong>,<br />

refletem uma crise maior que se<br />

espalha por vários países em<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Tailândia, Quirguistão,<br />

Egito, Nepal, Paraguai<br />

e vários outros países ou estão<br />

ou acabaram de passar por situações<br />

parecidas, e em todas<br />

elas o ponto central era a deterioração<br />

financeira e a ascensão<br />

das massas. O suposto traficante<br />

Christopher “Dudus”<br />

Coke, é apenas um reflexo<br />

desse descontentamento e <strong>do</strong><br />

fracasso <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s burgueses<br />

em controlar a situação de<br />

deterioração <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e da<br />

pobreza cada vez maior <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Mora<strong>do</strong>res, desespera<strong>do</strong>s, acusam os solda<strong>do</strong>s de atirar em qualquer coisa que se mexa.<br />

ELEIÇÕES NA COLÔMBIA<br />

Campanha eleitoral na Colômbia gira<br />

em torno da continuidade <strong>do</strong> regime<br />

pró-imperialista de Uribe<br />

A campanha <strong>do</strong>s nove candidatos<br />

em disputa nas eleições<br />

presidenciais colombianas girou<br />

em torno da política de segurança<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Uribe.<br />

Nada se falou sobre a crise<br />

econômica que tornou a Colômbia<br />

um <strong>do</strong>s países com maior<br />

índice de desemprego no continente.<br />

Atualmente mais de 63,1%<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res são informais,<br />

e sua taxa de desemprego está em<br />

10,6%. Além disso, a população<br />

abaixo da linha da pobreza chega<br />

a 46,8%.<br />

Diversas manifestações marcaram<br />

o final <strong>do</strong> mandato de<br />

Uribe. No último 1º de maio,<br />

pessoas levantavam cartazes<br />

com as fotos de seus familiares<br />

As eleições presidenciais colombianas giram em torno da<br />

política de submissão ao imperialismo de Uribe.<br />

assassina<strong>do</strong>s por militares injustamente,<br />

que simplesmente alegaram<br />

sem provas que os mortos<br />

faziam parte das Forças Armadas<br />

Revolucionárias da Colômbia<br />

(FARC). Outra reivindicação <strong>do</strong>s<br />

manifestantes foi a de um plano<br />

para resolver os altos índices de<br />

desemprego que não param de<br />

crescer no país.<br />

O presidente Álvaro Uribe foi<br />

um <strong>do</strong>s maiores alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s EUA<br />

no continente. Desde o início de<br />

seu mandato privatizou diversos<br />

setores, abriu seus merca<strong>do</strong>s para<br />

as empresas norte-americanas, e<br />

permitiu a entrada de armas, solda<strong>do</strong>s<br />

e bases militares no país, o<br />

que gerou uma crise política com<br />

os <strong>governo</strong>s <strong>do</strong> continente, <strong>já</strong> que<br />

a política <strong>do</strong> <strong>governo</strong> colombiano<br />

abriu as portas para a intervenção<br />

militar <strong>do</strong> imperialismo norte-americano<br />

na América Latina<br />

e transformou o país em uma<br />

ameaça constante para seu vizinho,<br />

a Venezuela.<br />

O presidente Uribe assumiu<br />

seu mandato prometen<strong>do</strong> o fim<br />

da violência no país. Para isso<br />

afirmou que acabaria com o<br />

grupo guerrilheiro das FARC e<br />

com o tráfico de drogas. Com<br />

isso procurou justificar uma<br />

maior intervenção <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e<br />

<strong>do</strong> exército norte-americano em<br />

seu país.<br />

Durante a campanha eleitoral,<br />

pesquisas afirmam que <strong>do</strong>is candidatos<br />

se destacam, porém serão<br />

marca<strong>do</strong>s por um empate e<br />

leva<strong>do</strong>s a um segun<strong>do</strong> turno.<br />

Um <strong>do</strong>s candidatos é o ex-ministro<br />

da Defesa <strong>do</strong> presidente Álvaro<br />

Uribe, Juan Manuel Santos,<br />

<strong>já</strong> o segun<strong>do</strong> é um ex-prefeito<br />

por duas vezes de Bogotá, Antanas<br />

Mockus.<br />

O candidato liga<strong>do</strong> a Uribe<br />

pertence ao Parti<strong>do</strong> Social de<br />

Unidade Nacional, conheci<strong>do</strong><br />

como “Parti<strong>do</strong> de La U”. Antanas<br />

Mockus pertence ao Parti<strong>do</strong> Verde,<br />

considera<strong>do</strong> de centro.<br />

A campanha <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is candidatos<br />

tem si<strong>do</strong> encarada pela população<br />

como sen<strong>do</strong> de duas políticas<br />

opostas. No caso Juan Manuel<br />

Santos reforçou em seu último<br />

comício no sába<strong>do</strong>, que dará<br />

continuidade à política de Uribe.<br />

“Escolhemos a firmeza diante<br />

da ambiguidade. Saibam que comigo<br />

to<strong>do</strong>s os colombianos poderão<br />

<strong>do</strong>rmir tranquilos”. Além<br />

disso, afirmou que irá defender<br />

“mão dura” <strong>contra</strong> a guerrilha,<br />

disse Santos. (Telesur, 22/5/<br />

2010)<br />

Já o candidato Antanas Mockus,<br />

manten<strong>do</strong> o estilo <strong>do</strong>s partidários<br />

<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Verde, foi ao<br />

seu comício final com roupas ver-<br />

des, um girassol na mão e afirmou:<br />

“chega de me<strong>do</strong>” (Telesur,<br />

22/5/2010)<br />

“Vamos ser uma força suave,<br />

que não vai andar pelo mun<strong>do</strong><br />

assustan<strong>do</strong>, mas sim crian<strong>do</strong><br />

confiança. Esta etapa da história<br />

da Colômbia será escrita com o<br />

lápis e não com o sangue”, afirmou<br />

Mockus. (Telesur, 22/5/<br />

2010)<br />

Apesar de tentar parecer contrário<br />

a política de Uribe, Mockus<br />

disse que procurará a<strong>do</strong>tar<br />

as políticas mais populares <strong>do</strong><br />

<strong>governo</strong> Uribe, especialmente o<br />

combate às FARC.<br />

Além disso, evidenciar que<br />

ambos terão a mesma política, só<br />

que com uma fachada nova, foi<br />

destaca<strong>do</strong> na imprensa burguesa<br />

desta terça-feira que o presidente<br />

Uribe está sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong><br />

pelo jornal The Washington Post,<br />

quer dizer, um órgão de imprensa<br />

<strong>do</strong> país que é o maior alia<strong>do</strong><br />

de Uribe, está o critican<strong>do</strong> durante<br />

um processo eleitoral.<br />

Segun<strong>do</strong> o jornal norte-americano,<br />

o ex-policial colombiano<br />

Juan Meneses, que hoje vive na<br />

Argentina, afirmou diante de representantes<br />

de organizações<br />

humanitárias internacionais que<br />

Santiago Uribe Vélez, irmão <strong>do</strong><br />

Os candidatos Antanas Mockus (à esquerda) e Juan Manuel Santos (à direita).<br />

presidente Álvaro Uribe, financiou<br />

na década de 90 uma estrutura<br />

paramilitar que cometeu vários<br />

crimes, e que tiveram como<br />

cúmplices a polícia da cidade de<br />

Antioquia.<br />

Ainda em sua declaração<br />

Meneses disse que o atual presidente<br />

da Colômbia na época<br />

era sena<strong>do</strong>r e teve conhecimento<br />

<strong>do</strong> que ocorria, porém ao invés<br />

de combater e denunciar o<br />

mesmo contribuiu para o encobrimento<br />

e facilitou as ações <strong>do</strong><br />

irmão.<br />

As denúncias de Meneses<br />

foram feitas há três semanas.<br />

Porém só hoje a cinco dias <strong>do</strong><br />

primeiro turno eleitoral as mesmas<br />

foram divulgadas. Com isso<br />

é provável que os EUA após as<br />

diversas denúncias graves de<br />

violação <strong>do</strong>s direitos humanos,<br />

onde o <strong>governo</strong> Uribe – seu alia<strong>do</strong><br />

– está envolvi<strong>do</strong>, tenham<br />

opta<strong>do</strong> por apoiar um candidato<br />

que seguirá a mesma política<br />

porém aparenta ser um pouco<br />

mais democrático e preocupa<strong>do</strong><br />

com a população.<br />

Os EUA provavelmente estão<br />

optan<strong>do</strong> por tirar um <strong>governo</strong><br />

desgasta<strong>do</strong> que é o de Uribe por<br />

um “ambientalista e humanitário”<br />

de fachada.


30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ENTREVISTA DA SEMANA A20<br />

PRISÃO DOS CINCO CUBANOS NOS EUA<br />

“Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar destruir a Revolução<br />

Cubana que não puderam. Com to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s<br />

<strong>contra</strong>-revolucionários, a CIA e toda a sabotagem, não<br />

conseguiram”<br />

Causa Operária entrevista Miguel Arango Moral, funda<strong>do</strong>r da Associação Nacional<br />

de Cubanos Residentes no Brasil José Martí. Miguel Arango denuncia a condenação<br />

de cinco cubanos nos EUA em um processo-farsa. Os cinco jovens foram indica<strong>do</strong>s<br />

para lutar <strong>contra</strong> o terrorismo financia<strong>do</strong> pela CIA <strong>contra</strong> Cuba na cidade de Miami,<br />

onde é o centro principal das agressões a Cuba<br />

Causa Operária - O senhor<br />

pode falar sobre a atuação da<br />

Associação <strong>do</strong>s Cubanos Residentes<br />

no Brasil?<br />

Miguel Arango Moral – A<br />

associação surgiu de um sonho<br />

de um grupo de cubanos.<br />

Nós reunimos um grupo e começamos<br />

algumas reuniões<br />

para ver como deveria funcionar.<br />

Temos os estatutos,<br />

uma carta de princípios de<br />

quem gostaria de pertencer a<br />

associação e porque e quem<br />

defende esta associação e qual<br />

a razão dela. Em janeiro de<br />

2006, finalmente fundamos a<br />

associação e criamos a primeira<br />

diretoria da qual eu fiz<br />

parte. O primeiro presidente<br />

foi o companheiro Reynal<strong>do</strong><br />

Cué que infelizmente morreu<br />

de infarto no ano de 2007.<br />

E então eu assumi a presidência<br />

nacional da associação.<br />

Até então eu era o vice-presidente.<br />

Em maio de 2007 fizemos o<br />

primeiro encontro <strong>do</strong>s cubanos<br />

residentes no Brasil, no<br />

Rio de foi defini<strong>do</strong> que a cada<br />

<strong>do</strong>is anos seria feito o encontro<br />

<strong>do</strong>s cubanos que estão na<br />

associação e a presidência<br />

seria rotativa. O esta<strong>do</strong> que<br />

tivesse o encontro teria a presidência<br />

nos próximos <strong>do</strong>is<br />

anos.<br />

Causa Operária - A associação<br />

está fazen<strong>do</strong> a campanha<br />

pela libertação de René<br />

González, Gerar<strong>do</strong> Hernández,<br />

Fernan<strong>do</strong> González, Gerar<strong>do</strong><br />

Hernández, Antonio<br />

Guerreiro e Ramón Labañino.<br />

O que aconteceu?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Eles estavam nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

infiltra<strong>do</strong>s, nos grupo <strong>contra</strong>-revolucionários.<br />

Nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s tem muitas bandas<br />

e muitos grupos terroristas<br />

que constantemente estão<br />

planejan<strong>do</strong> ações terroristas<br />

<strong>contra</strong> Cuba. Sabotagem e<br />

coisa desse tipo. Há sabotagens<br />

de várias formas. Há<br />

sabotagem da guerra química,<br />

introduzir vírus para impedir<br />

a colheita de charuto, coisas<br />

assim, frutos, alimentos e até<br />

ataques repressivos a instituições<br />

importantes. Quer dizer,<br />

por exemplo, usinas de canade-açúcar<br />

e coisas assim. E<br />

então eles estavam nestes grupos<br />

para descobrir tu<strong>do</strong> isso.<br />

Para informar para Cuba a tempo<br />

para impedir qualquer uma<br />

destas sabotagens terroristas.<br />

Só que aconteceu o seguinte.<br />

No momento em que as informações<br />

deixavam muito<br />

evidente e eram muito perigosas,<br />

tu<strong>do</strong> o que eles chegaram<br />

a saber e a conhecer que Cuba<br />

contatou pessoas <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e entregou<br />

toda a informação e falou:<br />

“nós temos conhecimento de<br />

tu<strong>do</strong> isso e sabemos as pessoas<br />

que estão fazen<strong>do</strong> isso vão<br />

atacar e matar fulano”. Cuba<br />

deu os detalhes. O que fez o<br />

<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />

Ao invés de prender<br />

estes caras, logo depois foram<br />

cassar estes cubanos.<br />

E os pegaram em casa,<br />

<strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Um por um. E os<br />

acusaram de espionagem. E o<br />

problema é que tem <strong>do</strong>is deles<br />

que são cubanos, mas<br />

nasceram nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

São cidadãos estadunidenses.<br />

E então são acusa<strong>do</strong>s<br />

de traição.<br />

Causa Operária - Quais as<br />

acusações que sofreram?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

As acusações fundamentais<br />

são de atividades <strong>contra</strong> o<br />

esta<strong>do</strong> americano.<br />

Causa Operária – O senhor<br />

tem informação atuais<br />

sobre o que tem si<strong>do</strong> feito por<br />

estes grupos <strong>contra</strong> Cuba?<br />

Tem ligações com o CIA?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Os últimos atenta<strong>do</strong>s foram<br />

bombas que colocaram nos<br />

trens porque em Cuba uma<br />

das fontes é o turismo. Então<br />

estavam queren<strong>do</strong> fazer sabotagem<br />

e fazer atos terroristas<br />

<strong>contra</strong> as instalações turísticas,<br />

os hotéis. Mataram um<br />

turista italiano e outros turistas.<br />

Era esse o que eles queriam.<br />

Uma vez foi descoberta<br />

uma bomba em um restaurante<br />

muito famoso em Cuba<br />

Bodeguita del Medio e coisas<br />

como estas.<br />

São grupos liga<strong>do</strong>s a CIA.<br />

A CIA é quem treina, arma e<br />

financia estes grupos.<br />

Causa Operária – Como<br />

foi a condenação <strong>do</strong>s cinco<br />

cubanos? Houve o devi<strong>do</strong><br />

processo?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Fizeram uma farsa. Um juiz<br />

muito na forma deles. Um juiz<br />

que não é da região. Colocaram<br />

outro juiz que era totalmente<br />

contrário a Cuba e alegaram<br />

um monte de coisas<br />

que os advoga<strong>do</strong>s que eles<br />

tem de defesa sabem que é improcedente.<br />

Há um ano estavam<br />

tentan<strong>do</strong> provar a invalidade<br />

<strong>do</strong> juízo porque o juiz<br />

que condenou não podia atuar<br />

nesta região. Mas com tu<strong>do</strong><br />

isso deixaram as sanções que<br />

tinham coloca<strong>do</strong>.<br />

Teve uma primeira condenação<br />

que foi revogada em<br />

parte. Mas teve uma segunda<br />

condenação, porque o juiz que<br />

estava na defesa dele alegava<br />

que a improbidade oficial deste<br />

juiz.<br />

Nós queríamos que anulasse<br />

o juízo, mas não fizeram<br />

isso. Cuba pedia a anulação<br />

<strong>do</strong> juízo e que passasse para<br />

outro esta<strong>do</strong>. O caso está em<br />

Miami. A maioria <strong>do</strong>s cubanos<br />

americanos. Que tem descendentes<br />

<strong>do</strong>s cubanos que<br />

saíram de Cuba no ano de 59<br />

[Revolução]. Há pessoas que<br />

são governa<strong>do</strong>res e to<strong>do</strong>s<br />

estão <strong>contra</strong> Cuba.<br />

Deste jeito não há condições<br />

de fazer um juízo imparcial.<br />

Causa Operária – Quais<br />

foram as penas aplicadas?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Eu sei que tem <strong>do</strong>is que tem<br />

duas condenações a prisão<br />

perpétua, mais dezoito anos.<br />

Ramón está condena<strong>do</strong> à prisão<br />

perpétua mais 18 anos;<br />

René, condena<strong>do</strong> a 15 anos;<br />

Gerar<strong>do</strong>, condena<strong>do</strong> a duas<br />

penas perpétuas mais 15 anos;<br />

Fernan<strong>do</strong> condena<strong>do</strong> a 19<br />

anos de reclusão; Antonio,<br />

condena<strong>do</strong> à prisão perpétua<br />

mais 10 anos.<br />

Causa Operária – Qual a<br />

situação atual <strong>do</strong> processo?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Atualmente o processo <strong>já</strong> terminou.<br />

Foi julga<strong>do</strong> pela última<br />

vez, faz quase um ano. Os advoga<strong>do</strong>s<br />

estavam pedin<strong>do</strong> a<br />

revogação da validade da condenação.<br />

E não conseguiram.<br />

Agora as sanções foram ratificadas.<br />

A única coisa que<br />

pode ser feita e é o que estamos<br />

pedin<strong>do</strong> é que o presidente,<br />

que sabe que é uma coisa<br />

ilegal que não tem razão para<br />

isso. Que não fizeram nada<br />

<strong>contra</strong> os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. E<br />

se os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se dizem<br />

anti-terroristas, porque não liberam<br />

eles?<br />

Eles foram presos pelo <strong>governo</strong><br />

Bush.<br />

Causa Operária – Em que<br />

condições eles estão lá agora?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Estão totalmente isola<strong>do</strong>s,<br />

sem receber visitas <strong>do</strong>s familiares.<br />

O problema é que os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não facilita,<br />

não dá visto para a família. No<br />

ano passa<strong>do</strong> morreu a mãe de<br />

Antonio morreu em Cuba,<br />

sem conseguir viajar para ver<br />

o filho.<br />

Os outros estão sem poder<br />

ver as filhas, a mulher, nada.<br />

Todas as vezes que tentaram,<br />

tiveram que voltar, porque os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não dão visto<br />

a elas.<br />

Causa Operária - Há semelhanças<br />

com o caso <strong>do</strong>s<br />

italianos Sacco e Vanzetti?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Sim, é a mesma coisa. Eles<br />

estão sen<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>s e foram<br />

condena<strong>do</strong>s de coisas que não<br />

são verdade.<br />

Causa Operária – O senhor<br />

atribui isso a tentativa de<br />

impedir que Cuba se defenda<br />

<strong>do</strong>s ataques <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />

Miguel Arango Moral – O<br />

problema é o seguinte. Isso<br />

demonstra muito claramente<br />

que o <strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s <strong>desde</strong> o começo da revolução,<br />

tem feito muita coisa<br />

para tentar derrubar a revolução,<br />

mas não estão conseguin<strong>do</strong>.<br />

Tem pessoas que não acreditam<br />

que nós falamos de seiscentos<br />

e tantos tentativas de<br />

assassinato <strong>do</strong> Fidel [Castro].<br />

Eles mesmos contam. Os arquivos<br />

da CIA que foram libera<strong>do</strong>s<br />

e contam como foram<br />

as tentativas de matar Fidel.<br />

Infelizmente, nós podemos<br />

ver o problema com o <strong>governo</strong><br />

Obama que muita gente tinha<br />

muitas expectativas. E<br />

estas expectativas foram falsas.<br />

Obama está viran<strong>do</strong> um<br />

cara pior que Bush. Porque<br />

Bush é um estúpi<strong>do</strong> político.<br />

Totalmente estúpi<strong>do</strong> político.<br />

Bush nunca foi político.<br />

Toda a guerra <strong>do</strong> Iraque,<br />

porque o problema dele é só o<br />

petróleo. Mas Obama que no<br />

começo e quan<strong>do</strong> estava na<br />

candidatura, estava parecen<strong>do</strong><br />

bonzinho. Mas não fez<br />

nada. Obama prometeu fechar<br />

a base de Guantánamo<br />

que é um terreno ilegalmente<br />

ocupa<strong>do</strong> de Cuba e não devolvem<br />

para Cuba. Não fechou<br />

nada. A base de Guantánamo<br />

está aberta, com prisioneiros.<br />

Obama podia fazer alguma<br />

coisa para melhorar as relações<br />

de Cuba com os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e só está pioran<strong>do</strong>.<br />

Pioran<strong>do</strong> porque<br />

Obama está dan<strong>do</strong> dinheiro<br />

para os <strong>contra</strong>revolucionários<br />

fazerem<br />

campanhas <strong>contra</strong><br />

Cuba.<br />

Está até pior. Toda<br />

esta campanha midiática<br />

nos países em torno<br />

de Cuba. Tu<strong>do</strong> é planeja<strong>do</strong><br />

pelos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. E Obama a<br />

frente.<br />

Causa Operária – A<br />

imprensa brasileira<br />

não fala nada sobre<br />

este caso. O senhor<br />

pode comentar?<br />

Miguel Arango<br />

Moral – Isso me dá<br />

raiva. Não comentam<br />

nada sobre os cubanos,<br />

os cinco patriotas.<br />

Agora sobre o Zapata<br />

falaram. Criticaram<br />

Lula porque Lula falou<br />

que o cara era preso<br />

comum, delinqüente.<br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabe que<br />

é verdade. Que Zapata era um<br />

delinqüente. Que foi preso<br />

porque atacou um homem<br />

com um facão e roubou. Tinha<br />

vários delitos.<br />

Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar<br />

destruir a Revolução Cubana<br />

que não puderam. Com<br />

to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s <strong>contra</strong>-revolucionários,<br />

a CIA e toda a<br />

sabotagem, não conseguiram.<br />

Porque sempre tem alguém<br />

meti<strong>do</strong> no meio que avisa para<br />

Cuba em tempo como aconteceu<br />

com os cinco patriotas.<br />

Os cinco patriotas evitaram<br />

muitas mortes. Quan<strong>do</strong> Cuba<br />

achava que tinha um volume<br />

amplo de informações das coisas<br />

que eles sabiam e que eles<br />

tinham. Sabiam as pessoas<br />

que iam fazer, onde, m que<br />

momento. Entregaram para o<br />

<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

e por isso eles foram presos.<br />

Causa Operária – Teve alguma<br />

posição oficial <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />

norte-americano a respeito<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Oficialmente não fizeram<br />

nada. O que fizeram foi mandar<br />

prender os caras. Pelas informações<br />

chegaram aos nossos<br />

patriotas que não tiveram<br />

tempo de voltar para Cuba.<br />

Causa Operária – Gostaria<br />

de fazer considerações finais?<br />

Miguel Arango Moral –<br />

Eu acho que é importante a<br />

solidariedade que o Brasil tenha<br />

para com Cuba. Porque<br />

neste momento temos que estar<br />

alerta. Eles estão tentan<strong>do</strong><br />

uma coisa que durante anos<br />

não conseguiram. Estão tentan<strong>do</strong><br />

fazer com que surja em<br />

Cuba uma espécie de guerra<br />

civil. Estão estimulan<strong>do</strong> a violência.<br />

E a mídia está incentivan<strong>do</strong><br />

isso. O parlamento<br />

Europeu se pronunciou <strong>contra</strong><br />

Cuba. E outros países. A<br />

tentativa é isolar cada vez<br />

mais Cuba. E isso é perigoso.<br />

Obama está cada vez mais<br />

sen<strong>do</strong> guerrerista como, tanto<br />

quanto foi Bush. Está incentivan<strong>do</strong><br />

a guerra entre as<br />

duas Coréias. Ninguém sabe<br />

aonde pode levar. Isso é muito<br />

perigoso, pois estão incentivan<strong>do</strong>.<br />

Eles precisam manter<br />

a hegemonia e a venda das<br />

armas e a indústria armamentista<br />

e tu<strong>do</strong> isso.<br />

Tem que ter cuida<strong>do</strong> com<br />

isso. Na América estão tentan<strong>do</strong><br />

virar na posição que<br />

tinha alguns anos atrás.<br />

Quan<strong>do</strong> tinha Kirchner na<br />

Argentina, Lula no Brasil,<br />

Ortega na Nicarágua, Chavez<br />

na Venezuela. Agora colocaram<br />

este Uribe na Colômbia<br />

que é um cara totalmente vendi<strong>do</strong><br />

para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

e que estabelecer uma base<br />

militar <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s na<br />

Colômbia. Para quê? Fazer<br />

policiamento da América e<br />

controlar toda a América. Ele<br />

está se meten<strong>do</strong> militarmente.<br />

E daqui a pouco voltamos.<br />

Como deu para ver o golpe de<br />

esta<strong>do</strong> em Honduras e nada<br />

aconteceu. Porque eles apoiaram.<br />

Há um dita<strong>do</strong> que diz<br />

que há só um país que nunca<br />

poderá haver um golpe de esta<strong>do</strong>,<br />

que é os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Porque é o único país que<br />

não tem uma embaixada <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s os<br />

golpes militares, golpes de<br />

esta<strong>do</strong> são forja<strong>do</strong>s e planeja<strong>do</strong>s<br />

pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Eles reconheceram o <strong>governo</strong><br />

e nada aconteceu.<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s apoiaram<br />

o golpe de esta<strong>do</strong> em Honduras.<br />

Agora se mete na Coréia,<br />

na Nicarágua.<br />

A situação está muito ruim.<br />

É um ataque a América Latina.<br />

Nós vemos que atacar a<br />

Cuba neste momento tem um<br />

propósito duplo. Atacar a<br />

Cuba é também atacar o Brasil,<br />

porque os jornais falam<br />

que Lula é amigo de Cuba.


ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 DE mAIO a 5 DE junho DE 2010<br />

As idéias <strong>do</strong> panafricanismo<br />

<br />

Página B2 e B3<br />

O Indigenismo haitianoPáginas B4 e B5<br />

A luta<br />

revolucionária<br />

e movimento<br />

negrista em Cuba<br />

<br />

Página B6<br />

Os Congressos Pan-Africanos<br />

na Europa <br />

Páginas B3<br />

O surgimento da<br />

literatura negra em<br />

Paris<br />

<br />

Páginas B7<br />

O movimento Negritude Páginas B8<br />

O nascimento da literatura<br />

negra nas primeiras décadas<br />

<strong>do</strong> século XX foi uma<br />

manifestação, no terreno<br />

das artes, de diversas idéias<br />

políticas elaboradas pelos<br />

negros em sua luta <strong>contra</strong> a<br />

opressão, <strong>contra</strong> os regimes<br />

de segregação racial e <strong>contra</strong><br />

as políticas coloniais. Nesta<br />

edição apresentamos algumas<br />

destas idéias, bem como<br />

a maneira como se organizaram<br />

alguns destes movimentos<br />

literários negros<br />

SÉRIE ESPECIAL DO CADERNO CULTURAL, PARTE III<br />

AS IDÉIAS QUE<br />

INFLUENCIARAM A<br />

LITERATURA NEGRA


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B2<br />

as idéias que influenciaram a literatura negra<br />

O SURGIMENTO DO PAN-<br />

AFRICANISMO NOS PAÍSES<br />

ANGLÓFONOS: INGLATERRA,<br />

ESTADOS UNIDOS E JAMAICA<br />

O rápi<strong>do</strong> desenvolvimento<br />

da literatura negra a partir das<br />

primeiras décadas <strong>do</strong> século<br />

XX representava uma etapa de<br />

amadurecimento de um movimento<br />

anterior de evolução da<br />

consciência política e cultural<br />

<strong>do</strong> negro nos diversos países<br />

onde se en<strong>contra</strong>va, sobretu<strong>do</strong><br />

no que diz respeito à busca pela<br />

a firmação de sua raça, a característica<br />

distintiva desta nova<br />

literatura.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, uma das<br />

mais importantes e influentes<br />

correntes intelectuais negras,<br />

seria o chama<strong>do</strong> pan-africanismo,<br />

surgi<strong>do</strong> primeiro na Inglaterra,<br />

mas que alcançaria um<br />

grande desenvolvimento apenas<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Através de um intenso trabalho<br />

intelectual e de agitação<br />

cultural e política, estas idéias<br />

se espalhariam a partir daí<br />

para o restante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> negro,<br />

no Caribe, nos demais países<br />

europeus e finalmente, na<br />

África, onde serviria de ferramenta<br />

teórica para os grandes<br />

movimentos políticos de libertação<br />

nacional após o término<br />

da Segunda Guerra. Estas lutas<br />

seriam um <strong>do</strong>s mais importantes<br />

e amplos fenômenos políticos<br />

da segunda metade <strong>do</strong> século<br />

XX, lutas que tiveram seu<br />

perío<strong>do</strong> de preparação durante<br />

as primeiras cinco décadas <strong>do</strong><br />

século.<br />

Sylvester<br />

Williams e o<br />

nascimento <strong>do</strong><br />

pan-africanismo<br />

na Inglaterra<br />

Sylvester Williams<br />

Nasci<strong>do</strong> na ilha caribenha<br />

de Trinidad, colônia britânica,<br />

Henry Sylvester William foi um<br />

proeminente advoga<strong>do</strong> e militante<br />

<strong>do</strong> movimento negro que,<br />

partin<strong>do</strong> para a metrópole colonial<br />

inglesa, se tornaria um <strong>do</strong>s<br />

grandes pioneiros das idéias<br />

pan-africanas.<br />

Depois de militar durante<br />

muitos anos em seu país natal,<br />

chegou à Inglaterra em 1896,<br />

onde formou, um ano mais tarde,<br />

a Associação Africana, buscan<strong>do</strong><br />

lutar <strong>contra</strong> o racismo e<br />

o colonialismo <strong>do</strong> imperialismo<br />

britânico.<br />

A organização teria vida efêmera,<br />

mas teve uma influência<br />

decisiva em to<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

posterior das idéias panafricanas.<br />

Sua iniciativa mais<br />

importante foi a realização em<br />

Londres, em 1900, da Conferência<br />

Pan-Africana, onde se<br />

reuniram negros vin<strong>do</strong>s de diversas<br />

nações na África Ocidental<br />

e <strong>do</strong> Sul, Caribe e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s.<br />

Entre os 30 delega<strong>do</strong>s presentes<br />

na reunião estava o norte-americano<br />

W. E. B. Du Bois,<br />

que se tornará em seu país, o<br />

mais importante propaga<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> pan-africanismo no perío<strong>do</strong><br />

seguinte. Segun<strong>do</strong> Du Bois afirmaria<br />

mais tarde, foi esta conferência<br />

que fixou pela primeira<br />

vez o termo “pan-africanismo”<br />

com um conteú<strong>do</strong> defini<strong>do</strong>, a<br />

tentativa de unificação <strong>do</strong>s movimentos<br />

negros de diferentes<br />

países em torno de uma organização<br />

internacional comum.<br />

Este encontro foi de suma importância.<br />

Através <strong>do</strong>s contatos<br />

pessoais destes delega<strong>do</strong>s, os<br />

debates aí levanta<strong>do</strong>s teriam<br />

repercussão mesmo entre o <strong>governo</strong><br />

inglês.<br />

Após esta reunião, imediatamente<br />

foram instaladas frentes<br />

de difusão <strong>do</strong> pan-africanismo<br />

em países como Trinidad, Jamaica<br />

e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Frentes<br />

que seriam responsáveis<br />

pelo primeiro impulso importante<br />

para a aproximação de<br />

militantes negros destes países.<br />

Sylvester William continuaria<br />

sua atividade política viajan<strong>do</strong><br />

por diferentes nações<br />

propagan<strong>do</strong> seu programa,<br />

sem, contu<strong>do</strong>, ter consegui<strong>do</strong><br />

nunca formar uma organização<br />

consistente que resguardasse<br />

os ideais <strong>do</strong> pan-africanismo.<br />

Ele morreria por fim em 1911,<br />

época em que trabalhava na Libéria,<br />

importante país africano<br />

que <strong>já</strong> havia conquista<strong>do</strong> sua independência<br />

ainda no final <strong>do</strong><br />

século XIX, e visto assim como<br />

um símbolo de resistência para<br />

to<strong>do</strong>s os países negros que buscavam<br />

sua soberania.<br />

O pan-africanismo, de um<br />

mo<strong>do</strong> geral defenderá a unificação<br />

das comunidades negras,<br />

dentro e fora da África, em<br />

um terreno comum, buscan<strong>do</strong>,<br />

antes de tu<strong>do</strong>, a libertação<br />

política da população negra <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mínio branco, e a partir daí,<br />

impulsionar um efetivo desenvolvimento<br />

econômico, político<br />

social e cultural.<br />

Estes intelectuais e militantes<br />

<strong>do</strong> movimento negro defenderão<br />

programas políticos<br />

varia<strong>do</strong>s. Enquanto que o escritor<br />

e tribuno político norteamericano<br />

W. E. B. Du Bois defenderá<br />

a luta <strong>do</strong>s negros pela<br />

conquista de direitos políticos<br />

iguais aos brancos até sua integração<br />

na sociedade onde nasceram,<br />

duas décadas mais tarde,<br />

Marcus Garvey defenderá<br />

uma política de segregação racial,<br />

através da qual ele veria a<br />

única possibilidade de progresso<br />

para os negros, defenden<strong>do</strong><br />

seu retorno à África, segun<strong>do</strong><br />

ele, a “pátria-mãe” de to<strong>do</strong>s os<br />

negros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Apesar das<br />

diferentes estratégias de luta,<br />

ambos partiam da mesma premissa:<br />

a urgente necessidade<br />

de libertação <strong>do</strong>s negros no interior<br />

da sociedade branca. Daí<br />

a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> pan-africanismo<br />

como ideologia geral destes<br />

movimentos, que expressava<br />

a busca pela unificação <strong>do</strong> movimento<br />

negro internacional<br />

em torno de seus objetivos comuns.<br />

Desta luta inicial virá, na<br />

etapa seguinte, a grande valorização<br />

por parte de uma ala<br />

da intelectualidade negra, da<br />

cultura autóctone africana, <strong>do</strong><br />

folclore popular negro de seus<br />

países, das religiões negras, de<br />

suas lendas, a tradição da literatura<br />

oral vinda das tribos<br />

negras como parte <strong>do</strong> esforço<br />

de criar uma base cultural para<br />

o desenvolvimento da luta <strong>do</strong><br />

negro.<br />

A literatura surgida a partir<br />

da influência destas idéias<br />

entre os escritores negros fará<br />

deste sentimento de comunhão<br />

um <strong>do</strong>s mais importantes aspectos<br />

da literatura negra moderna,<br />

forman<strong>do</strong> artistas que<br />

manifestariam uma profunda<br />

empatia com a miséria física e<br />

espiritual <strong>do</strong> povo negro em to<strong>do</strong>s<br />

os países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

As primeiras manifestações<br />

intelectuais no senti<strong>do</strong> de se<br />

formular um programa mais<br />

abrangente de união <strong>do</strong>s povos<br />

negros no mun<strong>do</strong> surgiriam <strong>já</strong><br />

nos séculos XVII e XVIII. Mas<br />

estas idéias ainda embrionárias<br />

apenas se manifestariam como<br />

uma tendência mais definida a<br />

partir da reação anticolonialista<br />

que se seguiu à partilha da<br />

África, realizada entre as potências<br />

imperialistas européias<br />

em 1884.<br />

O programa educacional<br />

de Booker T. Washington<br />

Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, onde<br />

o pan-africanismo terá grande<br />

desenvolvimento, estas idéias<br />

começariam a surgir de forma<br />

marcante algumas décadas<br />

após a abolição <strong>do</strong> escravismo<br />

em 1865. Neste momento, todas<br />

as expectativas <strong>do</strong>s negros<br />

de viverem como homens livres<br />

acabariam frustradas pela instauração,<br />

principalmente nas<br />

cidades <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> país, de rígidas<br />

leis segregacionistas, conhecidas<br />

como Leis Jim Crow, que<br />

criariam um novo obstáculo à<br />

inserção <strong>do</strong>s negros no interior<br />

da sociedade norte-americana.<br />

Nesse perío<strong>do</strong> surgiria uma<br />

importante tradição de militantes<br />

negros, <strong>já</strong> <strong>desde</strong> finais <strong>do</strong><br />

século XVIII, mas que ganharia<br />

verdadeira importância após<br />

1865. Já no final <strong>do</strong> século XIX,<br />

o mais importante destes representantes,<br />

entre 1890 e 1915,<br />

seria Booker T. Washington.<br />

Washington pode ser considera<strong>do</strong><br />

um continua<strong>do</strong>r da luta<br />

de to<strong>do</strong>s os líderes negros norteamericanos<br />

<strong>desde</strong> 1830, colocan<strong>do</strong><br />

em prática diversas idéias<br />

<strong>já</strong> expressas pelo líder abolicionista<br />

Frederick Douglass.<br />

Washington fora um ex-escravo<br />

e membro da classe operária<br />

negra. Sua atuação se baseava<br />

na idéia de que a libertação<br />

<strong>do</strong> negro no interior da sociedade<br />

se daria unicamente através<br />

de sua educação. Era <strong>contra</strong> a<br />

luta política <strong>do</strong>s negros por seus<br />

direitos democráticos, restringin<strong>do</strong><br />

o movimento a reivindicações<br />

puramente econômicas.<br />

Washington acreditava que a<br />

segregação racial era positiva e<br />

natural. Em uma sociedade com<br />

duas nações distintas, cada uma<br />

delas deveria desenvolver suas<br />

próprias instituições.<br />

Considerava degradante a<br />

luta <strong>do</strong>s negros pela sua inserção<br />

Du Bois, em defesa <strong>do</strong>s direitos civis <strong>do</strong>s negros<br />

Ten<strong>do</strong> começa<strong>do</strong> sua militância<br />

como discípulo de Booker T.<br />

Washington, Du Bois <strong>já</strong> nos últimos<br />

anos <strong>do</strong> século XIX, passou a<br />

desferir duras críticas <strong>contra</strong> suas<br />

concepções. Du Bois baseou sua<br />

política em um minucioso balanço<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da luta puramente<br />

econômica <strong>do</strong> grupo de Washington.<br />

Segun<strong>do</strong> Du Bois concluiu, sem<br />

influência política alguma no <strong>governo</strong>,<br />

as conquistas econômicas<br />

se revelaram efêmeras e vulneráveis.<br />

Acrescentava que mesmo seu<br />

programa educacional era limita<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> suas conclusões, deveria<br />

incluir o ensino das ciências<br />

políticas, para que daí pudessem<br />

surgir os líderes tão necessários ao<br />

movimento negro.<br />

Em uma época onde a violência<br />

<strong>contra</strong> os negros alcançava níveis<br />

alarmantes, Du Bois passaria então<br />

a defender a luta política <strong>do</strong>s<br />

negros pela conquista de direitos<br />

democráticos que de fato resguardassem<br />

a integridade física de seu<br />

povo, mas que também assegurassem<br />

as mesmas oportunidades<br />

e conquistas trabalhistas que os<br />

brancos na indústria.<br />

Cada vez mais convenci<strong>do</strong> destas<br />

conclusões, Du Bois se tornará<br />

também um influente líder negro,<br />

um <strong>do</strong>s maiores da primeira metade<br />

<strong>do</strong> século XX, através de sua<br />

militância política e cultural na<br />

NAACP, sigla em inglês para Associação<br />

Nacional para o Avanço das<br />

Pessoas de Cor.<br />

Em 1900, descontente com a<br />

política de Washington, Du Bois<br />

participará <strong>do</strong> Congresso Pan-<br />

Africano de Sylvester William.<br />

Retornan<strong>do</strong> aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

em 1903 romperá definitivamente<br />

com Washington. Dois anos mais<br />

tarde, fundará o histórico Movimento<br />

Niágara, volta<strong>do</strong> para a luta<br />

política <strong>do</strong>s negros que Washington<br />

rejeitava.<br />

O grupo encerraria suas atividades<br />

em 1909, mas apenas um<br />

ano mais tarde, em 1910, Du Bois<br />

estaria entre os funda<strong>do</strong>res da influente<br />

NAACP, organização em<br />

atividade até os dias de hoje.<br />

Entre os princípios políticos<br />

que elaborou, defendeu que entre<br />

a população negra existia uma<br />

vanguarda culta, intelectualmente<br />

esclarecida, que tinha o dever de se<br />

engajar na luta <strong>do</strong> povo negro por<br />

melhores condições de existência.<br />

Esta concepção, que possui um<br />

paralelo óbvio com o conceito marxista<br />

de vanguarda política, faria<br />

com que Du Bois voltasse a propaganda<br />

política de sua organização<br />

equivocamente, sempre para pequenas<br />

elites intelectuais, ao invés<br />

da mobilização verdadeiramente<br />

ampla das massas negras no País.<br />

Outro aspecto que Du Bois levantou<br />

pela primeira vez, e que<br />

teria grande influência sobre a<br />

literatura negra no perío<strong>do</strong> posterior,<br />

era a grande contribuição<br />

cultural que os negros deram ao<br />

país, mas que os brancos esforçavam<br />

por manter como uma cultura<br />

marginal aos olhos de to<strong>do</strong>s. Em<br />

um de seus ensaios de artigos políticos<br />

mais importantes, As Almas<br />

<strong>do</strong> Povo Negro, ele refletirá sobre<br />

o assunto. “Nossa canção, nosso<br />

trabalho, nossa disposição e advertência<br />

têm si<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s a esta nação<br />

em irmandade de sangue. Tais dádivas<br />

não serão dignas de oferecer?<br />

Nem nosso trabalho e empenho? A<br />

América seria a América sem o seu<br />

povo negro?”. Perguntas decisivas<br />

para o surgimento de uma nova visão<br />

a respeito <strong>do</strong> caráter da nação<br />

norte-americana, onde a cultura<br />

própria <strong>do</strong>s negros teria desempenha<strong>do</strong><br />

um papel decisivo na formação<br />

de sua nacionalidade.<br />

Esta será uma das principais<br />

tarefas que os escritores negros da<br />

Renascença <strong>do</strong> Harlem irão buscar<br />

resolver a partir da década de<br />

1920. O que trás à tona, por sua<br />

vez, a grande similaridade que a<br />

moderna literatura negra terá com<br />

outros modernismos americanos<br />

e sua busca pela representação artística<br />

da formação original de sua<br />

própria cultura.<br />

Du Bois e o NAACP, cuja sede estava<br />

instalada no Harlem, teriam<br />

grande influência e participação<br />

Um <strong>do</strong>s objetivos mais essenciais que motivará<br />

a maioria <strong>do</strong>s escritores negros no século XX,<br />

será o programa pan-africano surgi<strong>do</strong> na virada<br />

<strong>do</strong> século e propaga<strong>do</strong> por diferentes intelectuais<br />

negros em sua militância. Apresentamos a seguir<br />

um resumo destas idéias de forma panorâmica<br />

em uma sociedade branca que o<br />

desprezava, afirman<strong>do</strong> que o negro<br />

deveria trilhar seu próprio<br />

caminho. Era um defensor da<br />

igualdade de direitos <strong>do</strong>s negros<br />

diante <strong>do</strong>s brancos, mas não da<br />

integração das duas populações.<br />

Buscou apoio para suas<br />

idéias entre diversos setores<br />

burgueses, tanto no Norte<br />

quanto no Sul. Iniciativa bem<br />

sucedida devi<strong>do</strong> tanto ao caráter<br />

modera<strong>do</strong> de suas posições,<br />

quan<strong>do</strong> ao grande talento de<br />

Washington como político e líder<br />

carismático.<br />

O Compromisso de<br />

Atlanta e a defesa<br />

da segregação racial<br />

Como sua política se baseava<br />

em formulações puramente<br />

econômicas, lutou pela criação<br />

de escolas, universidades e instituições<br />

de qualificação técnica<br />

profissional voltadas para o ingresso<br />

<strong>do</strong>s negros na indústria.<br />

Ele mesmo foi diretor de uma<br />

importante escola para negros,<br />

o Instituto de Tuskegee, no Alabama,<br />

a partir de 1881 e até sua<br />

morte em 1915.<br />

O auge da popularidade de<br />

Washington se deu por volta de<br />

1895, ocasião em que conseguiu<br />

consolidar a unidade entre industriais<br />

<strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Sul pela<br />

qual Washington tanto aguardara,<br />

através de um famoso discurso<br />

mais tarde lembra<strong>do</strong> como<br />

o Compromisso de Atlanta.<br />

Pronuncia<strong>do</strong> para uma platéia<br />

de industriais brancos da<br />

Atlanta Cotton States, Booker<br />

T. Washington apresentava de<br />

forma mais acabada suas idéias<br />

para a solução <strong>do</strong> problema <strong>do</strong>s<br />

negros nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Aí ele diria: “Em todas as coisas<br />

puramente sociais, podemos<br />

ser tão separa<strong>do</strong>s como os cinco<br />

neste movimento literário negro,<br />

organizan<strong>do</strong>, publican<strong>do</strong> e promoven<strong>do</strong><br />

muitos destes escritores nacional<br />

e internacionalmente.<br />

O pan-africanismo<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

W.E.B. Du Bois fora um intelectual<br />

negro singular em seu país.<br />

Nasci<strong>do</strong> em um família burguesa,<br />

teve oportunidade de estudar nos<br />

melhores colégios na juventude.<br />

Foi o primeiro negro norte-americano<br />

a formar-se na Universidade<br />

de Harvard e posteriormente na<br />

Universidade de Berlim, na Alemanha.<br />

Nestas instituições, estudan<strong>do</strong><br />

as mais avançadas idéias de liberdade<br />

e democracia, baseadas na<br />

tradição alemã, inglesa e norteamericana,<br />

percebeu que o problema<br />

da opressão <strong>do</strong> negro era<br />

assunto proibi<strong>do</strong> para discussão,<br />

relega<strong>do</strong> a segun<strong>do</strong> plano, e nunca<br />

apresenta<strong>do</strong> como uma <strong>contra</strong>dição<br />

de fato.<br />

Sua experiência militante o levaria<br />

<strong>do</strong> programa educacional de<br />

Washington, à luta política de fato<br />

no movimento Niágara e posteriormente<br />

na NAACP.<br />

Sempre buscou relacionar a luta<br />

<strong>do</strong>s negros em seu país com aquela<br />

travada em outras nações negras.<br />

Seu primeiro contato com estas<br />

idéias ocorreu em 1900, através de<br />

de<strong>do</strong>s e, no entanto, podemos<br />

ser um, como a mão, em todas<br />

as coisas essenciais ao progresso<br />

mútuo”.<br />

Reafirmaria o descaso da sociedade<br />

branca em combater o<br />

problema <strong>do</strong> racismo no interior<br />

<strong>do</strong> País, mas se posicionava <strong>contra</strong><br />

a integração das raças: “os<br />

mais sábios entre minha raça<br />

entendem que a agitação em<br />

torno das questões de igualdade<br />

social é a mais extrema loucura”.<br />

Suas posições iam ao encontro<br />

tanto aos interesses <strong>do</strong>s capitalistas<br />

<strong>do</strong> Sul, que encarava<br />

estas idéias como a capitulação<br />

definitiva das idéias de igualdade<br />

entre as raças; quanto <strong>do</strong><br />

Norte que via aí a possibilidade<br />

de um lucrativo trabalho conjunto.<br />

Este acor<strong>do</strong> – apelida<strong>do</strong><br />

posteriormente por W. E. B.<br />

Du Bois como “Acomodação de<br />

Atlanta” – tornaria Washington<br />

o mais influente líder negro de<br />

sua geração.<br />

Suas posições só podem<br />

ser corretamente compreendidas<br />

diante <strong>do</strong> fato que, em<br />

sua época, estimula<strong>do</strong>s pela<br />

burguesia norte-americana, a<br />

hostilidade <strong>do</strong>s brancos para<br />

com os negros era gigantesca,<br />

de maneira que muitos setores<br />

eram leva<strong>do</strong>s a encarar o<br />

fim da segregação como uma<br />

impossibilidade, ou simplesmente<br />

nociva para os negros.<br />

Posições que, no entanto, que<br />

seriam duramente combatidas<br />

e criticadas na etapa seguinte.<br />

Defenden<strong>do</strong> a segregação,<br />

Washington conclui que o problema<br />

da opressão <strong>do</strong> negro só<br />

poderia ser contorna<strong>do</strong> com sua<br />

ascensão econômica, através da<br />

formação educacional e técnica<br />

pra o merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />

O grande sucesso <strong>do</strong> programa<br />

de ensino <strong>do</strong> Instituto de<br />

Tuskegee também daria uma<br />

Sylvester William, por ocasião <strong>do</strong><br />

Congresso Pan-Africano <strong>do</strong> qual<br />

participava como delega<strong>do</strong>. Estas<br />

idéias confluiriam com as que lhe<br />

seriam apresentadas em 1906, assistin<strong>do</strong><br />

a uma palestra de Franz<br />

Boas na Universidade de Atlanta,<br />

apresentan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s pioneiros<br />

sobre a importância da cultura <strong>do</strong>s<br />

negros subsaarianos na para o desenvolvimento<br />

das antigas civilizações<br />

<strong>do</strong> Mediterrâneo.<br />

Nestes anos, Du Bois passaria<br />

cada vez mais a relacionar o problema<br />

da opressão <strong>do</strong> negro em<br />

torno de um problema geral, que<br />

unificava a to<strong>do</strong>s os movimentos<br />

negros.<br />

Na medida em que percebia o<br />

permanente encobrimento das<br />

contribuições originais <strong>do</strong>s negros<br />

à cultura e à sociedade em geral,<br />

motivada por uma <strong>do</strong>minação política<br />

comum a to<strong>do</strong>s eles, Du Bois<br />

foi aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> suas idéias humanistas<br />

da juventude em virtude<br />

de uma nova consciência da real situação<br />

de opressão <strong>do</strong>s negros pelo<br />

colonialismo e pelo imperialismo,<br />

cujo exemplo norte-americano era<br />

apenas uma expressão particular<br />

de um problema geral. Em outras<br />

palavras, um verdadeiro humanismo,<br />

que compreendia agora o<br />

problema <strong>do</strong> negro e não mais o<br />

pseu<strong>do</strong>-humanismo ensina<strong>do</strong> pelas<br />

universidades das metrópoles<br />

coloniais.<br />

A obra de Du Bois seria a importante<br />

expansão das fronteiras<br />

contribuição decisiva para a<br />

influência de suas idéias. Seu<br />

programa concilia<strong>do</strong>r, que se<br />

declarava também <strong>contra</strong> a luta<br />

sindical política, conseguiu um<br />

apoio imenso de inúmeros setores<br />

de industriais, e mesmo de<br />

políticos no <strong>governo</strong>, como presidente<br />

norte-americano Theo<strong>do</strong>re<br />

Roosevelt.<br />

Isso porque Washington era<br />

também <strong>contra</strong> a revolta social<br />

<strong>do</strong>s negros, favorável a uma<br />

convivência pacífica, que seria<br />

alicerçada na resolução <strong>do</strong>s<br />

problemas <strong>do</strong>s negros através<br />

de sua própria iniciativa independente<br />

<strong>do</strong>s brancos, no que<br />

ele chamou de “auto-ajuda”.<br />

Formulação que, apesar de limitada,<br />

era importante em diversos<br />

aspectos, expressan<strong>do</strong> <strong>já</strong> a<br />

consciência que o problema <strong>do</strong>s<br />

negros só poderia ser resolvi<strong>do</strong><br />

pelos próprios negros, e não da<br />

iniciativa <strong>do</strong>s brancos, como<br />

acreditavam outros setores <strong>do</strong><br />

movimento negro nesta época.<br />

Durante algum tempo, seu<br />

programa educacional alcançaria<br />

grandes êxitos, ten<strong>do</strong><br />

como principal virtude a de<br />

ter dissemina<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o<br />

país a idéia de que a educação<br />

industrial <strong>do</strong>s negros era fundamental<br />

para sua independência<br />

econômica, e parte de<br />

sua luta pela libertação política,<br />

conclusão que Washington<br />

ignorava mas que seria tirada<br />

pelo movimento negro posterior.<br />

Na virada <strong>do</strong> século, a política<br />

de Washington começaria<br />

a ser criticada de forma cautelosa,<br />

mas determinada, por<br />

um de seus segui<strong>do</strong>res, que se<br />

tornaria, a partir <strong>do</strong> novo século,<br />

seu mais duro e influente<br />

opositor, o intelectual e militante<br />

negro William Edward<br />

Burghardt Du Bois.<br />

<strong>do</strong> provinciano movimento negro<br />

norte-americano, para o terreno<br />

favoravelmente mais amplo <strong>do</strong><br />

pan-africanismo. Movimento internacionalista<br />

por excelência. Seu<br />

programa em defesa da libertação<br />

negra, na etapa madura, se alinharia<br />

em torno de um eixo político<br />

defini<strong>do</strong> de apoio a todas as nações<br />

oprimidas pelo imperialismo,<br />

como os países asiáticos e da África<br />

Branca.<br />

Em uma palestra de 1920 ele<br />

afirmará:“É evidente que, em face<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento da África<br />

Central, o Egito deve ser livre e<br />

independente, no grande caminho<br />

que conduz a uma Índia livre e independente,<br />

ao passo que o Marrocos,<br />

a Argélia, a Tunísia e Trípoli<br />

devem religar-se à Europa, modernizan<strong>do</strong>-se<br />

na independência”.<br />

Idéias que mostram uma aproximação<br />

de Du Bois <strong>do</strong> programa <strong>do</strong><br />

internacionalismo revolucionário<br />

da classe operária e sua defesa das<br />

nações oprimidas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Parte<br />

inerente da revolução socialista,<br />

defendi<strong>do</strong> pelos marxistas.<br />

Antes de Du Bois, não havia<br />

intercâmbio algum entre as experiências<br />

políticas e idéias <strong>do</strong>s<br />

movimentos africanos e o norteamericano.<br />

Esta talvez tenha si<strong>do</strong><br />

sua obra mais importante, consolidada<br />

a partir <strong>do</strong>s importantes congressos<br />

pan-africanos promovi<strong>do</strong>s<br />

por Du Bois em diversos países ao<br />

longo de toda a primeira metade<br />

<strong>do</strong> século XX.


30 de maio de 2010<br />

Com Du Bois, concretizouse<br />

finalmente o programa<br />

pan-africano de unificação <strong>do</strong><br />

movimento negro internacional<br />

preconiza<strong>do</strong> por Sylvester<br />

Williams. Programa que<br />

hoje é, com maior ou menor<br />

consequência, parte inerente<br />

a to<strong>do</strong>s os nacionalismos negros<br />

africanos, e que na época<br />

de Du Bois, desempenhou o<br />

papel fundamental de preparação<br />

para os êxitos políticos<br />

<strong>do</strong>s negros em suas lutas pela<br />

independência na África e o<br />

fim da segregação racial nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s nas décadas<br />

de 1950-60-70.<br />

O primeiro destes congressos<br />

foi organiza<strong>do</strong> imediatamente<br />

após o término da<br />

Primeira Guerra, impulsiona<strong>do</strong><br />

pela gigantesca crise revolucionária<br />

que se seguiu a ela<br />

e em meio da qual eclodiu a<br />

Revolução Russa de 1917.<br />

O Congresso Pan-Africano<br />

de Paris foi promovi<strong>do</strong> em<br />

1919, em meio a uma enorme<br />

crise racial que se espalhava<br />

por to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Apenas neste ano, 83 negros<br />

foram lincha<strong>do</strong>s por grupos<br />

racistas, 11 deles queima<strong>do</strong>s<br />

vivos.<br />

O congresso contou com<br />

cerca de 50 delega<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

Os primeiros congressos pan-africanos<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Caribe<br />

e África, principalmente das<br />

colônias francesas e britânicas,<br />

discutin<strong>do</strong> os problemas<br />

políticos <strong>do</strong> momento, como<br />

a defesa da independência<br />

das ex-colônias alemãs, e a<br />

urgente necessidade de negros<br />

disporem de si mesmos,<br />

tanto na África, quanto no<br />

Caribe e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. O<br />

principal argumento utiliza<strong>do</strong><br />

por estes intelectuais,<br />

era o fato de 100 mil negros<br />

norte-americanos terem si<strong>do</strong><br />

envia<strong>do</strong>s a lutar na Guerra, e<br />

estes mesmos homens, sem<br />

desertar, retornaram vitoriosos<br />

ao seu país, voltan<strong>do</strong>, no<br />

entanto, a ser trata<strong>do</strong>s como<br />

cidadãos de segunda classe e<br />

não como heróis nacionais,<br />

como seria natural. A guerra<br />

de fato havia acentua<strong>do</strong> como<br />

nunca as <strong>contra</strong>dições da sociedade<br />

norte-americana,<br />

responsável pelo rápi<strong>do</strong> amadurecimento<br />

da consciência<br />

destes negros em seu país. A<br />

organização deste congresso<br />

pan-africano era um resulta<strong>do</strong><br />

disso.<br />

O Segun<strong>do</strong> congresso ocorreu<br />

pouco mais tarde, em<br />

1921, e <strong>já</strong> contaria desta vez<br />

com certa resistência <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s<br />

coloniais. Contorna<strong>do</strong><br />

o problema, a reunião foi<br />

realizada em Londres, com a<br />

presença agora mais expressiva<br />

de 130 delega<strong>do</strong>s, a maioria<br />

deles vin<strong>do</strong>s das colônias<br />

africanas. Este 2º congresso<br />

teve como iniciativa mais importante,<br />

a redação de uma<br />

declaração pública da organização,<br />

a ser entregue aos<br />

<strong>governo</strong>s e publica<strong>do</strong> na imprensa,<br />

defenden<strong>do</strong> a igualdade<br />

de direitos para negros<br />

e brancos.<br />

“Menos um fato <strong>do</strong><br />

que uma idéia”<br />

Já no 3º Congresso Pan-<br />

Africano, ocorri<strong>do</strong> também<br />

em Londres, o movimento<br />

enfrentava resistência tanto<br />

<strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s comunistas, que<br />

criticavam a falta de abrangência<br />

das iniciativas <strong>do</strong> grupo<br />

como “pequeno-burguesas”,<br />

quanto <strong>do</strong>s adeptos de<br />

um novo movimento político<br />

negro que <strong>já</strong> se formava no<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s em torno <strong>do</strong><br />

líder carismático jamaicano<br />

Marcus Garvey, opositor de<br />

Du Bois. Neste congresso,<br />

Bu Bois fazia um primeiro<br />

balanço <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> pan-africanismo, reconhecen<strong>do</strong><br />

que, naquele momento,<br />

ele era “menos um fato <strong>do</strong> que<br />

uma idéia”.<br />

Um quarto congresso seria<br />

realiza<strong>do</strong> ainda em Nova<br />

Iorque, com a presença <strong>já</strong> de<br />

208 delega<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s de mais<br />

de uma dezena de países,<br />

onde começaria <strong>já</strong> a tomar<br />

um corpo político mais defini<strong>do</strong><br />

as idéias pan-africanas.<br />

A época, porém, ainda não<br />

era favorável à formação de<br />

um movimento pan-africano<br />

realmente massivo, paralisia<br />

que se refletiria na maneira<br />

como Du Bois encarava o problema<br />

nesta época. Segun<strong>do</strong><br />

ele via, tratava-se “de um gesto<br />

vazio, simplesmente destina<strong>do</strong><br />

a conservar viva a idéia<br />

pan-africana”, mas que não se<br />

refletiria na criação de uma<br />

organização prática.<br />

O grande turbilhão de crise<br />

em que mergulharia o mun<strong>do</strong><br />

no perío<strong>do</strong> seguinte impossibilitaria<br />

a realização de um<br />

quinto congresso. Suspenden<strong>do</strong><br />

durante duas décadas<br />

as atividades pan-africanas.<br />

Em 1929, o crack da Bolsa<br />

de Nova Iorque promoveria<br />

uma destruição sem precedentes<br />

da economia capitalista<br />

e a retomada <strong>do</strong> ascenso<br />

revolucionário da classe operária<br />

internacional. A burguesia<br />

por sua vez recorreria<br />

ao fascismo para sustentar<br />

seus regimes políticos, levan<strong>do</strong><br />

à catástrofe social da<br />

Segunda Guerra. De maneira<br />

que apenas no segun<strong>do</strong> pósguerra<br />

é que o movimento<br />

pan-africanista conseguiria<br />

se reorganizar.<br />

Antes disso, porém, ainda<br />

Marcus Garvey e o movimento de<br />

“retorno à África”<br />

País que se destacará como<br />

a pátria de importantes pensa<strong>do</strong>res<br />

e literatos negros <strong>do</strong><br />

início <strong>do</strong> século XX, será a Jamaica,<br />

a mais importante colônia<br />

inglesa <strong>do</strong> Caribe. Pela<br />

familiaridade da língua inglesa,<br />

os representantes <strong>do</strong> movimento<br />

negro que aí nasceriam,<br />

manteriam um permanente<br />

contato com os negros norteamericanos,<br />

chegan<strong>do</strong> mesmo<br />

a desenvolver parte importante<br />

de suas atividades em meio à<br />

fermentação cultural e política<br />

que ocorria no Harlem da década<br />

de 1920.<br />

Da mesma forma que no<br />

Haiti, na Jamaica a população<br />

indígena nativa foi quase que<br />

completamente exterminada<br />

no processo de colonização,<br />

dan<strong>do</strong> lugar aos negros importa<strong>do</strong>s<br />

da África para o trabalho<br />

nas lavouras de açúcar a partir<br />

<strong>do</strong> século XVII. Ainda nos<br />

primeiros anos <strong>do</strong> século XIX,<br />

a população negra da ilha era<br />

quase 20 vezes maior que a população<br />

branca, formada por<br />

ingleses e crioulos (brancos<br />

nasci<strong>do</strong>s na Jamaica). Ali a escravidão<br />

foi abolida em 1838,<br />

em meio a permanentes revoltas<br />

de escravos.<br />

Já em finais <strong>do</strong> século, em<br />

1887, nasceria na Jamaica um<br />

<strong>do</strong>s maiores representantes <strong>do</strong><br />

nacionalismo negro internacional,<br />

o pensa<strong>do</strong>r, político e<br />

poeta Marcus Garvey.<br />

O nacionalismo<br />

negro jamaicano<br />

Garvey cresceu em meio ao<br />

movimento operário jamaicano,<br />

participan<strong>do</strong> de sua primeira<br />

greve <strong>já</strong> em 1907. Em<br />

1912, ele viaja para Londres,<br />

onde entrará em contato com<br />

o movimento que se formava<br />

<strong>contra</strong> o imperialismo britânico.<br />

Militan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> de trabalha<strong>do</strong>res<br />

e intelectuais negros,<br />

ele gradualmente se encaminha<br />

para uma luta em defesa<br />

<strong>do</strong>s povos negros oprimi<strong>do</strong>s<br />

pelo colonialismo europeu. O<br />

mais importante destes contatos<br />

foi o que travaria com o<br />

sudanês Mohammed Ali Duse,<br />

representante de um incipiente<br />

nacionalismo negro que defendia<br />

<strong>já</strong> a valorização da cultura<br />

africana entre os povos negros<br />

espalha<strong>do</strong>s pelo mun<strong>do</strong>.<br />

Retornan<strong>do</strong> à Jamaica em<br />

1914, Harvey criará uma organização<br />

política em defesa <strong>do</strong>s<br />

negros, a UNIA-ACL, Associação<br />

Conserva<strong>do</strong>ra Universal<br />

e Liga das Comunidades Africanas<br />

para o Progresso Negro,<br />

propaga<strong>do</strong>ra de um nacionalismo<br />

negro em franca oposição<br />

à <strong>do</strong>minação européia sobre<br />

os países negros na África e<br />

Caribe. Seu movimento buscava,<br />

sobretu<strong>do</strong>, a unidade <strong>do</strong>s<br />

povos negros internacionais e<br />

a independência das colônias<br />

africanas e caribenhas, em<br />

defesa <strong>do</strong> desenvolvimento da<br />

África.<br />

Garvey se tornará o principal<br />

representante <strong>do</strong> nacionalismo<br />

negro na primeira metade<br />

<strong>do</strong> século XX, lutan<strong>do</strong> pela<br />

formação de uma nação soberana<br />

governada pelos negros.<br />

Tal movimento representaria<br />

uma etapa específica da formação<br />

política da população<br />

negra, em luta tanto no Caribe<br />

quanto na África, pelo fim da<br />

<strong>do</strong>minação colonial branca.<br />

A UNIA-ACL, era também<br />

ao mesmo tempo uma organização<br />

religiosa, cujo slogan<br />

era “Um Deus! Um objetivo!<br />

Um destino!”. Com suas idéias<br />

formadas a partir de uma mistura<br />

de religiões africanas com<br />

o cristianismo, que pregava a<br />

existência de um Deus negro,<br />

representante espiritual de to<strong>do</strong>s<br />

os povos negros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

cujo destino era retornar à sua<br />

“Pátria Mãe”, os países subsaarianos<br />

da África. Movimento<br />

que influenciaria na mesma<br />

época o nascimento da religião<br />

rastafári na Jamaica.<br />

Em seu país, a organização<br />

dirigida por Garvey se concentraria<br />

na formação intelectual<br />

da população negra, crian<strong>do</strong><br />

escolas e cursos técnicos profissionalizantes<br />

para a introdução<br />

<strong>do</strong> negro no merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho jamaicano, além de<br />

procurar formar missionários<br />

propaga<strong>do</strong>res da religião de<br />

Garvey. Estas idéias tiveram<br />

impacto, sobretu<strong>do</strong>, entre os<br />

negros operários, mas eram<br />

indiferentes à classe média e<br />

setores negros da burguesia<br />

jamaicana, fato que levaria<br />

Garvey a buscar um ponto de<br />

apoio para sua organização nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

A grande afinidade <strong>do</strong> programa<br />

de Garvey com o defendi<strong>do</strong><br />

por Washington iniciaria<br />

um longo perío<strong>do</strong> de correspondências<br />

entre os <strong>do</strong>is, até<br />

Garvey decidir-se enfim pela<br />

mudança para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

o que aconteceria poucos<br />

meses depois da morte de Washington<br />

em 1915.<br />

A UNIA em Nova<br />

Iorque<br />

Instalan<strong>do</strong> a sede da UNIA<br />

no Harlem, em Nova Iorque, os<br />

garveísmo en<strong>contra</strong>rá um terreno<br />

fértil para se desenvolver,<br />

tornan<strong>do</strong>-se, anos seguintes,<br />

cada vez mais radical em função<br />

da grande perseguição racial<br />

vivida pelos negros.<br />

O ponto alto da UNIA enquanto<br />

organização negra de<br />

massas ocorreu dez anos mais<br />

tarde, em 1925, quan<strong>do</strong> levou<br />

às ruas 25.000 negros norteamericanos<br />

reuni<strong>do</strong>s em um<br />

grande comício no Madison<br />

Square Garden, onde foi aprovada<br />

a Declaração <strong>do</strong>s Direitos<br />

<strong>do</strong>s Povos Negros <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>,<br />

uma afirmação <strong>do</strong> negro <strong>contra</strong><br />

o racismo e sua opressão<br />

material. A UNIA era então<br />

uma das mais influentes organizações<br />

negras internacionalmente,<br />

com um jornal regular<br />

publica<strong>do</strong> em três idiomas, inglês,<br />

francês e espanhol, além<br />

de sedes espalhadas pela Jamaica,<br />

Cuba, Costa Rica, Panamá,<br />

Venezuela, Equa<strong>do</strong>r, Serra<br />

Leoa, Libéria, Gana, Namíbia,<br />

e África <strong>do</strong> Sul.<br />

O movimento cria<strong>do</strong> por<br />

Garvey era uma extensão e<br />

ampliação daquele cria<strong>do</strong> por<br />

Booker T. Washington. Da<br />

mesma forma que Washington,<br />

Garvey será um intransigente<br />

defensor da segregação<br />

racial. Acreditava que os negros<br />

deveriam se posicionar<br />

<strong>contra</strong> sua assimilação pela<br />

sociedade branca e aban<strong>do</strong>nar<br />

to<strong>do</strong>s os países onde existia<br />

enquanto uma minoria, retornan<strong>do</strong><br />

à África para criar um<br />

verdadeiro continente negro<br />

soberano.<br />

Concentrará também boa<br />

parte de seus esforços na formação<br />

de um programa educacional<br />

para os negros e sua<br />

inserção na indústria, e desta<br />

forma, na sociedade.<br />

Com muito mais recursos <strong>do</strong><br />

que teve Washington, a UNIA<br />

organizará diversas empresas<br />

capitalistas onde trabalhavam<br />

exclusivamente negros, como<br />

as fábricas Negro Corporation,<br />

além de restaurantes, chapelarias,<br />

uma editora e uma cadeia<br />

de mercearias cooperativas.<br />

Seu plano mais ambicioso foi<br />

a formação de uma frota naval<br />

para assegurar autonomia comercial<br />

e política aos capitalistas<br />

negros na América e África.<br />

O caráter extremamente revolucionário<br />

deste movimento<br />

de massas, que pregava de maneira<br />

agressiva a insubmissão<br />

negra diante <strong>do</strong>s brancos, levaria<br />

inevitavelmente à perseguição<br />

política de Garvey,<br />

que acabaria preso em 1925 e<br />

extradita<strong>do</strong> <strong>do</strong> país <strong>do</strong>is anos<br />

mais tarde, levan<strong>do</strong> à dispersão<br />

<strong>do</strong> movimento. Seu exemplo,<br />

no entanto, teria grande<br />

influência sobre to<strong>do</strong>s os movimentos<br />

nacionalistas negros<br />

de sua época.<br />

A repressão <strong>contra</strong> Garvey<br />

e sua organização, revelaria o<br />

caráter profundamente reacionário<br />

da sociedade burguesa<br />

moderna. Deixan<strong>do</strong> clara a<br />

incapacidade <strong>do</strong> capitalismo<br />

em sua etapa imperialista de<br />

permitir o desenvolvimento de<br />

qualquer nação atrasada, que<br />

no caso <strong>do</strong>s negros era ainda<br />

mais agravada pela questão<br />

racial.<br />

Esta experiência marcaria <strong>já</strong><br />

o impasse em que se en<strong>contra</strong>ria<br />

o nacionalismo negro como<br />

programa de luta. O que foi<br />

apenas reafirma<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong><br />

seguinte.<br />

Mesmo após a independência<br />

das nações negras africanas,<br />

a <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> imperialismo<br />

sobre suas economias<br />

não é capaz de permitir qualquer<br />

efetivo desenvolvimento<br />

social, tornan<strong>do</strong> estas nações,<br />

ao contrário, o maior exemplo<br />

<strong>do</strong> caráter absolutamente nefasto<br />

da <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> imperialismo<br />

sobre o mun<strong>do</strong>.<br />

As idéias de Garvey, independentemente<br />

das insuficiências<br />

teóricas, teriam importância,<br />

sobretu<strong>do</strong>, no processo<br />

de auto-afirmação <strong>do</strong> negro<br />

tanto na Jamaica e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, quanto em to<strong>do</strong>s os<br />

países onde suas idéias puderam<br />

chegar, contribuin<strong>do</strong><br />

Marcus Garvey<br />

para a generalização de uma<br />

poderosa consciência política<br />

e o prenúncio de um novo radicalismo<br />

negro, desenvolvi<strong>do</strong><br />

Web Du Bois<br />

CULTURA B3<br />

nos anos 20, nasceria na América<br />

outro movimento negro<br />

fundamental para a propagação<br />

<strong>do</strong> pan-africanismo,<br />

cria<strong>do</strong> por Marcus Garvey na<br />

Jamaica, mas que teria grande<br />

influência principalmente<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, como sucessor<br />

das idéias de Booker T.<br />

Washington.<br />

nos movimentos nacionalistas<br />

africanos em processo de independência<br />

durante o segun<strong>do</strong><br />

pós guerra.


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B4<br />

a cultura negra no caribe francófono<br />

O SURGIMENTO DO<br />

CULTURALISMO<br />

NEGRO NO HAITI<br />

Joseph Anténor Firmin<br />

A rica tradição da literatura surgida<br />

nas colônias e ex-colônias francesas, e<br />

desenvolvida ao longo das décadas de 1920 e<br />

1930, teria como importante marco inicial, a<br />

atividade de teóricos culturais <strong>do</strong> movimento<br />

negro haitiano, um <strong>do</strong>s pontos de partida<br />

para o surgimento desta literatura<br />

Uma das primeiras conclusões<br />

a ser tiradas <strong>do</strong> movimento<br />

pan-africano, é que antes de ter<br />

se ergui<strong>do</strong> como uma influente<br />

corrente política <strong>do</strong>s negros em<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, ele foi um movimento<br />

cultural. Uma das ramificações<br />

mais importantes destas<br />

idéias se deu no Haiti, através<br />

<strong>do</strong> trabalho de importantes<br />

pensa<strong>do</strong>res negros que começaram<br />

a teorizar o problema da influência<br />

da cultura negra sobre<br />

seu país. Idéia que se estenderia<br />

para os demais países negros e<br />

se tornaria também outro <strong>do</strong>s<br />

importantes pontos de apoio sobre<br />

o qual se formaria a tradição<br />

literária <strong>do</strong>s negros.<br />

Uma das primeiras manifestações<br />

de afirmação <strong>do</strong> negro<br />

no mun<strong>do</strong> francófono surgiu<br />

em 1885, durante a reação direitista<br />

que se seguiu à abolição<br />

da escravidão. E em meio a uma<br />

ampla ofensiva de intelectuais<br />

racistas saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mais diversos<br />

antros reacionários europeus,<br />

surgiria, no Haiti, um importante<br />

opositor destas idéias,<br />

o antropólogo negro Joseph-<br />

Anténor Firmin, pensa<strong>do</strong>r que<br />

publicara então seu influente<br />

trata<strong>do</strong> De l’égalité des Races Humaines<br />

(Da Igualdade das Raças<br />

Humanas). Nele Firmin lançava<br />

mão de um rigoroso méto<strong>do</strong><br />

científico para demonstrar o caráter<br />

supersticioso das teorias<br />

coloniais sobre a inferioridade<br />

<strong>do</strong> negro perante o branco, cujo<br />

raciocínio se erguia, não sobre<br />

provas concretas e fatos científicos,<br />

mas sobre um mecanismo<br />

de <strong>do</strong>minação política e social.<br />

Em seu trabalho, Firmin concluía<br />

que “to<strong>do</strong>s os homens são<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s com as mesmas qualidades<br />

e os mesmos defeitos,<br />

sem distinção de cor ou forma<br />

anatômica. As raças são iguais”.<br />

O haitiano refutava nesta obra,<br />

as teses racistas de um <strong>do</strong>s mais<br />

notórios reacionários <strong>do</strong> século<br />

XIX, O conde francês Arthur de<br />

Gobineau, que expôs suas idéias<br />

na obra Essai sur l’inégalité des<br />

Races Humaines (Ensaio sobre a<br />

Desigualdade das Raças Humanas),<br />

afirman<strong>do</strong> a superioridade<br />

<strong>do</strong>s brancos europeus diante<br />

das demais raças. Segun<strong>do</strong> pregava<br />

Gobineau, a miscigenação<br />

racial condenava a humanidade<br />

à decadência física e intelectual.<br />

Uma de suas citações mais conhecidas<br />

é a frase em que afirmava:<br />

“Não creio que viemos<br />

<strong>do</strong>s macacos mas creio que vamos<br />

nessa direção”, se referin<strong>do</strong><br />

à crescente miscigenação racial<br />

que se seguiu à libertação <strong>do</strong>s<br />

escravos negros. Escritor que,<br />

ao passar pelo Brasil, em finais<br />

<strong>do</strong> século XIX, afirmou esta população<br />

estava fadada ao desaparecimento<br />

em virtude de sua<br />

origem miscigenada.<br />

Firmin se formara como<br />

um importante intelectual <strong>do</strong><br />

movimento negro haitiano,<br />

país cuja história exemplar de<br />

luta <strong>do</strong>s povos negros serviria<br />

como um poderoso exemplo<br />

para a auto-afirmação <strong>do</strong> valor<br />

<strong>do</strong> homem negro. Particularmente<br />

a genialidade de Toussaint<br />

L´Ouverture, a principal<br />

personalidade política por trás<br />

da abolição da escravidão e da<br />

independência <strong>do</strong> Haiti, seria<br />

um importante modelo para os<br />

intelectuais negros <strong>do</strong> final <strong>do</strong><br />

século XIX em sua luta <strong>contra</strong> as<br />

teorias racistas. Em um de seus<br />

escritos, Firmin prestaria sua<br />

homenagem ao revolucionário<br />

negro, assassina<strong>do</strong> por Napoleão<br />

Bonaparte: “Certamente,<br />

quan<strong>do</strong> uma raça produz uma<br />

individualidade tão maravilhosamente<br />

<strong>do</strong>tada quanto era<br />

a de Toussaint L´Ouverture, é<br />

impossível admitir que ela seja<br />

inferior a outras sem que isso<br />

demonstre uma cegueira ou<br />

uma ausência de lógica inconcebíveis.(...)<br />

No momento mesmo<br />

em que todas as universidades<br />

européias se reuniam para defender<br />

a teoria da desigualdade<br />

das raças, a inferioridade nativa<br />

e especial <strong>do</strong> Nigritien [negro<br />

haitiano], eu não faria mais <strong>do</strong><br />

que virar-lhes a cabeça... e mostrar-lhes<br />

o exemplo deste solda<strong>do</strong><br />

ilustre”.<br />

A evolução da consciência negra na obra de Jean Price-Mars<br />

O trabalho de Anténor<br />

Firmin teria grande influência<br />

sobre as idéias de outro<br />

antropólogo haitiano, Jean<br />

Price-Mars, futuro funda<strong>do</strong>r<br />

da etnologia, considera<strong>do</strong> hoje<br />

o mais influente pensa<strong>do</strong>r<br />

haitiano <strong>do</strong> século XX. Price-<br />

Mars seria um <strong>do</strong>s primeiros<br />

intelectuais negros a destacar<br />

a importância da cultura original<br />

africana para os povos<br />

negros nas Américas. Em seu<br />

país, ele atacaria duramente<br />

a subserviência a burguesia<br />

haitiana diante da cultura<br />

francesa, destacan<strong>do</strong>, por outro<br />

la<strong>do</strong>, o valor da cultura original<br />

surgida no Haiti. Ali os<br />

índios foram quase que totalmente<br />

dizima<strong>do</strong>s pela colonização<br />

espanhola durante o século<br />

XVI, sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>s<br />

pela mão de obra escrava <strong>do</strong>s<br />

negros africanos, que constituiriam,<br />

ao longo <strong>do</strong>s séculos<br />

seguintes, a parcela majoritária<br />

dessa população.<br />

Sua defesa mais importante<br />

da cultura nacional haitiana<br />

estaria exposta na obra Ainsi<br />

parla l’oncle (Assim Fala o Tio),<br />

publicada em 1928, que teria<br />

uma influência enorme entre<br />

a alta intelectualidade haitiana.<br />

Era um estu<strong>do</strong> minucioso<br />

da cultura negra original que<br />

havia se desenvolvi<strong>do</strong> no Haiti<br />

com a chegada <strong>do</strong>s escravos<br />

africanos ao país em mea<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> século XVI. Ao contrário<br />

da ideologia vigente, que tratava<br />

o negro como um povo<br />

sem história, sem moral, sem<br />

religião, que vivia na África<br />

na mais pura barbárie, Price-<br />

Mars irá justamente analisar<br />

que, ao contrário, os povos<br />

africanos eram porta<strong>do</strong>res de<br />

uma cultura própria, com características<br />

originais. Analisa<br />

deste mo<strong>do</strong> toda a riqueza<br />

de sua literatura oral, seus<br />

costumes, suas tradições religiosas,<br />

e as modificações sofridas<br />

pelo dialeto africano ao<br />

chegar no Haiti. Tal obra de<br />

Price-Mars surgia em um momento<br />

particularmente crítico<br />

da vida política de seu país.<br />

Em 1915, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

iniciavam uma intervenção<br />

militar no Haiti com o desembarque<br />

de milhares de marines<br />

na ilha. Esta ocupação<br />

era parte de sua política imperialista<br />

de expansionismo militar<br />

e <strong>do</strong>minação econômica<br />

que se manifestou de maneira<br />

particularmente agressiva nos<br />

países da América Central.<br />

Ganhava neste momento cada<br />

vez mais espaço em função da<br />

crise política em que vivia o<br />

imperialismo europeu <strong>desde</strong><br />

as últimas décadas <strong>do</strong> século<br />

XIX.<br />

O resgate da<br />

cultura nativa<br />

Para Price-Mars, a burguesia<br />

branca haitiana, política e<br />

culturalmente, era um mero<br />

apêndice da cultura burguesa<br />

européia, uma extensão <strong>do</strong><br />

antigo laço colonial branco<br />

em sua pátria negra por excelência.<br />

Ele veria, da mesma<br />

forma, a pequena-burguesia<br />

mulata de seu país, como uma<br />

elite igualmente afrancesada,<br />

cujo anseio era se “embranquecer”,<br />

esquecer de sua<br />

origem e se integrar à antiga<br />

metrópole colonial. Negavam<br />

assim ao mesmo tempo a necessidade<br />

de independência<br />

nacional e a cultura nacional<br />

haitiana, marcadamente negra.<br />

Baten<strong>do</strong> de frente com estes<br />

anseios, Price-Mars irá<br />

elaborar um programa confuso,<br />

mas que buscava resgatar<br />

o que ele considerava ser a<br />

verdadeira cultura haitiana, a<br />

defesa de suas raízes negras,<br />

das tradições folclóricas, a<br />

religião vodu, a origem africana,<br />

a vida rural, o dialeto<br />

kreyòl, seus mitos, lendas, a<br />

tradição da cultura oral, etc.<br />

Na África particularmente<br />

Price-Mars iria en<strong>contra</strong>r<br />

o mais rico sorve<strong>do</strong>uro cultural<br />

para a afirmação da<br />

nacionalidade de seu povo,<br />

em <strong>contra</strong>posição à chamada<br />

“cultura ocidental”, de origem<br />

greco-romana. O antropólogo<br />

irá estabelecer deste mo<strong>do</strong><br />

uma clara delimitação entre a<br />

“verdadeira” cultura <strong>do</strong> povo<br />

<strong>do</strong> Haiti, de origem africana;<br />

e os seus elementos exteriores,<br />

avessos ao caráter e ao<br />

temperamento de seu povo,<br />

manifestações da antiga <strong>do</strong>minação<br />

colonial francesa.<br />

Em sua obra clássica, em<br />

que levanta pela primeira vez<br />

esta questão, Assim Fala o Tio,<br />

Price-Mars escrevia: “Nossos<br />

antepassa<strong>do</strong>s? Mas em que<br />

posso eu sentir-me humilha<strong>do</strong><br />

de saber de onde viemos se<br />

levo minha marca de nobreza<br />

humana na fronte, como uma<br />

estrela radiante, e se em minha<br />

ascensão fizer mais luz,<br />

me sentir alivia<strong>do</strong> pela ferida<br />

sagrada <strong>do</strong> ideal?<br />

“Nossos antepassa<strong>do</strong>s?<br />

São antes de tu<strong>do</strong> os mortos<br />

cujos sofrimentos seculares,<br />

o valor, a inteligência e a sensibilidade<br />

se fundiram então<br />

no cadinho de São Domingos<br />

para nos fazer o que somos:<br />

seres livres?<br />

“Nossos antepassa<strong>do</strong>s? São<br />

os mortos cujos vícios e virtudes<br />

conjugadas falam muito<br />

baixo em nossos corações<br />

maus ou em nossa consciência<br />

heróica e altiva.<br />

“Nossos antepassa<strong>do</strong>s? São<br />

to<strong>do</strong>s aqueles que se levantaram<br />

lentamente da animalidade<br />

primitiva para desembocar<br />

no ser transitório que somos,<br />

ainda temerosos ante o desconheci<strong>do</strong><br />

que nos envolve, mas<br />

herdeiros da glória imarcescível<br />

de sermos homens. Porque<br />

nossos antepassa<strong>do</strong>s foram<br />

homens que padeceram, que<br />

amaram e ansiaram, e podemos,<br />

nós também, aspirar a<br />

plena dignidade de sermos<br />

homens apesar da brutal insolência<br />

<strong>do</strong>s imperialismos de<br />

toda laia”.<br />

Como fica absolutamente<br />

claro nesta passagem de sua<br />

obra, o senti<strong>do</strong> de sua defesa<br />

era resgatar o orgulho da raça<br />

negra, encaran<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong><br />

de lutas, sofrimento e miséria<br />

de seu povo como um aspecto<br />

de nobreza <strong>do</strong>s negros, e não,<br />

como era visto antes, de barbárie,<br />

de estigma social.<br />

Em um <strong>do</strong>s capítulos finais<br />

de seu livro, o antropólogo<br />

analisará que no Haiti nunca<br />

se formou uma verdadeira literatura<br />

nacional, que mesmo<br />

os maiores expoentes <strong>do</strong> século<br />

XIX sucumbiram diante<br />

da influência da cultura francesa,<br />

esconden<strong>do</strong>, o mais que<br />

podiam, o verdadeiro Haiti,<br />

um país negro, de dentro de<br />

suas obras.<br />

Esta era uma faceta nova<br />

Jean Price-Mars<br />

e original da ideologia panafricana,<br />

que nas décadas<br />

posteriores se mesclaria às<br />

formulações políticas <strong>do</strong> movimento<br />

negro. O próprio Du<br />

Bois <strong>já</strong> havia descoberto indícios<br />

desta nova visão da África,<br />

que influenciaria por sua<br />

vez os escritores negros <strong>do</strong><br />

Harlem durante a Renascença<br />

cultural.<br />

Tais idéias e conclusões de<br />

Price-Mars, mais desenvolvidas<br />

e elaboradas <strong>do</strong> que qualquer<br />

outro pensa<strong>do</strong>r negro,<br />

teriam uma enorme repercussão<br />

em to<strong>do</strong>s os países <strong>do</strong><br />

Caribe francófono, cuja influência<br />

teria particular importância<br />

na obra <strong>do</strong>s escritores<br />

que formariam o mais importante<br />

movimento de literatura<br />

moderna <strong>do</strong> Haiti, o Indigenismo,<br />

que representava, em<br />

essência, a introdução destes<br />

temas na literatura haitiana,<br />

forman<strong>do</strong> a primeira tradição<br />

da literatura negra <strong>do</strong> Caribe.<br />

A ocupação imperialista de 1915 no Haiti<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s assumiriam<br />

assim o controle de<br />

países como as Filipinas na<br />

Ásia; Panamá e Nicarágua na<br />

América Central continental;<br />

e Cuba, Porto Rico, República<br />

Dominicana e Haiti no Caribe.<br />

Estas ocupações, acompanhadas<br />

de um rígi<strong>do</strong> controle<br />

de seus <strong>governo</strong>s, desencadeariam<br />

uma onda de sucessivas<br />

crises políticas, geran<strong>do</strong><br />

grandes manifestações,<br />

revoltas populares, greves e<br />

revoluções, como foi o caso<br />

de Cuba em 1933 e Haiti em<br />

1934.<br />

No Haiti, as lutas políticas<br />

que se iniciavam deram lugar<br />

a um processo de despertar<br />

geral da consciência política e<br />

cultural da população negra,<br />

que constituía a maioria da<br />

nação haitiana. Este “despertar”,<br />

manifesto na forma de<br />

um grande movimento político<br />

nacionalista de libertação<br />

nacional, acentuaria as diversas<br />

tendências <strong>já</strong> latentes<br />

entre a população no senti<strong>do</strong><br />

de buscar um ponto de apoio<br />

no terreno cultural para esta<br />

luta política <strong>contra</strong> a <strong>do</strong>minação<br />

estrangeira.<br />

A ocupação militar norteamericana<br />

levantava por sua<br />

vez um problema anterior,<br />

expresso pela completa dependência<br />

da nação haitiana<br />

da cultura européia, particularmente<br />

a francesa que inicialmente<br />

colonizara o país.<br />

Este mesmo problema se manifestaria<br />

em diversos outros<br />

países por causas aparentemente<br />

diversas.<br />

De um ponto de vista geral,<br />

no entanto, todas elas<br />

expressavam uma tendência<br />

internacional de oposição à<br />

violenta <strong>do</strong>minação política<br />

e econômica <strong>do</strong> imperialismo<br />

sobre as nações oprimidas.<br />

No Brasil, Argentina, Chile,<br />

Cuba, México, etc., importantes<br />

movimentos modernistas<br />

se iniciariam como um resulta<strong>do</strong><br />

deste novo fenômeno<br />

internacional, parte da luta<br />

destas burguesias nacionais<br />

pela independência de suas<br />

nações também <strong>do</strong> ponto de<br />

vista da cultura. Daí viria a<br />

busca pela identidade nacional<br />

que nortearia to<strong>do</strong>s os<br />

modernismos latino-americanos.<br />

Assim, no Haiti, surgiriam<br />

importantes intelectuais que<br />

levantariam o problema da<br />

emancipação haitiana diante<br />

da cultura européia, levantan<strong>do</strong>,<br />

por outro la<strong>do</strong>, a necessidade<br />

de criação de uma<br />

arte que fosse a expressão<br />

mais direta de sua própria<br />

nacionalidade, independente<br />

<strong>do</strong>s modelos estrangeiros.


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B5<br />

a ruptura com o passa<strong>do</strong><br />

O MOVIMENTO<br />

INDIGENISTA<br />

HAITIANO<br />

Logo nos primeiros anos <strong>do</strong><br />

século XX, o Haiti vivia <strong>já</strong> uma<br />

intensa vida literária que se<br />

desenvolvia principalmente a<br />

partir de revistas e jornais, que<br />

representavam uma tradição<br />

nacional <strong>desde</strong> o século XIX.<br />

Uma das primeiras escolas<br />

literárias importantes a surgirem<br />

no País, que sustentaria<br />

ainda grande influência entre<br />

os escritores <strong>do</strong> novo século,<br />

seria a chamada Escola de 1836,<br />

movimento de inspiração romântica<br />

cujo principal teórico<br />

havia si<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r e militante<br />

político Emile Nau. Ele<br />

fora o primeiro homem a lançar<br />

um chama<strong>do</strong> geral aos cria<strong>do</strong>res<br />

haitianos a se livrarem<br />

da dependência cultural européia<br />

e produzirem literatura<br />

própria, com características<br />

nacionais, inspirada pela história<br />

e pela cultura haitianas.<br />

Movimento que em essência,<br />

era impulsiona<strong>do</strong> pelo triunfo<br />

<strong>do</strong> romantismo francês, rompen<strong>do</strong><br />

com a tradição classicista.<br />

Sua obra mais importante<br />

exemplificaria suas idéias,<br />

resgatan<strong>do</strong> a história remota<br />

haitiana dentro da nova tradição<br />

<strong>do</strong>s romances históricos.<br />

Era Histoire des caciques d’Haïti<br />

(História <strong>do</strong>s Caciques <strong>do</strong> Haiti),<br />

descreven<strong>do</strong> de forma apaixonada<br />

e grandiloqüente a tragédia<br />

<strong>do</strong>s primeiros líderes indígenas<br />

que viviam na ilha no<br />

momento em que os espanhóis<br />

lidera<strong>do</strong>s por Colombo desembarcaram<br />

em La Espanhola.<br />

Sob a influência das idéias<br />

de Emile Nau, nasceria o primeiro<br />

movimento indianista<br />

haitiano, com escritores como<br />

Beaubrun, Céligny, Coriolan,<br />

os irmãos Ar<strong>do</strong>uin e Ignace<br />

Nau, funda<strong>do</strong>r da sociedade<br />

e irmão de Emile. Grupo que<br />

atuaria em torno de revistas<br />

literárias como Le Républicain<br />

e L’Union.<br />

A ruptura proposta por estes<br />

escritores, bem como sua<br />

interpretação <strong>do</strong> que de fato<br />

era a sociedade haitiana, era,<br />

entretanto, bastante limitada,<br />

onde o problema <strong>do</strong> negro era<br />

Etzer Vilaire<br />

ainda completamente ignora<strong>do</strong>.<br />

Após a desagregação desta<br />

geração, um novo cânone literário<br />

estava estabeleci<strong>do</strong>, novamente<br />

subserviente à “grande<br />

literatura” francesa, conserva<strong>do</strong>r<br />

e elitiza<strong>do</strong>. Um <strong>do</strong>s representantes<br />

mais marcantes<br />

da geração posterior de poetas<br />

haitianos, totalmente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s<br />

pela tradição francesa,<br />

seria Oswald Durand, representante<br />

da segunda metade<br />

<strong>do</strong> século XIX que se especializara<br />

em poemas românticos ao<br />

modelo de Victor Hugo, cujas<br />

obras, muitas vezes pareciam<br />

mero pastiche da inspiração<br />

original de Hugo.<br />

De fato, muitos críticos destacariam<br />

a mediocridade em<br />

que caíra a poesia haitiana <strong>do</strong><br />

final <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong><br />

século XX. Esta era uma literatura<br />

totalmente dependente<br />

da tradição francesa, tanto <strong>do</strong><br />

ponto de vista da forma, com<br />

seus sonetos, baladas, versos<br />

alexandrinos, quanto <strong>do</strong> ponto<br />

de vista <strong>do</strong>s temas, retratan<strong>do</strong><br />

a infância, a nostalgia da vida<br />

campestre, a natureza, a idealização<br />

<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, os sofrimentos<br />

<strong>do</strong> amor. Algo que o poeta<br />

Léon Damas, posteriormente<br />

apelidaria <strong>desde</strong>nhosamente<br />

de “poetas da decalcomania”.<br />

Artistas incapazes de se interessarem<br />

pelo verdadeiro<br />

temperamento haitiano, hipnotiza<strong>do</strong>s<br />

pelas fragrâncias suaves<br />

sopradas pelos ventos <strong>do</strong><br />

Atlântico.<br />

O resulta<strong>do</strong> inevitável da<br />

poesia produzida neste perío<strong>do</strong><br />

era seu hedion<strong>do</strong> artificialismo,<br />

a tentativa de transplantar<br />

temas caros à vida<br />

francesa para um país miserável,<br />

com uma população em<br />

grande parte analfabeta cuja<br />

vida era um permanente calvário,<br />

soterrada pela falta de<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> país. Seria<br />

justamente esta face flagelada<br />

<strong>do</strong> homem negro haitiano que<br />

a nova geração iria reivindicar<br />

em sua literatura.<br />

Carl Brouard<br />

A renovação da<br />

poesia no século XX<br />

Uma iniciativa importante<br />

de ruptura com esta situação<br />

surgiria apenas em 1895,<br />

com a publicação da revista La<br />

Ronde, de onde surgiria uma<br />

corrente poética de escritores<br />

como Petín Géromé, Etzer Vilaire<br />

e Sylvain Georges, que <strong>já</strong><br />

prenunciavam um interesse<br />

renova<strong>do</strong> pelo problema da<br />

cultura haitiana, dispostos a<br />

modificar e aprofundar as velhas<br />

idéias estabelecidas pela<br />

Geração de 1836.<br />

A situação política <strong>do</strong> país<br />

ainda não havia amadureci<strong>do</strong><br />

suficientemente para uma<br />

ruptura verdadeiramente radical,<br />

mas esta tendência seria<br />

muito bem expressa em obras<br />

como Dix Hommes Noirs (Dez<br />

Homens Negros), de 1901, poema<br />

escrito por Etzer Vilaire<br />

retratan<strong>do</strong> a grande angústia<br />

<strong>do</strong> poeta diante da miséria da<br />

população, em particular <strong>do</strong>s<br />

negros, que são os personagens<br />

centrais deste grande poema.<br />

Este era, ainda assim, apenas<br />

um perío<strong>do</strong> de preparação<br />

para um movimento literário<br />

mais consistente que surgiria<br />

apenas na década de 1920 impulsiona<strong>do</strong><br />

por um fato político<br />

da maior importância. A<br />

ocupação militar norte-americana<br />

no Haiti em 1915.<br />

À ocupação, se seguiu uma<br />

gigantesca crise política nacional,<br />

e com ela, um vigoroso<br />

processo de renovação da cultura<br />

haitiana, motor da nova<br />

poesia. Sob o impacto da presença<br />

militar estrangeira, nasceriam<br />

novos periódicos literários<br />

defenden<strong>do</strong> idéias cada<br />

vez mais claramente políticas<br />

e radicais.<br />

Enquanto que La Ronde e o<br />

grande ecletismo de seus escritores<br />

<strong>do</strong>minariam o panorama<br />

cultural haitiano de 1898 a<br />

1915, <strong>já</strong> em 1916, sob o impacto<br />

da presença imperialista na<br />

ilha, surgiria a La Revue de la<br />

O passa<strong>do</strong> de lutas e sofrimento <strong>do</strong>s negros<br />

haitianos, associadas às idéias de pensa<strong>do</strong>res<br />

como Price-Mars, culminariam o surgimento<br />

de uma importante e influente literatura<br />

negra no Haiti ainda nas primeiras décadas<br />

<strong>do</strong> século XX<br />

Ligue de la Jeunesse Haitienne<br />

(Revista da Liga da Juventude<br />

Haitiana), agrupan<strong>do</strong> jovens<br />

militantes políticos interessa<strong>do</strong>s<br />

em expressar suas idéias<br />

anti-colonialistas em versos<br />

secos e diretos.<br />

Mais importantes ainda, seriam<br />

as iniciativas da década<br />

seguinte, que se sucediam ao<br />

mesmo tempo em que se agravava<br />

a pressão interna <strong>contra</strong><br />

a ocupação em seus múltiplos<br />

aspectos, a intervenção no <strong>governo</strong>,<br />

a constante presença<br />

militar, a censura à imprensa, a<br />

rapinagem estrangeira, a falta<br />

de desenvolvimento nacional.<br />

O impacto da<br />

ocupação<br />

Em 1925 era lançada La<br />

Nouvelle Ronde (O Novo Ciclo),<br />

<strong>do</strong>is anos mais tarde La Trouée,<br />

e por fim, neste mesmo ano,<br />

1927, a influente La Revue indigène<br />

(A Revista Indigenista),<br />

que assentava finalmente as<br />

bases para a criação de uma<br />

Fac símile da revista indigenista nº 3<br />

verdadeira tradição literária<br />

nacional e popular no Haiti.<br />

A Revista Indigenista possuía<br />

<strong>já</strong> um caráter diferente das publicações<br />

anteriores. Liderada<br />

pelo poeta Jacques Roumain,<br />

lançava as bases para o mais<br />

influente movimento literário<br />

haitiano <strong>do</strong> século XX.<br />

O movimento indigenista,<br />

como ficou conheci<strong>do</strong>, surgia<br />

ao mesmo tempo em que o<br />

antropólogo Jean Price-Mars<br />

lançava seu influente estu<strong>do</strong><br />

Assim Fala o Tio, apenas um ano<br />

mais tarde.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, Roumain e<br />

os demais poetas indigenistas,<br />

responderiam com ar<strong>do</strong>r<br />

ao chama<strong>do</strong> de Price-Mars de<br />

criar finalmente uma literatura<br />

que bebesse diretamente<br />

na cultura nacional. In<strong>do</strong> mais<br />

fun<strong>do</strong> que os românticos <strong>do</strong><br />

século XIX, estes novos poetas<br />

concentrariam seu interesse<br />

diretamente na cultura popular<br />

haitiana e na história nacional,<br />

negra, com seu passa<strong>do</strong> de<br />

lutas e seu rico folclore nativo.<br />

Uma literatura que era a um só<br />

tempo, social e racial, problemas<br />

que, no Caribe, eram indissociáveis.<br />

A influência <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s pioneiros<br />

de Price-Mars sobre o valor<br />

e a grande presença <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><br />

de vida negro no interior da sociedade<br />

haitiana teriam uma<br />

influência gigantesca e decisiva<br />

sobre o rumo <strong>do</strong>s trabalhos destes<br />

poetas, que inaugurariam<br />

no país a mesma literatura negra<br />

que despontava <strong>já</strong> com toda<br />

a força nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>desde</strong><br />

o começo da década.<br />

Graças à língua francesa comum<br />

e à renovada ênfase no<br />

problema cultural <strong>do</strong> negro,<br />

o movimento haitiano seria<br />

considera<strong>do</strong> posteriormente, o<br />

marco inaugural <strong>do</strong> movimento<br />

Negritude, que no perío<strong>do</strong><br />

seguinte despontaria em Paris<br />

Jacques Roumain<br />

com o ingresso de dezenas de<br />

escritores negros caribenhos<br />

nas universidades francesas.<br />

O movimento haitiano teria<br />

ainda grande influência sobre<br />

a própria Renascença <strong>do</strong> Harlem,<br />

que a partir da década<br />

de 1930, também passaria a<br />

produzir uma literatura com<br />

muito mais ênfase no resgate<br />

da cultura negra <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. Uma das grandes personalidades<br />

desta corrente da<br />

negritude norte-americana<br />

seria a romancista Zora Neale<br />

Hurston, que passaria muitos<br />

anos estudan<strong>do</strong> as tradições<br />

negra no Caribe.<br />

O movimento<br />

indigenista e a nova<br />

tradição<br />

Para formar o movimento o<br />

indigenista, ao la<strong>do</strong> da poesia<br />

negra de cunho marcadamente<br />

social <strong>do</strong> militante comunista<br />

Jaques Roumain, principal<br />

cria<strong>do</strong>r e agita<strong>do</strong>r cultural haitiano,<br />

se juntariam também<br />

o poeta Carl Brouard, o mais<br />

representativo africanista <strong>do</strong><br />

grupo e Jean-François Briérre,<br />

com sua apaixonada poesia,<br />

cuja inspiração repousaria, sobretu<strong>do</strong>,<br />

em seu violento desejo<br />

de libertação nacional.<br />

A obra destes três homens<br />

principalmente seria o catalisa<strong>do</strong>r<br />

necessário à formação<br />

de to<strong>do</strong> um movimento de renascimento<br />

cultural haitiano,<br />

cujos talentos maiores seriam<br />

escritores como o romancista<br />

Jacque-Stephen Alexis e os poetas<br />

Bajeux, Desprestre e Bissainthe.<br />

A marca registrada desta<br />

nova poesia haitiana era justamente<br />

sua vivacidade interior,<br />

resulta<strong>do</strong> de um profun<strong>do</strong> conhecimento<br />

destes escritores<br />

da cultura de seu povo. Formalmente,<br />

passariam a utilizar<br />

as novas ferramentas expressivas<br />

vindas <strong>do</strong>s modernismos<br />

europeus, como o surrealismo<br />

ou o expressionismo, ou mesmo<br />

um neo-parnasianismo,<br />

mas técnicas sempre extraídas<br />

<strong>do</strong> interior de seus temas e subordinadas<br />

à necessidade de<br />

expressão da vida interior <strong>do</strong><br />

povo haitiano.<br />

O impulso fundamental <strong>do</strong><br />

movimento indigenista seria<br />

da<strong>do</strong> entre 1927 e 1934, quan<strong>do</strong>,<br />

com o aprofundamento da<br />

crise da ocupação norte-americana,<br />

seus solda<strong>do</strong>s seriam<br />

bota<strong>do</strong>s para fora <strong>do</strong> país em<br />

meio a uma grande revolução<br />

nacional.<br />

Esta etapa da literatura negra,<br />

que também pipocava em<br />

outros países <strong>do</strong> Caribe, culminaria<br />

com o surgimento, em<br />

1932, da revista Legítima Defesa,<br />

organizada e promovida<br />

por poetas caribenhos de diferentes<br />

países. Um importante<br />

braço <strong>do</strong> movimento literário<br />

negro no coração da metrópole<br />

francesa.<br />

Esta publicação parisiense<br />

representaria o ponto de partida<br />

da maior e mais influente<br />

corrente da literatura negra<br />

internacional, a Negritude,<br />

inspirada principalmente pela<br />

grande atividade literária <strong>do</strong>s<br />

negros nas Américas.


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B6<br />

o caribe hispânico<br />

A LUTA REVOLUCIONÁRIA<br />

E MOVIMENTO NEGRISTA<br />

EM CUBA<br />

Paralelamente ao desenvolvimento das<br />

literaturas negras nos países de língua<br />

inglesa e francesa, em Cuba nascerá uma<br />

não menos importante tradição literária<br />

negra, surgida em reação à ocupação norteamericana<br />

na ilha<br />

Dentre os países caribenhos,<br />

além da Jamaica e Haiti,<br />

outro país que manifestou<br />

uma importante tradição literária<br />

negra foi Cuba, a maior e<br />

mais importante ilha da América<br />

Central.<br />

Apesar da proximidade entre<br />

os três países vizinhos, as<br />

diferenças de idioma fariam<br />

com que cada um destes movimentos<br />

desenvolvesse características<br />

distintas. Mais<br />

próximos de sua herança colonial<br />

<strong>do</strong> que uma verdadeira<br />

tendência a se unificar em<br />

torno de um único movimento<br />

literário negro caribenho.<br />

Enquanto que os jamaicanos,<br />

de língua inglesa, iriam<br />

se incorporar aos movimentos<br />

literários norte-americanos,<br />

os haitianos, com seu idioma<br />

francês, tenderiam a se aproximar<br />

das vanguardas literárias<br />

da Escola de Paris, ao mesmo<br />

tempo em que Cuba, país<br />

de língua espanhola, manterá<br />

um intercâmbio muito mais<br />

vivo com as vanguardas poéticas<br />

da Espanha.<br />

Cuba na virada <strong>do</strong> século vivia<br />

um intenso processo revolucionário,<br />

muito mais avança<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> que nos demais países<br />

vizinhos.<br />

Ao longo de toda a segunda<br />

metade <strong>do</strong> século XIX, os<br />

revolucionários cubanos lutaram<br />

desesperadamente por<br />

sua independência <strong>do</strong> jugo<br />

espanhol, processo que levará<br />

à deflagração de três grandes<br />

guerras de independência no<br />

perío<strong>do</strong>. A última delas, encerrada<br />

em 1898, terminaria com<br />

o completo colapso da <strong>do</strong>minação<br />

espanhola sobre a ilha.<br />

O jugo da Coroa da Espanha,<br />

no entanto, acabaria<br />

sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, potência imperialista<br />

que se via severamente<br />

ameaça<strong>do</strong> pela revolução<br />

cubana a poucos quilômetros<br />

de seu território.<br />

Em 1901 é organizada uma<br />

independência puramente formal<br />

de Cuba, e no mesmo ano,<br />

formalizada também, através<br />

da Emenda Plat, a liberdade<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s invadirem<br />

o país sempre que considerarem<br />

que seus interesses econômicos<br />

estão ameaça<strong>do</strong>s.<br />

A situação política cubana<br />

se revelará extremamente<br />

instável no perío<strong>do</strong> seguinte,<br />

sen<strong>do</strong> que um primeiro levante<br />

popular, derruba <strong>já</strong> o<br />

<strong>governo</strong> republicano ainda em<br />

1906, levan<strong>do</strong> à primeira intervenção<br />

militar aberta <strong>do</strong>s<br />

norte-americanos em Cuba.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, uma década<br />

antes <strong>do</strong> Haiti, Cuba <strong>já</strong> se via<br />

submetida à <strong>do</strong>minação imperialista<br />

norte-americana. Fator<br />

de permanentes crises nas<br />

décadas seguintes.<br />

A Literatura<br />

cubana e a luta<br />

revolucionária<br />

Ao longo <strong>do</strong> século XIX<br />

originou-se também uma das<br />

mais importantes tradições<br />

literárias latino-americanas,<br />

também determinada por estas<br />

lutas.<br />

Durante a primeira metade<br />

<strong>do</strong> século, o mais importante<br />

movimento literário cubano<br />

foi o chama<strong>do</strong> Criolismo, escola<br />

romântica que surgiu sob a<br />

influência das lutas pela abolição<br />

da escravatura na ilha.<br />

O inaugura<strong>do</strong>r e mais importante<br />

escritor desta escola foi<br />

também o primeiro grande<br />

escritor negro de Cuba, o poeta<br />

Gabriel de la Concepción<br />

Valdés, também militante<br />

abolicionista que acabaria,<br />

executa<strong>do</strong> em 1844 por sua<br />

participação na Conspiração<br />

de la Escalera.<br />

Esta relação íntima entre<br />

arte e militância política seria<br />

uma das características mais<br />

marcantes <strong>do</strong>s maiores escritores<br />

cubanos – e também <strong>do</strong>s<br />

escritores negros – tanto no<br />

século XIX quanto no século<br />

XX.<br />

A segunda metade <strong>do</strong> século<br />

também criaria importantes<br />

militantes-poetas, como<br />

foi o caso da maior de todas as<br />

personalidades nacionais de<br />

Cuba, o revolucionário independentista<br />

José Martí.<br />

No século seguinte, a luta<br />

anticolonial se transformará<br />

em luta antiimperialista e a literatura<br />

produzida nesta etapa<br />

apenas aprofundará estes<br />

temas em suas criações.<br />

Certamente o mais importante<br />

perío<strong>do</strong> de crise revolucionária<br />

em Cuba será durante<br />

o entre-guerras.<br />

Após a quebra da bolsa de<br />

Nova Iorque em 1929, e a virtual<br />

falência <strong>do</strong> regime capitalista<br />

internacional, Cuba,<br />

como economia de exportação,<br />

irá sofrer de maneira extremamente<br />

violenta os impactos<br />

da Grande Depressão.<br />

Tal crise, que se intensificava<br />

ano a ano, leva a um grande<br />

movimento revolucionário em<br />

1930, com greves gerais, manifestações<br />

massivas e à formação<br />

de dezenas de grupos<br />

guerrilheiros. Em agosto de<br />

1931 começa uma revolução<br />

proletária que desencadeia<br />

uma guerra civil nacional. Em<br />

1933, é derruba<strong>do</strong> o presidente<br />

Gerar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, e grupos<br />

nacionalistas burgueses assumem<br />

o <strong>governo</strong> em uma tentativa<br />

desesperada <strong>do</strong> imperialismo<br />

para salvar o regime<br />

político cubano e resguardar<br />

sua <strong>do</strong>minação colonial.<br />

Será justamente em meio a<br />

esta crise colossal que nascerá<br />

a literatura negra em Cuba.<br />

O Negrismo cubano<br />

A população negra em<br />

Cuba, ao contrário de países<br />

como Haiti ou Jamaica, constituía<br />

uma minoria entre a<br />

população, viven<strong>do</strong> ainda sob<br />

um regime de violenta segregação<br />

racial como acontecia<br />

também nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Ser negro em Cuba era um<br />

fator de gigantesco estigma<br />

social, de mo<strong>do</strong> que a cultura<br />

negra da ilha, com a sua música,<br />

suas religiões e dialetos<br />

africanos, formavam de fato<br />

uma cultura marginal, excluída<br />

de toda a oficialidade da<br />

época, em um regime <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />

pelos brancos e sua cultura<br />

européia. Os próprios negros<br />

negligenciavam suas tradições,<br />

procuran<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nálas<br />

diante da menor possibilidade<br />

de ascensão social.<br />

Ainda assim, a cultura negra<br />

era marcante em Cuba,<br />

como o era também nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. A economia escravagista<br />

anterior havia se<br />

encarrega<strong>do</strong> de espalhar os<br />

negros pelo interior <strong>do</strong> país de<br />

forma suficientemente ampla<br />

para que sua cultura se fizesse<br />

presente em parte expressiva<br />

da ilha.<br />

Um <strong>do</strong>s reflexos <strong>do</strong> peso<br />

da opressão que os negros sofriam<br />

era a existência, na virada<br />

<strong>do</strong> século, de importantes<br />

organizações políticas negras,<br />

surgidas durante a revolução,<br />

e dezenas de associações culturais<br />

e esportivas organizadas<br />

por negros exclusivamente<br />

para o acesso de sua comunidade.<br />

Nicolas Guillen<br />

Regino Pedroso<br />

OS negros cubanos, setor mais oprimi<strong>do</strong>, lutaram<br />

integralmnete pela independência <strong>do</strong> país<br />

O mais importante parti<strong>do</strong><br />

negro organiza<strong>do</strong> era o Parti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s Independentes de Cor,<br />

organização que lutava por<br />

direitos democráticos para os<br />

negros cubanos <strong>desde</strong> as guerras<br />

de independência.<br />

Em 1909, quan<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s reorganizam o regime<br />

político cubano colocan<strong>do</strong><br />

José Miguel Gómez na presidência,<br />

este impulsiona uma<br />

campanha reacionária no país<br />

atacan<strong>do</strong> diversos setores da<br />

sociedade cubana. Entre eles,<br />

retira uma série de direitos<br />

democráticos da população<br />

negra, conquistas adquiridas<br />

durante a revolução de independência.<br />

Esta ofensiva é<br />

respondida com uma enorme<br />

resistência popular <strong>do</strong>s negros<br />

lidera<strong>do</strong>s pelo Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Independentes<br />

de Cor.<br />

Os conflitos, deflagra<strong>do</strong>s<br />

em 1912, ficariam conheci<strong>do</strong>s<br />

como Guerra Racial, e<br />

terminariam com um grande<br />

massacre promovi<strong>do</strong> pela burguesia<br />

pró-imperialista, perseguin<strong>do</strong><br />

e assassinan<strong>do</strong> cerca<br />

de seis mil negros em toda a<br />

ilha.<br />

Esta situação de guerra civil<br />

aberta dava o tom da situação<br />

<strong>do</strong>s negros cubanos na ocasião<br />

<strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> movimento<br />

negrista nos anos 30.<br />

Esta literatura representaria<br />

uma nova etapa de maturidade<br />

política <strong>do</strong>s negros<br />

diante <strong>do</strong> problema da brutal<br />

opressão social em que estavam<br />

viven<strong>do</strong> então.<br />

Surgin<strong>do</strong> inicialmente<br />

como uma revalorização da<br />

vida cotidiana <strong>do</strong> negro operário,<br />

com sua rotina miserável,<br />

seu gosto pela diversão, a beleza<br />

das mulheres negras, esta<br />

literatura evoluirá para temas<br />

cada vez mais universais e<br />

pertinentes, até chegar o ponto<br />

chave da questão social <strong>do</strong><br />

negro: a necessidade urgente<br />

de luta por seu espaço na sociedade,<br />

e a partir daí, a luta<br />

<strong>contra</strong> toda a opressão. Uma<br />

literatura que em Cuba frutificaria<br />

principalmente através<br />

da poesia.<br />

Motivos de Son<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que acontecia<br />

em outros movimentos<br />

literários negros, em Cuba a<br />

nova literatura se desenvolverá,<br />

não a partir de grupos literários,<br />

mas através de grandes<br />

personalidades individuais<br />

cuja obra tomará caminhos<br />

distintos.<br />

O inaugura<strong>do</strong>r da corrente<br />

cubana da literatura negra<br />

será o talentoso poeta Nicolás<br />

Guillén, homem que se tornará<br />

não somente o principal escritor<br />

negro de Cuba, mas um<br />

<strong>do</strong>s maiores nomes da poesia<br />

<strong>do</strong> século XX internacionalmente.<br />

Poeta promissor, Guillén<br />

ganha destaque entre os escritores<br />

cubanos de sua geração<br />

após a publicação, em um<br />

jornal matutino, de seu poema<br />

vanguardista Negro Bembón.<br />

Cria<strong>do</strong> a partir de uma estranha<br />

experiência onírica, o<br />

poema inaugurava uma técnica<br />

poética original que definiria<br />

os rumos da poesia de<br />

Guillén a partir de então e até<br />

o final de sua vida.<br />

Este poema seria publica<strong>do</strong><br />

no mesmo ano, 1930, na coletânea<br />

poética Motivos de Son,<br />

obra que marca o nascimento<br />

<strong>do</strong> movimento literário que<br />

viria a ser conheci<strong>do</strong> como Negrismo<br />

cubano.<br />

As poesias reunidas nesta<br />

obra – escritas em uma espécie<br />

de automatismo psíquico à<br />

maneira <strong>do</strong>s surrealistas franceses<br />

–, traziam aquela descoberta<br />

inova<strong>do</strong>ra de Guillén, a<br />

utilização de uma linguagem<br />

capaz de unificar, nos mesmos<br />

versos, o idioma castelhano<br />

com termos e expressões de<br />

dialetos africanos. Uma grande<br />

descoberta literária.<br />

O poeta era capaz expressar<br />

assim o verdadeiro temperamento<br />

e a cultura da população<br />

negra cubana. A herança<br />

<strong>do</strong> idioma colonial espanhol e<br />

o resgate da importante cultura<br />

<strong>do</strong>s negros africanos, fala<strong>do</strong><br />

no dia a dia, mas que até então<br />

era manti<strong>do</strong> à margem de<br />

qualquer literatura.<br />

Através desta técnica, Guillén<br />

era capaz de descobrir novos<br />

ritmos e rimas em versos<br />

que chamavam atenção por<br />

sua grande musicalidade e liberdade<br />

formal.<br />

Com esta obra Guillén pôde<br />

ainda elevar a produção literária<br />

<strong>do</strong>s negros – agora <strong>do</strong> ponto<br />

de vista da técnica – , ao nível<br />

das melhores experiências<br />

da vanguarda internacional.<br />

A poesia proletária<br />

cubana<br />

Outro importante representante<br />

<strong>do</strong> Negrismo cubano<br />

será o poeta e militante Regino<br />

Pedroso. Nasci<strong>do</strong> em uma<br />

família operária, <strong>desde</strong> ce<strong>do</strong><br />

ele participaria <strong>do</strong> movimento<br />

revolucionário.<br />

Diretamente influencia<strong>do</strong><br />

pela intensificação da luta<br />

<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res a partir de<br />

1925, <strong>contra</strong> a política de demissões<br />

<strong>do</strong> <strong>governo</strong>, em 1927<br />

ele inaugurará a moderna poesia<br />

proletária cubana.<br />

Sua poesia resgatará o negro<br />

cubano como parte integrante<br />

da classe operária, liga<strong>do</strong><br />

a ela, e não mais isola<strong>do</strong> no<br />

mun<strong>do</strong>, como muitas vezes o<br />

negro apareceu nas poesias <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> anterior.<br />

A obra de ambos escritores,<br />

bem como a de outros representantes<br />

desta geração, como<br />

Rodriguez Mendez ou Marcelino<br />

Avozocena, eram o resulta<strong>do</strong><br />

direto da influência da<br />

luta revolucionária sobre estes<br />

escritores. Tal característica<br />

estará sempre presente na literatura<br />

negra, mas manifesta<br />

de maneira aberta ou velada<br />

conforme a intensidade <strong>do</strong>s<br />

conflitos de classe.<br />

No caso de Cuba este traço<br />

constitutivo da literatura<br />

negra ficará absolutamente<br />

claro, através principalmente<br />

da obra destes <strong>do</strong>is escritores<br />

comunistas.<br />

A poesia proletária negra de<br />

Regino Pedroso foi resulta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> estilo de vida e<br />

da luta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res das<br />

cidades sobre a psicologia <strong>do</strong><br />

poeta. Já Nicolás Guillén, terá<br />

uma obra que se desenvolverá<br />

toda em um senti<strong>do</strong> político,<br />

acompanhan<strong>do</strong> as diferentes<br />

etapas da luta revolucionária<br />

em Cuba e internacionalmente.<br />

Este poeta, em sua evolução,<br />

se revelará ainda o escritor<br />

que melhor compreenderá<br />

e cantará a Revolução Cubana<br />

em seus poemas.<br />

Estes poetas <strong>do</strong> Negrismo<br />

cubano, pertencentes to<strong>do</strong>s<br />

à chamada Geração de 30,<br />

criariam uma das mais vigorosas<br />

tradições da literatura<br />

negra internacional, tão importante<br />

que mesmo em seus<br />

países, não se formarão como<br />

um gueto literário à parte da<br />

vanguarda de sua época. Irão<br />

se erguer, ao contrário, como a<br />

mais poderosa e rica tradição<br />

literária de seu país.


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B7<br />

o surgimento <strong>do</strong> negritude<br />

O DESPONTAR<br />

DA LITERATURA<br />

NEGRA EM PARIS<br />

Nos anos 30, estudantes<br />

negros vin<strong>do</strong>s da África,<br />

Caribe e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

moran<strong>do</strong> em Paris, se reuniam<br />

regularmente no salão<br />

literário das martinicanas<br />

Paulette e Andrée Nardal,<br />

desenvolven<strong>do</strong> intenso intercâmbio<br />

cultural entre a literatura<br />

negra produzida em<br />

seus respectivos países.<br />

As irmãs Nardal, socialistas<br />

e feministas, deram<br />

uma grande contribuição ao<br />

desenvolvimento da cultura<br />

Esta revista sairia de cena<br />

para dar lugar a uma segunda<br />

publicação, esta muito mais<br />

radical que a primeira, a revista<br />

Legitime Defense (Legítima<br />

Defesa).<br />

Escrita por um grupo de<br />

estudantes negros martinicanos,<br />

defensores <strong>do</strong> socialismo<br />

e <strong>do</strong> surrealismo, Legítima<br />

Defesa teria um caráter <strong>já</strong><br />

completamente diferente da<br />

Revista <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Negro.<br />

Criada pelos estudantes<br />

Auguste Thésée, René Ménil,<br />

os irmãos Thélus e Etienne<br />

Léro e Jules-Marcel Monnerot,<br />

a revista mantinha um<br />

tom radical de protesto e denúncia<br />

social, anticolonialista<br />

e anti-imperialista. O nome<br />

fora retira<strong>do</strong> de um texto de<br />

André Breton. Seu principal<br />

alvo, de fato, era o conserva<strong>do</strong>rismo<br />

da sociedade martinicana,<br />

mas estendia seus ataques<br />

também ao mun<strong>do</strong> burguês<br />

como um to<strong>do</strong>, o regime<br />

capitalista e as instituições típicas<br />

<strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> branco”, em<br />

particular o cristianismo. Em<br />

política, defendiam o marxismo<br />

e a Terceira Internacional,<br />

no que viam a manifestação<br />

mais direta da vitória da revolução<br />

proletária, alheios ao<br />

processo de transformação<br />

desta organização em aparelho<br />

burocrático stalinista.<br />

Em arte, defendiam a libertação<br />

<strong>do</strong> espírito e <strong>do</strong><br />

subconsciente propostos pelo<br />

surrealismo através <strong>do</strong>s manifestos<br />

de André Breton,<br />

A cidade de Paris durante<br />

as décadas de 1920 e 1930,<br />

era o mais importante centro<br />

cultural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ali<br />

haviam desponta<strong>do</strong> alguns<br />

<strong>do</strong>s movimentos artísticos<br />

centrais da arte moderna internacional.<br />

Desde o fauvismo,<br />

passan<strong>do</strong> pelo cubismo,<br />

o dadaísmo e posteriormente<br />

o surrealismo, um <strong>do</strong>s grandes<br />

interesses <strong>do</strong>s artistas<br />

modernos era a derrubada<br />

<strong>do</strong>s velhos cânones que haviam<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> as artes até<br />

finais <strong>do</strong> século XIX. Em seu<br />

movimento de ruptura com a<br />

antiga tradição e com os velhos<br />

valores da sociedade, estes<br />

artistas irão desenvolver<br />

um renova<strong>do</strong> interesse pela<br />

cultura de diferentes povos<br />

defenden<strong>do</strong> também seus<br />

principais expoentes, Louis<br />

Aragon, Paul Eluard e Benjamin<br />

Péret, entre outros. Estes<br />

escritores negros iriam aderir<br />

incondicionalmente aos violentos<br />

ataques <strong>do</strong> surrealismo<br />

<strong>contra</strong> o passa<strong>do</strong> da literatura<br />

francesa, ao mesmo tempo<br />

em que exaltariam os grandes<br />

precursores reivindica<strong>do</strong>s<br />

pelos surrealistas, como Sade,<br />

Rimbaud e Lautréamont.<br />

Esta defesa aberta de autores<br />

europeus demonstrava o<br />

caráter desta publicação. Possuíam<br />

um programa mais amplo<br />

e heterogêneo <strong>do</strong> que terá<br />

pouco mais tarde o movimento<br />

Negritude. Representan<strong>do</strong>,<br />

de um ponto de vista histórico,<br />

um processo de transição<br />

e amadurecimento da literatura<br />

negra, em busca ainda de<br />

uma identidade própria. Eram<br />

mais propriamente escritores<br />

de vanguarda <strong>do</strong> que de “literatura<br />

negra”, cuja maior<br />

ênfase de seus ataques eram<br />

dirigi<strong>do</strong>s <strong>contra</strong> o provincianismo<br />

e atraso da literatura<br />

caribenha de sua época <strong>do</strong> que<br />

à defesa de sua raça, ainda que<br />

este elemento <strong>já</strong> se fizesse presente.<br />

Estavam a um paço de<br />

formular um programa completo<br />

de literatura negra.<br />

Nestes escritores, esta reivindicação<br />

surgia como uma<br />

implicação direta de sua influência<br />

surrealista, acompanhada<br />

das idéias <strong>do</strong>s intelectuais<br />

negros americanos que estes<br />

e tradições que até então haviam<br />

permaneci<strong>do</strong> <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

de fora da grande tradição da<br />

cultura ocidental, as chamadas<br />

artes primitivas vindas de<br />

todas as partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

da Ásia, América, Oceania e,<br />

principalmente, da África.<br />

Este renova<strong>do</strong> interesse<br />

coincidia com a recente política<br />

de expansão colonial <strong>do</strong><br />

escritores certamente <strong>já</strong> conheciam.<br />

Se deveriam “libertar<br />

o inconsciente” em seus<br />

trabalhos, era indispensável<br />

manifestar ali sua condição<br />

negra e o conteú<strong>do</strong> original aí<br />

conti<strong>do</strong>.<br />

Esta idéia, interpretada de<br />

maneiras diferentes, daria<br />

origem também a duas correntes<br />

paralelas da Negritude,<br />

que acabariam se tornan<strong>do</strong><br />

antagônicas, divididas entre<br />

uma ala direita e outra esquerda.<br />

Defenden<strong>do</strong> o marxismo e<br />

o surrealismo, a revista Legítima<br />

Defesa não apenas aban<strong>do</strong>nava<br />

o anterior nacionalismo<br />

negro pela defesa de uma<br />

sociedade comunista, como<br />

também incorporava abertamente<br />

ao seu arsenal de<br />

ferramentas <strong>contra</strong> o mun<strong>do</strong><br />

burguês, o que de mais avança<strong>do</strong><br />

e radical a cultura européia<br />

havia produzi<strong>do</strong> em sua<br />

evolução, a crítica <strong>contra</strong> ela<br />

própria e seus aspectos conserva<strong>do</strong>res.<br />

Este era o senti<strong>do</strong><br />

de sua adesão ao surrealismo,<br />

que expressava por sua vez,<br />

o grande radicalismo e autoconfiança<br />

destes escritores,<br />

imigrantes negros na mais<br />

avançada capital das artes<br />

mundiais.<br />

Em seu manifesto político<br />

e cultural exposto nas páginas<br />

de Legítima Defesa, estes<br />

estudantes rejeitariam ainda<br />

a simples importação cultural<br />

característica da burguesia<br />

branca caribenha. Viven<strong>do</strong><br />

Após um perío<strong>do</strong> de mais de uma década<br />

de fermentação nos países americanos, na<br />

década de 1930 a literatura negra teria suas<br />

primeiras manifestações em solo europeu<br />

e daí para a Àfrica, confirman<strong>do</strong> a grande<br />

abrangência <strong>do</strong> movimento como um<br />

fenômeno realmente geral das nações negras<br />

imperialismo francês, que<br />

começava a promover, <strong>desde</strong><br />

os primeiros anos <strong>do</strong> século<br />

XX, diversas exposições <strong>do</strong>s<br />

artefatos vin<strong>do</strong>s das novas<br />

colônias. Esta rica tradição<br />

estrangeira forneceria as<br />

fontes de influência necessária<br />

à ruptura radical <strong>do</strong>s valores<br />

burgueses busca<strong>do</strong>s por<br />

estes artistas.<br />

em Paris, estes jovens buscarão,<br />

ao contrário, a afirmação<br />

de sua nacionalidade e da expressão<br />

de sua subjetividade<br />

negra particular diante <strong>do</strong>s<br />

demais artistas franceses<br />

cujas descobertas irão encarar<br />

como ferramentas vitais para<br />

sua própria emancipação.<br />

Em defesa de um<br />

vanguardismo<br />

literário negro<br />

Juntamente com estas exposições,<br />

chegava também<br />

à Paris, um número enorme<br />

de imigrantes negros vin<strong>do</strong>s,<br />

tanto das antigas colônias<br />

<strong>do</strong> Caribe, quanto das novas<br />

colônias africanas, buscan<strong>do</strong><br />

melhores condições de vida,<br />

de ensino e cultura oferecidas<br />

pela metrópole.<br />

Influencia<strong>do</strong>s por esta<br />

O salão das irmãs Nardal e a Revista <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Negro<br />

O caráter combativo de Legítima<br />

Defesa era <strong>já</strong> indica<strong>do</strong><br />

pela epígrafe inscrita em suas<br />

páginas: “Esta pequena revista,<br />

ferramenta provisória,<br />

caso quebre, nós saberemos<br />

como en<strong>contra</strong>r outros instrumentos”.Se<br />

aproprian<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> ponto de vista da crítica<br />

marxista, estes poetas martinicanos<br />

tomarão plena consciência<br />

da condição degradada<br />

<strong>do</strong> negro caribenho, de antigo<br />

escravo a novo trabalha<strong>do</strong>r<br />

proletário, e desta forma, irão<br />

levantar uma violenta crítica<br />

<strong>contra</strong> o caráter racista da sociedade<br />

colonial da Martinica.<br />

Não só em seu país, mas em<br />

to<strong>do</strong> o Caribe, a sociedade de<br />

classes era rigidamente delineada<br />

também pelos grupos<br />

raciais. A grande burguesia<br />

destes países, industriais,<br />

usineiros, latifundiários,<br />

era branca. Do la<strong>do</strong> extremo<br />

oposto, estará a numerosa<br />

população negra, forman<strong>do</strong><br />

a quase totalidade <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong><br />

caribenho. Entre as<br />

negra de sua época. As reuniões<br />

promovidas em sua casa<br />

eram freqüentadas por escritores<br />

negros de proa, como o<br />

norte-americano Langston<br />

Hughes ou o jamaicano Claude<br />

McKay, ambos figuras<br />

centrais da Renascença <strong>do</strong><br />

Harlem.<br />

Elas dirigiam também<br />

nesta época, em parceria<br />

com o haitiano Leo Sajous,<br />

a revista literária La Revue<br />

du Monde Noir (A Revista <strong>do</strong><br />

Mun<strong>do</strong> Negro). A publicação<br />

não possuía ainda nada<br />

<strong>do</strong> radicalismo que caracterizará<br />

o movimento negro<br />

parisiense alguns anos mais<br />

tarde, cumprin<strong>do</strong>, porém,<br />

um importante papel de divulga<strong>do</strong>r,<br />

entre os negros das<br />

colônias francesas, da rica e<br />

diversificada literatura negra<br />

produzida naquele momento<br />

em diferentes partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Influenciadas pelas idéias<br />

de pensa<strong>do</strong>res pan-africanos,<br />

como W.E.B. Du Bois ou<br />

Jean Price-Mars, seu objetivo<br />

declara<strong>do</strong> era despertar a<br />

consciência da raça negra, o<br />

conhecimento e o aprofundamento<br />

de sua história, <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s povos negros, da<br />

anterior cultura africana e a<br />

transformação destas tradições,<br />

sob a influência da cultura<br />

européia, nos diferentes<br />

países para onde os negros<br />

foram transporta<strong>do</strong>s durante<br />

a escravidão.<br />

A revista incluía artigos<br />

sobre a moda negra em Paris,<br />

as apresentações de Josephine<br />

Baker, o culto pela arte<br />

primitiva africana, ou mesmo<br />

artigos políticos como<br />

Justiça na América, Os negros<br />

e a arte, O problema <strong>do</strong> trabalho<br />

no Haiti, Reflexões sobre<br />

o Islam, ou O negro em Cuba.<br />

Ainda assim, as atividades<br />

da revista, segun<strong>do</strong> declaravam<br />

as próprias irmãs Nardal,<br />

eram puramente culturais,<br />

preferin<strong>do</strong> manter-se<br />

distantes das polêmicas <strong>do</strong><br />

movimento negro. Esta revista<br />

tinha quase um caráter<br />

duas classes, a estava uma<br />

pequena-burguesia composta<br />

por mulatos de pele clara, descendentes<br />

de negros mas que<br />

em sua maioria buscarão distanciar-se<br />

o mais possível de<br />

qualquer vinculação com este<br />

passa<strong>do</strong>, rejeitan<strong>do</strong> a um só<br />

tempo toda a cultura nativa<br />

caribenha em favor da cultura<br />

exportada da Europa.<br />

Os poetas negros de Legítima<br />

Defesa, criticarão com<br />

veemência a subserviência<br />

artificial, tanto da burguesia<br />

branca quanto da pequenaburguesia<br />

mulata, ao modelos<br />

consagra<strong>do</strong>s da literatura<br />

francesa, principalmente da<br />

poesia alexandrina - parnasiana<br />

<strong>do</strong> século XIX. Afirmarão<br />

ainda em sua revista com<br />

grande lucidez, que apenas<br />

uma nação emancipada política,<br />

social e intelectualmente<br />

seria capaz de criar uma<br />

literatura própria, original.<br />

Execran<strong>do</strong>, portanto, o que<br />

encarariam como a classe<br />

parasitária desta sociedade,<br />

representada pelos brancos e<br />

mulatos.<br />

O primeiro e único número<br />

da revista levava em suas<br />

páginas uma passagem <strong>do</strong><br />

romance Banjo, <strong>do</strong> poeta negro<br />

jamaicano Claude McKay.<br />

Uma escolha significativa que<br />

atestava a influência e a repercussão<br />

da literatura negra de<br />

língua inglesa sobre estes escritores<br />

francófonos.<br />

Neste romance, McKay<br />

justamente ridicularizava o<br />

grande movimentação artística<br />

da sociedade parisiense,<br />

dezenas de estudantes negros<br />

se lançariam também<br />

à atividade intelectual, forman<strong>do</strong>,<br />

a partir da década<br />

de 1930, os primeiros grupos<br />

literários negros estabeleci<strong>do</strong>s<br />

em Paris, em meio<br />

às vanguardas modernistas<br />

francesas.<br />

quase oficial, sen<strong>do</strong> financiada<br />

em parte pelo Ministério<br />

das Colônias francês.<br />

A publicação teve vida<br />

efêmera, manteve suas atividades<br />

durante seis meses<br />

apenas, entre novembro de<br />

1931 e abril de 1932, com um<br />

total de seis números publica<strong>do</strong>s.<br />

Ainda assim teve uma<br />

importância fundamental<br />

como a primeira manifestação<br />

de um movimento literário<br />

negro organiza<strong>do</strong> em<br />

Paris.<br />

Legítima Defesa, manifesto negro pela arte de vanguarda<br />

modelo <strong>do</strong> cidadão caribenho<br />

agin<strong>do</strong> em total desacor<strong>do</strong><br />

com as necessidades de sua<br />

pátria. A protagonista de seu<br />

romance era a martinicana<br />

aristocrática Joséphine Bonaparte,<br />

figura histórica que<br />

renegou sua pátria, casou-se<br />

com Napoleão, e foi diretamente<br />

responsável pelo restabelecimento<br />

a escravidão nas<br />

colônias francesas durante o<br />

Primeiro Império.<br />

O radicalismo das propostas<br />

de Legítima Defesa, expressos<br />

por uma linguagem<br />

violenta ainda inédita entre<br />

os escritores negros, ainda<br />

que tenha si<strong>do</strong> propagada em<br />

um único número, teria grande<br />

repercussão sobre os meios<br />

intelectuais negros em Paris,<br />

cumprin<strong>do</strong> um papel aglutina<strong>do</strong>r<br />

de diversos poetas negros<br />

dispersos pela cidade.<br />

Algumas das teses expostas<br />

pelo grupo de Legítima Defesa<br />

serão retomadas e reelaboradas<br />

pelo movimento que<br />

se formaria na etapa seguinte,<br />

e que ficaria conheci<strong>do</strong> como<br />

Negritude, com diversas modificações<br />

e uma ênfase renovada<br />

na defesa da cultura<br />

original africana que havia<br />

si<strong>do</strong> desprezada pelos poetas<br />

de Legítima Defesa. A ênfase<br />

destes estudantes, em geral,<br />

ia muito mais no senti<strong>do</strong> de<br />

uma crítica vanguardista <strong>contra</strong><br />

a mediocridade da literatura<br />

caribenha, <strong>do</strong> que <strong>do</strong> resgate<br />

da cultura negra em seus<br />

múltiplos aspectos.<br />

Les Demoiselles<br />

d’Avignon<br />

Modigliani esculturas africanistas<br />

Amadeo Modigliani<br />

“Acreditamos sem reserva no<br />

triunfo <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista”<br />

“O Parti<strong>do</strong> comunista<br />

(Terceira internacional) está<br />

jogan<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os países<br />

a carta decisiva <strong>do</strong> ‘Espírito’<br />

(no senti<strong>do</strong> hegeliano <strong>do</strong> termo).<br />

Sua derrota, por mais<br />

impossível que creiamos<br />

seria para nós o definitivo<br />

‘eu não posso mais’. Acreditamos<br />

sem reserva em seu<br />

triunfo e isso porque nos<br />

apoiamos no materialismo<br />

dialético de Marx, subtraí<strong>do</strong><br />

de toda interpretação tendenciosa<br />

e<br />

vitoriosamente submeti<strong>do</strong><br />

à prova por Lenin. Estamos<br />

prontos para nos confrontar,<br />

neste terreno, com a disciplina<br />

que exigem semelhantes<br />

convicções. No plano concreto<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s figura<strong>do</strong>s<br />

da expressão humana, aceitamos,<br />

igualmente sem reservas,<br />

o surrealismo ao qual<br />

- em 1932 - ligamos o nosso<br />

vir-a-ser. E remetemos nossos<br />

leitores aos <strong>do</strong>is Manifestos<br />

de André Breton, à obra<br />

completa de Aragon, de André<br />

Breton e de Tristan Tzara,<br />

da qual devemos dizer se<br />

não seria uma vergonha não<br />

ser mais conhecida em to<strong>do</strong>s<br />

os lugares onde se fala francês.<br />

E procuramos em Sade,<br />

Hegel, Lautréamont, Rimbaud,<br />

para citar apenas alguns,<br />

tu<strong>do</strong> o que o surrealismo<br />

nos propiciou en<strong>contra</strong>r.<br />

Quanto a Freud, estamos<br />

prontos a utilizar a imensa<br />

máquina de dissolução da<br />

família burguesa que ele<br />

impulsionou. Tomamos o<br />

trem <strong>do</strong> inferno da sinceridade.<br />

(...) No dia em que<br />

o proletaria<strong>do</strong> negro, oprimi<strong>do</strong><br />

nas Antilhas por uma<br />

mulatice parasita, vendida a<br />

Brancos degenera<strong>do</strong>s, tiver<br />

acesso, quebran<strong>do</strong> um duplo<br />

jugo, ao direito de comer e<br />

ao direito de criar, apenas<br />

neste dia existirá uma poesia<br />

antilhana.”<br />

Mascara Africana<br />

Magritte Mnazna


30 de maio de 2010<br />

CAUSA OPERÁRIA<br />

CULTURA B8<br />

A REVISTA O ESTUDANTE NEGRO E A<br />

FORMAÇÃO DO GRUPO NEGRITUDE<br />

Pintura africanista <strong>do</strong> cubano Wilfre<strong>do</strong> Lam<br />

Legítima Defesa encerrou<br />

suas atividades após um único<br />

exemplar lança<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à perseguição<br />

política francesa. O<br />

<strong>governo</strong> francês retirou a bolsa<br />

de estu<strong>do</strong>s destes estudantes<br />

devi<strong>do</strong> ao que ao que considerou<br />

uma afronta à França.<br />

O grupo, porém, organiza<strong>do</strong><br />

em torno dela, manteve-se<br />

uni<strong>do</strong>, com o afastamento apenas<br />

de alguns de seus colabora<strong>do</strong>res.<br />

A partir deste núcleo,<br />

e com a aproximação de novos<br />

poetas negros, se formaria a<br />

que certamente foi a mais representativa<br />

e influente vanguarda<br />

literária negra na Europa<br />

e na África, grupo que nos<br />

anos seguintes ficaria conheci<strong>do</strong><br />

como Negritude.<br />

O Negritude seria forma<strong>do</strong><br />

por Étienne Léro, Jules Monnerot,<br />

René Ménil, Aimé Césaire,<br />

Léon Damas, Léonard<br />

Sainville, Aristide Maugée, os<br />

irmãos Achille e os africanos<br />

Léopold Sedar Senghor, Osmane<br />

Socé e Birago Diop, to<strong>do</strong>s os<br />

três emigra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Senegal.<br />

Este novo grupo se unificaria<br />

inicialmente em torno de<br />

uma nova revista, L’Edudient<br />

Noir (O Estudante Negro), revista<br />

que teria igualmente<br />

curta duração com apenas <strong>do</strong>is<br />

exemplares lança<strong>do</strong>s ao longo<br />

de 1935. Ecos <strong>do</strong> manifesto de<br />

Legítima Defesa en<strong>contra</strong>vamse<br />

impressos no manifesto publica<strong>do</strong><br />

no primeiro número de<br />

O Estudante Negro: “A história<br />

<strong>do</strong>s negros é um drama em três<br />

episódios. Os negros foram primeiramente<br />

escraviza<strong>do</strong>s (‘estúpi<strong>do</strong>s<br />

e brutos’, dizia-se...).<br />

Um olhar mais indulgente, depois,<br />

voltou-se pare eles. Disseram:<br />

‘eles valem mais que sua<br />

reputação’. Tentou-se <strong>do</strong>má-los<br />

e foram assimila<strong>do</strong>s. Foram à<br />

escola <strong>do</strong>s senhores; ‘crianças<br />

crescidas’ dizia-se, pois apenas<br />

a criança está perpetuamente<br />

na escola <strong>do</strong>s senhores (...).<br />

Os jovens negros de hoje não<br />

querem nem o assujeitamento<br />

nem a assimilação. Querem<br />

emancipação. ‘Homens’, dirse-a,<br />

pois, apenas o homem<br />

anda sem mestre nos grandes<br />

caminhos <strong>do</strong> pensamento.”<br />

Ainda neste número inaugural<br />

da revista, Léon Damas<br />

anunciava: “O Estudante Negro,<br />

jornal corporativo e de<br />

luta com o objetivo de colocar<br />

um fim na tribalização e <strong>do</strong><br />

sistema de clãs em vigor no<br />

Quartier Latin (bairro latino<br />

francês). Cessamos de ser um<br />

estudante martinicano, guadalupense,<br />

guianense, africano,<br />

malgache, para sermos um<br />

único e mesmo estudante negro.<br />

Terminan<strong>do</strong> assim com a<br />

vida em isolamento”.<br />

O pan-africanismo<br />

a serviço da literatura<br />

A iniciativa era em si <strong>já</strong> profundamente<br />

revolucionária.<br />

Unia pela primeira vez, não<br />

apenas escritores das Américas<br />

como fez A Revista <strong>do</strong><br />

Mun<strong>do</strong> Negro, mas também<br />

africanos e franceses buscan<strong>do</strong><br />

um intercâmbio cultural mais<br />

profun<strong>do</strong> em torno de seu objetivo<br />

comum, a criação de um<br />

movimento literário verdadeiramente<br />

negro.<br />

Por trás deste objetivo, estava<br />

o programa político <strong>do</strong> panafricanismo,<br />

alia<strong>do</strong> às teorias<br />

culturais de etnógrafos como o<br />

haitiano Jean Price-Mars, que<br />

estu<strong>do</strong>u profundamente a cultura<br />

negra de seu país; o francês<br />

Maurice Delafosse, responsável<br />

por diversas pesquisas<br />

importantes nas colônias francesas<br />

na África; e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

o alemão Léo Frobénius, que<br />

viajou pela África e realizou<br />

diversas descobertas importantes<br />

acerca da cultura das<br />

tribos subsaarianas. Os poetas<br />

<strong>do</strong> Negritude tinham ambos os<br />

estudiosos em alta conta. Senghor<br />

elogiava Frobénius como<br />

o homem que havia “da<strong>do</strong> de<br />

volta a África a sua dignidade<br />

e identidade”. Enquanto que<br />

Aimé Césaire considerava que<br />

Frobénius finalmente havia<br />

prova<strong>do</strong> que os africanos eram<br />

“civiliza<strong>do</strong>s até a medula <strong>do</strong>s<br />

seus ossos”.<br />

O programa<br />

literário <strong>do</strong><br />

Negritude<br />

Os poetas <strong>do</strong> Negritude motiva<strong>do</strong>s<br />

pelos fortes sentimentos<br />

<strong>do</strong> nacionalismo pan-africanista,<br />

buscavam sobretu<strong>do</strong><br />

uma identidade comum aos<br />

povos negros de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

Manten<strong>do</strong> seu programa<br />

de luta <strong>contra</strong> o colonialismo<br />

europeu, veriam nestas descobertas<br />

da rica cultura autóctone<br />

africana, a fonte primordial<br />

de criação para sua literatura<br />

renova<strong>do</strong>ra. Um terreno de<br />

atuação comum para negros<br />

americanos, europeus e africanos.<br />

Seria basea<strong>do</strong> nestas considerações<br />

que se formularia o<br />

programa literário <strong>do</strong> Negritude,<br />

movimento verdadeiramente<br />

amplo que transcenderia<br />

os limites de seu próprio<br />

grupo e mesmo das fronteiras<br />

francesas para se tornar<br />

o mais influente movimento<br />

negro em toda a África.<br />

Este movimento servirá<br />

como ponto de partida fundamental<br />

para o despontar da<br />

literatura negra em dezenas<br />

de países. Daria deste mo<strong>do</strong><br />

um norte para a atividade literária<br />

de centenas de escritores<br />

negros das décadas seguintes,<br />

tanto na África, quanto na<br />

Europa e América. Se constituin<strong>do</strong><br />

como a última etapa de<br />

gestação da literatura negra<br />

e responsável por delinear os<br />

contornos que ela assumiria a<br />

partir de então e até os dias de<br />

hoje.<br />

O termo negritude, no entanto,<br />

surgiria apenas mais<br />

tarde, em 1939, utiliza<strong>do</strong> por<br />

Aimé Césaire para designar estes<br />

escritores em busca de uma<br />

identidade para o seu povo.<br />

Nas páginas de O Estudante<br />

Negro, ele explicaria, “Como os<br />

antilhanos tinham vergonha<br />

de ser negros (‘nègres’, termo<br />

utiliza<strong>do</strong> de forma ofensiva<br />

pelos brancos, <strong>já</strong> que em francês<br />

existe a palavra ‘noir’),<br />

procuravam to<strong>do</strong>s os tipos de<br />

perífrases para designar um<br />

negro.<br />

Dizia-se ‘um negro’ (‘un<br />

noir’), ‘um homem amorena<strong>do</strong>’<br />

e outras besteiras como essas...<br />

e então nós tomamos a palavra<br />

negro (nègre) como uma palavra<br />

desafio. Era um termo de<br />

desafio. Era um pouco a reação<br />

de um jovem em cólera. Já que<br />

tínhamos vergonha da palavra<br />

negro, retomamos a palavra<br />

negro. Devo dizer que quan<strong>do</strong><br />

fundamos L’Étudiant Noir,<br />

eu queria chamá-lo, na realidade,<br />

‘L’Étudiant Nègre’, mas<br />

houve uma grande resistência<br />

no meio antilhano... Alguns<br />

pensavam que a palavra nègre<br />

era por demais ofensiva, por<br />

demais agressiva. Então tomei<br />

a liberdade de falar de nègritude.<br />

Havia um desejo de desafio,<br />

de afirmação violenta de nós<br />

mesmos na palavra ‘nègre’ e na<br />

palavra ‘negritude’”.<br />

O desenvolvimento<br />

das idéias da<br />

negritude<br />

Durante seu desenvolvimento,<br />

a negritude acabaria<br />

se desenvolven<strong>do</strong> em duas correntes<br />

distintas.<br />

Uma delas, defendida por<br />

escritores que entendiam a<br />

negritude como uma corrente<br />

específica da literatura, e entendida<br />

como um problema<br />

Fac símile <strong>do</strong> primeiro número da revista O Estudante Negro<br />

cultural e histórico, uma manifestação<br />

específica de um<br />

programa político mais amplo<br />

de libertação <strong>do</strong> negro da<br />

opressão colonialista e emancipação<br />

geral no interior da sociedade<br />

capitalista.<br />

O senegalês Leopold Sedar Sengor, importante<br />

expoente <strong>do</strong> Negritude<br />

A outra corrente, por outro<br />

la<strong>do</strong>, encarava a negritude de<br />

um ponto de vista mais amplo,<br />

como toda uma política a ser<br />

seguida. Encarava o problema<br />

<strong>do</strong> negro, não como resulta<strong>do</strong><br />

unicamente de séculos de<br />

O poeta Aimé Césaire, um <strong>do</strong>s pincipais nomes<br />

<strong>do</strong> Negritude<br />

opressão política pelos brancos,<br />

mas também como uma<br />

questão biológica e espiritual.<br />

Segun<strong>do</strong> esta interpretação<br />

da negritude, os negros, to<strong>do</strong>s<br />

descendentes da África,<br />

seriam os porta<strong>do</strong>res de alguma<br />

“substância vital negra”,<br />

que apenas eles poderiam<br />

manifestar e que uniria toda<br />

a raça a priori e não em torno<br />

de um determina<strong>do</strong> programa<br />

de luta. Uma implicação óbvia<br />

desta visão específica <strong>do</strong> negro<br />

era encarar a questão deste<br />

povo como um problema de<br />

consciência. Daí seu interesse,<br />

sobretu<strong>do</strong>, pela cultura negra,<br />

encarada como a principal<br />

ferramenta de libertação <strong>do</strong>s<br />

povos negros. Segun<strong>do</strong> eles,<br />

se aproprian<strong>do</strong> das tradições<br />

próprias <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s<br />

africanos, suas histórias, cultos<br />

religiosos, vestimentas e<br />

dialeto, o negro naturalmente<br />

conquistaria sua emancipação<br />

social.<br />

Tal concepção era uma reação<br />

às teorias racistas que cada<br />

vez mais se popularizavam na<br />

Europa, defendidas pelo nazismo<br />

e demais fascismos ao longo<br />

das décadas de 1920 e 1930.<br />

Representava, portanto, neste<br />

momento, também uma tentativa,<br />

ainda que equivocada, de<br />

defesa da dignidade <strong>do</strong> negro.<br />

Embasavam suas idéias na<br />

tradição da religiosidade negra,<br />

mas por seu forte conteú<strong>do</strong><br />

místico, no perío<strong>do</strong> seguinte,<br />

tenderia seriamente para<br />

uma política direitista no interior<br />

<strong>do</strong> movimento negro, freqüentemente<br />

descartan<strong>do</strong> os<br />

princípios da luta política prática<br />

em função desta unidade<br />

“espiritual” de to<strong>do</strong>s os negros.<br />

Ambas as correntes da negritude<br />

foram extremamente<br />

influentes em seu tempo, encabeçadas,<br />

cada uma delas,<br />

por importantes poetas que<br />

haviam inicia<strong>do</strong> o Negritude<br />

e, durante as décadas de 1930-<br />

40-50, se dividiam em seus<br />

campos específicos de combate.<br />

Enquanto o africano Leopold<br />

Sedar Séngor liderava a<br />

corrente “essencialista” da negritude,<br />

escritores caribenhos<br />

como Aimé Césare e Jacques<br />

Roumain situavam-se no campo<br />

oposto.<br />

A negritude no pósguerra<br />

As atividades <strong>do</strong> negritude<br />

se desenvolveriam sempre<br />

através de publicações literárias<br />

que seriam responsáveis<br />

por popularizar as idéias <strong>do</strong><br />

grupo.<br />

Outra importante revista<br />

<strong>do</strong> grupo seria a Présence Africaine<br />

(Presença Africana), que<br />

se tornaria a principal portavoz<br />

da negritude a partir de<br />

1947.<br />

Fundada pelo importante<br />

intelectual senegalês Alioune<br />

Diop, a Presença Africana representava<br />

uma nova etapa<br />

<strong>do</strong> movimento literário negro,<br />

incorporan<strong>do</strong> agora em seu<br />

corpo de colabora<strong>do</strong>res, não<br />

apenas proeminentes escritores<br />

negros, como Aime Cesaire,<br />

Léopold Sédar Senghor e<br />

Richard Wright, mas também<br />

destaca<strong>do</strong>s intelectuais e escritores<br />

franceses, defensores<br />

da literatura negra pan-africana,<br />

tais como Jean-Paul Sartre,<br />

Albert Camus, André Gide<br />

e Michel Leiris, entre outros.<br />

Esta revista participaria<br />

das mais importantes iniciativas<br />

políticas e culturais da negritude<br />

a partir de então, manten<strong>do</strong><br />

suas atividades até os<br />

dias de hoje, não apenas como<br />

revista mas também como editora.<br />

O movimento negritudista<br />

atingiria o ápice de sua popularidade<br />

como corrente literária<br />

durante os movimentos de<br />

libertação das colônias negras<br />

africanas e <strong>do</strong>s movimentos<br />

pelos direitos civis <strong>do</strong>s negros<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s durante as<br />

décadas de 1960 e 70.<br />

Eventos fundamentais marcariam<br />

claramente a expansão<br />

<strong>do</strong> movimento internacionalmente,<br />

como a realização de<br />

duas edições <strong>do</strong> Congresso<br />

Alioune Diop, funda<strong>do</strong>r da Presença Africana, ao<br />

la<strong>do</strong> de Aimé Césaire<br />

Internacional de Escritores e<br />

Artistas Negros. O primeiro<br />

realiza<strong>do</strong> em Paris, em 1956, e<br />

o segun<strong>do</strong> em Roma, em 1959.<br />

Ambos os congressos contaram<br />

com a presença <strong>do</strong>s mais<br />

importantes intelectuais, escritores<br />

e artistas negros e<br />

brancos, apoia<strong>do</strong>res <strong>do</strong> movimento<br />

cultural negro e da luta<br />

política travada nas metrópoles<br />

e colônias pela libertação<br />

<strong>do</strong>s países africanos. Entre os<br />

presentes, estariam figuras<br />

como o antropólogo haitiano<br />

Jean Price-Mars, o poeta malgache<br />

Jacques Rabemananjara,<br />

o antropólogo senegalês<br />

Cheikh Anta Diop, o romancista<br />

norte-americano Richard<br />

Wright, e o psiquiatra e escritor<br />

martinicano Franz Fanon.<br />

Além da participação e apoio<br />

de personalidades como o pintor<br />

espanhol Pablo Picasso.<br />

Este congresso literário retomava<br />

a tradição <strong>do</strong>s congressos<br />

pan-africanos promovi<strong>do</strong>s<br />

por W.E.B. Du Bois, cujos êxitos<br />

haviam de manifesta<strong>do</strong> na<br />

realização de sua quinta edição,<br />

no imediato pós-guerra,<br />

em 1945, onde realizou um<br />

balanço <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> pan-africanismo mais de<br />

duas décadas depois da realização<br />

<strong>do</strong> IV Congresso.<br />

As idéias que foram popularizadas<br />

através da atividade<br />

<strong>do</strong> Negritude, que nada mais<br />

eram <strong>do</strong> que a conclusão de<br />

to<strong>do</strong>s os movimentos culturais<br />

surgi<strong>do</strong>s anteriormente,<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Caribe,<br />

são hoje parte indissociável de<br />

qualquer movimento político<br />

negro, tanto em suas expressões<br />

como nacionalismo burguês,<br />

quanto como movimento<br />

socialista.

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