mobilizar desde já contra o “pacotaço” do governo lula - PCO
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semanário nacional operário e socialista<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
WWW.<strong>PCO</strong>.ORG.BR/CAUSAOPERARIA • FUNDADO EM JUNHO DE 1979 • ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 DE MAIO A 5 DE JUNHO DE 2010 • SP, MG e RJ R$ 4,00 • DEMAIS ESTADOS R$ 5,00<br />
A tarefa <strong>do</strong> momento:<br />
MOBILIZAR DESDE JÁ CONTRA O<br />
“PACOTAÇO” DO GOVERNO LULA<br />
Um corte no orçamento no<br />
valor de R$ 10 bilhões, que<br />
<strong>já</strong> havia si<strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong> no<br />
último dia 13 pelo ministro<br />
da Fazenda de Lula, Gui<strong>do</strong><br />
Mantega, foi confirma<strong>do</strong><br />
pelo <strong>governo</strong> e é apenas o<br />
primeiro passo de um plano<br />
para arrochar a classe<br />
operária e tentar impedir a<br />
falência <strong>do</strong>s capitalistas em<br />
crise. Página A6<br />
O corte no Orçamento expõe o fato de que o <strong>governo</strong> Lula indica para o próximo <strong>governo</strong>, seja este <strong>do</strong> PT ou <strong>do</strong> PSDB, a política econômica a ser seguida.<br />
REAJUSTE zero<br />
Lula vai vetar<br />
aumento para<br />
os aposenta<strong>do</strong>s<br />
Página A6<br />
MOVIMENTO OPERÁRIO<br />
SINTECT-MG:<br />
MAIS um ato de barbárie <strong>do</strong>s pelegos <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB<br />
Elemento <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB<br />
esfaqueia companheiros da<br />
corrente Ecetistas em Luta<br />
Um <strong>do</strong>s companheiros foi hospitaliza<strong>do</strong> com risco de vida.<br />
ELEIÇões no SINTECT-MG<br />
Grande vitória <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e da<br />
política revolucionária: quase 70% de apoio<br />
da categoria à chapa de Ecetistas em Luta em<br />
apenas um dia de votação<br />
Página A9<br />
CORREIOS - MG: Fracassa tentativa de golpe <strong>do</strong>s<br />
PATRõES <strong>contra</strong> a organização sindical<br />
Fura greves, trai<strong>do</strong>res e golpistas tentam dar golpe<br />
até na justiça e são derrota<strong>do</strong>s mais uma vez<br />
Página A9<br />
CORREIOS - SÃO PAULO<br />
Mais uma traição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. <strong>contra</strong> os<br />
trabalha<strong>do</strong>res: diretoria <strong>do</strong> Sintect-SP decide<br />
quebrar greve decidida nacionalmente Página A11<br />
nacional<br />
DILMA ROUSSEff E SERRA<br />
Duas candidaturas, o mesmo programa a<br />
serviço <strong>do</strong>s banqueiros<br />
Página A7<br />
economia<br />
UNIÃO EUROPÉIA<br />
QUER...<br />
Punir os<br />
que não<br />
atacarem os<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
<br />
Página A8<br />
internacional<br />
EUA<br />
O que o imperialismo pode fazer para<br />
evitar o colapso de Wall Street? Página A17<br />
A crise européia<br />
O salto mortal <strong>do</strong> euro<br />
SOANDO O ALARME<br />
A Espanha pode ser a próxima “Grécia”? Já é...<br />
MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />
ESCUTAS telefônicas<br />
Juízes biônicos e Polícia Federal<br />
aperfeiçoam sistema de vigilância<br />
<strong>contra</strong> a população<br />
<br />
PERNAMBUCO<br />
Página A5<br />
Mais um líder sem-terra<br />
assassina<strong>do</strong> pelo latifúndio<br />
Página A7<br />
Página A17<br />
Página A18<br />
USP<br />
Rodas é fraco: ampliar a mobilização para<br />
derrubar o reitor-interventor<br />
Página A14<br />
ENTREVISTA da semana:<br />
segun<strong>do</strong> caderno<br />
atividades<br />
A PRISÃO DOS CINCO CUBANOS NOS EUA<br />
“Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar<br />
destruir a Revolução Cubana que<br />
não puderam. Com to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s<br />
<strong>contra</strong>-revolucionários, a CIA e toda a<br />
sabotagem, não conseguiram”<br />
Causa Operária entrevista Miguel Arango Moral, funda<strong>do</strong>r<br />
da Associação Nacional de Cubanos Residentes no Brasil José<br />
Martí, que denuncia a condenação de cinco cubanos nos EUA<br />
em um processo-farsa. Página A20<br />
mulhERES<br />
Prioridade<br />
DA TROPA de<br />
ChOQUE da<br />
DIREITA<br />
Comissão da<br />
Câmara aprova<br />
Estatuto <strong>do</strong><br />
Nascituro<br />
Página A4<br />
teoria<br />
A questão da<br />
frente úNICA<br />
Os<br />
bolcheviques<br />
e os sovietes<br />
<br />
Página A16<br />
Série ESPECIAL: O DESPERTAR DA<br />
LITERATURA NEGRA<br />
O desenvolvimento <strong>do</strong>s movimentos<br />
literários negros no Caribe e na África<br />
Neste número da série destacamos algumas das principais<br />
manifestações da vanguarda da literatura negra durante as<br />
décadas de 1920 e 1930<br />
hIST[ORIA<br />
65 anos <strong>do</strong> massacre imperialista<br />
O mar de fogo em Dresden<br />
<br />
Página A15<br />
MÁRIO PEIxOTO,<br />
VERA CRUZ e CINEMA NOVO<br />
Palestras, exibição de filmes<br />
e bate-papo sobre cinema<br />
brasileiro no CCBP<br />
O Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) promoveu, no<br />
último final de semana, diversas atividades importantes sobre<br />
movimentos e obras históricas <strong>do</strong> cinema nacional, incluin<strong>do</strong><br />
a pré-estréia <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário <br />
Página A12
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
PANORAMA POLÍTICO DA SEMANA A2<br />
Cortes públicos x greves<br />
Burguesia ataca e<br />
trabalha<strong>do</strong>res europeus reagem<br />
Os trabalha<strong>do</strong>res europeus não estão dispostos a aceitar mais<br />
ataques da burguesia européia. Com a greve na British Airways<br />
e as mobilizações na Espanha, os trabalha<strong>do</strong>res deram mais<br />
uma demonstração de que não irão aceitar pagar a conta da<br />
crise <strong>do</strong> capitalismo<br />
Na última semana o agravamento<br />
da recessão mundial<br />
acentuou a crise política em<br />
diversos países.<br />
Já no início da semana, os<br />
tripulantes da British Airways<br />
iniciaram uma greve que paralisou<br />
toda a companhia aérea.<br />
Na terça-feira, 25, os pilotos,<br />
co-pilotos e navega<strong>do</strong>res<br />
da empresa iniciaram<br />
uma greve para reivindicar o<br />
aumento salarial e melhores<br />
condições de trabalho.<br />
A paralisação foi anunciada<br />
no dia anterior depois que<br />
negociações com a direção da<br />
empresa e a direção <strong>do</strong> sindicato<br />
fracassaram.<br />
A greve da British Airway<br />
mobilizou 15 mil trabalha<strong>do</strong>res,<br />
mediante este quadro<br />
a direção da companhia colocou<br />
em prática um “plano<br />
de contingência” para tentar<br />
manter funcionamento pelo<br />
menos 60% das suas rotas.<br />
Esta <strong>já</strong> é a terceira greve<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res da British<br />
Airways este ano. Em março<br />
a categoria <strong>já</strong> havia realiza<strong>do</strong><br />
duas outras paralisações.<br />
Em 18 de maio estava programada<br />
uma greve, mas a<br />
empresa conseguiu uma ordem<br />
judicial e impediu que os<br />
trabalha<strong>do</strong>res entrassem em<br />
greve.<br />
O grau de radicalização <strong>do</strong><br />
movimento pode ser medi<strong>do</strong><br />
também pelo empenho <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res. No sába<strong>do</strong>, 22,<br />
durante uma das reuniões de<br />
negociação, os trabalha<strong>do</strong>res<br />
ocuparam o prédio e a polícia<br />
foi acionada para proteger o<br />
executivo-chefe da companhia,<br />
Willie Walsh que saiu<br />
escolta<strong>do</strong> <strong>do</strong> local.<br />
Além <strong>do</strong> reajuste salarial e<br />
garantia de emprego, os trabalha<strong>do</strong>res<br />
estão reivindican<strong>do</strong><br />
o retorno <strong>do</strong>s privilégios<br />
de viagem <strong>do</strong>s funcionários<br />
que aderiram à paralisação<br />
em março e que tiveram seus<br />
benefícios corta<strong>do</strong>s pela empresa.<br />
Há também funcionários<br />
que estão sofren<strong>do</strong> processos<br />
administrativos por estarem<br />
participan<strong>do</strong> da greve.<br />
Entre os benefícios corta<strong>do</strong>s<br />
está o desconto de até 90%<br />
nas tarifas locais para que os<br />
trabalha<strong>do</strong>res se desloquem<br />
entre os países europeus para<br />
trabalhar.<br />
A crise na British Airways<br />
é um sintoma da crise geral<br />
européia que está mobilizan<strong>do</strong><br />
os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s países<br />
europeus endivida<strong>do</strong>s que<br />
a<strong>do</strong>taram a política de cortes<br />
de gastos públicos. A mesma<br />
tentativa <strong>do</strong> <strong>governo</strong> inglês<br />
em fazer os trabalha<strong>do</strong>res pagarem<br />
pela crise <strong>do</strong>s patrões<br />
terá conseqüências catastróficas<br />
para o imperialismo britânico.<br />
O fato de a greve ter atingi<strong>do</strong><br />
os tripulantes da British<br />
Airways, considerada uma<br />
categoria de elite entre os<br />
trabalha<strong>do</strong>res britânicos, prenuncia<br />
que não falta muito<br />
para as demais categorias da<br />
classe operária britânica, também<br />
se <strong>mobilizar</strong>em.<br />
Mais ataque aos<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
europeus<br />
Nesta última semana novos<br />
países europeus bateram<br />
o martelo para os planos de<br />
austeridade.<br />
Nesta semana foi o <strong>governo</strong><br />
italiano que aprovou o plano<br />
de “austeridade” <strong>contra</strong> os<br />
trabalha<strong>do</strong>res.<br />
O <strong>governo</strong> italiano não<br />
poupou cinismo para justificar<br />
a aprovação de cortes<br />
diretos nos benefícios <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Para o <strong>governo</strong> de<br />
Berlusconi, “as medidas vão<br />
implicar sacrifícios difíceis,<br />
que o <strong>governo</strong> é obriga<strong>do</strong> a<br />
impor imediatamente. É preciso<br />
agir o mais rápi<strong>do</strong> possível<br />
para salvar o nosso país<br />
de... digamos o ‘risco grego’,<br />
por assim dizer” (Euronews,<br />
25/5/2010).<br />
A meta <strong>do</strong>s cortes italianos<br />
é diminuir em 24 bilhões de<br />
euros o orçamento <strong>do</strong> País. A<br />
política de cortes <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
italiano será a mesma implantada<br />
pelos demais países fali<strong>do</strong>s<br />
da zona <strong>do</strong> euro, ou seja,<br />
sugar tu<strong>do</strong> que for possível<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res para aliviar<br />
as contas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e fazer<br />
com que os capitalistas não<br />
percam lucro.<br />
Entre as medidas italianas<br />
está o congelamento <strong>do</strong>s salários<br />
<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res públicos<br />
até o ano de 2013. Também<br />
será proibi<strong>do</strong> haver novas<br />
<strong>contra</strong>tações no setor público.<br />
O plano ainda prevê redução<br />
de verbas para áreas sociais<br />
como saúde e o ataque aos<br />
trabalha<strong>do</strong>res aposenta<strong>do</strong>s<br />
com o aumento <strong>do</strong> tempo de<br />
serviço da aposenta<strong>do</strong>ria.<br />
A Itália demorou a aderir<br />
ao plano de austeridade, pois<br />
entre os países endivida<strong>do</strong>s<br />
possui um <strong>do</strong>s menores déficits<br />
da Europa, 5,3% <strong>do</strong> PIB<br />
(Produto Interno Bruto).<br />
As bolsas reagiram mal ao<br />
plano de austeridade italiano,<br />
despencaram no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />
Esta reação é bastante justificada,<br />
pois a economia italiana<br />
é a terceira maior da zona <strong>do</strong><br />
euro e sete vezes maior que a<br />
economia grega. A política de<br />
cortes na Itália é muito mais<br />
preocupante que na Grécia,<br />
pois indica que o mesmo deve<br />
acontecer com os demais países<br />
imperialistas europeus o<br />
que pode levar à falência de<br />
to<strong>do</strong> o bloco europeu de 16<br />
países que compõem a zona<br />
<strong>do</strong> euro.<br />
As bolsas também caíram<br />
pelo aprofundamento da crise<br />
entre as Coréias. O resulta<strong>do</strong><br />
das bolsas asiáticas e européias<br />
foi o pior em oito meses,<br />
<strong>desde</strong> setembro <strong>do</strong> ano<br />
passa<strong>do</strong>.<br />
Em resposta à continuidade<br />
e aprofundamento da crise<br />
européia e a piora na relação<br />
entre Coréia <strong>do</strong> Norte e Coréia<br />
<strong>do</strong> Sul, as bolsas da Europa<br />
tiveram nesta semana a<br />
maior queda <strong>desde</strong> setembro<br />
<strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />
A Itália ainda apresenta um<br />
quadro bastante alarmante,<br />
15% das famílias estão profundamente<br />
abaladas com a<br />
crise financeira e mais de <strong>do</strong>is<br />
milhões de jovens entre 15 e<br />
29 anos estão desemprega<strong>do</strong>s<br />
e sem condições de estudar.<br />
Por um voto<br />
Outro país europeu que<br />
ratificou a política de cortes<br />
foi a Espanha. O parlamento<br />
espanhol aprovou o plano de<br />
austeridade com apenas um<br />
voto de diferença.<br />
Este resulta<strong>do</strong> demonstrou<br />
a profunda crise política criada<br />
pela tentativa <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
Zapatero de aplicar um amplo<br />
plano de cortes <strong>contra</strong> o<br />
funcionalismo público e as<br />
condições de vida da classe<br />
trabalha<strong>do</strong>ra.<br />
O pacote espanhol foi aprova<strong>do</strong><br />
com críticas de to<strong>do</strong>s os<br />
la<strong>do</strong>s, tanto da direita quanto<br />
da esquerda. A votação foi de<br />
169 a favor e 168 votos <strong>contra</strong>.<br />
O projeto <strong>do</strong> <strong>governo</strong> só<br />
passou porque o parti<strong>do</strong> de<br />
centro-direita catalão CiU se<br />
absteve.<br />
O plano de austeridade espanhol<br />
pretende cortar 15 bilhões<br />
de euros <strong>do</strong> orçamento.<br />
Em <strong>contra</strong> partida ao pacote<br />
espanhol, os trabalha<strong>do</strong>res<br />
espanhóis, a exemplo <strong>do</strong>s gregos,<br />
<strong>já</strong> estão se organizan<strong>do</strong>.<br />
Com o anúncio <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
Zapatero <strong>do</strong> corte de 5% nos<br />
salários em to<strong>do</strong> o País, os<br />
protestos <strong>já</strong> se espalham pela<br />
Europa.<br />
Bastou este anúncio para<br />
que a resposta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
viesse com protestos e<br />
greves <strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong>s na Espanha.<br />
A greve <strong>do</strong> setor público<br />
está marcada para o próximo<br />
dia 8. Com os cortes, os<br />
trabalha<strong>do</strong>res espanhóis perdem<br />
bastante porque a média<br />
salarial <strong>do</strong> setor público é de<br />
1.500 euros. Com o plano de<br />
austeridade em vigor, os acor<strong>do</strong>s<br />
salariais <strong>já</strong> estabeleci<strong>do</strong>s,<br />
entre o funcionalismo público<br />
perdem a validade.<br />
Um <strong>do</strong>s protestos realiza<strong>do</strong>s<br />
pelos trabalha<strong>do</strong>res foi<br />
diante <strong>do</strong>s prédios <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
na última semana.<br />
A Espanha é um <strong>do</strong>s países<br />
mais afeta<strong>do</strong>s com a crise<br />
econômica de toda a zona <strong>do</strong><br />
euro. O desemprego atinge<br />
20% da população, sen<strong>do</strong> que<br />
em 2008 era de 8%.<br />
Com estes cortes, a tensão<br />
entre <strong>governo</strong> e trabalha<strong>do</strong>res<br />
deve aumentar porque os benefícios<br />
e auxílios até mesmo<br />
para os desemprega<strong>do</strong>s vão<br />
ser corta<strong>do</strong>s.<br />
Jamaica: mais um<br />
ataque <strong>do</strong> imperialismo<br />
Novamente os Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s interfere para conter a<br />
crise revolucionária na América<br />
Latina. Desta vez é na Jamaica.<br />
No último dia 24, mais<br />
de 40 civis foram mortos a<br />
pretexto da captura de um traficante<br />
chama<strong>do</strong>, Christopher<br />
“Dudus” Coke.<br />
Os mora<strong>do</strong>res estão desespera<strong>do</strong>s<br />
e acusam os solda<strong>do</strong>s<br />
jamaicanos de atirar em qualquer<br />
pessoa sem nenhuma<br />
ressalva. O número de mortos<br />
pode chegar a mais de 70.<br />
Os conflitos iniciaram<br />
quan<strong>do</strong> tropas <strong>do</strong> Exército e<br />
a polícia ocuparam os bairros<br />
pobres de Tivoli Gardens, a<br />
oeste da capital Kingston.<br />
A operação foi realizada a<br />
pretexto <strong>do</strong> mandato de prisão<br />
e extradição <strong>do</strong> traficante<br />
“Dudus” Coke. A “operação”<br />
foi encomendada pelos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e <strong>já</strong> tomou proporções<br />
de uma verdadeira<br />
guerra civil.<br />
Desde o início da semana<br />
passada o número de mortos<br />
em confrontos, com o que a<br />
imprensa internacional chama<br />
de “ban<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
traficantes”, chegou a 73.<br />
É claro que a imprensa<br />
burguesa está manipulan<strong>do</strong><br />
as informações e o que está<br />
ocorren<strong>do</strong> não trata de uma<br />
gangue, pois Coke tem uma<br />
série de adeptos que se manifestaram<br />
nas ruas da capital<br />
<strong>do</strong> País nos últimos dias <strong>contra</strong><br />
sua extradição.<br />
Enquanto a imprensa acusa<br />
a população de traficantes,<br />
o número de mortes e de armas<br />
apreendidas pela polícia<br />
revela a farsa. Segun<strong>do</strong> o<br />
Defensor Publico Earl Witter<br />
“Há disparidade entre os números<br />
de mortos e o número<br />
de armas apreendidas. As forças<br />
de segurança, até agora<br />
foram responsáveis por quatro<br />
armas de fogo apreendidas.”<br />
(jamaicaobserver.com,<br />
26/5/2010).<br />
Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s querem<br />
prender Coke a qualquer custo<br />
para julgá-lo e condená-lo<br />
a prisão perpétua e para isso<br />
está assassinan<strong>do</strong> a queima<br />
roupa dezenas de jamaicanos.<br />
Esta operação foi possível<br />
mediante um pacto que o <strong>governo</strong><br />
jamaicano assinou com<br />
os EUA, em 1998, permitin<strong>do</strong><br />
que policiais e militares pudessem<br />
entrar no país e perseguir<br />
suspeitos de trafico de<br />
drogas.<br />
A reação popular a favor<br />
de Coke é porque o traficante<br />
ajuda os pobres <strong>do</strong> País como<br />
se fosse um Robin Hood moderno,<br />
coloca crianças na escola,<br />
entrega dinheiro para os<br />
pobres e ajuda os mora<strong>do</strong>res<br />
dan<strong>do</strong> assistência básica.<br />
Como a situação econômica<br />
da Jamaica não foge à<br />
regra mundial, ou seja, está<br />
profundamente crítica. Os<br />
políticos <strong>do</strong> País fizeram um<br />
acor<strong>do</strong> com os traficantes.<br />
Enquanto os políticos governam<br />
oficialmente, os traficantes,<br />
por meio da popularidade<br />
entre os pobres, conseguem<br />
benefícios em troca de votos.<br />
A mobilização da população<br />
jamaicana em favor <strong>do</strong><br />
“traficante” reflete mais que<br />
um apoio a Coke, mas um<br />
descontentamento generaliza<strong>do</strong><br />
que existe no País diante<br />
da total falência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> jamaicano<br />
que é um reflexo da<br />
falência <strong>do</strong> capitalismo como<br />
um to<strong>do</strong>.<br />
22 SÁB<br />
• Obama anuncia a<br />
nova Estratégia de<br />
Defesa <strong>do</strong>s EUA.<br />
• Pior queda nas bolsas<br />
européias e asiáticas<br />
<strong>desde</strong> setembro de<br />
2009<br />
• 80 pessoas<br />
morrem em<br />
atenta<strong>do</strong>s<br />
cometi<strong>do</strong>s no<br />
Paquistão<br />
Exército jamaicano assassina 73 civis como pretexto de captura de traficantes,<br />
Christopher “Dudus” Coke<br />
Depois de fracasso nas negociações trabalha<strong>do</strong>res da empresa aérea British Airways<br />
entram em greve.<br />
Espanha aprova plano de austeridade fiscal com votação super apertada que vai<br />
promover cortes de gastos públicos de mais de 15 bilhões de euros<br />
Devi<strong>do</strong> às acusações da Coréia <strong>do</strong> Sul <strong>contra</strong> a Coreia <strong>do</strong> Norte, de ter torpedea<strong>do</strong> um<br />
navio, os EUA junto com a Coréia <strong>do</strong> Sul iniciaram novamente a política de pressões<br />
<strong>contra</strong> os norte-coreanos<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
Funda<strong>do</strong> em junho de 1979<br />
Editor - Rui Costa Pimenta - Tiragem - seis mil e quinhentos exemplares - Redação - Av. Miguel Stéfano nº 349,<br />
Saúde, São Paulo, Capital, CEP 04301-010 - Telefone (11) 5584-9322 - Sede Nacional - São Paulo - Av Miguel<br />
Stéfano, nº 349, Saúde, São Paulo, Capital, CEP 04301-010, Fone (11) 5584-9322 - Correspondência e assinaturas<br />
- Todas as cartas, pedi<strong>do</strong>s de assinaturas ou de informações sobre as publicações Causa Operária devem<br />
ser enviadas para a redação ou para o endereço eletrônico - pco@pco.org.br, página na internet - www.pco.<br />
org.br/causaoperaria<br />
ACONTECEU NA ÚLTIMA SEMANA<br />
23 <strong>do</strong>m<br />
• Anuncia<strong>do</strong> o<br />
assassinato de mais<br />
um trabalha<strong>do</strong>r<br />
sem-terra, Zito José<br />
Gomes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
de Pernambuco<br />
• Chacina na<br />
Jamaica mata no<br />
mínimo 73 civis<br />
24 seg<br />
• Trabalha<strong>do</strong>res<br />
da British Airways<br />
entram em greve<br />
25 ter 26 qua<br />
27 qui<br />
21 sex<br />
• Congresso<br />
espanhol aprova <strong>do</strong><br />
plano de austeridade<br />
por apenas um voto<br />
de diferença<br />
Semanário de circulação nacional<br />
Ano XXX - nº 588 - de 30 de maio a 5 de junho de 2010<br />
SP, MG e RJ R$ 4,00 • demais esta<strong>do</strong>s R$ 5,00
30 de maio 2010 CAUSA OPERÁRIA A3<br />
Editoriais<br />
A falência da União Européia<br />
A<br />
crise grega expôs as fissuras fundamentais na união<br />
monetária da União Européia. Diante de uma das<br />
maiores crises que <strong>já</strong> atingiu o bloco, este não foi<br />
capaz não só de evitar a crise, como impedir que<br />
ela se espalhasse para os outros países europeus, com o endividamento<br />
desses países e a desvalorização <strong>do</strong> euro.<br />
Uma das características da união monetária européia é a<br />
eliminação <strong>do</strong>s riscos envolvi<strong>do</strong>s no câmbio entre os países.<br />
No entanto, uma crise como a da Grécia está ameaçan<strong>do</strong> de<br />
falência o crédito nacional <strong>do</strong>s demais países da zona <strong>do</strong> euro<br />
e a própria moeda <strong>do</strong> bloco.<br />
Isso porque o me<strong>do</strong> da falência da Grécia levou o merca<strong>do</strong><br />
financeiro a aumentar os custos <strong>do</strong>s empréstimos a outros<br />
países cuja economia tem características semelhantes, como<br />
Espanha e Portugal, as mais fracas <strong>do</strong> bloco. O que demonstrou<br />
a fragilidade <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> financeiro estabeleci<strong>do</strong> no bloco, que se<br />
rompeu diante da crise, e da própria existência <strong>do</strong> bloco europeu<br />
ameaça<strong>do</strong> de falência.<br />
Um efeito em cadeia se seguiu atingin<strong>do</strong> os países-membros<br />
mais fortes da União Européia diante da alta exposição <strong>do</strong>s seus<br />
bancos ao risco Grécia.<br />
A crise <strong>já</strong> está consumin<strong>do</strong> os recursos disponíveis <strong>do</strong>s países<br />
europeus e coloca a possibilidade de falência <strong>do</strong> euro em um<br />
curto espaço de tempo. É possível que o bloco europeu não dure<br />
Brasil: terra <strong>do</strong> grampo e <strong>do</strong>s juízes biônicos<br />
O<br />
aperfeiçoamento <strong>do</strong>s grampos telefônicos que acaba<br />
de ser decidi<strong>do</strong> pelo Conselho Nacional de Justiça,<br />
presidi<strong>do</strong> hoje pela figura que representa a direita no<br />
Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, é um exemplo<br />
de que os juízes biônicos estabelecem uma terra sem lei no País.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que a imprensa burguesa afirma, de que<br />
seriam os juízes biônicos, indica<strong>do</strong>s pelo <strong>governo</strong>, as grandes<br />
autoridades, as pessoas mais lúcidas e com maior preparo para<br />
decidir sobre questões polêmicas, estes provam ser parte da<br />
ala direitista mais raivosa no Esta<strong>do</strong>.<br />
Foram estes juízes, por meio <strong>do</strong> Conselho Nacional de Justiça,<br />
que decidiram nos basti<strong>do</strong>res, junto com a Polícia Federal,<br />
que estes órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> poderão ter centrais instaladas nas<br />
empresas de telefonia para ter acesso a to<strong>do</strong>s os telefones no<br />
País e que, mediante autorizações <strong>do</strong>s mesmos juízes, a PF<br />
poderá interceptar qualquer ligação.<br />
Os juízes alimentam um monstro, um esquema apoia<strong>do</strong> por<br />
um esta<strong>do</strong> de exceção que pode se voltar <strong>contra</strong> to<strong>do</strong>s, por um<br />
poder sem limites que é da<strong>do</strong> a um órgão policial.<br />
O Brasil <strong>já</strong> é hoje uma “terra sem lei” quan<strong>do</strong> se trata de<br />
grampos e escutas telefônicas.<br />
Da<strong>do</strong>s oficiais <strong>do</strong> Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de<br />
maio deste ano, são de que o País tem 10,5 mil casos de interceptações<br />
em curso, decretadas pela Justiça nos esta<strong>do</strong>s e pela<br />
Caso da furadeira: não houve engano,<br />
mas intenção de matar<br />
Charge da semana<br />
nem mais uma década. As diferenças estão colocadas apenas<br />
sobre como a crise vai se desenvolver.<br />
O imperialismo europeu e norte americano preparam um<br />
conjunto de medidas drásticas a serem aplicadas na Grécia para<br />
evitar o colapso financeiro <strong>do</strong> país que <strong>já</strong> atinge outros países<br />
europeus. A redução drástica <strong>do</strong> déficit público <strong>do</strong> país, com<br />
cortes salariais, corte de empregos, aposenta<strong>do</strong>rias e direitos<br />
elementares da população, como saúde e educação, são medidas<br />
que até mesmo a cúpula <strong>do</strong> imperialismo acredita serem inviáveis<br />
para evitar o colapso <strong>do</strong> país e a falência da União Européia.<br />
O bloco europeu en<strong>contra</strong>-se em perigo diante da eminência<br />
de falência <strong>do</strong>s seus países-membros. Os <strong>governo</strong>s da<br />
Alemanha, França, Espanha, Itália, Portugal e Reino Uni<strong>do</strong> <strong>já</strong><br />
anunciam medidas para conter a crise que se espalha e atinge<br />
suas economias.<br />
Em resposta aos ataques <strong>do</strong> <strong>governo</strong>s, os trabalha<strong>do</strong>res gregos<br />
estão realizan<strong>do</strong>, <strong>desde</strong> o início <strong>do</strong> ano, enormes mobilizações de<br />
massa. Mobilizações que estão sen<strong>do</strong> seguidas pelos demais trabalha<strong>do</strong>res<br />
europeus e que evoluem em um senti<strong>do</strong> revolucionário.<br />
O impasse en<strong>contra</strong><strong>do</strong> pelo imperialismo é que diante <strong>do</strong><br />
ataque sem precedentes que pretendem realizar <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res<br />
europeus não há nenhuma forma de evitar a revolta<br />
desses trabalha<strong>do</strong>res e o desenvolvimento da tendência revolucionária<br />
dessas mobilizações.<br />
Justiça Federal.<br />
Em 2007 foram realizadas 407 mil interceptações telefônicas,<br />
o que foi levanta<strong>do</strong> na CPI <strong>do</strong> grampo, segun<strong>do</strong> as próprias<br />
empresas de telefonia.<br />
Diante das atuais mudanças e <strong>do</strong>s números que são aberrantes,<br />
o CNJ mostra o que pretende <strong>contra</strong> a população.<br />
A juíza auxiliar da Correge<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> CNJ, Salise Monteiro<br />
Sanchotene, chegou a declarar à Agência Esta<strong>do</strong> no último<br />
dia 23 de maio que este “é um número relativamente pequeno<br />
de interceptações, não é nada para um País de 180 milhões<br />
de habitantes”.<br />
Por comparação com outros países, as leis que garantem<br />
no Brasil o direito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de realizar os grampos só se<br />
assemelham às arbitrariedades realizadas pelo imperialismo<br />
norte-americano como o Patriotic Act que varreu da Constituição<br />
<strong>do</strong>s EUA direitos democráticos sob a pressão <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
de George W. Bush.<br />
No Brasil, as escutas não só são usadas como um <strong>do</strong>s meios<br />
principais em uma investigação, como é dada autorização de<br />
acor<strong>do</strong> com o escalão <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s em promover as escutas,<br />
como se viu no caso <strong>do</strong> banqueiro Daniel Dantas e da<br />
briga entre empresas de telefonia nacionais e internacionais<br />
no Brasil, como também são usadas <strong>contra</strong> os movimentos<br />
populares e a esquerda.<br />
O<br />
caso de Hélio Barreira Ribeiro, executa<strong>do</strong> por policiais<br />
simplesmente porque estava com um furadeira, que<br />
supostamente foi confundida com uma arma, foi o<br />
último exemplo de barbaridade policial a vir à tona.<br />
Para se ter idéia <strong>do</strong> absur<strong>do</strong>, apenas nas últimas semanas<br />
os policiais foram denuncia<strong>do</strong>s por promover ao menos três<br />
chacinas, entre elas a chacina da Baixada Santista, São Paulo,<br />
na qual os policiais em uma única semana mataram 23 pessoas<br />
e planejavam executar outras 50. Isso sem falar nos casos <strong>do</strong>s<br />
motoboys que foram brutalmente assassina<strong>do</strong>s e agora o caso<br />
<strong>do</strong> jovem executa<strong>do</strong> por um cabo <strong>do</strong> Batalhão de Operações<br />
Policiais Especiais (Bope) porque estava seguran<strong>do</strong> uma<br />
furadeira.<br />
O crime aconteceu na uinta-feira, dia 20, no Andaraí, na<br />
zona Norte <strong>do</strong> Rio de Janeiro. De acor<strong>do</strong> com testemunhas<br />
a vítima Hélio Barreira Ribeiro estava instalan<strong>do</strong> um tol<strong>do</strong><br />
no terraço da sua casa quan<strong>do</strong> foi atingi<strong>do</strong> por uma bala de<br />
fuzil disparada pelo cabo <strong>do</strong> Bope. A desculpa esfarrapada<br />
apresentada pela Polícia e por toda a imprensa burguesia foi<br />
a de que o policial havia “confundi<strong>do</strong>” a furadeira com uma<br />
arma. O cinismo da afirmação é grotesco. É óbvio que não<br />
houve nenhuma confusão. É impossível que qualquer pessoa<br />
que esteja a poucos metros de distância de uma furadeira, que<br />
vale a pena salientar tinha um fio de mais de 24 cm, a confunda<br />
com uma arma. Não só isso. Mesmo que fosse uma arma,<br />
isso não daria à polícia o direito de simplesmente executar o<br />
seu porta<strong>do</strong>r.<br />
O descaramento da polícia fica ainda mais evidente pelo<br />
fato de o assassino ser um <strong>do</strong>s cabos mais experientes, responsável<br />
por atuar na linha de frente durante incursões da<br />
tropa nas favelas. Um policial que está na polícia há mais<br />
de 12 anos e que inclusive fez curso de tiros nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e na Polícia Federal. Ou seja, não se tratava de um<br />
mero policial, de uma pessoa sem experiência, mas de uma<br />
figura importante, que sem sombra de dúvidas tinha a plena<br />
certeza <strong>do</strong> que estava fazen<strong>do</strong>. Para piorar a situação, depois<br />
de executar o mora<strong>do</strong>r os policiais ainda invadiram a casa,<br />
apontaram o fuzil para a esposa da vítima (que não possuía<br />
nenhuma “arma” na mão), mandan<strong>do</strong> aos gritos que ela se<br />
jogasse no chão. O que mostra que não havia nenhum engano,<br />
mas uma clara intenção de matar.<br />
O que também chama atenção é que poucas horas antes<br />
de Hélio Ribeiro ser executa<strong>do</strong>, policiais <strong>do</strong> 6º Batalhão de<br />
Polícia Militar da Tijuca estavam realizan<strong>do</strong> uma operação no<br />
Morro <strong>do</strong> Andaraí, que terminou com a morte de pelo menos<br />
três pessoas. Como se vê, o caso é apenas uma demonstração<br />
<strong>do</strong> que acontece diariamente com a população pobre e<br />
trabalha<strong>do</strong>ra, principalmente a que mora nas favelas, onde<br />
essas ações são ainda piores, <strong>já</strong> que existe to<strong>do</strong> um acor<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s setores da burguesia para ocultar esses casos, permitin<strong>do</strong><br />
assim o extermínio produzi<strong>do</strong> pela polícia.<br />
Nesse senti<strong>do</strong> o que se coloca para a população é a necessidade<br />
imediata de organizar uma reação às matanças da PM.<br />
Para isso apenas a criação de milícias populares, escolhida<br />
pela população de cada comunidade, pode solucionar o problema.<br />
Apenas dessa forma a classe operária, principal alvo<br />
da política de extermínio da burguesia, pode se defender <strong>do</strong>s<br />
ataques promovi<strong>do</strong>s pelos setores mais direitistas.<br />
Enquanto demagogia<br />
ecológica corre solta,<br />
monopólios capitalistas<br />
produzem um <strong>do</strong>s<br />
maiores desastres<br />
ecológicos da História<br />
Rui Costa Pimenta<br />
que representa 75 milhões de dólares para uma<br />
O empresa que tem faturamento anual de 246, 1<br />
bilhões? Apenas 0,03%. Ou seja, nada.<br />
Este é o valor que a British Petroleum vai pagar de<br />
multa pelo que <strong>já</strong> é considera<strong>do</strong> o pior derramamento<br />
de petróleo da História, até agora estima<strong>do</strong> em 148<br />
milhões de litros, mas que pode ser mais de duas vezes<br />
maior, com danos inestimáveis para o meio ambiente.<br />
Vale lembrar que estamos em meio à maior onda de<br />
demagogia ecológica que a humanidade <strong>já</strong> conheceu.<br />
O imperialismo mundial se esforça ao máximo para<br />
convencer a to<strong>do</strong>s que há mudanças climáticas que<br />
estariam colocan<strong>do</strong> o planeta em perigo.<br />
Sob esse pretexto queriam, por exemplo, impor uma<br />
drástica redução na produção industrial de países como<br />
o Brasil, Índia e China. A histeria em torno <strong>do</strong> “aquecimento<br />
global” serviria também para que estes países<br />
<strong>do</strong>assem somas bilionárias para um “fun<strong>do</strong>” que ficaria,<br />
evidentemente, sob controle <strong>do</strong> próprio imperialismo. Os<br />
países imperialistas fazem uma campanha internacional<br />
em defesa da Amazônia que os primitivos brasileiros<br />
não teriam condições de preservar e precisariam ser tutela<strong>do</strong>s<br />
pelos limpos e evoluí<strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s imperialistas.<br />
Enquanto isso, o <strong>governo</strong> norte-americano deu carta<br />
branca para que a British Petroleum e outras companhias<br />
agissem livremente na exploração <strong>do</strong> petróleo e gás no<br />
Golfo <strong>do</strong> México, não exigin<strong>do</strong> que essas seguissem<br />
qualquer regulamento de segurança nos procedimentos<br />
que executam. Esta medida é uma das responsáveis pelas<br />
trágicas conseqüências <strong>do</strong> acidente. Há mais de um mês,<br />
<strong>desde</strong> a explosão de uma plataforma, estima-se que até<br />
11 milhões de litros de petróleo estejam vazan<strong>do</strong> por<br />
dia, o que poderia ter si<strong>do</strong> evita<strong>do</strong>.<br />
A demagogia ecológica serve, assim, muito bem ao<br />
propósito de procurar barrar o desenvolvimento industrial<br />
<strong>do</strong>s países atrasa<strong>do</strong>s e de extorquir esses países para<br />
financiar os banqueiros e capitalistas internacionais.<br />
Serve igualmente para exercer muita pressão moral e<br />
política sobre a população em geral. No entanto, quan<strong>do</strong><br />
os polui<strong>do</strong>res são os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ou o Reino Uni<strong>do</strong>,<br />
quan<strong>do</strong> são os gigantescos monopólios capitalistas, ou<br />
seja, quan<strong>do</strong> eles mesmos se revelam como os maiores<br />
polui<strong>do</strong>res e causa<strong>do</strong>res de desastres naturais, não há<br />
defesa da ecologia, mas apenas a defesa <strong>do</strong> lucro <strong>do</strong>s<br />
grandes capitalistas.<br />
Como eles disseram...<br />
“(...) para a revolução não basta que as massas exploradas e<br />
oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar<br />
viven<strong>do</strong> como vivem e exijam transformações; para a revolução<br />
é necessário que os explora<strong>do</strong>res não possam continuar<br />
viven<strong>do</strong> e governan<strong>do</strong> como vivem e governam. Só quan<strong>do</strong> os<br />
“de baixo” não querem e os “de cima” não podem continuar<br />
viven<strong>do</strong> à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em<br />
outras palavras, esta verdade exprime-se <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />
a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que<br />
afete explora<strong>do</strong>s e explora<strong>do</strong>res). Por conseguinte, para fazer a<br />
revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria<br />
<strong>do</strong>s operários (ou, em to<strong>do</strong> caso, a maioria <strong>do</strong>s operários<br />
conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a<br />
fun<strong>do</strong> a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar<br />
a vida por ela ; em segun<strong>do</strong> lugar, é preciso que as classes<br />
dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à<br />
política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda<br />
revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação <strong>do</strong><br />
número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes<br />
à massa trabalha<strong>do</strong>ra e oprimida, antes apática), que<br />
reduza o <strong>governo</strong> à impotência e. torne possível sua rápida<br />
derrubada pelos revolucionários”.<br />
Datas<br />
Vladimir Ilitch Lênin<br />
de Esquerdismo: <strong>do</strong>ença infantil <strong>do</strong> comunismo.<br />
31 de maio de 1819<br />
Nasce Walt Whitman, poeta norte-americano.<br />
2 de junho de 1964<br />
Criação da Organização para a Libertação da Palestina<br />
(OLP).<br />
3 de junho de 1906<br />
Nascimento de Josephine Baker, cantora, atriz e ativista<br />
norte-americana<br />
3 de junho de 1924<br />
Morre Franz Kafka, escritor tcheco , autor de A metamorfose<br />
4 de junho de 1969<br />
O Exército de Mobutu reprime manifestação no Congo,<br />
causan<strong>do</strong> a morte de mais de 100 estudantes.<br />
Frases da semana<br />
“To<strong>do</strong>s que mostram reação negativa (ao acor<strong>do</strong> entre<br />
Brasil, Turquia e Irã) têm armas nucleares”, Recep Tayyip<br />
Er<strong>do</strong>gan, premiê da Turquia sobre o acor<strong>do</strong> com Teerã.<br />
“As medidas vão implicar sacrifícios difíceis, que o <strong>governo</strong><br />
é obriga<strong>do</strong> a impor imediatamente. É preciso agir o<br />
mais rápi<strong>do</strong> possível para salvar o nosso país de... digamos<br />
o ‘risco grego’, por assim dizer”, afirmou ao Euronews o<br />
subsecretário da presidência <strong>do</strong> Conselho de Ministros da<br />
Itália sobre o pacote de retenção de gastos aprova<strong>do</strong> pelo<br />
<strong>governo</strong> italiano.<br />
“[o movimento na Tailândia] expandiu-se para se assemelhar<br />
a um grande movimento social em relação aos segmentos menos<br />
favoreci<strong>do</strong>s da sociedade tailandesa rebelan<strong>do</strong>-se <strong>contra</strong> o que<br />
eles dizem que é uma elite que tenta controlar as instituições<br />
democráticas da Tailândia”, nota da imprensa internacional<br />
sobre o desenvolvimento <strong>do</strong>s conflitos na Tailândia.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MULHERES A4<br />
PRIORIDADE DA TROPA DE CHOQUE DA DIREITA<br />
Comissão da Câmara aprova Estatuto <strong>do</strong> Nascituro<br />
Comissão de Seguridade Social e Família aprovou o<br />
projeto de lei que pretende acabar com o direito das<br />
mulheres ao aborto em casos de violência sexual,<br />
criminalizar a fertilização in vitro e pesquisas com<br />
cé<strong>lula</strong>s-tronco embrionárias<br />
Sessão da CSSF que aprovou o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />
No último dia 19, a Comissão<br />
de Seguridade Social e<br />
Família (CSSF), da Câmara<br />
<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s aprovou o Projeto<br />
de Lei 478/2007 que cria<br />
o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />
O projeto é a junção de uma<br />
série de outros projetos da tropa<br />
de choque da direita <strong>contra</strong><br />
as mulheres que no Congresso<br />
Nacional atuam para<br />
atacar os direitos das mulheres.<br />
O Estatuto reúne absur<strong>do</strong>s<br />
jurídicos, ataque a princípios<br />
constitucionais, retrocesso<br />
da legislação atual em diversos<br />
aspectos, além de criar<br />
empecilhos para estu<strong>do</strong>s, por<br />
exemplo, com cé<strong>lula</strong>s-tronco<br />
embrionárias e fertilização in<br />
vitro.<br />
Como <strong>já</strong> foi dito aqui, o projeto<br />
é a prioridade da tropa de<br />
choque da direita. É o “PAC”<br />
<strong>do</strong>s conserva<strong>do</strong>res e fundamentalistas<br />
para este ano eleitoral.<br />
A aprovação <strong>do</strong> projeto<br />
é fundamental para justificar o<br />
financiamento de suas candidaturas,<br />
seja por parte da Igreja,<br />
de organismos internacionais,<br />
de caixa <strong>do</strong>is ou coisa que<br />
o valha. É parte <strong>do</strong> programa<br />
político da hierarquia da Igreja<br />
Católica para impor <strong>do</strong>gmas<br />
através de leis, e a prisão de<br />
mulheres em nome <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>.<br />
E ainda parte <strong>do</strong> programa da<br />
direita internacional que diante<br />
da crise <strong>do</strong> regime vem aumentan<strong>do</strong><br />
sua ação repressiva<br />
em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e pretende<br />
cada vez mais restringir os direitos<br />
democráticos de toda a<br />
população.<br />
CPI DO ABORTO<br />
Mais uma indicação<br />
No mesmo dia em que foi<br />
aprova<strong>do</strong> o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />
a CPI <strong>do</strong> aborto recebeu<br />
mais uma indicação. Agora são<br />
11 titulares. Faltam <strong>do</strong>is para a<br />
CPI ser instalada<br />
No último dia 19, a Comissão<br />
de Seguridade Social e Família<br />
(CSSF) da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s<br />
aprovou o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />
Na noite desse mesmo dia, o<br />
PSDB indicou seu terceiro titular<br />
a compor a CPI <strong>do</strong> aborto.<br />
A mais nova integrante é a deputada<br />
Professora Raquel Teixeira<br />
(PSDB-GO) que divide as<br />
vagas <strong>do</strong> bloco PSDB/DEM/<br />
PPS com os deputa<strong>do</strong>s Bispo<br />
Gê Tenuta (DEM-SP), João<br />
Campos (PSDB-GO), Zenal<strong>do</strong><br />
Coutinho (PSDB-PA) e Jorge<br />
Tadeu Mudalen (DEM-SP).<br />
A deputada Professora Raquel<br />
Teixeira esteve no 3º Encontro<br />
de Legisla<strong>do</strong>res e Governantes<br />
pela Vida, onde dividiu a<br />
mesa com Solange Almeida<br />
(PMDB-RJ), relatora <strong>do</strong> Estatuto<br />
<strong>do</strong> Nascituro, e a presidenta<br />
<strong>do</strong> Psol, Heloísa Helena. Com<br />
sua indicação a CPI fica com 11<br />
titulares e um suplente. Ficam<br />
faltan<strong>do</strong> apenas <strong>do</strong>is titulares<br />
para que a CPI seja instalada.<br />
É importante lembrar alguns<br />
aspectos que estão por detrás<br />
dessa Comissão Parlamentar de<br />
Inquérito.A CPI <strong>do</strong> aborto é a<br />
prioridade de número <strong>do</strong>is da<br />
tropa de choque da direita <strong>contra</strong><br />
as mulheres no Congresso<br />
Nacional. A prioridade número<br />
um é o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />
proposto pelo deputa<strong>do</strong> Luiz<br />
Bassuma (ex-PT-BA, atual PV)<br />
e Miguel Martini (PHS-MG) que<br />
foi aprova<strong>do</strong>, como dito anteriormente,<br />
pela CSSF, e agora vai<br />
Um retrocesso<br />
O projeto aprova<strong>do</strong> pela Comissão<br />
de Seguridade Social e<br />
Família foi o substitutivo da<br />
deputada Solange Almeida<br />
(PMDB-RJ), relatora <strong>do</strong> projeto<br />
na Comissão, ao Projeto de<br />
Lei 478/07, <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s Luiz<br />
Bassuma (ex-PT-BA, atual PV)<br />
e Miguel Martini (PHS-MG),<br />
que cria o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />
Fundamentalmente, o Estatuto<br />
pretende impor o entendimento<br />
filosófico de que “a vida<br />
começa na concepção”. Identifican<strong>do</strong><br />
o embrião como “ser<br />
humano não nasci<strong>do</strong>”, o projeto<br />
estabelece que “<strong>desde</strong> a concepção<br />
são reconheci<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s<br />
os direitos <strong>do</strong> nascituro, em<br />
especial o direito à vida, à saúde,<br />
ao desenvolvimento, à integridade<br />
física e os demais direitos”.<br />
Nesse entendimento estão,<br />
inclusive, embriões produzi<strong>do</strong>s<br />
por fertilização in vitro ainda<br />
não transferi<strong>do</strong>s para o útero da<br />
mulher. Deixan<strong>do</strong> em aberto o<br />
futuro da prática no País.<br />
O projeto abertamente pretende<br />
ser um retrocesso na legislação<br />
atual. Isto porque o<br />
Código Penal de 1940, em seu<br />
artigo 128, permite o aborto em<br />
casos de estupro ou quan<strong>do</strong> há<br />
risco para a vida da mulher.<br />
Diante da polêmica sobre o assunto,<br />
mesmo com os deputa<strong>do</strong>s<br />
da tropa de choque da direita<br />
na Comissão, a deputada<br />
Solange Almeida sinalizou que<br />
poderia fazer uma complementação<br />
de voto para, supostamente,<br />
assegurar que o Estatuto<br />
não alteraria o Artigo 128 <strong>do</strong><br />
Código Penal. Uma manobra.<br />
Um golpe.<br />
Os propositores <strong>do</strong> projeto,<br />
inclusive sua relatora, Solange<br />
Almeida, declararam mais de<br />
uma vez que o Estatuto pretende<br />
impedir qualquer possibilidade<br />
de aborto no Brasil.<br />
Não é possível que o projeto<br />
garanta a execução <strong>do</strong> Código<br />
Penal uma vez que seu conteú<strong>do</strong><br />
é a exata <strong>contra</strong>dição <strong>do</strong> art.<br />
128.<br />
O projeto estabelece:<br />
“Art. 12. É veda<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong><br />
ou a particulares causar<br />
dano ao nascituro em razão de<br />
ato cometi<strong>do</strong> por qualquer de<br />
seus genitores.<br />
“Art. 13. O nascituro concebi<strong>do</strong><br />
em decorrência de estupro<br />
terá assegura<strong>do</strong> os seguintes<br />
direitos:<br />
I – direito à assistência prénatal,<br />
com acompanhamento<br />
psicológico da mãe;<br />
II – direito de ser encaminha<strong>do</strong><br />
à a<strong>do</strong>ção, caso a mãe<br />
assim o deseje.<br />
§ 1º Identifica<strong>do</strong> o genitor<br />
<strong>do</strong> nascituro ou da criança <strong>já</strong><br />
nascida, será este responsável<br />
por pensão alimentícia nos termos<br />
da lei.<br />
§ 2º Na hipótese de a mãe<br />
vítima de estupro não dispor de<br />
meios econômicos suficientes<br />
para cuidar da vida, da saúde <strong>do</strong><br />
desenvolvimento e da educação<br />
da criança, o Esta<strong>do</strong> arcará<br />
com os custos respectivos até<br />
que venha a ser identifica<strong>do</strong> e<br />
responsabiliza<strong>do</strong> por pensão o<br />
genitor ou venha a ser a<strong>do</strong>tada<br />
a criança, se assim for a vontade<br />
da mãe.”<br />
Leia-se: mesmo que a gestação<br />
seja fruto de uma violência<br />
hedionda, o estupro, nem o<br />
Esta<strong>do</strong>, a justiça, o médico e<br />
nem mesmo a mulher vítima<br />
dessa violência poderá decidir<br />
pela interrupção da gestação. E<br />
após o assédio moral e o terror<br />
psicológico para forçá-la a<br />
manter a gestação, a proposta é<br />
que o estupra<strong>do</strong>r seja localiza<strong>do</strong>,<br />
apenas para ser estabelecida<br />
a tortura de recorrer à justiça<br />
não para garantir a punição <strong>do</strong><br />
seu algoz, mas uma “pensão alimentícia”<br />
ao nascituro! Para,<br />
além <strong>do</strong> filho, manter o vínculo<br />
da vítima com seu estupra<strong>do</strong>r<br />
por pelo menos 18 anos. À<br />
mulher, nenhum direito, apenas<br />
o assédio, a tortura, o terror.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, mesmo<br />
quan<strong>do</strong> a vida da mulher estiver<br />
em risco, ela será obrigada<br />
a dispor de sua vida para<br />
para a CCFFC (Comissão de<br />
Fiscalização Financeira e Controle)<br />
por haver no projeto proposta<br />
que gera ônus para o Esta<strong>do</strong>,<br />
a chama<strong>do</strong> “bolsa estupro”.<br />
A CPI foi aprovada no final <strong>do</strong><br />
ano passa<strong>do</strong>, por ação <strong>do</strong> então<br />
presidente da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s<br />
Arlin<strong>do</strong> Chinaglia (PT-SP),<br />
que para tentar reaver a confiança<br />
<strong>do</strong> movimento de mulheres esteve<br />
na votação <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong><br />
Nascituro, na CSSF, onde votou<br />
<strong>contra</strong> o projeto, como líder <strong>do</strong><br />
<strong>governo</strong>. No entanto, sua encenação<br />
na CSSF não retira <strong>do</strong> PT<br />
e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> a responsabilidade<br />
pela ameaça da CPI <strong>do</strong> aborto e<br />
pela própria aprovação <strong>do</strong> Estatuto<br />
<strong>do</strong> Nascituro.<br />
O objetivo da tropa de choque<br />
da direita com a CPI é ampliar a<br />
perseguição à qual as mulheres<br />
<strong>já</strong> estão submetidas diante da<br />
ilegalidade <strong>do</strong> aborto. A idéia é<br />
utilizar o precedente <strong>do</strong> Mato<br />
Grosso <strong>do</strong> Sul, onde quase<br />
10.000 mulheres foram acusadas<br />
e indiciadas por “crime de<br />
aborto”, com base em prontuários<br />
médicos, <strong>do</strong>cumentos sigilosos<br />
apreendi<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s<br />
ilegalmente pela polícia. E que<br />
não continham provas suficientes<br />
para acusar, indiciar e prender<br />
mulheres. Mas tu<strong>do</strong> isso<br />
aconteceu.<br />
Outro objetivo da tropa de<br />
choque da direita é investigar e<br />
criminalizar as organizações de<br />
mulheres que lutam pela legalização<br />
<strong>do</strong> aborto. Sinal disso <strong>já</strong> foi<br />
da<strong>do</strong> com uma ação <strong>do</strong> Ministério<br />
Público de S. Paulo <strong>contra</strong> a<br />
organização Católicas pelo Direito<br />
de Decidir, que no final de<br />
2008 foi acusada, por denuncia<br />
anônima, de “incitação e facilitação<br />
<strong>do</strong> crime”. Isso porque a<br />
organização trabalha com pesquisas<br />
e divulgação <strong>do</strong>s direito<br />
das mulheres ao aborto legal.<br />
Portanto, além de ser um ataque<br />
aos direitos individuais das<br />
mulheres de disporem sobre seu<br />
corpo, de decidirem sobre o<br />
aborto, a CPI é um ataque aos<br />
direitos coletivos e políticos das<br />
mulheres. Visa caçar sua liberdade<br />
de expressão, de organização<br />
política. A ofensiva da direita,<br />
que deve tomar proporções ainda<br />
maiores com a CPI, pretende<br />
intimidar, calar a voz das mulheres<br />
e daqueles que defendem<br />
seus direitos. Querem impor a<br />
hipocrisia e o silêncio. Para realizarem<br />
ataques ainda mais ferozes,<br />
<strong>contra</strong> as mulheres e toda<br />
população.<br />
Nesse senti<strong>do</strong> é preciso denunciar<br />
em to<strong>do</strong>s os lugares a<br />
tropa de choque da direita, e<br />
seus representantes ditos de<br />
“esquerda”, presentes <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
e na oposição, como é o<br />
caso de Heloísa Helena <strong>do</strong> Psol.<br />
Mais <strong>do</strong> que nunca faz-se<br />
necessário que as mulheres e<br />
suas organizações rompam<br />
com o <strong>governo</strong> da frente popular,<br />
trai<strong>do</strong>r das reivindicações<br />
femininas e aban<strong>do</strong>nem todas<br />
as ilusões no Congresso Mensalão,<br />
que simplesmente não<br />
têm nenhuma preocupação com<br />
as mazelas a que estão submetidas<br />
as mulheres, não reconhecem<br />
suas necessidades mais<br />
sentidas.<br />
Só a mobilização massiva, a<br />
organização independente e a<br />
luta política <strong>contra</strong> a direita e<br />
seus alia<strong>do</strong>s na esquerda poderão<br />
barrar a CPI <strong>do</strong> aborto, bem<br />
como garantir os direitos democráticos<br />
das mulheres.<br />
tentar resguardar a sobrevida<br />
<strong>do</strong> feto, mesmo quan<strong>do</strong> estiver<br />
confirma<strong>do</strong> que o embrião<br />
tenha algum tipo de malformação<br />
incompatível com a vida<br />
extra-uterina. Ou seja, será sacrificada<br />
a vida, a saúde da<br />
mulher por um feto natimorto.<br />
Tacitamente, sem expressar<br />
claramente tal intenção, o<br />
projeto revoga o art. 128 <strong>do</strong><br />
Código Penal, <strong>do</strong> fascista Esta<strong>do</strong><br />
Novo. Impedin<strong>do</strong> que o<br />
direito ao Aborto Legal seja<br />
garanti<strong>do</strong> às mulheres.<br />
A proposta aprovada retirou<br />
o artigo que previa o reconhecimento<br />
<strong>do</strong> aborto como crime<br />
hedion<strong>do</strong>. Mas como se<br />
pôde observar no que restou<br />
<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>, o projeto<br />
continua sen<strong>do</strong> uma ameaça,<br />
um retrocesso e uma afronta<br />
aos direitos das mulheres.<br />
De Bush a<br />
Berlusconi. Um<br />
programa de<br />
direita<br />
Esse é um programa da direita<br />
internacional. Leis semelhantes<br />
foram aprovadas pelo<br />
<strong>governo</strong> de George W. Bush,<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, e Silvio<br />
Berlusconi, na Itália.<br />
No projeto original de Bassuma<br />
e Martini, a aprovação<br />
de legislação semelhante pelos<br />
<strong>governo</strong>s direitistas e ultraconserva<strong>do</strong>res<br />
de Bush e Berlusconi<br />
é apresentada como<br />
razão para a<strong>do</strong>ção de medida<br />
semelhante pelo Brasil.<br />
“Em 25 de março de 2004,<br />
o Sena<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
da América aprovou um projeto<br />
de lei que concede à criança<br />
por nascer (nascituro) o<br />
status de pessoa, no caso de<br />
um crime. No dia 1º de abril,<br />
o presidente George W. Bush<br />
sancionou a lei, chamada “Unborm<br />
Victims of Violence Act”<br />
(Lei <strong>do</strong>s Nascituros Vítimas de<br />
Violência). De agora em diante,<br />
pelo direito norte-americano,<br />
se alguém causar morte ou<br />
lesão a uma criança no ventre<br />
de sua mãe, responderá criminalmente<br />
pela morte ou lesão<br />
ao bebê, além da morte ou lesão<br />
à gestante. Na Itália, em<br />
março de 2004, entrou em<br />
vigor uma lei que dá ao embrião<br />
humano os mesmos direitos de<br />
um cidadão.”<br />
O que a tropa de choque da<br />
direita no Brasil não revela são<br />
as conseqüências dessa legislação<br />
e o fato de que na Itália,<br />
por exemplo,<br />
estão sen<strong>do</strong><br />
estudadas alterações<br />
nessa<br />
lei, para adaptar<br />
a legislação<br />
aos inevitáveis<br />
avanços tecnológicos.<br />
Inclusive<br />
para<br />
a<strong>do</strong>ção de legislação<br />
compatível<br />
com<br />
outros países<br />
europeus.<br />
A proposta<br />
é tão reacionária<br />
que na defesa<br />
<strong>do</strong> Estatuto,<br />
a relatora<br />
Solange Almeida<br />
chegou<br />
a declarar que “A criança não<br />
pode pagar pelo erro <strong>do</strong>s pais”.<br />
A mesma opinião expressa, e<br />
rejeitada internacionalmente,<br />
pelo então Arcebispo de Recife<br />
e Olinda, <strong>do</strong>m José Car<strong>do</strong>so<br />
Sobrinho, quan<strong>do</strong> em<br />
2009, diante da violência sofrida<br />
por uma menina de nove<br />
anos na cidade de Alagoinha,<br />
em Pernambuco, que acabou<br />
fican<strong>do</strong> grávida de gêmeos e<br />
decidiu pelo aborto para preservar<br />
a sua vida, declarou que<br />
“o aborto é pior que o estupro”.<br />
Com o cínico argumento de<br />
“defesa da vida” a tropa de<br />
choque da direita oferece a defesa<br />
<strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> feto em<br />
detrimento das necessidades e<br />
<strong>do</strong>s direitos das mulheres. Os<br />
alia<strong>do</strong>s da Opus Dei fingem<br />
proteger os direitos <strong>do</strong> nascituro<br />
para atacar os direitos<br />
conquista<strong>do</strong>s a duras penas<br />
pelas mulheres.<br />
Através <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong> Nascituro,<br />
querem impor uma<br />
moralidade, um <strong>do</strong>gma, uma<br />
única visão autoritária.<br />
É importante dizer que esse<br />
setor defende a escravidão das<br />
mulheres. Rejeita toda possibilidade<br />
de emancipação e libertação<br />
feminina. Não as<br />
compreende como sujeito de<br />
direitos. Com garantias constitucionais,<br />
direito à dignidade,<br />
liberdade, igualdade e autonomia.<br />
A encenação<br />
<strong>do</strong> PT<br />
Para fazer demagogia com<br />
o movimento de mulheres, o<br />
PT participou com parte da<br />
sua bancada da CSSF votan<strong>do</strong><br />
<strong>contra</strong> o Estatuto. Mas nem<br />
to<strong>do</strong>s os deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PT na<br />
Comissão estiveram presentes<br />
para votar. O que demonstra<br />
o nível de preocupação <strong>do</strong> PT<br />
e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> com os projetos<br />
que ameaçam os direitos e a<br />
vida das mulheres. Se fosse<br />
um projeto de interesse <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />
como o pré-sal ou o<br />
PAC, que envolvesse grandes<br />
somas de dinheiro e votos,<br />
seria cobrada a presença e o<br />
voto de toda bancada governista<br />
para garantir os interesses<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> e seus alia<strong>do</strong>s,<br />
os banqueiros e empresários.<br />
Ao contrário disso, além de<br />
<strong>do</strong>is ou três deputa<strong>do</strong>s da Comissão,<br />
o PT man<strong>do</strong>u à CSSF<br />
o deputa<strong>do</strong> José Genuíno (PT-<br />
SP) para discursar, e o deputa<strong>do</strong><br />
Arlin<strong>do</strong> Chinaglia (PT-<br />
SP) que como líder da bancada<br />
<strong>do</strong> PT se pronunciou e votou<br />
<strong>contra</strong> o projeto.<br />
A atuação <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s<br />
petistas não passou e não passa<br />
de mera encenação, haja<br />
vista que a aprovação <strong>do</strong> projeto<br />
é fruto da total falta de<br />
compromisso <strong>do</strong> PT e <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
com as necessidades<br />
<strong>do</strong>s setores oprimi<strong>do</strong>s da sociedade.<br />
Vale destacar a presença <strong>do</strong><br />
deputa<strong>do</strong> Arlin<strong>do</strong> Chinaglia<br />
que apenas participou da votação<br />
da CSSF para tentar<br />
desfazer o mal estar com o<br />
movimento de mulheres. Isto<br />
porque Chinaglia é o responsável<br />
direto pela CPI <strong>do</strong> Aborto.<br />
A CPI <strong>do</strong> aborto foi uma das<br />
últimas ações de Chinaglia<br />
como presidente da Câmara<br />
<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, no final <strong>do</strong> ano<br />
passa<strong>do</strong>. Ele assinou a autorização<br />
para a instalação da CPI,<br />
apesar de um dia antes ter se<br />
comprometi<strong>do</strong> em reunião<br />
com o movimento de mulheres<br />
a tentar impedir a sua abertura.<br />
Psol nem dá as<br />
caras<br />
Deputadas Solange Almeida, Professora Raquel<br />
Teixeira e a presidenta <strong>do</strong> Psol Heloísa Helena, em<br />
Encontro para organizar a ofensiva <strong>contra</strong> as mulheres.<br />
O Psol, que soltou uma<br />
nota, na internet manifestan<strong>do</strong><br />
seu posicionamento contrário<br />
ao Estatuto manteve sua posição<br />
convencional quan<strong>do</strong> se<br />
trata <strong>do</strong>s problemas que afetam<br />
diretamente a vida das<br />
mulheres: não fez absolutamente<br />
nada.<br />
Os digníssimos deputa<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> Psol na Câmara, que representam<br />
correntes que supostamente<br />
defendem o direito<br />
das mulheres ao aborto e por<br />
isso não concordam com o posicionamento<br />
da presidente <strong>do</strong><br />
parti<strong>do</strong> Heloísa Helena, sequer<br />
apareceram para encenar<br />
como fizeram os deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
PT.<br />
E mais. Pode-se considerar<br />
que o Psol não apenas corroborou,<br />
como possibilitou a<br />
aprovação <strong>do</strong> Estatuto <strong>já</strong> que<br />
não ocuparam sua vaga na<br />
CSSF deixan<strong>do</strong> que ela fosse<br />
ocupada pelos deputa<strong>do</strong>s Arman<strong>do</strong><br />
Abílio (PTB-PB), e<br />
Roberto Brito (PP-BA). Estes<br />
não apenas estiveram presentes<br />
como votaram favoráveis<br />
ao Estatuto <strong>do</strong> Nascituro.<br />
Enquanto isso, <strong>do</strong> Psol<br />
não se viu nada. Nem uma palavra<br />
a respeito da votação<br />
<strong>do</strong> Estatuto que representa<br />
um ataque e retrocesso histórico<br />
para as mulheres.<br />
Não ao ataque da<br />
direita <strong>contra</strong> as<br />
mulheres!<br />
Como <strong>já</strong> foi dito aqui, para<br />
além das eleições, o Estatuto <strong>do</strong><br />
Nascituro é a prioridade número<br />
um da tropa de choque da<br />
direita, seguida pela CPI <strong>do</strong><br />
aborto, e o Estatuto das Famílias.<br />
Isso ficou claro no 3º Encontro<br />
de Legisla<strong>do</strong>res e Governantes<br />
pela Vida, realiza<strong>do</strong><br />
no final de abril.<br />
Na mesa composta pela<br />
musa da tropa de choque da<br />
direita e da Frente de Esquerda,<br />
Heloísa Helena, pela deputada<br />
Solange Almeida, relatora<br />
<strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong> Nascituro e<br />
pela deputada Professora Raquel<br />
Teixeira (PSDB-GO),<br />
mais nova indicada para compor<br />
a CPI <strong>do</strong> aborto, as parlamentares<br />
defenderam tais iniciativas<br />
como fundamentais e<br />
prioritárias para este ano eleitoral.<br />
Não é à toa que a tropa de<br />
choque da direita concentrou<br />
suas forças na aprovação <strong>do</strong><br />
projeto na CSSF e agora vai<br />
fazer de tu<strong>do</strong> para instaurar a<br />
CPI <strong>do</strong> aborto antes mesmo<br />
das eleições.<br />
No tramite legislativo, o Estatuto<br />
vai agora para a Comissão<br />
de Finanças e Tributação<br />
(CFT), <strong>já</strong> que prevê ônus ao<br />
Esta<strong>do</strong>, através da chamada<br />
“bolsa estupro”. Sen<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong><br />
tambémna CFT, o projeto<br />
segue para a Comissão de<br />
Constituição, Justiça e Cidadania,<br />
para então ser vota<strong>do</strong> no<br />
Plenário da Casa. Posteriormente,<br />
será analisa<strong>do</strong> pelo Sena<strong>do</strong>.<br />
A aprovação <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong><br />
Nascituro é um ataque sem<br />
precedentes aos direitos das<br />
mulheres. Mas é também mais<br />
um exemplo da completa indigência<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula, <strong>do</strong><br />
PT, no que tange representar<br />
minimamente os interesses<br />
<strong>do</strong>s setores oprimi<strong>do</strong>s da população.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>,a aprovação<br />
<strong>do</strong> projeto é uma experiência<br />
fundamental com a esquerda<br />
pequeno-burguesa e a Frente<br />
Popular no <strong>governo</strong>.<br />
Para o movimento organiza<strong>do</strong><br />
de mulheres está colocada<br />
na ordem <strong>do</strong> dia reorientar<br />
suas ações, e aban<strong>do</strong>nar definitivamente<br />
qualquer ilusão na<br />
frente popular ou<br />
na via parlamentar,<br />
através <strong>do</strong><br />
Congresso Mensalão.<br />
Não aos ataques<br />
da direita<br />
<strong>contra</strong> os direitos<br />
democráticos das<br />
mulheres!<br />
Pela organização<br />
política independente,<br />
e de<br />
massas das mulheres!<br />
Pela legalização<br />
<strong>do</strong> aborto!<br />
Saiba quem são<br />
os deputa<strong>do</strong>s que<br />
estiveram na<br />
CSSF e não votaram<br />
<strong>contra</strong> o Estatuto <strong>do</strong> Nascituro:<br />
Titulares – Manato<br />
(PDT-ES), Angela Portela (PT-<br />
RR), Arman<strong>do</strong> Abílio (PTB-<br />
PB, vaga <strong>do</strong> Psol), Arnal<strong>do</strong> Faria<br />
de Sá (PTB-SP), Chico<br />
D’Angelo (PT-RJ), Dr. Paulo<br />
César (PR-RJ), Dr. Talmir<br />
(PV-SP), Eduar<strong>do</strong> Barbosa<br />
(PSDB-MG), Henrique Afonso<br />
(ex-PT, PV-AC), Jofran Frejat<br />
(PR-DF), Pe. José Linhares<br />
(PP-CE), Lael Varella (DEM-<br />
MG), Miguel Martini (PHS-<br />
MG), Raimun<strong>do</strong> Gomes de<br />
Matos (PSDB-CE), Ribamar<br />
Alves (PSB-MA), Saraiva Felipe<br />
(PMDB-MG) e Vadão Gomes<br />
(PP-SP). Suplentes: Antonio<br />
Bulhões (PRB-SP), Antonio<br />
Cruz (PP-MG), Assis <strong>do</strong> Couto<br />
(PT-PR), Camilo Cola (PMDB-<br />
ES), Colbert Martins (PMDB-<br />
BA), Fátima Pelaes (PMDB-AP),<br />
João Campos (PSDB-GO), Leandro<br />
Sampaio (PPS-RJ), Leonar<strong>do</strong><br />
Vilela (PSDB-GO), Luciana<br />
Costa (PR-SP), Luiz Bassuma<br />
(ex-PT, PV-BA), Manoel<br />
Junior (PMDB-PB), Mauro<br />
Nazif (PSB-RO), Neilton Mulim<br />
(PR-RJ), Otavio Leite<br />
(PSDB-RJ), Roberto Britto<br />
(PP-BA, vaga <strong>do</strong> Psol), Ronal<strong>do</strong><br />
Caia<strong>do</strong> (DEM-GO), Solange<br />
Almeida (PMDB-RJ),<br />
Takayama (PSC-PR) e Wilson<br />
Braga (PMDB-PB).
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CAUSA OPERÁRIA ’¡“š›¢£ ‘’“”””•–’—˜–š›œš›ž‘•“‘˜š›Ÿ<br />
POLÍTICA E ECONOMIA<br />
A TAREFA DO MOMENTO:<br />
Mobilizar <strong>desde</strong> <strong>já</strong><br />
<strong>contra</strong> o <strong>“pacotaço”</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula<br />
Página A6<br />
DILMA ROUSSEFF E SERRA<br />
Duas candidaturas,<br />
o mesmo programa<br />
a serviço <strong>do</strong>s<br />
banqueiros<br />
Página A7<br />
UNIÃO EUROPÉIA QUER...<br />
Punir os que<br />
não atacarem os<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
Página A8<br />
PERNAMBUCO<br />
Mais um líder sem-terra assassina<strong>do</strong> pelo<br />
latifúndio<br />
Página A7<br />
FICHA LIMPA<br />
Um projeto para salvar os parti<strong>do</strong>s<br />
burgueses<br />
Página A7<br />
PORTUGAL É GRÉCIA<br />
Mais cortes em Portugal e em outros países<br />
da zona <strong>do</strong> euro<br />
Página A8<br />
Juízes biônicos e Polícia Federal aperfeiçoam<br />
sistema de escuta <strong>contra</strong> a população<br />
§¨©¢¥¡ ¦ ¡¢£¤¥¡¤<br />
O Conselho Nacional de Justiça e a Polícia Federal decidem aperfeiçoar as escutas telefônicas, dan<strong>do</strong> a si mesmos o monopólio total<br />
de informações sobre um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s pela burguesia para perseguir os trabalha<strong>do</strong>res e suas organizações<br />
O controle total sobre as operações realizadas pela Polícia Federal é uma tentativa de impedir que a população tenha acesso às atividades policiais, o que é na prática a volta <strong>do</strong>s<br />
<br />
)//(<br />
órgãos de inteligência a serviço <strong>do</strong>s regimes de exceção.<br />
ON)R +&<br />
2$#,(!<br />
Jornalistas são<br />
reprimi<strong>do</strong>s pela polícia<br />
por filmar manifestação<br />
¡¥©¤¥¢¥¤¥]©¥<br />
'#*14 *53! ./ *61)* **#(&<br />
*#(&7 %)*<br />
7*4<br />
$ ()! . +*( **)!<br />
**2 *)8$<br />
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3*)3R* S *6#( 9! -Q0&<br />
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+461 .8+(<br />
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'*($$**! ! K! )1($+ %.&<br />
61`*/ $.* +*&<br />
K*)bZ /bfQ 1M'3* *+<br />
*.3! .J*#( 11*$M( O*R! ghijhklkmjnolpqrs<br />
5TNV& 2+WXXc)! N.)t/<br />
.+3 *#( *.#(* .! 1*8*<br />
*.+) .3K* *6)1! ##( *)(8K*8!<br />
6*! *#(& *<br />
Acima a imagem <strong>do</strong> estudante sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong> com uma arma no Distrito federal e abaixo foto <strong>do</strong><br />
jornalista preso em Santa Catarina.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA A6<br />
A TAREFA DO MOMENTO:<br />
Mobilizar <strong>desde</strong> <strong>já</strong> <strong>contra</strong> o<br />
<strong>“pacotaço”</strong> <strong>do</strong> <strong>governo</strong> Lula<br />
Um corte no orçamento no valor de R$ 10 bilhões, que<br />
<strong>já</strong> havia si<strong>do</strong> anuncia<strong>do</strong> no último dia 13 pelo ministro<br />
da Fazenda de Lula, Gui<strong>do</strong> Mantega, foi confirma<strong>do</strong> pelo<br />
<strong>governo</strong> e é apenas o primeiro passo de um plano para<br />
arrochar a classe operária e tentar impedir a falência <strong>do</strong>s<br />
capitalistas em crise<br />
Em relatório divulga<strong>do</strong> pelo<br />
Ministério <strong>do</strong> Planejamento no último<br />
dia 20 reafirmou-se a previsão<br />
de um corte de R$ 10 bilhões<br />
no orçamento <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
federal.<br />
O anúncio <strong>do</strong> corte <strong>já</strong> havia<br />
si<strong>do</strong> feito pelo ministro da Fazenda,<br />
Gui<strong>do</strong> Mantega na semana<br />
anterior. Este foi descrito pelo<br />
ministro como uma medida para<br />
“desaquecer” a economia e evitar<br />
a inflação. A previsão <strong>do</strong> corte<br />
foi anunciada depois que a equipe<br />
econômica <strong>do</strong> <strong>governo</strong> divul-<br />
sas da ordem de R$ 30 milhões.<br />
A primeira parte <strong>do</strong> corte foi realizada<br />
quan<strong>do</strong> R$ 21,8 bilhões<br />
foram retira<strong>do</strong>s das despesas<br />
de ministérios e empresas estatais<br />
no início <strong>do</strong> ano.<br />
Cortes <strong>contra</strong> os<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
No dia 31 de maio, segun<strong>do</strong><br />
o <strong>governo</strong>, serão divulga<strong>do</strong>s<br />
mais detalhes sobre o corte.<br />
Mantega, no entanto, afirmou<br />
impedir que se gaste, em última<br />
medida, com o salário <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res para impedir que<br />
a classe operária compre e que<br />
assim movimente a economia.<br />
Em outra declaração em que<br />
Mantega defendeu o corte, este<br />
justificou ser “vantagem em relação<br />
a outros instrumentos”<br />
dizen<strong>do</strong> que “para combater a<br />
inflação [com o corte] você faz<br />
isso na veia. Quan<strong>do</strong> você eleva<br />
a taxa de juros, ela demora<br />
a fazer efeito” (O Globo, 13/5/<br />
2010). Não que os bancos não<br />
pretendam aumentar os juros,<br />
pelo contrário, a taxa básica<br />
(Selic) será elevada pelo Banco<br />
Central no próximo mês, encarecen<strong>do</strong><br />
os empréstimos e os<br />
juros no país, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s<br />
divulga<strong>do</strong>s pelo mesmo jornal<br />
na quarta-feira (dia 26).<br />
mento aos salários pagos aos<br />
operários” (Idem, 15/5/2010).<br />
O <strong>“pacotaço”</strong> da<br />
burguesia <strong>contra</strong> a<br />
população<br />
O corte no Orçamento expõe o<br />
fato de que o <strong>governo</strong> Lula indica<br />
para o próximo <strong>governo</strong>, seja este<br />
<strong>do</strong> PT ou <strong>do</strong> PSDB, a política econômica<br />
a ser seguida: cortar ainda<br />
mais na carne da população<br />
que é favorável a que Lula vete o<br />
reajuste de 7,7% para os aposenta<strong>do</strong>s<br />
que ganham mais de um salário<br />
mínimo, proposta votada na<br />
Câmara e no Sena<strong>do</strong>.<br />
“O mínimo que os aposenta<strong>do</strong>s<br />
vão ganhar é 6,14% [índice proposto<br />
pelo <strong>governo</strong>]. Isso é o mínimo.<br />
Isso eles <strong>já</strong> ganharam. A<br />
grande questão é saber se tem<br />
dinheiro para dar mais. Acho que<br />
o presidente vai negar isso. Se eu<br />
tivesse nessa condição, eu teria de<br />
olhar a mesma coisa” (iG, 26/5/<br />
2010).<br />
O <strong>governo</strong> Lula procura garantir<br />
à burguesia nacional e internacional<br />
sua política de salvar os banqueiros<br />
e empresários da crise<br />
colocan<strong>do</strong> nas mãos <strong>do</strong> próximo<br />
<strong>governo</strong> a responsabilidade por<br />
colocar em prática o restante <strong>do</strong><br />
pacote de “freio” à economia.<br />
O corte no orçamento <strong>do</strong>s ministérios<br />
é apenas uma primeira<br />
uma onda inflacionária, dada a precariedade<br />
da infraestrutura <strong>do</strong> parque<br />
industrial brasileiro e <strong>do</strong> relativo<br />
“raquitismo” <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional.<br />
Esta tendência, <strong>já</strong> assinalada<br />
pela imprensa estrangeira especializa<br />
em economia, no entanto,<br />
só vai se desenvolver plenamente<br />
no próximo perío<strong>do</strong>. Isto é, caberá<br />
ao sucessor de Lula administrar<br />
uma crise da qual tanto o <strong>governo</strong>,<br />
quanto a alta roda das finanças<br />
internacionais, <strong>já</strong> têm pleno conhecimento.<br />
O <strong>“pacotaço”</strong> de Lula está dividi<strong>do</strong><br />
em <strong>do</strong>is. A primeira parte<br />
está sen<strong>do</strong> colocada em prática<br />
agora, com um “acerto” aparentemente<br />
banal das contas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
A segunda será a que o próximo<br />
<strong>governo</strong> vai realizar e esta,<br />
inevitavelmente, terá suas semelhanças<br />
com os pacotes que os<br />
<strong>governo</strong>s europeus estão tentan<strong>do</strong><br />
aplicar: demissões, redução<br />
A evolução <strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong>s<br />
ministérios nos últimos quatro anos<br />
A demanda pública, a que se refere Mantega, é o merca<strong>do</strong> de compra, ou seja, os<br />
trabalha<strong>do</strong>res que serão ou demiti<strong>do</strong>s ou terão cortes nos salários<br />
gou as previsões de que a economia<br />
brasileira tende crescer até<br />
7% neste ano com base nas taxas<br />
de crescimento <strong>do</strong> primeiro<br />
e <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> trimestre.<br />
“Já fizemos um contingenciamento<br />
de R$ 20 bilhões e serão<br />
mais R$ 10 bilhões, que serão um<br />
complemento. É a melhor maneira<br />
de jogar um pouco de água<br />
fria na fervura. Um instrumento<br />
forte e rápi<strong>do</strong> é você diminuir os<br />
gastos <strong>do</strong> <strong>governo</strong>”, declarou<br />
Mantega na primeira vez que<br />
anunciou os cortes (O Globo, 23/<br />
5/2010). O ministro afirmou,<br />
durante um encontro com o diretor-geral<br />
<strong>do</strong> FMI, Dominique<br />
Strauss-Kahn, que o objetivo das<br />
medidas tomadas agora é impedir<br />
que o PIB brasileiro cresça<br />
mais <strong>do</strong> que 6% o que, segun<strong>do</strong><br />
ambos, seria “perigoso demais”.<br />
O corte de R$ 10 bilhões é<br />
um complemento a um corte <strong>já</strong><br />
realiza<strong>do</strong> em março, totalizan<strong>do</strong><br />
um enxugamento de despe-<br />
que os gastos sociais serão<br />
manti<strong>do</strong>s pelo <strong>governo</strong>.<br />
“A medida não afeta os principais<br />
projetos <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />
mas é um sacrifício que os ministérios<br />
terão que fazer”<br />
(Idem, 13/5/2010).<br />
A “economia” nas contas<br />
<strong>do</strong>s ministérios não passa de cinismo.<br />
Segun<strong>do</strong> agências de<br />
economia, o corte irá se reverter<br />
em superávit primário, isto<br />
é, “caixa” para que no segun<strong>do</strong><br />
semestre e no próximo ano<br />
haja fun<strong>do</strong>s para serem reaplica<strong>do</strong>s<br />
através de isenções fiscais,<br />
“estímulos” a empresários<br />
e banqueiros. Cálculos da<br />
LCA Consultoria são de que “o<br />
arrocho fiscal vai ajudar a engordar<br />
o superávit primário <strong>do</strong><br />
<strong>governo</strong> em pelo menos 0,3<br />
ponto percentual” (Correio<br />
Braziliense, 15/5/2010).<br />
Um corte tão profun<strong>do</strong> para<br />
“desaquecer” a economia,<br />
como diz o <strong>governo</strong>, significa<br />
“Este ano, achamos que o<br />
setor priva<strong>do</strong> está in<strong>do</strong> muito<br />
bem, a demanda privada está<br />
in<strong>do</strong> muito bem, então nós vamos<br />
diminuir um pouco a demanda<br />
pública, para que o crescimento<br />
não seja excessivo”,<br />
declarou Mantega (BBC Brasil,<br />
13/5/2010).<br />
A medida, que é um ataque utiliza<strong>do</strong><br />
pela burguesia para conter<br />
a crise, só não foi assumida<br />
pelo ministro da Fazenda, mas<br />
é confirmada pelos próprios<br />
analistas econômicos <strong>do</strong>s jornais<br />
burgueses.<br />
Segun<strong>do</strong> o economista Bráulio<br />
Borges, autor <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da<br />
LCA Consultoria, o corte de R$<br />
10 bilhões tem um impacto na<br />
economia de R$ 14 bilhões, <strong>já</strong><br />
que são cortes também nos salários<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
“Ao se fazer uma obra, por<br />
exemplo, tu<strong>do</strong> vira riqueza, <strong>do</strong><br />
dinheiro gasto no empreendi-<br />
Fonte: Siafi/SIGA Brasil<br />
para salvar empresários e banqueiros<br />
da sua própria crise.<br />
Assim como a equipe de Serra<br />
deixou escapar que este possui um<br />
<strong>“pacotaço”</strong> <strong>contra</strong> a população,<br />
que inclui medidas como aumento<br />
de impostos e cortes nos gastos<br />
estatais, também Dilma Rousseff<br />
tem um pacote econômico e<br />
este é, em linhas gerais, idêntico.<br />
Em entrevista à rádio Tupi AM<br />
em São Paulo, na quarta-feira (dia<br />
26), a candidata <strong>do</strong> PT declarou<br />
etapa <strong>do</strong> <strong>“pacotaço”</strong> prepara<strong>do</strong><br />
pelo <strong>governo</strong> Lula e que só será<br />
“aberto” no próximo <strong>governo</strong>. A<br />
visita <strong>do</strong> diretor-geral <strong>do</strong> FMI ao<br />
Brasil nesta semana evidenciou em<br />
que consiste o plano.<br />
Tanto o <strong>governo</strong>, quanto <strong>do</strong><br />
FMI, alertaram <strong>contra</strong> o perigo <strong>do</strong><br />
“superaquecimento” da economia.<br />
Segun<strong>do</strong> o ministro da Fazenda<br />
e o diretor-geral <strong>do</strong> FMI, há um<br />
“risco” de que a economia “cresça<br />
demais” e que isto se reverta em<br />
salarial, reforma das aposenta<strong>do</strong>rias,<br />
reforma trabalhista etc.<br />
É preciso <strong>mobilizar</strong> <strong>desde</strong> <strong>já</strong> os<br />
trabalha<strong>do</strong>res <strong>contra</strong> este ataque<br />
que está sen<strong>do</strong> planeja<strong>do</strong> pelo <strong>governo</strong><br />
e pelo imperialismo. A classe<br />
operária deve dizer “não” ao<br />
pacote <strong>do</strong> <strong>governo</strong>. Cabe aos trabalha<strong>do</strong>res<br />
iniciar uma ampla campanha<br />
<strong>contra</strong> a tentativa da burguesia<br />
brasileira e <strong>do</strong> imperialismo<br />
de impor à classe operária o ônus<br />
da crise que eles mesmos criaram.<br />
REAJUSTE ZERO<br />
Lula vai vetar aumento<br />
para os aposenta<strong>do</strong>s<br />
Um reajuste de 7,7% para os<br />
aposenta<strong>do</strong>s que ganham mais<br />
de um salário mínimo, vota<strong>do</strong> no<br />
Sena<strong>do</strong> e na Câmara, está nas<br />
mãos de Lula. Além <strong>do</strong> reajuste,<br />
cabe a Lula decidir sobre o<br />
fim <strong>do</strong> fator previdenciário,<br />
aprova<strong>do</strong> em 1999 no <strong>governo</strong><br />
FHC, que prevê que se reduza<br />
o percentual de ganho daqueles<br />
que se aposentaram por tempo<br />
de serviço, mas não atingiram<br />
uma idade mínima de aposenta<strong>do</strong>ria.<br />
Depois de reunião com Lula<br />
na segunda-feira, dia 24, três<br />
ministros - o das Relações Institucionais,<br />
Alexandre Padilha, o<br />
da Fazenda, Gui<strong>do</strong> Mantega e<br />
<strong>do</strong> Planejamento, Orçamento e<br />
Gestão, Paulo Bernar<strong>do</strong> - deram<br />
declarações que revelam as intenções<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> de derrubar<br />
o reajuste.<br />
"O presidente se mostrou<br />
preocupa<strong>do</strong> porque quer manter<br />
as contas equilibradas não só<br />
neste ano, mas também para<br />
entregar a seu sucessor",disse<br />
Paulo Bernar<strong>do</strong> (Reuters, 24/5/<br />
2010).<br />
Já Gui<strong>do</strong> Mantega declarou<br />
que "o presidente tem que analisar<br />
as consequências <strong>do</strong> ponto<br />
de vista político e econômico.<br />
Nós (área econômica) estamos<br />
responden<strong>do</strong> aqui pela<br />
questão da sustentabilidade fiscal<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong>. É importante<br />
deixar as finanças sólidas para<br />
o próximo <strong>governo</strong>" (Idem, 24/<br />
5/2010).<br />
Padilha declarou: “não vamos<br />
deixar que o clima eleitoral<br />
ou as pressões de setores da<br />
sociedade comprometam a estabilidade<br />
fiscal <strong>do</strong> Brasil. Não<br />
iremos brincar com isso” (Correio<br />
Braziliense, 25/5/2010).<br />
O que a equipe econômica de<br />
Lula indica é que, com a crise,<br />
não pretende aumentar qualquer<br />
gasto com a população, mesmo<br />
sen<strong>do</strong> este um reajuste limita<strong>do</strong><br />
à reposição das perdas com a<br />
inflação <strong>do</strong>s anos anteriores. O<br />
que a burguesia e os banqueiros<br />
provam é que a estabilidade fiscal,<br />
como declarou Padilha,<br />
nada tem a ver com os “setores<br />
da sociedade”, ou seja, a população<br />
pobre, i<strong>do</strong>sa e que trabalhou<br />
a vida inteira deve ser esfolada<br />
para que empresários e<br />
banqueiros, aqui e no exterior,<br />
não percam um centavo de seus<br />
lucros.<br />
A equipe econômica <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
e a imprensa burguesa<br />
procuram estabelecer como um<br />
fato a noção de que um reajuste<br />
das aposenta<strong>do</strong>rias levaria à<br />
criação de um “rombo” da Previdência.<br />
Segun<strong>do</strong> o <strong>governo</strong>, o<br />
reajuste custaria R$ 8,4 bilhões.<br />
Além disso, o veto ao reajuste de<br />
7,7% pode deixar sem qualquer<br />
reajuste os aposenta<strong>do</strong>s este ano,<br />
pois para se vetar os 7,7% teria<br />
de se vetar os 6,4% assina<strong>do</strong>s<br />
no início <strong>do</strong> ano entre o <strong>governo</strong><br />
e as centrais sindicais.<br />
A oposição burguesa de direita<br />
procura aproveitar-se da crise<br />
que pode gerar o veto ao<br />
reajuste no Congresso Nacional<br />
às vésperas das eleições. No<br />
entanto, a direita é também a<br />
favor de um duro ataque <strong>contra</strong><br />
os aposenta<strong>do</strong>s.<br />
A bancada <strong>do</strong> PSDB prometeu<br />
ir além, apresentan<strong>do</strong> uma<br />
emenda ao projeto sugerin<strong>do</strong><br />
idade mínima para a Previdência<br />
conceder aposenta<strong>do</strong>ria.<br />
A equipe que no <strong>governo</strong> Lula<br />
preparou a entrega <strong>do</strong>s pacotes<br />
econômicos para os empresários<br />
em valores estratosféricos,<br />
se recusa a pagar a quem mais<br />
necessita.<br />
Para se ter uma idéia, em<br />
maio de 2008, no auge da crise<br />
internacional, o <strong>governo</strong> Lula<br />
renegociou a dívida agrária <strong>do</strong>s<br />
empresários rurais dan<strong>do</strong> descontos<br />
de até 80% nas dividas de<br />
fazendeiros e latifundiários, uma<br />
isenção de R$ 70 bilhões. Naquele<br />
mesmo mês a indústria recebeu<br />
um pacote de R$ 24,1 bilhões<br />
em isenção de impostos e outros<br />
R$ 6,1 bilhões em subsídios a<br />
investimentos. Se sobrou dinheiro<br />
para premiar os empresários<br />
e banqueiros, porque um<br />
reajuste miserável para os trabalha<strong>do</strong>res<br />
aposenta<strong>do</strong>s é a<br />
grande ameaça à estabilidade <strong>do</strong><br />
país e da Previdência?<br />
O que o <strong>governo</strong> Lula prova<br />
O veto ao reajuste de 7,7% pode deixar sem qualquer reajuste vários<br />
aposenta<strong>do</strong>seste ano.<br />
mais uma vez, ao final de seu<br />
mandato, é que os únicos que<br />
são beneficia<strong>do</strong>s em seu <strong>governo</strong><br />
são os empresários e os<br />
banqueiros, acumulan<strong>do</strong> lucros<br />
recordes pagos por meio da<br />
exploração da maioria da população
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA POLÍTICA A7<br />
DILMA ROUSSEFF E SERRA<br />
Duas candidaturas, o mesmo<br />
programa a serviço <strong>do</strong>s banqueiros<br />
A agenda <strong>do</strong>s candidatos escolhi<strong>do</strong>s pela burguesia<br />
para brilhar na disputa da presidência, Dilma<br />
Rousseff <strong>do</strong> PT e José Serra <strong>do</strong> PSDB, deixa claro que<br />
ambos os candidatos representam os mesmos<br />
interesses, em defesa <strong>do</strong>s capitalistas, <strong>contra</strong> os<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
A pré-candidata <strong>do</strong> PT à<br />
presidência, Dilma Rousseff,<br />
participou de um evento em<br />
Nova Iorque na última sextafeira,<br />
dia 20, em homenagem<br />
ao presidente <strong>do</strong> Banco Central,<br />
Henrique Meirelles.<br />
Além de participar de um<br />
jantar da Câmara de Comércio<br />
Brasil-Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s onde<br />
Meirelles foi premia<strong>do</strong>, Dilma<br />
Rousseff participou de um seminário<br />
com especula<strong>do</strong>res<br />
financeiros norte-americanos.<br />
Segun<strong>do</strong> comentários <strong>do</strong>s<br />
colunistas <strong>do</strong>s jornais burgueses,<br />
o encontro serviu<br />
para a candidata <strong>do</strong> PT reforçar<br />
o compromisso com os<br />
bancos internacionais e garantir<br />
que seus interesses<br />
serão atendi<strong>do</strong>s.<br />
O diário carioca O Globo<br />
afirmou que Rousseff “tenta<br />
passar tranquilidade ao merca<strong>do</strong><br />
de investi<strong>do</strong>res internacionais<br />
e desfazer a imagem<br />
de radical de esquerda <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>,<br />
apresentará na sextafeira<br />
metas de inflação, política<br />
fiscal e câmbio flutuante<br />
a empresários estrangeiros<br />
num seminário organiza<strong>do</strong><br />
É preciso realizar uma ampla campanha de esclarecimento da classe trabalha<strong>do</strong>ra nas<br />
eleições de denúncia das candidaturas que se alinhamaos empresários e o imperialismo.<br />
pela BMF/Bovespa” (O Globo,<br />
18/5/2010).<br />
Depois de Dilma Rousseff<br />
participar desse evento organiza<strong>do</strong><br />
pelos especula<strong>do</strong>res<br />
financeiros internacionais, o<br />
próximo a debater com os representantes<br />
de bancos e<br />
grandes grupos financeiros<br />
internacionais será José Serra,<br />
em um evento que será realiza<strong>do</strong><br />
em Londres nesta se-<br />
mana.<br />
Candidaturas<br />
apoiadas pelo<br />
imperialismo<br />
Já havíamos denuncia<strong>do</strong> na<br />
última semana que José Serra<br />
tem um pacote econômico não<br />
anuncia<strong>do</strong> <strong>contra</strong> a população,<br />
como ficou claro em matéria<br />
da agência internacional de<br />
notícias Reuters.<br />
No dia 26 de abril a agência<br />
noticiou que interlocutores <strong>do</strong><br />
pessedebista disseram nos<br />
basti<strong>do</strong>res que este possui um<br />
pacote econômico para as eleições<br />
e que as “medidas fiscais<br />
e renegociação de alguns <strong>contra</strong>tos”<br />
deste pacote seriam<br />
colocadas em prática assim<br />
que assumisse a presidência.<br />
A disputa <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is candidatos<br />
para conseguir o apoio <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> financeiro norteamericano<br />
e internacional<br />
mostra que ambos têm um<br />
único e mesmo programa.<br />
A agenda de Dilma Rousseff<br />
mostra que esta, assim como<br />
o candidato tucano, promove<br />
um estelionato eleitoral e também<br />
tem um <strong>“pacotaço”</strong> secreto<br />
<strong>contra</strong> a população.<br />
É preciso realizar uma ampla<br />
campanha de esclarecimento<br />
da classe trabalha<strong>do</strong>ra<br />
nas eleições não apenas levantan<strong>do</strong><br />
suas próprias reivindicações,<br />
como o faz o Parti<strong>do</strong><br />
da Causa Operária, único representante<br />
<strong>do</strong>s interesses da<br />
classe operária <strong>contra</strong> os empresários<br />
e os banqueiros nas<br />
eleições, mas também denúnciar<br />
as candidaturas que se alinham,<br />
da esquerda à direita,<br />
com os interesses econômicos<br />
<strong>do</strong>s banqueiros, empresários e<br />
<strong>do</strong> imperialismo.<br />
FICHA LIMPA<br />
Um projeto para salvar<br />
os parti<strong>do</strong>s burgueses<br />
O Sena<strong>do</strong> aprovou na quinta-feira,<br />
dia 20, por unanimidade,<br />
com 76 votos <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res,<br />
o chama<strong>do</strong> projeto “Ficha<br />
Limpa”.<br />
O projeto foi lança<strong>do</strong> por<br />
suposta “iniciativa popular” depois<br />
de 1,6 milhões de assinaturas,<br />
que na realidade foram<br />
recolhidas por setores de direita<br />
como a Confederação Nacional<br />
<strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil<br />
(CNBB), uma série de organizações<br />
e instituições da Igreja<br />
e de juízes.<br />
O projeto, que seria para impedir<br />
a eleição de parlamentares<br />
corruptos, previa que os<br />
condena<strong>do</strong>s em primeira instância<br />
poderiam tornar-se inelegíveis<br />
por diversos crimes.<br />
Entre estes estão crimes <strong>contra</strong><br />
a economia popular, a fé pública,<br />
os costumes, a administração<br />
pública, o patrimônio<br />
público, o meio ambiente, a<br />
saúde pública, o merca<strong>do</strong> financeiro,<br />
pelo tráfico de entorpecentes<br />
e drogas afins, por<br />
crimes <strong>do</strong>losos <strong>contra</strong> a vida,<br />
crimes de abuso de autoridade,<br />
por crimes eleitorais, por crimes<br />
de lavagem e ocultação de<br />
bens, direitos e valores, pela exploração<br />
sexual de crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes e utilização de<br />
mão-de-obra em condições<br />
análogas à de escravo.<br />
Na prática, o que reivindicavam<br />
estes setores reacionários<br />
era a criação de um impedimento<br />
para que pessoas condenadas<br />
por crimes comuns, em primeira<br />
instância, incluin<strong>do</strong> depredação<br />
<strong>do</strong> “patrimônio público”,<br />
sobre os quais são comumente<br />
acusa<strong>do</strong>s manifestantes<br />
e grevistas, pudessem se candidatar<br />
às eleições.<br />
Sobre a condenação <strong>do</strong>s<br />
parlamentares, que têm foro<br />
privilegia<strong>do</strong>, o texto foi vota<strong>do</strong><br />
com várias alterações que incluem<br />
medidas para impedir<br />
estes de serem puni<strong>do</strong>s.<br />
Em primeiro lugar a nova lei<br />
não servirá para tornar inelegíveis<br />
os parlamentares corruptos<br />
<strong>do</strong> Congresso Nacional que<br />
estão sen<strong>do</strong> condena<strong>do</strong>s, mas<br />
apenas os que forem condena<strong>do</strong>s<br />
no futuro.<br />
O texto é <strong>contra</strong>ditório,<br />
como o artigo terceiro que diz<br />
que “os recursos <strong>do</strong>s que se<br />
en<strong>contra</strong>m condena<strong>do</strong>s podem<br />
ser adita<strong>do</strong>s após a aprovação<br />
da lei” que se trataria das atuais<br />
condenações.<br />
No entanto, a principal alteração<br />
ocorreu na Câmara <strong>do</strong>s<br />
Deputa<strong>do</strong>s em emenda <strong>do</strong> deputa<strong>do</strong><br />
José Eduar<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>zo<br />
(PT-SP), que transformou em<br />
inelegível apenas quem é condena<strong>do</strong><br />
por um órgão colegia<strong>do</strong>.<br />
Este tipo de julgamento, que<br />
ocorre principalmente com as<br />
decisões de segunda instância<br />
da Justiça, não inclui quase nenhum<br />
parlamentar.<br />
Segun<strong>do</strong> o sítio na internet<br />
Transparência Brasil, 31 sena<strong>do</strong>res<br />
respondem a processos<br />
na Justiça, nenhum deles condena<strong>do</strong><br />
por órgão colegia<strong>do</strong>, o<br />
que ocorre também com a quase<br />
totalidade <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s<br />
condena<strong>do</strong>s, que são hoje 202.<br />
O texto diz ainda que os parlamentares<br />
que forem condena<strong>do</strong>s<br />
por um colegia<strong>do</strong> da justiça<br />
de segunda instância podem<br />
recorrer novamente a um<br />
órgão colegia<strong>do</strong>.<br />
A medida serve para que os<br />
parlamentares usem o STF e os<br />
tribunais federais de juízes indica<strong>do</strong>s<br />
para recorrer de suas<br />
condenações.<br />
O projeto, altera<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong><br />
com os interesses <strong>do</strong>s parlamentares,<br />
serve não para<br />
condenar os corruptos como<br />
procura apresentar a imprensa<br />
capitalista, mas como uma tábua<br />
de salvação <strong>do</strong>s parlamentares<br />
corruptos.<br />
PERNAMBUCO<br />
Mais um líder sem-terra<br />
assassina<strong>do</strong> pelo latifúndio<br />
Mais um assassinato brutal<br />
de liderança sem-terra ocorreu<br />
no esta<strong>do</strong> de Pernambuco,<br />
município de Pombos.<br />
Zito José Gomes, dirigente<br />
da Federação <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />
na Agricultura<br />
Familiar de Pernambuco<br />
foi assassina<strong>do</strong> por<br />
pistoleiros a man<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
latifundiários.<br />
Gomes foi surpreendi<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> caminhava<br />
sobre uma passarela na<br />
BR-232 em direção a uma<br />
atividade em que participaria<br />
numa igreja local. O<br />
assassino disparou um tiro<br />
à queima roupa <strong>contra</strong> a liderança.<br />
Gomes coordenava<br />
os trabalha<strong>do</strong>res semterra<br />
acampa<strong>do</strong>s em<br />
área da falida usina<br />
Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo.<br />
Este <strong>já</strong> havia denuncia<strong>do</strong><br />
que vinha sen<strong>do</strong><br />
ameaça<strong>do</strong> pelos latifundiários<br />
interessa<strong>do</strong>s na<br />
área. As terras da usina<br />
estavam ocupadas há<br />
sete anos pelos sem-terra,<br />
que reivindicavam a<br />
desapropriação da área.<br />
Este é o segun<strong>do</strong> assassinato<br />
de um líder da<br />
Fetraf em menos de <strong>do</strong>is<br />
meses. No dia 1º de abril<br />
deste ano o líder da<br />
Fetraf <strong>do</strong> Pará, Pedro<br />
Alcântara, foi morto na<br />
cidade de Redenção,<br />
com cinco tiros na cabeça.<br />
Este também foi mais<br />
um <strong>do</strong>s diversos assassinatos<br />
de sem-terra em<br />
Pernambuco além de prisões<br />
que foram efetuadas<br />
no último perío<strong>do</strong>.<br />
No dia 1º de fevereiro<br />
de 2009, trabalha<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> MST acampa<strong>do</strong>s<br />
no município de São<br />
Joaquim <strong>do</strong> Monte,<br />
agreste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />
Pernambuco, enfrentaram<br />
arma<strong>do</strong>s e mataram<br />
quatro jagunços que cercaram<br />
seu acampamento.<br />
Em seguida três deles foram<br />
presos, Alceu Ferreira<br />
<strong>do</strong>s Santos, Paulo Alves Cursino<br />
e Severino Alves da Silva,<br />
simplesmente por agirem<br />
em sua própria defesa.<br />
No dia 6 de julho de 2009,<br />
cinco sem-terra foram assassina<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> trabalhavam<br />
na construção de uma casa, no<br />
município de Brejo da Madre<br />
de Deus, no acampamento<br />
Garrote. No dia 7 de dezembro<br />
de 2009, liderança <strong>do</strong>s semterra<br />
de Pernambuco, Joseval<strong>do</strong><br />
Fonseca Fontes Junior, de<br />
20 anos, conheci<strong>do</strong> como “Capitão”<br />
foi assassina<strong>do</strong> no assentamento<br />
Vacaria com diversas<br />
facadas no rosto.<br />
É preciso exigir a imediata punição aos assassinos <strong>do</strong>s sem-terra e que os<br />
sem-terra e pequenos agricultores possam defender-se <strong>do</strong>s latifundiários que<br />
promovem um verdadeiro massacre no campo.<br />
O massacre não cessa. Na<br />
segunda-feira, dia 16, houve<br />
uma chacina em um assentamento<br />
na zona rural de Floresta,<br />
onde seis pessoas foram<br />
mortas, incluin<strong>do</strong> uma mulher<br />
grávida e quatro jovens entre<br />
14 e 21 anos. Apesar de se tratar<br />
de um crime cometi<strong>do</strong> <strong>contra</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res sem-terra, a<br />
polícia nem suspeitou, nem<br />
considerou o caso como fruto<br />
de conflito agrário, consideran<strong>do</strong><br />
simplesmente a hipótese<br />
de chacina por vingança.<br />
Os próprios membros da<br />
Fetraf lembram as lideranças<br />
<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> que foram vítimas<br />
de assassinatos até hoje não<br />
resolvi<strong>do</strong>s ou puni<strong>do</strong>s.<br />
“Em 8 de março de<br />
2000, no acampamento<br />
da fazenda Brioza, no<br />
município de Glória <strong>do</strong><br />
Goitá (PE), o dirigente<br />
sindical Severino Manoel<br />
<strong>do</strong>s Santos também<br />
foi assassina<strong>do</strong> e até<br />
hoje os criminosos continuam<br />
impunes. Até<br />
quan<strong>do</strong> o judiciário brasileiro<br />
deixará esses criminosos<br />
impunes? Os<br />
trabalha<strong>do</strong>res estão<br />
acampa<strong>do</strong>s na usina<br />
Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo<br />
há sete anos, tempo<br />
mais que suficiente para<br />
o <strong>governo</strong> desapropriar<br />
as terras. Quantos trabalha<strong>do</strong>res<br />
ainda terão que<br />
morrer para que se faça<br />
a reforma agrária?”, disse<br />
João Santos, coordena<strong>do</strong>r<br />
geral da Federação<br />
<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />
na Agricultura Familiar<br />
de Pernambuco (sítio da<br />
Fetraf, 19/5/2010).<br />
É preciso exigir a<br />
imediata punição aos<br />
assassinos <strong>do</strong>s sem-terra<br />
e defender que as famílias<br />
sem-terra e de pequenos<br />
agricultores possam<br />
defender-se <strong>do</strong>s latifundiários<br />
que promovem<br />
um verdadeiro massacre<br />
no campo. Os camponeses<br />
devem ter o direitos<br />
de garantir os meios<br />
para esta defesa.<br />
Diante das verdadeiras<br />
milícias no campo<br />
pagas pelos grandes proprietários<br />
de terra e que<br />
atuam impunemente assassinan<strong>do</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res,<br />
é preciso exigir a liberdade<br />
de armamento<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res semterra<br />
e pequenos agricultores,<br />
o que hoje foi torna<strong>do</strong><br />
ilegal com a lei <strong>do</strong> desarmamento<br />
de Lula que impede os<br />
trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> campo de terem<br />
armas legalmente.<br />
BRASÍLIA<br />
Índios tentam<br />
ocupar a Câmara e<br />
são reprimi<strong>do</strong>s<br />
No dia 19 de maio, em<br />
Brasília, índios realizavam<br />
um protesto em frente à<br />
Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s <strong>contra</strong><br />
um decreto <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
Lula, que alterou a estrutura<br />
da Fundação Nacional <strong>do</strong><br />
Índio (Funai) e também pela<br />
saída <strong>do</strong> presidente da entidade,<br />
Márcio Meira.<br />
Eles participaram de uma<br />
audiência pública e tentaram<br />
entrar no Plenário da Câmara<br />
sen<strong>do</strong> duramente reprimi<strong>do</strong>s<br />
pela polícia legislativa,<br />
que chegou a espancar um<br />
índio de 80 anos de idade, o<br />
que não foi nega<strong>do</strong> pela própria<br />
segurança. “No meio <strong>do</strong><br />
empurra-empurra ninguém<br />
pergunta a idade”, declarou<br />
o diretor <strong>do</strong> departamento de<br />
polícia judiciária da Câmara,<br />
Antonio Carlos de Abreu<br />
(G1,19/5/2010).<br />
Após serem impedi<strong>do</strong>s de<br />
chegar ao Plenário da Câmara<br />
pela segurança <strong>do</strong> Congresso,<br />
os índios ocuparam<br />
o Plenário da Comissão de<br />
Constituição e Justiça. Estes<br />
denunciaram que suas terras<br />
estão sen<strong>do</strong> invadidas pelo<br />
Exército e que o <strong>governo</strong> age<br />
arbitrariamente para deliberar<br />
sobre o futuro <strong>do</strong>s indígenas.<br />
Já a atual direção da Funai,<br />
sequer escuta as reivindicações<br />
<strong>do</strong>s índios que se<br />
en<strong>contra</strong>m isola<strong>do</strong>s em suas<br />
terras à mercê <strong>do</strong>s ataques<br />
<strong>do</strong>s interesses econômicos<br />
<strong>do</strong>s latifundiários.<br />
“Cerca de 500 índios estão<br />
acampa<strong>do</strong>s em Brasília<br />
há quatro meses e não conseguem<br />
ser ouvi<strong>do</strong>s pelo<br />
presidente da Funai, que<br />
está sen<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong> pela<br />
Força de Segurança Nacional<br />
(...) ‘Se não resolverem<br />
nossos problemas, podemos<br />
derrubar torres de<br />
transmissão elétrica e deixar<br />
muitas cidades sem<br />
energia, e aí os brancos vão<br />
culpar a gente”, disse o advoga<strong>do</strong><br />
Arão Lopes, da etnia<br />
Arariboia (O Globo, 19/<br />
5/2010).<br />
A reestruturação da Funai,<br />
o decreto 7.056 que<br />
Lula assinou no final de dezembro<br />
sem mesmo consultar<br />
as comunidades indígenas,<br />
é um ataque <strong>contra</strong> a<br />
própria existência <strong>do</strong>s indígenas.<br />
Se estes <strong>já</strong> eram desassisti<strong>do</strong>s<br />
pelo Esta<strong>do</strong>, e<br />
ataca<strong>do</strong>s por milícias <strong>do</strong>s latifundiários<br />
e empresas de<br />
exploração, depois <strong>do</strong> decreto<br />
estão ainda mais vulneráveis.<br />
O decreto acabou com 24<br />
administrações regionais da<br />
Funai, 14 núcleos de apoio,<br />
10 postos de vigilância e 344<br />
postos indígenas. A organização<br />
da Funai nos esta<strong>do</strong>s,<br />
que <strong>já</strong> era insuficiente para<br />
tentar estabelecer algum<br />
controle <strong>contra</strong> os ataques<br />
aos indígenas, foi extinta, o<br />
que é um apoio para a ação<br />
feroz <strong>do</strong>s latifundiários <strong>contra</strong><br />
a população indígena.<br />
Em janeiro deste ano centenas<br />
de indígenas <strong>já</strong> haviam<br />
se dirigi<strong>do</strong> a Brasília e ocuparam<br />
a sede da Funai além<br />
de realizar protestos em vários<br />
esta<strong>do</strong>s <strong>contra</strong> este decreto.<br />
É preciso exigir a imediata<br />
revogação da reestruturação<br />
da Funai e colocar esta<br />
sob controle <strong>do</strong>s indígenas<br />
e suas comunidades, inclusive<br />
amplian<strong>do</strong> o número de<br />
postos de segurança <strong>do</strong>s<br />
índios e garantin<strong>do</strong> a demarcação<br />
das terras indígenas<br />
ameaçadas.<br />
A campanha realizada<br />
pela direita, como a revista<br />
Veja que em suas últimas<br />
edições declarou ser um<br />
oportunismo <strong>do</strong>s setores<br />
intelectuais defenderem a<br />
demarcação das terras indígenas,<br />
serve para apoiar um<br />
massacre que pode ocorrer<br />
caso os indígenas não tenham<br />
o direito de se estabelecerem<br />
em suas terras garanti<strong>do</strong>.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ECONOMIA A8<br />
UNIÃO EUROPÉIA QUER...<br />
Punir os que não atacarem os trabalha<strong>do</strong>res<br />
Cúpula <strong>do</strong> bloco europeu se reúne para estabelecer<br />
regras <strong>contra</strong> os países que não se enquadrarem às regras<br />
de cortes de gastos<br />
Em um encontro da União<br />
Européia (UE) que reuniu os<br />
ministros das Finanças <strong>do</strong>s países<br />
europeus foi constatada<br />
necessidade de impor punições<br />
aos países <strong>do</strong> bloco que não se<br />
enquadrarem nas normas de<br />
controle de dívidas, ou seja, que<br />
não aplicar os cortes aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Na reunião realizada em Bruxelas,<br />
os ministros discutiram<br />
formas de combater a atual<br />
crise econômica que elevou as<br />
dívidas <strong>do</strong>s principais países<br />
europeus e está promoven<strong>do</strong> a<br />
desvalorização <strong>do</strong> euro.<br />
Com a desculpa de que os<br />
orçamentos têm que ser equilibra<strong>do</strong>s<br />
os ministros das finanças<br />
querem apertar o cerco<br />
<strong>contra</strong> os gastos públicos.<br />
As medidas que serão impostas<br />
pela União Européia vão<br />
punir os países que não seguirem<br />
à risca as determinações de<br />
corte de verbas públicas. A<br />
punição consistirá no não recebimento<br />
de verbas vindas <strong>do</strong>s<br />
pacotes econômicos e até mesmo<br />
na suspensão <strong>do</strong> direito de<br />
voto nas decisões que forem<br />
tomadas nas reunião <strong>do</strong> bloco<br />
europeu.<br />
A justificativa apresentada<br />
pelo presidente <strong>do</strong> Conselho<br />
Europeu, Herman van Rompuy<br />
foi de que anteriormente tais<br />
medidas não foram aprovadas<br />
a tempo. “No passa<strong>do</strong>, medidas<br />
corretivas foram tomadas tarde<br />
demais, os instrumentos<br />
legais disponíveis não eram suficientemente<br />
usa<strong>do</strong>s. Por isso<br />
Um cerco está sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> pelos países europeus para tentar segurar o avanço da crise<br />
econômica nos países europeus, principalmente os que estão endivida<strong>do</strong>s na zona <strong>do</strong> euro.<br />
precisamos agir de formas diferentes”<br />
(BBC, 24/5/2010).<br />
Esta reunião da cúpula da<br />
União Européia reuniu os 27<br />
ministros de Finanças <strong>do</strong>s 27<br />
países que são membros <strong>do</strong><br />
bloco. Além <strong>do</strong>s ministros estavam<br />
presentes o comissário<br />
europeu para Economia e Negócios<br />
Financeiros, Olli Rehn,<br />
o presidente <strong>do</strong> BCE (Banco<br />
Central Europeu), Jean Claude<br />
Trichet e o presidente <strong>do</strong> Eurogroup,<br />
Jean-Claude Juncker.<br />
O cerco que está sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong><br />
pelos países europeus para<br />
tentar segurar o avanço da crise<br />
econômica nos países europeus,<br />
principalmente os que<br />
estão endivida<strong>do</strong>s na zona <strong>do</strong><br />
euro, tem o claro objetivo de<br />
colocar sobre as costas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
to<strong>do</strong> ônus da crise.<br />
A punição que está sen<strong>do</strong><br />
estabelecida aos países que não<br />
controlarem o orçamento, ou<br />
seja, os cortes de gastos públicos<br />
é uma medida de desespero<br />
destes países diante da maior<br />
crise da economia européia<br />
de to<strong>do</strong>s os tempos.<br />
A punição também é um sinal<br />
de que os países vão ser<br />
obriga<strong>do</strong>s a realizar os cortes,<br />
mesmo diante da grande resistência<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
PORTUGAL É GRÉCIA<br />
Mais cortes em<br />
Portugal e em outros<br />
países da zona <strong>do</strong> euro<br />
Depois <strong>do</strong> plano de austeridade<br />
grego, Portugal também<br />
aprova ajuda à Grécia e<br />
plano de cortes aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Na última semana o Parlamento<br />
português aprovou o<br />
empréstimo de 2,064 bilhões<br />
de euros à Grécia. Este montante<br />
é uma parte <strong>do</strong>s 110 bilhões<br />
de euros <strong>do</strong> pacote de<br />
ajuda à Grécia. Este pacote<br />
foi estabeleci<strong>do</strong> pela União<br />
Européia e pelo FMI (Fun<strong>do</strong><br />
Monetário Internacional). No<br />
acor<strong>do</strong> que estabeleceu o<br />
pacote, to<strong>do</strong>s os países da<br />
zona <strong>do</strong> euro se comprome-<br />
como hoje foi tão importante<br />
a estabilidade econômica e<br />
monetária da Europa” (Hoje<br />
Portugual, 8/5/2010).<br />
Outros países também <strong>já</strong><br />
aprovaram o pacote de ajuda<br />
à Grécia, entre eles Espanha,<br />
Itália e Alemanha.<br />
O Parlamento alemão vai<br />
liberar a quantia de 22,4 bilhões<br />
de euros à Grécia . A<br />
chanceler Angela Merkel, defendeu<br />
o pacote afirman<strong>do</strong><br />
que o mesmo serviria não só<br />
para salvar a Grécia, mas<br />
também a Europa e a própria<br />
Alemanha.<br />
Apesar <strong>do</strong> auxílio financei-<br />
novos impostos.<br />
O primeiro-ministro português<br />
José Sócrates fez declarações<br />
cínicas sobre a<br />
aprovação <strong>do</strong> plano de austeridade.<br />
Sócrates disse que as<br />
medidas eram necessárias<br />
“para defender Portugal e a<br />
moeda única” e que também<br />
seria “um esforço justo, coletivo<br />
e bem distribuí<strong>do</strong>”.<br />
Portugal está tão endivida<strong>do</strong><br />
quanto a Grécia e a Espanha.<br />
O déficit público português<br />
é de 9,4% <strong>do</strong> PIB (Produto<br />
Interno Bruto). A meta<br />
estabelecida pela Comissão<br />
Européia é de que to<strong>do</strong>s os<br />
A TODO VAPOR<br />
Reino Uni<strong>do</strong> não perde tempo<br />
e inicia cortes de U$$ 9 bilhões<br />
O novo <strong>governo</strong> de Conserva<strong>do</strong>res<br />
e Liberal-democratas <strong>já</strong><br />
anunciou que os cortes de gastos<br />
no valor de 9 bilhões de<br />
dólares estão programa<strong>do</strong>s para<br />
entrar em vigor imediatamente.<br />
Está programa<strong>do</strong> para o dia<br />
24 de maio o início da aplicação<br />
<strong>do</strong>s cortes de gastos. Esta foi a<br />
data divulgada pelo novo <strong>governo</strong><br />
britânico de coalizão entre<br />
Conserva<strong>do</strong>res e Liberal-democratas.<br />
Ainda serão defini<strong>do</strong>s projetos<br />
de lei que incluem regras<br />
para o funcionamento <strong>do</strong>s bancos<br />
e reformas políticas.<br />
Segun<strong>do</strong> George Osborne,<br />
ministro das Finanças <strong>do</strong> Reino<br />
Uni<strong>do</strong>, em 2010 serão economiza<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> orçamento <strong>do</strong> País,<br />
6,25 bilhões de libras esterlinas<br />
ou o mesmo que 9 bilhões de<br />
dólares.<br />
O novo projeto pretende reduzir<br />
o altíssimo déficit público<br />
<strong>do</strong> País que está em 13% <strong>do</strong> PIB<br />
(Produto Interno Bruto) algo em<br />
torno de 156 bilhões de libras de<br />
déficit orçamentário.<br />
A meta é economizar 6 bilhões<br />
de libras esterlinas este<br />
ano, ou seja, cortar <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
para socorrer os capitalistas<br />
fali<strong>do</strong>s.<br />
O ministro das Finanças foi<br />
taxativo ao dizer que os cortes<br />
serão prolonga<strong>do</strong>s. “Nós precisamos<br />
tomar ações urgentes<br />
para manter nossas taxas de<br />
juros mais baixas por mais tempo,<br />
para fortalecer a confiança<br />
na economia e proteger empregos,<br />
para mostrar ao mun<strong>do</strong> que<br />
nós podemos viver segun<strong>do</strong><br />
nossos próprios meios” (Reuters,<br />
24/5/2010).<br />
Os cortes vão reduzir gastos<br />
nos setores <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e também<br />
vão atacar a população.<br />
Como o corte integral, ou seja,<br />
o fim de um programa social <strong>do</strong><br />
<strong>governo</strong> Brown chama<strong>do</strong> Child<br />
Trust Fund, programa que reserva<br />
dinheiro para crianças no<br />
ato de seu nascimento, mas que<br />
somente será resgata<strong>do</strong> após os<br />
18 anos. Medidas recentes de<br />
programas para a geração de<br />
empregos também foram corta<strong>do</strong>s.<br />
Outro programa social,<br />
que oferece dinheiro para os pais<br />
investirem no futuro <strong>do</strong>s filhos<br />
também será extinto até 2011.<br />
Outros 500 milhões de libras<br />
vão ser transferidas de moradias<br />
sociais, programas para formação<br />
de aprendizes e educação<br />
universitária.<br />
O ex-ministro das Finanças,<br />
o trabalhista, Alistair Darling,<br />
criticou o novo <strong>governo</strong> destacan<strong>do</strong><br />
o prejuízo que será para<br />
o emprego, “esses cortes irão<br />
afetar seriamente o apoio aos<br />
negócios, significan<strong>do</strong> menos<br />
empregos para os jovens e atingin<strong>do</strong><br />
os estudantes” (Idem).<br />
As verbas de áreas como a<br />
defesa, ajuda ao exterior e saúde,<br />
segun<strong>do</strong> o <strong>governo</strong> de coalizão,<br />
serão mantidas, pelo menos<br />
para este ano. Mas para<br />
2011 virão cortes com certeza.<br />
Para David Laws, o viceministro<br />
das Finanças, “quanto<br />
mais fun<strong>do</strong> formos neste<br />
processo, mais difíceis ficarão<br />
as decisões a serem tomadas”,<br />
ou seja, esta política de cortes<br />
vai afetar profundamente o<br />
País.<br />
Os cortes iniciais anuncia<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>governo</strong> de coalização<br />
<strong>já</strong> indicam que a situação política<br />
da Inglaterra tende se convulsionar<br />
como está ocorren<strong>do</strong><br />
na Grécia e nos demais países<br />
endivida<strong>do</strong>s que estão pratican<strong>do</strong><br />
as medidas <strong>do</strong> plano de austeridade.<br />
Os cortes em áreas e<br />
programas sociais vão provocar<br />
inevitavelmente a mobilização<br />
da classe operária inglesa e<br />
desestabilizar o <strong>já</strong> instável novo<br />
<strong>governo</strong> britânico agravan<strong>do</strong> e<br />
aceleran<strong>do</strong> a crise capitalista<br />
em toda a Europa.<br />
Portugal está tão endivida<strong>do</strong> quanto a Grécia e a Espanha. O déficit público português é de<br />
9,4% <strong>do</strong> PIB (Produto Interno Bruto). A meta estabelecida pela Comissão Européia é de que<br />
to<strong>do</strong>s os países da zona <strong>do</strong> euro tenham um déficit de no máximo 3% <strong>do</strong> PIB ao ano.<br />
teram em contribuir. Os 2 bilhões<br />
de euros aprova<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>governo</strong> português foi a<br />
parte destinada a Portugal.<br />
Segun<strong>do</strong> os parlamentares<br />
que votaram a favor <strong>do</strong> pacote,<br />
grupo composto pelo<br />
PSD, PS e CDS, o empréstimo<br />
vai contribuir para a estabilização<br />
da zona euro. Para<br />
os que foram contrários, parlamentares<br />
<strong>do</strong> PCP e <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />
Verde, o pacote consiste<br />
em prolongar os problemas<br />
financeiros <strong>do</strong> País, ou seja,<br />
o dinheiro não será emprega<strong>do</strong><br />
para salvar a Grécia, mas<br />
agravará a crise.<br />
Mesmo o secretário <strong>do</strong><br />
Tesouro português, Costa<br />
Pina, ao defender a o empréstimo<br />
à Grécia destacou<br />
que a ajuda não surtirá efeito<br />
na economia portuguesa, “o<br />
dinheiro que será empresta<strong>do</strong><br />
será totalmente absorvi<strong>do</strong><br />
pelas dívidas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> grego.<br />
O momento que estamos<br />
viven<strong>do</strong> na Europa e no mun<strong>do</strong><br />
é um verdadeiro ataque à<br />
UE e à zona <strong>do</strong> euro. Nunca<br />
ro da<strong>do</strong> pela União Européia<br />
e o Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />
(FMI), o <strong>governo</strong> grego<br />
e de outros países europeus<br />
estão de olho na classe<br />
trabalha<strong>do</strong>ra grega que será a<br />
mais afetada com as medidas<br />
e a menos disposta a aceitar<br />
os ataques, o que tem grandes<br />
chances de contagiar o restante<br />
da classe operária européia,<br />
ou seja, um perigo iminente<br />
para a estabilidade da<br />
burguesia nesses Países.<br />
Além da ajuda à Grécia, o<br />
<strong>governo</strong> português aprovou<br />
o corte de gastos. Entre as<br />
medidas aprovadas pelo<br />
Congresso português há uma<br />
taxa que será cobrada sobre<br />
o 13º salário, o aumento de<br />
impostos, como o IVA (Imposto<br />
sobre Valor Agrega<strong>do</strong>)<br />
que incide na compra de produtos<br />
ou na prestação de<br />
serviços. O IVA vai ter aumento<br />
de 1%. Estão previstos<br />
também cortes e congelamento<br />
nos salários, a exemplo<br />
<strong>do</strong> que foi feito na Grécia<br />
e na Espanha e a criação de<br />
países da zona <strong>do</strong> euro tenham<br />
um déficit de no máximo<br />
3% <strong>do</strong> PIB ao ano. Para<br />
os países endivida<strong>do</strong>s a meta<br />
é que cheguem a este percentual<br />
até 2013.<br />
As metas para este ano são<br />
de uma redução <strong>do</strong> déficit de<br />
9,4% para 7,3% até o final de<br />
2010. Para o próximo ano<br />
deve cair ainda mais, para<br />
5,1% <strong>do</strong> PIB.<br />
A medidas ainda não foram<br />
todas anunciadas, mas serão<br />
todas a favor <strong>do</strong>s interesses<br />
<strong>do</strong>s capitalistas e <strong>contra</strong> classe<br />
trabalha<strong>do</strong>ra. Estão ainda<br />
em pauta o congelamento de<br />
salários, a venda de empresas<br />
e demissões no funcionalismo.<br />
Os <strong>governo</strong>s europeus estão<br />
tentan<strong>do</strong>, mais uma vez,<br />
medidas paliativas para conter<br />
a crise, em nome <strong>do</strong>s lucros<br />
capitalistas, mas enfrentarão<br />
uma forte resistência<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res que <strong>já</strong><br />
mostraram que não estão dispostos<br />
a bancar a falência<br />
capitalista.<br />
NOTAS<br />
Falência de banco<br />
espanhol derruba<br />
moeda européia<br />
Na segunda-feira, dia 24, o<br />
euro viveu mais um dia de<br />
grande instabilidade após o <strong>governo</strong><br />
espanhol intervir no CajaSur,<br />
instituição de poupança<br />
que entrou em colapso.<br />
Houve queda nos investimentos<br />
das bolsas européias<br />
que mantiveram a tendência de<br />
pelo menos duas semanas, diante<br />
<strong>do</strong> agravamento da situação<br />
econômica de países periféricos<br />
<strong>do</strong> bloco, como Grécia<br />
e Espanha.<br />
A incerteza diante da falta de<br />
coesão política <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s<br />
europeus em meio ao avanço<br />
da crise tem repercuti<strong>do</strong> diretamente<br />
na desvalorização sucessiva<br />
<strong>do</strong> euro. Neste perío<strong>do</strong>,<br />
a moeda européia <strong>já</strong> caiu<br />
quase 1,5% em relação ao<br />
dólar. Na sexta-feira, dia 21, o<br />
euro, que estava cota<strong>do</strong> em<br />
1,2583 dólares, caiu para<br />
1,2383 na segunda-feira, 24.<br />
A falência <strong>do</strong> banco espanhol,<br />
apesar de ser considerada<br />
uma instituição de pequeno<br />
porte, revela a profundidade <strong>do</strong><br />
problema atual. A falência <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s europeus está produzin<strong>do</strong><br />
um novo efeito em cadeia<br />
de contaminação e quebra <strong>do</strong>s<br />
setores priva<strong>do</strong>s que haviam<br />
empresta<strong>do</strong> para estes <strong>governo</strong>s.<br />
FMI cobra da<br />
Espanha medidas<br />
de austeridade<br />
fiscal para conter<br />
avanço da crise<br />
européia<br />
O Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />
(FMI) cobrou da Espanha<br />
a implementação de medidas<br />
econômicas de austeridade<br />
fiscal, reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
de trabalho e mudanças no<br />
sistema bancário.<br />
Os analistas <strong>do</strong> FMI exigiram<br />
“uma ação urgente e decidida”.<br />
Entre as medidas estão a<br />
contenção da enorme taxa de<br />
desemprego com flexibilização<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho (terceirizações,<br />
redução de direitos<br />
trabalhistas para reduzir<br />
“gastos” <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e etc.),<br />
reforma <strong>do</strong> sistema bancário e<br />
uma “consolidação orçamentária”.<br />
A Espanha a<strong>do</strong>tou medidas<br />
de austeridade adicionais para<br />
2010 e 2011 de um total de 25<br />
bilhões de euros (US$ 18,72<br />
bilhões) para reduzir o déficit<br />
público <strong>do</strong> país.<br />
A previsão que estabelecia a<br />
meta de crescimento <strong>do</strong> país<br />
em 1,8% baixou para 1,3%. A<br />
crise ameaça levar à bancarrota<br />
to<strong>do</strong>s os países europeus.<br />
Grécia recorrerá<br />
mais vezes ao<br />
pacote de socorro<br />
ainda este ano<br />
Em comunica<strong>do</strong> o Ministério<br />
de Finanças grego anunciou<br />
que muito provavelmente o País<br />
será obriga<strong>do</strong> a recorrer ainda<br />
em 2010 ao pacote de resgate<br />
fiscal europeu.<br />
O pacote, no valor de 110<br />
bilhões de euros, foi aprova<strong>do</strong><br />
há poucas semanas pelo FMI<br />
em parceria com a União Européia.<br />
Seu objetivo era salvar da<br />
falência a economia grega, cuja<br />
bancarrota ameaça ainda agora<br />
a estabilidade econômica de<br />
to<strong>do</strong>s os países na zona <strong>do</strong> euro.<br />
Desde a aprovação <strong>do</strong> empréstimo<br />
o <strong>governo</strong> grego tem<br />
recorri<strong>do</strong> cautelosamente à<br />
quantia na medida em que necessita<br />
saudar suas dívidas. Na<br />
semana passada, por exemplo,<br />
a Grécia pagou 9 bilhões de<br />
euros em bônus graças à liberação<br />
de 14,5 bilhões pertencentes<br />
ao pacote econômico.<br />
Na nota, o Ministério afirma:<br />
“Nos nove meses, de abril a<br />
dezembro [2009], o <strong>governo</strong><br />
grego possui dívidas estimadas<br />
em • 39,7 bilhões. Na medida<br />
em que recorrer aos merca<strong>do</strong>s<br />
de bônus não seria aconselhável,<br />
os acor<strong>do</strong>s de empréstimos<br />
com a União Europeia e o FMI<br />
devem cobrir as necessidades<br />
remanescentes de empréstimos<br />
<strong>do</strong> país”.<br />
A liberação <strong>do</strong> restante <strong>do</strong><br />
pacote acontecerá caso, e apenas<br />
se, o <strong>governo</strong> grego consiguir<br />
implementar as medidas de<br />
austeridade fiscal, incluin<strong>do</strong> os<br />
ataques aos direitos trabalhistas<br />
que desencadearam sucessivas<br />
greves gerais no País.<br />
A burguesia grega neste<br />
momento se vê acuada de ambos<br />
os la<strong>do</strong>s. As imposições<br />
fiscais <strong>do</strong> imperialismo por um<br />
la<strong>do</strong>, e a barreira erguida pelos<br />
trabalha<strong>do</strong>res gregos <strong>contra</strong> a<br />
política <strong>do</strong> <strong>governo</strong>, por outro.<br />
Esta situação tende a se agravar<br />
e a dissolver completamente<br />
o regime político grego<br />
aprofundan<strong>do</strong> a crise revolucionária<br />
no País.
CAUSA OPERÁRIA<br />
MOVIMENTO OPERÁRIO<br />
Grande vitória <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e da<br />
política revolucionária: quase 70% de<br />
apoio da categoria à chapa de Ecetistas em<br />
Luta em apenas um dia de votação<br />
©¨ ¥¢¦¨ ¥¦§ ¢£¤ ¡<br />
Mesmo com os golpes da pretensa oposição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB, <strong>do</strong>s chefes e da direção da ECT, que tentou impedir as eleições para<br />
confundir os trabalha<strong>do</strong>res, atacar a organização sindical da categoria para colocá-la nas mãos <strong>do</strong>s patrões, os trabalha<strong>do</strong>res de Minas<br />
Gerais votaram na chapa que vai fortalecer a campanha <strong>contra</strong> a privatização da empresa<br />
0##%& .%<<br />
!16 !54" -64 1(R5"&^bu Q7 <br />
$"#, &4"Rbu Q7 a7Rbb$]X$"6 $""#<br />
%&,0$" 7 ""$ 034"<br />
25%& "]#46 0, !""& 9#%&;#&1*28<br />
"7 #0,,$6 #"#,0" $]%," "$%&#&<br />
$470# %&"",6 "#]+Q6 #""<br />
",0##" #% #$Q%&,#*f_<br />
#7Z4"#6 $4, $#" "XY*282 .00#<br />
4"%
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO OPERÁRIO A10<br />
SINTECT-MG: MAIS UM ATO DE BARBÁRIE DOS PELEGOS DO PCDOB/CTB<br />
Elemento <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/CTB esfaqueia<br />
companheiros da corrente<br />
Ecetistas em Luta<br />
Um <strong>do</strong>s companheiros está no hospital e corre risco de<br />
vida<br />
Desespera<strong>do</strong>s com a rejeição<br />
da categoria e com a vitória<br />
expressiva da Chapa 1 – Ecetistas<br />
em Luta, os elementos<br />
marginais que tentaram montar<br />
uma pretensa oposição à atual<br />
diretoria <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong>s Correios, ultrapassaram<br />
to<strong>do</strong>s os limites e<br />
usaram de extrema violência,<br />
chegan<strong>do</strong> inclusive a esfaquear<br />
companheiros que estavam<br />
apoian<strong>do</strong> a Chapa 1, numa tentativa<br />
de impedir a to<strong>do</strong> custo<br />
a vitoria <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res nas<br />
eleições.<br />
Depois de inúmeras tentativas,<br />
todas fracassadas, de tomar<br />
no tapetão o sindicato mais<br />
combativo de toda a categoria<br />
<strong>do</strong>s correios, o sindicato de<br />
Minas Gerais, incluin<strong>do</strong> ainda a<br />
tentativa de dar o golpe na própria<br />
justiça a que apelaram para<br />
tentar tomar o sindicato, induzin<strong>do</strong>-a<br />
ao erro ao entrar com<br />
<strong>do</strong>is processos idênticos, mas<br />
em varas distintas, desespera<strong>do</strong>s<br />
com a votação expressiva<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, partiram<br />
para a agressão física <strong>contra</strong> os<br />
apoia<strong>do</strong>res da chapa 1 – Ecetistas<br />
em Luta, não só isso. Um<br />
<strong>do</strong>s líderes da “oposição”, um<br />
conheci<strong>do</strong> puxa-saco <strong>do</strong>s chefes,<br />
Orozimbo Roberto <strong>do</strong>s<br />
Santos, tentou matar a facadas<br />
<strong>do</strong>is companheiros <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />
da Causa Operária, o companheiro<br />
Avelar Viana, secretario<br />
geral <strong>do</strong> Sintect-ES, e o companheiro<br />
Edson Dorta, carteiro<br />
de Campinas, membro da<br />
corrente Ecetistas em Luta e<br />
ex-secretário-geral da Federação<br />
Nacional. Ambos se<br />
en<strong>contra</strong>m no hospital. O<br />
companheiro Avelar, esfaquea<strong>do</strong><br />
na testa e no peito,<br />
em uma altura um pouco a<br />
cima <strong>do</strong> coração, corre inclusive<br />
risco de vida, enquanto<br />
que o companheiro<br />
PRIMEIRO BALANÇO DA PARALISAÇÃO DO DIA<br />
Uma importante<br />
mobilização impulsiona a<br />
luta da categoria<br />
Em quase to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> País, os ecetistas paralisaram<br />
suas atividades no<br />
dia 26, para lutar <strong>contra</strong> o<br />
excesso de trabalho, por uma<br />
ores representantes e defensores<br />
<strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s patrões<br />
dentro <strong>do</strong>s sindicatos<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, a máfia <strong>do</strong><br />
PC<strong>do</strong>B/CTB conseguiu impe-<br />
sília, por me<strong>do</strong> da categoria,<br />
agora agiram para sabotar a<br />
paralisação, foram derrota<strong>do</strong>s<br />
em vários lugares, mas ainda<br />
conseguiram dar o golpe no<br />
Edson Dorta terá que ser submeti<strong>do</strong><br />
a uma cirurgia na mão<br />
direita, corren<strong>do</strong> o risco de<br />
perder a mobilidade da mão.<br />
A ação <strong>do</strong> grupo de oposição,<br />
financia<strong>do</strong> pelo PC<strong>do</strong>B S.A/<br />
CTB e pela empresa, é típica de<br />
Os companheiros Édson Dorta e Avelar Viana, agredi<strong>do</strong>s por Orozimbo Roberto <strong>do</strong>s Santos <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/SA.<br />
gangsteres. De acor<strong>do</strong> com os<br />
relatos das testemunhas, os<br />
companheiros da corrente<br />
Ecetistas em Luta estavam<br />
panfletan<strong>do</strong> na porta da agência<br />
e conversan<strong>do</strong> com os trabalha<strong>do</strong>res,<br />
chaman<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />
a votar. Nesse momento o elemento<br />
marginal da oposição,<br />
Orozimbo, saiu da agência<br />
com a faca em punho e partiu<br />
para cima <strong>do</strong> companheiro<br />
Avelar Viana. O companheiro<br />
Edson Dorta foi esfaquea<strong>do</strong><br />
ao tentar desarmá-lo. Foi uma<br />
clara tentativa de homicídio,<br />
premedita<strong>do</strong> pelos representantes<br />
<strong>do</strong>s patrões no movimento<br />
sindical <strong>do</strong>s Correios.<br />
O papel dessa máfia, chamada<br />
PC<strong>do</strong>B/CTB, é a de intimidar<br />
os trabalha<strong>do</strong>res e a sua luta.<br />
Chamamos as organizações<br />
de trabalha<strong>do</strong>res, em<br />
particular <strong>do</strong>s Correios, a<br />
repudiar a política patronal<br />
que não se detém diante de<br />
nada, nem da fraude, nem da<br />
mais desenfreada violência,<br />
para quebrar a oposição e<br />
impor a política de privatização<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> e <strong>do</strong>s capitalistas.<br />
A partir da próxima semana, o Sindicato vai convocar novas atividades, realizar<br />
reuniões nos setores para discutir a ampliação desta mobilização em nosso Esta<strong>do</strong><br />
A paralisação <strong>do</strong> dia 26 foi apenas mais um passo da grande luta <strong>contra</strong> a privatização.<br />
PLR de no mínimo R$ 2.000<br />
e principalmente para iniciar<br />
uma grande mobilização <strong>contra</strong><br />
a privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />
CTB/PC<strong>do</strong>B<br />
vendi<strong>do</strong>s e<br />
trai<strong>do</strong>res<br />
Mostran<strong>do</strong> que são os mai-<br />
dir a paralisação no maior Sindicato<br />
<strong>do</strong> País, São Paulo,<br />
que tem mais de 20 mil trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Evidenciaram, mais uma<br />
vez, que são verdadeiros sabota<strong>do</strong>res<br />
das lutas da categoria<br />
e inimigos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
e mesmo ten<strong>do</strong> vota<strong>do</strong><br />
na mobilização na Plenária<br />
Nacional da Fentect, em Bra-<br />
Sintect - SP.<br />
Êxito da<br />
mobilização em<br />
Minas Gerais<br />
A mobilização da categoria<br />
em nossa região deu continuidade<br />
a uma série de atividades<br />
que nosso Sindicato e a Corrente<br />
Nacional Ecetistas em<br />
Luta, vem promoven<strong>do</strong> para<br />
impulsionar a campanha <strong>contra</strong><br />
a privatização e em defesa<br />
das reivindicações da categoria.<br />
Foram quatro assembléias<br />
que reuniram, juntas, mais de<br />
500 trabalha<strong>do</strong>res; foram<br />
mais de 500 mil exemplares<br />
da Carta Aberta à População<br />
distribuí<strong>do</strong>s em três semanas;<br />
na última sexta (21) realizamos<br />
um ato nacional no centro<br />
de BH com representantes<br />
da maioria <strong>do</strong>s Sindicatos da<br />
Frente <strong>do</strong>s 17 Sindicatos e<br />
Oposições contrários ao acor<strong>do</strong><br />
bianual e à privatização da<br />
ECT e, ontem, a paralisação<br />
que atingiu a maioria <strong>do</strong>s setores.<br />
Caravanas <strong>do</strong>s setores paralisa<strong>do</strong>s<br />
foram se juntan<strong>do</strong><br />
no Correio Central, na Afonso<br />
Penna, reunin<strong>do</strong> mais de<br />
300 pessoas, ao longo <strong>do</strong> dia.<br />
Por volta <strong>do</strong> meio-dia foi realizada<br />
uma passeata, chaman<strong>do</strong><br />
a atenção da população<br />
para nossa luta e nossas reivindicações.<br />
Agora, vamos<br />
preparar a greve<br />
geral<br />
Nossa paralisação foi uma<br />
primeira resposta ao golpe da<br />
direção da empresa, que<br />
anunciou que quer pagar uma<br />
PLR de no máximo R$ 836<br />
aos trabalha<strong>do</strong>res, enquanto<br />
planeja pagara mais de R$ 40<br />
mil para os altos escalões da<br />
ECT. Os que não trabalham<br />
ganham muito e os que produzem<br />
a riqueza da empresa,<br />
ganham uma miséria.<br />
A paralisação <strong>do</strong> dia 26 foi<br />
apenas mais um passo da<br />
grande luta <strong>contra</strong> a privatização,<br />
o excesso de trabalho<br />
e por uma PLR de R$ 2 mil.<br />
Ela serviu para mostrar a disposição<br />
de nossa categoria<br />
para organizar a greve geral<br />
de toda a categoria, que nosso<br />
Sindicato e toda Frente<br />
<strong>do</strong>s 17 sindicatos estão defenden<strong>do</strong><br />
que seja na primeira<br />
quinzena de julho.<br />
A partir da próxima semana,<br />
o Sindicato vai convocar<br />
novas atividades, realizar<br />
reuniões nos setores para<br />
discutir a ampliação desta<br />
mobilização em nosso Esta<strong>do</strong><br />
e também a luta <strong>contra</strong> os<br />
pelegos da CTB/PC<strong>do</strong>B no<br />
Sintect – SP e outras regiões<br />
que precisam ser derrota<strong>do</strong>s<br />
para permitir o avanço da luta<br />
da categoria.<br />
Parábens, companheiros<br />
pela mobilização. Pela nossa<br />
união, que derrotou – em Minas<br />
Gerais – os trai<strong>do</strong>res que<br />
queriam tomar nosso Sindicato<br />
para colocá-lo <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> patrão, <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Nas ruas, nas assembléias,<br />
nas plenárias e reuniões,<br />
os ecetistas mineiros, junto<br />
com a Corrente Ecetistas em<br />
Luta, ocuparam mais uma<br />
vez um papel de liderança da<br />
luta da categoria.<br />
TRABALHADOR DOS CORREIOS,<br />
Distribua também o boletim Ecetistas em Luta<br />
Acompanhe todas as semanas o órgão da corrente nacional<br />
Ecetistas em Luta, de trabalha<strong>do</strong>res, militantes e simpatizantes<br />
<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da Causa Operária nos Correios, com as principais<br />
denúncias da categoria, a análise <strong>do</strong>s acontecimentos e da política<br />
da direção da empresa.<br />
Um órgão de defesa <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Correios<br />
na sua luta cotidiana, distribuí<strong>do</strong> nacionalmente.<br />
Entre em contato e distribua o boletim também no seu<br />
setor de trabalho: correios@pco.org.br<br />
Tel. 11-5584-7040
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO OPERÁRIO A11<br />
ENCONTRO DA FRENTE DOS 17 SINDICATOS DELIBEROU<br />
Ampliar a mobilização <strong>contra</strong> a<br />
privatização da ECT e propor a antecipação<br />
da greve por tempo indetermina<strong>do</strong><br />
turas em um abaixo-assina<strong>do</strong>s<br />
<strong>contra</strong> a privatização <strong>do</strong>s Correios,<br />
conforme modelo aprova<strong>do</strong><br />
na reunião;<br />
g) Pronunciar-se <strong>contra</strong> a in-<br />
as mulheres ecetistas possam<br />
realmente debater suas posições;<br />
g) Realizar a próxima reunião<br />
da Frente <strong>do</strong>s sindicatos contrá-<br />
Reunião em Belo Horizonte da Frente de Sindicatos<br />
contrários ao acor<strong>do</strong> bianual e à privatização da ECT<br />
decidiu organizar novos atos públicos, fortalecer a luta<br />
<strong>contra</strong> o bloco trai<strong>do</strong>r nos Sindicatos, e fazer uma<br />
campanha pela antecipação da greve por tempo<br />
indetermina<strong>do</strong> para a primeira quinzena de julho<br />
No último dia 22, reuniramse<br />
em Belo Horizonte, representantes<br />
<strong>do</strong>s sindicatos que compõe<br />
a Frente de sindicatos contrários<br />
ao acor<strong>do</strong> bianual e à privatização<br />
da ECT.<br />
A reunião foi precedida de um<br />
combativo Ato <strong>contra</strong> a privatização<br />
da ECT, realiza<strong>do</strong> no dia<br />
21 de maio em frente à Agência<br />
Central <strong>do</strong>s Correios, segui<strong>do</strong><br />
de passeata pelas ruas de Belo<br />
Horizonte, com cerca de 200<br />
trabalha<strong>do</strong>res.<br />
O Ato público mostrou a disposição<br />
de luta presente entre os<br />
trabalha<strong>do</strong>res e reforçou a necessidade<br />
da reunião aprovar<br />
deliberações no senti<strong>do</strong> de ampliar<br />
as mobilizações da categoria<br />
diante <strong>do</strong>s ataques organiza<strong>do</strong>s<br />
pela direção da ECT <strong>contra</strong><br />
os trabalha<strong>do</strong>res, pois os trabalha<strong>do</strong>res<br />
<strong>já</strong> perceberam que o<br />
que está em jogo é o emprego da<br />
categoria com a ameaça da privatização<br />
da ECT.<br />
Os representantes sindicais<br />
concluíram que toda política de<br />
sucateamento da direção da<br />
ECT, como a não <strong>contra</strong>tação<br />
de trabalha<strong>do</strong>res, a precarização<br />
<strong>do</strong> serviço, a exigência de<br />
trabalho nos fins de semana,<br />
destruição <strong>do</strong> plano de saúde,<br />
implementação <strong>do</strong> PCCS/2008<br />
da escravidão, acor<strong>do</strong> bianual,<br />
to<strong>do</strong>s estes ataques fazem parte<br />
<strong>do</strong> processo da privatização<br />
da ECT. Diante disso, foram<br />
aprovadas na reunião importantes<br />
resoluções, entre as quais:<br />
a) Impulsionar em to<strong>do</strong>s os<br />
Esta<strong>do</strong>s a paralisação ocorrida<br />
no dia 26/5, colocan<strong>do</strong> para os<br />
trabalha<strong>do</strong>res que to<strong>do</strong> este processo<br />
de exploração dentro da<br />
ECT representa a privatização<br />
da ECT, apontan<strong>do</strong> a antecipação<br />
<strong>do</strong> calendário da Fentect,<br />
antecipan<strong>do</strong> a greve geral por<br />
tempo indetermina<strong>do</strong>, marcada<br />
para agosto, para a primeira<br />
quinzena de julho;<br />
b) Campanha permanente<br />
<strong>contra</strong> o acor<strong>do</strong> bianual, pela<br />
campanha salarial em 2010;<br />
c) Intensificar a campanha<br />
<strong>contra</strong> a integral formulação <strong>do</strong><br />
PCCS/2008. Que nenhum trabalha<strong>do</strong>r<br />
assine <strong>do</strong>cumentos<br />
para enquadramento no PCCS/<br />
2008 da escravidão;<br />
d) Realizar atos públicos nos<br />
sindicatos da Frente e nas bases<br />
onde há Oposição ao Bloco Trai<strong>do</strong>r,<br />
aos moldes <strong>do</strong> Ato realiza<strong>do</strong><br />
na cidade de Belo Horizonte;<br />
e) Produzir uma Carta Aberta<br />
à População da Frente, para<br />
distribuição em to<strong>do</strong> o País<br />
(ten<strong>do</strong> como proposta inicial de<br />
texto a carta que está sen<strong>do</strong><br />
distribuída pelo Sindicato de<br />
Minas Gerais); se opon<strong>do</strong> ao<br />
modelo apresenta<strong>do</strong> pelos trai<strong>do</strong>res<br />
da Fentect, que não denuncia<br />
a sabotagem intencional<br />
da empresa por sua direção e<br />
reforça ainda mais a campanha<br />
da imprensa capitalista de que os<br />
carteiros estão atrasan<strong>do</strong> as correspondências;<br />
f) Colher milhares de assina-<br />
O Ato público mostrou a disposição de luta presente entre<br />
os trabalha<strong>do</strong>res e reforçou a necessidade de ampliar as<br />
mobilizações da categoria<br />
tervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nos<br />
Sintect’s MG, PE e RR e em<br />
todas as organizações sindicais<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res;<br />
f) Propor a reformulação <strong>do</strong>s<br />
critérios aprova<strong>do</strong>s pelo bloco<br />
majoritário da direção da Fentect<br />
para o Encontro de Mulheres<br />
Ecetistas, no senti<strong>do</strong> de que<br />
rios ao acor<strong>do</strong> bianual no dia 7/<br />
6, na cidade de São José <strong>do</strong> Rio<br />
Preto, realizan<strong>do</strong> um ato público<br />
<strong>contra</strong> a privatização da<br />
ECT, a fim de fortalecer a chapa<br />
<strong>do</strong>s companheiros da diretoria<br />
<strong>do</strong> Sintect - SJO que integra<br />
o Bloco <strong>do</strong>s 17 sindicatos <strong>contra</strong><br />
o Bloco trai<strong>do</strong>r da Fentect.<br />
CORREIOS SÃO PAULO<br />
Mais uma traição <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. <strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res: diretoria<br />
<strong>do</strong> Sintect-SP decide quebrar greve decidida nacionalmente<br />
Na terça-feira (25), ocorreram<br />
assembléias <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong>s Correios em<br />
to<strong>do</strong> o País para aprovar a<br />
paralisação nacional da categoria<br />
prevista no calendário<br />
nacional, aprova<strong>do</strong> na 35ª<br />
Plenária Nacional da Fentect.<br />
Em São Paulo, o PC<strong>do</strong>B<br />
S.A. ou CTB S. A., a famosa<br />
“máfia <strong>do</strong> crime” que dirige<br />
o sindicato, mais uma vez<br />
traiu a categoria mostran<strong>do</strong><br />
que atua como uma ala patronal<br />
no movimento sindical<br />
<strong>do</strong>s Correios. Esses pelegos<br />
convocaram uma assembléia<br />
para um local fecha<strong>do</strong>, de<br />
difícil acesso, para não ter<br />
que enfrentar os trabalha<strong>do</strong>res,<br />
<strong>já</strong> que sabem que a categoria<br />
não agüenta a situação<br />
nos setores de trabalho. Armaram<br />
um palco para poder<br />
dar mais um golpe a favor da<br />
empresa.<br />
Passan<strong>do</strong> por cima <strong>do</strong> calendário<br />
que eles mesmos<br />
aprovaram, <strong>contra</strong> a sua vontade,<br />
na 35ª Plenária Nacional,<br />
os representantes <strong>do</strong><br />
PC<strong>do</strong>B/CTB S. A. – o “Peixe”<br />
e o “Divisa” - foram<br />
<strong>contra</strong> a paralisação. A posição<br />
desses trai<strong>do</strong>res revela o<br />
que os trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s<br />
Correios em nível nacional <strong>já</strong><br />
sabem: eles são os principais<br />
agentes da direção da ECT e<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> para defender a<br />
privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />
A manobra <strong>do</strong>s diretores<br />
<strong>do</strong> sindicato para não aprovar<br />
a paralisação foi orquestrada<br />
conjuntamente com a<br />
direção da empresa. Desde<br />
que a greve foi deliberada a<br />
empresa vem fazen<strong>do</strong> campanha<br />
<strong>contra</strong> ela e usaram os<br />
seus cupinchas no interior <strong>do</strong><br />
movimento sindical para tentar<br />
desmontá-la. Aprovaram<br />
a greve em Brasília, apenas<br />
para traí-la em uma assembléia<br />
feita pelas costas <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res. São trai<strong>do</strong>res<br />
e covardes. A “máfia <strong>do</strong> crime”<br />
quer quebrar toda a luta<br />
da categoria <strong>contra</strong> o excesso<br />
de trabalho nos setores e<br />
principalmente a luta <strong>contra</strong><br />
a privatização <strong>do</strong>s Correios.<br />
Essa é a função <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B/<br />
CTB S.A. no movimento sindical<br />
<strong>do</strong>s Correios, por isso<br />
está na direção <strong>do</strong> Sintect-<br />
SP, o mais importante da categoria.<br />
O PC<strong>do</strong>B foi coloca<strong>do</strong><br />
nesse sindicato por uma<br />
manobra <strong>do</strong>s patrões e da justiça,<br />
que nomeou uma junta<br />
interventora durante as eleições<br />
passadas, para que o <strong>governo</strong><br />
pudesse ter seus homens<br />
de confiança e assim<br />
facilitar a privatização, frean<strong>do</strong><br />
a luta no maior sindicato<br />
da categoria.<br />
Esta nova traição mostra<br />
que é necessária a união de<br />
toda a categoria em nível nacional<br />
para expulsar esses<br />
pelegos <strong>do</strong> Sintect-SP e <strong>do</strong>s<br />
demais sindicatos que controlam<br />
com apoio <strong>do</strong>s patrões,<br />
o Sintect-RJ e oSintect-DF.<br />
A derrota <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B<br />
em São Paulo é uma das condições<br />
fundamentais para o<br />
desenvolvimento da luta <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Correios<br />
em to<strong>do</strong> o País, para derrotar<br />
a privatização.<br />
SÃO PAULO<br />
Segurança <strong>do</strong> Jaguaré tenta<br />
censurar distribuição <strong>do</strong> boletim<br />
Ecetistas em Luta<br />
Os companheiros militantes<br />
da corrente Ecetistas me Luta<br />
foram aborda<strong>do</strong>s pelos seguranças<br />
no Jaguaré enquanto distribuíam<br />
o boletim aos trabalha<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> setor.<br />
A entrada <strong>do</strong> prédio <strong>do</strong> CTP<br />
Jaguaré é tradicionalmente um<br />
local onde os sindicalistas distribuem<br />
seus panfletos e conversam<br />
com os trabalha<strong>do</strong>res.<br />
No entanto, é comum de tempos<br />
em tempos a segurança <strong>do</strong><br />
prédio tentar intimidar algum<br />
companheiro que esteja fazen<strong>do</strong><br />
o trabalho sindical na entrada<br />
<strong>do</strong> prédio.<br />
Os militantes da Corrente de<br />
Oposição Ecetistas em Luta, na<br />
última semana, como <strong>já</strong> ocorreram<br />
inúmeras outras vezes,<br />
foram aborda<strong>do</strong>s pelos seguranças<br />
da empresa, que afirmaram<br />
que os companheiros não<br />
poderiam distribuir o boletim, nem<br />
vender o jornal Causa Operária.<br />
Os companheiros estavam <strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong> prédio, mesmo<br />
assim os seguranças queriam que<br />
a distribuição <strong>do</strong> boletim Ecetistas<br />
em Luta ocorresse apenas na<br />
calçada.<br />
É uma ditadura da direção da<br />
empresa, em particular da diretoria<br />
regional de São Paulo Metropolitana,<br />
que não querem deixar<br />
que os trabalha<strong>do</strong>res possam ser<br />
informa<strong>do</strong>s sobre os problemas<br />
da categoria. Isso porque a direção<br />
da empresa tem me<strong>do</strong> que a<br />
categoria se organize em torno da<br />
oposição e da corrente Ecetistas<br />
em Luta, que é a organização que<br />
está enfrentan<strong>do</strong> os ataques da<br />
empresa e <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e a luta<br />
<strong>contra</strong> a privatização da empresa.<br />
Os trabalha<strong>do</strong>res têm direito<br />
a se organizar nos locais de trabalho<br />
e a serem informa<strong>do</strong>s pelas<br />
diferentes correntes políticas<br />
que fazem parte <strong>do</strong> movimento<br />
sindical. Já não basta o assédio<br />
<strong>do</strong>s chefes e o excesso de trabalho<br />
nos setores, a direção da<br />
empresa quer censurar o direito<br />
da categoria de se organizar.<br />
Convocamos os trabalha<strong>do</strong>res<br />
a denunciar qualquer tipo de<br />
censura dentro da empresa. Os<br />
patrões e os sindicalistas trai<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B S.A. sabem que<br />
estão perden<strong>do</strong> a luta e que os<br />
trabalha<strong>do</strong>res vão se levantar<br />
para derrotar a privatização e derrubar<br />
os pelegos <strong>do</strong> Sintect-SP.<br />
REUNIÃO DA FRENTE DOS 17<br />
Sindicatos deliberam rejeitar Encontro<br />
de Mulheres antidemocrático da<br />
burocracia sindical<br />
Na última reunião da Frente de<br />
Sindicatos <strong>contra</strong> o acor<strong>do</strong> Bianual<br />
e a privatização <strong>do</strong>s Correios, os<br />
companheiros presentes, representan<strong>do</strong><br />
os sindicatos e as forças<br />
políticas da frente deliberaram por<br />
uma resolução de protesto <strong>contra</strong><br />
os moldes <strong>do</strong> Encontro de Mulheres<br />
da Fentect.<br />
Os companheiros da Corrente<br />
Ecetistas em Luta, <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da<br />
Causa Operária, apresentaram<br />
uma declaração da companheira<br />
Anaí Caproni, Secretária de Mulheres<br />
da Fentect, protestan<strong>do</strong><br />
<strong>contra</strong> os méto<strong>do</strong>s e critérios a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />
pela maioria da Comissão de<br />
Mulheres da Fentect para a realização<br />
<strong>do</strong> encontro.<br />
As representantes da Articulação,<br />
ASS e MSB <strong>do</strong> PT decidiram<br />
realizar um encontro de mulheres<br />
Desconsideraram as principais discussões que existem na<br />
categoria e que dizem respeito a to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res,<br />
especialmente às mulheres.<br />
seguin<strong>do</strong> os moldes <strong>do</strong>s congressos<br />
feitos pela burocracia sindical,<br />
sem discussão política, em que<br />
pretensamente opiniões técnicas<br />
exporiam os problemas da mulher<br />
ecetista. Na realidade, esses supostos<br />
“técnicos” são apenas cobertura<br />
para a defesa de posições reacionárias<br />
dentro da categoria.<br />
Isso ficou bem claro na última<br />
35ª Plenária Nacional da Fentect,<br />
em que o PC<strong>do</strong>B e a Articulação,<br />
pagaram R$ 26 mil para um “técnico”<br />
ir defender o projeto de<br />
Correios S.A. Na discussão sobre<br />
a composição da mesa que tratará<br />
<strong>do</strong> tema de aborto, por exemplo,<br />
a política reacionária desses grupos<br />
ficou explícita: defenderam a<br />
presença de um elemento da extrema-direita<br />
para defender <strong>contra</strong> o<br />
direito das mulheres ao aborto.<br />
Isso significa dizer que, em um<br />
problema central da luta das trabalha<strong>do</strong>ras,<br />
a burocracia vai dar espaço<br />
para um representante da<br />
repressão <strong>contra</strong> as mulheres.<br />
Além disso, de maneira completamente<br />
antidemocrática, as<br />
representantes da burocracia sindical<br />
se opuseram que o Encontro<br />
de Mulheres discutisse a questão<br />
<strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> Bianual e <strong>do</strong> PCCS<br />
2008 da escravidão.<br />
Desconsideraram as principais<br />
discussões que existem na categoria<br />
e que dizem respeito a to<strong>do</strong>s os<br />
trabalha<strong>do</strong>res, especialmente às<br />
mulheres. Fizeram isso pois sabem<br />
que toda a base rejeita tanto<br />
o PCCS como o acor<strong>do</strong> bianual.<br />
A reunião da Frente de Sindicatos<br />
<strong>contra</strong> o Acor<strong>do</strong> Bianual<br />
debateu o tema e deliberou por<br />
protestar <strong>contra</strong> esses méto<strong>do</strong>s<br />
antidemocráticos da burocracia<br />
sindical e exigir em todas as Assembléias<br />
e no próprio encontro<br />
que esses méto<strong>do</strong>s sejam revistos.<br />
Em defesa das posições políticas<br />
e <strong>do</strong> livre debate de idéias<br />
entre as mulheres ecetistas.<br />
A companheira Loreti, <strong>do</strong> Rio<br />
Grande <strong>do</strong> Sul presente na reunião,<br />
delegada sindical, afirmou<br />
que esse tipo de política é comum<br />
nos encontros anteriores. Disse<br />
ainda que no encontro <strong>do</strong> ano<br />
passa<strong>do</strong>, no qual esteve presente,<br />
ela e outras companheiras da<br />
base protestaram por não haver<br />
espaço de discussão para que as<br />
mulheres participem.<br />
Devemos romper com to<strong>do</strong>s<br />
esses méto<strong>do</strong>s burocráticos. O<br />
Encontro de mulheres deve ser<br />
um modelo, em que as discussões<br />
sejam abertas e as posições<br />
políticas que existem dentro da<br />
categoria possam ser expressas<br />
e debatidas pelas trabalha<strong>do</strong>ras.<br />
O Encontro da Frente <strong>do</strong>s 17<br />
Sindicatos aprovou a seguinte<br />
resolução sobre o tema:<br />
“Como <strong>já</strong> foi abertamente discuti<strong>do</strong><br />
pelas correntes políticas<br />
aqui representadas durante as<br />
reuniões da Comissão de Mulheres,<br />
o bloco <strong>do</strong>s 17 sindicatos<br />
que fazem oposição à direção majoritária<br />
da Fentect, protesta<br />
<strong>contra</strong> a tentativa das representantes<br />
<strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B e Articulação,<br />
de realizar um Encontro de<br />
Mulheres sem discussão política.<br />
Esses méto<strong>do</strong>s servem para<br />
esconder o debate que existe na<br />
categoria, abrin<strong>do</strong> espaço para<br />
supostos “técnicos”, que normalmente<br />
representam as posições<br />
políticas mais reacionárias.<br />
Serve também para excluir das<br />
trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s Correios o<br />
direito de debater os problemas<br />
dentro <strong>do</strong>s locais de trabalho.<br />
Ten<strong>do</strong> em vista que nos encontros<br />
anteriores o mesmo<br />
méto<strong>do</strong> e os critérios foram<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s, não deixan<strong>do</strong> espaço<br />
para que as mulheres pudessem<br />
expor seus problemas e as diversas<br />
opiniões políticas existentes<br />
dentro da categoria. O bloco <strong>do</strong>s<br />
17 sindicatos protesta e propõe<br />
a revisão desses critérios, no<br />
senti<strong>do</strong> de que as mulheres ecetistas<br />
possam realmente debater<br />
suas posições.”<br />
“Belo Horizonte, 22 de maio de<br />
2010”<br />
SUCATEAMENTO NA ECT<br />
CDD´s em Campinas<br />
estão um lixo, por falta de<br />
funcionários da limpeza<br />
O sucateamento <strong>do</strong>s Correios<br />
está sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> às últimas<br />
conseqüências pela direção da<br />
ECT, na cidade de Campinas e<br />
região, interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São<br />
Paulo, os carteiros estão ten<strong>do</strong><br />
que trabalhar em locais sujos e fe<strong>do</strong>rentos,<br />
porque a direção da<br />
ECT não quer <strong>contra</strong>tar trabalha<strong>do</strong>res<br />
para fazer a limpeza nas unidades.<br />
O esquema anterior da direção<br />
da ECT de <strong>contra</strong>tar empresas<br />
terceirizadas para fazer a<br />
limpeza das unidades <strong>do</strong>s correios<br />
faliu, pois estas empresas<br />
eram <strong>contra</strong>tadas em esquemas<br />
fraudulentos, que beneficiavam<br />
financeiramente diretores da<br />
ECT, como aconteceu no caso<br />
<strong>do</strong> mensalão e <strong>do</strong> caso Deja jú,<br />
conforme foi comprova<strong>do</strong> pelas<br />
denúncias que se tornaram<br />
públicas pelos jornais e televisão.<br />
No caso da limpeza, as empresas<br />
recebiam o dinheiro <strong>do</strong>s<br />
correios para fazer o serviço e<br />
depois de alguns meses apresentavam<br />
a falência, davam o calote<br />
nos trabalha<strong>do</strong>res e jogavam<br />
para as costas da ECT o pagamento<br />
das indenizações <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Por Campinas passaram várias<br />
empresas terceirizadas para<br />
fazer este serviço e todas foram<br />
embora com este esquema de<br />
falência.<br />
A última empresa terceirizada<br />
que fazia a limpeza nos CDD´s de<br />
Campinas deixou para trás um<br />
calote em mais de 100 trabalha<strong>do</strong>res<br />
da área da limpeza, que além<br />
de terem perdi<strong>do</strong> o emprego, não<br />
receberam pelos serviços presta<strong>do</strong>s<br />
na ECT. A direção da ECT<br />
tem a obrigação de ser responsável<br />
por estes trabalha<strong>do</strong>res, e<br />
ainda resolver a situação <strong>do</strong> caos<br />
que se transformaram os CDD´s<br />
com a ausência de limpeza nestas<br />
unidades.<br />
Já são mais de 40 dias que os<br />
CDD´s não têm serviço de limpeza,<br />
acumulan<strong>do</strong> lixo nos<br />
chãos, nos banheiros, sem contar<br />
o mau cheiro e pó que ficam<br />
nas paredes e móveis, crian<strong>do</strong> um<br />
local propício ao contágio de<br />
<strong>do</strong>enças adquiridas pelo ar.<br />
Por ser responsável pelo caos<br />
que causou nas unidades <strong>do</strong>s<br />
correios, exigimos que a direção<br />
<strong>do</strong>s correios <strong>contra</strong>te imediatamente<br />
to<strong>do</strong>s os funcionários da<br />
área da limpeza que trabalhavam<br />
na última presta<strong>do</strong>ra de serviço<br />
nesta área. Incorporan<strong>do</strong>-os aos<br />
quadros de funcionários da ECT.<br />
Que seja desfeito to<strong>do</strong>s os<br />
<strong>contra</strong>tos com empresas terceirizadas<br />
na área de limpeza e que<br />
os trabalha<strong>do</strong>res desta área sejam<br />
<strong>contra</strong>ta<strong>do</strong>s diretamente pela<br />
ECT, incorporan<strong>do</strong> os que <strong>já</strong><br />
estão trabalhan<strong>do</strong> e <strong>contra</strong>tan<strong>do</strong><br />
novos funcionários através de<br />
concurso público.<br />
- Pela <strong>contra</strong>tação imediata de<br />
trabalha<strong>do</strong>res para fazer a limpeza<br />
nos CDD´s de Campinas e região,<br />
- Contra a terceirização dentro<br />
da ECT em todas as atividades.<br />
- Destituição da Diretoria<br />
corrupta da ECT, controle da<br />
ECT pelos próprios trabalha<strong>do</strong>res,<br />
através de eleições direitas<br />
para to<strong>do</strong>s os cargos de direção,<br />
de Presidente a Supervisor.<br />
- Abaixo à sabotagem da direção<br />
da ECT <strong>contra</strong> a empresa.<br />
Não à privatização da ECT.<br />
Correios públicos e de qualidade,<br />
sob o controle <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res!
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ATIVIDADES A12<br />
“O MAR DE MÁRIO”<br />
CCBP recebe pré-estréia de<br />
<strong>do</strong>cumentário sobre Mário Peixoto<br />
No último dia 22, o Centro Cultural Benjamin Perét teve<br />
a honra de exibir pela primeira vez o <strong>do</strong>cumentário “O<br />
Mar de Mário” como parte das atividades especiais sobre<br />
Cinema Brasileiro<br />
Entre as atividades especiais<br />
<strong>do</strong> mês de maio <strong>do</strong> Centro Cultural<br />
Benjamin Peret (CCBP)<br />
destacam as palestras realizadas<br />
no dia 22. Neste dia, o palestrante<br />
Adilson Mendes, pesquisa<strong>do</strong>r<br />
da Cinemateca Brasileira apresentou<br />
o tema <strong>do</strong> “Cinema<br />
Novo”.<br />
Adilson analisou inicialmente<br />
as condições políticas e econômicas<br />
em que surgiu o movimento<br />
mais conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> cinema<br />
brasileiro. Apresentou também<br />
as principais características<br />
deste movimento que foi<br />
uma ruptura com o cinema produzi<strong>do</strong><br />
pela indústria até então.<br />
Nasci<strong>do</strong> nos últimos anos da<br />
década de 1950, em meio à reabertura<br />
da crise revolucionária<br />
brasileira, os realiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
Cinema Novo iriam buscar resgatar<br />
a tradição iniciada pela<br />
segunda geração modernista,<br />
de retrato e crítica da sociedade<br />
brasileira de sua época. O contato<br />
com outros movimentos<br />
que estavam acontecen<strong>do</strong> na<br />
Europa, como a “Nouvelle Vague”<br />
francesa ou o “Neorealismo<br />
Italiano” também foram referência<br />
para diretores como<br />
Glauber Rocha, Roberto Santos,<br />
Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos<br />
etc. A importância da criação da<br />
Cinemateca Brasileira pelo crítico<br />
Paulo Emílio Sales Gomes<br />
e toda discussão a respeito da<br />
produção cinematográfica que<br />
existia também foi um estímulo<br />
para os diretores <strong>do</strong> cinema<br />
novo.<br />
Entre as inovações deste cinema<br />
estavam o retrato inova<strong>do</strong>r<br />
de temas como o sertão<br />
brasileiro, o desenvolvimento<br />
industrial e problemas sociais.<br />
Em decorrência <strong>do</strong>s poucos<br />
O pesquisa<strong>do</strong>r da Cinemateca, Adilson Mendes, fala sobre<br />
“Cinema Novo”.<br />
recursos que dispunham, as<br />
produções que eram extremamente<br />
baratas transformaram<br />
esta dificuldade em criatividade.<br />
Os filmes eram fetos em cenários<br />
reais, com iluminação natural,<br />
interpretações mais naturalistas<br />
<strong>do</strong>s atores etc.<br />
Ao final da palestra, Adilson<br />
Mendes, exibiu o importante<br />
curta-metragem “Pedreira de<br />
São Diogo”, de Leon Hirszman,<br />
realiza<strong>do</strong> em 1962, durante seus<br />
anos no Centro Popular de<br />
Cultura da UNE (União Nacional<br />
<strong>do</strong>s Estudantes).<br />
O mar de Mário<br />
Peixoto<br />
O cineasta Reginal<strong>do</strong> Gontijo, o professor Ismail Xavier e o poeta Francisco K em bate-papo<br />
sobre o <strong>do</strong>cumentário “O Már de Mário”.<br />
Na parte da tarde aconteceu<br />
o encontro entre três especialistas<br />
e admira<strong>do</strong>res da obra “Limite”<br />
de Mário Peixoto. O cineasta<br />
Regina<strong>do</strong> Gontijo, realiza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário inédito “O<br />
Mar de Mário; sobre Mário<br />
Peixoto, o poeta Francisco K,<br />
autor de uma tese sobre o filme<br />
“Limite” e o maior especialista<br />
<strong>do</strong> cinema brasileiro Ismail<br />
Xavier, uma das maiores autoridades<br />
<strong>do</strong> assunto na atualidade,<br />
professor da ECA-USP e<br />
autor de mais de 15 livros sobre<br />
cinema.<br />
A atividade teve início com<br />
uma apresentação inicial <strong>do</strong> professor<br />
Ismail Xavier que tratou<br />
da “Modernidade <strong>do</strong> Cinema<br />
Brasileiro”. Ismail Xavier relacionou<br />
o cinema convencional,<br />
que não foge da rotina com a<br />
produção independente, “alternativa”<br />
ou até mesmo chama<strong>do</strong><br />
de cinema de vanguarda.<br />
Este cinema diferente que nos<br />
faz pensar foi coloca<strong>do</strong> em oposição<br />
à indústria cinematográfica<br />
estabelecida.<br />
Após esta apresentação foi<br />
realizada a pré-estréia <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário<br />
“O Mar de Mário”.<br />
Cria<strong>do</strong> a partir de seis horas de<br />
gravações com depoimentos e<br />
conversas com Mário Peixoto<br />
entre os anos de 1986 a 1988. O<br />
filme é uma obra de grande valor<br />
poético revelan<strong>do</strong> uma personalidade<br />
<strong>do</strong> famoso diretor pouco<br />
conhecida. Mário Peixoto aparece<br />
no filme de maneira despojada,<br />
é filma<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> não convencional.<br />
Desta forma o cineasta<br />
Gontijo conseguiu revelar<br />
um pouco da personalidade e das<br />
idéias <strong>do</strong> grande cineasta.<br />
Entre as diversas imagens<br />
registradas, destaca-se a expressiva<br />
seqüência onde Mário Peixoto<br />
lê a famosa carta que durante<br />
anos foi atribuída ao cineasta<br />
soviético Serguei Eisenstein,<br />
sobre o filme “Limite”. Posteriormente,<br />
revelou-se que o texto<br />
na verdade fora escrito pelo próprio<br />
Mário Peixoto, o que acrescenta<br />
novos da<strong>do</strong>s sobre a personalidade<br />
<strong>do</strong> brasileiro, bem<br />
como sua apreciação sobre a<br />
Cena <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário inédito “O Mar de Mário”, de<br />
Reginal<strong>do</strong> Gontijo, exibi<strong>do</strong> no CCBP.<br />
própria obra. Escondi<strong>do</strong> sob o<br />
pseudônimo de Eisenstein, Peixoto<br />
terá escrito o que foi certamente<br />
sua mais sincera opinião<br />
sobre este hermético longa-metragem<br />
experimental concebi<strong>do</strong><br />
por ele em 1931.<br />
Após a exibição foi inicia<strong>do</strong> o<br />
bate-papo entre os convida<strong>do</strong>s e<br />
a platéia presente. Entre as considerações<br />
a respeito <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário<br />
o “O Mar de Mário”, foi<br />
destaca<strong>do</strong> sua habilidade em não<br />
seguir a regra básica <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentários,<br />
mas sim revelar um<br />
Mário Peixoto novo, mais humano<br />
e ainda bastante lúci<strong>do</strong><br />
com quase 80 anos de idade. O<br />
<strong>do</strong>cumentário também dialogou<br />
com o filme “Limite” chegan<strong>do</strong><br />
a reproduzir algumas<br />
cenas que foram perdidas durante<br />
a restauração <strong>do</strong> filme na<br />
década de 1970. Alguns truques<br />
e efeitos estéticos como<br />
imagem em negativo também<br />
aparecem para destacar a intenção<br />
experimental <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário.<br />
A exibição de “O Mar de<br />
Mário” no CCBP foi um <strong>do</strong>s<br />
primeiros acontecimentos<br />
mais importantes <strong>desde</strong> sua<br />
inauguração em outubro de<br />
2009. O filme foi exibi<strong>do</strong> a partir<br />
de uma cópia em DVD <strong>do</strong> original<br />
grava<strong>do</strong> em vídeo, mas está<br />
sen<strong>do</strong> transforma<strong>do</strong> em película<br />
para ser exibi<strong>do</strong> nos cinemas<br />
<strong>do</strong> País.<br />
CINEMA BRASILEIRO<br />
A experiência cinematográfica de “Limite”<br />
Na sexta-feira, dia 21, o Centro<br />
Cultural Benjamin Péret<br />
(CCBP) iniciou atividades especiais<br />
<strong>do</strong> mês de maio sobre o Cinema<br />
Brasileiro.<br />
A primeira delas foi uma palestra-debate<br />
sobre o filme “Limite”,<br />
único filme concluí<strong>do</strong> <strong>do</strong> diretor.<br />
Inicialmente foi feita a exibição <strong>do</strong><br />
filme, obra-prima de Mário Peixoto,<br />
realiza<strong>do</strong> em 1930 e exibi<strong>do</strong><br />
pela primeira fez em 1931. O<br />
filme foi um marco na história <strong>do</strong><br />
cinema brasileiro. Suas inovações<br />
técnicas se revelaram uma novidade<br />
em meio à produção cine-<br />
matográfica brasileira da época.<br />
Foi amplamente estuda<strong>do</strong> e<br />
classifica<strong>do</strong> como uma expressão<br />
das mais avançadas vanguardas<br />
européias. “Limite”, um filme<br />
mu<strong>do</strong> de quase duas horas de<br />
duração demonstrou por meio da<br />
utilização <strong>do</strong>s recursos cinematográficos,<br />
imagens que são lembradas<br />
até hoje.<br />
Após o filme foi realizada uma<br />
palestra com João André Dorta e<br />
Filipe Florence Rios, membros <strong>do</strong><br />
GARI (Grupos por uma Arte<br />
Revolucionária Independente)<br />
grupo liga<strong>do</strong> ao <strong>PCO</strong> (Parti<strong>do</strong> da<br />
Causa Operária).<br />
Na palestra, foi discuti<strong>do</strong><br />
como Mário Peixoto realizou<br />
“Limite”, destacan<strong>do</strong> suas diversas<br />
inovações, além de alguns<br />
momentos importantes de sua<br />
biografia. Entre eles, a importância<br />
de seu contato com outros<br />
intelectuais brasileiros <strong>do</strong> meio<br />
cinematográfico, como os diretores<br />
Humberto Mauro, Adhemar<br />
Gonzaga e a atriz Carmem Santos.<br />
Curiosidades da produção <strong>do</strong><br />
filme também foram menciona<strong>do</strong>s.<br />
A utilização de não-atores<br />
para os personagens, como é o<br />
caso de Olga Breno, uma vende<strong>do</strong>ra<br />
de bombons. Outros detalhes<br />
da produção incluíam o fato<br />
das câmeras utilizadas nas filmagens<br />
terem si<strong>do</strong> emprestadas e<br />
to<strong>do</strong> o custo <strong>do</strong> filme banca<strong>do</strong><br />
pelo próprio diretor. Da<strong>do</strong> importante<br />
é que as inovações artísticas<br />
apresentadas em "Limite", por<br />
meio de diversos ângulos de câmeras<br />
e pela montagem arrojada,<br />
foram influenciadas pelo cinema<br />
de vanguarda europeu e soviético.<br />
Uma das peças fundamentais<br />
para a criação desta obra-prima foi<br />
o diretor de fotografia, Edgar Brazil,<br />
profissional da área de cinema<br />
que foi capaz de colocar em prática<br />
todas as idéias de Peixoto a<br />
respeito da concepção das cenas.<br />
Edgar Brazil montou diversas<br />
“engenhocas” para suprir as deficiências<br />
financeiras. Como não<br />
era possível importar os equipamentos<br />
necessários, o fotógrafo<br />
construiu um eleva<strong>do</strong>r para câmera<br />
para realizar filmagens <strong>do</strong><br />
alto, além disso, foi cria<strong>do</strong> um<br />
carrinho para as filmagens em<br />
movimento, no qual o carro era<br />
transporta<strong>do</strong> por quatro homens.<br />
Foi ainda a primeira vez que se<br />
utilizou filme pancromático em<br />
uma produção nacional, película<br />
importada e extremamente sensível,<br />
capaz de reproduzir tons de<br />
cinzas com muito mais nuances<br />
e contornos.<br />
“Limite” é um filme extremamente<br />
experimental que possui<br />
qualidades técnicas na manipulação<br />
da câmera, <strong>do</strong>s enquadramentos<br />
e ritmos <strong>do</strong> filme que facilmente<br />
podem ser compara<strong>do</strong>s com<br />
grandes filmes de diretores como<br />
Dziga Vertov, Serguei Eisenstein<br />
ou F.W. Murnau. O filme surpreendeu<br />
também pela força poética<br />
das imagens que contam uma história<br />
aparentemente simples, mas<br />
utilizan<strong>do</strong> os diversos recursos<br />
próprios <strong>do</strong> cinema, uma grande<br />
novidade em sua época.<br />
“Limite” teve poucas exibições<br />
no Brasil e não teve distribuição<br />
comercial. Ficou perdi<strong>do</strong> por mais<br />
de 50 anos até que foi restaura<strong>do</strong> por<br />
amigos de Mário Peixoto e voltou<br />
a ser exibi<strong>do</strong> somente em 1978.<br />
VERA CRUZ<br />
O cinema brasileiro<br />
esmaga<strong>do</strong> pelo imperialismo<br />
A última palestra <strong>do</strong> especial<br />
sobre o Cinema Brasileiro no<br />
Centro Cultural Benjamin Perét<br />
foi com o tema “Vera Cruz”,<br />
sobre os estúdios cinematográficos<br />
brasileiros cria<strong>do</strong>s no final<br />
da década de 1940.<br />
A palestra foi apresentada<br />
pelos membros <strong>do</strong> GARI, João<br />
André Dorta e Filipe Florence<br />
Rios, a exposição se concentrou<br />
nas características da Companhia<br />
Vera Cruz como indústria,<br />
sua evolução no senti<strong>do</strong> de<br />
produzir um cinema em escala<br />
industrial e as dificuldades en<strong>contra</strong>das<br />
por ela em sua implantação<br />
no merca<strong>do</strong> nacional.<br />
Inicialmente foi feito um<br />
panorama da situação política e<br />
econômica no Brasil nos anos<br />
que precederam a criação da<br />
Vera Cruz. Foi fala<strong>do</strong> das outras<br />
empreitadas cinematográficas<br />
brasileiras como os estúdios da<br />
Cinédia e da Atlântida.<br />
A Vera Cruz foi um <strong>do</strong>s projetos<br />
mais ambiciosos <strong>do</strong> cinema<br />
brasileiro. Foi banca<strong>do</strong> por<br />
um grupo de industriais paulistas,<br />
como Francisco Matarazzo,<br />
o principal financia<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
projeto. Estes industriais estavam<br />
interessa<strong>do</strong>s em realizar um<br />
cinema universal que por meio<br />
de sua distribuição nacional e<br />
internacional proporcionasse a<br />
ascensão desta burguesia no<br />
merca<strong>do</strong> mundial.<br />
O projeto grandioso da Vera<br />
Cruz também foi ressalta<strong>do</strong>.<br />
Foram trazi<strong>do</strong>s técnicos e especialistas<br />
em cinema de mais<br />
de 27 nacionalidades para colocar<br />
em prática os projetos.<br />
Nomes como Alberto Cavalcanti,<br />
o primeiro produtor <strong>do</strong>s<br />
estúdios, organizou toda a equipe<br />
que foi trazida de fora para<br />
montar a estrutura da Vera<br />
Cruz.<br />
A idéia inicial <strong>do</strong> projeto era<br />
produzir 12 filmes por ano com<br />
a meta de chegar a 20 filmes<br />
anualmente. Com isso pretendiam<br />
competir com o cinema<br />
internacionalmente. Mas as dificuldades<br />
foram maiores que<br />
os êxitos, com diversos problemas<br />
decorrentes da submissão<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro ao merca<strong>do</strong><br />
estrangeiro.<br />
A Vera Cruz durou apenas<br />
cinco anos, produziu cerca de<br />
20 filmes, entre eles sucessos<br />
internacionais como “Tico-tico<br />
no Fubá” (1952) e “O Cangaceiro”<br />
(1953), mas os constantes<br />
problemas de produção, distribuição<br />
e falta de dinheiro foram<br />
mais determinantes. O<br />
projeto da Vera Cruz foi finalmente<br />
vítima <strong>do</strong> gigantesco<br />
monopólio de Hollywood sobre<br />
o merca<strong>do</strong> cinematográfico<br />
brasileiro. Diversas empresas<br />
norte-americanas como a<br />
Columbia e Universal <strong>do</strong>minavam<br />
diversos setores no País e<br />
sufocaram o desenvolvimento<br />
da Vera Cruz.<br />
Finalmente a Vera Cruz faliu<br />
e seu projeto aborta<strong>do</strong> pela<br />
<strong>do</strong>minação imperialista no Brasil,<br />
assim como aconteceu com<br />
diversos outros empreendimentos<br />
brasileiros.<br />
O cineasta Mário Peixoto,<br />
diretor de um filme só, conseguiu<br />
com “Limite” fazer um cinema<br />
extremamente moderno, cinematográfico<br />
que entrou para a<br />
história <strong>do</strong> cinema brasileiro.<br />
O cineasta Mário Breves Peixoto,<br />
ou Mário Peixoto como é<br />
mais conheci<strong>do</strong>, é um <strong>do</strong>s nomes<br />
<strong>do</strong> cinema brasileiro que se<br />
transformou em um mito. Fez<br />
apenas um filme, “Limite”, em<br />
1931, e entrou para história <strong>do</strong><br />
cinema nacional e mundial.<br />
CINEMA DE VANGUARDA<br />
Quem foi Mário Peixoto?<br />
Mário Peixoto.<br />
Ele nasceu em 25 de março de<br />
1908, provavelmente na Bélgica. É<br />
originário de uma família burguesa.<br />
Tinha como avô materno o<br />
comenda<strong>do</strong>r Joaquim José de<br />
Souza Breves, um<br />
<strong>do</strong>s maiores planta<strong>do</strong>res<br />
de café da<br />
época <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong><br />
Império e também o<br />
maior traficante de<br />
escravos. Seu pai<br />
era de uma família de<br />
usineiros de açúcar.<br />
Aos 18 ano foi<br />
estudar na Inglaterra,<br />
próximo de Eastbourne,<br />
no Sussex<br />
entre os anos de<br />
1926 e 1927.<br />
Quan<strong>do</strong> voltou<br />
ao Brasil conheceu<br />
diversas pessoas<br />
que o fizeram ter um<br />
contato maior com<br />
o cinema. Entre eles, Brutus Pedreira,<br />
os irmãos Silvio e Raul Schnoor,<br />
o cineasta Adhemar Gozaga<br />
e Pedro Lima.<br />
Fun<strong>do</strong>u Chaplin Club em 1928,<br />
o primeiro cineclube brasileiro.<br />
Destas discussões surgiu a publicação<br />
O FAN entre 1928 e 1930.<br />
Mário Peixoto voltou para a<br />
Europa em 1929 e nesta ocasião<br />
um acontecimento foi determinante<br />
para a vida <strong>do</strong> futuro cineasta.<br />
Em um passeio nas ruas de<br />
Paris, Peixoto viu uma foto na revista<br />
VU. Nela uma mulher é<br />
envolta por braços masculinos<br />
que estão algema<strong>do</strong>s. A foto fez<br />
com que o diretor escrevesse na<br />
mesma noite um texto que depois<br />
se tornaria o roteiro de “Limite”.<br />
Ao voltar para o Brasil, apresentou<br />
o texto para os amigos <strong>do</strong><br />
Chaplin Club que tiveram a idéia<br />
de fazer o filme.<br />
“Limite” foi filma<strong>do</strong> em 1930<br />
e estreou um ano depois, no Rio<br />
de Janeiro. A repercussão <strong>do</strong> filme<br />
nacional e internacionalmente<br />
elevou o nome de Peixoto ao primeiro<br />
time <strong>do</strong> cinema. O cienasta<br />
tinha apenas 21 anos e seu filme<br />
foi amplamente comenta<strong>do</strong>.<br />
Após “Limite”, Peixoto envolveu-se<br />
na produção de outros filmes,<br />
mas não concluiu mais nenhum<br />
outro. Dentre eles destaca-se<br />
também “Onde a Terra<br />
Acaba”.<br />
Publicou livros de poesia, um<br />
romance e textos de crítica cinematográfica.<br />
Morreu em 1992,<br />
aos 84 anos, pobre e praticamente<br />
desconheci<strong>do</strong>.
CAUSA OPERÁRIA<br />
MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />
Contra a segunda fraude <strong>do</strong> Psol no DCE<br />
¡¥¤¦¨¤¥¦ §£¡¨©¥¡ ¡¢£¡¤¥¦¡<br />
Foi convoca<strong>do</strong> para os dias de 27 a 30 de maio o X Congresso <strong>do</strong>s Estudantes da USP. É preciso chamar a atenção <strong>do</strong>s estudantes para o<br />
verdadeiro golpe que prepara o Psol e a burocracia estudantil <strong>contra</strong> o movimento de conjunto.<br />
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2010<br />
Funcionários da USP<br />
em greve paralisam<br />
reitoria<br />
Página A14<br />
No lugar da assembléia geral democrática, massiva, onde qualquer estudante pode participar, a burocracia estudantil<br />
quer colocar o Conselho de Centros Acadêmicos (CCA), verdadeiro parlamento estudantil<br />
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3*
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA MOVIMENTO ESTUDANTIL A14<br />
USP SÃO CARLOS<br />
Estudantes ocupam coordena<strong>do</strong>ria <strong>contra</strong><br />
a interferência no processo de seleção<br />
Amplian<strong>do</strong> a luta iniciada em São Paulo, os estudantes<br />
da USP de São Carlos também ocupam coordena<strong>do</strong>ria<br />
Os estudantes devem exigir o fim da Coseas em to<strong>do</strong>s os<br />
campi da USP com o apoio e a ampliação da ocupação.<br />
Nesta segunda-feira, os estudantes<br />
da Universidade de<br />
São Paulo <strong>do</strong> campus de São<br />
Carlos ocuparam a sede da<br />
Coseas <strong>contra</strong> a intervenção<br />
no processo de seleção de<br />
mora<strong>do</strong>res.<br />
Os estudantes reivindicam<br />
que o processo de seleção realiza<strong>do</strong><br />
pelos estudantes seja<br />
reconheci<strong>do</strong> pela universidade.<br />
Após 40 anos em que a moradia<br />
de São Carlos existe e é<br />
administrada pelos mora<strong>do</strong>res,<br />
agora a Coseas quer interferir<br />
na seleção.<br />
Em São Paulo, os estudantes<br />
ocupam há mais de <strong>do</strong>is<br />
meses a Coseas <strong>contra</strong> a política<br />
de vigilância <strong>do</strong> órgão e<br />
da irregularidade <strong>do</strong> processo<br />
ABAIXO A DITADURA<br />
de seleção <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res e a<br />
interferência na vida <strong>do</strong>s estudantes.<br />
Agora querem impor o<br />
mesmo sistema, rejeita<strong>do</strong> em<br />
São Paulo, para os estudantes<br />
em São Carlos.<br />
Independência<br />
<strong>do</strong>s estudantes<br />
para administrar<br />
a moradia<br />
Desde o início da gestão de<br />
Rodas, o reitor-interventor de<br />
Serra-Goldman, os estudantes<br />
da moradia <strong>do</strong> campus de<br />
São Carlos estão sen<strong>do</strong> ameaça<strong>do</strong>s<br />
de perder a autonomia<br />
para gerir o local onde moram.<br />
Em fevereiro, a reunião da<br />
burocracia universitária, chama<strong>do</strong><br />
Conselho diretor foi<br />
aprova<strong>do</strong> que os estudantes<br />
não participariam <strong>do</strong> processo<br />
seletivo <strong>do</strong>s ingressantes<br />
na moradia.<br />
Foi aprovada ainda a formulação<br />
de um regulamento<br />
com “regras de vivência” e<br />
também os estudantes não<br />
fariam parte.<br />
Segun<strong>do</strong> relato <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res,<br />
recentemente foi implantação<br />
das coordena<strong>do</strong>rias<br />
de campi (Coseas) e as reuniões<br />
trancadas e com seguranças<br />
na porta.<br />
A moradia estudantil de São<br />
Carlos, <strong>desde</strong> que surgiu há<br />
42 anos, é administrada pelos<br />
mora<strong>do</strong>res.<br />
Os mora<strong>do</strong>res que organizavam<br />
os critérios e o processo<br />
de seleção e também para<br />
o auxílio-moradia (auxílio-financeiro).<br />
Havia uma comissão de seleção<br />
é formada por cinco<br />
mora<strong>do</strong>res, eleitos em assembléia<br />
geral, quatro professores<br />
(um de cada unidade) e a<br />
assistente social.<br />
Isso não é a primeira vez<br />
que acontece. A administração<br />
<strong>do</strong> Campus, através da<br />
sua Coordena<strong>do</strong>ria, ameaça a<br />
independência <strong>do</strong>s estudantes.<br />
Querem excluir os estudantes<br />
<strong>do</strong> processo e aplicar<br />
os critérios de seleção a<strong>do</strong>ta-<br />
Rodas é fraco: ampliar a mobilização<br />
para derrubar o interventor<br />
Nenhuma concessão ao<br />
reitor-interventor na USP.<br />
Greve geral para acabar com<br />
a itadura da burocracia universitária,<br />
Rodas e Serra-<br />
Goldman.<br />
O movimento <strong>do</strong>s estudantes<br />
e funcionários da USP<br />
deve ultrapassar a barreira<br />
formada pelas direções das<br />
entidades para se enfrentar e<br />
derrubar o reitor-interventor.<br />
Rodas é repudia<strong>do</strong> até mesmo<br />
por um setor da burocracia<br />
universitária. As eleições<br />
realizadas em um pequeno<br />
setor da burocracia haviam<br />
da<strong>do</strong> a Rodas o segun<strong>do</strong> lugar.<br />
Os estudantes da faculda-<br />
LUTA ESTUDANTIL<br />
de de Direito, da qual Rodas<br />
era diretor, reivindicam o<br />
“fora Rodas”.<br />
No dia da posse de Rodas,<br />
de forma desproporcional,<br />
este colocou a polícia para<br />
reprimir duramente menos de<br />
cem estudantes que protestavam<br />
em frente à Sala São Paulo,<br />
local em que foi realizada<br />
a cerimônia. Três estudantes<br />
foram presos no protesto.<br />
Este <strong>já</strong> era o primeiro indício<br />
de que o chama<strong>do</strong> “diálogo”<br />
em 2009 era apenas uma<br />
tentativa de acalmar a oposição<br />
ao interventor.<br />
Na primeira manifestação<br />
na gestão de Rodas, a ocupação<br />
da Coseas, o reitor-interventor<br />
tentou incitar a direita<br />
<strong>contra</strong> os estudantes.<br />
Após os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
CRUSP descobrirem diversos<br />
<strong>do</strong>cumentos que comprovam<br />
a vigilância e a perseguição<br />
<strong>contra</strong> os estudantes, Rodas<br />
afirmou que seriam privilegia<strong>do</strong>s<br />
por reivindicarem o fim<br />
da perseguição e aumento de<br />
vagas.<br />
No primeiro dia da greve<br />
<strong>do</strong>s funcionários, Rodas aprovou<br />
multa <strong>contra</strong> o sindicato<br />
e o impedimento <strong>do</strong>s piquetes,<br />
que são uma atividade legítima<br />
da greve.<br />
Rodas tenta sufocar o movimento<br />
de oposição para<br />
manter a intervenção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
capitalista na universidade.<br />
Para isso, conta com as direções<br />
pelegas nas entidades.<br />
Seus recursos estão fican<strong>do</strong> escassos<br />
e quase não tem onde se<br />
apoiar.<br />
A palavra de ordem de “fora<br />
Rodas” resume toda a luta que<br />
vêm travan<strong>do</strong> os estudantes nos<br />
últimos anos.<br />
Mais <strong>do</strong> que em outros momentos<br />
está colocada a luta pela<br />
verdadeira autonomia da universidade<br />
diante <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> capitalista.<br />
O interventor de Serra é fraco<br />
e uma mobilização ampla e<br />
conseqüente pode derrubá-lo,<br />
por isso os estudantes devem<br />
aprovar a greve e paralisar toda<br />
a universidade.<br />
AJR faz campanha na USP pelo “fora<br />
Rodas” e a greve com ocupação<br />
Estudantes da AJR distribuem<br />
dez mil panfletos na cidade<br />
universitária, com passagem<br />
em sala de aula para esclarecer<br />
e ampliar a luta <strong>do</strong>s estudantes<br />
<strong>contra</strong> a ditadura <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e<br />
seu interventor na USP.<br />
Para combater a direita na<br />
universidade, é necessário fortalecer<br />
a organização que demonstra<br />
em to<strong>do</strong>s os momentos<br />
estar ao la<strong>do</strong> da luta <strong>do</strong>s<br />
estudantes e <strong>do</strong> verdadeiro<br />
movimento estudantil.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, a Aliança da<br />
Juventude Revolucionária, organização<br />
que é um instrumento<br />
para o desenvolvimento da luta<br />
<strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s estudantes,<br />
distribuiu nesta semana dez mil<br />
panfletos reforçan<strong>do</strong> a necessidade<br />
da deflagração da greve<br />
<strong>contra</strong> a burocracia universitária<br />
e o interventor de Serra na<br />
USP.<br />
A campanha pela Greve com<br />
ocupação <strong>contra</strong> Rodas e a ditadura<br />
na universidade ten<strong>do</strong><br />
si<strong>do</strong> feita sistematicamente pela<br />
AJR com passagem em sala de<br />
aula, colagem de cartazes, manifestações<br />
e propostas nas<br />
assembléias para organizar este<br />
movimento.<br />
É preciso ser concreto e a<br />
greve com ocupação é a resposta<br />
necessária <strong>contra</strong> a ditadura<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> na universidade. Os<br />
estudantes da moradia <strong>já</strong> denunciaram<br />
o sistema de vigilância<br />
monta<strong>do</strong> <strong>contra</strong> eles para perseguir<br />
qualquer luta <strong>contra</strong> o regime.<br />
É preciso levantar um programa<br />
claro de luta, com as reivindicações<br />
<strong>do</strong> movimento estudantil<br />
e assim unificar as tendências<br />
existentes entre os estudantes<br />
em um grande movimento<br />
<strong>contra</strong> o reitor-interventor<br />
e a ditadura na universidade.<br />
A campanha será ampliada<br />
com intensa agitação e propaganda<br />
através de cartazes, boletins,<br />
folhetos, além de várias<br />
matérias no Causa Operária<br />
Notícias Online, no semanário<br />
Causa Operária e na revista<br />
Juventude Revolucionária que<br />
analisaram esta questão a partir<br />
<strong>do</strong>s mais diferentes aspectos.<br />
Com polêmicas com as correntes<br />
no movimento estudantil,<br />
com a direita e explican<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />
da luta na universidade.<br />
O objetivo é agrupar os estudantes<br />
que querem lutar <strong>contra</strong><br />
a ditadura na universidade imposta<br />
pelo <strong>governo</strong> e para isso<br />
precisam se enfrentar também<br />
com a burocracia estudantil.<br />
2010<br />
Funcionários da USP em greve paralisam reitoria<br />
Fortalecen<strong>do</strong> a greve <strong>do</strong>s<br />
funcionários, os trabalha<strong>do</strong>res<br />
da reitoria da USP aderiram a<br />
greve que ocorre há mais de 20<br />
dias e a reitoria foi bloqueada.<br />
No dia 25 de maio os funcionários<br />
da Universidade de São<br />
Paulo (USP) bloquearam o prédio<br />
da reitoria.<br />
A decisão ocorreu após assembléia<br />
entre funcionários <strong>do</strong><br />
prédio que aprovaram o apoio ao<br />
movimento que ocorre <strong>desde</strong> o<br />
dia 5 de maio.<br />
A greve reivindica a extensão<br />
<strong>do</strong> reajuste salarial de 6% concedi<strong>do</strong><br />
aos professores também<br />
para a categoria <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res.<br />
Os trabalha<strong>do</strong>res da USP, Unicamp<br />
(Universidade Estadual de<br />
Campinas) e da Unesp reivindicam<br />
também aumento salarial de<br />
16% mais R$ 200.<br />
É positiva a iniciativa que<br />
deve se ampliar para toda a<br />
universidade e derrotar a política<br />
<strong>do</strong> reitor-interventor que quer<br />
impedir o direito de greve.<br />
Antes de a greve <strong>do</strong>s funcionários<br />
começar, na terça-feira<br />
dia 4, o reitor interventor João<br />
Grandino Rodas, conseguiu na<br />
Justiça liminar preven<strong>do</strong> o corte<br />
<strong>do</strong>s dias para<strong>do</strong>s pelo e multa<br />
ao sindicato da categoria, o Sintusp,<br />
em R$ 1 mil por dia, “caso<br />
sejam monta<strong>do</strong>s piquetes e o<br />
acesso aos prédios da instituição<br />
fique prejudica<strong>do</strong>”.<br />
A tentativa era inibir a mobilização<br />
geral da universidade<br />
<strong>contra</strong> a fraca gestão de Rodas.<br />
Em 2009, a tentativa de inibir<br />
as atividades de greve <strong>do</strong>s funcionários<br />
com a entrada da PM<br />
na USP fortaleceu o movimento<br />
<strong>do</strong>s estudantes. O repúdio à<br />
entrada da PM foi generaliza<strong>do</strong><br />
e a burocracia estudantil que<br />
estava a meses conten<strong>do</strong> a tendência<br />
de luta <strong>do</strong>s estudantes foi<br />
anulada.<br />
A entrada <strong>do</strong>s estudantes na<br />
greve foi fundamental e conseguiu<br />
demonstrar a enorme crise<br />
da burocracia universitária na<br />
USP. Pela primeira vez no País<br />
os estudantes se enfrentaram<br />
diretamente com a polícia, lançan<strong>do</strong><br />
o que tinham a mão para<br />
<strong>do</strong>s pela Coseas (Coordena<strong>do</strong>ria<br />
de Serviço e Assistência<br />
Social da USP). E assim como<br />
veio à tona com a ocupação no<br />
campus Butantã, cumprir a<br />
função definida pela reitoria<br />
de vigiar e controlar a vida <strong>do</strong>s<br />
estudantes.<br />
Os mora<strong>do</strong>res da USP de<br />
São Carlos, em assembléia decidiram<br />
manter o processo<br />
seletivo das moradias com a<br />
participação estudantil e seguin<strong>do</strong><br />
os critérios aprova<strong>do</strong>s<br />
também em assembléia.<br />
To<strong>do</strong> apoio à<br />
ocupação<br />
To<strong>do</strong> o movimento estudantil<br />
da USP deve apoiar a<br />
luta <strong>do</strong>s estudantes de São<br />
Carlos, que estão sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong>s<br />
pela política de Rodas,<br />
que foi coloca<strong>do</strong> por Serra<br />
para o novo interventor justamente<br />
por ser conheci<strong>do</strong> por<br />
atacar os estudantes e defender<br />
a privatização da universidade.<br />
A ocupação da sede da Coseas<br />
em São Paulo expôs<br />
como se organiza a ditadura<br />
na universidade <strong>contra</strong> os estudantes<br />
da moradia.<br />
Os estudantes precisam<br />
agir energicamente <strong>contra</strong><br />
esta medida e bloquear a ação<br />
da Coseas em to<strong>do</strong>s os campi<br />
da USP com o apoio e a ampliação<br />
da ocupação.<br />
impedir a invasão policial.<br />
Este amadurecimento <strong>do</strong><br />
movimento não pode ser reverti<strong>do</strong><br />
e este é o me<strong>do</strong> de Rodas.<br />
A mobilização deste ano é a<br />
continuidade da luta realizada no<br />
último perío<strong>do</strong> na USP. O reitor-interventor<br />
conta apenas<br />
com o apoio da frente popular<br />
e <strong>do</strong>s pelegos <strong>do</strong> movimento<br />
estudantil para se segurar no<br />
cargo.<br />
Por isso a diretoria <strong>do</strong> DCE<br />
(Psol) está boicotan<strong>do</strong> a greve<br />
estudantil que irá dar um salto<br />
de qualidade da mobilização, em<br />
defesa <strong>do</strong>s interesses de estudantes<br />
e servi<strong>do</strong>res <strong>contra</strong> a<br />
ditadura de Serra e <strong>do</strong> PSDB na<br />
universidade.<br />
Veja aqui Carta Aberta <strong>do</strong><br />
Alojamento ao Campus<br />
de São Carlos<br />
Os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Alojamento<br />
informam aos demais estudantes,<br />
funcionários e professores <strong>do</strong><br />
Campus que, <strong>desde</strong> o impasse<br />
gera<strong>do</strong> pela Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />
Campus quanto ao processo seletivo<br />
para as bolsas moradia e<br />
auxílio-moradia, temos busca<strong>do</strong><br />
diversas tentativas de diálogo com<br />
esta, visan<strong>do</strong> resolver a situação.<br />
Sem obter sucesso, deliberamos<br />
em assembléia geral <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res<br />
nossa permanência na Coordena<strong>do</strong>ria<br />
<strong>do</strong> Campus até que tal<br />
impasse seja resolvi<strong>do</strong>. Para que<br />
to<strong>do</strong>s possam compreender<br />
melhor nossas reivindicações,<br />
segue breve histórico de to<strong>do</strong> o<br />
processo, bem como alguns <strong>do</strong>s<br />
principais pontos que constituem<br />
tal discussão:<br />
2005/2006: Formação de uma<br />
Comissão de Revisão <strong>do</strong> Regimento<br />
para Concessão de Bolsas<br />
Moradia e Auxílio-Moradia<br />
(composta por professores, estudantes<br />
e a assistente social <strong>do</strong><br />
campus). A proposta <strong>do</strong> Regimento<br />
é amplamente debatida<br />
durante um ano pela Comissão,<br />
pela Assembléia de mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
Aloja e no Conselho de Campus<br />
(atual Conselho Gestor).<br />
Junho/2006: Aprovação <strong>do</strong><br />
Regimento da Seleção no Conselho<br />
de Campus, após análise da<br />
proposta e de diversos pareceres.<br />
24/Fev/2010: Conselho Gestor<br />
<strong>do</strong> Campus desconsidera to<strong>do</strong><br />
o processo anterior e alega que o<br />
Regimento não é váli<strong>do</strong>, pois o<br />
mesmo não passou pela CLR em<br />
2006.<br />
No entanto, o próprio Estatuto<br />
da USP deixa bem claro que a<br />
CLR (Comissão de Legislação de<br />
Recursos) trata-se de uma comissão<br />
assessora que se restringe ao<br />
Conselho Universitário. Ou seja,<br />
nada tem a ver com as decisões<br />
tomadas pelo Conselho Gestor <strong>do</strong><br />
Campus. Além disso, mesmo<br />
quan<strong>do</strong> esta emite algum parecer,<br />
os Conselhos tem total autonomia<br />
para tomar suas decisões,<br />
mesmo que contrárias a tal parecer.<br />
Tal constatação deixa claro<br />
que a argumentação apresentada<br />
não é válida e que o Conselho<br />
Gestor tenta aproveitar-se da situação<br />
para propor uma nova<br />
comissão de revisão <strong>do</strong> regimento,<br />
visan<strong>do</strong> excluir a participação<br />
<strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong> processo.<br />
4/Março/2010: Em Assembléia<br />
Geral de Mora<strong>do</strong>res, o Aloja<br />
decide manter, fundamenta<strong>do</strong>s na<br />
legitimidade <strong>do</strong> Regimento, a realização<br />
<strong>do</strong> processo seletivo para<br />
as bolsas moradias e auxílio-moradia.<br />
5/Março/2010: Reunião entre<br />
representantes <strong>do</strong> Alojamento e<br />
Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Campus. Esta<br />
se restringe ao caráter meramente<br />
informativo por parte da Coordena<strong>do</strong>ria<br />
quanto às decisões<br />
tomadas pelo Conselho Gestor.<br />
23/Março/2010: O Aloja propõe<br />
e realiza reunião entre representantes<br />
<strong>do</strong> Alojamento, Coordena<strong>do</strong>ria<br />
<strong>do</strong> Campus e professores<br />
que faziam parte da comissão<br />
de seleção. Novamente não há<br />
qualquer abertura para diálogo ou<br />
negociação.<br />
Março-Abril/2010: Descoberta<br />
a existência de <strong>do</strong>cumentos da<br />
COSEAS que comprovam as<br />
práticas de vigilância e invasão de<br />
privacidade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
CRUSP (Conjunto Residencial da<br />
USP de SP). Realização de debate<br />
no Campus, informativos,<br />
coleta de assinaturas e moções de<br />
apoios.<br />
14/Maio/2010: Novamente o<br />
Aloja tenta dialogar pedin<strong>do</strong> nova<br />
reunião com a Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />
Campus. Apesar de to<strong>do</strong>s os<br />
<strong>contra</strong>-argumentos coloca<strong>do</strong>s<br />
pelos mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> alojamento,<br />
a Coordena<strong>do</strong>ria decide manter<br />
sua decisão e deixa claro que não<br />
aceitará qualquer outra que seja<br />
diferente.<br />
24/Maio/2010: Os mora<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> Alojamento permanecem na<br />
Coordena<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Campus para<br />
resolver o impasse gera<strong>do</strong>.<br />
Porque os estudantes devem<br />
continuar participan<strong>do</strong> de todas<br />
as etapas <strong>do</strong> processo seletivo?<br />
Faz 42 anos (<strong>desde</strong> que existe)<br />
que os estudantes participam<br />
de todas as etapas <strong>do</strong> processo<br />
para garantir que os critérios<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na seleção <strong>do</strong> alojamento<br />
sejam transparentes e justos<br />
para to<strong>do</strong>s. Dessa forma temos<br />
a certeza de que os critérios discuti<strong>do</strong>s<br />
e aprova<strong>do</strong>s em assembléia<br />
geral sejam de fato coloca<strong>do</strong>s<br />
em prática e não serão incluí<strong>do</strong>s<br />
critérios que exigem mais <strong>do</strong>s<br />
que precisam. Ou seja, buscamos<br />
com isso garantir condições de<br />
permanência <strong>do</strong>s menos favoreci<strong>do</strong>s<br />
para que estes continuem<br />
estudan<strong>do</strong> e se forman<strong>do</strong> de forma<br />
a diminuir as desigualdades<br />
sociais. Vale ressaltar que a aprovação<br />
<strong>do</strong>s critérios em assembléia<br />
só acontece em São Carlos<br />
, o que é resulta<strong>do</strong> da participação<br />
<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Além disso,<br />
os estudantes conhecem muito<br />
mais a realidade daqueles que precisam<br />
de auxílios para se manter<br />
na universidade, sen<strong>do</strong> assim,<br />
contribuem para uma avaliação<br />
mais qualificada.<br />
Em outros campi da USP existem<br />
vários casos comprova<strong>do</strong>s<br />
de abusos e injustiças cometidas<br />
pela COSEAS no processo de seleção.<br />
Por isso, aqui em São Carlos<br />
, os mora<strong>do</strong>res fazem questão de<br />
participar de todas as etapas <strong>do</strong><br />
processo seletivo.<br />
A constituição de uma comissão<br />
em que os estudantes não<br />
participam de todas as etapas não<br />
contempla os pontos aqui apresenta<strong>do</strong>s.<br />
A questão da legalidade e da<br />
legitimidade.<br />
O regimento no qual o processo<br />
<strong>do</strong> Aloja se baseia foi resulta<strong>do</strong><br />
de uma ampla discussão, na<br />
qual participaram alunos, professores<br />
e a assistente social <strong>do</strong><br />
campus. A proposta, com alterações,<br />
foi aprovada pelo Conselho<br />
de Campus (atual Conselho Gestor)<br />
em julho de 2006. Diferentemente<br />
<strong>do</strong> alega a Coordena<strong>do</strong>ria,<br />
o regimento passou pelas<br />
instâncias que deveria passar e é<br />
legal, inclusive há pareceres jurídicos<br />
que comprovam a sua legalidade.<br />
O processo seletivo <strong>do</strong> Aloja<br />
<strong>já</strong> está finaliza<strong>do</strong> e foi feito e divulga<strong>do</strong><br />
com base no regimento<br />
aprova<strong>do</strong> em 2006, contan<strong>do</strong><br />
com 413 inscritos. O processo<br />
seletivo da COSEAS não segue<br />
nenhum regimento, os critérios<br />
não foram defini<strong>do</strong>s e nem divulga<strong>do</strong>s,<br />
não foram aprova<strong>do</strong>s pela<br />
comunidade, ainda não está finaliza<strong>do</strong><br />
e não obteve número suficiente<br />
de inscritos. Isso demonstra<br />
claramente a legitimidade <strong>do</strong><br />
processo realiza<strong>do</strong> com a participação<br />
plena <strong>do</strong>s estudantes.<br />
Intransigência da Coordena<strong>do</strong>ria<br />
A decisão de excluir os estudantes<br />
<strong>do</strong> processo seletivo para<br />
bolsa moradia e auxílio-moradia<br />
tomada pelo Conselho Gestor <strong>do</strong><br />
Campus em 24 de fevereiro foi<br />
unilateral: nem os estudantes, nem<br />
os professores que compõe a<br />
comissão de seleção, nem a assistente<br />
social <strong>do</strong> campus foram<br />
procura<strong>do</strong>s para opinar à respeito.<br />
Desde o impasse gera<strong>do</strong>, o<br />
Aloja procurou a Coordena<strong>do</strong>ria<br />
a fim de resolvê-lo marcan<strong>do</strong> pelo<br />
menos três reuniões. Nessas reuniões<br />
a Coordena<strong>do</strong>ria colocou<br />
que não acataria nenhuma proposta<br />
que não a sua, se colocan<strong>do</strong><br />
numa posição meramente<br />
informativa.<br />
Essa postura da Coordena<strong>do</strong>ria<br />
é apenas um reflexo <strong>do</strong> que<br />
pode ser observa<strong>do</strong> nas demais<br />
esferas de decisão da universidade<br />
e diante de outras demandas,<br />
grupos e entidades.<br />
O alinhamento com essa postura<br />
vem sen<strong>do</strong> mais evidente<br />
<strong>desde</strong> a mudança das Prefeituras<br />
de Campi para Coordena<strong>do</strong>rias.<br />
A partir de então as reuniões <strong>do</strong><br />
Conselho Gestor tem se resumi<strong>do</strong><br />
a referendar decisões <strong>já</strong> tomadas<br />
por um grupo ainda mais restrito<br />
que o próprio conselho, deixan<strong>do</strong><br />
de la<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o debate necessário<br />
em torno de cada pauta<br />
e com a comunidade uspiana.<br />
Isso tem gera<strong>do</strong> muito descontentamento.<br />
Para manter a tomada<br />
de decisão dessa forma, a USP<br />
se vale de mecanismos como a<br />
instalação de câmeras, restrição<br />
da entrada e presença de seguranças<br />
no prédio da Coordena<strong>do</strong>ria<br />
para coibir possíveis manifestações.<br />
Essas medidas foram tomadas<br />
assumidamente pelo Coordena<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> Campus para evitar<br />
questionamentos em torno de<br />
suas decisões.<br />
Urgência de resolução<br />
Além de tu<strong>do</strong> o que <strong>já</strong> foi exposto<br />
anteriormente, a resolução<br />
da questão ganha mais urgência<br />
devi<strong>do</strong> aos novos <strong>contra</strong>tos das<br />
bolsas auxílio-moradia que devem<br />
ser efetua<strong>do</strong>s até o final de<br />
maio para garantir o pagamento<br />
desses bolsistas a partir de junho.<br />
Dessa forma, é fundamental<br />
que a Coordena<strong>do</strong>ria reconheça<br />
o processo seletivo em conformidade<br />
com o aprova<strong>do</strong> em<br />
2006, visto a sua legalidade, legitimidade<br />
e ampla discussão realizada<br />
para sua aprovação.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA HISTÓRIA A15<br />
MASSACRE IMPERIALISTA<br />
O mar de fogo em Dresden<br />
Há 65 anos um <strong>do</strong>s mais monstruosos crimes <strong>do</strong> imperialismo foi cometi<strong>do</strong> nos últimos<br />
momentos da Segunda Guerra Mundial, a destruição da cidade alemã de Dresden<br />
Era o mês de fevereiro e um<br />
bombardeio de proporções inimagináveis<br />
trouxe o inferno<br />
<strong>do</strong>s céus para as ruas de Dresden,<br />
matan<strong>do</strong> centenas de milhares<br />
de civis indiscriminadamente<br />
em um <strong>do</strong>s genocídios<br />
mais espantosos provoca<strong>do</strong>s<br />
pelo imperialismo.<br />
Entre os dias 13 e 15 de fevereiro<br />
de 1945, um intenso<br />
bombardeio transformou a<br />
cidade alemã de Dresden em<br />
uma gigantesca bola de fogo,<br />
matan<strong>do</strong> centenas de milhares<br />
de civis indefesos, num <strong>do</strong>s<br />
morticínios mais aterrorizantes<br />
da história da humanidade<br />
causada pelo imperialismo,<br />
equivalentes às duas bombas<br />
atômicas jogadas pouco depois<br />
no Japão.<br />
Perto <strong>do</strong> fim<br />
A Segunda Guerra Mundial<br />
(1939-1945), foi realizada<br />
como uma grande disputa de<br />
interesses coloniais entre os<br />
países imperialistas, que em<br />
virtude da grande crise política<br />
e econômica da época necessitavam<br />
ampliar os merca<strong>do</strong>s<br />
e também sua influência<br />
política no cenário mundial,<br />
numa luta de vida ou morte.<br />
A guerra se deu entre <strong>do</strong>is<br />
blocos imperialistas, de um<br />
la<strong>do</strong> a França, Inglaterra e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e no outro la<strong>do</strong><br />
a Alemanha, o Japão e a Itália,<br />
que formavam o “Eixo”.<br />
Por detrás da fachada <strong>do</strong>s<br />
ideais da democracia a guerra<br />
escondia os verdadeiros interesses<br />
imperialistas de ampliação<br />
<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio sobre os<br />
merca<strong>do</strong>s.<br />
A Segunda Guerra Mundial<br />
foi amplamente marcada<br />
pela destruição em massa provocada<br />
pelo imperialismo.<br />
Primeiro houve a invasão<br />
alemã da Polônia que iniciou<br />
a guerra em 1939.<br />
Em 1941 os países <strong>do</strong><br />
Eixo, com destaque para o<br />
exército alemão, avançaram e<br />
ocuparam boa parte da Europa,<br />
a Polônia, Noruega, Iugoslávia,<br />
o Norte da França, a,<br />
Ucrânia e Albânia.<br />
Houve ainda o ataque japonês<br />
à base de Pearl Harbor o<br />
que ofereceu o pretexto para<br />
que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s entrassem<br />
no conflito.<br />
Se de um la<strong>do</strong> havia as atrocidades<br />
de Hitler com os campos<br />
de concentração e a ocupação<br />
da URSS e <strong>do</strong>s países<br />
europeus, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> os Alia<strong>do</strong>s,<br />
comanda<strong>do</strong>s pelos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s não deixaram a<br />
desejar.<br />
Logo ao final da guerra, os<br />
EUA despejaram duas bombas<br />
atômicas sobre as cidades de<br />
Nagazaki e Hiroshima, exterminan<strong>do</strong>,<br />
sem contemplação,<br />
centenas de milhares de pessoas.<br />
Mas um fato, ocorri<strong>do</strong> no<br />
início de 1945, nos últimos<br />
“atos” da Segunda Guerra demonstrou<br />
o caráter destrutivo<br />
<strong>do</strong> imperialismo em sua<br />
busca incessante pelos interesses<br />
econômicos.<br />
Massacre<br />
imperialista<br />
Depois <strong>do</strong> lançamento da<br />
bomba atômica <strong>contra</strong> as cidades<br />
japonesas, fato histórico<br />
mais conheci<strong>do</strong> da Segunda<br />
Guerra Mundial, o imperialismo<br />
norte-americano e britânico<br />
ainda mostraram <strong>do</strong><br />
que eram capazes com o bombardeio<br />
desencadea<strong>do</strong> na cidade<br />
alemã de Dresden em fevereiro<br />
de 1945.<br />
Já no final da Segunda<br />
Guerra Mundial, a cidade de<br />
Dresden,, foi aniquilada por<br />
toneladas e mais toneladas de<br />
bombas incendiárias em ataques<br />
aéreos realiza<strong>do</strong>s pela<br />
Força Aérea <strong>do</strong>s EUA e pela<br />
RAF (Royal Air Force), da Inglaterra.<br />
Entre os dias 13 e 15<br />
de fevereiro de 1945, um intenso<br />
bombardeio transformou<br />
a cidade em uma gigantesca<br />
bola de fogo.<br />
Na noite <strong>do</strong> dia 13 daquele<br />
mês se iniciou um <strong>do</strong>s ataques<br />
mais mortíferos de toda a história<br />
da humanidade <strong>contra</strong><br />
uma população. Foram cerca<br />
de mil aviões Lancasters da<br />
O primeiro ataque descarregou milhares de bombas com alto poder de destruição lançada por<br />
800 bombardeiros.<br />
Real Força Aérea britânica,<br />
sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiroministro<br />
Winston Churchil<br />
foram despejadas mais de<br />
1.400 bombas explosivas e<br />
1.180 bombas incendiárias.<br />
No dia 14 foi a vez da Força<br />
Aérea norte-americana que<br />
despejou mais 1.800 bombas<br />
incendian<strong>do</strong> toda a cidade e<br />
matan<strong>do</strong> mais de 130.000 pessoas.<br />
É preciso ressaltar que a cidade<br />
de Dresden não representava<br />
nenhum objetivo estratégico<br />
militar ou industrial<br />
para a guerra. O ataque foi<br />
projeta<strong>do</strong> para esmagar a população<br />
civil.<br />
Não possuía bases militares<br />
e nem mesmo indústria pesada.<br />
A cidade sequer tinha<br />
defesa antiaérea.<br />
Dresden contava com 630<br />
mil habitantes antes da guerra,<br />
mas à época a cidade estava<br />
com quase o <strong>do</strong>bro de<br />
pessoas, pois tinha se torna<strong>do</strong><br />
um refúgio para as pessoas<br />
<strong>do</strong> Leste que fugiam das<br />
barbáries cometidas pelos<br />
solda<strong>do</strong>s stalinistas.<br />
A população da cidade ultrapassava<br />
um milhão de pessoas<br />
e mais de 80% eram mulheres<br />
e crianças. A maioria<br />
<strong>do</strong>s homens estavam nas frentes<br />
de combate. Era conhecida<br />
como “Cidade <strong>do</strong>s Refugia<strong>do</strong>s”<br />
.<br />
Cidade em<br />
chamas<br />
O Secretário de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Tesouro <strong>do</strong>s EUA, Robert<br />
Morgenthau, na Conferência<br />
de Casablanca, propôs um<br />
projeto que se baseava na aniquilação<br />
de 50% da população<br />
alemã, aprovada pelo presidente<br />
Franklin Roosevelt e o<br />
premiê Wiston Churchil.<br />
A operação “Clarion” previa<br />
1.200 bombardeiros ingleses<br />
e norte-americanos sobre<br />
Dresden no dia 13 de fevereiro<br />
e que durariam 14 horas,<br />
queiman<strong>do</strong> literalmente a cidade.<br />
O primeiro ataque descarregou<br />
milhares de bombas<br />
com alto poder de destruição<br />
lançada por 800 bombardeiros<br />
da RAF. Milhares de prédios<br />
tiveram seus telha<strong>do</strong>s e<br />
35 mil pessoas foram identificadas e mais de 100 mil irreconhecíveis. Há ainda uma variação<br />
nas estimativas entre 300 mil e 500 mil que se transformaram em uma gosma amarelada.<br />
coberturas destruí<strong>do</strong>s, para<br />
logo mais outros bombardeios<br />
fazerem o serviço de espalhar<br />
napalm por toda a região<br />
e transformar o lugar em um<br />
verdadeiro caos. Os alvos<br />
escolhi<strong>do</strong>s pretendiam desorganizar<br />
qualquer tentativa de<br />
socorro às vítimas, onde os<br />
quartéis de bombeiros foram<br />
conscientemente destruí<strong>do</strong>s.<br />
O incêndio provocou a elevação<br />
da temperatura em mais<br />
de 1.000 graus centígra<strong>do</strong>s e<br />
ventos que chegavam a 160<br />
quilômetros aspiravam to<strong>do</strong> o<br />
oxigênio existente.<br />
Enquanto dezenas de milhares<br />
de pessoas corriam desesperadamente<br />
pelas ruas,<br />
queiman<strong>do</strong> vivas, o terceiro<br />
bombardeio executa<strong>do</strong> por<br />
1.200 aviões, foi um genocídio<br />
em massa. O oxigênio<br />
existente servia apenas para<br />
alimentar as chamas, o número<br />
de mortos aumentava com<br />
os que morriam sufoca<strong>do</strong>s<br />
nas ruas.<br />
Devi<strong>do</strong> ao impacto <strong>do</strong> intenso<br />
bombardeio e as enormes<br />
labaredas de fogo, as<br />
pessoas eram totalmente sugadas<br />
pelo ar e iam direto para<br />
as chamas sem qualquer<br />
chance de se salvar, como se<br />
fossem um simples objeto.<br />
Para se ter uma idéia da força<br />
<strong>do</strong> ar provocada pelas altas<br />
temperaturas, as árvores e casas<br />
eram totalmente arrancadas<br />
e alimentavam cada vez<br />
mais o fogo.<br />
Não bastassem o fogo das<br />
bombas, pessoas eram metralhadas<br />
nas ruas por aviões<br />
Mustang que davam vôos rasantes<br />
pela cidade para não<br />
dar nenhuma chance de salvação<br />
às pessoas.<br />
Os alvos atingi<strong>do</strong>s pelas<br />
bombas eram simplesmente<br />
escolhi<strong>do</strong>s à vontade pelos pilotos,<br />
pois poucos realmente<br />
conheciam a natureza <strong>do</strong>s alvos<br />
que bombardeavam.<br />
No momento <strong>do</strong>s bombardeios<br />
as únicas instruções dadas<br />
pelo Chefe de Bombardeio<br />
eram de distribuir bombas nos<br />
distritos ainda não atingi<strong>do</strong>s.<br />
A idéia era deixar em chamas<br />
toda a cidade. Mesmo<br />
áreas totalmente desprovidas<br />
de qualquer resistência eram<br />
atingidas pelas bombas.<br />
O clima de pesadelo e desespero<br />
tomava conta de todas<br />
as pessoas. Centenas<br />
eram queimadas vivas e no<br />
desespero se atiravam ao rio<br />
Elba, que atravessava o centro<br />
da cidade, mas até mesmo<br />
o rio estava encoberto pelas<br />
chamas e corpos como tochas.<br />
Outros tipos de bombas<br />
eram lança<strong>do</strong>s e explodiam a<br />
1,5 metro <strong>do</strong> chão, pessoas<br />
eram mutiladas instantaneamente.<br />
Toneladas de<br />
bombas<br />
Em 14 horas sob a chuva<br />
de bombardeios de aviões ingleses<br />
e norte-americanos,<br />
Dresden resultou em várias<br />
pilhas de centenas de cadáveres<br />
carboniza<strong>do</strong>s e retorci<strong>do</strong>s<br />
em meio aos destroços de<br />
monumentos históricos da<br />
arte barroca, reduzin<strong>do</strong> verdadeiros<br />
patrimônios da humanidade<br />
a cinzas. O ataque foi<br />
realiza<strong>do</strong> três meses antes que<br />
a Alemanha declarasse sua<br />
derrota na guerra, mas <strong>já</strong> em<br />
fevereiro o país <strong>já</strong> estava completamente<br />
rendi<strong>do</strong>, não haven<strong>do</strong><br />
qualquer motivo para<br />
ataque.<br />
Mais de 3.750 toneladas de<br />
bombas foram descarregadas<br />
de <strong>do</strong>is mil bombardeiros alia<strong>do</strong>s,<br />
equivalen<strong>do</strong> a 10 mil<br />
bombas explosivas e 650 mil<br />
bombas incendiárias.<br />
Na contagem <strong>do</strong>s corpos,<br />
uma média de 35 mil pessoas<br />
foram identificadas e mais de<br />
100 mil irreconhecíveis. Há<br />
ainda uma variação nas estimativas<br />
entre 300 mil e 500<br />
mil vítimas que se transformaram<br />
em uma espécie de gosma<br />
amarelada que se juntou<br />
ao asfalto das ruas se desintegran<strong>do</strong>.<br />
Os números são assusta<strong>do</strong>res.<br />
Um levantamento divulgou<br />
que <strong>do</strong>s mortos 83 mil<br />
compunham-se de bebês e crianças,<br />
12 mil pessoas que trabalhavam<br />
da área de resgate e<br />
DRESDEN<br />
330 mil que foram considera<strong>do</strong>s<br />
apenas homens e mulheres<br />
civis, além de mais de 55 mil<br />
feri<strong>do</strong>s de todas as formas.<br />
Através da ordem <strong>do</strong> comandante-chefe<br />
da RAF, Arthur<br />
Harris, o Marechal <strong>do</strong> Ar,<br />
Sir Robert Saundby, foi responsável<br />
por desfechar e confirmar<br />
o ataque a Dresden, transmitin<strong>do</strong><br />
mais cinco quartéisgenerais<br />
<strong>do</strong>s Grupos de Bombardeiros<br />
que cumprissem a<br />
missão.<br />
Além de Dresden, o Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s foram responsáveis<br />
pela morte 80 mil em Hiroshima,<br />
70 mil em Nagasaki com as<br />
duas bombas atômicas. No<br />
Japão foram entre 80 mil a 140<br />
mil em um ataque aéreo em<br />
Tóquio.<br />
Outro fracasso imperialista<br />
foi a Guerra <strong>do</strong> Vietnã de 1959<br />
a 1975, onde foram mortos<br />
mais de um milhão de vietnamitas.<br />
A completa falência <strong>do</strong> imperialismo<br />
e <strong>do</strong> regime capitalista<br />
se prova indubitavelmente<br />
na ocupação <strong>do</strong> Iraque, uma<br />
vez que o Esta<strong>do</strong> capitalista só<br />
pode se manter no poder através<br />
<strong>do</strong> uso da força e <strong>do</strong> Exército.<br />
Milhares de solda<strong>do</strong>s norteamericanos<br />
<strong>já</strong> morreram <strong>desde</strong><br />
o início da guerra em março de<br />
2003, com altos índices de deserção.<br />
A idéia de democracia levada<br />
pelos EUA na “guerra ao terror”<br />
não passa de pura falsidade<br />
para a defesa de seus interesses<br />
imperialistas, que só<br />
resultou na exterminação da<br />
população mundial.<br />
O bombardeio de Dresden,<br />
e todas as atrocidades cometidas<br />
por ambos os la<strong>do</strong>s na<br />
Segunda Guerra, fazem parte<br />
da estratégia militar imperialista<br />
que tem como objetivo não<br />
derrotar o inimigo apenas militarmente,<br />
mas atacar também<br />
a população civil e impedir<br />
qualquer capacidade de resistência<br />
<strong>do</strong> povo <strong>contra</strong> a guerra<br />
para assim manter a <strong>do</strong>minação<br />
imperialista.<br />
A “Florença <strong>do</strong> Elba”<br />
Vista aérea da cidade de Dresden depois <strong>do</strong> bombardeio de mais de 14 horas.<br />
A cidade Dresden ficou<br />
conhecida como a “Florença<br />
<strong>do</strong> Elba” em referência à histórica<br />
cidade italiana e em<br />
grande medida devi<strong>do</strong> à sua<br />
primorosa arquitetura barroca,<br />
cidade às margens <strong>do</strong> Rio<br />
Elba, que ficou banha<strong>do</strong> pelo<br />
sangue das vítimas <strong>do</strong> bombardeio.<br />
Dresden foi durante séculos<br />
a capital da arte, compon<strong>do</strong><br />
uma das maiores regiões<br />
em se tratan<strong>do</strong> de arte e cultura.<br />
Muitos monumentos arquitetônicos<br />
foram totalmente<br />
perdi<strong>do</strong>s para sempre em<br />
apenas 14 horas de ataque. A<br />
cidade abrigou gênios como<br />
Johann Sebastian Bach, Georg<br />
Friedrich Haendel, Richard<br />
Wagner, Goethe e Dostoiévski,<br />
entre outros.<br />
Um <strong>do</strong>s principais símbolos<br />
da cidade é a igreja Frauenkirche,<br />
construída entre<br />
1726 e 1743, se transforman<strong>do</strong><br />
em ruínas após os ataques.<br />
Somente em 1994 a<br />
igreja foi reconstruída, levan<strong>do</strong><br />
10 anos para que fosse<br />
completa<strong>do</strong> o trabalho.<br />
Outro monumento é o palácio<br />
Residenzschloss, que <strong>desde</strong><br />
o século XII foi sede <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
da Saxônia, permanecen<strong>do</strong><br />
assim até 1918. Em<br />
1701 o palácio sofreu um grande<br />
incêndio e precisou passar<br />
por uma ampla reconstrução,<br />
e novamente foi destruída<br />
pelos bombardeios, sen<strong>do</strong><br />
somente terminada recentemente.<br />
No entanto, vários<br />
outros monumentos e obras de<br />
arte importantes desapareceram<br />
em 1945 e atualmente<br />
várias obras ainda estão sen<strong>do</strong><br />
reconstruídas.<br />
A destruição e a dizimação<br />
da população, bem como da<br />
arte barroca causada pelo ataque<br />
foi até mais devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
que os ataques das épocas bárbaras.<br />
Winston Churchill, que chegou<br />
a ganhar Prêmio Nobel de<br />
literatura em 1953, foi o responsável<br />
por autorizar uma<br />
das piores execuções <strong>contra</strong><br />
a humanidade, alegan<strong>do</strong> que<br />
“preferia a devastação total<br />
das cidades alemãs à perda de<br />
um só osso de um granadeiro<br />
inglês”.<br />
Poucos anos depois <strong>do</strong> fim<br />
<strong>do</strong> conflito mundial na época<br />
<strong>do</strong> pós-guerra, milhares<br />
de voluntários trabalharam<br />
na limpeza da cidade retiran<strong>do</strong><br />
os escombros. Nos anos<br />
1950, milhares de prédios residenciais<br />
e comerciais foram<br />
construí<strong>do</strong>s, bem como<br />
a tentativa de restauração das<br />
obras arquitetônicas.<br />
O famoso castelo Zwinger<br />
foi concluí<strong>do</strong> somente em<br />
1964. Construções como a<br />
Hofkirche, Johanneum, Albertinum,<br />
Stallhof e a Semperoper<br />
também foram reerguidas<br />
com uso de tecnologia<br />
moderna. Entretanto,<br />
mesmo com tantos esforços,<br />
a arte da cidade continua incompleta.
9<br />
30<br />
DE<br />
de<br />
MAIO<br />
maio<br />
DE<br />
de<br />
2010<br />
2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
teoria A16<br />
<br />
<br />
A questão da frente única<br />
<br />
<br />
<br />
Os bolcheviques e os sovietes<br />
Reproduzimos aqui trechos <strong>do</strong> livro “História da Revolução<br />
Russa” escrito por Leon Trótski em 1930, nos quais<br />
o revolucionário russo descreve e explica a aliança<br />
temporária estabelecida durante a revolução entre o Parti<strong>do</strong><br />
Bolchevique e as forças ligadas ao <strong>governo</strong> Kerenski <strong>contra</strong><br />
a tentativa de golpe encabeçada por Kornilov<br />
<br />
(...) Para os bolcheviques questões práticas de defesa.<br />
que <br />
inspiravam os bairros, o “Sobre que assunto desejais<br />
levante <br />
de Kornilov não era conversar conosco”, exclamou<br />
de maneira alguma inespera<strong>do</strong>. um <strong>do</strong>s ora<strong>do</strong>res bolcheviques...<br />
“Nossos líderes estão<br />
Haviam-no previsto, denuncia<strong>do</strong>,<br />
e, na ocasião necessária, presos e, entretanto, vós nos<br />
<br />
<br />
foram os primeiros a ocupar as chamais a discutir problemas<br />
<br />
posições devidas. Sokolnikov, que se referem à defesa da<br />
<br />
<br />
<strong>desde</strong> a sessão unificada <strong>do</strong>s<br />
<br />
capital”. Na qualidade de operários<br />
de indústria, e de cida-<br />
comitês -executivos, realizada<br />
a 27 de agosto, havia dãos da república burguesa, os<br />
<br />
<br />
<br />
comunica<strong>do</strong> que o Parti<strong>do</strong> proletários<br />
<br />
<strong>do</strong> bairro de Viborg<br />
Bolchevique <strong>já</strong> tomara todas não se mostravam, de mor<strong>do</strong><br />
<br />
as medidas ao seu alcance para algum, dispostos a sabotar a<br />
<br />
avisar<br />
<br />
o povo que o perigo se<br />
<br />
defesa da capital revolucionária.<br />
Mas, na qualidade de<br />
<br />
aproximava, e para preparar<br />
<br />
a defesa; os bolcheviques bolcheviques e de membros <strong>do</strong><br />
<br />
<br />
declaravam-se dispostos a<br />
<br />
parti<strong>do</strong>, nem por um segun<strong>do</strong><br />
<br />
combinar a própria ação combativa<br />
com a <strong>do</strong>s órgãos <strong>do</strong><br />
<br />
desejavam compartilhar, com<br />
<br />
os dirigentes, da responsabilidade<br />
da guerra, perante o<br />
<br />
Comitê-Executivo. Em sessão<br />
<br />
<br />
noturna da organização militar<br />
<br />
povo russo e perante os povos<br />
<br />
<strong>do</strong>s bolcheviques, da qual participaram<br />
delega<strong>do</strong>s de nume-<br />
<br />
<strong>do</strong>s outros países. Temen<strong>do</strong><br />
<br />
que o espírito de defensiva<br />
<br />
rosos contingentes de topas,<br />
<br />
se transformasse em política<br />
<br />
decidiu-se exigir a prisão de<br />
<br />
de defesa nacional, Lênin<br />
<br />
to<strong>do</strong>s os conspira<strong>do</strong>res, armar<br />
<br />
escrevia: “nós só nos tornaremos<br />
partidários da defesa<br />
os operários, fornecer-lhes<br />
<br />
<br />
instrutores escolhi<strong>do</strong>s dentre<br />
<br />
nacional após a passagem <strong>do</strong><br />
os solda<strong>do</strong>s, garantir a defesa<br />
<br />
poder ao proletaria<strong>do</strong>... nem<br />
<br />
da capital com os elementos<br />
<br />
a tomada de Riga, nem a conquista<br />
de Piter [Petrogra<strong>do</strong>]<br />
da base e, ao mesmo tempo,<br />
<br />
preparar-se para a criação<br />
<br />
poderão transformar-nos em<br />
de <br />
um poder revolucionário<br />
<br />
partidários da defesa nacional:<br />
até o momento presente,<br />
<br />
de operários e solda<strong>do</strong>s. A<br />
<br />
<br />
organização militar iniciou<br />
<br />
empenhamo-nos na revolução<br />
<br />
reuniões em toda a guarnição.<br />
<br />
proletária, somos <strong>contra</strong> a<br />
<br />
Os solda<strong>do</strong>s eram convida<strong>do</strong>s<br />
<br />
guerra, não somos partidários<br />
<br />
a manter-se de sobreaviso,<br />
<br />
da defesa nacional”. “A queda<br />
<br />
fuzil na mão em condições de<br />
<br />
de Riga”, escrevia Trótski da<br />
<br />
poderem sair ao primeiro sinal<br />
<br />
prisão, “é um rude golpe. A<br />
<br />
de alarme.<br />
<br />
queda de Petrogra<strong>do</strong> seria<br />
(...)<br />
uma calamidade. Mas a queda<br />
O Comitê Executivo, por da política internacional <strong>do</strong><br />
<br />
telefonograma, pediu a Kronstadt<br />
e a Viborg a remessa de catástrofe”. Doutrinarismo de<br />
proletaria<strong>do</strong> russo seria uma<br />
importantes efetivos de tropas fanáticos? Naqueles mesmos<br />
para Petrogra<strong>do</strong>. Os contingentes<br />
começaram a chegar bolcheviques e os marinheiros<br />
dias, em que os caça<strong>do</strong>res<br />
<strong>desde</strong> a manhã de 29. Eram, caíam em defesa de Riga, o<br />
principalmente, destacamentos<br />
bolcheviques: para que o para esmagar os bolcheviques;<br />
<strong>governo</strong> selecionava tropas<br />
apelo <strong>do</strong> Comitê Executivo se e o generalíssimo preparavamostrasse<br />
eficaz, fora necessáriaa<br />
<br />
confirmação prévia <strong>do</strong> <br />
<strong>governo</strong>. A favor da política<br />
-se para guerrear <strong>contra</strong> o<br />
<br />
Comitê central <strong>do</strong>s bolcheviques.<br />
Um pouco antes, lá para <br />
a favor da defensiva, como<br />
no <br />
front, como na retaguarda;<br />
<br />
<br />
o meio-dia de 28, a guarda <strong>do</strong> <br />
pela ofensiva, os bolcheviques<br />
<br />
Palácio de Inverno, por ordem<br />
de Kerenski - ordem que <br />
assumir uma sombra que fosse<br />
<br />
não podiam, nem desejavam,<br />
<br />
<br />
muito se assemelhava a uma <br />
de responsabilidade. Caso de<br />
<br />
solicitação obsequiosa - ficaria <br />
conduzissem de outro mo<strong>do</strong>,<br />
<br />
constituída de marinheiros <strong>do</strong> <br />
não seriam bolcheviques.<br />
<br />
cruza<strong>do</strong>r Aurora, sen<strong>do</strong> que <br />
Kerenski e Kornilov constituíam<br />
duas variantes dum só e<br />
<br />
uma parte ainda estava encarcerada<br />
na prisão de Kresti, por mesmo <br />
perigo; essas variantes,<br />
<br />
<br />
<br />
motivo de haver participa<strong>do</strong> da <br />
uma insinuante, outra aguda,<br />
<br />
manifestação de julho. Durante<br />
as horas de folga, os mari-<br />
<br />
em posição irredutível, uma<br />
<br />
em fins de agosto ficaram<br />
<br />
<br />
nheiros acorriam à prisão, para <br />
<strong>contra</strong> a outra. Era preciso,<br />
<br />
visitar os homens de Kronstadt <br />
antes de mais nada, repelir<br />
<br />
ali deti<strong>do</strong>s, assim como para <br />
o perigo agu<strong>do</strong>, para, em seguida,<br />
liquidar com o perigo<br />
visitar <br />
Trótski, Raskolnikov <br />
<br />
e outros. “Já não é tempo de <br />
insinuante. Os bolcheviques<br />
<br />
prender o Governo?” perguntavam<br />
os visitantes. “Não, não <br />
de defesa - se bem que estives-<br />
<br />
não só entraram para o Comitê<br />
<br />
<br />
é” - ouviam como resposta: <br />
sem condena<strong>do</strong>s a ocupar ali<br />
<br />
“colocai o fuzil no ombro de apenas <br />
a posição de pequena<br />
Kerenski e atirai <strong>contra</strong> Kornilov.<br />
<br />
Acertaremos depois as <br />
que, na luta <strong>contra</strong> Kornilov,<br />
<br />
minoria - como declararam<br />
<br />
contas com Kerenski”. Em junho<br />
e julho, esses marinheiros <br />
“uma aliança militarmente<br />
<br />
estavam prontos a concluir<br />
<br />
<br />
absolutamente não se dispunham<br />
a atender aos argumentos <br />
com um Diretório. Sukhanov,<br />
<br />
técnica”, mesmo que fosse<br />
<br />
<br />
da estratégia revolucionária. <br />
a esse respeito, escreve: “os<br />
<br />
Nesses <strong>do</strong>is meses, ainda não <br />
bolcheviques demonstraram<br />
<br />
totalmente decorri<strong>do</strong>s, <strong>já</strong> haviam<br />
aprendi<strong>do</strong> muito. Quan-<br />
<br />
bem verdade que, ao partirem<br />
<br />
grande sabe<strong>do</strong>ria política... É<br />
<br />
<br />
<strong>do</strong> apresentavam a questão da<br />
<br />
para um compromisso que não<br />
prisão <br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong>, faziam-no <br />
correspondia à natureza deles,<br />
<br />
por auto-crítica e para adquirirem<br />
a consciência nítida <strong>do</strong> certos <br />
fins particulares, impre-<br />
<br />
os bolcheviques perseguiam<br />
<br />
<br />
fato. Já podiam, pelos próprios<br />
recursos, compreender <br />
Nessa questão, entretanto, a<br />
<br />
visíveis até para seus alia<strong>do</strong>s.<br />
<br />
<br />
a inelutável continuidade <strong>do</strong>s<br />
<br />
sabe<strong>do</strong>ria deles revelou-se ainda<br />
mais”. “Nada havia de não<br />
<br />
acontecimentos. Na primeira<br />
<br />
<br />
quinzena de julho - derrota<strong>do</strong>s, específico <br />
para o bolchevismo<br />
<br />
condena<strong>do</strong>s, calunia<strong>do</strong>s: - ao<br />
<br />
em semelhantes política: ao<br />
fim de agosto - a mais segura contrário, ela correspondia da<br />
guarda <strong>do</strong> Palácio de Inverno melhor maneira possível ao<br />
<br />
<strong>contra</strong> os kornilovianos, romperão<br />
eles, ao fim de outubro, viques eram revolucionários<br />
caráter <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>. Os bolche-<br />
<strong>contra</strong> o mesmo Palácio de de ação e não de gestos; de<br />
Inverno, o fogo <strong>do</strong>s canhões essência e não de forma”. A<br />
<strong>do</strong> Aurora.<br />
política deles era determinada<br />
(...)<br />
pelo agrupamento real das<br />
Os acontecimentos, no teatro<br />
da guerra, submeteram, pelas antipatias. Acua<strong>do</strong> pelos<br />
froças, não pelas simpatias ou<br />
sem demora, a política <strong>do</strong> socialistas-revolucionários e<br />
parti<strong>do</strong> <br />
a uma prova muito <br />
pelos mencheviques, Lênin<br />
<br />
séria, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> internacionalismo.<br />
Após a queda <br />
<strong>do</strong> julgar que o proletaria<strong>do</strong><br />
escrevia: <br />
“seria erro profun-<br />
<br />
<br />
de Riga, o destino de Petrogra<strong>do</strong><br />
empolgou, vivamente, <br />
por assim dizer, ‘vingar-se’<br />
<br />
revolucionário, procuran<strong>do</strong>,<br />
<br />
<br />
os operários e os solda<strong>do</strong>s. O <strong>do</strong>s <br />
socialistas-revolucionários<br />
e <strong>do</strong>s mencheviques, que<br />
menchevique <br />
Mazurenko, oficiial<br />
que, pouco antes, dirigira <br />
apoiaram o esmagamento <strong>do</strong>s<br />
<br />
<br />
<br />
o desarmamento <strong>do</strong>s operários <br />
bolcheviques, as execuções<br />
<br />
de Petrogra<strong>do</strong>, apresentou, à <br />
no front e o desarmamento<br />
<br />
reunião <strong>do</strong>s comitês de fábricas<br />
e de usinas no Smolni, um <br />
recusar-se a ‘apoiá-los’ em se<br />
<br />
<strong>do</strong>s operários, fosse capaz de<br />
<br />
<br />
relatório sobre o perigo que <br />
tratan<strong>do</strong> da <strong>contra</strong>-revolução”.<br />
<br />
ameaçava a capital, e propôs <br />
Dar apoio técnico, porém<br />
não apoio político. Contra o A questão se resume, toda ela,<br />
apoio político, Lênin advertia: em saber se eles o querem...<br />
“nem mesmo no momento Em um momento de impulsividade,<br />
os concilia<strong>do</strong>res<br />
presente devemos dar apoio<br />
ao <strong>governo</strong> de Kerenski. Seria declararam que a coligação<br />
falta de princípios. Certo é com os cadetes não era mais<br />
que perguntarão: mas não é concebível. Se é assim, então<br />
preciso combater Kornilov? é inconcebível de um mo<strong>do</strong><br />
<br />
Claro que sim! Mas não é a geral. Contestar a coligação<br />
<br />
mesma coisa e mesmo assim só pode, porém, significar a<br />
<br />
há um limite; esse limite está passagem <strong>do</strong> poder aos concilia<strong>do</strong>res.<br />
<br />
<br />
sen<strong>do</strong> ultrapassa<strong>do</strong> por alguns<br />
<br />
bolcheviques que descambam Lênin apreendeu, imediatamente,<br />
a essência da nova<br />
<br />
<br />
para o “espírito concilia<strong>do</strong>r”,<br />
<br />
<br />
ao deixarem-se arrastar pela situação, e dela tirou as deduções<br />
indispensáveis. A 3 de<br />
<br />
<br />
torrente <strong>do</strong>s acontecimentos”.<br />
<br />
Lênin sabia pegar no ar setembro, redigiu seu notável<br />
<br />
os matizes <strong>do</strong>s movimentos artigo sobre os compromissos.<br />
<br />
de <br />
opinião política. A 29 de Modificou-se, novamente, o<br />
<br />
<br />
agosto, durante a sessão da papel <strong>do</strong>s sovietes, constata<br />
<br />
Duma municipal de Kiev, G. ele: em começos de julho,<br />
<br />
Piatakov, um <strong>do</strong>s dirigentes eram órgãos de luta <strong>contra</strong><br />
<br />
bolcheviques locais, declara: <br />
o proletaria<strong>do</strong> em fins de<br />
<br />
“neste momento de perigo <br />
agosto, tornaram-se órgãos<br />
<br />
devemos esquecer todas as <br />
de luta <strong>contra</strong> a burguesia. Os<br />
<br />
velhas dissensões... Unir-nos sovietes tornaram a en<strong>contra</strong>r<br />
<br />
a to<strong>do</strong>s os parti<strong>do</strong>s revolucionários<br />
que se esforçam por A<br />
as tropas à disposição deles.<br />
<br />
história entreabre, ainda<br />
<br />
combater, resolutamente, a <br />
uma vez, a possibilidade de<br />
<br />
<strong>contra</strong>-revolução. Lanço um <br />
um desenvolvimento pacífico<br />
<br />
apelo à unidade” etc. Era, <br />
da revolução. É uma possibilidade<br />
excepcionalmente<br />
<br />
justamente, <strong>contra</strong> esse falso<br />
tom político que Lênin <br />
<br />
rara e preciosa: é preciso<br />
<br />
advertia para que to<strong>do</strong>s se <br />
que se faça uma tentativa<br />
<br />
acautelassem. “Esquecer-se as de<br />
<br />
realizá-la. Lênin troça,<br />
<br />
velhas dissensões” era o mesmo<br />
que abrir novos créditos <br />
<br />
de passagem, os frasea<strong>do</strong>res<br />
que julgam inadmissíveis os<br />
<br />
aos candidatos à bancarrota. <br />
compromissos, quaisquer que<br />
<br />
“Guerrearemos , guerreamos <br />
sejam: o problema consiste<br />
em, “através de to<strong>do</strong>s os<br />
<br />
<strong>contra</strong> Kornilov”, escrevia <br />
<br />
Lênin, “porém não apoiamos <br />
compromissos, na medida que<br />
<br />
Kerenski e denunciamos a <br />
forem inevitáveis, realizar-se<br />
<br />
fraqueza dele. Há nisso certa os<br />
<br />
próprios fins e as tarefas<br />
<br />
diferença... As frases... formuladas<br />
a respeito <strong>do</strong> apoio <br />
<br />
próprias”. “Para nós, o compromisso”,<br />
diz ele, “é nossa<br />
<br />
<br />
a ser da<strong>do</strong> ao Governo Provisório,<br />
etc., etc., devem ser <br />
de julho: to<strong>do</strong> o poder aos<br />
<br />
volta à reivindicação de antes<br />
<br />
<br />
combatidas impie<strong>do</strong>samente, sovietes,<br />
<br />
um <strong>governo</strong> de socialistas-revolucionários<br />
e de<br />
<br />
precisamente como frases”. <br />
<br />
Os operários não se iludiam<br />
quanto ao caráter <strong>do</strong> perante os sovietes. Agora, e<br />
mencheviques responsáveis<br />
“bloco”forma<strong>do</strong> com o Palácio somente agora, talvez, no máximo,<br />
durante alguns dias, ou<br />
de Inverno. “Lutan<strong>do</strong> <strong>contra</strong><br />
Kornilov, o proletaria<strong>do</strong> combaterá,<br />
não a favor da ditadura tal <strong>governo</strong> poder-se-á cons-<br />
então uma ou duas semanas,<br />
de Kerenski, porém a favor de tituir e consolidar-se de mo<strong>do</strong><br />
todas as conquistas da revolução”,<br />
assim se expressvam curto prazo fixa<strong>do</strong> devia ca-<br />
as usinas, uma após outra, em racterizar toda a gravidade<br />
Petrogra<strong>do</strong>, em Moscou, nas da situação: os concilia<strong>do</strong>res<br />
absolutamente pacífico”. O<br />
províncias. Por não fazerem as têm os dias conta<strong>do</strong>s a fim de<br />
menores concessões políticas escolher entre a burguesia e o<br />
<br />
aos concilia<strong>do</strong>res; por não<br />
<br />
proletaria<strong>do</strong>.<br />
<br />
confundirem, nem as organizações,<br />
nem as bandeiras, os <strong>do</strong>res<br />
<br />
Apressaram-se os concilia-<br />
<br />
em afastar a proposta<br />
<br />
bolcheviques estavam, como<br />
<br />
leninista como se fosse um<br />
<br />
sempre estiveram, prontos a<br />
<br />
pérfi<strong>do</strong> ardil. Na verdade, a<br />
<br />
combinar as ações deles com<br />
<br />
proposta não continha uma<br />
<br />
as de qualquer adversário ou<br />
<br />
sombra sequer de malícia:<br />
<br />
inimigo, toda vez que isso<br />
<br />
persuadi<strong>do</strong> de que seu parti<strong>do</strong><br />
<br />
trouxesse a possibilidade de<br />
<br />
era chama<strong>do</strong> a assumir a direção<br />
<strong>do</strong> país, Lênin fez uma<br />
<br />
assestarem um golpe <strong>contra</strong><br />
<br />
<br />
outro inimigo, mais perigoso<br />
<br />
franca tentativa para atenuar<br />
<br />
no momento presente.<br />
<br />
a luta, enfraquecen<strong>do</strong> a resistência<br />
<strong>do</strong>s adversários que ele<br />
<br />
Na luta <strong>contra</strong> Kornilov, os<br />
<br />
<br />
bolcheviques perseguiam “fins colocava<br />
<br />
perante o inevitável.<br />
<br />
particulares”. Sukhanov demonstra,<br />
com essas palavras,<br />
<br />
As audaciosas evoluções de<br />
<br />
Lênin, que procedem sempre<br />
<br />
que , <strong>já</strong> naquele momento, os<br />
<br />
da modificação na situação<br />
<br />
bolcheviques se impunham<br />
<br />
mesma e conservam, invariavelmente,<br />
a unidade da<br />
<br />
como tarefa a transformação<br />
<strong>do</strong> Comitê de defesa em<br />
<br />
<br />
concepção estratégica, constituem<br />
importante escola de<br />
<br />
instrumento que favorecesse<br />
<br />
a insureição<br />
<br />
proletária. Que<br />
<br />
estratégia revolucionária. A<br />
<br />
os comitês revolucionários proposta <strong>do</strong> compromisso<br />
<br />
das jornadas kornilovianas se<br />
<br />
tinha o senti<strong>do</strong> de uma lição<br />
<br />
tornaram, até certo ponto, a<br />
<br />
de coisas, e, sobretu<strong>do</strong>, para o<br />
prefiguração <strong>do</strong>s órgãos que próprio Parti<strong>do</strong> Bolchevique.<br />
dirigiram, mais tarde, o levante Ela demonstra que, apesar da<br />
<strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, é indiscutível, experiência adquirida com<br />
mas Sukhanov, sem dúvida, Kornilov, não restava mais<br />
confere, aos bolcheviques, um aos concilia<strong>do</strong>res uma só<br />
excesso de perspicácia, ao julgar<br />
que eles tivessem previsto ção. Depois disso o parti<strong>do</strong><br />
curva no caminho da revolu-<br />
esse detalhe na organização. <strong>do</strong>s bolcheviques sentiu-se,<br />
Os “fins particulares” consistiam<br />
em esmagar a <strong>contra</strong>- o único parti<strong>do</strong> da revolução.<br />
definitivamente, como sen<strong>do</strong><br />
-revolução, separar, caso o Os concilia<strong>do</strong>res negaramconseguissem,<br />
os cadetes <strong>do</strong>s -se a desempenhar o papel de<br />
concilia<strong>do</strong>res, agrupar, tanto intermediários passan<strong>do</strong> o<br />
quanto possível, as massas poder das mãos da burguesia<br />
sob a direção bolchevique e para as <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong>, assim<br />
em armar o maior número que como, em março, desempenhara<br />
esse mesmo papel de<br />
pudessem de operários revolucionários.<br />
Os bolcheviques intermediário ao passar o<br />
não <br />
faziam mistério algum poder das mãos <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong><br />
às mãos da burguesia.<br />
em torno desses desígnios.<br />
O parti<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong> acorria E, por esta razão, a palavra<br />
em socorro de um <strong>governo</strong> de de ordem “o poder aos sovietes”<br />
teve que permanecer,<br />
repressão e de calúnia; mas<br />
ele apenas o salvava de uma novamente, em suspenso, mas<br />
derrocada militar, para matá- não por muito tempo: alguns<br />
-lo, de mo<strong>do</strong> mais seguro, no dias depois os bolcheviques<br />
terreno político.<br />
Os últimos dias <strong>do</strong> mês de<br />
obtiveram maioria no Soviete<br />
de Petrogra<strong>do</strong> e, a seguir,<br />
agosto produziram, novamente,<br />
um deslocamento súbito palavra de ordem “o poder<br />
em muitos outros sovietes. A<br />
<br />
nas relações de forças, dessa <br />
aos sovietes” não foi, por<br />
<br />
vez da direita para a esquerda. <br />
conseguinte, retirada uma<br />
<br />
As massas, chamadas à luta, segunda vez da ordem <strong>do</strong> dia,<br />
<br />
restabeleceram, sem esforço, mas <br />
tomou um novo senti<strong>do</strong>:<br />
a situação que os sovietes <br />
to<strong>do</strong> o poder aos sovietes bolcheviques.<br />
Sob esse aspecto<br />
desfrutavam <br />
antes da crise de <br />
<br />
julho. Doravante, o destino a palavra de ordem deixava, <br />
<br />
<strong>do</strong>s sovietes estava, novamente,<br />
nas próprias mãos deles. O <br />
uma evolução pacífica. O<br />
<br />
definitivamente, de ser a de<br />
<br />
<br />
poder podia ser toma<strong>do</strong> pelos <br />
parti<strong>do</strong> penetra no caminho<br />
<br />
sovietes sem combate. Os <br />
da insurreição armada através<br />
<br />
concilia<strong>do</strong>res, para tanto, precisavam,<br />
apenas, consolidar o <br />
sovietes.<br />
<br />
<strong>do</strong>s sovietes e em nome <strong>do</strong>s<br />
<br />
<br />
que de fato <strong>já</strong> estava forma<strong>do</strong>. <br />
(...)
ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 de maio a 5 de junho de 2010<br />
Internacional<br />
Soan<strong>do</strong> o alarme<br />
A Espanha pode ser a<br />
próxima “Grécia”? Já é...<br />
<br />
Página A18<br />
Jamaica<br />
Exército protagoniza<br />
matança de civis e<br />
trabalha<strong>do</strong>res<br />
<br />
A17<br />
Página A19<br />
EUA<br />
O que o imperialismo pode fazer para evitar o<br />
colapso de Wall Street?<br />
O Sena<strong>do</strong> norte-americano aprovou, no último dia 20, após meses de discussão, o plano apresenta<strong>do</strong> por Obama para aumentar a regulação <strong>do</strong>s bancos e<br />
atividades <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro norte-americano<br />
A reforma <strong>do</strong> sistema financeiro<br />
norte-americano aprovada<br />
no Sena<strong>do</strong> no último dia<br />
20, é a segunda parte <strong>do</strong> plano<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Obama para tentar<br />
conter a crise <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res<br />
e especula<strong>do</strong>res. O texto <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong><br />
deve ser, agora, fundi<strong>do</strong><br />
com o aprova<strong>do</strong> na Câmara<br />
em dezembro passa<strong>do</strong>, para<br />
que possam entrar em vigor<br />
como lei.<br />
A chamada Lei para Restaurar<br />
a Estabilidade Financeira<br />
<strong>do</strong>s EUA, aprovada no Sena<strong>do</strong>,<br />
reflete boa parte das diretrizes<br />
apresentadas por Obama logo<br />
que assumiu o <strong>governo</strong>.<br />
Entre outras provisões consideradas<br />
“irrelevantes” pela<br />
revista especializada The Economist,<br />
a lei procura aprimorar<br />
o sistema de controle <strong>do</strong> risco<br />
sistêmico <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s. A<br />
lei aprovada dará poderes à<br />
Companhia de Seguros Federal<br />
Deposit para administrar<br />
os gigantes financeiros que<br />
venham a falir, dividin<strong>do</strong> as<br />
perdas entre cre<strong>do</strong>res e acionistas.<br />
O texto prevê, ainda,<br />
a criação de uma secretaria<br />
independente de proteção ao<br />
consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s de<br />
risco e o endurecimento <strong>do</strong><br />
controle <strong>do</strong>s derivativos com a<br />
imposição de que a maior parte<br />
<strong>do</strong>s <strong>contra</strong>tos sejam conduzi<strong>do</strong>s<br />
às claras e negocia<strong>do</strong>s da<br />
mesma forma que outros títulos,<br />
liquidan<strong>do</strong> a lucratividade<br />
exorbitante deste sistema, que<br />
quase levou ao colapso das<br />
bolsas mundialmente.<br />
Os porta-vozes de Wall Street,<br />
em um intenso lobby para<br />
impedir a reforma, chegaram<br />
a declarar que esta vai restringir<br />
o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />
pelos bancos e reduzir sua<br />
lucratividade nos próximos<br />
anos. Obama, por sua vez,<br />
afirmou que a reforma vai jogar<br />
a responsabilidade pela crise<br />
sobre os bancos e empresas <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> financeiro, mas “não<br />
sufocará o livre merca<strong>do</strong>”.<br />
Alguns pontos de conflito<br />
devem ser novamente examina<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is projetos<br />
de lei, o <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e o da<br />
Câmara, forem confronta<strong>do</strong>s.<br />
Um deles, segun<strong>do</strong> a imprensa<br />
especializada, é a proposta de<br />
limitar o swap bancário, isto é,<br />
os empréstimos feitos de banco<br />
a banco para que possam cobrir<br />
suas contas. De acor<strong>do</strong> com as<br />
expectativas <strong>do</strong>s parlamentares<br />
<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Democrata, o texto<br />
final deve ser entregue para que<br />
Obama o ratifique até o dia 4<br />
de julho, feria<strong>do</strong> nacional da<br />
independência <strong>do</strong>s EUA.<br />
A maior reforma <strong>desde</strong> a<br />
década de 30<br />
A reforma <strong>do</strong> sistema financeiro<br />
norte-americano é<br />
aguardada pelos bancos e agentes<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>desde</strong> a posse<br />
de Obama. Foi apresentada<br />
como a maior reforma <strong>desde</strong><br />
a crise <strong>do</strong>s anos 30, quan<strong>do</strong><br />
os primeiros mecanismos de<br />
contenção <strong>do</strong>s excessos <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> financeiro foram introduzi<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>governo</strong>.<br />
Apresenta<strong>do</strong> como uma espécie<br />
de “prestação de contas”<br />
à população sobre a crise <strong>do</strong>s<br />
últimos anos, o projeto vem<br />
acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s comentários<br />
<strong>do</strong> próprio presidente norteamericano<br />
sobre como a nova<br />
legislação vai limitar as práticas<br />
que levaram à crise.<br />
Segun<strong>do</strong> a própria revista<br />
The Economist, representante<br />
da opinião pre<strong>do</strong>minante no<br />
merca<strong>do</strong> financeiro e altamente<br />
especializada no tema, a reforma<br />
não poderia, por si só, ter<br />
impedi<strong>do</strong> a crise. A reforma<br />
poderá, quan<strong>do</strong> muito, minimizar<br />
os efeitos devasta<strong>do</strong>res da<br />
falência de um grande banco de<br />
investimentos como o Morgan<br />
Stanley, o Lehman Brothers, o<br />
CitiBank, e grandes empresas<br />
que atuam no merca<strong>do</strong> como<br />
a mega-segura<strong>do</strong>ra AIG.<br />
A criação de um dispositivo<br />
- um órgão <strong>do</strong> <strong>governo</strong> norteamericano<br />
- para administrar a<br />
falência de instituições como<br />
essas é a alternativa menos<br />
custosa, tanto em termos financeiros,<br />
quanto políticos, para o<br />
<strong>governo</strong> e para os banqueiros.<br />
Ao invés de assumir o controle<br />
<strong>do</strong>s bancos e outras empresas<br />
que venham a falir, como o<br />
<strong>governo</strong> norte-americano fez,<br />
tornan<strong>do</strong>-se o acionista majoritário<br />
para, em seguida, administrar<br />
a massa falida, um órgão<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> vai determinar a<br />
divisão das responsabilidades<br />
e prejuízos entre acionistas e<br />
clientes destas empresas.<br />
O Federal Reserve manterá<br />
to<strong>do</strong>s os poderes que recebeu<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> para atuar como<br />
um super-regula<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sistema<br />
bancário. Wall Street, no<br />
entanto, continua mandan<strong>do</strong>.<br />
Uma emenda que pretendia<br />
limitar o tamanho <strong>do</strong>s bancos<br />
e outra, que pretendia impor<br />
restrições aos juros cobra<strong>do</strong>s<br />
nos cartões de crédito, não foram<br />
incluídas no projeto final<br />
aprova<strong>do</strong> no Sena<strong>do</strong>.<br />
No entanto, pouco se sabe<br />
sobre os meios que estão sen<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong>s neste exato momento,<br />
nos basti<strong>do</strong>res, pelos<br />
bancos e grandes especula<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro<br />
para driblar as barreiras que<br />
o <strong>governo</strong> norte-americano<br />
pretende levantar. O projeto<br />
tem as características de uma<br />
tentativa de encobrir, novamente,<br />
a crise que continua<br />
a se desenvolver a olhos vistos,<br />
gestan<strong>do</strong> um colapso <strong>do</strong><br />
sistema financeiro sobre suas<br />
próprias bases.<br />
A crise européia<br />
O salto mortal <strong>do</strong> euro<br />
tro da zona <strong>do</strong> euro mostram<br />
porque ela pode não durar mais<br />
uma década sem que, pelo menos,<br />
alguns de seus membros<br />
a aban<strong>do</strong>nem”.<br />
Já Charles Wyplosz, professor<br />
de Economia Internacional<br />
<strong>do</strong> Instituto Graduate, de<br />
Genebra, afirma acreditar que<br />
“ainda há uma chance de que<br />
a união monetária saia fortalecida,<br />
e não enfraquecida. Mas<br />
os políticos terão que aumentar<br />
sua aposta radicalmente”.<br />
Com estimativas de que a<br />
Grécia tenha que cortar muito<br />
mais <strong>do</strong> que os 10% que prometeu<br />
de seu PIB para reduzir<br />
o déficit estatal, as expectativas<br />
são de que o país amargue pelo<br />
menos cinco anos de drástica<br />
redução da renda e <strong>do</strong> emprego.<br />
Em outras palavras, o<br />
“remédio” en<strong>contra</strong><strong>do</strong> para a<br />
<strong>do</strong>ença crônica <strong>do</strong> capitalismo<br />
europeu pode, por assim dizer,<br />
“matar” o <strong>do</strong>ente. As medidas<br />
são tão drásticas que nem mesmo<br />
a cúpula <strong>do</strong> imperialismo<br />
europeu e os agentes financeiros<br />
de Washington acreditam<br />
que possam ser aplicadas na<br />
sua totalidade, tampouco que<br />
terão o efeito deseja<strong>do</strong>.<br />
A desvalorização da moeda<br />
da União Européia pode levar<br />
a uma crise sem precedentes<br />
na região. Os primeiros episódios<br />
da falência <strong>do</strong> bloco<br />
foram evidencia<strong>do</strong>s pela crise<br />
na Grécia e pela sequência de<br />
crises que está toman<strong>do</strong> conta<br />
das principais economias <strong>do</strong><br />
continente.<br />
A “reação adversa” que<br />
to<strong>do</strong>s esperam <strong>já</strong> demonstrou<br />
seus primeiros sintomas: a<br />
enorme mobilização das massas<br />
trabalha<strong>do</strong>ras da Grécia<br />
<strong>contra</strong> o <strong>“pacotaço”</strong> <strong>do</strong> <strong>governo</strong>,<br />
os ataques ao salário,<br />
ao emprego e às condições de<br />
vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. O atrito<br />
entre as massas e os <strong>governo</strong>s<br />
burgueses europeus evolui<br />
num senti<strong>do</strong> revolucionário.<br />
Se, <strong>contra</strong> isso, há mais de<br />
meio século atrás, a “solução”<br />
en<strong>contra</strong>da pelo imperialismo<br />
foi, de certa forma, dar aos<br />
trabalha<strong>do</strong>res o que eles reivindicavam<br />
(pleno emprego,<br />
os salários mais altos que um<br />
trabalha<strong>do</strong>r poderia ganhar<br />
no mun<strong>do</strong>, saúde, educação,<br />
assistência médica pagos pelo<br />
esta<strong>do</strong> etc.) o que será utiliza<strong>do</strong><br />
agora, quan<strong>do</strong> justamente estão<br />
tentan<strong>do</strong> tirar de uma só vez<br />
aquilo que os trabalha<strong>do</strong>res<br />
conquistaram? O imperialismo<br />
não tem uma resposta. Os<br />
trabalha<strong>do</strong>res, por sua vez, <strong>já</strong><br />
expressaram a sua: é preciso<br />
estatizar os bancos e grandes<br />
empresas, acabar com a farra<br />
<strong>do</strong>s especula<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
financeiro e os <strong>governo</strong>s <strong>do</strong>s<br />
banqueiros e <strong>do</strong>s patrões. A<br />
resposta é: “revolução, <strong>governo</strong><br />
operário e socialismo”.<br />
Em queda...<br />
A crise grega expôs as fissuras<br />
fundamentais na união<br />
monetária da União Européia.<br />
Desprovida de uma autoridade<br />
fiscal e política comum,<br />
a União se viu desprovida<br />
de recursos para evitar que o<br />
colapso da economia grega se<br />
espalhe.<br />
Se o merca<strong>do</strong> financeiro<br />
pode gozar da eliminação <strong>do</strong>s<br />
riscos envolvi<strong>do</strong>s no câmbio<br />
entre os países europeus, a<br />
ameaça <strong>do</strong> risco de falência <strong>do</strong><br />
crédito nacional <strong>do</strong>s países da<br />
zona <strong>do</strong> euro se tornou o pior<br />
pesadelo <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res.<br />
O me<strong>do</strong> da falência da Grécia<br />
levou o merca<strong>do</strong> financeiro<br />
a aumentar os custos <strong>do</strong>s empréstimos<br />
a outros países cuja<br />
economia tem características<br />
semelhantes, como Espanha<br />
e Portugal, as mais fracas no<br />
bloco.<br />
Um efeito em cadeia se seguiu,<br />
com o pânico toman<strong>do</strong><br />
conta <strong>do</strong>s países-membros<br />
mais fortes da União Européia<br />
diante da alta exposição de seus<br />
bancos ao risco Grécia.<br />
A própria sobrevivência <strong>do</strong><br />
euro, enquanto moeda única de<br />
27 países europeus, foi colocada<br />
em xeque pela chanceler<br />
alemã, Angela Merkel em um<br />
discurso no último dia 19. A<br />
falência <strong>do</strong> euro resultaria,<br />
inevitavelmente, na falência<br />
da Europa.<br />
Um debate inicia<strong>do</strong> nesta<br />
semana pela revista britânica<br />
The Economist, porta-voz da<br />
citi londrina e da alta roda das<br />
finanças européias, colocou a<br />
questão nestes termos: “esta<br />
casa acredita que a zona <strong>do</strong><br />
euro vai se fragmentar nos<br />
próximos 10 anos”. Os representantes<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pontos de<br />
vista, no entanto, não puderam<br />
senão convergir a um mesmo<br />
ponto de vista: a crise é real<br />
e inevitável, mais ainda: <strong>já</strong><br />
vem consumin<strong>do</strong> os recursos<br />
disponíveis e coloca a falência<br />
<strong>do</strong> euro como algo palpável<br />
a curto prazo. As diferenças<br />
estão colocadas apenas sobre<br />
como a crise vai se desenvolver.<br />
O professor de Economia<br />
da Universidade de Havard,<br />
Martin Feldstein, acredita que<br />
“embora a União Monetária da<br />
Europa tenha sobrevivi<strong>do</strong> por<br />
11 anos, as tensões atuais den-<br />
A desvalorização <strong>do</strong> euro é um <strong>do</strong>s principais motivos de preocupação <strong>do</strong>s banqueiros europeus. O<br />
plano de expansão da moeda para outros 9 países a partir <strong>do</strong> ano que vem pode ser descarta<strong>do</strong>. Países<br />
que <strong>já</strong> aderiram ao bloco econômico da União Européia podem se ver força<strong>do</strong>s a sair.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A18<br />
SOANDO O ALARME<br />
A Espanha pode ser a<br />
próxima “Grécia”? Já é...<br />
O anúncio <strong>do</strong> plano de ataque ao funcionalismo público<br />
e a reação <strong>do</strong>s sindicatos prenunciam a etapa de<br />
convulsão social pela qual o país deve passar no próximo<br />
perío<strong>do</strong><br />
A Grécia, com 13,6% <strong>do</strong> PIB<br />
comprometi<strong>do</strong> com o endividamento<br />
público é um espelho para<br />
a situação da Espanha.<br />
“A Espanha tem uma situação<br />
lariais e a redução <strong>do</strong>s encargos necessários<br />
para demitir um trabalha<strong>do</strong>r.<br />
O plano de austeridade <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
Zapatero está orça<strong>do</strong> em 15<br />
bilhões de euros e inclui, entre<br />
outras medidas, o <strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong><br />
corte de 5% nos salários <strong>do</strong> funcionalismo.<br />
Antes de colocar o seu dinheiro<br />
à disposição <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s europeus<br />
endivida<strong>do</strong>s, o Fun<strong>do</strong> Monetário<br />
Internacional, a Comissão<br />
Européia e os <strong>governo</strong>s “empresta<strong>do</strong>res”,<br />
que vão disponibilizar, ao<br />
to<strong>do</strong>, 750 bilhões de euros, querem<br />
ter a “garantia” de que a dívida<br />
não crescerá. Para tanto, os<br />
<strong>governo</strong>s europeus estão to<strong>do</strong>s<br />
ajustan<strong>do</strong> seus planos de ataque<br />
<strong>contra</strong> as massas. O choque,<br />
entretanto, é inevitável . O desenvolvimento<br />
da crise e, particularmente,<br />
a luta das massas operárias<br />
européias, serão os principais<br />
acontecimentos a serem observa<strong>do</strong>s<br />
no próximo perío<strong>do</strong>.<br />
Greve geral está marcada<br />
para o próximo dia 8<br />
A greve <strong>do</strong> setor público está marcada para o próximo dia 8.<br />
A luta das massas operárias européias será o principal acontecimento a ser observa<strong>do</strong> no<br />
Os banqueiros internacionais<br />
pedem “reformas de longo alcance”<br />
para que o <strong>governo</strong> espanhol<br />
saia da rota de colisão com as<br />
massas trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> seu país.<br />
O Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional<br />
(FMI) afirmou, nesta segundafeira<br />
(dia 24), que o país passa por<br />
desafios “graves”, incluin<strong>do</strong> a necessidade<br />
de reformar urgentemente<br />
o merca<strong>do</strong> de trabalho “disfuncional”<br />
e o sistema bancário.<br />
As declarações foram dadas<br />
depois que o Banco Central espanhol<br />
interveio na crise <strong>do</strong> banco de<br />
empréstimos regional Cajasur, à<br />
beira da falência, com um pacote<br />
próximo perío<strong>do</strong>.<br />
de 2,7 bilhões de euros. O resgate<br />
foi anuncia<strong>do</strong> no sába<strong>do</strong>, dia 22,<br />
depois que o banco recusou a proposta<br />
de fusão com o Unicaja, na<br />
véspera.<br />
A crise <strong>do</strong> Cajasur despertou os<br />
temores de uma falência <strong>do</strong> sistema<br />
financeiro espanhol no merca<strong>do</strong><br />
financeiro. O <strong>governo</strong> Zapatero<br />
está mergulha<strong>do</strong> em uma dívida<br />
pública superior a 11% <strong>do</strong> PIB<br />
e as expectativas de crescimento<br />
da economia são praticamente<br />
nulas. O endividamento espanhol<br />
é quase quatro vezes maior <strong>do</strong> que<br />
o limite imposto pela União Européia<br />
de 3%.<br />
muito difícil porque está potencialmente<br />
envolvida” no plano de<br />
resgate de 750 bilhões de euros<br />
coloca<strong>do</strong>s à disposição para os<br />
Esta<strong>do</strong>s da zona <strong>do</strong> euro em dificuldades,<br />
declarou na quarta-feira<br />
da semana passada o ministro<br />
alemão <strong>do</strong> Interior, Thomas de<br />
Maizière (AFP, 22/5/2010).<br />
A Bolsa espanhola também<br />
vem sentin<strong>do</strong> os efeitos da recessão<br />
e da crise <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro.<br />
O índice Ibex-35 perdeu<br />
mais de 20% <strong>desde</strong> o início <strong>do</strong> ano.<br />
A reforma <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho<br />
que o FMI está pedin<strong>do</strong> inclui<br />
a flexibilização das faixas sa-<br />
Mais um <strong>governo</strong> que se arriscou<br />
a colocar em prática a sua<br />
versão <strong>do</strong> “plano Grécia” terá,<br />
como resposta, a reação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
com protestos e greves<br />
<strong>já</strong> anuncia<strong>do</strong>s na Espanha.<br />
A greve <strong>do</strong> setor público está<br />
marcada para o próximo dia 8. O<br />
anúncio foi feito depois que o<br />
<strong>governo</strong> decidiu promover um<br />
corte nos salários <strong>do</strong> funcionalismo<br />
em torno de 5% neste ano e o<br />
congelamento das pensões, programa<strong>do</strong><br />
para o ano que vem. A<br />
maior parte <strong>do</strong> funcionalismo público<br />
na Espanha, a 12ª maior economia<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ganha cerca de<br />
1.500 euros por mês (o equivalente<br />
a cerca de R$ 3.440 ou US$<br />
1.840) um valor baixo se compara<strong>do</strong><br />
ao PIB per capita <strong>do</strong> país<br />
(cerca de 33.400 euros, o equivalente<br />
a 2.592 euros por mês).<br />
Na última semana, os funcionários<br />
públicos protestaram diante<br />
de prédios <strong>do</strong> <strong>governo</strong> em to<strong>do</strong><br />
o país, convoca<strong>do</strong>s pela CCOO<br />
(Confederação Sindical de Comissões<br />
Operárias) e a CGT (Central<br />
Geral <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res).<br />
Os cortes promovi<strong>do</strong>s pelo<br />
<strong>governo</strong> rasgam os acor<strong>do</strong>s feitos<br />
com os sindicatos anteriormente<br />
no que diz respeito à remuneração<br />
<strong>do</strong> funcionalismo.<br />
O <strong>governo</strong> Zapatero é mais um<br />
que começou a trilhar o mesmo<br />
caminho por onde passou o <strong>governo</strong><br />
grego. Altamente endividada, a<br />
economia espanhola mergulhou<br />
em uma situação desespera<strong>do</strong>ra<br />
para os investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
financeiro e os políticos à frente <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>. A combinação de recessão,<br />
desemprego e inflação, conhecida<br />
por seus efeitos explosivos<br />
entre os trabalha<strong>do</strong>res - os<br />
principais afeta<strong>do</strong>s - <strong>do</strong>minou<br />
completamente o panorama no<br />
último perío<strong>do</strong>.<br />
O plano de ataque <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
<strong>contra</strong> a renda <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />
é consequência <strong>do</strong> esgotamento<br />
da capacidade de o<br />
Esta<strong>do</strong> financiar o setor priva<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong> e os bancos,<br />
por um la<strong>do</strong>, e sustentar um<br />
plano global de auxílio aos desemprega<strong>do</strong>s<br />
e financiar a manutenção<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />
A economia espanhola desacelerou<br />
em 2007, depois de 15<br />
anos consecutivos de crescimento<br />
<strong>do</strong> PIB, entran<strong>do</strong> em recessão<br />
no segun<strong>do</strong> trimestre de<br />
2008. O desemprego disparou<br />
<strong>do</strong>s 8% registra<strong>do</strong>s em 2007 para<br />
mais de 19%, em dezembro de<br />
2009 e continua a subir.<br />
A CRISE EUROPÉIA<br />
Itália aprova seu pacote<br />
<strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res<br />
Depois de Grécia, Espanha e<br />
Portugal chegou à vez da Itália<br />
lançar seu plano de “austeridade”<br />
<strong>contra</strong> os trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Segun<strong>do</strong> o subsecretário da<br />
presidência <strong>do</strong> Conselho de Ministros,<br />
“as medidas vão implicar<br />
sacrifícios difíceis, que o<br />
<strong>governo</strong> é obriga<strong>do</strong> a impor<br />
imediatamente. É preciso agir o<br />
mais rápi<strong>do</strong> possível para salvar<br />
o nosso país de... digamos o<br />
‘risco grego’, por assim dizer”<br />
(Euronews, 25/5/2010).<br />
O objetivo <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
italiano é o de poupar 24<br />
bilhões de euros, para isso a<br />
idéia é cortar as despesas <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong>.<br />
Para alcançar seu objetivo, o<br />
<strong>governo</strong> italiano optou pelo<br />
mesmo plano ao qual os outros<br />
países estão aderin<strong>do</strong>, isto é,<br />
salvar suas economias e empresários<br />
sugan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os direitos<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />
A versão italiana <strong>do</strong> pacote<br />
grego prevê o congelamento de<br />
salários <strong>do</strong>s funcionários públicos<br />
até 2013, o bloqueio de novas<br />
<strong>contra</strong>tações também no<br />
setor público, aumento <strong>do</strong> tempo<br />
para a aposenta<strong>do</strong>ria, redução<br />
<strong>do</strong>s gastos com a saúde,<br />
entre outras coisas.<br />
Para tentar reduzir o impacto<br />
<strong>do</strong> anúncio, o <strong>governo</strong> disse<br />
que não incluirá nas medidas o<br />
aumento <strong>do</strong>s impostos. Apesar<br />
disso, a Itália possui um <strong>do</strong>s<br />
impostos mais altos da União<br />
Européia. No ano passa<strong>do</strong> o<br />
valor <strong>do</strong>s impostos estava em<br />
43,2%, enquanto que a média<br />
da Europa é de 39,5%.<br />
A Itália há anos vem combaten<strong>do</strong><br />
o aumento de seu déficit<br />
e no ano de 2009, o mesmo ficou<br />
em torno de 5,3% <strong>do</strong> Produto<br />
Interno Bruto (PIB). Apesar<br />
das tentativas de conter o<br />
crescimento, a dívida da Itália<br />
é uma das mais elevadas da zona<br />
<strong>do</strong> euro.<br />
O fato de a Itália apresentar<br />
o seu próprio plano de “austeridade”<br />
foi motivo para a queda<br />
das bolsas no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, isso<br />
porque o país, que é <strong>do</strong>no da<br />
terceira maior economia da zona<br />
<strong>do</strong> euro, - sete vezes maior <strong>do</strong><br />
que a grega - apresentou problemas<br />
em suas contas públicas e,<br />
a repetição de uma falência à<br />
grega poderia ser encarada<br />
como a decretação de falência<br />
<strong>do</strong>s países mais ricos <strong>do</strong> bloco,<br />
<strong>do</strong>s quais depende a sustentação<br />
<strong>do</strong>s mais fracos.<br />
Em resposta à continuidade<br />
e aprofundamento da crise européia<br />
e a piora na relação entre<br />
Coréia <strong>do</strong> Norte e Coréia <strong>do</strong> Sul,<br />
as bolsas da Europa tiveram<br />
nesta semana a maior queda<br />
<strong>desde</strong> setembro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />
Apesar de o <strong>governo</strong> italiano<br />
afirmar que as medidas estão<br />
sen<strong>do</strong> tomadas como uma “garantia”<br />
<strong>contra</strong> a crise, a economia<br />
italiana vem seguin<strong>do</strong> o<br />
mesmo ritmo <strong>do</strong> restante <strong>do</strong> bloco<br />
.<br />
Desde 2008, a crise financeira<br />
<strong>já</strong> atingiu mais de 15% das<br />
famílias no país. De acor<strong>do</strong><br />
com uma pesquisa realizada,<br />
tais famílias deixaram de ter<br />
condições de enfrentar o desemprego<br />
ou subemprego de<br />
um de seus familiares e seus<br />
níveis de poder de compra são<br />
menores <strong>do</strong> que no ano 2000,<br />
enquanto que os impostos subiram.<br />
Outro fator é que mais de<br />
<strong>do</strong>is milhões de jovens entre 15<br />
a 29 anos, por conta <strong>do</strong> agravamento<br />
da crise <strong>desde</strong> 2008,<br />
estão desemprega<strong>do</strong>s e sem<br />
condições de estudar, o que<br />
resulta em 21,1% <strong>do</strong>s jovens <strong>do</strong><br />
país fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho<br />
e moran<strong>do</strong> com os pais.<br />
A CRISE COMEÇA A PEGAR FOGO NA<br />
INGLATERRA<br />
Tripulação da British Airways<br />
entra em greve após fracasso<br />
nas negociações<br />
Os pilotos, co-pilotos e navega<strong>do</strong>res<br />
da companhia aérea<br />
britânica anunciaram no<br />
dia 24 de maio, uma greve de<br />
cinco dias reivindican<strong>do</strong> aumento<br />
salarial e melhores condições<br />
de trabalho.<br />
A paralisação foi anunciada<br />
após as negociações preliminares<br />
entre a direção da empresa<br />
e o sindicato terem fracassa<strong>do</strong>,<br />
afetan<strong>do</strong> milhares de<br />
passageiros.<br />
Com cerca de 15 mil trabalha<strong>do</strong>res<br />
em greve, a British<br />
Airways anunciou que pretendia<br />
colocar em prática um<br />
“plano de contingência” e<br />
manter em funcionamento<br />
60% das suas rotas. Para tanto<br />
seria necessário licenciar os<br />
vôos e pilotos de outras companhias<br />
britânicas e européias.<br />
A categoria <strong>já</strong> entrou em<br />
greve duas vezes em março<br />
deste ano e, após diversas tentativas,<br />
as negociações ainda<br />
não se colocaram à altura das<br />
reivindicações da categoria.<br />
O sindicato Unite havia planeja<strong>do</strong><br />
realizar quatro greves,<br />
a primeira dela a se iniciar em<br />
18 de maio, mas a empresa<br />
conseguiu uma ordem judicial<br />
para impedir as paralisações.<br />
A última reunião entre a empresa<br />
e o sindicato foi suspensa<br />
no dia 22, depois que os trabalha<strong>do</strong>res<br />
ocuparam o prédio<br />
onde estava sen<strong>do</strong> realizada. A<br />
polícia teve que escoltar o executivo-chefe<br />
da companhia,<br />
Willie Walsh, para evitar o confronto<br />
com os trabalha<strong>do</strong>res.<br />
As direções sindicais se<br />
mostraram dispostas a um<br />
compromisso e anunciaram<br />
que podem suspender a greve<br />
caso a empresa resolva fazer<br />
concessões aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />
O sindicato reivindica, entre<br />
outras coisas, o retorno <strong>do</strong>s<br />
privilégios de viagem <strong>do</strong>s funcionários<br />
que aderiram à paralisação<br />
em março e que tiveram<br />
seus benefícios corta<strong>do</strong>s pela<br />
empresa. Outros funcionários<br />
enfrentam processo administrativo<br />
por terem aderi<strong>do</strong> à<br />
greve. Os benefícios de viagem<br />
permitem que os emprega<strong>do</strong>s<br />
da British Airways se desloquem<br />
<strong>do</strong> trabalho para casa,<br />
na Inglaterra ou qualquer outro<br />
lugar da Europa, com uma<br />
tarifa no valor de apenas 10%<br />
das tarifas comerciais.<br />
A crise capitalista começa<br />
a dar os sinais <strong>do</strong> enorme conflito<br />
que será trava<strong>do</strong> entre os<br />
trabalha<strong>do</strong>res e a burguesia<br />
das economias mais ricas <strong>do</strong><br />
continente europeu. Se na<br />
Grécia, com uma classe operária<br />
muito menor e mais fraca<br />
<strong>do</strong> que a inglesa, os resulta<strong>do</strong>s<br />
foram desastrosos, a<br />
tentativa de fazer os trabalha<strong>do</strong>res<br />
pagarem pela crise criada<br />
pelos patrões na Inglaterra<br />
terá conseqüências catastróficas<br />
para o imperialismo<br />
britânico. Nesta nova etapa,<br />
a greve <strong>do</strong>s tripulantes da British<br />
Airways, uma elite, é apenas<br />
um primeiro episódio <strong>do</strong><br />
que está por vir quan<strong>do</strong> os demais<br />
destacamentos da classe<br />
operária britânica, extremamente<br />
bem organizada e<br />
desenvolvida, entrarem em<br />
movimento.<br />
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30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA INTERNACIONAL A19<br />
JAMAICA<br />
Exército protagoniza matança de<br />
civis e trabalha<strong>do</strong>res<br />
Violência explode na Jamaica, sob as ordens <strong>do</strong>s EUA.<br />
A situação atual é explicada pela situação de<br />
deterioração financeira e política <strong>do</strong> país que está sob<br />
o crivo <strong>do</strong>s EUA<br />
O conflito para capturar o<br />
suposto traficante Christopher<br />
“Dudus” Coke <strong>já</strong> provocou<br />
uma chacina na região de<br />
Kingston. São mais de 70 civis<br />
mortos. Mora<strong>do</strong>res, desespera<strong>do</strong>s,<br />
acusam os solda<strong>do</strong>s<br />
de atirar em qualquer coisa<br />
que se mexa. Desmentin<strong>do</strong> as<br />
estatísticas de que as mortes<br />
eram de traficantes, o próprio<br />
Defensor Publico Earl Witter<br />
questionou: “Há disparidade<br />
entre os números de mortos e<br />
o número de armas apreendidas.<br />
As forças de segurança,<br />
até agora foram responsáveis<br />
por quatro armas de fogo<br />
apreendidas”(jamaicaobserver.com,<br />
26/5/2010)<br />
O início da operação de invasão<br />
da favela pelo exército<br />
começou no <strong>do</strong>mingo a pedi<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s EUA, que querem prender<br />
Coke a qualquer custo. O objetivo<br />
<strong>do</strong>s militares e da polícia<br />
eram invadir a favela no bairro<br />
de Tivoli Gardens, em uma<br />
zona periférica de Kingston. Os<br />
norte-americanos querem julgar<br />
Coke nos EUA, e condenálo<br />
a prisão perpétua.<br />
Em 1998, o <strong>governo</strong> da Jamaica<br />
assinou um pacto com<br />
os EUA permitin<strong>do</strong> que policiais<br />
e militares pudessem entrar<br />
no país e perseguir suspeitos<br />
de trafico de drogas.<br />
Coke seria uma espécie de<br />
Robin Hood para sua comunidade.<br />
Coloca crianças na escola,<br />
dá dinheiro para pobres<br />
e atende as necessidades básicas<br />
<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Alguns<br />
mora<strong>do</strong>res das favelas advertiram<br />
que Coke só seria captura<strong>do</strong><br />
sobre seus cadáveres.<br />
Mesmo o atual primeiro-ministro<br />
da Jamaica Bruce Golding,<br />
resistiu em entregá-lo ao<br />
<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s EUA. Golding<br />
teria empréstimos de entidades<br />
<strong>do</strong> imperialismo em troca<br />
da prisão de Coke.<br />
A situação de endividamento<br />
e empobrecimento na Jamaica,<br />
<strong>desde</strong> o final da década<br />
de 90, criou no país uma<br />
parceria quase publica entre<br />
políticos e traficantes. Os primeiros<br />
governam oficialmente.<br />
O segun<strong>do</strong>, pela sua popularidade<br />
em comunidades pobres,<br />
teria benefícios em troca<br />
de voto.<br />
A deterioração da situação<br />
da Jamaica, e o esta<strong>do</strong> de emergência<br />
imposto pelo <strong>governo</strong>,<br />
refletem uma crise maior que se<br />
espalha por vários países em<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Tailândia, Quirguistão,<br />
Egito, Nepal, Paraguai<br />
e vários outros países ou estão<br />
ou acabaram de passar por situações<br />
parecidas, e em todas<br />
elas o ponto central era a deterioração<br />
financeira e a ascensão<br />
das massas. O suposto traficante<br />
Christopher “Dudus”<br />
Coke, é apenas um reflexo<br />
desse descontentamento e <strong>do</strong><br />
fracasso <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s burgueses<br />
em controlar a situação de<br />
deterioração <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e da<br />
pobreza cada vez maior <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Mora<strong>do</strong>res, desespera<strong>do</strong>s, acusam os solda<strong>do</strong>s de atirar em qualquer coisa que se mexa.<br />
ELEIÇÕES NA COLÔMBIA<br />
Campanha eleitoral na Colômbia gira<br />
em torno da continuidade <strong>do</strong> regime<br />
pró-imperialista de Uribe<br />
A campanha <strong>do</strong>s nove candidatos<br />
em disputa nas eleições<br />
presidenciais colombianas girou<br />
em torno da política de segurança<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong> Uribe.<br />
Nada se falou sobre a crise<br />
econômica que tornou a Colômbia<br />
um <strong>do</strong>s países com maior<br />
índice de desemprego no continente.<br />
Atualmente mais de 63,1%<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res são informais,<br />
e sua taxa de desemprego está em<br />
10,6%. Além disso, a população<br />
abaixo da linha da pobreza chega<br />
a 46,8%.<br />
Diversas manifestações marcaram<br />
o final <strong>do</strong> mandato de<br />
Uribe. No último 1º de maio,<br />
pessoas levantavam cartazes<br />
com as fotos de seus familiares<br />
As eleições presidenciais colombianas giram em torno da<br />
política de submissão ao imperialismo de Uribe.<br />
assassina<strong>do</strong>s por militares injustamente,<br />
que simplesmente alegaram<br />
sem provas que os mortos<br />
faziam parte das Forças Armadas<br />
Revolucionárias da Colômbia<br />
(FARC). Outra reivindicação <strong>do</strong>s<br />
manifestantes foi a de um plano<br />
para resolver os altos índices de<br />
desemprego que não param de<br />
crescer no país.<br />
O presidente Álvaro Uribe foi<br />
um <strong>do</strong>s maiores alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s EUA<br />
no continente. Desde o início de<br />
seu mandato privatizou diversos<br />
setores, abriu seus merca<strong>do</strong>s para<br />
as empresas norte-americanas, e<br />
permitiu a entrada de armas, solda<strong>do</strong>s<br />
e bases militares no país, o<br />
que gerou uma crise política com<br />
os <strong>governo</strong>s <strong>do</strong> continente, <strong>já</strong> que<br />
a política <strong>do</strong> <strong>governo</strong> colombiano<br />
abriu as portas para a intervenção<br />
militar <strong>do</strong> imperialismo norte-americano<br />
na América Latina<br />
e transformou o país em uma<br />
ameaça constante para seu vizinho,<br />
a Venezuela.<br />
O presidente Uribe assumiu<br />
seu mandato prometen<strong>do</strong> o fim<br />
da violência no país. Para isso<br />
afirmou que acabaria com o<br />
grupo guerrilheiro das FARC e<br />
com o tráfico de drogas. Com<br />
isso procurou justificar uma<br />
maior intervenção <strong>do</strong> <strong>governo</strong> e<br />
<strong>do</strong> exército norte-americano em<br />
seu país.<br />
Durante a campanha eleitoral,<br />
pesquisas afirmam que <strong>do</strong>is candidatos<br />
se destacam, porém serão<br />
marca<strong>do</strong>s por um empate e<br />
leva<strong>do</strong>s a um segun<strong>do</strong> turno.<br />
Um <strong>do</strong>s candidatos é o ex-ministro<br />
da Defesa <strong>do</strong> presidente Álvaro<br />
Uribe, Juan Manuel Santos,<br />
<strong>já</strong> o segun<strong>do</strong> é um ex-prefeito<br />
por duas vezes de Bogotá, Antanas<br />
Mockus.<br />
O candidato liga<strong>do</strong> a Uribe<br />
pertence ao Parti<strong>do</strong> Social de<br />
Unidade Nacional, conheci<strong>do</strong><br />
como “Parti<strong>do</strong> de La U”. Antanas<br />
Mockus pertence ao Parti<strong>do</strong> Verde,<br />
considera<strong>do</strong> de centro.<br />
A campanha <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is candidatos<br />
tem si<strong>do</strong> encarada pela população<br />
como sen<strong>do</strong> de duas políticas<br />
opostas. No caso Juan Manuel<br />
Santos reforçou em seu último<br />
comício no sába<strong>do</strong>, que dará<br />
continuidade à política de Uribe.<br />
“Escolhemos a firmeza diante<br />
da ambiguidade. Saibam que comigo<br />
to<strong>do</strong>s os colombianos poderão<br />
<strong>do</strong>rmir tranquilos”. Além<br />
disso, afirmou que irá defender<br />
“mão dura” <strong>contra</strong> a guerrilha,<br />
disse Santos. (Telesur, 22/5/<br />
2010)<br />
Já o candidato Antanas Mockus,<br />
manten<strong>do</strong> o estilo <strong>do</strong>s partidários<br />
<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Verde, foi ao<br />
seu comício final com roupas ver-<br />
des, um girassol na mão e afirmou:<br />
“chega de me<strong>do</strong>” (Telesur,<br />
22/5/2010)<br />
“Vamos ser uma força suave,<br />
que não vai andar pelo mun<strong>do</strong><br />
assustan<strong>do</strong>, mas sim crian<strong>do</strong><br />
confiança. Esta etapa da história<br />
da Colômbia será escrita com o<br />
lápis e não com o sangue”, afirmou<br />
Mockus. (Telesur, 22/5/<br />
2010)<br />
Apesar de tentar parecer contrário<br />
a política de Uribe, Mockus<br />
disse que procurará a<strong>do</strong>tar<br />
as políticas mais populares <strong>do</strong><br />
<strong>governo</strong> Uribe, especialmente o<br />
combate às FARC.<br />
Além disso, evidenciar que<br />
ambos terão a mesma política, só<br />
que com uma fachada nova, foi<br />
destaca<strong>do</strong> na imprensa burguesa<br />
desta terça-feira que o presidente<br />
Uribe está sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong><br />
pelo jornal The Washington Post,<br />
quer dizer, um órgão de imprensa<br />
<strong>do</strong> país que é o maior alia<strong>do</strong><br />
de Uribe, está o critican<strong>do</strong> durante<br />
um processo eleitoral.<br />
Segun<strong>do</strong> o jornal norte-americano,<br />
o ex-policial colombiano<br />
Juan Meneses, que hoje vive na<br />
Argentina, afirmou diante de representantes<br />
de organizações<br />
humanitárias internacionais que<br />
Santiago Uribe Vélez, irmão <strong>do</strong><br />
Os candidatos Antanas Mockus (à esquerda) e Juan Manuel Santos (à direita).<br />
presidente Álvaro Uribe, financiou<br />
na década de 90 uma estrutura<br />
paramilitar que cometeu vários<br />
crimes, e que tiveram como<br />
cúmplices a polícia da cidade de<br />
Antioquia.<br />
Ainda em sua declaração<br />
Meneses disse que o atual presidente<br />
da Colômbia na época<br />
era sena<strong>do</strong>r e teve conhecimento<br />
<strong>do</strong> que ocorria, porém ao invés<br />
de combater e denunciar o<br />
mesmo contribuiu para o encobrimento<br />
e facilitou as ações <strong>do</strong><br />
irmão.<br />
As denúncias de Meneses<br />
foram feitas há três semanas.<br />
Porém só hoje a cinco dias <strong>do</strong><br />
primeiro turno eleitoral as mesmas<br />
foram divulgadas. Com isso<br />
é provável que os EUA após as<br />
diversas denúncias graves de<br />
violação <strong>do</strong>s direitos humanos,<br />
onde o <strong>governo</strong> Uribe – seu alia<strong>do</strong><br />
– está envolvi<strong>do</strong>, tenham<br />
opta<strong>do</strong> por apoiar um candidato<br />
que seguirá a mesma política<br />
porém aparenta ser um pouco<br />
mais democrático e preocupa<strong>do</strong><br />
com a população.<br />
Os EUA provavelmente estão<br />
optan<strong>do</strong> por tirar um <strong>governo</strong><br />
desgasta<strong>do</strong> que é o de Uribe por<br />
um “ambientalista e humanitário”<br />
de fachada.
30 DE MAIO DE 2010 CAUSA OPERÁRIA ENTREVISTA DA SEMANA A20<br />
PRISÃO DOS CINCO CUBANOS NOS EUA<br />
“Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar destruir a Revolução<br />
Cubana que não puderam. Com to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s<br />
<strong>contra</strong>-revolucionários, a CIA e toda a sabotagem, não<br />
conseguiram”<br />
Causa Operária entrevista Miguel Arango Moral, funda<strong>do</strong>r da Associação Nacional<br />
de Cubanos Residentes no Brasil José Martí. Miguel Arango denuncia a condenação<br />
de cinco cubanos nos EUA em um processo-farsa. Os cinco jovens foram indica<strong>do</strong>s<br />
para lutar <strong>contra</strong> o terrorismo financia<strong>do</strong> pela CIA <strong>contra</strong> Cuba na cidade de Miami,<br />
onde é o centro principal das agressões a Cuba<br />
Causa Operária - O senhor<br />
pode falar sobre a atuação da<br />
Associação <strong>do</strong>s Cubanos Residentes<br />
no Brasil?<br />
Miguel Arango Moral – A<br />
associação surgiu de um sonho<br />
de um grupo de cubanos.<br />
Nós reunimos um grupo e começamos<br />
algumas reuniões<br />
para ver como deveria funcionar.<br />
Temos os estatutos,<br />
uma carta de princípios de<br />
quem gostaria de pertencer a<br />
associação e porque e quem<br />
defende esta associação e qual<br />
a razão dela. Em janeiro de<br />
2006, finalmente fundamos a<br />
associação e criamos a primeira<br />
diretoria da qual eu fiz<br />
parte. O primeiro presidente<br />
foi o companheiro Reynal<strong>do</strong><br />
Cué que infelizmente morreu<br />
de infarto no ano de 2007.<br />
E então eu assumi a presidência<br />
nacional da associação.<br />
Até então eu era o vice-presidente.<br />
Em maio de 2007 fizemos o<br />
primeiro encontro <strong>do</strong>s cubanos<br />
residentes no Brasil, no<br />
Rio de foi defini<strong>do</strong> que a cada<br />
<strong>do</strong>is anos seria feito o encontro<br />
<strong>do</strong>s cubanos que estão na<br />
associação e a presidência<br />
seria rotativa. O esta<strong>do</strong> que<br />
tivesse o encontro teria a presidência<br />
nos próximos <strong>do</strong>is<br />
anos.<br />
Causa Operária - A associação<br />
está fazen<strong>do</strong> a campanha<br />
pela libertação de René<br />
González, Gerar<strong>do</strong> Hernández,<br />
Fernan<strong>do</strong> González, Gerar<strong>do</strong><br />
Hernández, Antonio<br />
Guerreiro e Ramón Labañino.<br />
O que aconteceu?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Eles estavam nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
infiltra<strong>do</strong>s, nos grupo <strong>contra</strong>-revolucionários.<br />
Nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s tem muitas bandas<br />
e muitos grupos terroristas<br />
que constantemente estão<br />
planejan<strong>do</strong> ações terroristas<br />
<strong>contra</strong> Cuba. Sabotagem e<br />
coisa desse tipo. Há sabotagens<br />
de várias formas. Há<br />
sabotagem da guerra química,<br />
introduzir vírus para impedir<br />
a colheita de charuto, coisas<br />
assim, frutos, alimentos e até<br />
ataques repressivos a instituições<br />
importantes. Quer dizer,<br />
por exemplo, usinas de canade-açúcar<br />
e coisas assim. E<br />
então eles estavam nestes grupos<br />
para descobrir tu<strong>do</strong> isso.<br />
Para informar para Cuba a tempo<br />
para impedir qualquer uma<br />
destas sabotagens terroristas.<br />
Só que aconteceu o seguinte.<br />
No momento em que as informações<br />
deixavam muito<br />
evidente e eram muito perigosas,<br />
tu<strong>do</strong> o que eles chegaram<br />
a saber e a conhecer que Cuba<br />
contatou pessoas <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e entregou<br />
toda a informação e falou:<br />
“nós temos conhecimento de<br />
tu<strong>do</strong> isso e sabemos as pessoas<br />
que estão fazen<strong>do</strong> isso vão<br />
atacar e matar fulano”. Cuba<br />
deu os detalhes. O que fez o<br />
<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />
Ao invés de prender<br />
estes caras, logo depois foram<br />
cassar estes cubanos.<br />
E os pegaram em casa,<br />
<strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Um por um. E os<br />
acusaram de espionagem. E o<br />
problema é que tem <strong>do</strong>is deles<br />
que são cubanos, mas<br />
nasceram nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
São cidadãos estadunidenses.<br />
E então são acusa<strong>do</strong>s<br />
de traição.<br />
Causa Operária - Quais as<br />
acusações que sofreram?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
As acusações fundamentais<br />
são de atividades <strong>contra</strong> o<br />
esta<strong>do</strong> americano.<br />
Causa Operária – O senhor<br />
tem informação atuais<br />
sobre o que tem si<strong>do</strong> feito por<br />
estes grupos <strong>contra</strong> Cuba?<br />
Tem ligações com o CIA?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Os últimos atenta<strong>do</strong>s foram<br />
bombas que colocaram nos<br />
trens porque em Cuba uma<br />
das fontes é o turismo. Então<br />
estavam queren<strong>do</strong> fazer sabotagem<br />
e fazer atos terroristas<br />
<strong>contra</strong> as instalações turísticas,<br />
os hotéis. Mataram um<br />
turista italiano e outros turistas.<br />
Era esse o que eles queriam.<br />
Uma vez foi descoberta<br />
uma bomba em um restaurante<br />
muito famoso em Cuba<br />
Bodeguita del Medio e coisas<br />
como estas.<br />
São grupos liga<strong>do</strong>s a CIA.<br />
A CIA é quem treina, arma e<br />
financia estes grupos.<br />
Causa Operária – Como<br />
foi a condenação <strong>do</strong>s cinco<br />
cubanos? Houve o devi<strong>do</strong><br />
processo?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Fizeram uma farsa. Um juiz<br />
muito na forma deles. Um juiz<br />
que não é da região. Colocaram<br />
outro juiz que era totalmente<br />
contrário a Cuba e alegaram<br />
um monte de coisas<br />
que os advoga<strong>do</strong>s que eles<br />
tem de defesa sabem que é improcedente.<br />
Há um ano estavam<br />
tentan<strong>do</strong> provar a invalidade<br />
<strong>do</strong> juízo porque o juiz<br />
que condenou não podia atuar<br />
nesta região. Mas com tu<strong>do</strong><br />
isso deixaram as sanções que<br />
tinham coloca<strong>do</strong>.<br />
Teve uma primeira condenação<br />
que foi revogada em<br />
parte. Mas teve uma segunda<br />
condenação, porque o juiz que<br />
estava na defesa dele alegava<br />
que a improbidade oficial deste<br />
juiz.<br />
Nós queríamos que anulasse<br />
o juízo, mas não fizeram<br />
isso. Cuba pedia a anulação<br />
<strong>do</strong> juízo e que passasse para<br />
outro esta<strong>do</strong>. O caso está em<br />
Miami. A maioria <strong>do</strong>s cubanos<br />
americanos. Que tem descendentes<br />
<strong>do</strong>s cubanos que<br />
saíram de Cuba no ano de 59<br />
[Revolução]. Há pessoas que<br />
são governa<strong>do</strong>res e to<strong>do</strong>s<br />
estão <strong>contra</strong> Cuba.<br />
Deste jeito não há condições<br />
de fazer um juízo imparcial.<br />
Causa Operária – Quais<br />
foram as penas aplicadas?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Eu sei que tem <strong>do</strong>is que tem<br />
duas condenações a prisão<br />
perpétua, mais dezoito anos.<br />
Ramón está condena<strong>do</strong> à prisão<br />
perpétua mais 18 anos;<br />
René, condena<strong>do</strong> a 15 anos;<br />
Gerar<strong>do</strong>, condena<strong>do</strong> a duas<br />
penas perpétuas mais 15 anos;<br />
Fernan<strong>do</strong> condena<strong>do</strong> a 19<br />
anos de reclusão; Antonio,<br />
condena<strong>do</strong> à prisão perpétua<br />
mais 10 anos.<br />
Causa Operária – Qual a<br />
situação atual <strong>do</strong> processo?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Atualmente o processo <strong>já</strong> terminou.<br />
Foi julga<strong>do</strong> pela última<br />
vez, faz quase um ano. Os advoga<strong>do</strong>s<br />
estavam pedin<strong>do</strong> a<br />
revogação da validade da condenação.<br />
E não conseguiram.<br />
Agora as sanções foram ratificadas.<br />
A única coisa que<br />
pode ser feita e é o que estamos<br />
pedin<strong>do</strong> é que o presidente,<br />
que sabe que é uma coisa<br />
ilegal que não tem razão para<br />
isso. Que não fizeram nada<br />
<strong>contra</strong> os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. E<br />
se os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se dizem<br />
anti-terroristas, porque não liberam<br />
eles?<br />
Eles foram presos pelo <strong>governo</strong><br />
Bush.<br />
Causa Operária – Em que<br />
condições eles estão lá agora?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Estão totalmente isola<strong>do</strong>s,<br />
sem receber visitas <strong>do</strong>s familiares.<br />
O problema é que os<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não facilita,<br />
não dá visto para a família. No<br />
ano passa<strong>do</strong> morreu a mãe de<br />
Antonio morreu em Cuba,<br />
sem conseguir viajar para ver<br />
o filho.<br />
Os outros estão sem poder<br />
ver as filhas, a mulher, nada.<br />
Todas as vezes que tentaram,<br />
tiveram que voltar, porque os<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s não dão visto<br />
a elas.<br />
Causa Operária - Há semelhanças<br />
com o caso <strong>do</strong>s<br />
italianos Sacco e Vanzetti?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Sim, é a mesma coisa. Eles<br />
estão sen<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>s e foram<br />
condena<strong>do</strong>s de coisas que não<br />
são verdade.<br />
Causa Operária – O senhor<br />
atribui isso a tentativa de<br />
impedir que Cuba se defenda<br />
<strong>do</strong>s ataques <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />
Miguel Arango Moral – O<br />
problema é o seguinte. Isso<br />
demonstra muito claramente<br />
que o <strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s <strong>desde</strong> o começo da revolução,<br />
tem feito muita coisa<br />
para tentar derrubar a revolução,<br />
mas não estão conseguin<strong>do</strong>.<br />
Tem pessoas que não acreditam<br />
que nós falamos de seiscentos<br />
e tantos tentativas de<br />
assassinato <strong>do</strong> Fidel [Castro].<br />
Eles mesmos contam. Os arquivos<br />
da CIA que foram libera<strong>do</strong>s<br />
e contam como foram<br />
as tentativas de matar Fidel.<br />
Infelizmente, nós podemos<br />
ver o problema com o <strong>governo</strong><br />
Obama que muita gente tinha<br />
muitas expectativas. E<br />
estas expectativas foram falsas.<br />
Obama está viran<strong>do</strong> um<br />
cara pior que Bush. Porque<br />
Bush é um estúpi<strong>do</strong> político.<br />
Totalmente estúpi<strong>do</strong> político.<br />
Bush nunca foi político.<br />
Toda a guerra <strong>do</strong> Iraque,<br />
porque o problema dele é só o<br />
petróleo. Mas Obama que no<br />
começo e quan<strong>do</strong> estava na<br />
candidatura, estava parecen<strong>do</strong><br />
bonzinho. Mas não fez<br />
nada. Obama prometeu fechar<br />
a base de Guantánamo<br />
que é um terreno ilegalmente<br />
ocupa<strong>do</strong> de Cuba e não devolvem<br />
para Cuba. Não fechou<br />
nada. A base de Guantánamo<br />
está aberta, com prisioneiros.<br />
Obama podia fazer alguma<br />
coisa para melhorar as relações<br />
de Cuba com os Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e só está pioran<strong>do</strong>.<br />
Pioran<strong>do</strong> porque<br />
Obama está dan<strong>do</strong> dinheiro<br />
para os <strong>contra</strong>revolucionários<br />
fazerem<br />
campanhas <strong>contra</strong><br />
Cuba.<br />
Está até pior. Toda<br />
esta campanha midiática<br />
nos países em torno<br />
de Cuba. Tu<strong>do</strong> é planeja<strong>do</strong><br />
pelos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s. E Obama a<br />
frente.<br />
Causa Operária – A<br />
imprensa brasileira<br />
não fala nada sobre<br />
este caso. O senhor<br />
pode comentar?<br />
Miguel Arango<br />
Moral – Isso me dá<br />
raiva. Não comentam<br />
nada sobre os cubanos,<br />
os cinco patriotas.<br />
Agora sobre o Zapata<br />
falaram. Criticaram<br />
Lula porque Lula falou<br />
que o cara era preso<br />
comum, delinqüente.<br />
To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabe que<br />
é verdade. Que Zapata era um<br />
delinqüente. Que foi preso<br />
porque atacou um homem<br />
com um facão e roubou. Tinha<br />
vários delitos.<br />
Tu<strong>do</strong> isso faz parte de tentar<br />
destruir a Revolução Cubana<br />
que não puderam. Com<br />
to<strong>do</strong>s os ban<strong>do</strong>s <strong>contra</strong>-revolucionários,<br />
a CIA e toda a<br />
sabotagem, não conseguiram.<br />
Porque sempre tem alguém<br />
meti<strong>do</strong> no meio que avisa para<br />
Cuba em tempo como aconteceu<br />
com os cinco patriotas.<br />
Os cinco patriotas evitaram<br />
muitas mortes. Quan<strong>do</strong> Cuba<br />
achava que tinha um volume<br />
amplo de informações das coisas<br />
que eles sabiam e que eles<br />
tinham. Sabiam as pessoas<br />
que iam fazer, onde, m que<br />
momento. Entregaram para o<br />
<strong>governo</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
e por isso eles foram presos.<br />
Causa Operária – Teve alguma<br />
posição oficial <strong>do</strong> <strong>governo</strong><br />
norte-americano a respeito<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Oficialmente não fizeram<br />
nada. O que fizeram foi mandar<br />
prender os caras. Pelas informações<br />
chegaram aos nossos<br />
patriotas que não tiveram<br />
tempo de voltar para Cuba.<br />
Causa Operária – Gostaria<br />
de fazer considerações finais?<br />
Miguel Arango Moral –<br />
Eu acho que é importante a<br />
solidariedade que o Brasil tenha<br />
para com Cuba. Porque<br />
neste momento temos que estar<br />
alerta. Eles estão tentan<strong>do</strong><br />
uma coisa que durante anos<br />
não conseguiram. Estão tentan<strong>do</strong><br />
fazer com que surja em<br />
Cuba uma espécie de guerra<br />
civil. Estão estimulan<strong>do</strong> a violência.<br />
E a mídia está incentivan<strong>do</strong><br />
isso. O parlamento<br />
Europeu se pronunciou <strong>contra</strong><br />
Cuba. E outros países. A<br />
tentativa é isolar cada vez<br />
mais Cuba. E isso é perigoso.<br />
Obama está cada vez mais<br />
sen<strong>do</strong> guerrerista como, tanto<br />
quanto foi Bush. Está incentivan<strong>do</strong><br />
a guerra entre as<br />
duas Coréias. Ninguém sabe<br />
aonde pode levar. Isso é muito<br />
perigoso, pois estão incentivan<strong>do</strong>.<br />
Eles precisam manter<br />
a hegemonia e a venda das<br />
armas e a indústria armamentista<br />
e tu<strong>do</strong> isso.<br />
Tem que ter cuida<strong>do</strong> com<br />
isso. Na América estão tentan<strong>do</strong><br />
virar na posição que<br />
tinha alguns anos atrás.<br />
Quan<strong>do</strong> tinha Kirchner na<br />
Argentina, Lula no Brasil,<br />
Ortega na Nicarágua, Chavez<br />
na Venezuela. Agora colocaram<br />
este Uribe na Colômbia<br />
que é um cara totalmente vendi<strong>do</strong><br />
para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
e que estabelecer uma base<br />
militar <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s na<br />
Colômbia. Para quê? Fazer<br />
policiamento da América e<br />
controlar toda a América. Ele<br />
está se meten<strong>do</strong> militarmente.<br />
E daqui a pouco voltamos.<br />
Como deu para ver o golpe de<br />
esta<strong>do</strong> em Honduras e nada<br />
aconteceu. Porque eles apoiaram.<br />
Há um dita<strong>do</strong> que diz<br />
que há só um país que nunca<br />
poderá haver um golpe de esta<strong>do</strong>,<br />
que é os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Porque é o único país que<br />
não tem uma embaixada <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s os<br />
golpes militares, golpes de<br />
esta<strong>do</strong> são forja<strong>do</strong>s e planeja<strong>do</strong>s<br />
pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Eles reconheceram o <strong>governo</strong><br />
e nada aconteceu.<br />
Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s apoiaram<br />
o golpe de esta<strong>do</strong> em Honduras.<br />
Agora se mete na Coréia,<br />
na Nicarágua.<br />
A situação está muito ruim.<br />
É um ataque a América Latina.<br />
Nós vemos que atacar a<br />
Cuba neste momento tem um<br />
propósito duplo. Atacar a<br />
Cuba é também atacar o Brasil,<br />
porque os jornais falam<br />
que Lula é amigo de Cuba.
ANO XXXI • Nº 588 • DE 30 DE mAIO a 5 DE junho DE 2010<br />
As idéias <strong>do</strong> panafricanismo<br />
<br />
Página B2 e B3<br />
O Indigenismo haitianoPáginas B4 e B5<br />
A luta<br />
revolucionária<br />
e movimento<br />
negrista em Cuba<br />
<br />
Página B6<br />
Os Congressos Pan-Africanos<br />
na Europa <br />
Páginas B3<br />
O surgimento da<br />
literatura negra em<br />
Paris<br />
<br />
Páginas B7<br />
O movimento Negritude Páginas B8<br />
O nascimento da literatura<br />
negra nas primeiras décadas<br />
<strong>do</strong> século XX foi uma<br />
manifestação, no terreno<br />
das artes, de diversas idéias<br />
políticas elaboradas pelos<br />
negros em sua luta <strong>contra</strong> a<br />
opressão, <strong>contra</strong> os regimes<br />
de segregação racial e <strong>contra</strong><br />
as políticas coloniais. Nesta<br />
edição apresentamos algumas<br />
destas idéias, bem como<br />
a maneira como se organizaram<br />
alguns destes movimentos<br />
literários negros<br />
SÉRIE ESPECIAL DO CADERNO CULTURAL, PARTE III<br />
AS IDÉIAS QUE<br />
INFLUENCIARAM A<br />
LITERATURA NEGRA
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B2<br />
as idéias que influenciaram a literatura negra<br />
O SURGIMENTO DO PAN-<br />
AFRICANISMO NOS PAÍSES<br />
ANGLÓFONOS: INGLATERRA,<br />
ESTADOS UNIDOS E JAMAICA<br />
O rápi<strong>do</strong> desenvolvimento<br />
da literatura negra a partir das<br />
primeiras décadas <strong>do</strong> século<br />
XX representava uma etapa de<br />
amadurecimento de um movimento<br />
anterior de evolução da<br />
consciência política e cultural<br />
<strong>do</strong> negro nos diversos países<br />
onde se en<strong>contra</strong>va, sobretu<strong>do</strong><br />
no que diz respeito à busca pela<br />
a firmação de sua raça, a característica<br />
distintiva desta nova<br />
literatura.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, uma das<br />
mais importantes e influentes<br />
correntes intelectuais negras,<br />
seria o chama<strong>do</strong> pan-africanismo,<br />
surgi<strong>do</strong> primeiro na Inglaterra,<br />
mas que alcançaria um<br />
grande desenvolvimento apenas<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Através de um intenso trabalho<br />
intelectual e de agitação<br />
cultural e política, estas idéias<br />
se espalhariam a partir daí<br />
para o restante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> negro,<br />
no Caribe, nos demais países<br />
europeus e finalmente, na<br />
África, onde serviria de ferramenta<br />
teórica para os grandes<br />
movimentos políticos de libertação<br />
nacional após o término<br />
da Segunda Guerra. Estas lutas<br />
seriam um <strong>do</strong>s mais importantes<br />
e amplos fenômenos políticos<br />
da segunda metade <strong>do</strong> século<br />
XX, lutas que tiveram seu<br />
perío<strong>do</strong> de preparação durante<br />
as primeiras cinco décadas <strong>do</strong><br />
século.<br />
Sylvester<br />
Williams e o<br />
nascimento <strong>do</strong><br />
pan-africanismo<br />
na Inglaterra<br />
Sylvester Williams<br />
Nasci<strong>do</strong> na ilha caribenha<br />
de Trinidad, colônia britânica,<br />
Henry Sylvester William foi um<br />
proeminente advoga<strong>do</strong> e militante<br />
<strong>do</strong> movimento negro que,<br />
partin<strong>do</strong> para a metrópole colonial<br />
inglesa, se tornaria um <strong>do</strong>s<br />
grandes pioneiros das idéias<br />
pan-africanas.<br />
Depois de militar durante<br />
muitos anos em seu país natal,<br />
chegou à Inglaterra em 1896,<br />
onde formou, um ano mais tarde,<br />
a Associação Africana, buscan<strong>do</strong><br />
lutar <strong>contra</strong> o racismo e<br />
o colonialismo <strong>do</strong> imperialismo<br />
britânico.<br />
A organização teria vida efêmera,<br />
mas teve uma influência<br />
decisiva em to<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />
posterior das idéias panafricanas.<br />
Sua iniciativa mais<br />
importante foi a realização em<br />
Londres, em 1900, da Conferência<br />
Pan-Africana, onde se<br />
reuniram negros vin<strong>do</strong>s de diversas<br />
nações na África Ocidental<br />
e <strong>do</strong> Sul, Caribe e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s.<br />
Entre os 30 delega<strong>do</strong>s presentes<br />
na reunião estava o norte-americano<br />
W. E. B. Du Bois,<br />
que se tornará em seu país, o<br />
mais importante propaga<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> pan-africanismo no perío<strong>do</strong><br />
seguinte. Segun<strong>do</strong> Du Bois afirmaria<br />
mais tarde, foi esta conferência<br />
que fixou pela primeira<br />
vez o termo “pan-africanismo”<br />
com um conteú<strong>do</strong> defini<strong>do</strong>, a<br />
tentativa de unificação <strong>do</strong>s movimentos<br />
negros de diferentes<br />
países em torno de uma organização<br />
internacional comum.<br />
Este encontro foi de suma importância.<br />
Através <strong>do</strong>s contatos<br />
pessoais destes delega<strong>do</strong>s, os<br />
debates aí levanta<strong>do</strong>s teriam<br />
repercussão mesmo entre o <strong>governo</strong><br />
inglês.<br />
Após esta reunião, imediatamente<br />
foram instaladas frentes<br />
de difusão <strong>do</strong> pan-africanismo<br />
em países como Trinidad, Jamaica<br />
e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Frentes<br />
que seriam responsáveis<br />
pelo primeiro impulso importante<br />
para a aproximação de<br />
militantes negros destes países.<br />
Sylvester William continuaria<br />
sua atividade política viajan<strong>do</strong><br />
por diferentes nações<br />
propagan<strong>do</strong> seu programa,<br />
sem, contu<strong>do</strong>, ter consegui<strong>do</strong><br />
nunca formar uma organização<br />
consistente que resguardasse<br />
os ideais <strong>do</strong> pan-africanismo.<br />
Ele morreria por fim em 1911,<br />
época em que trabalhava na Libéria,<br />
importante país africano<br />
que <strong>já</strong> havia conquista<strong>do</strong> sua independência<br />
ainda no final <strong>do</strong><br />
século XIX, e visto assim como<br />
um símbolo de resistência para<br />
to<strong>do</strong>s os países negros que buscavam<br />
sua soberania.<br />
O pan-africanismo, de um<br />
mo<strong>do</strong> geral defenderá a unificação<br />
das comunidades negras,<br />
dentro e fora da África, em<br />
um terreno comum, buscan<strong>do</strong>,<br />
antes de tu<strong>do</strong>, a libertação<br />
política da população negra <strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>mínio branco, e a partir daí,<br />
impulsionar um efetivo desenvolvimento<br />
econômico, político<br />
social e cultural.<br />
Estes intelectuais e militantes<br />
<strong>do</strong> movimento negro defenderão<br />
programas políticos<br />
varia<strong>do</strong>s. Enquanto que o escritor<br />
e tribuno político norteamericano<br />
W. E. B. Du Bois defenderá<br />
a luta <strong>do</strong>s negros pela<br />
conquista de direitos políticos<br />
iguais aos brancos até sua integração<br />
na sociedade onde nasceram,<br />
duas décadas mais tarde,<br />
Marcus Garvey defenderá<br />
uma política de segregação racial,<br />
através da qual ele veria a<br />
única possibilidade de progresso<br />
para os negros, defenden<strong>do</strong><br />
seu retorno à África, segun<strong>do</strong><br />
ele, a “pátria-mãe” de to<strong>do</strong>s os<br />
negros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Apesar das<br />
diferentes estratégias de luta,<br />
ambos partiam da mesma premissa:<br />
a urgente necessidade<br />
de libertação <strong>do</strong>s negros no interior<br />
da sociedade branca. Daí<br />
a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> pan-africanismo<br />
como ideologia geral destes<br />
movimentos, que expressava<br />
a busca pela unificação <strong>do</strong> movimento<br />
negro internacional<br />
em torno de seus objetivos comuns.<br />
Desta luta inicial virá, na<br />
etapa seguinte, a grande valorização<br />
por parte de uma ala<br />
da intelectualidade negra, da<br />
cultura autóctone africana, <strong>do</strong><br />
folclore popular negro de seus<br />
países, das religiões negras, de<br />
suas lendas, a tradição da literatura<br />
oral vinda das tribos<br />
negras como parte <strong>do</strong> esforço<br />
de criar uma base cultural para<br />
o desenvolvimento da luta <strong>do</strong><br />
negro.<br />
A literatura surgida a partir<br />
da influência destas idéias<br />
entre os escritores negros fará<br />
deste sentimento de comunhão<br />
um <strong>do</strong>s mais importantes aspectos<br />
da literatura negra moderna,<br />
forman<strong>do</strong> artistas que<br />
manifestariam uma profunda<br />
empatia com a miséria física e<br />
espiritual <strong>do</strong> povo negro em to<strong>do</strong>s<br />
os países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
As primeiras manifestações<br />
intelectuais no senti<strong>do</strong> de se<br />
formular um programa mais<br />
abrangente de união <strong>do</strong>s povos<br />
negros no mun<strong>do</strong> surgiriam <strong>já</strong><br />
nos séculos XVII e XVIII. Mas<br />
estas idéias ainda embrionárias<br />
apenas se manifestariam como<br />
uma tendência mais definida a<br />
partir da reação anticolonialista<br />
que se seguiu à partilha da<br />
África, realizada entre as potências<br />
imperialistas européias<br />
em 1884.<br />
O programa educacional<br />
de Booker T. Washington<br />
Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, onde<br />
o pan-africanismo terá grande<br />
desenvolvimento, estas idéias<br />
começariam a surgir de forma<br />
marcante algumas décadas<br />
após a abolição <strong>do</strong> escravismo<br />
em 1865. Neste momento, todas<br />
as expectativas <strong>do</strong>s negros<br />
de viverem como homens livres<br />
acabariam frustradas pela instauração,<br />
principalmente nas<br />
cidades <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> país, de rígidas<br />
leis segregacionistas, conhecidas<br />
como Leis Jim Crow, que<br />
criariam um novo obstáculo à<br />
inserção <strong>do</strong>s negros no interior<br />
da sociedade norte-americana.<br />
Nesse perío<strong>do</strong> surgiria uma<br />
importante tradição de militantes<br />
negros, <strong>já</strong> <strong>desde</strong> finais <strong>do</strong><br />
século XVIII, mas que ganharia<br />
verdadeira importância após<br />
1865. Já no final <strong>do</strong> século XIX,<br />
o mais importante destes representantes,<br />
entre 1890 e 1915,<br />
seria Booker T. Washington.<br />
Washington pode ser considera<strong>do</strong><br />
um continua<strong>do</strong>r da luta<br />
de to<strong>do</strong>s os líderes negros norteamericanos<br />
<strong>desde</strong> 1830, colocan<strong>do</strong><br />
em prática diversas idéias<br />
<strong>já</strong> expressas pelo líder abolicionista<br />
Frederick Douglass.<br />
Washington fora um ex-escravo<br />
e membro da classe operária<br />
negra. Sua atuação se baseava<br />
na idéia de que a libertação<br />
<strong>do</strong> negro no interior da sociedade<br />
se daria unicamente através<br />
de sua educação. Era <strong>contra</strong> a<br />
luta política <strong>do</strong>s negros por seus<br />
direitos democráticos, restringin<strong>do</strong><br />
o movimento a reivindicações<br />
puramente econômicas.<br />
Washington acreditava que a<br />
segregação racial era positiva e<br />
natural. Em uma sociedade com<br />
duas nações distintas, cada uma<br />
delas deveria desenvolver suas<br />
próprias instituições.<br />
Considerava degradante a<br />
luta <strong>do</strong>s negros pela sua inserção<br />
Du Bois, em defesa <strong>do</strong>s direitos civis <strong>do</strong>s negros<br />
Ten<strong>do</strong> começa<strong>do</strong> sua militância<br />
como discípulo de Booker T.<br />
Washington, Du Bois <strong>já</strong> nos últimos<br />
anos <strong>do</strong> século XIX, passou a<br />
desferir duras críticas <strong>contra</strong> suas<br />
concepções. Du Bois baseou sua<br />
política em um minucioso balanço<br />
<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da luta puramente<br />
econômica <strong>do</strong> grupo de Washington.<br />
Segun<strong>do</strong> Du Bois concluiu, sem<br />
influência política alguma no <strong>governo</strong>,<br />
as conquistas econômicas<br />
se revelaram efêmeras e vulneráveis.<br />
Acrescentava que mesmo seu<br />
programa educacional era limita<strong>do</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> suas conclusões, deveria<br />
incluir o ensino das ciências<br />
políticas, para que daí pudessem<br />
surgir os líderes tão necessários ao<br />
movimento negro.<br />
Em uma época onde a violência<br />
<strong>contra</strong> os negros alcançava níveis<br />
alarmantes, Du Bois passaria então<br />
a defender a luta política <strong>do</strong>s<br />
negros pela conquista de direitos<br />
democráticos que de fato resguardassem<br />
a integridade física de seu<br />
povo, mas que também assegurassem<br />
as mesmas oportunidades<br />
e conquistas trabalhistas que os<br />
brancos na indústria.<br />
Cada vez mais convenci<strong>do</strong> destas<br />
conclusões, Du Bois se tornará<br />
também um influente líder negro,<br />
um <strong>do</strong>s maiores da primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XX, através de sua<br />
militância política e cultural na<br />
NAACP, sigla em inglês para Associação<br />
Nacional para o Avanço das<br />
Pessoas de Cor.<br />
Em 1900, descontente com a<br />
política de Washington, Du Bois<br />
participará <strong>do</strong> Congresso Pan-<br />
Africano de Sylvester William.<br />
Retornan<strong>do</strong> aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
em 1903 romperá definitivamente<br />
com Washington. Dois anos mais<br />
tarde, fundará o histórico Movimento<br />
Niágara, volta<strong>do</strong> para a luta<br />
política <strong>do</strong>s negros que Washington<br />
rejeitava.<br />
O grupo encerraria suas atividades<br />
em 1909, mas apenas um<br />
ano mais tarde, em 1910, Du Bois<br />
estaria entre os funda<strong>do</strong>res da influente<br />
NAACP, organização em<br />
atividade até os dias de hoje.<br />
Entre os princípios políticos<br />
que elaborou, defendeu que entre<br />
a população negra existia uma<br />
vanguarda culta, intelectualmente<br />
esclarecida, que tinha o dever de se<br />
engajar na luta <strong>do</strong> povo negro por<br />
melhores condições de existência.<br />
Esta concepção, que possui um<br />
paralelo óbvio com o conceito marxista<br />
de vanguarda política, faria<br />
com que Du Bois voltasse a propaganda<br />
política de sua organização<br />
equivocamente, sempre para pequenas<br />
elites intelectuais, ao invés<br />
da mobilização verdadeiramente<br />
ampla das massas negras no País.<br />
Outro aspecto que Du Bois levantou<br />
pela primeira vez, e que<br />
teria grande influência sobre a<br />
literatura negra no perío<strong>do</strong> posterior,<br />
era a grande contribuição<br />
cultural que os negros deram ao<br />
país, mas que os brancos esforçavam<br />
por manter como uma cultura<br />
marginal aos olhos de to<strong>do</strong>s. Em<br />
um de seus ensaios de artigos políticos<br />
mais importantes, As Almas<br />
<strong>do</strong> Povo Negro, ele refletirá sobre<br />
o assunto. “Nossa canção, nosso<br />
trabalho, nossa disposição e advertência<br />
têm si<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s a esta nação<br />
em irmandade de sangue. Tais dádivas<br />
não serão dignas de oferecer?<br />
Nem nosso trabalho e empenho? A<br />
América seria a América sem o seu<br />
povo negro?”. Perguntas decisivas<br />
para o surgimento de uma nova visão<br />
a respeito <strong>do</strong> caráter da nação<br />
norte-americana, onde a cultura<br />
própria <strong>do</strong>s negros teria desempenha<strong>do</strong><br />
um papel decisivo na formação<br />
de sua nacionalidade.<br />
Esta será uma das principais<br />
tarefas que os escritores negros da<br />
Renascença <strong>do</strong> Harlem irão buscar<br />
resolver a partir da década de<br />
1920. O que trás à tona, por sua<br />
vez, a grande similaridade que a<br />
moderna literatura negra terá com<br />
outros modernismos americanos<br />
e sua busca pela representação artística<br />
da formação original de sua<br />
própria cultura.<br />
Du Bois e o NAACP, cuja sede estava<br />
instalada no Harlem, teriam<br />
grande influência e participação<br />
Um <strong>do</strong>s objetivos mais essenciais que motivará<br />
a maioria <strong>do</strong>s escritores negros no século XX,<br />
será o programa pan-africano surgi<strong>do</strong> na virada<br />
<strong>do</strong> século e propaga<strong>do</strong> por diferentes intelectuais<br />
negros em sua militância. Apresentamos a seguir<br />
um resumo destas idéias de forma panorâmica<br />
em uma sociedade branca que o<br />
desprezava, afirman<strong>do</strong> que o negro<br />
deveria trilhar seu próprio<br />
caminho. Era um defensor da<br />
igualdade de direitos <strong>do</strong>s negros<br />
diante <strong>do</strong>s brancos, mas não da<br />
integração das duas populações.<br />
Buscou apoio para suas<br />
idéias entre diversos setores<br />
burgueses, tanto no Norte<br />
quanto no Sul. Iniciativa bem<br />
sucedida devi<strong>do</strong> tanto ao caráter<br />
modera<strong>do</strong> de suas posições,<br />
quan<strong>do</strong> ao grande talento de<br />
Washington como político e líder<br />
carismático.<br />
O Compromisso de<br />
Atlanta e a defesa<br />
da segregação racial<br />
Como sua política se baseava<br />
em formulações puramente<br />
econômicas, lutou pela criação<br />
de escolas, universidades e instituições<br />
de qualificação técnica<br />
profissional voltadas para o ingresso<br />
<strong>do</strong>s negros na indústria.<br />
Ele mesmo foi diretor de uma<br />
importante escola para negros,<br />
o Instituto de Tuskegee, no Alabama,<br />
a partir de 1881 e até sua<br />
morte em 1915.<br />
O auge da popularidade de<br />
Washington se deu por volta de<br />
1895, ocasião em que conseguiu<br />
consolidar a unidade entre industriais<br />
<strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Sul pela<br />
qual Washington tanto aguardara,<br />
através de um famoso discurso<br />
mais tarde lembra<strong>do</strong> como<br />
o Compromisso de Atlanta.<br />
Pronuncia<strong>do</strong> para uma platéia<br />
de industriais brancos da<br />
Atlanta Cotton States, Booker<br />
T. Washington apresentava de<br />
forma mais acabada suas idéias<br />
para a solução <strong>do</strong> problema <strong>do</strong>s<br />
negros nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Aí ele diria: “Em todas as coisas<br />
puramente sociais, podemos<br />
ser tão separa<strong>do</strong>s como os cinco<br />
neste movimento literário negro,<br />
organizan<strong>do</strong>, publican<strong>do</strong> e promoven<strong>do</strong><br />
muitos destes escritores nacional<br />
e internacionalmente.<br />
O pan-africanismo<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
W.E.B. Du Bois fora um intelectual<br />
negro singular em seu país.<br />
Nasci<strong>do</strong> em um família burguesa,<br />
teve oportunidade de estudar nos<br />
melhores colégios na juventude.<br />
Foi o primeiro negro norte-americano<br />
a formar-se na Universidade<br />
de Harvard e posteriormente na<br />
Universidade de Berlim, na Alemanha.<br />
Nestas instituições, estudan<strong>do</strong><br />
as mais avançadas idéias de liberdade<br />
e democracia, baseadas na<br />
tradição alemã, inglesa e norteamericana,<br />
percebeu que o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro era<br />
assunto proibi<strong>do</strong> para discussão,<br />
relega<strong>do</strong> a segun<strong>do</strong> plano, e nunca<br />
apresenta<strong>do</strong> como uma <strong>contra</strong>dição<br />
de fato.<br />
Sua experiência militante o levaria<br />
<strong>do</strong> programa educacional de<br />
Washington, à luta política de fato<br />
no movimento Niágara e posteriormente<br />
na NAACP.<br />
Sempre buscou relacionar a luta<br />
<strong>do</strong>s negros em seu país com aquela<br />
travada em outras nações negras.<br />
Seu primeiro contato com estas<br />
idéias ocorreu em 1900, através de<br />
de<strong>do</strong>s e, no entanto, podemos<br />
ser um, como a mão, em todas<br />
as coisas essenciais ao progresso<br />
mútuo”.<br />
Reafirmaria o descaso da sociedade<br />
branca em combater o<br />
problema <strong>do</strong> racismo no interior<br />
<strong>do</strong> País, mas se posicionava <strong>contra</strong><br />
a integração das raças: “os<br />
mais sábios entre minha raça<br />
entendem que a agitação em<br />
torno das questões de igualdade<br />
social é a mais extrema loucura”.<br />
Suas posições iam ao encontro<br />
tanto aos interesses <strong>do</strong>s capitalistas<br />
<strong>do</strong> Sul, que encarava<br />
estas idéias como a capitulação<br />
definitiva das idéias de igualdade<br />
entre as raças; quanto <strong>do</strong><br />
Norte que via aí a possibilidade<br />
de um lucrativo trabalho conjunto.<br />
Este acor<strong>do</strong> – apelida<strong>do</strong><br />
posteriormente por W. E. B.<br />
Du Bois como “Acomodação de<br />
Atlanta” – tornaria Washington<br />
o mais influente líder negro de<br />
sua geração.<br />
Suas posições só podem<br />
ser corretamente compreendidas<br />
diante <strong>do</strong> fato que, em<br />
sua época, estimula<strong>do</strong>s pela<br />
burguesia norte-americana, a<br />
hostilidade <strong>do</strong>s brancos para<br />
com os negros era gigantesca,<br />
de maneira que muitos setores<br />
eram leva<strong>do</strong>s a encarar o<br />
fim da segregação como uma<br />
impossibilidade, ou simplesmente<br />
nociva para os negros.<br />
Posições que, no entanto, que<br />
seriam duramente combatidas<br />
e criticadas na etapa seguinte.<br />
Defenden<strong>do</strong> a segregação,<br />
Washington conclui que o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro só<br />
poderia ser contorna<strong>do</strong> com sua<br />
ascensão econômica, através da<br />
formação educacional e técnica<br />
pra o merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
O grande sucesso <strong>do</strong> programa<br />
de ensino <strong>do</strong> Instituto de<br />
Tuskegee também daria uma<br />
Sylvester William, por ocasião <strong>do</strong><br />
Congresso Pan-Africano <strong>do</strong> qual<br />
participava como delega<strong>do</strong>. Estas<br />
idéias confluiriam com as que lhe<br />
seriam apresentadas em 1906, assistin<strong>do</strong><br />
a uma palestra de Franz<br />
Boas na Universidade de Atlanta,<br />
apresentan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s pioneiros<br />
sobre a importância da cultura <strong>do</strong>s<br />
negros subsaarianos na para o desenvolvimento<br />
das antigas civilizações<br />
<strong>do</strong> Mediterrâneo.<br />
Nestes anos, Du Bois passaria<br />
cada vez mais a relacionar o problema<br />
da opressão <strong>do</strong> negro em<br />
torno de um problema geral, que<br />
unificava a to<strong>do</strong>s os movimentos<br />
negros.<br />
Na medida em que percebia o<br />
permanente encobrimento das<br />
contribuições originais <strong>do</strong>s negros<br />
à cultura e à sociedade em geral,<br />
motivada por uma <strong>do</strong>minação política<br />
comum a to<strong>do</strong>s eles, Du Bois<br />
foi aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> suas idéias humanistas<br />
da juventude em virtude<br />
de uma nova consciência da real situação<br />
de opressão <strong>do</strong>s negros pelo<br />
colonialismo e pelo imperialismo,<br />
cujo exemplo norte-americano era<br />
apenas uma expressão particular<br />
de um problema geral. Em outras<br />
palavras, um verdadeiro humanismo,<br />
que compreendia agora o<br />
problema <strong>do</strong> negro e não mais o<br />
pseu<strong>do</strong>-humanismo ensina<strong>do</strong> pelas<br />
universidades das metrópoles<br />
coloniais.<br />
A obra de Du Bois seria a importante<br />
expansão das fronteiras<br />
contribuição decisiva para a<br />
influência de suas idéias. Seu<br />
programa concilia<strong>do</strong>r, que se<br />
declarava também <strong>contra</strong> a luta<br />
sindical política, conseguiu um<br />
apoio imenso de inúmeros setores<br />
de industriais, e mesmo de<br />
políticos no <strong>governo</strong>, como presidente<br />
norte-americano Theo<strong>do</strong>re<br />
Roosevelt.<br />
Isso porque Washington era<br />
também <strong>contra</strong> a revolta social<br />
<strong>do</strong>s negros, favorável a uma<br />
convivência pacífica, que seria<br />
alicerçada na resolução <strong>do</strong>s<br />
problemas <strong>do</strong>s negros através<br />
de sua própria iniciativa independente<br />
<strong>do</strong>s brancos, no que<br />
ele chamou de “auto-ajuda”.<br />
Formulação que, apesar de limitada,<br />
era importante em diversos<br />
aspectos, expressan<strong>do</strong> <strong>já</strong> a<br />
consciência que o problema <strong>do</strong>s<br />
negros só poderia ser resolvi<strong>do</strong><br />
pelos próprios negros, e não da<br />
iniciativa <strong>do</strong>s brancos, como<br />
acreditavam outros setores <strong>do</strong><br />
movimento negro nesta época.<br />
Durante algum tempo, seu<br />
programa educacional alcançaria<br />
grandes êxitos, ten<strong>do</strong><br />
como principal virtude a de<br />
ter dissemina<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o<br />
país a idéia de que a educação<br />
industrial <strong>do</strong>s negros era fundamental<br />
para sua independência<br />
econômica, e parte de<br />
sua luta pela libertação política,<br />
conclusão que Washington<br />
ignorava mas que seria tirada<br />
pelo movimento negro posterior.<br />
Na virada <strong>do</strong> século, a política<br />
de Washington começaria<br />
a ser criticada de forma cautelosa,<br />
mas determinada, por<br />
um de seus segui<strong>do</strong>res, que se<br />
tornaria, a partir <strong>do</strong> novo século,<br />
seu mais duro e influente<br />
opositor, o intelectual e militante<br />
negro William Edward<br />
Burghardt Du Bois.<br />
<strong>do</strong> provinciano movimento negro<br />
norte-americano, para o terreno<br />
favoravelmente mais amplo <strong>do</strong><br />
pan-africanismo. Movimento internacionalista<br />
por excelência. Seu<br />
programa em defesa da libertação<br />
negra, na etapa madura, se alinharia<br />
em torno de um eixo político<br />
defini<strong>do</strong> de apoio a todas as nações<br />
oprimidas pelo imperialismo,<br />
como os países asiáticos e da África<br />
Branca.<br />
Em uma palestra de 1920 ele<br />
afirmará:“É evidente que, em face<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento da África<br />
Central, o Egito deve ser livre e<br />
independente, no grande caminho<br />
que conduz a uma Índia livre e independente,<br />
ao passo que o Marrocos,<br />
a Argélia, a Tunísia e Trípoli<br />
devem religar-se à Europa, modernizan<strong>do</strong>-se<br />
na independência”.<br />
Idéias que mostram uma aproximação<br />
de Du Bois <strong>do</strong> programa <strong>do</strong><br />
internacionalismo revolucionário<br />
da classe operária e sua defesa das<br />
nações oprimidas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Parte<br />
inerente da revolução socialista,<br />
defendi<strong>do</strong> pelos marxistas.<br />
Antes de Du Bois, não havia<br />
intercâmbio algum entre as experiências<br />
políticas e idéias <strong>do</strong>s<br />
movimentos africanos e o norteamericano.<br />
Esta talvez tenha si<strong>do</strong><br />
sua obra mais importante, consolidada<br />
a partir <strong>do</strong>s importantes congressos<br />
pan-africanos promovi<strong>do</strong>s<br />
por Du Bois em diversos países ao<br />
longo de toda a primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XX.
30 de maio de 2010<br />
Com Du Bois, concretizouse<br />
finalmente o programa<br />
pan-africano de unificação <strong>do</strong><br />
movimento negro internacional<br />
preconiza<strong>do</strong> por Sylvester<br />
Williams. Programa que<br />
hoje é, com maior ou menor<br />
consequência, parte inerente<br />
a to<strong>do</strong>s os nacionalismos negros<br />
africanos, e que na época<br />
de Du Bois, desempenhou o<br />
papel fundamental de preparação<br />
para os êxitos políticos<br />
<strong>do</strong>s negros em suas lutas pela<br />
independência na África e o<br />
fim da segregação racial nos<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s nas décadas<br />
de 1950-60-70.<br />
O primeiro destes congressos<br />
foi organiza<strong>do</strong> imediatamente<br />
após o término da<br />
Primeira Guerra, impulsiona<strong>do</strong><br />
pela gigantesca crise revolucionária<br />
que se seguiu a ela<br />
e em meio da qual eclodiu a<br />
Revolução Russa de 1917.<br />
O Congresso Pan-Africano<br />
de Paris foi promovi<strong>do</strong> em<br />
1919, em meio a uma enorme<br />
crise racial que se espalhava<br />
por to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Apenas neste ano, 83 negros<br />
foram lincha<strong>do</strong>s por grupos<br />
racistas, 11 deles queima<strong>do</strong>s<br />
vivos.<br />
O congresso contou com<br />
cerca de 50 delega<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
Os primeiros congressos pan-africanos<br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Caribe<br />
e África, principalmente das<br />
colônias francesas e britânicas,<br />
discutin<strong>do</strong> os problemas<br />
políticos <strong>do</strong> momento, como<br />
a defesa da independência<br />
das ex-colônias alemãs, e a<br />
urgente necessidade de negros<br />
disporem de si mesmos,<br />
tanto na África, quanto no<br />
Caribe e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. O<br />
principal argumento utiliza<strong>do</strong><br />
por estes intelectuais,<br />
era o fato de 100 mil negros<br />
norte-americanos terem si<strong>do</strong><br />
envia<strong>do</strong>s a lutar na Guerra, e<br />
estes mesmos homens, sem<br />
desertar, retornaram vitoriosos<br />
ao seu país, voltan<strong>do</strong>, no<br />
entanto, a ser trata<strong>do</strong>s como<br />
cidadãos de segunda classe e<br />
não como heróis nacionais,<br />
como seria natural. A guerra<br />
de fato havia acentua<strong>do</strong> como<br />
nunca as <strong>contra</strong>dições da sociedade<br />
norte-americana,<br />
responsável pelo rápi<strong>do</strong> amadurecimento<br />
da consciência<br />
destes negros em seu país. A<br />
organização deste congresso<br />
pan-africano era um resulta<strong>do</strong><br />
disso.<br />
O Segun<strong>do</strong> congresso ocorreu<br />
pouco mais tarde, em<br />
1921, e <strong>já</strong> contaria desta vez<br />
com certa resistência <strong>do</strong>s <strong>governo</strong>s<br />
coloniais. Contorna<strong>do</strong><br />
o problema, a reunião foi<br />
realizada em Londres, com a<br />
presença agora mais expressiva<br />
de 130 delega<strong>do</strong>s, a maioria<br />
deles vin<strong>do</strong>s das colônias<br />
africanas. Este 2º congresso<br />
teve como iniciativa mais importante,<br />
a redação de uma<br />
declaração pública da organização,<br />
a ser entregue aos<br />
<strong>governo</strong>s e publica<strong>do</strong> na imprensa,<br />
defenden<strong>do</strong> a igualdade<br />
de direitos para negros<br />
e brancos.<br />
“Menos um fato <strong>do</strong><br />
que uma idéia”<br />
Já no 3º Congresso Pan-<br />
Africano, ocorri<strong>do</strong> também<br />
em Londres, o movimento<br />
enfrentava resistência tanto<br />
<strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s comunistas, que<br />
criticavam a falta de abrangência<br />
das iniciativas <strong>do</strong> grupo<br />
como “pequeno-burguesas”,<br />
quanto <strong>do</strong>s adeptos de<br />
um novo movimento político<br />
negro que <strong>já</strong> se formava no<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s em torno <strong>do</strong><br />
líder carismático jamaicano<br />
Marcus Garvey, opositor de<br />
Du Bois. Neste congresso,<br />
Bu Bois fazia um primeiro<br />
balanço <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
<strong>do</strong> pan-africanismo, reconhecen<strong>do</strong><br />
que, naquele momento,<br />
ele era “menos um fato <strong>do</strong> que<br />
uma idéia”.<br />
Um quarto congresso seria<br />
realiza<strong>do</strong> ainda em Nova<br />
Iorque, com a presença <strong>já</strong> de<br />
208 delega<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s de mais<br />
de uma dezena de países,<br />
onde começaria <strong>já</strong> a tomar<br />
um corpo político mais defini<strong>do</strong><br />
as idéias pan-africanas.<br />
A época, porém, ainda não<br />
era favorável à formação de<br />
um movimento pan-africano<br />
realmente massivo, paralisia<br />
que se refletiria na maneira<br />
como Du Bois encarava o problema<br />
nesta época. Segun<strong>do</strong><br />
ele via, tratava-se “de um gesto<br />
vazio, simplesmente destina<strong>do</strong><br />
a conservar viva a idéia<br />
pan-africana”, mas que não se<br />
refletiria na criação de uma<br />
organização prática.<br />
O grande turbilhão de crise<br />
em que mergulharia o mun<strong>do</strong><br />
no perío<strong>do</strong> seguinte impossibilitaria<br />
a realização de um<br />
quinto congresso. Suspenden<strong>do</strong><br />
durante duas décadas<br />
as atividades pan-africanas.<br />
Em 1929, o crack da Bolsa<br />
de Nova Iorque promoveria<br />
uma destruição sem precedentes<br />
da economia capitalista<br />
e a retomada <strong>do</strong> ascenso<br />
revolucionário da classe operária<br />
internacional. A burguesia<br />
por sua vez recorreria<br />
ao fascismo para sustentar<br />
seus regimes políticos, levan<strong>do</strong><br />
à catástrofe social da<br />
Segunda Guerra. De maneira<br />
que apenas no segun<strong>do</strong> pósguerra<br />
é que o movimento<br />
pan-africanista conseguiria<br />
se reorganizar.<br />
Antes disso, porém, ainda<br />
Marcus Garvey e o movimento de<br />
“retorno à África”<br />
País que se destacará como<br />
a pátria de importantes pensa<strong>do</strong>res<br />
e literatos negros <strong>do</strong><br />
início <strong>do</strong> século XX, será a Jamaica,<br />
a mais importante colônia<br />
inglesa <strong>do</strong> Caribe. Pela<br />
familiaridade da língua inglesa,<br />
os representantes <strong>do</strong> movimento<br />
negro que aí nasceriam,<br />
manteriam um permanente<br />
contato com os negros norteamericanos,<br />
chegan<strong>do</strong> mesmo<br />
a desenvolver parte importante<br />
de suas atividades em meio à<br />
fermentação cultural e política<br />
que ocorria no Harlem da década<br />
de 1920.<br />
Da mesma forma que no<br />
Haiti, na Jamaica a população<br />
indígena nativa foi quase que<br />
completamente exterminada<br />
no processo de colonização,<br />
dan<strong>do</strong> lugar aos negros importa<strong>do</strong>s<br />
da África para o trabalho<br />
nas lavouras de açúcar a partir<br />
<strong>do</strong> século XVII. Ainda nos<br />
primeiros anos <strong>do</strong> século XIX,<br />
a população negra da ilha era<br />
quase 20 vezes maior que a população<br />
branca, formada por<br />
ingleses e crioulos (brancos<br />
nasci<strong>do</strong>s na Jamaica). Ali a escravidão<br />
foi abolida em 1838,<br />
em meio a permanentes revoltas<br />
de escravos.<br />
Já em finais <strong>do</strong> século, em<br />
1887, nasceria na Jamaica um<br />
<strong>do</strong>s maiores representantes <strong>do</strong><br />
nacionalismo negro internacional,<br />
o pensa<strong>do</strong>r, político e<br />
poeta Marcus Garvey.<br />
O nacionalismo<br />
negro jamaicano<br />
Garvey cresceu em meio ao<br />
movimento operário jamaicano,<br />
participan<strong>do</strong> de sua primeira<br />
greve <strong>já</strong> em 1907. Em<br />
1912, ele viaja para Londres,<br />
onde entrará em contato com<br />
o movimento que se formava<br />
<strong>contra</strong> o imperialismo britânico.<br />
Militan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> de trabalha<strong>do</strong>res<br />
e intelectuais negros,<br />
ele gradualmente se encaminha<br />
para uma luta em defesa<br />
<strong>do</strong>s povos negros oprimi<strong>do</strong>s<br />
pelo colonialismo europeu. O<br />
mais importante destes contatos<br />
foi o que travaria com o<br />
sudanês Mohammed Ali Duse,<br />
representante de um incipiente<br />
nacionalismo negro que defendia<br />
<strong>já</strong> a valorização da cultura<br />
africana entre os povos negros<br />
espalha<strong>do</strong>s pelo mun<strong>do</strong>.<br />
Retornan<strong>do</strong> à Jamaica em<br />
1914, Harvey criará uma organização<br />
política em defesa <strong>do</strong>s<br />
negros, a UNIA-ACL, Associação<br />
Conserva<strong>do</strong>ra Universal<br />
e Liga das Comunidades Africanas<br />
para o Progresso Negro,<br />
propaga<strong>do</strong>ra de um nacionalismo<br />
negro em franca oposição<br />
à <strong>do</strong>minação européia sobre<br />
os países negros na África e<br />
Caribe. Seu movimento buscava,<br />
sobretu<strong>do</strong>, a unidade <strong>do</strong>s<br />
povos negros internacionais e<br />
a independência das colônias<br />
africanas e caribenhas, em<br />
defesa <strong>do</strong> desenvolvimento da<br />
África.<br />
Garvey se tornará o principal<br />
representante <strong>do</strong> nacionalismo<br />
negro na primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XX, lutan<strong>do</strong> pela<br />
formação de uma nação soberana<br />
governada pelos negros.<br />
Tal movimento representaria<br />
uma etapa específica da formação<br />
política da população<br />
negra, em luta tanto no Caribe<br />
quanto na África, pelo fim da<br />
<strong>do</strong>minação colonial branca.<br />
A UNIA-ACL, era também<br />
ao mesmo tempo uma organização<br />
religiosa, cujo slogan<br />
era “Um Deus! Um objetivo!<br />
Um destino!”. Com suas idéias<br />
formadas a partir de uma mistura<br />
de religiões africanas com<br />
o cristianismo, que pregava a<br />
existência de um Deus negro,<br />
representante espiritual de to<strong>do</strong>s<br />
os povos negros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />
cujo destino era retornar à sua<br />
“Pátria Mãe”, os países subsaarianos<br />
da África. Movimento<br />
que influenciaria na mesma<br />
época o nascimento da religião<br />
rastafári na Jamaica.<br />
Em seu país, a organização<br />
dirigida por Garvey se concentraria<br />
na formação intelectual<br />
da população negra, crian<strong>do</strong><br />
escolas e cursos técnicos profissionalizantes<br />
para a introdução<br />
<strong>do</strong> negro no merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho jamaicano, além de<br />
procurar formar missionários<br />
propaga<strong>do</strong>res da religião de<br />
Garvey. Estas idéias tiveram<br />
impacto, sobretu<strong>do</strong>, entre os<br />
negros operários, mas eram<br />
indiferentes à classe média e<br />
setores negros da burguesia<br />
jamaicana, fato que levaria<br />
Garvey a buscar um ponto de<br />
apoio para sua organização nos<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
A grande afinidade <strong>do</strong> programa<br />
de Garvey com o defendi<strong>do</strong><br />
por Washington iniciaria<br />
um longo perío<strong>do</strong> de correspondências<br />
entre os <strong>do</strong>is, até<br />
Garvey decidir-se enfim pela<br />
mudança para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
o que aconteceria poucos<br />
meses depois da morte de Washington<br />
em 1915.<br />
A UNIA em Nova<br />
Iorque<br />
Instalan<strong>do</strong> a sede da UNIA<br />
no Harlem, em Nova Iorque, os<br />
garveísmo en<strong>contra</strong>rá um terreno<br />
fértil para se desenvolver,<br />
tornan<strong>do</strong>-se, anos seguintes,<br />
cada vez mais radical em função<br />
da grande perseguição racial<br />
vivida pelos negros.<br />
O ponto alto da UNIA enquanto<br />
organização negra de<br />
massas ocorreu dez anos mais<br />
tarde, em 1925, quan<strong>do</strong> levou<br />
às ruas 25.000 negros norteamericanos<br />
reuni<strong>do</strong>s em um<br />
grande comício no Madison<br />
Square Garden, onde foi aprovada<br />
a Declaração <strong>do</strong>s Direitos<br />
<strong>do</strong>s Povos Negros <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>,<br />
uma afirmação <strong>do</strong> negro <strong>contra</strong><br />
o racismo e sua opressão<br />
material. A UNIA era então<br />
uma das mais influentes organizações<br />
negras internacionalmente,<br />
com um jornal regular<br />
publica<strong>do</strong> em três idiomas, inglês,<br />
francês e espanhol, além<br />
de sedes espalhadas pela Jamaica,<br />
Cuba, Costa Rica, Panamá,<br />
Venezuela, Equa<strong>do</strong>r, Serra<br />
Leoa, Libéria, Gana, Namíbia,<br />
e África <strong>do</strong> Sul.<br />
O movimento cria<strong>do</strong> por<br />
Garvey era uma extensão e<br />
ampliação daquele cria<strong>do</strong> por<br />
Booker T. Washington. Da<br />
mesma forma que Washington,<br />
Garvey será um intransigente<br />
defensor da segregação<br />
racial. Acreditava que os negros<br />
deveriam se posicionar<br />
<strong>contra</strong> sua assimilação pela<br />
sociedade branca e aban<strong>do</strong>nar<br />
to<strong>do</strong>s os países onde existia<br />
enquanto uma minoria, retornan<strong>do</strong><br />
à África para criar um<br />
verdadeiro continente negro<br />
soberano.<br />
Concentrará também boa<br />
parte de seus esforços na formação<br />
de um programa educacional<br />
para os negros e sua<br />
inserção na indústria, e desta<br />
forma, na sociedade.<br />
Com muito mais recursos <strong>do</strong><br />
que teve Washington, a UNIA<br />
organizará diversas empresas<br />
capitalistas onde trabalhavam<br />
exclusivamente negros, como<br />
as fábricas Negro Corporation,<br />
além de restaurantes, chapelarias,<br />
uma editora e uma cadeia<br />
de mercearias cooperativas.<br />
Seu plano mais ambicioso foi<br />
a formação de uma frota naval<br />
para assegurar autonomia comercial<br />
e política aos capitalistas<br />
negros na América e África.<br />
O caráter extremamente revolucionário<br />
deste movimento<br />
de massas, que pregava de maneira<br />
agressiva a insubmissão<br />
negra diante <strong>do</strong>s brancos, levaria<br />
inevitavelmente à perseguição<br />
política de Garvey,<br />
que acabaria preso em 1925 e<br />
extradita<strong>do</strong> <strong>do</strong> país <strong>do</strong>is anos<br />
mais tarde, levan<strong>do</strong> à dispersão<br />
<strong>do</strong> movimento. Seu exemplo,<br />
no entanto, teria grande<br />
influência sobre to<strong>do</strong>s os movimentos<br />
nacionalistas negros<br />
de sua época.<br />
A repressão <strong>contra</strong> Garvey<br />
e sua organização, revelaria o<br />
caráter profundamente reacionário<br />
da sociedade burguesa<br />
moderna. Deixan<strong>do</strong> clara a<br />
incapacidade <strong>do</strong> capitalismo<br />
em sua etapa imperialista de<br />
permitir o desenvolvimento de<br />
qualquer nação atrasada, que<br />
no caso <strong>do</strong>s negros era ainda<br />
mais agravada pela questão<br />
racial.<br />
Esta experiência marcaria <strong>já</strong><br />
o impasse em que se en<strong>contra</strong>ria<br />
o nacionalismo negro como<br />
programa de luta. O que foi<br />
apenas reafirma<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong><br />
seguinte.<br />
Mesmo após a independência<br />
das nações negras africanas,<br />
a <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> imperialismo<br />
sobre suas economias<br />
não é capaz de permitir qualquer<br />
efetivo desenvolvimento<br />
social, tornan<strong>do</strong> estas nações,<br />
ao contrário, o maior exemplo<br />
<strong>do</strong> caráter absolutamente nefasto<br />
da <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> imperialismo<br />
sobre o mun<strong>do</strong>.<br />
As idéias de Garvey, independentemente<br />
das insuficiências<br />
teóricas, teriam importância,<br />
sobretu<strong>do</strong>, no processo<br />
de auto-afirmação <strong>do</strong> negro<br />
tanto na Jamaica e Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s, quanto em to<strong>do</strong>s os<br />
países onde suas idéias puderam<br />
chegar, contribuin<strong>do</strong><br />
Marcus Garvey<br />
para a generalização de uma<br />
poderosa consciência política<br />
e o prenúncio de um novo radicalismo<br />
negro, desenvolvi<strong>do</strong><br />
Web Du Bois<br />
CULTURA B3<br />
nos anos 20, nasceria na América<br />
outro movimento negro<br />
fundamental para a propagação<br />
<strong>do</strong> pan-africanismo,<br />
cria<strong>do</strong> por Marcus Garvey na<br />
Jamaica, mas que teria grande<br />
influência principalmente<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, como sucessor<br />
das idéias de Booker T.<br />
Washington.<br />
nos movimentos nacionalistas<br />
africanos em processo de independência<br />
durante o segun<strong>do</strong><br />
pós guerra.
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B4<br />
a cultura negra no caribe francófono<br />
O SURGIMENTO DO<br />
CULTURALISMO<br />
NEGRO NO HAITI<br />
Joseph Anténor Firmin<br />
A rica tradição da literatura surgida<br />
nas colônias e ex-colônias francesas, e<br />
desenvolvida ao longo das décadas de 1920 e<br />
1930, teria como importante marco inicial, a<br />
atividade de teóricos culturais <strong>do</strong> movimento<br />
negro haitiano, um <strong>do</strong>s pontos de partida<br />
para o surgimento desta literatura<br />
Uma das primeiras conclusões<br />
a ser tiradas <strong>do</strong> movimento<br />
pan-africano, é que antes de ter<br />
se ergui<strong>do</strong> como uma influente<br />
corrente política <strong>do</strong>s negros em<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, ele foi um movimento<br />
cultural. Uma das ramificações<br />
mais importantes destas<br />
idéias se deu no Haiti, através<br />
<strong>do</strong> trabalho de importantes<br />
pensa<strong>do</strong>res negros que começaram<br />
a teorizar o problema da influência<br />
da cultura negra sobre<br />
seu país. Idéia que se estenderia<br />
para os demais países negros e<br />
se tornaria também outro <strong>do</strong>s<br />
importantes pontos de apoio sobre<br />
o qual se formaria a tradição<br />
literária <strong>do</strong>s negros.<br />
Uma das primeiras manifestações<br />
de afirmação <strong>do</strong> negro<br />
no mun<strong>do</strong> francófono surgiu<br />
em 1885, durante a reação direitista<br />
que se seguiu à abolição<br />
da escravidão. E em meio a uma<br />
ampla ofensiva de intelectuais<br />
racistas saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mais diversos<br />
antros reacionários europeus,<br />
surgiria, no Haiti, um importante<br />
opositor destas idéias,<br />
o antropólogo negro Joseph-<br />
Anténor Firmin, pensa<strong>do</strong>r que<br />
publicara então seu influente<br />
trata<strong>do</strong> De l’égalité des Races Humaines<br />
(Da Igualdade das Raças<br />
Humanas). Nele Firmin lançava<br />
mão de um rigoroso méto<strong>do</strong><br />
científico para demonstrar o caráter<br />
supersticioso das teorias<br />
coloniais sobre a inferioridade<br />
<strong>do</strong> negro perante o branco, cujo<br />
raciocínio se erguia, não sobre<br />
provas concretas e fatos científicos,<br />
mas sobre um mecanismo<br />
de <strong>do</strong>minação política e social.<br />
Em seu trabalho, Firmin concluía<br />
que “to<strong>do</strong>s os homens são<br />
<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s com as mesmas qualidades<br />
e os mesmos defeitos,<br />
sem distinção de cor ou forma<br />
anatômica. As raças são iguais”.<br />
O haitiano refutava nesta obra,<br />
as teses racistas de um <strong>do</strong>s mais<br />
notórios reacionários <strong>do</strong> século<br />
XIX, O conde francês Arthur de<br />
Gobineau, que expôs suas idéias<br />
na obra Essai sur l’inégalité des<br />
Races Humaines (Ensaio sobre a<br />
Desigualdade das Raças Humanas),<br />
afirman<strong>do</strong> a superioridade<br />
<strong>do</strong>s brancos europeus diante<br />
das demais raças. Segun<strong>do</strong> pregava<br />
Gobineau, a miscigenação<br />
racial condenava a humanidade<br />
à decadência física e intelectual.<br />
Uma de suas citações mais conhecidas<br />
é a frase em que afirmava:<br />
“Não creio que viemos<br />
<strong>do</strong>s macacos mas creio que vamos<br />
nessa direção”, se referin<strong>do</strong><br />
à crescente miscigenação racial<br />
que se seguiu à libertação <strong>do</strong>s<br />
escravos negros. Escritor que,<br />
ao passar pelo Brasil, em finais<br />
<strong>do</strong> século XIX, afirmou esta população<br />
estava fadada ao desaparecimento<br />
em virtude de sua<br />
origem miscigenada.<br />
Firmin se formara como<br />
um importante intelectual <strong>do</strong><br />
movimento negro haitiano,<br />
país cuja história exemplar de<br />
luta <strong>do</strong>s povos negros serviria<br />
como um poderoso exemplo<br />
para a auto-afirmação <strong>do</strong> valor<br />
<strong>do</strong> homem negro. Particularmente<br />
a genialidade de Toussaint<br />
L´Ouverture, a principal<br />
personalidade política por trás<br />
da abolição da escravidão e da<br />
independência <strong>do</strong> Haiti, seria<br />
um importante modelo para os<br />
intelectuais negros <strong>do</strong> final <strong>do</strong><br />
século XIX em sua luta <strong>contra</strong> as<br />
teorias racistas. Em um de seus<br />
escritos, Firmin prestaria sua<br />
homenagem ao revolucionário<br />
negro, assassina<strong>do</strong> por Napoleão<br />
Bonaparte: “Certamente,<br />
quan<strong>do</strong> uma raça produz uma<br />
individualidade tão maravilhosamente<br />
<strong>do</strong>tada quanto era<br />
a de Toussaint L´Ouverture, é<br />
impossível admitir que ela seja<br />
inferior a outras sem que isso<br />
demonstre uma cegueira ou<br />
uma ausência de lógica inconcebíveis.(...)<br />
No momento mesmo<br />
em que todas as universidades<br />
européias se reuniam para defender<br />
a teoria da desigualdade<br />
das raças, a inferioridade nativa<br />
e especial <strong>do</strong> Nigritien [negro<br />
haitiano], eu não faria mais <strong>do</strong><br />
que virar-lhes a cabeça... e mostrar-lhes<br />
o exemplo deste solda<strong>do</strong><br />
ilustre”.<br />
A evolução da consciência negra na obra de Jean Price-Mars<br />
O trabalho de Anténor<br />
Firmin teria grande influência<br />
sobre as idéias de outro<br />
antropólogo haitiano, Jean<br />
Price-Mars, futuro funda<strong>do</strong>r<br />
da etnologia, considera<strong>do</strong> hoje<br />
o mais influente pensa<strong>do</strong>r<br />
haitiano <strong>do</strong> século XX. Price-<br />
Mars seria um <strong>do</strong>s primeiros<br />
intelectuais negros a destacar<br />
a importância da cultura original<br />
africana para os povos<br />
negros nas Américas. Em seu<br />
país, ele atacaria duramente<br />
a subserviência a burguesia<br />
haitiana diante da cultura<br />
francesa, destacan<strong>do</strong>, por outro<br />
la<strong>do</strong>, o valor da cultura original<br />
surgida no Haiti. Ali os<br />
índios foram quase que totalmente<br />
dizima<strong>do</strong>s pela colonização<br />
espanhola durante o século<br />
XVI, sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>s<br />
pela mão de obra escrava <strong>do</strong>s<br />
negros africanos, que constituiriam,<br />
ao longo <strong>do</strong>s séculos<br />
seguintes, a parcela majoritária<br />
dessa população.<br />
Sua defesa mais importante<br />
da cultura nacional haitiana<br />
estaria exposta na obra Ainsi<br />
parla l’oncle (Assim Fala o Tio),<br />
publicada em 1928, que teria<br />
uma influência enorme entre<br />
a alta intelectualidade haitiana.<br />
Era um estu<strong>do</strong> minucioso<br />
da cultura negra original que<br />
havia se desenvolvi<strong>do</strong> no Haiti<br />
com a chegada <strong>do</strong>s escravos<br />
africanos ao país em mea<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> século XVI. Ao contrário<br />
da ideologia vigente, que tratava<br />
o negro como um povo<br />
sem história, sem moral, sem<br />
religião, que vivia na África<br />
na mais pura barbárie, Price-<br />
Mars irá justamente analisar<br />
que, ao contrário, os povos<br />
africanos eram porta<strong>do</strong>res de<br />
uma cultura própria, com características<br />
originais. Analisa<br />
deste mo<strong>do</strong> toda a riqueza<br />
de sua literatura oral, seus<br />
costumes, suas tradições religiosas,<br />
e as modificações sofridas<br />
pelo dialeto africano ao<br />
chegar no Haiti. Tal obra de<br />
Price-Mars surgia em um momento<br />
particularmente crítico<br />
da vida política de seu país.<br />
Em 1915, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
iniciavam uma intervenção<br />
militar no Haiti com o desembarque<br />
de milhares de marines<br />
na ilha. Esta ocupação<br />
era parte de sua política imperialista<br />
de expansionismo militar<br />
e <strong>do</strong>minação econômica<br />
que se manifestou de maneira<br />
particularmente agressiva nos<br />
países da América Central.<br />
Ganhava neste momento cada<br />
vez mais espaço em função da<br />
crise política em que vivia o<br />
imperialismo europeu <strong>desde</strong><br />
as últimas décadas <strong>do</strong> século<br />
XIX.<br />
O resgate da<br />
cultura nativa<br />
Para Price-Mars, a burguesia<br />
branca haitiana, política e<br />
culturalmente, era um mero<br />
apêndice da cultura burguesa<br />
européia, uma extensão <strong>do</strong><br />
antigo laço colonial branco<br />
em sua pátria negra por excelência.<br />
Ele veria, da mesma<br />
forma, a pequena-burguesia<br />
mulata de seu país, como uma<br />
elite igualmente afrancesada,<br />
cujo anseio era se “embranquecer”,<br />
esquecer de sua<br />
origem e se integrar à antiga<br />
metrópole colonial. Negavam<br />
assim ao mesmo tempo a necessidade<br />
de independência<br />
nacional e a cultura nacional<br />
haitiana, marcadamente negra.<br />
Baten<strong>do</strong> de frente com estes<br />
anseios, Price-Mars irá<br />
elaborar um programa confuso,<br />
mas que buscava resgatar<br />
o que ele considerava ser a<br />
verdadeira cultura haitiana, a<br />
defesa de suas raízes negras,<br />
das tradições folclóricas, a<br />
religião vodu, a origem africana,<br />
a vida rural, o dialeto<br />
kreyòl, seus mitos, lendas, a<br />
tradição da cultura oral, etc.<br />
Na África particularmente<br />
Price-Mars iria en<strong>contra</strong>r<br />
o mais rico sorve<strong>do</strong>uro cultural<br />
para a afirmação da<br />
nacionalidade de seu povo,<br />
em <strong>contra</strong>posição à chamada<br />
“cultura ocidental”, de origem<br />
greco-romana. O antropólogo<br />
irá estabelecer deste mo<strong>do</strong><br />
uma clara delimitação entre a<br />
“verdadeira” cultura <strong>do</strong> povo<br />
<strong>do</strong> Haiti, de origem africana;<br />
e os seus elementos exteriores,<br />
avessos ao caráter e ao<br />
temperamento de seu povo,<br />
manifestações da antiga <strong>do</strong>minação<br />
colonial francesa.<br />
Em sua obra clássica, em<br />
que levanta pela primeira vez<br />
esta questão, Assim Fala o Tio,<br />
Price-Mars escrevia: “Nossos<br />
antepassa<strong>do</strong>s? Mas em que<br />
posso eu sentir-me humilha<strong>do</strong><br />
de saber de onde viemos se<br />
levo minha marca de nobreza<br />
humana na fronte, como uma<br />
estrela radiante, e se em minha<br />
ascensão fizer mais luz,<br />
me sentir alivia<strong>do</strong> pela ferida<br />
sagrada <strong>do</strong> ideal?<br />
“Nossos antepassa<strong>do</strong>s?<br />
São antes de tu<strong>do</strong> os mortos<br />
cujos sofrimentos seculares,<br />
o valor, a inteligência e a sensibilidade<br />
se fundiram então<br />
no cadinho de São Domingos<br />
para nos fazer o que somos:<br />
seres livres?<br />
“Nossos antepassa<strong>do</strong>s? São<br />
os mortos cujos vícios e virtudes<br />
conjugadas falam muito<br />
baixo em nossos corações<br />
maus ou em nossa consciência<br />
heróica e altiva.<br />
“Nossos antepassa<strong>do</strong>s? São<br />
to<strong>do</strong>s aqueles que se levantaram<br />
lentamente da animalidade<br />
primitiva para desembocar<br />
no ser transitório que somos,<br />
ainda temerosos ante o desconheci<strong>do</strong><br />
que nos envolve, mas<br />
herdeiros da glória imarcescível<br />
de sermos homens. Porque<br />
nossos antepassa<strong>do</strong>s foram<br />
homens que padeceram, que<br />
amaram e ansiaram, e podemos,<br />
nós também, aspirar a<br />
plena dignidade de sermos<br />
homens apesar da brutal insolência<br />
<strong>do</strong>s imperialismos de<br />
toda laia”.<br />
Como fica absolutamente<br />
claro nesta passagem de sua<br />
obra, o senti<strong>do</strong> de sua defesa<br />
era resgatar o orgulho da raça<br />
negra, encaran<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong><br />
de lutas, sofrimento e miséria<br />
de seu povo como um aspecto<br />
de nobreza <strong>do</strong>s negros, e não,<br />
como era visto antes, de barbárie,<br />
de estigma social.<br />
Em um <strong>do</strong>s capítulos finais<br />
de seu livro, o antropólogo<br />
analisará que no Haiti nunca<br />
se formou uma verdadeira literatura<br />
nacional, que mesmo<br />
os maiores expoentes <strong>do</strong> século<br />
XIX sucumbiram diante<br />
da influência da cultura francesa,<br />
esconden<strong>do</strong>, o mais que<br />
podiam, o verdadeiro Haiti,<br />
um país negro, de dentro de<br />
suas obras.<br />
Esta era uma faceta nova<br />
Jean Price-Mars<br />
e original da ideologia panafricana,<br />
que nas décadas<br />
posteriores se mesclaria às<br />
formulações políticas <strong>do</strong> movimento<br />
negro. O próprio Du<br />
Bois <strong>já</strong> havia descoberto indícios<br />
desta nova visão da África,<br />
que influenciaria por sua<br />
vez os escritores negros <strong>do</strong><br />
Harlem durante a Renascença<br />
cultural.<br />
Tais idéias e conclusões de<br />
Price-Mars, mais desenvolvidas<br />
e elaboradas <strong>do</strong> que qualquer<br />
outro pensa<strong>do</strong>r negro,<br />
teriam uma enorme repercussão<br />
em to<strong>do</strong>s os países <strong>do</strong><br />
Caribe francófono, cuja influência<br />
teria particular importância<br />
na obra <strong>do</strong>s escritores<br />
que formariam o mais importante<br />
movimento de literatura<br />
moderna <strong>do</strong> Haiti, o Indigenismo,<br />
que representava, em<br />
essência, a introdução destes<br />
temas na literatura haitiana,<br />
forman<strong>do</strong> a primeira tradição<br />
da literatura negra <strong>do</strong> Caribe.<br />
A ocupação imperialista de 1915 no Haiti<br />
Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s assumiriam<br />
assim o controle de<br />
países como as Filipinas na<br />
Ásia; Panamá e Nicarágua na<br />
América Central continental;<br />
e Cuba, Porto Rico, República<br />
Dominicana e Haiti no Caribe.<br />
Estas ocupações, acompanhadas<br />
de um rígi<strong>do</strong> controle<br />
de seus <strong>governo</strong>s, desencadeariam<br />
uma onda de sucessivas<br />
crises políticas, geran<strong>do</strong><br />
grandes manifestações,<br />
revoltas populares, greves e<br />
revoluções, como foi o caso<br />
de Cuba em 1933 e Haiti em<br />
1934.<br />
No Haiti, as lutas políticas<br />
que se iniciavam deram lugar<br />
a um processo de despertar<br />
geral da consciência política e<br />
cultural da população negra,<br />
que constituía a maioria da<br />
nação haitiana. Este “despertar”,<br />
manifesto na forma de<br />
um grande movimento político<br />
nacionalista de libertação<br />
nacional, acentuaria as diversas<br />
tendências <strong>já</strong> latentes<br />
entre a população no senti<strong>do</strong><br />
de buscar um ponto de apoio<br />
no terreno cultural para esta<br />
luta política <strong>contra</strong> a <strong>do</strong>minação<br />
estrangeira.<br />
A ocupação militar norteamericana<br />
levantava por sua<br />
vez um problema anterior,<br />
expresso pela completa dependência<br />
da nação haitiana<br />
da cultura européia, particularmente<br />
a francesa que inicialmente<br />
colonizara o país.<br />
Este mesmo problema se manifestaria<br />
em diversos outros<br />
países por causas aparentemente<br />
diversas.<br />
De um ponto de vista geral,<br />
no entanto, todas elas<br />
expressavam uma tendência<br />
internacional de oposição à<br />
violenta <strong>do</strong>minação política<br />
e econômica <strong>do</strong> imperialismo<br />
sobre as nações oprimidas.<br />
No Brasil, Argentina, Chile,<br />
Cuba, México, etc., importantes<br />
movimentos modernistas<br />
se iniciariam como um resulta<strong>do</strong><br />
deste novo fenômeno<br />
internacional, parte da luta<br />
destas burguesias nacionais<br />
pela independência de suas<br />
nações também <strong>do</strong> ponto de<br />
vista da cultura. Daí viria a<br />
busca pela identidade nacional<br />
que nortearia to<strong>do</strong>s os<br />
modernismos latino-americanos.<br />
Assim, no Haiti, surgiriam<br />
importantes intelectuais que<br />
levantariam o problema da<br />
emancipação haitiana diante<br />
da cultura européia, levantan<strong>do</strong>,<br />
por outro la<strong>do</strong>, a necessidade<br />
de criação de uma<br />
arte que fosse a expressão<br />
mais direta de sua própria<br />
nacionalidade, independente<br />
<strong>do</strong>s modelos estrangeiros.
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B5<br />
a ruptura com o passa<strong>do</strong><br />
O MOVIMENTO<br />
INDIGENISTA<br />
HAITIANO<br />
Logo nos primeiros anos <strong>do</strong><br />
século XX, o Haiti vivia <strong>já</strong> uma<br />
intensa vida literária que se<br />
desenvolvia principalmente a<br />
partir de revistas e jornais, que<br />
representavam uma tradição<br />
nacional <strong>desde</strong> o século XIX.<br />
Uma das primeiras escolas<br />
literárias importantes a surgirem<br />
no País, que sustentaria<br />
ainda grande influência entre<br />
os escritores <strong>do</strong> novo século,<br />
seria a chamada Escola de 1836,<br />
movimento de inspiração romântica<br />
cujo principal teórico<br />
havia si<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r e militante<br />
político Emile Nau. Ele<br />
fora o primeiro homem a lançar<br />
um chama<strong>do</strong> geral aos cria<strong>do</strong>res<br />
haitianos a se livrarem<br />
da dependência cultural européia<br />
e produzirem literatura<br />
própria, com características<br />
nacionais, inspirada pela história<br />
e pela cultura haitianas.<br />
Movimento que em essência,<br />
era impulsiona<strong>do</strong> pelo triunfo<br />
<strong>do</strong> romantismo francês, rompen<strong>do</strong><br />
com a tradição classicista.<br />
Sua obra mais importante<br />
exemplificaria suas idéias,<br />
resgatan<strong>do</strong> a história remota<br />
haitiana dentro da nova tradição<br />
<strong>do</strong>s romances históricos.<br />
Era Histoire des caciques d’Haïti<br />
(História <strong>do</strong>s Caciques <strong>do</strong> Haiti),<br />
descreven<strong>do</strong> de forma apaixonada<br />
e grandiloqüente a tragédia<br />
<strong>do</strong>s primeiros líderes indígenas<br />
que viviam na ilha no<br />
momento em que os espanhóis<br />
lidera<strong>do</strong>s por Colombo desembarcaram<br />
em La Espanhola.<br />
Sob a influência das idéias<br />
de Emile Nau, nasceria o primeiro<br />
movimento indianista<br />
haitiano, com escritores como<br />
Beaubrun, Céligny, Coriolan,<br />
os irmãos Ar<strong>do</strong>uin e Ignace<br />
Nau, funda<strong>do</strong>r da sociedade<br />
e irmão de Emile. Grupo que<br />
atuaria em torno de revistas<br />
literárias como Le Républicain<br />
e L’Union.<br />
A ruptura proposta por estes<br />
escritores, bem como sua<br />
interpretação <strong>do</strong> que de fato<br />
era a sociedade haitiana, era,<br />
entretanto, bastante limitada,<br />
onde o problema <strong>do</strong> negro era<br />
Etzer Vilaire<br />
ainda completamente ignora<strong>do</strong>.<br />
Após a desagregação desta<br />
geração, um novo cânone literário<br />
estava estabeleci<strong>do</strong>, novamente<br />
subserviente à “grande<br />
literatura” francesa, conserva<strong>do</strong>r<br />
e elitiza<strong>do</strong>. Um <strong>do</strong>s representantes<br />
mais marcantes<br />
da geração posterior de poetas<br />
haitianos, totalmente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s<br />
pela tradição francesa,<br />
seria Oswald Durand, representante<br />
da segunda metade<br />
<strong>do</strong> século XIX que se especializara<br />
em poemas românticos ao<br />
modelo de Victor Hugo, cujas<br />
obras, muitas vezes pareciam<br />
mero pastiche da inspiração<br />
original de Hugo.<br />
De fato, muitos críticos destacariam<br />
a mediocridade em<br />
que caíra a poesia haitiana <strong>do</strong><br />
final <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong><br />
século XX. Esta era uma literatura<br />
totalmente dependente<br />
da tradição francesa, tanto <strong>do</strong><br />
ponto de vista da forma, com<br />
seus sonetos, baladas, versos<br />
alexandrinos, quanto <strong>do</strong> ponto<br />
de vista <strong>do</strong>s temas, retratan<strong>do</strong><br />
a infância, a nostalgia da vida<br />
campestre, a natureza, a idealização<br />
<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, os sofrimentos<br />
<strong>do</strong> amor. Algo que o poeta<br />
Léon Damas, posteriormente<br />
apelidaria <strong>desde</strong>nhosamente<br />
de “poetas da decalcomania”.<br />
Artistas incapazes de se interessarem<br />
pelo verdadeiro<br />
temperamento haitiano, hipnotiza<strong>do</strong>s<br />
pelas fragrâncias suaves<br />
sopradas pelos ventos <strong>do</strong><br />
Atlântico.<br />
O resulta<strong>do</strong> inevitável da<br />
poesia produzida neste perío<strong>do</strong><br />
era seu hedion<strong>do</strong> artificialismo,<br />
a tentativa de transplantar<br />
temas caros à vida<br />
francesa para um país miserável,<br />
com uma população em<br />
grande parte analfabeta cuja<br />
vida era um permanente calvário,<br />
soterrada pela falta de<br />
desenvolvimento <strong>do</strong> país. Seria<br />
justamente esta face flagelada<br />
<strong>do</strong> homem negro haitiano que<br />
a nova geração iria reivindicar<br />
em sua literatura.<br />
Carl Brouard<br />
A renovação da<br />
poesia no século XX<br />
Uma iniciativa importante<br />
de ruptura com esta situação<br />
surgiria apenas em 1895,<br />
com a publicação da revista La<br />
Ronde, de onde surgiria uma<br />
corrente poética de escritores<br />
como Petín Géromé, Etzer Vilaire<br />
e Sylvain Georges, que <strong>já</strong><br />
prenunciavam um interesse<br />
renova<strong>do</strong> pelo problema da<br />
cultura haitiana, dispostos a<br />
modificar e aprofundar as velhas<br />
idéias estabelecidas pela<br />
Geração de 1836.<br />
A situação política <strong>do</strong> país<br />
ainda não havia amadureci<strong>do</strong><br />
suficientemente para uma<br />
ruptura verdadeiramente radical,<br />
mas esta tendência seria<br />
muito bem expressa em obras<br />
como Dix Hommes Noirs (Dez<br />
Homens Negros), de 1901, poema<br />
escrito por Etzer Vilaire<br />
retratan<strong>do</strong> a grande angústia<br />
<strong>do</strong> poeta diante da miséria da<br />
população, em particular <strong>do</strong>s<br />
negros, que são os personagens<br />
centrais deste grande poema.<br />
Este era, ainda assim, apenas<br />
um perío<strong>do</strong> de preparação<br />
para um movimento literário<br />
mais consistente que surgiria<br />
apenas na década de 1920 impulsiona<strong>do</strong><br />
por um fato político<br />
da maior importância. A<br />
ocupação militar norte-americana<br />
no Haiti em 1915.<br />
À ocupação, se seguiu uma<br />
gigantesca crise política nacional,<br />
e com ela, um vigoroso<br />
processo de renovação da cultura<br />
haitiana, motor da nova<br />
poesia. Sob o impacto da presença<br />
militar estrangeira, nasceriam<br />
novos periódicos literários<br />
defenden<strong>do</strong> idéias cada<br />
vez mais claramente políticas<br />
e radicais.<br />
Enquanto que La Ronde e o<br />
grande ecletismo de seus escritores<br />
<strong>do</strong>minariam o panorama<br />
cultural haitiano de 1898 a<br />
1915, <strong>já</strong> em 1916, sob o impacto<br />
da presença imperialista na<br />
ilha, surgiria a La Revue de la<br />
O passa<strong>do</strong> de lutas e sofrimento <strong>do</strong>s negros<br />
haitianos, associadas às idéias de pensa<strong>do</strong>res<br />
como Price-Mars, culminariam o surgimento<br />
de uma importante e influente literatura<br />
negra no Haiti ainda nas primeiras décadas<br />
<strong>do</strong> século XX<br />
Ligue de la Jeunesse Haitienne<br />
(Revista da Liga da Juventude<br />
Haitiana), agrupan<strong>do</strong> jovens<br />
militantes políticos interessa<strong>do</strong>s<br />
em expressar suas idéias<br />
anti-colonialistas em versos<br />
secos e diretos.<br />
Mais importantes ainda, seriam<br />
as iniciativas da década<br />
seguinte, que se sucediam ao<br />
mesmo tempo em que se agravava<br />
a pressão interna <strong>contra</strong><br />
a ocupação em seus múltiplos<br />
aspectos, a intervenção no <strong>governo</strong>,<br />
a constante presença<br />
militar, a censura à imprensa, a<br />
rapinagem estrangeira, a falta<br />
de desenvolvimento nacional.<br />
O impacto da<br />
ocupação<br />
Em 1925 era lançada La<br />
Nouvelle Ronde (O Novo Ciclo),<br />
<strong>do</strong>is anos mais tarde La Trouée,<br />
e por fim, neste mesmo ano,<br />
1927, a influente La Revue indigène<br />
(A Revista Indigenista),<br />
que assentava finalmente as<br />
bases para a criação de uma<br />
Fac símile da revista indigenista nº 3<br />
verdadeira tradição literária<br />
nacional e popular no Haiti.<br />
A Revista Indigenista possuía<br />
<strong>já</strong> um caráter diferente das publicações<br />
anteriores. Liderada<br />
pelo poeta Jacques Roumain,<br />
lançava as bases para o mais<br />
influente movimento literário<br />
haitiano <strong>do</strong> século XX.<br />
O movimento indigenista,<br />
como ficou conheci<strong>do</strong>, surgia<br />
ao mesmo tempo em que o<br />
antropólogo Jean Price-Mars<br />
lançava seu influente estu<strong>do</strong><br />
Assim Fala o Tio, apenas um ano<br />
mais tarde.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, Roumain e<br />
os demais poetas indigenistas,<br />
responderiam com ar<strong>do</strong>r<br />
ao chama<strong>do</strong> de Price-Mars de<br />
criar finalmente uma literatura<br />
que bebesse diretamente<br />
na cultura nacional. In<strong>do</strong> mais<br />
fun<strong>do</strong> que os românticos <strong>do</strong><br />
século XIX, estes novos poetas<br />
concentrariam seu interesse<br />
diretamente na cultura popular<br />
haitiana e na história nacional,<br />
negra, com seu passa<strong>do</strong> de<br />
lutas e seu rico folclore nativo.<br />
Uma literatura que era a um só<br />
tempo, social e racial, problemas<br />
que, no Caribe, eram indissociáveis.<br />
A influência <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s pioneiros<br />
de Price-Mars sobre o valor<br />
e a grande presença <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><br />
de vida negro no interior da sociedade<br />
haitiana teriam uma<br />
influência gigantesca e decisiva<br />
sobre o rumo <strong>do</strong>s trabalhos destes<br />
poetas, que inaugurariam<br />
no país a mesma literatura negra<br />
que despontava <strong>já</strong> com toda<br />
a força nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>desde</strong><br />
o começo da década.<br />
Graças à língua francesa comum<br />
e à renovada ênfase no<br />
problema cultural <strong>do</strong> negro,<br />
o movimento haitiano seria<br />
considera<strong>do</strong> posteriormente, o<br />
marco inaugural <strong>do</strong> movimento<br />
Negritude, que no perío<strong>do</strong><br />
seguinte despontaria em Paris<br />
Jacques Roumain<br />
com o ingresso de dezenas de<br />
escritores negros caribenhos<br />
nas universidades francesas.<br />
O movimento haitiano teria<br />
ainda grande influência sobre<br />
a própria Renascença <strong>do</strong> Harlem,<br />
que a partir da década<br />
de 1930, também passaria a<br />
produzir uma literatura com<br />
muito mais ênfase no resgate<br />
da cultura negra <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s. Uma das grandes personalidades<br />
desta corrente da<br />
negritude norte-americana<br />
seria a romancista Zora Neale<br />
Hurston, que passaria muitos<br />
anos estudan<strong>do</strong> as tradições<br />
negra no Caribe.<br />
O movimento<br />
indigenista e a nova<br />
tradição<br />
Para formar o movimento o<br />
indigenista, ao la<strong>do</strong> da poesia<br />
negra de cunho marcadamente<br />
social <strong>do</strong> militante comunista<br />
Jaques Roumain, principal<br />
cria<strong>do</strong>r e agita<strong>do</strong>r cultural haitiano,<br />
se juntariam também<br />
o poeta Carl Brouard, o mais<br />
representativo africanista <strong>do</strong><br />
grupo e Jean-François Briérre,<br />
com sua apaixonada poesia,<br />
cuja inspiração repousaria, sobretu<strong>do</strong>,<br />
em seu violento desejo<br />
de libertação nacional.<br />
A obra destes três homens<br />
principalmente seria o catalisa<strong>do</strong>r<br />
necessário à formação<br />
de to<strong>do</strong> um movimento de renascimento<br />
cultural haitiano,<br />
cujos talentos maiores seriam<br />
escritores como o romancista<br />
Jacque-Stephen Alexis e os poetas<br />
Bajeux, Desprestre e Bissainthe.<br />
A marca registrada desta<br />
nova poesia haitiana era justamente<br />
sua vivacidade interior,<br />
resulta<strong>do</strong> de um profun<strong>do</strong> conhecimento<br />
destes escritores<br />
da cultura de seu povo. Formalmente,<br />
passariam a utilizar<br />
as novas ferramentas expressivas<br />
vindas <strong>do</strong>s modernismos<br />
europeus, como o surrealismo<br />
ou o expressionismo, ou mesmo<br />
um neo-parnasianismo,<br />
mas técnicas sempre extraídas<br />
<strong>do</strong> interior de seus temas e subordinadas<br />
à necessidade de<br />
expressão da vida interior <strong>do</strong><br />
povo haitiano.<br />
O impulso fundamental <strong>do</strong><br />
movimento indigenista seria<br />
da<strong>do</strong> entre 1927 e 1934, quan<strong>do</strong>,<br />
com o aprofundamento da<br />
crise da ocupação norte-americana,<br />
seus solda<strong>do</strong>s seriam<br />
bota<strong>do</strong>s para fora <strong>do</strong> país em<br />
meio a uma grande revolução<br />
nacional.<br />
Esta etapa da literatura negra,<br />
que também pipocava em<br />
outros países <strong>do</strong> Caribe, culminaria<br />
com o surgimento, em<br />
1932, da revista Legítima Defesa,<br />
organizada e promovida<br />
por poetas caribenhos de diferentes<br />
países. Um importante<br />
braço <strong>do</strong> movimento literário<br />
negro no coração da metrópole<br />
francesa.<br />
Esta publicação parisiense<br />
representaria o ponto de partida<br />
da maior e mais influente<br />
corrente da literatura negra<br />
internacional, a Negritude,<br />
inspirada principalmente pela<br />
grande atividade literária <strong>do</strong>s<br />
negros nas Américas.
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B6<br />
o caribe hispânico<br />
A LUTA REVOLUCIONÁRIA<br />
E MOVIMENTO NEGRISTA<br />
EM CUBA<br />
Paralelamente ao desenvolvimento das<br />
literaturas negras nos países de língua<br />
inglesa e francesa, em Cuba nascerá uma<br />
não menos importante tradição literária<br />
negra, surgida em reação à ocupação norteamericana<br />
na ilha<br />
Dentre os países caribenhos,<br />
além da Jamaica e Haiti,<br />
outro país que manifestou<br />
uma importante tradição literária<br />
negra foi Cuba, a maior e<br />
mais importante ilha da América<br />
Central.<br />
Apesar da proximidade entre<br />
os três países vizinhos, as<br />
diferenças de idioma fariam<br />
com que cada um destes movimentos<br />
desenvolvesse características<br />
distintas. Mais<br />
próximos de sua herança colonial<br />
<strong>do</strong> que uma verdadeira<br />
tendência a se unificar em<br />
torno de um único movimento<br />
literário negro caribenho.<br />
Enquanto que os jamaicanos,<br />
de língua inglesa, iriam<br />
se incorporar aos movimentos<br />
literários norte-americanos,<br />
os haitianos, com seu idioma<br />
francês, tenderiam a se aproximar<br />
das vanguardas literárias<br />
da Escola de Paris, ao mesmo<br />
tempo em que Cuba, país<br />
de língua espanhola, manterá<br />
um intercâmbio muito mais<br />
vivo com as vanguardas poéticas<br />
da Espanha.<br />
Cuba na virada <strong>do</strong> século vivia<br />
um intenso processo revolucionário,<br />
muito mais avança<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> que nos demais países<br />
vizinhos.<br />
Ao longo de toda a segunda<br />
metade <strong>do</strong> século XIX, os<br />
revolucionários cubanos lutaram<br />
desesperadamente por<br />
sua independência <strong>do</strong> jugo<br />
espanhol, processo que levará<br />
à deflagração de três grandes<br />
guerras de independência no<br />
perío<strong>do</strong>. A última delas, encerrada<br />
em 1898, terminaria com<br />
o completo colapso da <strong>do</strong>minação<br />
espanhola sobre a ilha.<br />
O jugo da Coroa da Espanha,<br />
no entanto, acabaria<br />
sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s, potência imperialista<br />
que se via severamente<br />
ameaça<strong>do</strong> pela revolução<br />
cubana a poucos quilômetros<br />
de seu território.<br />
Em 1901 é organizada uma<br />
independência puramente formal<br />
de Cuba, e no mesmo ano,<br />
formalizada também, através<br />
da Emenda Plat, a liberdade<br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s invadirem<br />
o país sempre que considerarem<br />
que seus interesses econômicos<br />
estão ameaça<strong>do</strong>s.<br />
A situação política cubana<br />
se revelará extremamente<br />
instável no perío<strong>do</strong> seguinte,<br />
sen<strong>do</strong> que um primeiro levante<br />
popular, derruba <strong>já</strong> o<br />
<strong>governo</strong> republicano ainda em<br />
1906, levan<strong>do</strong> à primeira intervenção<br />
militar aberta <strong>do</strong>s<br />
norte-americanos em Cuba.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, uma década<br />
antes <strong>do</strong> Haiti, Cuba <strong>já</strong> se via<br />
submetida à <strong>do</strong>minação imperialista<br />
norte-americana. Fator<br />
de permanentes crises nas<br />
décadas seguintes.<br />
A Literatura<br />
cubana e a luta<br />
revolucionária<br />
Ao longo <strong>do</strong> século XIX<br />
originou-se também uma das<br />
mais importantes tradições<br />
literárias latino-americanas,<br />
também determinada por estas<br />
lutas.<br />
Durante a primeira metade<br />
<strong>do</strong> século, o mais importante<br />
movimento literário cubano<br />
foi o chama<strong>do</strong> Criolismo, escola<br />
romântica que surgiu sob a<br />
influência das lutas pela abolição<br />
da escravatura na ilha.<br />
O inaugura<strong>do</strong>r e mais importante<br />
escritor desta escola foi<br />
também o primeiro grande<br />
escritor negro de Cuba, o poeta<br />
Gabriel de la Concepción<br />
Valdés, também militante<br />
abolicionista que acabaria,<br />
executa<strong>do</strong> em 1844 por sua<br />
participação na Conspiração<br />
de la Escalera.<br />
Esta relação íntima entre<br />
arte e militância política seria<br />
uma das características mais<br />
marcantes <strong>do</strong>s maiores escritores<br />
cubanos – e também <strong>do</strong>s<br />
escritores negros – tanto no<br />
século XIX quanto no século<br />
XX.<br />
A segunda metade <strong>do</strong> século<br />
também criaria importantes<br />
militantes-poetas, como<br />
foi o caso da maior de todas as<br />
personalidades nacionais de<br />
Cuba, o revolucionário independentista<br />
José Martí.<br />
No século seguinte, a luta<br />
anticolonial se transformará<br />
em luta antiimperialista e a literatura<br />
produzida nesta etapa<br />
apenas aprofundará estes<br />
temas em suas criações.<br />
Certamente o mais importante<br />
perío<strong>do</strong> de crise revolucionária<br />
em Cuba será durante<br />
o entre-guerras.<br />
Após a quebra da bolsa de<br />
Nova Iorque em 1929, e a virtual<br />
falência <strong>do</strong> regime capitalista<br />
internacional, Cuba,<br />
como economia de exportação,<br />
irá sofrer de maneira extremamente<br />
violenta os impactos<br />
da Grande Depressão.<br />
Tal crise, que se intensificava<br />
ano a ano, leva a um grande<br />
movimento revolucionário em<br />
1930, com greves gerais, manifestações<br />
massivas e à formação<br />
de dezenas de grupos<br />
guerrilheiros. Em agosto de<br />
1931 começa uma revolução<br />
proletária que desencadeia<br />
uma guerra civil nacional. Em<br />
1933, é derruba<strong>do</strong> o presidente<br />
Gerar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>, e grupos<br />
nacionalistas burgueses assumem<br />
o <strong>governo</strong> em uma tentativa<br />
desesperada <strong>do</strong> imperialismo<br />
para salvar o regime<br />
político cubano e resguardar<br />
sua <strong>do</strong>minação colonial.<br />
Será justamente em meio a<br />
esta crise colossal que nascerá<br />
a literatura negra em Cuba.<br />
O Negrismo cubano<br />
A população negra em<br />
Cuba, ao contrário de países<br />
como Haiti ou Jamaica, constituía<br />
uma minoria entre a<br />
população, viven<strong>do</strong> ainda sob<br />
um regime de violenta segregação<br />
racial como acontecia<br />
também nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
Ser negro em Cuba era um<br />
fator de gigantesco estigma<br />
social, de mo<strong>do</strong> que a cultura<br />
negra da ilha, com a sua música,<br />
suas religiões e dialetos<br />
africanos, formavam de fato<br />
uma cultura marginal, excluída<br />
de toda a oficialidade da<br />
época, em um regime <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />
pelos brancos e sua cultura<br />
européia. Os próprios negros<br />
negligenciavam suas tradições,<br />
procuran<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nálas<br />
diante da menor possibilidade<br />
de ascensão social.<br />
Ainda assim, a cultura negra<br />
era marcante em Cuba,<br />
como o era também nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s. A economia escravagista<br />
anterior havia se<br />
encarrega<strong>do</strong> de espalhar os<br />
negros pelo interior <strong>do</strong> país de<br />
forma suficientemente ampla<br />
para que sua cultura se fizesse<br />
presente em parte expressiva<br />
da ilha.<br />
Um <strong>do</strong>s reflexos <strong>do</strong> peso<br />
da opressão que os negros sofriam<br />
era a existência, na virada<br />
<strong>do</strong> século, de importantes<br />
organizações políticas negras,<br />
surgidas durante a revolução,<br />
e dezenas de associações culturais<br />
e esportivas organizadas<br />
por negros exclusivamente<br />
para o acesso de sua comunidade.<br />
Nicolas Guillen<br />
Regino Pedroso<br />
OS negros cubanos, setor mais oprimi<strong>do</strong>, lutaram<br />
integralmnete pela independência <strong>do</strong> país<br />
O mais importante parti<strong>do</strong><br />
negro organiza<strong>do</strong> era o Parti<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s Independentes de Cor,<br />
organização que lutava por<br />
direitos democráticos para os<br />
negros cubanos <strong>desde</strong> as guerras<br />
de independência.<br />
Em 1909, quan<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s reorganizam o regime<br />
político cubano colocan<strong>do</strong><br />
José Miguel Gómez na presidência,<br />
este impulsiona uma<br />
campanha reacionária no país<br />
atacan<strong>do</strong> diversos setores da<br />
sociedade cubana. Entre eles,<br />
retira uma série de direitos<br />
democráticos da população<br />
negra, conquistas adquiridas<br />
durante a revolução de independência.<br />
Esta ofensiva é<br />
respondida com uma enorme<br />
resistência popular <strong>do</strong>s negros<br />
lidera<strong>do</strong>s pelo Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Independentes<br />
de Cor.<br />
Os conflitos, deflagra<strong>do</strong>s<br />
em 1912, ficariam conheci<strong>do</strong>s<br />
como Guerra Racial, e<br />
terminariam com um grande<br />
massacre promovi<strong>do</strong> pela burguesia<br />
pró-imperialista, perseguin<strong>do</strong><br />
e assassinan<strong>do</strong> cerca<br />
de seis mil negros em toda a<br />
ilha.<br />
Esta situação de guerra civil<br />
aberta dava o tom da situação<br />
<strong>do</strong>s negros cubanos na ocasião<br />
<strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> movimento<br />
negrista nos anos 30.<br />
Esta literatura representaria<br />
uma nova etapa de maturidade<br />
política <strong>do</strong>s negros<br />
diante <strong>do</strong> problema da brutal<br />
opressão social em que estavam<br />
viven<strong>do</strong> então.<br />
Surgin<strong>do</strong> inicialmente<br />
como uma revalorização da<br />
vida cotidiana <strong>do</strong> negro operário,<br />
com sua rotina miserável,<br />
seu gosto pela diversão, a beleza<br />
das mulheres negras, esta<br />
literatura evoluirá para temas<br />
cada vez mais universais e<br />
pertinentes, até chegar o ponto<br />
chave da questão social <strong>do</strong><br />
negro: a necessidade urgente<br />
de luta por seu espaço na sociedade,<br />
e a partir daí, a luta<br />
<strong>contra</strong> toda a opressão. Uma<br />
literatura que em Cuba frutificaria<br />
principalmente através<br />
da poesia.<br />
Motivos de Son<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que acontecia<br />
em outros movimentos<br />
literários negros, em Cuba a<br />
nova literatura se desenvolverá,<br />
não a partir de grupos literários,<br />
mas através de grandes<br />
personalidades individuais<br />
cuja obra tomará caminhos<br />
distintos.<br />
O inaugura<strong>do</strong>r da corrente<br />
cubana da literatura negra<br />
será o talentoso poeta Nicolás<br />
Guillén, homem que se tornará<br />
não somente o principal escritor<br />
negro de Cuba, mas um<br />
<strong>do</strong>s maiores nomes da poesia<br />
<strong>do</strong> século XX internacionalmente.<br />
Poeta promissor, Guillén<br />
ganha destaque entre os escritores<br />
cubanos de sua geração<br />
após a publicação, em um<br />
jornal matutino, de seu poema<br />
vanguardista Negro Bembón.<br />
Cria<strong>do</strong> a partir de uma estranha<br />
experiência onírica, o<br />
poema inaugurava uma técnica<br />
poética original que definiria<br />
os rumos da poesia de<br />
Guillén a partir de então e até<br />
o final de sua vida.<br />
Este poema seria publica<strong>do</strong><br />
no mesmo ano, 1930, na coletânea<br />
poética Motivos de Son,<br />
obra que marca o nascimento<br />
<strong>do</strong> movimento literário que<br />
viria a ser conheci<strong>do</strong> como Negrismo<br />
cubano.<br />
As poesias reunidas nesta<br />
obra – escritas em uma espécie<br />
de automatismo psíquico à<br />
maneira <strong>do</strong>s surrealistas franceses<br />
–, traziam aquela descoberta<br />
inova<strong>do</strong>ra de Guillén, a<br />
utilização de uma linguagem<br />
capaz de unificar, nos mesmos<br />
versos, o idioma castelhano<br />
com termos e expressões de<br />
dialetos africanos. Uma grande<br />
descoberta literária.<br />
O poeta era capaz expressar<br />
assim o verdadeiro temperamento<br />
e a cultura da população<br />
negra cubana. A herança<br />
<strong>do</strong> idioma colonial espanhol e<br />
o resgate da importante cultura<br />
<strong>do</strong>s negros africanos, fala<strong>do</strong><br />
no dia a dia, mas que até então<br />
era manti<strong>do</strong> à margem de<br />
qualquer literatura.<br />
Através desta técnica, Guillén<br />
era capaz de descobrir novos<br />
ritmos e rimas em versos<br />
que chamavam atenção por<br />
sua grande musicalidade e liberdade<br />
formal.<br />
Com esta obra Guillén pôde<br />
ainda elevar a produção literária<br />
<strong>do</strong>s negros – agora <strong>do</strong> ponto<br />
de vista da técnica – , ao nível<br />
das melhores experiências<br />
da vanguarda internacional.<br />
A poesia proletária<br />
cubana<br />
Outro importante representante<br />
<strong>do</strong> Negrismo cubano<br />
será o poeta e militante Regino<br />
Pedroso. Nasci<strong>do</strong> em uma<br />
família operária, <strong>desde</strong> ce<strong>do</strong><br />
ele participaria <strong>do</strong> movimento<br />
revolucionário.<br />
Diretamente influencia<strong>do</strong><br />
pela intensificação da luta<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res a partir de<br />
1925, <strong>contra</strong> a política de demissões<br />
<strong>do</strong> <strong>governo</strong>, em 1927<br />
ele inaugurará a moderna poesia<br />
proletária cubana.<br />
Sua poesia resgatará o negro<br />
cubano como parte integrante<br />
da classe operária, liga<strong>do</strong><br />
a ela, e não mais isola<strong>do</strong> no<br />
mun<strong>do</strong>, como muitas vezes o<br />
negro apareceu nas poesias <strong>do</strong><br />
perío<strong>do</strong> anterior.<br />
A obra de ambos escritores,<br />
bem como a de outros representantes<br />
desta geração, como<br />
Rodriguez Mendez ou Marcelino<br />
Avozocena, eram o resulta<strong>do</strong><br />
direto da influência da<br />
luta revolucionária sobre estes<br />
escritores. Tal característica<br />
estará sempre presente na literatura<br />
negra, mas manifesta<br />
de maneira aberta ou velada<br />
conforme a intensidade <strong>do</strong>s<br />
conflitos de classe.<br />
No caso de Cuba este traço<br />
constitutivo da literatura<br />
negra ficará absolutamente<br />
claro, através principalmente<br />
da obra destes <strong>do</strong>is escritores<br />
comunistas.<br />
A poesia proletária negra de<br />
Regino Pedroso foi resulta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> estilo de vida e<br />
da luta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res das<br />
cidades sobre a psicologia <strong>do</strong><br />
poeta. Já Nicolás Guillén, terá<br />
uma obra que se desenvolverá<br />
toda em um senti<strong>do</strong> político,<br />
acompanhan<strong>do</strong> as diferentes<br />
etapas da luta revolucionária<br />
em Cuba e internacionalmente.<br />
Este poeta, em sua evolução,<br />
se revelará ainda o escritor<br />
que melhor compreenderá<br />
e cantará a Revolução Cubana<br />
em seus poemas.<br />
Estes poetas <strong>do</strong> Negrismo<br />
cubano, pertencentes to<strong>do</strong>s<br />
à chamada Geração de 30,<br />
criariam uma das mais vigorosas<br />
tradições da literatura<br />
negra internacional, tão importante<br />
que mesmo em seus<br />
países, não se formarão como<br />
um gueto literário à parte da<br />
vanguarda de sua época. Irão<br />
se erguer, ao contrário, como a<br />
mais poderosa e rica tradição<br />
literária de seu país.
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B7<br />
o surgimento <strong>do</strong> negritude<br />
O DESPONTAR<br />
DA LITERATURA<br />
NEGRA EM PARIS<br />
Nos anos 30, estudantes<br />
negros vin<strong>do</strong>s da África,<br />
Caribe e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
moran<strong>do</strong> em Paris, se reuniam<br />
regularmente no salão<br />
literário das martinicanas<br />
Paulette e Andrée Nardal,<br />
desenvolven<strong>do</strong> intenso intercâmbio<br />
cultural entre a literatura<br />
negra produzida em<br />
seus respectivos países.<br />
As irmãs Nardal, socialistas<br />
e feministas, deram<br />
uma grande contribuição ao<br />
desenvolvimento da cultura<br />
Esta revista sairia de cena<br />
para dar lugar a uma segunda<br />
publicação, esta muito mais<br />
radical que a primeira, a revista<br />
Legitime Defense (Legítima<br />
Defesa).<br />
Escrita por um grupo de<br />
estudantes negros martinicanos,<br />
defensores <strong>do</strong> socialismo<br />
e <strong>do</strong> surrealismo, Legítima<br />
Defesa teria um caráter <strong>já</strong><br />
completamente diferente da<br />
Revista <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Negro.<br />
Criada pelos estudantes<br />
Auguste Thésée, René Ménil,<br />
os irmãos Thélus e Etienne<br />
Léro e Jules-Marcel Monnerot,<br />
a revista mantinha um<br />
tom radical de protesto e denúncia<br />
social, anticolonialista<br />
e anti-imperialista. O nome<br />
fora retira<strong>do</strong> de um texto de<br />
André Breton. Seu principal<br />
alvo, de fato, era o conserva<strong>do</strong>rismo<br />
da sociedade martinicana,<br />
mas estendia seus ataques<br />
também ao mun<strong>do</strong> burguês<br />
como um to<strong>do</strong>, o regime<br />
capitalista e as instituições típicas<br />
<strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> branco”, em<br />
particular o cristianismo. Em<br />
política, defendiam o marxismo<br />
e a Terceira Internacional,<br />
no que viam a manifestação<br />
mais direta da vitória da revolução<br />
proletária, alheios ao<br />
processo de transformação<br />
desta organização em aparelho<br />
burocrático stalinista.<br />
Em arte, defendiam a libertação<br />
<strong>do</strong> espírito e <strong>do</strong><br />
subconsciente propostos pelo<br />
surrealismo através <strong>do</strong>s manifestos<br />
de André Breton,<br />
A cidade de Paris durante<br />
as décadas de 1920 e 1930,<br />
era o mais importante centro<br />
cultural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ali<br />
haviam desponta<strong>do</strong> alguns<br />
<strong>do</strong>s movimentos artísticos<br />
centrais da arte moderna internacional.<br />
Desde o fauvismo,<br />
passan<strong>do</strong> pelo cubismo,<br />
o dadaísmo e posteriormente<br />
o surrealismo, um <strong>do</strong>s grandes<br />
interesses <strong>do</strong>s artistas<br />
modernos era a derrubada<br />
<strong>do</strong>s velhos cânones que haviam<br />
<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> as artes até<br />
finais <strong>do</strong> século XIX. Em seu<br />
movimento de ruptura com a<br />
antiga tradição e com os velhos<br />
valores da sociedade, estes<br />
artistas irão desenvolver<br />
um renova<strong>do</strong> interesse pela<br />
cultura de diferentes povos<br />
defenden<strong>do</strong> também seus<br />
principais expoentes, Louis<br />
Aragon, Paul Eluard e Benjamin<br />
Péret, entre outros. Estes<br />
escritores negros iriam aderir<br />
incondicionalmente aos violentos<br />
ataques <strong>do</strong> surrealismo<br />
<strong>contra</strong> o passa<strong>do</strong> da literatura<br />
francesa, ao mesmo tempo<br />
em que exaltariam os grandes<br />
precursores reivindica<strong>do</strong>s<br />
pelos surrealistas, como Sade,<br />
Rimbaud e Lautréamont.<br />
Esta defesa aberta de autores<br />
europeus demonstrava o<br />
caráter desta publicação. Possuíam<br />
um programa mais amplo<br />
e heterogêneo <strong>do</strong> que terá<br />
pouco mais tarde o movimento<br />
Negritude. Representan<strong>do</strong>,<br />
de um ponto de vista histórico,<br />
um processo de transição<br />
e amadurecimento da literatura<br />
negra, em busca ainda de<br />
uma identidade própria. Eram<br />
mais propriamente escritores<br />
de vanguarda <strong>do</strong> que de “literatura<br />
negra”, cuja maior<br />
ênfase de seus ataques eram<br />
dirigi<strong>do</strong>s <strong>contra</strong> o provincianismo<br />
e atraso da literatura<br />
caribenha de sua época <strong>do</strong> que<br />
à defesa de sua raça, ainda que<br />
este elemento <strong>já</strong> se fizesse presente.<br />
Estavam a um paço de<br />
formular um programa completo<br />
de literatura negra.<br />
Nestes escritores, esta reivindicação<br />
surgia como uma<br />
implicação direta de sua influência<br />
surrealista, acompanhada<br />
das idéias <strong>do</strong>s intelectuais<br />
negros americanos que estes<br />
e tradições que até então haviam<br />
permaneci<strong>do</strong> <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
de fora da grande tradição da<br />
cultura ocidental, as chamadas<br />
artes primitivas vindas de<br />
todas as partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />
da Ásia, América, Oceania e,<br />
principalmente, da África.<br />
Este renova<strong>do</strong> interesse<br />
coincidia com a recente política<br />
de expansão colonial <strong>do</strong><br />
escritores certamente <strong>já</strong> conheciam.<br />
Se deveriam “libertar<br />
o inconsciente” em seus<br />
trabalhos, era indispensável<br />
manifestar ali sua condição<br />
negra e o conteú<strong>do</strong> original aí<br />
conti<strong>do</strong>.<br />
Esta idéia, interpretada de<br />
maneiras diferentes, daria<br />
origem também a duas correntes<br />
paralelas da Negritude,<br />
que acabariam se tornan<strong>do</strong><br />
antagônicas, divididas entre<br />
uma ala direita e outra esquerda.<br />
Defenden<strong>do</strong> o marxismo e<br />
o surrealismo, a revista Legítima<br />
Defesa não apenas aban<strong>do</strong>nava<br />
o anterior nacionalismo<br />
negro pela defesa de uma<br />
sociedade comunista, como<br />
também incorporava abertamente<br />
ao seu arsenal de<br />
ferramentas <strong>contra</strong> o mun<strong>do</strong><br />
burguês, o que de mais avança<strong>do</strong><br />
e radical a cultura européia<br />
havia produzi<strong>do</strong> em sua<br />
evolução, a crítica <strong>contra</strong> ela<br />
própria e seus aspectos conserva<strong>do</strong>res.<br />
Este era o senti<strong>do</strong><br />
de sua adesão ao surrealismo,<br />
que expressava por sua vez,<br />
o grande radicalismo e autoconfiança<br />
destes escritores,<br />
imigrantes negros na mais<br />
avançada capital das artes<br />
mundiais.<br />
Em seu manifesto político<br />
e cultural exposto nas páginas<br />
de Legítima Defesa, estes<br />
estudantes rejeitariam ainda<br />
a simples importação cultural<br />
característica da burguesia<br />
branca caribenha. Viven<strong>do</strong><br />
Após um perío<strong>do</strong> de mais de uma década<br />
de fermentação nos países americanos, na<br />
década de 1930 a literatura negra teria suas<br />
primeiras manifestações em solo europeu<br />
e daí para a Àfrica, confirman<strong>do</strong> a grande<br />
abrangência <strong>do</strong> movimento como um<br />
fenômeno realmente geral das nações negras<br />
imperialismo francês, que<br />
começava a promover, <strong>desde</strong><br />
os primeiros anos <strong>do</strong> século<br />
XX, diversas exposições <strong>do</strong>s<br />
artefatos vin<strong>do</strong>s das novas<br />
colônias. Esta rica tradição<br />
estrangeira forneceria as<br />
fontes de influência necessária<br />
à ruptura radical <strong>do</strong>s valores<br />
burgueses busca<strong>do</strong>s por<br />
estes artistas.<br />
em Paris, estes jovens buscarão,<br />
ao contrário, a afirmação<br />
de sua nacionalidade e da expressão<br />
de sua subjetividade<br />
negra particular diante <strong>do</strong>s<br />
demais artistas franceses<br />
cujas descobertas irão encarar<br />
como ferramentas vitais para<br />
sua própria emancipação.<br />
Em defesa de um<br />
vanguardismo<br />
literário negro<br />
Juntamente com estas exposições,<br />
chegava também<br />
à Paris, um número enorme<br />
de imigrantes negros vin<strong>do</strong>s,<br />
tanto das antigas colônias<br />
<strong>do</strong> Caribe, quanto das novas<br />
colônias africanas, buscan<strong>do</strong><br />
melhores condições de vida,<br />
de ensino e cultura oferecidas<br />
pela metrópole.<br />
Influencia<strong>do</strong>s por esta<br />
O salão das irmãs Nardal e a Revista <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Negro<br />
O caráter combativo de Legítima<br />
Defesa era <strong>já</strong> indica<strong>do</strong><br />
pela epígrafe inscrita em suas<br />
páginas: “Esta pequena revista,<br />
ferramenta provisória,<br />
caso quebre, nós saberemos<br />
como en<strong>contra</strong>r outros instrumentos”.Se<br />
aproprian<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> ponto de vista da crítica<br />
marxista, estes poetas martinicanos<br />
tomarão plena consciência<br />
da condição degradada<br />
<strong>do</strong> negro caribenho, de antigo<br />
escravo a novo trabalha<strong>do</strong>r<br />
proletário, e desta forma, irão<br />
levantar uma violenta crítica<br />
<strong>contra</strong> o caráter racista da sociedade<br />
colonial da Martinica.<br />
Não só em seu país, mas em<br />
to<strong>do</strong> o Caribe, a sociedade de<br />
classes era rigidamente delineada<br />
também pelos grupos<br />
raciais. A grande burguesia<br />
destes países, industriais,<br />
usineiros, latifundiários,<br />
era branca. Do la<strong>do</strong> extremo<br />
oposto, estará a numerosa<br />
população negra, forman<strong>do</strong><br />
a quase totalidade <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong><br />
caribenho. Entre as<br />
negra de sua época. As reuniões<br />
promovidas em sua casa<br />
eram freqüentadas por escritores<br />
negros de proa, como o<br />
norte-americano Langston<br />
Hughes ou o jamaicano Claude<br />
McKay, ambos figuras<br />
centrais da Renascença <strong>do</strong><br />
Harlem.<br />
Elas dirigiam também<br />
nesta época, em parceria<br />
com o haitiano Leo Sajous,<br />
a revista literária La Revue<br />
du Monde Noir (A Revista <strong>do</strong><br />
Mun<strong>do</strong> Negro). A publicação<br />
não possuía ainda nada<br />
<strong>do</strong> radicalismo que caracterizará<br />
o movimento negro<br />
parisiense alguns anos mais<br />
tarde, cumprin<strong>do</strong>, porém,<br />
um importante papel de divulga<strong>do</strong>r,<br />
entre os negros das<br />
colônias francesas, da rica e<br />
diversificada literatura negra<br />
produzida naquele momento<br />
em diferentes partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
Influenciadas pelas idéias<br />
de pensa<strong>do</strong>res pan-africanos,<br />
como W.E.B. Du Bois ou<br />
Jean Price-Mars, seu objetivo<br />
declara<strong>do</strong> era despertar a<br />
consciência da raça negra, o<br />
conhecimento e o aprofundamento<br />
de sua história, <strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s povos negros, da<br />
anterior cultura africana e a<br />
transformação destas tradições,<br />
sob a influência da cultura<br />
européia, nos diferentes<br />
países para onde os negros<br />
foram transporta<strong>do</strong>s durante<br />
a escravidão.<br />
A revista incluía artigos<br />
sobre a moda negra em Paris,<br />
as apresentações de Josephine<br />
Baker, o culto pela arte<br />
primitiva africana, ou mesmo<br />
artigos políticos como<br />
Justiça na América, Os negros<br />
e a arte, O problema <strong>do</strong> trabalho<br />
no Haiti, Reflexões sobre<br />
o Islam, ou O negro em Cuba.<br />
Ainda assim, as atividades<br />
da revista, segun<strong>do</strong> declaravam<br />
as próprias irmãs Nardal,<br />
eram puramente culturais,<br />
preferin<strong>do</strong> manter-se<br />
distantes das polêmicas <strong>do</strong><br />
movimento negro. Esta revista<br />
tinha quase um caráter<br />
duas classes, a estava uma<br />
pequena-burguesia composta<br />
por mulatos de pele clara, descendentes<br />
de negros mas que<br />
em sua maioria buscarão distanciar-se<br />
o mais possível de<br />
qualquer vinculação com este<br />
passa<strong>do</strong>, rejeitan<strong>do</strong> a um só<br />
tempo toda a cultura nativa<br />
caribenha em favor da cultura<br />
exportada da Europa.<br />
Os poetas negros de Legítima<br />
Defesa, criticarão com<br />
veemência a subserviência<br />
artificial, tanto da burguesia<br />
branca quanto da pequenaburguesia<br />
mulata, ao modelos<br />
consagra<strong>do</strong>s da literatura<br />
francesa, principalmente da<br />
poesia alexandrina - parnasiana<br />
<strong>do</strong> século XIX. Afirmarão<br />
ainda em sua revista com<br />
grande lucidez, que apenas<br />
uma nação emancipada política,<br />
social e intelectualmente<br />
seria capaz de criar uma<br />
literatura própria, original.<br />
Execran<strong>do</strong>, portanto, o que<br />
encarariam como a classe<br />
parasitária desta sociedade,<br />
representada pelos brancos e<br />
mulatos.<br />
O primeiro e único número<br />
da revista levava em suas<br />
páginas uma passagem <strong>do</strong><br />
romance Banjo, <strong>do</strong> poeta negro<br />
jamaicano Claude McKay.<br />
Uma escolha significativa que<br />
atestava a influência e a repercussão<br />
da literatura negra de<br />
língua inglesa sobre estes escritores<br />
francófonos.<br />
Neste romance, McKay<br />
justamente ridicularizava o<br />
grande movimentação artística<br />
da sociedade parisiense,<br />
dezenas de estudantes negros<br />
se lançariam também<br />
à atividade intelectual, forman<strong>do</strong>,<br />
a partir da década<br />
de 1930, os primeiros grupos<br />
literários negros estabeleci<strong>do</strong>s<br />
em Paris, em meio<br />
às vanguardas modernistas<br />
francesas.<br />
quase oficial, sen<strong>do</strong> financiada<br />
em parte pelo Ministério<br />
das Colônias francês.<br />
A publicação teve vida<br />
efêmera, manteve suas atividades<br />
durante seis meses<br />
apenas, entre novembro de<br />
1931 e abril de 1932, com um<br />
total de seis números publica<strong>do</strong>s.<br />
Ainda assim teve uma<br />
importância fundamental<br />
como a primeira manifestação<br />
de um movimento literário<br />
negro organiza<strong>do</strong> em<br />
Paris.<br />
Legítima Defesa, manifesto negro pela arte de vanguarda<br />
modelo <strong>do</strong> cidadão caribenho<br />
agin<strong>do</strong> em total desacor<strong>do</strong><br />
com as necessidades de sua<br />
pátria. A protagonista de seu<br />
romance era a martinicana<br />
aristocrática Joséphine Bonaparte,<br />
figura histórica que<br />
renegou sua pátria, casou-se<br />
com Napoleão, e foi diretamente<br />
responsável pelo restabelecimento<br />
a escravidão nas<br />
colônias francesas durante o<br />
Primeiro Império.<br />
O radicalismo das propostas<br />
de Legítima Defesa, expressos<br />
por uma linguagem<br />
violenta ainda inédita entre<br />
os escritores negros, ainda<br />
que tenha si<strong>do</strong> propagada em<br />
um único número, teria grande<br />
repercussão sobre os meios<br />
intelectuais negros em Paris,<br />
cumprin<strong>do</strong> um papel aglutina<strong>do</strong>r<br />
de diversos poetas negros<br />
dispersos pela cidade.<br />
Algumas das teses expostas<br />
pelo grupo de Legítima Defesa<br />
serão retomadas e reelaboradas<br />
pelo movimento que<br />
se formaria na etapa seguinte,<br />
e que ficaria conheci<strong>do</strong> como<br />
Negritude, com diversas modificações<br />
e uma ênfase renovada<br />
na defesa da cultura<br />
original africana que havia<br />
si<strong>do</strong> desprezada pelos poetas<br />
de Legítima Defesa. A ênfase<br />
destes estudantes, em geral,<br />
ia muito mais no senti<strong>do</strong> de<br />
uma crítica vanguardista <strong>contra</strong><br />
a mediocridade da literatura<br />
caribenha, <strong>do</strong> que <strong>do</strong> resgate<br />
da cultura negra em seus<br />
múltiplos aspectos.<br />
Les Demoiselles<br />
d’Avignon<br />
Modigliani esculturas africanistas<br />
Amadeo Modigliani<br />
“Acreditamos sem reserva no<br />
triunfo <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista”<br />
“O Parti<strong>do</strong> comunista<br />
(Terceira internacional) está<br />
jogan<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os países<br />
a carta decisiva <strong>do</strong> ‘Espírito’<br />
(no senti<strong>do</strong> hegeliano <strong>do</strong> termo).<br />
Sua derrota, por mais<br />
impossível que creiamos<br />
seria para nós o definitivo<br />
‘eu não posso mais’. Acreditamos<br />
sem reserva em seu<br />
triunfo e isso porque nos<br />
apoiamos no materialismo<br />
dialético de Marx, subtraí<strong>do</strong><br />
de toda interpretação tendenciosa<br />
e<br />
vitoriosamente submeti<strong>do</strong><br />
à prova por Lenin. Estamos<br />
prontos para nos confrontar,<br />
neste terreno, com a disciplina<br />
que exigem semelhantes<br />
convicções. No plano concreto<br />
<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s figura<strong>do</strong>s<br />
da expressão humana, aceitamos,<br />
igualmente sem reservas,<br />
o surrealismo ao qual<br />
- em 1932 - ligamos o nosso<br />
vir-a-ser. E remetemos nossos<br />
leitores aos <strong>do</strong>is Manifestos<br />
de André Breton, à obra<br />
completa de Aragon, de André<br />
Breton e de Tristan Tzara,<br />
da qual devemos dizer se<br />
não seria uma vergonha não<br />
ser mais conhecida em to<strong>do</strong>s<br />
os lugares onde se fala francês.<br />
E procuramos em Sade,<br />
Hegel, Lautréamont, Rimbaud,<br />
para citar apenas alguns,<br />
tu<strong>do</strong> o que o surrealismo<br />
nos propiciou en<strong>contra</strong>r.<br />
Quanto a Freud, estamos<br />
prontos a utilizar a imensa<br />
máquina de dissolução da<br />
família burguesa que ele<br />
impulsionou. Tomamos o<br />
trem <strong>do</strong> inferno da sinceridade.<br />
(...) No dia em que<br />
o proletaria<strong>do</strong> negro, oprimi<strong>do</strong><br />
nas Antilhas por uma<br />
mulatice parasita, vendida a<br />
Brancos degenera<strong>do</strong>s, tiver<br />
acesso, quebran<strong>do</strong> um duplo<br />
jugo, ao direito de comer e<br />
ao direito de criar, apenas<br />
neste dia existirá uma poesia<br />
antilhana.”<br />
Mascara Africana<br />
Magritte Mnazna
30 de maio de 2010<br />
CAUSA OPERÁRIA<br />
CULTURA B8<br />
A REVISTA O ESTUDANTE NEGRO E A<br />
FORMAÇÃO DO GRUPO NEGRITUDE<br />
Pintura africanista <strong>do</strong> cubano Wilfre<strong>do</strong> Lam<br />
Legítima Defesa encerrou<br />
suas atividades após um único<br />
exemplar lança<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à perseguição<br />
política francesa. O<br />
<strong>governo</strong> francês retirou a bolsa<br />
de estu<strong>do</strong>s destes estudantes<br />
devi<strong>do</strong> ao que ao que considerou<br />
uma afronta à França.<br />
O grupo, porém, organiza<strong>do</strong><br />
em torno dela, manteve-se<br />
uni<strong>do</strong>, com o afastamento apenas<br />
de alguns de seus colabora<strong>do</strong>res.<br />
A partir deste núcleo,<br />
e com a aproximação de novos<br />
poetas negros, se formaria a<br />
que certamente foi a mais representativa<br />
e influente vanguarda<br />
literária negra na Europa<br />
e na África, grupo que nos<br />
anos seguintes ficaria conheci<strong>do</strong><br />
como Negritude.<br />
O Negritude seria forma<strong>do</strong><br />
por Étienne Léro, Jules Monnerot,<br />
René Ménil, Aimé Césaire,<br />
Léon Damas, Léonard<br />
Sainville, Aristide Maugée, os<br />
irmãos Achille e os africanos<br />
Léopold Sedar Senghor, Osmane<br />
Socé e Birago Diop, to<strong>do</strong>s os<br />
três emigra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Senegal.<br />
Este novo grupo se unificaria<br />
inicialmente em torno de<br />
uma nova revista, L’Edudient<br />
Noir (O Estudante Negro), revista<br />
que teria igualmente<br />
curta duração com apenas <strong>do</strong>is<br />
exemplares lança<strong>do</strong>s ao longo<br />
de 1935. Ecos <strong>do</strong> manifesto de<br />
Legítima Defesa en<strong>contra</strong>vamse<br />
impressos no manifesto publica<strong>do</strong><br />
no primeiro número de<br />
O Estudante Negro: “A história<br />
<strong>do</strong>s negros é um drama em três<br />
episódios. Os negros foram primeiramente<br />
escraviza<strong>do</strong>s (‘estúpi<strong>do</strong>s<br />
e brutos’, dizia-se...).<br />
Um olhar mais indulgente, depois,<br />
voltou-se pare eles. Disseram:<br />
‘eles valem mais que sua<br />
reputação’. Tentou-se <strong>do</strong>má-los<br />
e foram assimila<strong>do</strong>s. Foram à<br />
escola <strong>do</strong>s senhores; ‘crianças<br />
crescidas’ dizia-se, pois apenas<br />
a criança está perpetuamente<br />
na escola <strong>do</strong>s senhores (...).<br />
Os jovens negros de hoje não<br />
querem nem o assujeitamento<br />
nem a assimilação. Querem<br />
emancipação. ‘Homens’, dirse-a,<br />
pois, apenas o homem<br />
anda sem mestre nos grandes<br />
caminhos <strong>do</strong> pensamento.”<br />
Ainda neste número inaugural<br />
da revista, Léon Damas<br />
anunciava: “O Estudante Negro,<br />
jornal corporativo e de<br />
luta com o objetivo de colocar<br />
um fim na tribalização e <strong>do</strong><br />
sistema de clãs em vigor no<br />
Quartier Latin (bairro latino<br />
francês). Cessamos de ser um<br />
estudante martinicano, guadalupense,<br />
guianense, africano,<br />
malgache, para sermos um<br />
único e mesmo estudante negro.<br />
Terminan<strong>do</strong> assim com a<br />
vida em isolamento”.<br />
O pan-africanismo<br />
a serviço da literatura<br />
A iniciativa era em si <strong>já</strong> profundamente<br />
revolucionária.<br />
Unia pela primeira vez, não<br />
apenas escritores das Américas<br />
como fez A Revista <strong>do</strong><br />
Mun<strong>do</strong> Negro, mas também<br />
africanos e franceses buscan<strong>do</strong><br />
um intercâmbio cultural mais<br />
profun<strong>do</strong> em torno de seu objetivo<br />
comum, a criação de um<br />
movimento literário verdadeiramente<br />
negro.<br />
Por trás deste objetivo, estava<br />
o programa político <strong>do</strong> panafricanismo,<br />
alia<strong>do</strong> às teorias<br />
culturais de etnógrafos como o<br />
haitiano Jean Price-Mars, que<br />
estu<strong>do</strong>u profundamente a cultura<br />
negra de seu país; o francês<br />
Maurice Delafosse, responsável<br />
por diversas pesquisas<br />
importantes nas colônias francesas<br />
na África; e, sobretu<strong>do</strong>,<br />
o alemão Léo Frobénius, que<br />
viajou pela África e realizou<br />
diversas descobertas importantes<br />
acerca da cultura das<br />
tribos subsaarianas. Os poetas<br />
<strong>do</strong> Negritude tinham ambos os<br />
estudiosos em alta conta. Senghor<br />
elogiava Frobénius como<br />
o homem que havia “da<strong>do</strong> de<br />
volta a África a sua dignidade<br />
e identidade”. Enquanto que<br />
Aimé Césaire considerava que<br />
Frobénius finalmente havia<br />
prova<strong>do</strong> que os africanos eram<br />
“civiliza<strong>do</strong>s até a medula <strong>do</strong>s<br />
seus ossos”.<br />
O programa<br />
literário <strong>do</strong><br />
Negritude<br />
Os poetas <strong>do</strong> Negritude motiva<strong>do</strong>s<br />
pelos fortes sentimentos<br />
<strong>do</strong> nacionalismo pan-africanista,<br />
buscavam sobretu<strong>do</strong><br />
uma identidade comum aos<br />
povos negros de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />
Manten<strong>do</strong> seu programa<br />
de luta <strong>contra</strong> o colonialismo<br />
europeu, veriam nestas descobertas<br />
da rica cultura autóctone<br />
africana, a fonte primordial<br />
de criação para sua literatura<br />
renova<strong>do</strong>ra. Um terreno de<br />
atuação comum para negros<br />
americanos, europeus e africanos.<br />
Seria basea<strong>do</strong> nestas considerações<br />
que se formularia o<br />
programa literário <strong>do</strong> Negritude,<br />
movimento verdadeiramente<br />
amplo que transcenderia<br />
os limites de seu próprio<br />
grupo e mesmo das fronteiras<br />
francesas para se tornar<br />
o mais influente movimento<br />
negro em toda a África.<br />
Este movimento servirá<br />
como ponto de partida fundamental<br />
para o despontar da<br />
literatura negra em dezenas<br />
de países. Daria deste mo<strong>do</strong><br />
um norte para a atividade literária<br />
de centenas de escritores<br />
negros das décadas seguintes,<br />
tanto na África, quanto na<br />
Europa e América. Se constituin<strong>do</strong><br />
como a última etapa de<br />
gestação da literatura negra<br />
e responsável por delinear os<br />
contornos que ela assumiria a<br />
partir de então e até os dias de<br />
hoje.<br />
O termo negritude, no entanto,<br />
surgiria apenas mais<br />
tarde, em 1939, utiliza<strong>do</strong> por<br />
Aimé Césaire para designar estes<br />
escritores em busca de uma<br />
identidade para o seu povo.<br />
Nas páginas de O Estudante<br />
Negro, ele explicaria, “Como os<br />
antilhanos tinham vergonha<br />
de ser negros (‘nègres’, termo<br />
utiliza<strong>do</strong> de forma ofensiva<br />
pelos brancos, <strong>já</strong> que em francês<br />
existe a palavra ‘noir’),<br />
procuravam to<strong>do</strong>s os tipos de<br />
perífrases para designar um<br />
negro.<br />
Dizia-se ‘um negro’ (‘un<br />
noir’), ‘um homem amorena<strong>do</strong>’<br />
e outras besteiras como essas...<br />
e então nós tomamos a palavra<br />
negro (nègre) como uma palavra<br />
desafio. Era um termo de<br />
desafio. Era um pouco a reação<br />
de um jovem em cólera. Já que<br />
tínhamos vergonha da palavra<br />
negro, retomamos a palavra<br />
negro. Devo dizer que quan<strong>do</strong><br />
fundamos L’Étudiant Noir,<br />
eu queria chamá-lo, na realidade,<br />
‘L’Étudiant Nègre’, mas<br />
houve uma grande resistência<br />
no meio antilhano... Alguns<br />
pensavam que a palavra nègre<br />
era por demais ofensiva, por<br />
demais agressiva. Então tomei<br />
a liberdade de falar de nègritude.<br />
Havia um desejo de desafio,<br />
de afirmação violenta de nós<br />
mesmos na palavra ‘nègre’ e na<br />
palavra ‘negritude’”.<br />
O desenvolvimento<br />
das idéias da<br />
negritude<br />
Durante seu desenvolvimento,<br />
a negritude acabaria<br />
se desenvolven<strong>do</strong> em duas correntes<br />
distintas.<br />
Uma delas, defendida por<br />
escritores que entendiam a<br />
negritude como uma corrente<br />
específica da literatura, e entendida<br />
como um problema<br />
Fac símile <strong>do</strong> primeiro número da revista O Estudante Negro<br />
cultural e histórico, uma manifestação<br />
específica de um<br />
programa político mais amplo<br />
de libertação <strong>do</strong> negro da<br />
opressão colonialista e emancipação<br />
geral no interior da sociedade<br />
capitalista.<br />
O senegalês Leopold Sedar Sengor, importante<br />
expoente <strong>do</strong> Negritude<br />
A outra corrente, por outro<br />
la<strong>do</strong>, encarava a negritude de<br />
um ponto de vista mais amplo,<br />
como toda uma política a ser<br />
seguida. Encarava o problema<br />
<strong>do</strong> negro, não como resulta<strong>do</strong><br />
unicamente de séculos de<br />
O poeta Aimé Césaire, um <strong>do</strong>s pincipais nomes<br />
<strong>do</strong> Negritude<br />
opressão política pelos brancos,<br />
mas também como uma<br />
questão biológica e espiritual.<br />
Segun<strong>do</strong> esta interpretação<br />
da negritude, os negros, to<strong>do</strong>s<br />
descendentes da África,<br />
seriam os porta<strong>do</strong>res de alguma<br />
“substância vital negra”,<br />
que apenas eles poderiam<br />
manifestar e que uniria toda<br />
a raça a priori e não em torno<br />
de um determina<strong>do</strong> programa<br />
de luta. Uma implicação óbvia<br />
desta visão específica <strong>do</strong> negro<br />
era encarar a questão deste<br />
povo como um problema de<br />
consciência. Daí seu interesse,<br />
sobretu<strong>do</strong>, pela cultura negra,<br />
encarada como a principal<br />
ferramenta de libertação <strong>do</strong>s<br />
povos negros. Segun<strong>do</strong> eles,<br />
se aproprian<strong>do</strong> das tradições<br />
próprias <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s<br />
africanos, suas histórias, cultos<br />
religiosos, vestimentas e<br />
dialeto, o negro naturalmente<br />
conquistaria sua emancipação<br />
social.<br />
Tal concepção era uma reação<br />
às teorias racistas que cada<br />
vez mais se popularizavam na<br />
Europa, defendidas pelo nazismo<br />
e demais fascismos ao longo<br />
das décadas de 1920 e 1930.<br />
Representava, portanto, neste<br />
momento, também uma tentativa,<br />
ainda que equivocada, de<br />
defesa da dignidade <strong>do</strong> negro.<br />
Embasavam suas idéias na<br />
tradição da religiosidade negra,<br />
mas por seu forte conteú<strong>do</strong><br />
místico, no perío<strong>do</strong> seguinte,<br />
tenderia seriamente para<br />
uma política direitista no interior<br />
<strong>do</strong> movimento negro, freqüentemente<br />
descartan<strong>do</strong> os<br />
princípios da luta política prática<br />
em função desta unidade<br />
“espiritual” de to<strong>do</strong>s os negros.<br />
Ambas as correntes da negritude<br />
foram extremamente<br />
influentes em seu tempo, encabeçadas,<br />
cada uma delas,<br />
por importantes poetas que<br />
haviam inicia<strong>do</strong> o Negritude<br />
e, durante as décadas de 1930-<br />
40-50, se dividiam em seus<br />
campos específicos de combate.<br />
Enquanto o africano Leopold<br />
Sedar Séngor liderava a<br />
corrente “essencialista” da negritude,<br />
escritores caribenhos<br />
como Aimé Césare e Jacques<br />
Roumain situavam-se no campo<br />
oposto.<br />
A negritude no pósguerra<br />
As atividades <strong>do</strong> negritude<br />
se desenvolveriam sempre<br />
através de publicações literárias<br />
que seriam responsáveis<br />
por popularizar as idéias <strong>do</strong><br />
grupo.<br />
Outra importante revista<br />
<strong>do</strong> grupo seria a Présence Africaine<br />
(Presença Africana), que<br />
se tornaria a principal portavoz<br />
da negritude a partir de<br />
1947.<br />
Fundada pelo importante<br />
intelectual senegalês Alioune<br />
Diop, a Presença Africana representava<br />
uma nova etapa<br />
<strong>do</strong> movimento literário negro,<br />
incorporan<strong>do</strong> agora em seu<br />
corpo de colabora<strong>do</strong>res, não<br />
apenas proeminentes escritores<br />
negros, como Aime Cesaire,<br />
Léopold Sédar Senghor e<br />
Richard Wright, mas também<br />
destaca<strong>do</strong>s intelectuais e escritores<br />
franceses, defensores<br />
da literatura negra pan-africana,<br />
tais como Jean-Paul Sartre,<br />
Albert Camus, André Gide<br />
e Michel Leiris, entre outros.<br />
Esta revista participaria<br />
das mais importantes iniciativas<br />
políticas e culturais da negritude<br />
a partir de então, manten<strong>do</strong><br />
suas atividades até os<br />
dias de hoje, não apenas como<br />
revista mas também como editora.<br />
O movimento negritudista<br />
atingiria o ápice de sua popularidade<br />
como corrente literária<br />
durante os movimentos de<br />
libertação das colônias negras<br />
africanas e <strong>do</strong>s movimentos<br />
pelos direitos civis <strong>do</strong>s negros<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s durante as<br />
décadas de 1960 e 70.<br />
Eventos fundamentais marcariam<br />
claramente a expansão<br />
<strong>do</strong> movimento internacionalmente,<br />
como a realização de<br />
duas edições <strong>do</strong> Congresso<br />
Alioune Diop, funda<strong>do</strong>r da Presença Africana, ao<br />
la<strong>do</strong> de Aimé Césaire<br />
Internacional de Escritores e<br />
Artistas Negros. O primeiro<br />
realiza<strong>do</strong> em Paris, em 1956, e<br />
o segun<strong>do</strong> em Roma, em 1959.<br />
Ambos os congressos contaram<br />
com a presença <strong>do</strong>s mais<br />
importantes intelectuais, escritores<br />
e artistas negros e<br />
brancos, apoia<strong>do</strong>res <strong>do</strong> movimento<br />
cultural negro e da luta<br />
política travada nas metrópoles<br />
e colônias pela libertação<br />
<strong>do</strong>s países africanos. Entre os<br />
presentes, estariam figuras<br />
como o antropólogo haitiano<br />
Jean Price-Mars, o poeta malgache<br />
Jacques Rabemananjara,<br />
o antropólogo senegalês<br />
Cheikh Anta Diop, o romancista<br />
norte-americano Richard<br />
Wright, e o psiquiatra e escritor<br />
martinicano Franz Fanon.<br />
Além da participação e apoio<br />
de personalidades como o pintor<br />
espanhol Pablo Picasso.<br />
Este congresso literário retomava<br />
a tradição <strong>do</strong>s congressos<br />
pan-africanos promovi<strong>do</strong>s<br />
por W.E.B. Du Bois, cujos êxitos<br />
haviam de manifesta<strong>do</strong> na<br />
realização de sua quinta edição,<br />
no imediato pós-guerra,<br />
em 1945, onde realizou um<br />
balanço <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
<strong>do</strong> pan-africanismo mais de<br />
duas décadas depois da realização<br />
<strong>do</strong> IV Congresso.<br />
As idéias que foram popularizadas<br />
através da atividade<br />
<strong>do</strong> Negritude, que nada mais<br />
eram <strong>do</strong> que a conclusão de<br />
to<strong>do</strong>s os movimentos culturais<br />
surgi<strong>do</strong>s anteriormente,<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Caribe,<br />
são hoje parte indissociável de<br />
qualquer movimento político<br />
negro, tanto em suas expressões<br />
como nacionalismo burguês,<br />
quanto como movimento<br />
socialista.