Barreiro - Fonoteca Municipal de Lisboa
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mas só cheguei ao Kurt Vonnegut, o<br />
que não é mau”. E ri-se.<br />
“Às vezes não é tanto a história mas<br />
uma pequena cena, que estou a tentar<br />
<strong>de</strong>screver. Contar histórias serve-me<br />
para fazer uma coisa: juntar pessoas.<br />
É a única coisa que po<strong>de</strong>mos fazer.<br />
Gosto <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> juntar pessoas,<br />
mesmo que tenha que ser para verem<br />
este tipo meio trôpego a cantar. Mas<br />
não as quero aborrecer, até porque os<br />
concertos são ao fim do dia quando<br />
as pessoas já estão, normalmente,<br />
cansadas. Eu estou”.<br />
Cansado também do circo à volta<br />
da música. “E a expectativa”, acrescenta.<br />
Quando em 1990 saiu “Fanfare<br />
for the comic muse”, o primeiro álbum,<br />
Hannon foi chamado <strong>de</strong> tudo:<br />
compositor, renovação da música britânica...<br />
“Até <strong>de</strong> génio me chamaram.<br />
De facto, eu tentava fazer com que me<br />
ouvissem, mas não me esforçava muito.<br />
Eu sou mais o tipo que fica ali no<br />
fundo da sala até repararem em mim.<br />
Sou tímido. Já viu como canto?”, pergunta-nos.<br />
Vimos, oh se vimos, voz<br />
grave, frases claras, olhos pousados<br />
num sítio qualquer lá <strong>de</strong>ntro, à la<br />
Gainsbourg, experimentamos dizer.<br />
“Oh, fico muito lisonjeado, mas ele é<br />
francês e eu sou irlandês. Isso faz toda<br />
a diferença. Não aguentava a noite inteira<br />
numa festa. Eu sou só o tipo para<br />
quem a escrita é a forma mais pura<br />
<strong>de</strong> satisfação que existe na minha vida<br />
porque quando não há nada, há sempre<br />
algo que funciona”.<br />
Frases <strong>de</strong>stas, atiradas assim, como<br />
se “não fossem nada” – “não são realmente”,<br />
reforça –, e não resistimos a<br />
perguntar se lhe é fácil ser elegante.<br />
“Elegante? Bom, percebi muito cedo<br />
que se usasse fatos completos disfarçava<br />
este meu ar franzino. Se usasse<br />
calças <strong>de</strong> ganga e uma t-shirt ninguém<br />
reparava em mim. É como a verda<strong>de</strong>ira<br />
música pop. Fico bem <strong>de</strong> fatos, é<br />
só”. Oh Neil, não estávamos a falar <strong>de</strong><br />
A partir <strong>de</strong> roupa, mas se quer embalar-nos na<br />
amanhã metáfora “until we’re old and grey”,<br />
faz <strong>de</strong> jogral estávamos a falar das construções melódicas,<br />
do poema que <strong>de</strong>ixa suspen-<br />
– Guimarães<br />
(Centro so, do fim dos versos que arrastam as<br />
<strong>de</strong> Artes e sílabas, <strong>de</strong>sse olhar sobre um quotidiano<br />
on<strong>de</strong> parece que há sempre<br />
Espectáculos<br />
São Mame<strong>de</strong>), folhas <strong>de</strong> árvore a cair, ou um sol que<br />
domingo em se põe como se estivéssemos sempre<br />
Aveiro (Teatro na praia e já tivéssemos perdido a conta<br />
às caipirinhas... “Ah”, respon<strong>de</strong>.<br />
Aveirense),<br />
2ª e 3ª em “Mas eu nem sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem esta<br />
<strong>Lisboa</strong> (Maria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> contar histórias. Só sei que<br />
Matos) –, só gosto <strong>de</strong> canções perfeitas, bem compostas.<br />
Tentei sempre ser honesto e<br />
ele “um piano<br />
e uma<br />
as historias que conto, ou as personagens<br />
que conto, são ‘larger than life’.<br />
guitarra”<br />
Essa é a melhor forma <strong>de</strong> ter um ponto<br />
<strong>de</strong> focagem e <strong>de</strong> acentuar o que<br />
quero dizer. Falo sobre coisas que são<br />
importantes para mim, mas numa forma<br />
obscura e relaxada que para mim<br />
faz sentido e, eventualmente, fará sentido<br />
para mais alguém.”<br />
E, <strong>de</strong> repente, ouvimos uma interferência<br />
na chamada. Ele diz-nos que<br />
“<strong>de</strong>ve ser a outra entrevista”. É como<br />
se tivéssemos a ver o gin a chegar ao<br />
fim do copo e ainda nem tivéssemos<br />
trocado números <strong>de</strong> telefone. Só temos<br />
tempo <strong>de</strong> mais uma provocação:<br />
“então afinal sabe o que o trouxe até<br />
aqui” (“God only knows what brings<br />
me here” é o verso <strong>de</strong> uma das canções<br />
do último álbum). E ele ri-se.<br />
até tu<br />
6ª EDIÇAO BES REVELAÇAO<br />
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Ípsilon • Sexta-feira 26 Novembro 2010 • 15