Percurso para a Quaresma 2012 - FEC
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11 de Março | III Domingo da <strong>Quaresma</strong><br />
POR UM DESENVOLVIMENTO MAIS JUSTO<br />
capacidade de melhorar condições materiais e humanas num quadro de participação, onde o ideal universal que<br />
o conceito preconiza, inclui claramente uma definição <strong>para</strong> além do simples crescimento económico. No Relatório<br />
do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 1990 esta preocupação de um entendimento abrangente de<br />
desenvolvimento é evidenciada. E esta acepção de desenvolvimento global passa então por uma dimensão estrutural<br />
que visa condições básicas e dignas de sobrevivência, bem como a possibilidade de viver sem opressão num regime<br />
participativo e inclusivo; e também por uma dimensão de desenvolvimento individual onde a capacitação, formação<br />
e educação são princípios fundamentais, complementados por considerações relativas à dignidade do outro, a<br />
pressupostos associados à construção da paz e à cooperação <strong>para</strong> o bem comum (ver Carta Encíclica Populorum<br />
Progresso de Paulo VI sobre o desenvolvimento dos povos).<br />
Neste quadro, o surgimento do conceito de segurança humana, num alinhamento de desafio aos modelos<br />
positivistas, preconizava princípios de resposta a problemas estruturais relacionados com a dignidade da existência<br />
humana e o acesso a condições básicas de sobrevivência, além de sublinhar a necessidade do desenvolvimento<br />
individual, que se pressupõe seria construído com base nesta capacitação. Segurança humana surge assim na<br />
agenda internacional como uma nova abordagem, mais densa e aprofundada nas preocupações que engloba e nas<br />
respostas que pretende sejam dadas, com particular enfoque <strong>para</strong> situações de pós-violência armada, mas não só.<br />
Como sabemos, e no quadro atual de grave crise financeira, política e social, as necessidades básicas que no mapa<br />
europeu já não deveriam ser ‘básicas’, regressaram às preocupações, face aos problemas sociais que têm resultado<br />
de políticas nem sempre visionárias e estrategicamente orientadas <strong>para</strong> a promoção de um desenvolvimento<br />
sustentável. Mas voltando ao conceito de segurança humana, tem sido evidente um uso distorcido do mesmo<br />
<strong>para</strong> fins que não os originariamente pensados. As práticas de intervencionismo internacional e o princípio da<br />
‘responsabilidade de proteger’ têm, em algumas instâncias, ultrapassado os limites da legalidade e legitimidade,<br />
justificando intervenções com base em violações sistemáticas de direitos humanos, genocídio e crimes de guerra,<br />
resultando em ingerência interna, como o caso da Líbia ilustrou. Os critérios de intervenção, ou de decisão de não<br />
intervenção não são claros e uma linha de egoísmo tem prevalecido nas políticas e práticas de grandes estados<br />
no sistema internacional. O poder do material, do controlo de acesso a fontes e rotas energéticas, por exemplo,<br />
tem-se sobreposto ao valor da pessoa humana, o que tem tornado a questão da mercantilização das sociedades<br />
e das relações de interdependência no sistema internacional, uma questão preocupante. Por outras palavras, o ser<br />
humano vem sendo reduzido a uma quantificação material que não atende a princípios básicos estruturantes de<br />
sobrevivência e de qualificação e respeito pelo indivíduo enquanto pessoa.<br />
8 PASSOS NO CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO | QUARESMA <strong>2012</strong><br />
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