Percurso para a Quaresma 2012 - FEC
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25 de Março | V Domingo da <strong>Quaresma</strong><br />
DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM<br />
Esta gramática renovada do desenvolvimento, que o Papa Bento XVI sugere na sua carta, fica facilitada se olharmos<br />
<strong>para</strong> o desenvolvimento, das pessoas e das sociedades, não só de portas <strong>para</strong> dentro; isto é, dentro do nosso país,<br />
onde a crise actual colocou em causa o nosso ritmo de desenvolvimento e ameaça fazer-nos regredir <strong>para</strong> novas<br />
formas de pobreza, <strong>para</strong> situações de ausência de desenvolvimento pessoal e comunitário. Certamente entre nós,<br />
percebemos agora que o desenvolvimento e as condições de vida a que todos aspiramos implicam o dom <strong>para</strong> nos<br />
desenvolvermos solidários, de modo que ninguém fique <strong>para</strong> trás. E, por causa da crise, estamos a experimentar<br />
o desenvolvimento como dom; como partilha dos bens materiais e dos valores espirituais, mais do que noutros<br />
tempos recentes em que, apesar de sermos cristãos, alinhámos acriticamente no mercantilismo que caracteriza o<br />
nosso progresso e bem-estar social.<br />
Mas, mesmo na crise que nos aflige, percebemos melhor o desenvolvimento como dom, se olharmos um pouco <strong>para</strong><br />
mais longe; se, não perdermos a perspectiva global e considerarmos, por exemplo, os países com menores índices de<br />
desenvolvimento, à cabeça dos quais estão os países africanos.<br />
Sou missionário e sinto que não devo silenciar esta minha condição na Igreja. Gostaria de trazer <strong>para</strong> esta reflexão a<br />
perspectiva, mais universal e aberta aos outros, que os missionários incarnam e trazem <strong>para</strong> este debate, por força<br />
da circunstância de se encontrarem a viver no meio de povos excluídos do desenvolvimento humano, vítimas do<br />
desenvolvimento mercantilista que a Europa e a América estão a exportar <strong>para</strong> o sul do mundo, por via da globalização<br />
da economia, dos meios de produção e da distribuição de bens.<br />
Quem contacta com missionários em África – eu estive recentemente no nordeste da Etiópia e no sul do Sudão em visita<br />
a jovens missionários combonianos portugueses que lá trabalham – percebe que a palavra dom está na gramática que<br />
eles mais adoptam; que o dom envolve todas as dimensões do desenvolvimento que eles promovem pela via do seu<br />
envolvimento nos processos de transformação social actualmente em curso nesses países.<br />
A começar pelos meios económicos que eles recolhem <strong>para</strong> implementar os projectos, no âmbito da saúde e da educação.<br />
Felizmente, os missionários ainda confiam na Providência de Deus e na generosidade das pessoas, cristãos e amigos,<br />
comunidades paroquiais e grupos eclesiais, <strong>para</strong> recolherem os meios financeiros que as iniciativas de desenvolvimento<br />
requerem. Trata-se de dinheiro fruto de partilha: dom que resulta de uma grande generosidade de pessoas e grupos, de<br />
dinheiro limpo de exigências, juros, contrapartidas.<br />
8 PASSOS NO CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO | QUARESMA <strong>2012</strong><br />
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