Percurso para a Quaresma 2012 - FEC
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25 de Março | V Domingo da <strong>Quaresma</strong><br />
DESENVOLVIMENTO COMO UM DOM<br />
avanços e recuos. A avaliar por aquilo que se passa em Portugal e na Europa, é mesmo uma construção lenta,<br />
cheia de escolhos...<br />
Seria fácil escrever que, só na medida em que cada um de nós se anula, é que pode ajudar a que outros vivam. E repetir<br />
discursos e morais acerca desta parábola. Mas a sua moral maior estará, talvez, na frase seguinte – que a explica: “Quem<br />
se ama a si mesmo, perde-se...”<br />
O discurso católico tem repetido à exaustão a ideia de que, na presente crise económico-financeira, está em causa<br />
sobretudo uma crise de valores. É verdade. E isso pode ter muito a ver com essa frase do evangelho deste domingo:<br />
“Quem se ama a si mesmo, perde-se...” E poderia acrescentar-se: e faz perder os outros. É que, de facto, foi um sistema<br />
financeiro que se centrou sem si mesmo que se perder. Um sistema que se perdeu por ter perdido a razão primeira de<br />
existir – ajudar a criar e a movimentar a riqueza, <strong>para</strong> o bem das pessoas. Porque um sistema financeiro que não sirva as<br />
pessoas, de nada serve.<br />
É o Papa Bento XVI que o recorda na encíclica Caritas in Veritate: “O sistema financeiro deve ser orientado <strong>para</strong> dar apoio<br />
a um verdadeiro desenvolvimento. Sobretudo, é necessário que não se contraponha o intuito de fazer o bem ao da<br />
efectiva capacidade de produzir bens. Os operadores das finanças devem redescobrir o fundamento ético próprio da sua<br />
actividade, <strong>para</strong> não abusarem de instrumentos sofisticados que possam atraiçoar os aforradores.” (nº 65).<br />
Pior ainda: esse sistema (bancos, Banco Mundial, FMI, Reserva Federal dos Estados Unidos, Banco Central Europeu,<br />
grandes multinacionais,...) está a atirar as vidas de pessoas e de povos inteiros <strong>para</strong> a perdição. O sistema financeiro (ou<br />
seja, aqueles cujo primeiro interesse é o lucro a qualquer preço e que desprezam a vida, o trabalho e a dignidade humana<br />
de tantos) quer roubar a democracia que tantos sacrifícios tem custado a construir. E quer reduzir as nossas vidas à<br />
pobreza – sem nunca se sacrificar a si mesmo ou aos que o servem. Por isso, continua a haver cativos a chorar junto aos<br />
rios das nossas babilónias contemporâneas...<br />
Pessoas que ninguém escolheu, que ninguém votou, que ninguém elegeu arvoram-se hoje o direito de pôr e dispor das<br />
nossas vidas, dos nossos empregos, dos nossos países. E querem fazê-lo em nome da “regulação dos mercados”, forma<br />
encapotada de impor um conjunto de medidas que retiram direitos à generalidade das pessoas (mas não ao “sistema<br />
financeiro”), reduzindo-nos a meras máquinas de produção intensiva. O exemplo dos feriados aí está: se não se entende<br />
8 PASSOS NO CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO | QUARESMA <strong>2012</strong><br />
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