10.07.2015 Views

Das proibições de prova no âmbito do direito processual penal – o ...

Das proibições de prova no âmbito do direito processual penal – o ...

Das proibições de prova no âmbito do direito processual penal – o ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CLÁUDIO LIMA RODRIGUES Proibição <strong>de</strong> <strong>prova</strong> <strong>no</strong> <strong>âmbito</strong> <strong>do</strong> <strong>direito</strong> processo <strong>penal</strong>: escutas telefónicas e da valoração da <strong>prova</strong> proibida pro reo : 254.1 <strong>–</strong> AS PRINCIPAIS SOLUÇÕES DOUTRINAISI. Afastadas as vozes que <strong>de</strong>negam a relevância da figura 69 , como é, por exemplo, ocaso <strong>de</strong> MAYER 70 com base <strong>no</strong> postula<strong>do</strong> <strong>de</strong> que “o Processo Penal não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-secomo se os meios <strong>de</strong> <strong>prova</strong> mediatos pura e simplesmente não existissem” ou SCHÄFER 71com base na razão político-criminal <strong>de</strong> que o efeito-à-distância paralisaria a administraçãoda justiça <strong>penal</strong>, comprometen<strong>do</strong> a sua eficácia, a questão coloca-se actualmente entreaqueles que a<strong>do</strong>ptam a teoria <strong>do</strong> efeito-à-distância sem restrições e, aqueles outros,<strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> soluções compromissórias, numa tentativa <strong>de</strong> salvaguardar a eficácia e senti<strong>do</strong>das <strong>proibições</strong> <strong>de</strong> <strong>prova</strong>, mas, ao mesmo tempo, obten<strong>do</strong> a sua conciliação com a eficácia dajustiça <strong>penal</strong>, pois, como <strong>no</strong>ta ROXIN, ao não admitirmos o efeito-à-distância “as <strong>proibições</strong>probatórias po<strong>de</strong>m ser iludidas muito facilmente” 72 .Certo é, que, entre nós, o efeito-à-distância das <strong>proibições</strong> <strong>de</strong> <strong>prova</strong> encontra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>logo, assento na Lei Fundamental, mais precisamente <strong>no</strong> art. 32.º, n.º 8 da CRP, ao prescreverque “são nulas todas as <strong>prova</strong>s […] ”, não introduzin<strong>do</strong> assim qualquer diferenciação entre<strong>prova</strong> primária e <strong>prova</strong> secundária 73 .O efeito-à-distância po<strong>de</strong> igualmente ser retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> art. 126.º <strong>do</strong> CPP, que mais não é<strong>do</strong> que uma concretização <strong>do</strong> preceito constitucional cita<strong>do</strong>, ao estatuir que “são nulas […]as <strong>prova</strong>s […] ”, <strong>no</strong>s termos <strong>do</strong> n.º 1, mais uma vez não haven<strong>do</strong> diferenciação entre <strong>prova</strong>69Não obstante, ainda po<strong>de</strong>m encontrar-se <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong>s tribunais espanhóis que a<strong>do</strong>ptan<strong>do</strong> a teoria directa(por contraposição à teoria reflexa) circunscrevem os efeitos da proibição <strong>de</strong> valoração ao acto <strong>de</strong> <strong>prova</strong>viola<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>direito</strong> fundamental. Assim, mesmo que a <strong>prova</strong> secundária <strong>de</strong>rive da <strong>prova</strong> primária ilícita, amesma po<strong>de</strong> ser valorada [Cf. VICENTE GIMENO SENDRA, Derecho Procesal Penal, 2004, cit., p. 652].70Cf. MEYER, apud, COSTA ANDRADE, Sobre as <strong>proibições</strong>, 1992, cit., p. 173.71Cf. SCÄFER, apud, COSTA ANDRADE, Sobre as <strong>proibições</strong>, 1992, cit., p. 174.72Cf. CLAUS ROXIN, Derecho Procesal Penal, 2000, cit., p. 205. Como <strong>no</strong>tam KAI AMBOS / MARCELLUSLIMA, O processo acusatório, 2009, cit., p. 125: “Se às <strong>proibições</strong> <strong>de</strong> <strong>prova</strong> são atribuídas, frequentemente,uma função <strong>de</strong> controle disciplinar, tal acaba por favorecer o reconhecimento <strong>de</strong> um efeito extensivo, pois nãoexiste outra forma para se retirar o já aguerri<strong>do</strong> costume das autorida<strong>de</strong>s encarregadas da persecução <strong>penal</strong>, emespecial aquelas da polícia, <strong>de</strong> se utilizar <strong>de</strong> práticas probatórias ilícitas, que não seja através da consequentenão possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização (directa e indirecta) das <strong>prova</strong>s assim obtidas”.73Segun<strong>do</strong> o Ac. <strong>do</strong> TC 198/2004; Processo n.º 39/04; Relator: MOURA RAMOS, o art. 32.º, n.º 8 da CRPmais não faz <strong>do</strong> que sublinhar o <strong>direito</strong> à exclusão das <strong>prova</strong>s, que segun<strong>do</strong> o mesmo, já resultaria <strong>do</strong> n.º 1 <strong>do</strong>mesmo artigo quan<strong>do</strong> estatui que o Direito Processual Penal assegura todas as garantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.A questão que se coloca é a <strong>de</strong> saber se essas garantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa também abrangem, numa leituraconjugada <strong>do</strong>s n.º 1 e 8 <strong>do</strong> art. 32.º da CRP, para além da invalida<strong>de</strong> da própria <strong>prova</strong> nula, a afirmação <strong>do</strong>efeito-à-distância, sobre outras <strong>prova</strong>s válidas. “Po<strong>de</strong> assegurar-se que o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>rma prescreven<strong>do</strong>que a invalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> acto nulo se esten<strong>de</strong> aos que <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem ou que ele possa afectar (122.º, n.º 1 <strong>do</strong>CPP) é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, o <strong>de</strong> abrir caminho à pon<strong>de</strong>ração que subjaz à <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong>s “frutos proibi<strong>do</strong>s”. Isto, coteja<strong>do</strong>com a apontada amplitu<strong>de</strong> das garantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contidas <strong>no</strong> art. 32.º CRP, leva a que este Tribunal consi<strong>de</strong>reque, certas situações <strong>de</strong> “efeito-à-distância” não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> constituir uma das dimensões garantísticas <strong>do</strong>processo criminal […] ”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!