Entrada do ambulatório doCRT DST/Aids-SP, combandeira brasileira duranteos jogos da Copa doMundo, no mês de junhoespaço destinado à testagem e aconselhamento, CTA,o que tirava seu caráter de serviço para soropositivos.“Aprendemos que era necessário um ginecologistapara atender os homens trans e as mulheres transoperadas”, diz Maria Clara. “Fomos buscar ajuda noserviço do HC.” “Não há ginecologistas que conheçamuma ‘vagina construída’ ou uma neo-vagina; nãose fala sobre o tema nas escolas médicas, o assunto émuito novo”, comenta Filomena.Também foi preciso contar com o Conselho Regionalde Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)com relação ao tratamento para travestis, um serviçoinédito no país. “Como prescrever hormônio femininopara uma pessoa que nasceu homem, e que é biologicamenteum homem?”, diz Maria Clara. Em outubrode 2009, o Cremesp fez uma resolução definindoo atendimento clínico para as travestis. Em janeirode 2010, o ambulatório publicou no Diário Oficialum protocolo clínico para a saúde integral para travestis,o primeiro no país, e que deve orientar outrosserviços, ao contrário do que se temia, não houve repercussãonegativa. “Foi um passo importante para aequipe, porque essa população estava à margem, ninguémconhecia a população de travestis”, diz Filomena,diretora do ambulatório. Até então, travestis se apresentavamcomo transexuais para ter acesso ao tratamento,principalmente hormonal. Hoje o protocolopermite esses cuidados diferenciados para as travestis.A resolução e o protocolo permitiram informaras usuárias dos riscos do silicone industrial e oferecera terapia hormonal que resulta em seios maiores eem formas mais arredondadas no corpo. “A dificuldadeé que as travestis têm pressa, mais do que astransexuais. Querem rapidamenteum corpo mais exuberantee feminino, porquea maioria delas trabalha narua. Mas a equipe tem conseguidoalertar que o siliconeindustrial é um perigo e informarque o hormônio vaidar conta, que é preciso apenaster um pouco de paciência”,explica Maria Clara. Uma coisa é você apenasfalar dos riscos do silicone, a outra é oferecer nolugar e de graça a hormonoterapia, com acompanhamentoe medicamento, esclarece Filomena.Como referência para a saúde pública no país, oambulatório tem a proposta de elaborar protocolosclínicos, avaliar tecnologias e modelos assistências epromover atividades integrando movimentos sociais.Deve também ser um local de treinamento para profissionaisnessa área, já que a população de travestise transexuais ainda é pouco conhecida. O ambulatóriotambém vem recolhendo experiências de outrosmunicípios, como aconteceu com São José do RioPreto, no interior paulista.Na opinião da diretora do Departamento de Apoioà Gestão Participativa, do Ministério da Saúde, AnaMaria Costa, o ambulatório do CRT DST/Aids-SP,assim como o CRD-Grupo Pela Vidda/SP, são iniciativasnecessárias para o atendimento a uma populaçãoque é discriminada nos outros serviços. Mas ela avaliaque serviços como esses têm um papel transitório nesseprocesso. “À medida que o SUS todo se adequa a umatendimento melhor para esse público, a tendência éque esses serviços mudem de caráter, que assumamum papel de referência a problemas de maior complexidadeque acometem essa população”, diz ela.Ana Maria defende que o atendimento básico deveser naturalmente realizado na porta de entrada comumao restante da população. “Não queremos discriminarnenhum grupo social, muito menos as travestise transexuais”, diz a responsável pelas políticasde promoção da equidade do Ministério da Saúde,como as ações voltadas à população LGBT.A DIVERSIDADE REVELADA29
Alexsandro Santos Silva, 35 anosA DIVERSIDADE REVELADA30O PROMOTOR de eventos Alexsandropretende se casar ainda este ano, assimque conseguir a cirurgia de retirada damama e a mudança de nome nos documentos.“A família quer que seja na igrejae no cartório, não sabe de nada”, elediz. A cirurgia de implante ou “construção”de um pênis virá posteriormente,afirma Alexsandro, uma esperança quevoltou a alimentar depois que se inscreveuno Ambulatório de Saúde Integralpara Travestis e Transexuais do CRTDST/Aids-SP, em fevereiro de 2010.Nos cinco anos anteriores, ele foiacompanhado por endocrinologistas,psiquiatras e psicólogos no interior deSão Paulo, sem nenhuma perspectivade conseguir as cirurgias que aguarda.Desde o início deste ano, ele viaja a SãoPaulo duas a três vezes por mês para asconsultas no ambulatório, dependendode vagas nas ambulâncias.Alexsandro Santos Silva, 35 anos, éum homem trans – biologicamente dosexo feminino, mas sente, age e pensacomo homem. O blusão ajuda a disfarçaros seios, e a barba e os pelos dosbraços e que escapam do peito não deixamsuspeita de que Alexsandro é umhomem. Há anos vem tomando hormôniomasculino.Ele conta que já teve quatro casamentos,todos com mulheres heterossexuais,ele “cumprindo” suas funçõesde marido, e elas, as de mulher, semprevivendo como “amigados”. “Nuncaenganei ninguém; eu dizia sempre,‘você está indo para a cama com alguémque não é 100% homem, meu corponão é o que você está vendo.’ Na cama,é prótese de silicone.”Alexsandro diz que não sabe comosair da situação, com os pais da namoradaexigindo que se casem no civil e na“ Meus sogrosqueremcasamento depapel passado,mas não sabemque sou umhomem trans”igreja. “Quando começamos o namorocinco anos atrás, eu e ela fizemos tudode acordo, ela ainda acompanha meutratamento, juntos decidimos que ospais não seriam informados.” Os doisnamoram em casa. “Quando estou nosofá e minha sogra se aproxima, ficogelado, medo de que perceba os meusseios. Alguns colegas sabem que soutransexual, uma brincadeira na rua podeacabar com tudo. É uma situação demuito sofrimento, por isso a cirurgia e amudança de nome para mim são muitoimportantes.”As saídas com a namorada e a famíliasão sempre tensas. Ele não pode ir aoclube nem à praia por que não pode tirara blusa. A família programou umaviagem para o litoral que Alexsandrooptou por pagar, já planejando que navéspera da partida alegaria um compromissoinadiável a pedido da empresa.A cirurgia da mama – a mastectomia– e a retirada do útero e do ovário, jásão feitas há décadas especialmente notratamento do câncer. Mas só em setembrode 2010 o Conselho Federal deMedicina regulamentou a realizaçãodesses procedimentos em caráter nãoexperimental em transexuais. A neofaloplastia,ou implantação de um pênis,ainda é considerada experimental.Mesmo sendo acompanhado há cincoanos, Alexsandro não tem ainda umlaudo psicológico dizendo que se tratade um homem trans. “Estou começandotudo de novo. Em quatro mesesem São Paulo, já passei por psicológico,endocrinologista, urologista eginecologista.”Mas nem a mudança de nome conseguiuainda. “Os juízes sabem quepassamos muitos constrangimentos.Quando vou ao banco, ou quando estoudirigindo, sempre me tomam porfalsário. Quando em serviço, não possomostrar meu RG.”É justamente a empresa onde trabalhaque vem dando a ele o maior apoio.O patrão faz questão de chamá-lo pelonome social e o indica para eventosimportantes da região. Alexsandro vaidispondo sobre a mesa o crachá da empresae dos vários eventos onde trabalhou.“Meu patrão autorizou que trouxessepara fortalecer o processo”, diz.Nas duas pastas que carrega, além depapéis e documentos, ele traz um pacotede fotos desde os tempos da adolescência– onde já aparece vestido demenino –, até retratos com as mulherescom as quais viveu. “Essa é aElaine, fiquei quatro anos com ela...Aqui é um outro relacionamento, elatinha uma filha que me chamava de pai.Aqui estou trabalhando em um grandesupermercado, eu tinha que fazer abarba na pinça e na cera... Este é o pessoalcom quem trabalho. Aqui é meupai. Se estivesse vivo, me ajudaria muitonessa briga.”
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