Vanessa Pavanello, 41 anos“A cirurgiaé sonho, masnão é todaminha vida”VANESSA trabalha como agente social daPrefeitura de São Paulo, coordena reuniõessócio-educativas com prostitutas,é voluntária num Centro de TestagemAnônima para DST e aids, e faz o primeiroano da Faculdade de Serviço Socialna Universidade de Guarulhos.Vanessa é uma mulher trans. Diz quenunca ouviu uma “gracinha, um psiu,uma provocação”. “Se você quer respeito,tem que ter, tem que impor. Nãopode botar um bustiê, um sutiã, e quererir ao açougue ao meio-dia”, ela diz.Vanessa Pavanello, 41 anos, moracom a mãe e um filho adotivo em SãoMiguel Paulista, Zona Leste. Optousempre pela discrição e não costumadizer que é mulher trans. Já teve umcompanheiro com quem viveu por 12anos e foi nessa época que adotou o filho,hoje com 16 anos. No bairro, todomundo a conhece, especialmente nasruas que percorre como agente socialdo Programa Ação Família, da SecretariaMunicipal de Assistência Social.Ao longo do mês, visita 50 famílias emsituação de risco social. “As pessoas nãosabem que sou uma transexual. Nasminhas visitas sou profissional, umaagente social e pronto, não entro emdetalhes sobre minha vida. Algumasfamílias até sabem que sou transexual,mas eu não comento.”Vanessa fez um percurso muito parecidocom a grande maioria das mulherestrans que chegam ao ambulatório doCRT DST/Aids-SP. Primeiro buscouatendimento no Hospital das Clínicas,tentando passar pelo gargalo da psicoterapia– único caminho para a hormonoterapiae o sonho da cirurgia. Nos anosde espera, e com as informações quecorrem sobre a abertura do ambulatóriopara transexuais e travestis, acabouprocurando “CRT da Santa Cruz”.Ela já tem definidas as prioridades:seguir na psicoterapia, na hormonoterapia,fazer a operação e trocar onome nos documentos. Com o siliconeindustrial, embora tenha “os seios feitos”anos atrás, ainda não teve problemas.“Já estou fazendo uma bateria deexames”, ela se anima.Vanessa acha que pode “viver feliz”sem a cirurgia, como vem vivendo desdea adolescência. Mas é um “sonho,um desejo, uma necessidade tão importante”que ela não vai deixar nunca debuscar. “A cirurgia e os cuidados com ocorpo e a mente da gente são muitoimportantes. Eu vi nos médicos eatendentes do ambulatório essa seriedade.Estou muito feliz e animada.”Vanessa diz que a fase mais dura dopreconceito e da solidão já passou, agoratem uma “vida mais tranquila”, nãoprecisa brigar tanto. Ela acredita quena faculdade até saibam que é transexual,mas sempre foi respeitada.“Porque se ouvir um cochicho, eu voltoe resolvo. Uso o banheiro femininoe nunca ouvi nada. Isso vai muito dapostura”, diz.A DIVERSIDADE REVELADA59
NOMEafasta transexuaise travestis da escolae serviços de saúdeUso do nome civil provoca evasão escolar efuga dos serviços públicos, principalmenteda saúde. Apenas metade dos estados temportarias garantindo o nome social paratravestis e transexuais. Em São Paulo, odireito vale para todo serviço público.A DIVERSIDADE REVELADA60Uma das reivindicações mais justificadas detransexuais e travestis, com enorme significadopara a auto-estima e a dignidade daspessoas, é o simples fato de terem comoopção o uso do nome social, tanto escritocomo falado. No Estado de São Paulo, odecreto 55.588 de 17 de março de 2010 determinaque transexuais e travestis tenham o “direito da escolhade tratamento nominal nos atos e procedimentospromovidos no âmbito da Administração direta e indireta”.Ao preencher cadastros ou se apresentar parao atendimento, num posto de saúde ou delegacia, porexemplo, o cidadão pode indicar o nome que adota,independentemente do nome e sexo registrados nacarteira de identidade. O servidor público quedescumprir o decreto pode ser processado.No mesmo dia 17 de março de 2010, o decreto55.587 instituiu o Conselho Estadual dos Direitosda População LGBT junto à Coordenação de Políticaspara a <strong>Diversidade</strong> Sexual do Estado de São Paulo,da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa daCidadania. Órgão consultivo e deliberativo, o Conselhotem por finalidade elaborar, monitorar e avaliarpolíticas públicas destinadas à efetiva promoção dosdireitos dessa população.Em São Paulo, capital, o prefeito baixou o decreto51.180, de 14 de janeiro de 2010, determinando o usodo nome social em formulários, prontuários médicos efichas de cadastro, entre outros requerimentos da administraçãopública. O nome social deve aparecer antes donome civil e entre parênteses nos registros municipais.Em Santa Catarina, em 2009, ao reivindicar a criaçãode um campo específico nos documentos escolarespara a inclusão do nome social dos travestis etransexuais, o Centro de Referência em DireitosHumanos e Associação dos Travestis e Transexuais –ambos da Grande Florianópolis, SC – lembraram aaltíssima evasão escolar dessa população provocadapela discriminação e preconceito que sofrem. “Muitosnão completam sequer o ensino fundamental ena fase adulta acabam sem profissão definida. Há estimativasindicando que 90% dos travestis etransexuais estão na prostituição, enquanto umpercentual de apenas 3% a 5% estuda”, diz o texto.
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