10.07.2015 Views

Romance romântico e teoria do romance: Lucinde, de ... - Eutomia

Romance romântico e teoria do romance: Lucinde, de ... - Eutomia

Romance romântico e teoria do romance: Lucinde, de ... - Eutomia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

100ela organiza uma totalida<strong>de</strong> semelhante. (SCHLEGEL, 1991, p. 139, grifomeu).O termo “poesia”, no perío<strong>do</strong> em it|lico, po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> como a poesia universal, capaz<strong>de</strong> abrigar to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> discurso para além <strong>do</strong> tradicionalmente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> poético, assimcomo “epopeia” refere-se aqui tanto ao gênero narrativo em geral quanto à epopeiaclássica, da qual o <strong>romance</strong> mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>veria herdar, segun<strong>do</strong> o raciocínio aqui <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>,a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espelhar (refletir) o mun<strong>do</strong>. Os perío<strong>do</strong>s que se seguem alu<strong>de</strong>m àcapacida<strong>de</strong> da poesia/epopeia <strong>de</strong> provocar a formação, tanto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora (como no<strong>romance</strong> “romanesco”) quanto <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro (como na epopeia). A nosso ver, essasugest~o est| presente na compreens~o luk|csiana <strong>do</strong> “<strong>romance</strong> como epopeia burguesa”,assim como na tipologia <strong>do</strong> <strong>romance</strong> que Bakhtin apresenta em Estética da criação verbal.Não por acaso, ambos, assim como Schlegel e Walter Benjamin, ocuparam-se <strong>do</strong> <strong>romance</strong><strong>de</strong> Goethe Os anos <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> Wilhelm Meister (1795-1796), ten<strong>do</strong>, cada um a seumo<strong>do</strong>, enxerga<strong>do</strong> nele a superação da contradição ente o <strong>romance</strong> individualista burguês eo <strong>romance</strong> histórico <strong>de</strong> caráter épico.O próprio Schlegel, cuja personalida<strong>de</strong> intelectual é menos a <strong>de</strong> um autor literário <strong>do</strong>que <strong>de</strong> um crítico genial e sagaz, constrói, em <strong>Lucin<strong>de</strong></strong> (1798-1799), um exemplo <strong>de</strong> narrativacapaz <strong>de</strong> concentrar, programaticamente, os princípios <strong>do</strong> que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong><strong>romance</strong> romântico por excelência. Tanto as circunstâncias cronológicas quanto sugestõesformais e conteudísticas levam a concluir que Schlegel escreve seu “<strong>romance</strong> rom}ntico”como contraponto e complemento a sua crítica ao Meister <strong>de</strong> Goethe 3 , que veio a público naAthenäum em 1798. <strong>Lucin<strong>de</strong></strong> é também uma tentativa (em alemão,Versuch, mesmo termousa<strong>do</strong> para “ensaio”) <strong>de</strong> composiç~o <strong>de</strong> um <strong>romance</strong> romântico, <strong>de</strong> uma <strong>teoria</strong> <strong>do</strong> <strong>romance</strong>3 A crítica <strong>de</strong> F.Schlegel ao <strong>romance</strong> <strong>de</strong> Goethe Wilhelm Meisters Lehrjahre é exemplar no que diz respeito àdicção da crítica <strong>de</strong> arte romântica. Ali, a apreciação da obra <strong>de</strong> arte é feita passo a passo, acompanhan<strong>do</strong> opróprio <strong>de</strong>senrolar <strong>do</strong> <strong>romance</strong> <strong>de</strong> Goethe, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> sua estrutura e composição, para as quais não há, <strong>de</strong>fato, mo<strong>de</strong>los a serem segui<strong>do</strong>s. O ineditismo da composição <strong>do</strong> <strong>romance</strong> goethiano, que amalgama os maisdiferentes discursos, como o filosófico, o poético, o filosófico e o prosaico , <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, permite queSchlegel construa sua concepção <strong>de</strong> Mischgedicht (poesia mista) ao mesmo tempo em que o enfraquecimentoda posição <strong>do</strong> protagonista,em proveito <strong>de</strong> personagens aparentemente secundárias, permite-lhe forjar umconceito <strong>de</strong> ironia épica, <strong>de</strong> fato presente em Goethe, que influenciará mais tar<strong>de</strong> a <strong>teoria</strong> <strong>do</strong> <strong>romance</strong> <strong>de</strong>G.Lukács.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!