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Romance romântico e teoria do romance: Lucinde, de ... - Eutomia

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103que espreitam por <strong>de</strong>trás da comoção estética e da empatia são tematiza<strong>do</strong>s eperformatiza<strong>do</strong>s continuamente na obra <strong>de</strong> Schlegel à época da Athenäum:É bom e necessário entregarmo-nos inteiramente ao efeito <strong>de</strong> uma obra,permitir ao artista que faça conosco o que lhe aprouver, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> que areflexão [...], on<strong>de</strong> ainda persistir a dúvida ou a controvérsia, <strong>de</strong>cida ecomplete o senti<strong>do</strong>. Isso é o primordial e o mais importante ... É preciso quenos elevemos acima <strong>de</strong> nossas preferências e que sejamos capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>struirem pensamento aquilo que veneramos. (SCHLEGEL, 1956, pp. 267-8, grifomeu)Em consonância a essa reflexão potencializada e infinita, o texto <strong>de</strong> <strong>Lucin<strong>de</strong></strong> aponta paramais uma constante program|tica <strong>do</strong> Primeiro Romantismo: a “par|base permanente”, aquebra da ilusão no texto ficcional:És tão extraordinariamente sagaz, querida <strong>Lucin<strong>de</strong></strong>, que provavelmente jáchegaste à suposição <strong>de</strong> que tu<strong>do</strong> não passa <strong>de</strong> um belo sonho [...]. Averda<strong>de</strong> é que eu estava à janela [...] Estava à janela e olhava para fora [...].O bosque e as cores mediterrâneas minha visão <strong>de</strong>ve certamente aogran<strong>de</strong> arranjo <strong>de</strong> flores aqui a meu la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntre as quais se encontra umnúmero consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> laranjas. To<strong>do</strong> o resto po<strong>de</strong> ser facilmente explica<strong>do</strong>pela psicologia. Era ilusão, minha amiga, tu<strong>do</strong> ilusão, com exceção <strong>do</strong> fato <strong>de</strong>que me encontrava à janela e nada fazia, e que agora sento-me aqui e façoalguma coisa, o que é pouco mais ou pouco menos <strong>do</strong> que não fazer nada.(SCHLEGEL, 1999, pp. 12-13, grifo meu)Mais uma vez, o texto <strong>do</strong> <strong>romance</strong> <strong>de</strong> Schlegel dialoga com outro texto programático, o jácita<strong>do</strong> ensaio sobre a ininteligibilida<strong>de</strong>, no qual a ironia e a quebra da ilusão associam-se aoenuncia<strong>do</strong> no tempo presente, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a reiterar o caráter artístico (künstlerisch) e artificial(künstlich) da obra <strong>de</strong> arte (Kunstwerk). Não seria ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> afirmar que, em Schlegel, aliteratura é ficcional na mesma medida em que é conscientemente artificial, produzida pelarazão e reflexão, o que <strong>de</strong>strói qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associar seu pensamentofrequentemente critica<strong>do</strong> como <strong>de</strong>lirante e incompreensível a um subjetivismo irracional eou ultrarromântico.Valen<strong>do</strong>-se ainda <strong>do</strong> princípio da reflexão sobre o próprio ato <strong>de</strong> criação artística,Schlegel introduzirá uma alegoria, no senti<strong>do</strong> clássico <strong>do</strong> tropo, <strong>de</strong>dicada a oferecer umpanorama liter|rio <strong>de</strong> sua própria época, em que o advento <strong>de</strong> uma literatura “mo<strong>de</strong>rna” e a

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