Uso profilático <strong>de</strong> Mitomicina C para inibir a formação <strong>de</strong> ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias ...219ABSTRACTPurpose: to evaluate the long-term results of the prophylactic use of Mitomycin C in inhibiting haze formation afterphotorefractive keratectomy (PRK) for high myopia. Methods: This retrospective, <strong>de</strong>scriptive and longitudinal study comprised59 eyes (30 patients). The inclusion criteria were a spherical equivalent correction over -4,00 diopters, corneal thickness greaterthan 480 µm, no prior surgery, ocular trauma and ocular and systemic diseases. After PRK, the eyes were treated with a singleintraoperative dose of MMC 0.02% applied topically with a soaked micro sponge placed over the ablated area for two minutes.Refraction, uncorrected visual acuity, best corrected visual acuity and slit lamp evi<strong>de</strong>nce of corneal opacity (haze) were performedon the two years of follow up. Results: No toxic or si<strong>de</strong> effects, either immediate or <strong>de</strong>layed, were encountered postoperatively.Haze was not observed in any eye after two years of surgery. In one eye haze rate 2,00 was observed from the third until the sixthmonth of follow-up. In the other eyes, no haze rate higher than 1.0 was observed. The uncorrected visual acuity was 20/40 orbetter in 96.91% of the eyes and 20/20 in 81.35% of the eyes. Best corrected visual acuity was unchanged in 57 eyes and improvedone line in 2 eyes. Conclusion: The prophylactic use of mitomycin C 0.02% after PRK suggested effectiveness in reducing hazeformation.Keywords: Mitomycin C; Myopia/surgery; Ophthalmologic surgical procedures/methods; Corneal opacityINTRODUÇÃOAceratectomia fotorrefrativa (PRK) foi o primeiroprocedimento cirúrgico amplamenteaceito para a correção <strong>de</strong> baixos a mo<strong>de</strong>radosgraus <strong>de</strong> miopia, astigmatismo e hipermetropia. No entanto,por razão <strong>de</strong> suas limitações, como <strong>de</strong>sconforto nopós-operatório precoce, lenta reabilitação visual e opacida<strong>de</strong>corneana (haze), seu uso tornou-se limitado (1) .Técnicas lamelares foram <strong>de</strong>senvolvidas na tentativa<strong>de</strong> superar estes problemas. Destas técnicas, o Laser insitu queratomileusis (LASIK) tornou-se o procedimentomais popular em nível mundial (2) .Entretanto, em olhos com córneas <strong>de</strong>lgadas e commiopias altas, existe o risco iminente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizaçãobiomecânica da córnea associado ao LASIK, o que po<strong>de</strong>levar à instabilida<strong>de</strong> estrutural e à ectasia tissular, ocasionandocomplicações tais como: astigmatismo irregular,perda da acuida<strong>de</strong> visual corrigida e ceratoconeiatrogênico (3) . O alto risco <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma lamelaimperfeita no LASIK e, teoricamente, maior alteraçãodas proprieda<strong>de</strong>s biomecânicas ainda fazem do PRK atécnica cirúrgica <strong>de</strong> escolha em inúmeras situações (4) .A opacida<strong>de</strong> corneana é, provavelmente, a complicaçãomais comum após o PRK (5) . A transparência dotecido corneano <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma perfeita organizaçãoe distribuição das fibras <strong>de</strong> colágeno, dos ceratócitos e<strong>de</strong> suas alterações fenotípicas. A técnica <strong>de</strong> PRK <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iauma resposta cicatricial em que há ativação eproliferação dos ceratócitos na córnea, produzindo fibras<strong>de</strong> colágeno <strong>de</strong>sorganizadas e fibrose, e o resultadofinal é a opacida<strong>de</strong> corneana (6) . Ela po<strong>de</strong> surgir nas primeirassemanas (forma recente) ou entre 4 a 12 meses(forma tardia) após a cirurgia. É uma condição severa,que po<strong>de</strong> levar à perda visual permanente. Possíveis fatoresassociados, como elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecidoremovido pelo laser, reepitelização tardia e a irregularida<strong>de</strong>do tecido estromal po<strong>de</strong>m contribuir para o seuaparecimento (7-8) .Várias modalida<strong>de</strong>s foram sugeridas para trataro haze, entre elas, incluem-se os corticoesterói<strong>de</strong>s, PTK(ceratectomia fototerapêutica) e aplicação <strong>de</strong>Mitomicina C (MMC), que po<strong>de</strong> ser empregada comcaráter terapêutico, em casos <strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> pré-existente,ou profilático, em pacientes com alto risco para formação<strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> corneana pós-operatória (9) .A MMC é um agente alquilante e antiproliferativoque bloqueia replicação <strong>de</strong> DNA e RNA e inibe a sínteseprotéica a nível celular (10) . É usada em larga escalacomo agente quimioterápico e, na oftalmologia, écomumente utilizada para tratamentos cirúrgicos <strong>de</strong>glaucoma (11) , pterígio (12) , neoplasias intraepiteliais dacórnea e conjuntiva (13) e em penfigói<strong>de</strong> ocular (14) . Nacórnea a MMC age induzindo apoptose <strong>de</strong> ceratócitosno estroma anterior, inibindo a ativação, proliferação emigração dos ceratócitos e sua posterior transformaçãoem fibroblastos e miofibroblastos, evitando, <strong>de</strong>sta maneira,a formação <strong>de</strong> colágeno, a <strong>de</strong>sorganização e a opacida<strong>de</strong>(15) .O presente estudo tem como objetivo avaliar osresultados a longo prazo da aplicação profilática daMitomicina C na formação <strong>de</strong> haze em ceratectomiafotorrefrativa (PRK) em pacientes com miopia alta apósdois anos do ato cirúrgico.MÉTODOSFoi realizado um estudo retrospectivo, <strong>de</strong>scritivoe longitudinal em 30 pacientes (59 olhos) que realizaramceratectomia fotorrefrativa (PRK) entre janeiro emarço <strong>de</strong> 2008.Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (4): 218-23
220Oliveira PRP, Simão LF, Simão SAF, Marchiori JCForam excluídos da amostra pacientes com equivalenteesférico menor do que -4,00D, paquimetriacorneal menor do que 480 micras, história <strong>de</strong> traumaocular severo, qualquer cirurgia ocular prévia e enfermida<strong>de</strong>soculares ou sistêmicas com o potencial <strong>de</strong> interferircom o processo <strong>de</strong> cicatrização da córnea, comocolagenose, diabetes, síndrome do olho seco, uveíte anteriore posterior, ceratocone, distrofia ou <strong>de</strong>generaçãocorneana, glaucoma, doenças da retina e opacida<strong>de</strong> docristalino.Em todos os pacientes foram avaliados na consultapré-operatória os seguintes exames: refração estáticae dinâmica, biomicroscopia, fundoscopia, medida da PIO,paquimetria ultrassônica e ceratoscopiacomputadorizada. Todos os pacientes receberam umaexplicação sobre o procedimento a ser realizado e a elesfoi solicitada uma carta <strong>de</strong> consentimento livre eesclarecida.O procedimento cirúrgico <strong>de</strong> todos os pacientesfoi realizado pelo mesmo cirurgião refrativo com extensaexperiência com PRK.No planejamento do PRK, a córnea não <strong>de</strong>ve ficarcom menos <strong>de</strong> 350 micras <strong>de</strong> espessura após aablação corneana.Os pacientes receberam anestesia tópica(Allergan®- cloridrato <strong>de</strong> tetracaína 100mg e cloridrato<strong>de</strong> fenilefrina 1mg), sem sedação sistêmica. O métodocirúrgico consistiu em remover o epitélio corneano mecanicamente,seguido da ablação, realizada com excimerlaser Zeiss Mel 70 G-scan ® . Em todos os olhos, zonaóptica fixa <strong>de</strong> 6 mm e zona <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> 7,5 mm foramaplicadas. Imediatamente após a ablação a laser, únicaaplicação tópica <strong>de</strong> Mitomicina C 0,02% diluída emsolução salina com micro esponja <strong>de</strong> merocel foi efetuadapor 20 segundos. Logo após, a superfície corneana e aconjuntiva foram vigorosamente irrigados com 20 ml <strong>de</strong>solução salina balanceada (BSS).Ao final do procedimento, em todos os pacientesfoi aplicado uma lente <strong>de</strong> contato terapêutica. O manejopós-operatório incluiu Gatifloxacino 0,3% <strong>de</strong> 3-3 horaspor uma semana, Cetorolac <strong>de</strong> Trometamina 0,4% <strong>de</strong> 6-6 horas por uma semana e Carboximetilcelulose 0,5%<strong>de</strong> 3-3 horas por uma semana.Uma vez completada a reepitelização e retiradada lente <strong>de</strong> contato terapêutica, o que geralmente ocorreno sétimo dia <strong>de</strong> pós-operatório, todos os olhos foramtratados com Acetato <strong>de</strong> Prednisolona 1,0% <strong>de</strong> 8-8 horaspor um mês e Carboximetilcelulose 0,5% <strong>de</strong> 3-3 horaspor um mês. Consultas pós-operatórias foram realizadasno primeiro e no sétimo dia após a cirurgia para1º mês 3º mês 6º mês 1 ano 2 anosn % n % n % n % n %20/20 22 37.28 32 54.23 43 72.88 48 81.35 48 81.3520/25 15 25.42 15 25.42 10 16.94 5 8.47 5 8.4720/30 16 27.11 8 13.55 3 5.08 1 1.69 1 1.6920/40 4 6.77 3 5.08 2 3.38 2 3.38 2 3.3820/50 1 1.69 1 1.6920/60 1 1.69 1 1.69 1 1.69 2 3.38 1 1.6920/70 1 1.69 1 1.69GrauTabela 1Evolução da acuida<strong>de</strong> visual sem correçãoTabela 2Classificação da opacida<strong>de</strong> corneana(Fantes et al., 1990) (16)0 Córnea transparente0,5 Traços <strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> corneana1,0 Opacida<strong>de</strong> leve, não interfere na visualização <strong>de</strong><strong>de</strong>talhes da íris2,0 Opacida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada, leve dificulda<strong>de</strong> na visualização<strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes da íris3,0 Opacida<strong>de</strong> acentuada, mo<strong>de</strong>rada dificulda<strong>de</strong> navisualização <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes da íris4,0 Opacida<strong>de</strong> acentuada, impedindo a visualização daírisavaliar a reepitelização, retirar a lente terapêutica eavaliar possíveis efeitos adversos.Após 15 dias da retirada da lente terapêutica, foramrealizadas consultas para avaliação da acuida<strong>de</strong>visual e <strong>de</strong> possíveis complicações pós-operatórias. Após45 dias da retirada da lente terapêutica, foram realizadosexames <strong>de</strong> paquimetria ultrassônica, ceratoscopiacomputadorizada e medida da acuida<strong>de</strong> visual. Após 3meses, 6 meses, 1 ano e 2 anos, foram realizados exames<strong>de</strong> medida da acuida<strong>de</strong> visual, fundoscopia,biomiscroscopia, medida da PIO e ceratoscopia. Foramexcluídos da amostra os pacientes que não comparecerama todas as consultas pós-operatórias.Para a avaliação <strong>de</strong> haze corneano, foi usada aEscala <strong>de</strong> Graduação <strong>de</strong> Fantes et al. <strong>de</strong> grau 0 (ausência<strong>de</strong> haze) até grau 4,0 (haze acentuado, impedindovisualização da íris) (16) .RESULTADOSForam incluídos no estudo 59 olhos <strong>de</strong> 30 pacientesque realizaram a cirurgia <strong>de</strong> PRK entre janeiro emarço <strong>de</strong> 2008. A média da ida<strong>de</strong> dos pacientes foi <strong>de</strong>Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (4): 218-23
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