Percepção da administração tópica ocular <strong>de</strong> drogas: aplicador facial x gotas227<strong>de</strong> da Família (PSF) Lapa.Foi utilizado um frasco <strong>de</strong> colírio <strong>de</strong> solução <strong>de</strong>lubrificante ocular (Oftane®) acoplada a um apoiofacial e o mesmo colírio sem o apoio.Os pacientes foram avaliados em sala <strong>de</strong> consultóriomédico em que estava presente uma ca<strong>de</strong>ira e umamaca, <strong>de</strong> forma que os pacientes pu<strong>de</strong>ssem realizar ainstilação, tanto quanto possível, da mesma maneira queestavam habituados a fazê-la em seu próprio ambiente.Foi fornecido para cada participante um frasco <strong>de</strong>colírio <strong>de</strong> solução lubrificante ocular (Oftane®), e foisolicitado que efetuasse a instilação do mesmo em umdos olhos previamente selecionado através <strong>de</strong> um processorandomizado por uma tabela pseudoaleatória doExcel.Só foram incluídos pacientes que disseram saberinstilar colírios nos olhos.No outro olho foi solicitado que o participanteaplicasse a solução <strong>de</strong> Oftane® com auxílio do aplicadorfacial.Todo o processo foi acompanhado pelos autores.Após o processo, foi perguntado ao paciente questõespré-formuladas sobre a praticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos osmétodos (Anexo 1).Após a coleta dos dados, os mesmos foram avaliadosestatisticamente no programa Biostat 5.0. Foi utilizadoo teste <strong>de</strong> “Mann – Whitney” para as respostas dasperguntas 4 e 5 do questionário (Anexo 1); o testebinomial: duas proporções para as respostas das perguntas8, 9, 10, 12, 13, 14 e o teste t: duas amostras para asrespostas das perguntas 11 e 15.Aspectos éticos: Esta pesquisa foi submetida eaprovada pelo Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa da Universida<strong>de</strong>Estácio <strong>de</strong> Sá.RESULTADOSA média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> dos pacientes foi <strong>de</strong> 52,84 anos.Setenta e seis por cento (76%) eram do sexo feminino.Dos 50 pacientes estudados em relação àinstilação <strong>de</strong> colírios: 44% acharam fácil ou muito fácila instilação <strong>de</strong> colírio sem o apoio facial, enquanto que70% acharam muito fácil ou fácil a instilação com oapoio. Por outro lado, 22% acharam difícil ou muito difícilà aplicação do colírio e 12% acharam difícil ou muitodifícil o uso do apoio facial (tabela 1).Quando perguntados se havia dificulda<strong>de</strong> em relaçãoà aplicação do colírio: 48% dos entrevistados disseramque sim, sendo que a maior dificulda<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>direcionar a gota no olho (32%), seguida do <strong>de</strong>sconheci-Tabela 3Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repetição da aplicaçãoNecessida<strong>de</strong> Colírio Aplicador facial<strong>de</strong> repetição (%) (%)Sim 34 54Não 66 46Total 100 100(p=0,04)Toque do frasco Colírio Aplicador facial(%) (%)(p=0,0001)Tabela 1Grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instilação <strong>de</strong> colírioGrau <strong>de</strong> Colírio Aplicadordificulda<strong>de</strong> (%) facial (%)1 2 282 42 423 34 164 22 125 0 1Total 100 1001-Muito fácil; 2-Fácil; 3-Nem fácil nem difícil; 4- Difícil; 5- Muitodifícil (p=0,0024)Tabela 2Tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> relatada pelos entrevistadosTipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> Colírio Aplicador facial(%) (%)Direcionar a gota 18 10Posição i<strong>de</strong>al 6 4Aflição/medo 4 2Técnica 2 2Toca a ponta do frasconos tecidos oculares 2 2> 01 dificulda<strong>de</strong> 16 2Não apresenta dificulda<strong>de</strong>s 52 78Total 100 100Tabela 4Toque da ponta do frasco em tecidosoculares observação dos autoresSim 56 2Não 44 98Total 100 100Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (4): 224-29
228Portes AJF, Silva MGO, Viana M, Pare<strong>de</strong>s AF, Rocha Jmento da técnica correta (18%).Em relação ao dispositivo <strong>de</strong> apoio facial, 24%dos entrevistados tiveram dificulda<strong>de</strong>, sendo que a maior<strong>de</strong>las foi direcionar a gota (10%), (tabela 2).Foram observados pelos autores se durante aaplicação do colírio houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma novaaplicação para que a gota caísse no olho: 34% apresentaramnecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova instilação sem oauxílio do apoio facial e 54% apresentaram necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> uma nova aplicação com o apoio facial(p=0,04 / tabela 3).Cinquenta e quatro por cento dos entrevistadosencostaram a ponta do frasco nos cílios ou pálpebras aoinstilar o colírio sem o aplicador facial e 2% encostaramnos tecidos oculares, quando o colírio foi aplicado com oauxílio do apoio facial (p=0,0001 / tabela 4).Não houve relevância estatística dos seguintes itens:gotas que atingiram o olho (p = 0,67) e número <strong>de</strong> gotasaplicadas (p= 0,06), segundo a avaliação dos autores.DISCUSSÃONão observamos nenhum estudo comparando apercepção do paciente sobre a instilação <strong>de</strong> colírios come sem o auxílio do aplicador facial após revisão bibliográficaextensa em bancos <strong>de</strong> dados nacionais e internacionais,como Scielo, Medline, Lilacs.Constatamos no nosso trabalho que a maioria dosentrevistados apresentaram maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicaçãodo colírio mediante o uso do apoio facial, <strong>de</strong>vido aocontato do dispositivo com a região orbitária, já que esteconfere maior estabilida<strong>de</strong>, minimiza os possíveis tremores,direciona melhor a gota no olho, evita o contatocom os tecidos oculares e posiciona a<strong>de</strong>quadamente ofrasco em relação ao olho.Vai<strong>de</strong>rgon et al. (2) observaram no seu estudo umagran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência por parte da população estudada, nasimples técnica <strong>de</strong> instilar um colírio, o que acarretou<strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> parte do conteúdo do frasco e possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido a um maior número <strong>de</strong> gotasaplicadas. No mesmo estudo, não houve correlação estatísticaentre o número <strong>de</strong> gotas instiladas e o tempo <strong>de</strong>tratamento. Portanto é fundamental o ensino da técnicaa<strong>de</strong>quada da aplicação do colírio, mesmo para aquelespacientes que o utilizam há muitos anos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteda sua escolarida<strong>de</strong> e do nível socioeconômico.A utilização da técnica correta é <strong>de</strong> suma importância,pois a sua realização ina<strong>de</strong>quada po<strong>de</strong> implicarem um maior número <strong>de</strong> gotas aplicadas, o que leva aum maior custo e, consequentemente, a pior a<strong>de</strong>são aotratamento (2) .Apesar <strong>de</strong> os entrevistados terem referido dificulda<strong>de</strong>stanto na aplicação do colírio quanto com o auxíliodo dispositivo em relação a direcionar a gota e encontraro posicionamento i<strong>de</strong>al, a aplicação sem o dispositivomostrou-se mais difícil do que com ele (tabela 2).Percebemos no presente estudo que houve umamaior necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma aplicação do colíriocom o dispositivo. Este fato <strong>de</strong>ve-se talvez a falta <strong>de</strong> hábitoe <strong>de</strong>sconhecimento da utilização do produto, assimcomo foi relatado por alguns pacientes.Observamos que o dispositivo <strong>de</strong> apoio facial éum auxílio à administração <strong>de</strong> drogas oculares menoscomplicado do que a vaporização, proposta por Porteset al. (4) no ano <strong>de</strong> 2009, uma vez que 70% das pessoasque utilizaram o dispositivo <strong>de</strong> apoio facial acharamfácil ou muito fácil em relação ao colírio,enquantoque 42% dos pacientes que usaram vaporização acharamfácil ou muito fácil quando comparadas ao uso <strong>de</strong>colírios.De acordo com o estudo <strong>de</strong> Höfling-Lima (8) em2001, com 127 frascos <strong>de</strong> colírio, com soro autólogo dospacientes, foi verificado que 76,3% estavam contaminadosapós o término do conteúdo do frasco, <strong>de</strong>vido ao toqueda ponta do colírio nos tecidos oculares. Osmicroorganismos mais encontrados foram os damicrobiota local e germes <strong>de</strong> pele.Ao comparar o uso do colírio com e sem o apoiofacial, po<strong>de</strong>mos verificar que houve um baixo índice <strong>de</strong>toque da ponta do colírio quando usado com o dispositivo,o que po<strong>de</strong> significar uma menor taxa <strong>de</strong> contaminaçãodo frasco com o uso do mesmo. Uma das possíveisjustificativas para haver contaminação apesar do uso dodispositivo é provavelmente a presença <strong>de</strong> olhosproptóticos, cílios alongados e <strong>de</strong>mais alteraçõesanatômicas.Segundo Vai<strong>de</strong>rgon et al. (2) , o contato da ponta dofrasco com os tecidos oculares leva a sucção do filmelacrimal, po<strong>de</strong>ndo alterar as proprieda<strong>de</strong>sfarmacológicas do colírio. Por isso a importância <strong>de</strong> evitara contaminação para prevenir não só as infecções eulcerações, mas também a composição da substânciapresente no frasco.CONCLUSÃOO presente estudo <strong>de</strong>monstrou que o dispositivo<strong>de</strong> apoio facial é uma ferramenta útil para administraçãotópica <strong>de</strong> drogas oculares.As dificulda<strong>de</strong>s encontradaspelos pacientes ao instilar colírios foram menoresRev Bras Oftalmol. 2011; 70 (4): 224-29
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