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relação professor e aluno no 3º ano do ensino fundamental

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RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NO <strong>3º</strong> ANO DO ENSINOFUNDAMENTAL 1ResumoMARTINS, Débora Ferreira 2 – PUCPRPersephone_debora@hotmail.comPINTO, Neuza Bertoni 3 – PUCPRneuzard@uol.com.brEixo Temático: Didática: Teorias, Meto<strong>do</strong>logias e PráticasAgência Financia<strong>do</strong>ra: não contou com financiamentoHá muito tempo se fala em como <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> estabelecem uma <strong>relação</strong> pedagógica e oquanto ela é complexa. Em geral, a presença <strong>do</strong> <strong>professor</strong> para o <strong>alu<strong>no</strong></strong>, e <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong> para o<strong>professor</strong>, ocupa um lugar especial na vida e na memória e cada um. No contexto escolar,mais especificamente na sala de aula, de alguma forma <strong>professor</strong>es e <strong>alu<strong>no</strong></strong>s começam a traçaro caminho para o fracasso ou sucesso escolar, a partir <strong>do</strong> relacionamento que estabelecemdesde o primeiro dia de aula. Ten<strong>do</strong> como objeto a <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, a presentepesquisa buscou compreender como essa <strong>relação</strong> se apresenta em uma turma de <strong>3º</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong>Ensi<strong>no</strong> Fundamental <strong>do</strong> município de Tijucas <strong>do</strong> Sul/Pr. O estu<strong>do</strong> buscou aportes teóricos <strong>no</strong>sautores: Postic (1984), Mizukami (1986), D’ Oliveira (1987), Vasconcelos (1994), Freire(1996), Pere<strong>no</strong>ud (1997), Merieu (1998), Delors (1999), Antunes (2002), Alves (2004) eBehrens (2009). Orientada por uma perspectiva qualitativa a pesquisa analisou característicasda <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> da turma investigada a partir de da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em cinco sessõesde observação de aulas e em duas entrevistas realizadas com a <strong>professor</strong>a da referida turma. Oestu<strong>do</strong> apontou a existência de uma boa <strong>relação</strong> entre a <strong>professor</strong>a e os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s da turmainvestigada, o que favorecia essa boa <strong>relação</strong> era o respeito que a <strong>professor</strong>a demonstrava paracom seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s e com o seu comprometimento com a formação e valores educativosvivencia<strong>do</strong> nas estórias que contava em sala de aula. Mostrou também que uma boa <strong>relação</strong><strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> é um elemento <strong>fundamental</strong> para a qualidade da educação e que esta édecorrente de um trabalho pedagógico comprometi<strong>do</strong> com a aprendizagem significativa e coma formação cidadã <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.Palavras-chave: Ensi<strong>no</strong> Fundamental; Relação Professor e Alu<strong>no</strong>; Processo de Ensi<strong>no</strong> eAprendizagem.1 Essa pesquisa faz parte <strong>do</strong> Trabalho de Conclusão de Curso apresenta<strong>do</strong> <strong>no</strong> curso de Pedagogia da PUCPR, sob a orientação daProfª. Drª. Neuza Bertoni Pinto.2 Graduada em Pedagogia pela PUCPR e aluna da Pós-graduação em Psicopedagogia da UTP.3 Professora Titular <strong>do</strong> Programa de Mestra<strong>do</strong> e Doutora<strong>do</strong> em Educação da Pontifícia Universidade Católica <strong>do</strong> Paraná.


7496IntroduçãoMais que deixar na memória lembranças boas ou ruins, a <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>possibilita o estabelecimento de vínculos de socialização que implicam em responsabilidadecom a vida pessoal, familiar, profissional e social, além de promover e construir valores eatitudes voltadas ao bem comum. Buscan<strong>do</strong> compreender como se caracteriza uma boa<strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> procuramos inicialmente as formas de relacionamento entre<strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> explicitadas por diferentes autores da área educacional, dentre outros, Postic(1984), Mizukami (1986), Meirieu (1992), Freire (1996), Behrens (2005).Em seguida, foram analisa<strong>do</strong>s os fatores que contribuíram para que essa <strong>relação</strong>auxiliasse <strong>no</strong> processo <strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizagem a partir de registros obti<strong>do</strong>s nas sessões deobservação das aulas e de entrevistas realizadas com a <strong>professor</strong>a da turma investigada.Uma boa <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong>-aprendizagem.Compreender o que caracteriza uma boa <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> é descobrir emque se fundamenta a concepção de sociedade, de humanidade e, também, em como sefundamenta aspectos pedagógicos e filosóficos que determinam a organização <strong>do</strong>s objetivos,conteú<strong>do</strong>s, meto<strong>do</strong>logias e mo<strong>do</strong>s de avaliar, e também, em que medida tal <strong>relação</strong> contribuipara a conservação ou transformação social.Para Meirieu (1998), Platão via o <strong>professor</strong> como um parteiro que confia em si paratirar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das ilusões, mas jamais via o <strong>professor</strong> como um genitor desseprocesso. Sócrates observava o <strong>alu<strong>no</strong></strong> ao dar a luz a um <strong>no</strong>vo conhecimento, mas afirmava asua i<strong>no</strong>cência diante desse processo ou como o <strong>alu<strong>no</strong></strong> engravi<strong>do</strong>u ou aju<strong>do</strong>u a vir ao mun<strong>do</strong> oconhecimento.Antunes (2002) afirma que a <strong>relação</strong> que o <strong>professor</strong> estabelece com o <strong>alu<strong>no</strong></strong>, a to<strong>do</strong> omomento, deve investigar os conhecimentos que os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s possuem e propor <strong>no</strong>vosconhecimentos, desafian<strong>do</strong>-os a construir uma imagem própria sobre os conteú<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>spelo <strong>professor</strong>, promoven<strong>do</strong> assim, a aprendizagem significativa, a contextualização, e atransformação pessoal, tornan<strong>do</strong>-se um protagonista da própria vida.Para D’Oliveira (1987), a <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> é caracterizada por valores,transmitida e refletida através das idéias, das ações e <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> trabalho em sala deaula; por modelos, exemplos bons e ruins de postura diante de situações; e por interação ereação <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s ao que o outro faz. Também ressalta que o <strong>professor</strong> com sua


7498questão de valorizar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> que tira <strong>no</strong>ta 10 e, também de, negligenciar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> que não foibem, essas atitudes são fatalmente percebidas por seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.Postic (1984) ressalta que o <strong>professor</strong> para ter influência sobre o <strong>alu<strong>no</strong></strong>, seus atosexigem confiança com aquele que se relaciona, seria errôneo preparar uma atividade em sala,pensan<strong>do</strong> negativamente sobre seu resulta<strong>do</strong>.O <strong>professor</strong> provoca<strong>do</strong>r e que transmite confiança é sempre um grande motiva<strong>do</strong>r, umentusiasma<strong>do</strong>, um curioso, um pergunta<strong>do</strong>r, um indaga<strong>do</strong>r, um questiona<strong>do</strong>r nato, umdescobri<strong>do</strong>r de enigmas e um excelente comunica<strong>do</strong>r. Seu exemplo instiga os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s aperguntarem, a indagar, a duvidar, a valorizar a curiosidade de saber, o conhecimento, adescoberta e a liberdade. Alves e Dimenstein (2004, p. 9) ressaltam que, “a potência que fazcom que to<strong>do</strong>s tenham o desejo de aprender é a curiosidade. Sem ela, ninguém queraprender”. E não tem algo que mais desanima um <strong>professor</strong>, <strong>do</strong> que o <strong>alu<strong>no</strong></strong> que não queraprender, ou para o <strong>alu<strong>no</strong></strong> o que faz desanimar é um <strong>professor</strong> que não busca aprender eimpedem os outros a sua volta de fazer <strong>no</strong>vas descobertas.Nessa mesma concepção contribui D’Oliveira (1987), ao afirmar que o <strong>professor</strong> aoensinar e instigar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> a fazer perguntas, além de estimular a participar, estimula odesenvolvimento de uma habilidade muito importante para o avanço de qualquer aprendiza<strong>do</strong>e que deve fazer parte <strong>do</strong>s objetivos de seu trabalho escolar. Isso exige uma atitude séria,comprometida, curiosa, reflexiva e crítica. Na procura de compreender e dialogar com osfatos observa<strong>do</strong>s é possível desmistificar uma realidade de imposição.Um <strong>do</strong>s fatores para a caracterização de uma negativa <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, éencontrar-se com turmas superlotadas em ambientes desproporcionais, o <strong>professor</strong> com umaexcessiva carga horária de trabalho e sem um tempo para planejar, estudar e outros fatoresque não contribuem para sua formação.O <strong>professor</strong> que provoca fascínio sabe admitir suas falhas e jamais usa o autoritarismopara impor sua vontade ou intimidar seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, ele também faz uma constante reflexão deseu ofício e prática pedagógica, ele descobre que através <strong>do</strong> diálogo com os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s o queprecisa melhorar, e faz dessa <strong>relação</strong> um modelo de responsabilidade política. Como observaPostic (1984, p. 11), “num jogo de forças, educa<strong>do</strong>r e educan<strong>do</strong>, educan<strong>do</strong>s entre si,aproximam-se, situam-se, afastam-se”.Segun<strong>do</strong> Delors (1999), devemos, enquanto educa<strong>do</strong>res, desenvolver juntamente com<strong>no</strong>ssos educan<strong>do</strong>s a capacidade de “apreender a fazer”, de “aprender a conhecer”, de


7499“aprender a ser” e de “aprender a conviver em coletivo”, crescen<strong>do</strong> <strong>no</strong>s valores fundamentaise essenciais para que cada pessoa, em sua múltipla dimensão.O <strong>professor</strong> que compreende e se compromete com a sua função social, a qual épreocupar-se com o tipo de cidadão e cidadã que precisa formar para o tipo de sociedade quese deseja viver e conviver é lembra<strong>do</strong> por Freire (1996, p. 25): “quem forma se forma ereforma ao formar e quem é forma<strong>do</strong> forma-se e forma ao se forma<strong>do</strong>”. Para o autor, o atoforma<strong>do</strong>r, desde o começo <strong>do</strong> processo, é um ato progressivo para aperfeiçoar a capacidadecrítica, reflexiva e a emancipação <strong>do</strong> direito de ir e vir.É comum na <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> quan<strong>do</strong> existir desentendimento ou falta decompreensão de ambos, surgir equívocos. O que não pode gerar na <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e<strong>alu<strong>no</strong></strong> são tipos de violência ou desejo de controle de um sobre o outro. Ao referir-se arelações autoritárias, Merieu (1998, p. 35) afirma: “o <strong>professor</strong> bem sabe que, com umsimples gesto, põe para fora o <strong>alu<strong>no</strong></strong> que, sen<strong>do</strong> incompreensível para o primeiro, torna-seinsuportável”. E sobre a <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> Freire ( 1996) diz:Se a minha opção é democrática, progressista, não posso ter uma prática reacionária,elitista. Não posso discriminar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> em <strong>no</strong>me de nenhum motivo. A percepçãoque o <strong>alu<strong>no</strong></strong> tem de mim não resulta exclusivamente de como atuo, mas também decomo o <strong>alu<strong>no</strong></strong> entende como atuo. Evidentemente, não posso levar meus dias como<strong>professor</strong> a perguntar aos <strong>alu<strong>no</strong></strong>s o que acham de mim ou como me avaliam. Masdevo estar atento à leitura que fazem de minha atividade com eles. Precisamenteaprender a compreender a significação de um silêncio, ou de um sorriso ou de umaretirada da sala (p. 109)Não é difícil encontrar o <strong>professor</strong> que por me<strong>do</strong>, insegurança ou ig<strong>no</strong>rância, mantêmum relacionamento com seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s basea<strong>do</strong> <strong>no</strong> autoritarismo. Encontramos também, o<strong>professor</strong> que procura privilegiar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> que senta nas carteiras da frente e, também, o <strong>alu<strong>no</strong></strong>que tira <strong>no</strong>tas ótimas. Esse relacionamento vertical não promove trocas, reflexões,questionamentos ou indagações, mas estimula a competitividade, a indisciplina e aindividualismo, sobretu<strong>do</strong>, promove baixa-estima <strong>do</strong>s não privilegia<strong>do</strong>s ou negligencia<strong>do</strong>s,isso é sem dúvida o rosto que toma o <strong>professor</strong> elitista.Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s que em seus relacionamentos escolares foram massacra<strong>do</strong>s, ou humilha<strong>do</strong>sde forma implícita ou explicita pelo <strong>professor</strong> e pelos colegas, ou, até mesmo, por seu maucomportamento e baixas <strong>no</strong>tas, perderam a voz, perderam o lugar de direito ao conviver emsociedade. Não é difícil encontrar pessoas infelizes, fracassadas ou desrespeitadas pela


7500sociedade, justamente por serem reflexo de sua vida escolar. Como pode um <strong>professor</strong>classificar o <strong>alu<strong>no</strong></strong> pela <strong>no</strong>ta ou por um bom comportamento, se ele utilizou somente um mo<strong>do</strong>de avaliar? O problema é que o <strong>professor</strong> muitas vezes não se considera um aprendiz, e nãoacredita que possa vir aprender e, assim, não acredita que o <strong>alu<strong>no</strong></strong> venha a aprender também.Uma boa <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, segun<strong>do</strong> Mizukami (1986, p.52), “consisteunicamente, na habilidade de compreender os outros”, pois, “não se pode especificar ascompetências de um <strong>professor</strong>, pois elas dizem respeito a uma forma de relacionamento de<strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, que sempre é especial e única”.O <strong>professor</strong> que acredita nas potencialidades de seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s e com suas possibilidadesde aprender, procura tornar suas aulas agradáveis e atraentes, procuran<strong>do</strong> estimular aparticipação, a curiosidade, a criticidade e a pesquisa, este é o <strong>professor</strong> entusiasma<strong>do</strong> quedissemos. Para Postic (1984), a expectativa de quem ensina e de quem aprende é manifestadapor meio da <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>. Esse processo é dinâmico, pois cada um projeta a suaesperança de satisfação <strong>no</strong> futuro, mas isto pode ser engana<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> o <strong>professor</strong> não souberir além dessa projeção formulada pelo <strong>alu<strong>no</strong></strong>, nem descobrir seu significa<strong>do</strong>.Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s em sala de aula, sempre estarão avalian<strong>do</strong> a conduta e a forma como o<strong>professor</strong> organiza, planeja e ministra suas aulas. Assim, sabem identificar também, o<strong>professor</strong> bonzinho, o permissivo e o aliena<strong>do</strong>, que enrola e mata o tempo de aula.Os <strong>professor</strong>es que se tornaram exemplos a serem segui<strong>do</strong>s possuíam algo especial aorelacionar-se com seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s. Essas considerações sintetizam as observações de Antunes(2002), ao afirmar que quan<strong>do</strong> a aula proporciona um clima de admiração, de socialização eparticipação, o silêncio acontece. Nesse momento, a <strong>relação</strong> que ambos estabelecem éhorizontal, pois possibilita o diálogo, e tanto <strong>professor</strong> quanto <strong>alu<strong>no</strong></strong> sabem escutar quem fala,respeitan<strong>do</strong> as especificidades de cada um. Antunes (2002, p. 57) afirma que é preciso“preocupar-se mais com a compreensão e a aprendizagem <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong> que com os resulta<strong>do</strong>sfinais”.O <strong>professor</strong> <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> aprendizagem, ao fazer uma reflexão sobre asnecessidades <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s busca estratégias para orientar a ação pedagógica, fazen<strong>do</strong> mudançaspara adequar aos objetivos propostos e os mo<strong>do</strong>s de avaliação, para investigar e detectar osavanços na construção <strong>do</strong> conhecimento.Pois, de acor<strong>do</strong> com Vasconcelos:


7501O conteú<strong>do</strong> que o <strong>professor</strong> apresenta precisa ser trabalha<strong>do</strong>, refleti<strong>do</strong>, re-elabora<strong>do</strong>,pelo <strong>alu<strong>no</strong></strong>, para se constituir em conhecimento dele. Caso contrário, o educan<strong>do</strong> nãoaprende, poden<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> muito, apresentar um comportamento condiciona<strong>do</strong>,basea<strong>do</strong> na memória superficial. Temos que superar essa grande farsa <strong>do</strong> sistema deensi<strong>no</strong>: fingimos que ensinamos, os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s fingem que aprendem, e os pais fingemque estão satisfeitos (VASCONCELOS, 1994, p. 45).Ao falar da <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, Perre<strong>no</strong>ud (1997) explica que o <strong>professor</strong>, alémde <strong>do</strong>minar o conteú<strong>do</strong> específico de sua disciplina, tem que torná-lo prático e significativopara o <strong>alu<strong>no</strong></strong>, trabalhan<strong>do</strong> com os erros e acertos que ocorrem <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong>, além deenvolver os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s nesse processo.É importante <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem, o <strong>professor</strong> ter a clareza que os<strong>alu<strong>no</strong></strong>s aprendem modifican<strong>do</strong> suas ações e concepções. Também ter consciência de que osmais lentos ou rápi<strong>do</strong>s para aprender, necessitam de estratégias e atividades diversificadas eoferecidas adequadamente ao tempo e ritmo de aprendizagem de cada <strong>alu<strong>no</strong></strong>. Quan<strong>do</strong> isso nãoacontece, podemos dizer que o desempenho <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong> é reflexo <strong>do</strong> planejamento não adequa<strong>do</strong>para uma aprendizagem significativa ou o <strong>professor</strong> não sabe aplicar o planejamentoadequadamente.No contexto escolar, mais especificamente, <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem, pormeio da <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, é possível estabelecer vínculos afetivos edemocráticos, garantin<strong>do</strong> melhor participação e auto<strong>no</strong>mia <strong>do</strong>s aprendizes. Essa <strong>relação</strong> é<strong>fundamental</strong> para que o ensi<strong>no</strong> deixe de ser mera transmissão de conteú<strong>do</strong>s e possibilite aprodução e a construção coletiva de conhecimentos, respeitan<strong>do</strong> cada <strong>alu<strong>no</strong></strong> na suaespecificidade.A prática reflexiva constante <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem traz umacontribuição significativa na <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, possibilita constituir a própriaidentidade, refletir sobre a sociedade onde estão inseri<strong>do</strong>s e o seu papel dentro dela. Com todaa certeza, o cenário muda completamente quan<strong>do</strong> o <strong>professor</strong> e o <strong>alu<strong>no</strong></strong> são desafia<strong>do</strong>s emsuas competências e habilidades a acreditar em seu potencial, isso provoca mudançassignificativas na <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong>, <strong>alu<strong>no</strong></strong> e sociedade.Para Freire (1996), o <strong>professor</strong> deve ir além <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> de sua disciplina a serensina<strong>do</strong> para o <strong>alu<strong>no</strong></strong>. Ele também deve preocupar-se, em sua práxis diária, em contribuircom a formação humana e cidadã <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong>. E, principalmente, fazer com que o <strong>alu<strong>no</strong></strong>descubra a sua própria identidade, como agente transforma<strong>do</strong>r de sua vida e <strong>do</strong> contexto ondeestá inseri<strong>do</strong>. Para isso, é <strong>fundamental</strong> ver o <strong>alu<strong>no</strong></strong> como um to<strong>do</strong>, atender sua especificidade,


7502compreender a sua cultura e respeitar seu tempo e ritmo de aprendizagem. Isso não é fácil,exige comprometimento e preparação, caso contrário a <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> que seestabelece <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem pode correr o risco de chegar ao fracasso.Portanto, é <strong>no</strong> ambiente escolar que de alguma forma <strong>professor</strong>es e <strong>alu<strong>no</strong></strong>s começam atraçar seu caminho para o fracasso ou o sucesso escolar, a partir <strong>do</strong> relacionamento queestabelecem desde o primeiro dia de aula.Procedimentos Meto<strong>do</strong>lógicosA presente pesquisa foi orientada por uma abordagem qualitativa que buscoucompreender as características da <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> numa sala de aula de 3ª série <strong>do</strong>Ensi<strong>no</strong> Fundamental. As informações foram obtidas em cinco sessões de observação de aulasde uma turma de <strong>3º</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental de uma escola pública de Tijucas <strong>do</strong> Sul/PR eem duas entrevistas realizadas com a <strong>professor</strong>a da referida turma. Um requisito <strong>fundamental</strong>da pesquisa foi o pesquisa<strong>do</strong>r manter uma <strong>relação</strong> direta com o contexto investiga<strong>do</strong> durante oprocesso de coleta de da<strong>do</strong>s <strong>no</strong> local de convivência <strong>do</strong>s sujeitos da pesquisa, <strong>no</strong> caso, umasala de aula de <strong>3º</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental com 27 <strong>alu<strong>no</strong></strong>s na faixa etária entre 8 a 9 a<strong>no</strong>sde idade.As observações das aulas mostraram a existência de um clima agradável e prazeroso<strong>no</strong> ambiente da sala de aula. A <strong>professor</strong>a utilizava estratégias para promover a participação ecooperação <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, tornava o processo de ensinar e aprender instigante, ela tambémvalorizava e ressaltava as atitudes positivas <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s <strong>no</strong> dia a dia escolar.Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s faziam as atividades e levavam para a <strong>professor</strong>a corrigi-las, e ela fazia ainterferência necessária sem dar respostas prontas, apenas direcionan<strong>do</strong> o raciocínio delespara a solução <strong>do</strong>s problemas. Esse ambiente retrata o que Antunes (2002) e Freire (1996)afirmaram sobre uma boa <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, que as aulas e o ambiente proporcionamum clima de admiração, de respeito, de interação de participação e de diálogo entre <strong>professor</strong>e <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, o silêncio acontece sem que ambos peçam por ele.Observamos também que havia uma aproximação entre a <strong>professor</strong>a e os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s em<strong>relação</strong> aos saberes e conteú<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem. Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>se a <strong>professor</strong>a tinham liberdade de colocar suas dúvidas e contar algo relaciona<strong>do</strong> ao seucotidia<strong>no</strong> sem ser critica<strong>do</strong> ou zomba<strong>do</strong> pela turma.


7503A <strong>professor</strong>a mantinha exposto na parede da sala de aula, um painel que informava oacor<strong>do</strong> de convivência da turma. Esse painel foi construí<strong>do</strong> <strong>no</strong> coletivo e não imposto pela<strong>professor</strong>a. Em nenhuma aula observada foi possível encontrar um <strong>alu<strong>no</strong></strong> infligin<strong>do</strong> oufazen<strong>do</strong> algo que estava fora <strong>do</strong>s combina<strong>do</strong>s, os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s pareciam ver senti<strong>do</strong> nas regras epassavam a a<strong>do</strong>tá-las em sua rotina diária de sala de aula.Por meio das sessões de observação e ao conversar em alguns momentos com a<strong>professor</strong>a, tornaram-se visíveis algumas inseguranças em <strong>relação</strong> aos conteú<strong>do</strong>sdetermina<strong>do</strong>s pelo sistema de ensi<strong>no</strong> aos <strong>alu<strong>no</strong></strong>s e à quantidade de conteú<strong>do</strong>s a ser ensinadadurante o a<strong>no</strong> letivo. Para superar essas preocupações, a <strong>professor</strong>a procurava em seucotidia<strong>no</strong> enriquecer seu trabalho com recursos didáticos disponibiliza<strong>do</strong>s pela instituição,trocar experiências de aulas com outros <strong>professor</strong>es, acompanhar e auxiliar os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s quetinham mais dificuldade e, também, em adequar atividades ao ritmo de aprendizagem <strong>do</strong>s<strong>alu<strong>no</strong></strong>s. Procurava aprimorar seu planejamento de acor<strong>do</strong> com o Projeto Político Pedagógicoda escola e ao mesmo tempo atender a necessidade de aprendizagem de seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.Também foi possível constatar que a <strong>professor</strong>a procurava fazer uma intervenção juntoà família, manten<strong>do</strong> os pais atualiza<strong>do</strong>s sobre o que ocorria <strong>no</strong> ambiente de sala de aula,deixan<strong>do</strong> claro que esse tipo de atuação fazia a diferença na vida <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong>. A <strong>professor</strong>arelatou que eram poucos os pais que não estavam “nem aí” para o seu filho e sua evolução naescola.Para melhor compreender a <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> que ocorria na sala de aulainvestigada foram realizadas duas entrevistas com a <strong>professor</strong>a da referida turma, cada umacom a duração de 30 minutos. A <strong>professor</strong>a havia cursa<strong>do</strong> Normal à distância, comhabilitação em séries iniciais <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental e para a Educação infantil. A duração<strong>do</strong> curso foi de <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s com tele-aulas uma vez por semana.Ao perguntar que valores a <strong>professor</strong>a defendia, ela mencio<strong>no</strong>u o respeito em sala deaula, o valor principal que privilegiava em seu trabalho de educar. Também defendia a uniãoentre os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, a sinceridade quan<strong>do</strong> cada um de seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s expunha aquilo que sentia,entendia, gostava e o que não achava certo. Mas ela enfatizava que era o respeito quepre<strong>do</strong>minava em sala, e isso podemos compreender em sua fala: “Dos valores, é o respeitoentre eles, a união deles, a sinceridade que eles têm uns com os outros, se faz uma coisaerrada ou se dá uma opinião de ajuda ao outro. É o respeito em sala de aula que prevalece”.A <strong>professor</strong>a fazia seu planejamento semanal <strong>no</strong>s momentos de “hora atividade”, uma vez por


7504semana. Disse que procurava organizar seu planejamento de acor<strong>do</strong> com as especificidades enecessidades de aprendizagem de cada <strong>alu<strong>no</strong></strong> e também preparar atividades para criarcondições desafia<strong>do</strong>ras.A <strong>professor</strong>a afirmava que a disciplina dependia de muitos fatores como: participação;atividades cotidianas; esta<strong>do</strong> emocional e conduta <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong> e <strong>do</strong> <strong>professor</strong>; acor<strong>do</strong> deconvivência; responsabilidades; ambiente rico e gostoso para o aprendiza<strong>do</strong>; liberdade elimites na <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.Indagada sobre as ações que considerava mais importantes para agir diante daindisciplina <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, ela respondeu:Eu procuro contar uma fábula, uma das coisas que os meus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s gostam muito,percebo que eles param e ficam me observan<strong>do</strong>, eles dão risada quan<strong>do</strong> conto algoengraça<strong>do</strong>. Eu procuro contar algo que os provoque a refletir sobre suas ações, senão for assim não dá para continuar a aula.(Entrevista realizada em 28/09/2010com a Professora da turma investigada).A estória contada algumas vezes era relacionada aos valores importantes para umaconvivência harmônica entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> e entre <strong>alu<strong>no</strong></strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, assim como, erarelacionada com as situações cotidianas.A <strong>professor</strong>a também ressaltou a importância <strong>do</strong> Painel de Acor<strong>do</strong> de Convivência e<strong>do</strong> Painel das Atividades de Casa. Esses painéis, que foram confecciona<strong>do</strong>s logo <strong>no</strong> início <strong>do</strong>a<strong>no</strong> letivo, segun<strong>do</strong> a <strong>professor</strong>a, são muito importantes e contribuem muito para a rotinaescolar de forma organizada e rica, com informações explícitas e claras. Quan<strong>do</strong> perguntei seestes combina<strong>do</strong>s, como o “Acor<strong>do</strong> de Convivência” e as “Atividades de Casa”, eram viáveisclaros e simples para o entendimento <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, ela respondeu que sim, pois “são elesmesmos que acabam colocan<strong>do</strong> o que dá certo na convivência diária da sala de aula, então,isso não é só uma construção minha, mas é de to<strong>do</strong>s”.As situações vividas pelo <strong>professor</strong> e pelo <strong>alu<strong>no</strong></strong> <strong>no</strong> ambiente da sala de aula revelaramvários aspectos das características que exercem influência na interação entre <strong>professor</strong> e<strong>alu<strong>no</strong></strong>. Alguns desses aspectos como, por exemplo, meto<strong>do</strong>lógicos, objetivos e avaliaçõespodem ser defini<strong>do</strong>s como parte integrante da interação. No entanto, aspectos específicos dainteração <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> não podem ser previstos <strong>no</strong> planejamento. São os aspectos,encontra<strong>do</strong>s na interação <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, que envolvem a afetividade, motivação e emoção,esses devem ser leva<strong>do</strong>s em conta ao reagir diante <strong>do</strong> que o <strong>alu<strong>no</strong></strong> faz.


7505Um <strong>do</strong>s problemas que afetam a <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> é o sistema educacionalbrasileiro obrigar o <strong>professor</strong> a dar aulas para turmas com mais de 30 <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, isso impede queo <strong>professor</strong> conheça melhor e tenha uma atenção especial para cada <strong>alu<strong>no</strong></strong>. Postic (1984, p.13) afirma que, “qualquer sistema escolar traz a marca da sociedade que o produziu e estáorganiza<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> a concepção da vida social, <strong>do</strong>s organismos da vida econômica, dasrelações sociais, que animam essa sociedade”.Quan<strong>do</strong> perguntamos à <strong>professor</strong>a o que pre<strong>do</strong>minava em sua sala de aula, se eram ostrabalhos individuais ou em grupo e, também, como ela interagia com os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s nessassituações, ela respondeu:Na minha sala pre<strong>do</strong>mina os <strong>do</strong>is tipos de trabalhos, mas quan<strong>do</strong> trabalhamos emgrupo é maravilhoso, um ajudan<strong>do</strong> o outro, que nem semana passada queestávamos com as sucatas de casa decoran<strong>do</strong> as caixas para colocar os jogos desílabas, então, é aquela união gostosa, um ajudan<strong>do</strong> o outro e tal. E quan<strong>do</strong> eu digoque vamos parar, então, a gente se organiza para arrumar a sala e não tem aqueleque é individualiza<strong>do</strong> ou em coletivo, porque é assim a mesma coisa, sempre emgrupo ou individual, eles trabalham juntos numa boa. Eu não tenho o que reclamardeles nesse ponto (Entrevista realizada em 28/09/2010 com a Professora da turmainvestigada).Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s quan<strong>do</strong> estavam fazen<strong>do</strong> trabalhos e atividades individualizadas, eram comose estivessem trabalhan<strong>do</strong> em grupo, pois gostavam de sentir-se úteis em ajudar os outros<strong>alu<strong>no</strong></strong>s. Isso pode ser reflexo da conduta da <strong>professor</strong>a, pois observamos que <strong>no</strong>s encontroscom outros <strong>professor</strong>es, ela trazia materiais para quem havia solicita<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong> ajudar naprática em sala de aula desse <strong>professor</strong>, assim como, mantinha com to<strong>do</strong> o pessoal da equipeescolar uma <strong>relação</strong> de respeito e amizade. Esse comportamento da <strong>professor</strong>a tambémocorria na sala de aula e refletia nas atitudes de seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.De fato, nas observações realizadas na sala de aula, constatamos que a <strong>professor</strong>a nãoprecisava ficar chaman<strong>do</strong> a atenção <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s para o que eles tinham que fazer, assim como,os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s não ficavam cobran<strong>do</strong> o que a <strong>professor</strong>a precisa fazer em sala de aula.Os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s a<strong>do</strong>ravam receber elogios e ajudar a <strong>professor</strong>a <strong>no</strong> que era possível. Elatambém demonstrava uma preocupação em como estarão <strong>no</strong> futuro e se a amizade queconstruíram durante esses três a<strong>no</strong>s levarão para sempre. A <strong>professor</strong>a comentou que hoje emdia as amizades não são dura<strong>do</strong>ras e que as pessoas trocam de amigos como se trocassem de


7506roupa. Notamos que ela gostaria que os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s continuassem amigos <strong>no</strong> futuro e construíssemamizades verdadeiras. Sobre esses aspectos, a <strong>professor</strong>a comentou:Eu olho o cader<strong>no</strong> e sempre elogio o capricho, os exercícios que ele fez e colocouma observação positiva em seu cader<strong>no</strong>, ele olha o cader<strong>no</strong> fica feliz e diz para oamigo: “olha só aí, o que a profe colocou pra mim”. Se tem uma coisa que eu faço éelogiar as pequenas atitudes deles em querer me ajudar e ajudar o outro, elesa<strong>do</strong>ram ajudar. Eu só espero que continuem assim por toda a vida. [...] Eu utilizomuitos tipos de elogio, como muito bom, excelente ou uma carinha que coloco <strong>no</strong>cader<strong>no</strong>, ou um abraço bem gostoso que acabo dan<strong>do</strong> neles sem ter um motivoespecial para isso. Mas o que eu faço é elogiar as pequenas atitudes deles com osoutros amigos e comigo, e <strong>no</strong>to como o olhinho deles brilha quan<strong>do</strong> reconheço evalorizo o que estão fazen<strong>do</strong> de bom para o outro. Eu vejo que têm <strong>professor</strong>es comdificuldade em por limites para a turma, que não consegue fazer com que a turmacoopere e respeite o <strong>professor</strong> e os colegas. Nesse ponto não tenho como reclamar<strong>do</strong>s meus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s e de seus pais, eles me escutam, me respeitam e cumprem suasresponsabilidades em sala de aula e com as lições de casa. [...] Sempre digo paraeles que vai passar a<strong>no</strong>s e eles estarão já adultos e a amizade que criamos aqui,vamos levar para toda a vida. (Entrevista realizada em 28/09/2010 com a Professorada turma investigada).A <strong>relação</strong> estabelecida entre a <strong>professor</strong>a e seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>s era baseada <strong>no</strong> respeito, tanto a<strong>professor</strong>a quanto os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s demonstravam sentir-se bem naquele ambiente. A postura da<strong>professor</strong>a transmitia segurança e confiança para os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s, isso influenciava<strong>fundamental</strong>mente o processo de ensi<strong>no</strong> e aprendizagem e, sobretu<strong>do</strong> contribuía para amelhoria da auto-estima <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.Considerações FinaisO estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em uma escola municipal de Tijucas <strong>do</strong> Sul/PR procurou investigaras características da <strong>relação</strong> <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong> que ocorriam com uma turma de 27 <strong>alu<strong>no</strong></strong>s <strong>do</strong><strong>3º</strong> a<strong>no</strong> <strong>do</strong> Ensi<strong>no</strong> Fundamental.As observações realizadas em sala de aula e os depoimentos da <strong>professor</strong>a sobreaspectos dessa <strong>relação</strong> revelaram a existência de um ambiente educativo com um clima derespeito, diálogo e confiança entre <strong>professor</strong>a e <strong>alu<strong>no</strong></strong>.No lugar de um ensi<strong>no</strong> transmissivo, a <strong>professor</strong>a utilizava atividades instiga<strong>do</strong>ras quedespertavam o interesse <strong>do</strong> <strong>alu<strong>no</strong></strong>, crian<strong>do</strong> um clima propício à produção e construção deconhecimentos e favorável à auto-estima <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s.


7507O estu<strong>do</strong> mostrou que é possível criar uma <strong>relação</strong> de empatia entre quem ensina equem aprende, respeitan<strong>do</strong> cada um em sua especificidade e como os fatores <strong>do</strong> processo deensi<strong>no</strong> e aprendizagem implicam na qualidade da <strong>relação</strong> entre <strong>professor</strong> e <strong>alu<strong>no</strong></strong>, crian<strong>do</strong> umclima que instiga a curiosidade <strong>do</strong>s <strong>alu<strong>no</strong></strong>s para o aprender, que atenda suas necessidades e aomesmo tempo contribua para a sua formação e para a transformação da realidade.Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s revelaram que a <strong>relação</strong> estabelecida entre a <strong>professor</strong>a e seus <strong>alu<strong>no</strong></strong>sera baseada <strong>no</strong> respeito, <strong>no</strong> diálogo, na cooperação, na participação e liberdade de expressão,tanto a <strong>professor</strong>a quanto os <strong>alu<strong>no</strong></strong>s demonstravam sentir-se bem naquele ambiente. Nessa<strong>relação</strong>, a <strong>professor</strong>a não só ensinava como, também, procurava ser aprendiz juntamente como <strong>alu<strong>no</strong></strong>. As análises <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s apontaram também que a ação da <strong>professor</strong>a foi além <strong>do</strong>conteú<strong>do</strong> a ser ensina<strong>do</strong>.REFERÊNCIASANTUNES, Celso. Professor Bonzinho = Alu<strong>no</strong> Difícil: a questão da indisciplina em sala deaula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.ENS, Romilda Teo<strong>do</strong>ra; VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos; BEHRENS, MarildaAparecida. Trabalho <strong>do</strong> Professor e Saberes Docentes. Curitiba, PR: Champagnat, 2009.DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, SP: UNESCO,1999.DIMENSTEIN, Gilberto; ALVES, Rubem. Fomos Maus Alu<strong>no</strong>s. Campinas, SP: Papirus,2003.FREIRE, Paulo. Pedagogia da Auto<strong>no</strong>mia: saberes necessários à prática educativa. Rio deJaneiro, RJ: Paz e Terra, 1996.MEIRIEU, Philippe. Aprender Sim, Mas Como? Tradutor: Vanise Dresch – 7ª edição. PortoAlegre, RS: Artes Médicas, 1998.MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensi<strong>no</strong>: as abordagens <strong>do</strong> processo. São Paulo, SP:EPU, 1986.PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre, RS:Artmed, 1997.


7508POSTIC, Marcel. A Relação Pedagógica. Coimbra, Editora Limitada: Padrões Culturais,1984.VASCONCELOS, Celso. A construção <strong>do</strong> Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo, SP:Liberdad, 1994.

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