FAZENDO A DIFERENÇAPÃO E LEITEMAIS DO QUE ALIMENTOS: O PRINCÍPIOPARA A SOLIDARIEDADEpor Luciana LaborneDiante da desigualdade, a vontade de fazer gentefeliz. Esse é o propósito de Noemi Gontijo, queoferece dignidade para habitantes de uma regiãomineira. Dona Geralda, a guerreira que soube enfrentarsituações de humilhação para sobreviver,atualmente possibilita emprego e decência paradezenas de catadores da Asmare. Com o rostopintado de pasta de jenipapo, Ailton Krenak contribuiupara a história da população indígena brasileira,que, ainda hoje, é representada pelo índiobotocudo. Relatos descritos nas edições anterioresda <strong>Pneus</strong> & <strong>Cia</strong>., que além de inspirar exemplo,instigam a vontade de fazer a diferença.Um fazer que você também pode fazer. E nãoprecisa ser em nome de um povo, representaruma classe ou uma entidade. Já existe o “Dia deFazer a Diferença” e não é necessário ser famoso, ter dinheiro,nem uma história de vida emocionante, nenhumpré-requisito específico. Somente solidariedade.Participante voluntário de uma campanha, AndreoneCarvalho foi surpreendido em uma situaçãoque a princípio parecia comum. Encontrou ummenino, de cerca de sete anos, em um canto deum passeio qualquer no centro de Belo Horizonte.Ao se aproximar, perguntou:– Você não tem casa?– Tenho sim. (Respondeu o menino)– Então, por quê não volta? Vai ficar na rua sentindofrio e fome? Diga-me onde mora que o levo agora devolta para a sua casa.– Não posso. Se eu voltar, minha mãe me mata. (Falouimediatamente)Andreone retrucou:– Ah, não é bem assim. Em momentos de raiva, mãefala isso mesmo, mas não fará nada contra você.– Fará sim. Ela matou meu pai, eu vi. E depois disseque ia me matar, por isso eu fugi.Sem mais palavras para convencer o menino a voltarpara casa, o voluntário entregou à criança oque havia lhe trazido: pão, leite e sua solidariedade.Naquele dia ele entendeu que sair para asações com a idéia pré-concebida de que sempreconseguirá tirar alguém da rua, é ilusão. Para ele,o importante é perceber as necessidades e intervirdentro da possibilidade do morador. “Não voupara campanha apenas para ajudar em uma dificuldadeespecífica, dar o que comer ou tirar aquelesujeito da rua. Vou para conhecer a pessoa, suasnecessidades e fazer a minha parte, diante do quesinto e do que sou”.Andreone Carvalho tem 37 anos e há quase 20 se dedicacomo voluntário nas ruas, ganhando sorrisos e aliviandoa fome dos andarilhos que encontra. Passadas décadasnesse ritmo de “ajudar”, o técnico de saúde comprovaque fazer a diferença faz bem: “É como se fosse para omeu próprio benefício, de tão gratificante”.26| <strong>Pneus</strong> & <strong>Cia</strong>.Foto: arquivo Grupo Fraterno Amigo PresenteAndreone Carvalho no asilo Lar Cantinho da PazGrupo Fraterno Amigo PresenteParticipante de um grupo de estudo na área do espiritismo,Andreone presenciou quando a turma começoua se mobilizar para agir em prol do semelhante.Em novembro de 1989, os envolvidos no projeto,que não tinha caráter assistencial, resolveram fazeruma única campanha. A atividade era doar alimentos(pães, leite e sucos) e assistência moral à populaçãode rua da região central da capital mineira.A receptividade contagiante, com direito a conversasagradáveis e uma festa traduzida pelo brilhonos olhos diante da ajuda, mobilizou o grupoque programou novo encontro na semana seguintee, depois, mais outro...Com a maioridade alcançada, a turma continua ase reunir. Hoje, Andreone é o presidente do GrupoFraterno Amigo Presente. Todas as sextas-feiras,
Foto: arquivo Grupo Fraterno Amigo PresenteCampanha do Pãozinhocerca de 50 pessoas saem para a Campanha doPãozinho. No passar dos anos, foram integradosao projeto outros perfis e idéias. Uma pluralidadeque possibilitou novos eixos de atuação, como aCampanha do Quilo; visitas, no terceiro domingode cada mês, ao asilo Lar Cantinho da Paz (umaoportunidade de oferecer carinho, respeito e afetoaos idosos). E mais: apoio ao trabalho da BibliotecaGraça Rios, que permite aos estudantes carentesacesso a obras literárias e acadêmicas. Sem contar,campanhas eventuais, como a do agasalho, que,durante a madrugada em todo inverno, distribuiroupas de frio e cobertores à população de rua.A entidade não possui nenhuma renda fixa econta com doações e eventos organizados paraarrecadar fundos para as campanhas. A sede alugadaé o ponto de encontro dos participantespara preparar o material que, depois se dividemem um roteiro específico.O presidente sabe que as necessidades dos moradoresvão além da questão material. São dificuldadescom a família, problemas com drogas, alcoolismo euma série de outros fatores. Quando é preciso encaminharalguém para um acompanhamento especializado,o grupo recorre a entidades de credibilidade.O trabalho é digno de admiração, mas também épreciso reconhecer o perigo de transitar a noitepelo centro da cidade. Andreone explica que osvoluntariados não esquecem o risco da violênciaao chegar perto de um andarilho. “Ficamos atentosdiante dos limites e das fragilidades dos moradoresde rua. Afinal, a fé e a solidariedade nãopodem excluir a prudência”.O pão e o leite, mais do que alimento, são os atrativospara a abordagem. “Chegamos com o material,claro que com o objetivo imediato de combater afome, mas também como um acesso para nos aproximarda pessoa e começar um diálogo”, detalha.O trabalho desenvolvido pelo grupo, incansavelmentehá mais de 18 anos, dispensa adjetivações.Ao dizer que não sabe se faz a diferença,Andreone finaliza a entrevista: “Ah, não seimesmo. Mais que uma oportunidade de trabalho,eu ganho auto-conhecimento. Vou sem esperarnada em troca, mas eles me surpreendem. Fazema diferença para mim. Isso me estimula a continuare querer fazer mais. E é algo que você podesentir também”.In Foco BrasilPediu, chegou.Produtos, ferramentas e acessóriospara reformadoras, lojas de pneuse borracharias.Tel (31) 3291-6979www.gebor.com.brR. Cassia, 26 - Loja 01 - Prado - Belo Horizonte - MG - gebor@gebor.com.br