Análise da ação da instituição,perspetivas de melhoria e resultadosobtidosRelativamente às áreas de melhoria em queas instituições progrediram mais nos últimosanos, há uma perceção clara de que houve,de uma forma geral, uma grande evoluçãono âmbito da organização do voluntariadomissionário. No entanto, existem naturalmente,áreas que progrediram mais. São elas: aqualidade da formação proporcionada aosvoluntários missionários antes da partida, aespecialização das instituições em áreas deatuação mais direcionadas e o incremento dasestratégias de recrutamento de voluntários. Acontinuidade dos resultados alcançados, paraalém do período de intervenção realizado pelosvoluntários, é assegurada fundamentalmentepelas congregações religiosas ou estruturase comunidades paroquiais e ainda pelascomunidades locais (voluntários e/ou técnicosformados pelos voluntários missionários).18
3VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO COMO PRÁTICADE RELAÇÃO DE DÁDIVAO presente estudo privilegia uma abordagemao voluntariado missionário a partir da ótica da<strong>dádiva</strong>, procurando relacionar a ação voluntáriacom a prática de relação de <strong>dádiva</strong>. No presentedocumento pretende-se, de forma sumária,conceptualizar esta noção de <strong>dádiva</strong> entendidacomo uma forma própria de estabelecer laçossociais com profunda significação ética, namedida em que a <strong>dádiva</strong> possui uma estruturade gratuitidade e liberdade. Posteriormente,analisam-se as motivações dos voluntários e oimpacto da ação que realizam na sua própriavida, a partir da dinâmica instaurada na relaçãode <strong>dádiva</strong>. Como referido anteriomente, nesteestudo ainda não foi possível analisar o impactoda ação do voluntariado missionário junto dosseus destinatários e respetivas comunidades.A noção de <strong>dádiva</strong>De forma ampla, entende-se por <strong>dádiva</strong> a açãoou prestação de bens ou serviços realizadasem expectativa, garantia ou certeza deretribuição - o que compreende uma dimensãode gratuitidade - e que procura a criação,manutenção ou regeneração do vínculo social(Caillé, 2002a, 2002b). Desta definição resultaque a relação de <strong>dádiva</strong> não constitui umarelação de troca económica, utilitarista (o quenão significa que não tenha utilidade), masuma relação de troca simbólica (troca<strong>–</strong>para<strong>–</strong>o<strong>–</strong>vínculo), ou seja, uma relação propriamenteética que tem a sua razão de ser na abertura aooutro e na esperança de uma resposta.Numa relação de troca económica, o quecircula tem um valor de troca representável porum montante em dinheiro e um valor de usoque atribui à “coisa dada” uma importância emfunção da sua utilização e funcionalidade. Narelação de <strong>dádiva</strong>, pelo contrário, tudo o quecircula possui um valor de vínculo, isto é, o quecircula sob a forma de <strong>dádiva</strong> - um objecto, umserviço, um “gesto” - tem um valor simbólicona medida em que exprime, alimenta e reforçaos laços sociais (Godbout, 1992). A <strong>dádiva</strong>está ao serviço da relação, da amizade, dasolidariedade, constituindo uma forma deestabelecer o vínculo social. Na relação de<strong>dádiva</strong>, “o dar”, “o receber” e “o retribuir” estãopois subordinados à afirmação de cada pessoase constituir a si mesma como pessoa e semanifestar como tal na relação que estabelececom o outro. O que significa que os motivose os objetivos subjacentes à <strong>dádiva</strong> estãosubordinados à qualidade da relação que ossujeitos constroem entre si. Não se estabelece,pois, uma relação com o outro apenas para darou obter alguma coisa, mas para instaurar, emprimeiro lugar, um movimento em direção aooutro enquanto outro.A <strong>dádiva</strong> realiza uma aposta, introduz umgesto gratuito e incondicional - expresso nacapacidade de se abrir à incerteza quanto aoretorno -, colocando a relação num registo19