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Voluntariado – missão e dádiva - Plataforma ONGD

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3VOLUNTARIADO MISSIONÁRIO COMO PRÁTICADE RELAÇÃO DE DÁDIVAO presente estudo privilegia uma abordagemao voluntariado missionário a partir da ótica da<strong>dádiva</strong>, procurando relacionar a ação voluntáriacom a prática de relação de <strong>dádiva</strong>. No presentedocumento pretende-se, de forma sumária,conceptualizar esta noção de <strong>dádiva</strong> entendidacomo uma forma própria de estabelecer laçossociais com profunda significação ética, namedida em que a <strong>dádiva</strong> possui uma estruturade gratuitidade e liberdade. Posteriormente,analisam-se as motivações dos voluntários e oimpacto da ação que realizam na sua própriavida, a partir da dinâmica instaurada na relaçãode <strong>dádiva</strong>. Como referido anteriomente, nesteestudo ainda não foi possível analisar o impactoda ação do voluntariado missionário junto dosseus destinatários e respetivas comunidades.A noção de <strong>dádiva</strong>De forma ampla, entende-se por <strong>dádiva</strong> a açãoou prestação de bens ou serviços realizadasem expectativa, garantia ou certeza deretribuição - o que compreende uma dimensãode gratuitidade - e que procura a criação,manutenção ou regeneração do vínculo social(Caillé, 2002a, 2002b). Desta definição resultaque a relação de <strong>dádiva</strong> não constitui umarelação de troca económica, utilitarista (o quenão significa que não tenha utilidade), masuma relação de troca simbólica (troca<strong>–</strong>para<strong>–</strong>o<strong>–</strong>vínculo), ou seja, uma relação propriamenteética que tem a sua razão de ser na abertura aooutro e na esperança de uma resposta.Numa relação de troca económica, o quecircula tem um valor de troca representável porum montante em dinheiro e um valor de usoque atribui à “coisa dada” uma importância emfunção da sua utilização e funcionalidade. Narelação de <strong>dádiva</strong>, pelo contrário, tudo o quecircula possui um valor de vínculo, isto é, o quecircula sob a forma de <strong>dádiva</strong> - um objecto, umserviço, um “gesto” - tem um valor simbólicona medida em que exprime, alimenta e reforçaos laços sociais (Godbout, 1992). A <strong>dádiva</strong>está ao serviço da relação, da amizade, dasolidariedade, constituindo uma forma deestabelecer o vínculo social. Na relação de<strong>dádiva</strong>, “o dar”, “o receber” e “o retribuir” estãopois subordinados à afirmação de cada pessoase constituir a si mesma como pessoa e semanifestar como tal na relação que estabelececom o outro. O que significa que os motivose os objetivos subjacentes à <strong>dádiva</strong> estãosubordinados à qualidade da relação que ossujeitos constroem entre si. Não se estabelece,pois, uma relação com o outro apenas para darou obter alguma coisa, mas para instaurar, emprimeiro lugar, um movimento em direção aooutro enquanto outro.A <strong>dádiva</strong> realiza uma aposta, introduz umgesto gratuito e incondicional - expresso nacapacidade de se abrir à incerteza quanto aoretorno -, colocando a relação num registo19

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