“Sou voluntária 24 horas por dia,está tudo dito”. Por muito que eutenha dificuldades no trabalho, pormuito que eu tenha dificuldades nosprojectos é o meu compromisso, cabemea mim arranjar estratégias, pedircolaboração da minha comunidade,pedir colaboração de outras pessoasno terreno, pedir colaboração aosecretariado executivo, para tentarultrapassar….” (Ent. F.1)Assim, se por um lado, quem faz voluntariadomissionário ganha na relação da <strong>dádiva</strong>, poroutro lado, pode perder, em situação real,oportunidades de emprego e de estabilidadeno mesmo. “Até agora nada. Bem pelocontrário. Rouba-me o tempo, sobretudo. Equando me empenho nisto, não me empenhono trabalho. Não é que não cumpra as coisasque tenho que cumprir, mas talvez as arrastomais. Agora consegui também como professoraqui canalizar e aproveitar coisas boas quetenho aqui e aplicá-las lá fora. Mas acho que seeu não fizesse voluntariado poderia estar maisdesenvolvido em termos profissionais, mas nãohá arrependimentos.” (Ent. M.1)O facto de estarem ausentes do país levoua que abraçassem outras preocupações, asdas comunidades locais de acolhimento eque deixassem para trás as suas própriaspreocupações. Esta constitui também umaconcretização da noção de <strong>dádiva</strong>. A relaçãoda <strong>dádiva</strong> é uma história a construir no tempo,onde impera a entrega, livre e gratuita, de ajudaao outro, sem retribuição direta. Constrói-seem conjunto. Espera-se um desenvolvimentodas comunidades e das populações locais,com autonomia, em ordem a um mundo maisequilibrado e coeso.Regressam com uma noção de compromissoque marca a postura perante a vida.
5PROJETO “ONDJOYETU”, ANGOLA: EXEMPLO DE PROJETODE VOLUNTARIADO COM IMPACTO NO TERRENOO Gungo, em Angola, é uma comuna com2.200 km2 que conta com cerca de 25.000habitantes. É uma região montanhosa quefoi muito afetada pela guerra. A populaçãotenta aos poucos regressar à normalidade dasua vida, o isolamento e a falta de recursos(humanos e financeiros) cria dificuldades/obstáculos em ordem à resolução dos seusproblemas básicos. Nesta comuna não háenergia elétrica, comunicações, água potável,assistência médica e medicamentosa; aescolaridade é muito reduzida e não chegaa todas as aldeias. Os grupos missionários,que têm estado presentes em Angola, desde2003, desenvolveram a sua ação junto destacomunidade. Ao longo das seis ediçõesdeslocaram-se a Angola 25 pessoas em <strong>missão</strong>de voluntariado.Fruto da geminação celebrada entre asDioceses de Leiria-Fátima e de Diocese doSumbe, Angola, várias pessoas têm colaboradoneste projeto por períodos que têm osciladoentre dois meses e dois anos. Os voluntáriosmissionários têm-se substituído uns aos outros,permitindo assim dar continuidade ao projeto.Tendo como base o Sumbe, a equipa que estáno terreno desloca-se ao Gungo por períodosde uma a quatro semanas, rodando pelasdiversas zonas pastorais e atingindo assim,rotativamente, pessoas diferentes. O trabalhoé desenvolvido, dependendo também dosvoluntários presentes no terreno que actuamem áreas tão diversas como: alfabetização,educação, micro-projetos de desenvolvimento,culinária, economia doméstica, animaçãojuvenil, mecânica, reorganização e estruturaçãodas comunidades e áreas da pastoral como aassistência espiritual. Uma das iniciativas maisemblemáticas é o “Projeto Grão a Grão”, quetem como objetivo dinamizar uma moagempara a comunidade do Gungo. Este objetivojá foi parcialmente concretizado e, em breve,começará a funcionar uma moagem demartelos no Gungo. Depois destes períodosjunto das comunidades rurais mais isoladas,a equipa regressa ao Sumbe para descansar,comunicar com a família e amigos, enviarnotícias, abastecer a dispensa e preparar onovo trabalho. As vias de acesso ao Gungo sãoem terra batida e algumas encontram-se empéssimo estado, sendo que a certas localidadessó é possível aceder a pé.Em 2011, a equipa permanente que está emAngola é constituída por um padre e cincoleigos. As competências profissionais dosvoluntários atuais são variadas integrandoa fisioterapia, engenharia, educação e acarpintaria. Existe também diversidade noque diz repeito às faixas etárias, integrando ogrupo tanto recém-licenciados, como pessoasaposentadas.33