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A Matemática Financeira no Ensino Fundamental - A Magia da ...

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Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO FUNDAMENTALCristiane Bahia Lima 1 , Ilydio Pereira de Sá 2¹Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra, crisejc.2009@gmail.com²Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra, ilydio@gmail.comResumo:O presente artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica, tendocomo objetivo discutir o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong><strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>. Partiu-se <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> matemática financeira na formaçãodo ci<strong>da</strong>dão. Em segui<strong>da</strong> observou-se as aplicações dos recursos tec<strong>no</strong>lógicosem sala de aula, <strong>da</strong>ndo uma atenção especial para a calculadora. Num outromomento, relacionamos a Matemática <strong>Financeira</strong> com alguns conteúdosMatemáticos do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>. Comentamos também sobre aimportância do uso de propagan<strong>da</strong>s e <strong>no</strong>ticias de jornal como ferramentas decontextualização e de auxilio para as aulas de matemática.Palavras-chave: Matemática <strong>Financeira</strong>, Educação Matemática Crítica,Tec<strong>no</strong>logias, Contextualização.1. A importância <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong> na formação doci<strong>da</strong>dão.A Matemática <strong>Financeira</strong> tem sua importância registra<strong>da</strong> desde oaparecimento <strong>da</strong>s primeiras civilizações, que já a utilizavam em seu cotidia<strong>no</strong>para cobrar pelo empréstimo de alguma coisa. Nesses primórdios os juroseram pagos através de sementes, grãos ou outros tipos de bens.Os conhecimentos <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong> são fun<strong>da</strong>mentais naformação do ci<strong>da</strong>dão crítico, consciente de seus direitos e deveres.Defendemos que os conteúdos dessa disciplina sejam iniciados desde asprimeiras séries do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>. É claro que tais informações devemser inicia<strong>da</strong>s adequa<strong>da</strong>mente, explorando o lúdico, simulações de compras e1 Licencian<strong>da</strong> em Matemática – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra2 Doutorando em Educação Matemática – Diretor do Centro de Ciências Exatas, Tec<strong>no</strong>lógicas e <strong>da</strong>Natureza <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra, atuando também como docente nas Licenciaturas emMatemática e Pe<strong>da</strong>gogia e <strong>no</strong> Mestrado Profissional em Educação Matemática. Professor <strong>da</strong> UERJ e doCentro Universitário Serra dos Órgãos.1


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993ven<strong>da</strong>s, preenchimento de cheques, histórias em quadrinhos, teatralizações,etc.Todos se lembram de quantos exercícios de matemática fizeram <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong><strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong> e que não serviam para na<strong>da</strong> a não ser detestar, ca<strong>da</strong> vez mais,essa disciplina. Cader<strong>no</strong>s com centenas de contas com frações, númerosdecimais, expressões imensas e totalmente fora de qualquer contexto. Por quenão atrelar esses cálculos a situações retira<strong>da</strong>s do cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s pessoas? Porque não transformar uma conta do tipo 35,60 x 0,90 numa compra com umdesconto de 10%? Por que não mostrar que uma multiplicação do tipo 46,80 x1,10 pode ser o cálculo do pagamento de um restaurante com o acréscimo de10% <strong>da</strong> gorjeta do garçom?Ole Skovsmose, em seu livro Educação Matemática Crítica: Uma Questãode Democracia defende a matemática dizendo que ele é muito mais do queuma ciência exata (2008).Dentro de sua obra o autor <strong>no</strong>s faz analisar as razões dos investimentos emsistemas educacionais e a essenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matemática nesses sistemas. Dizque a educação matemática pode agir para o bem, aju<strong>da</strong>ndo a formar ci<strong>da</strong>dãoscríticos, ou para o mal, excluindo as pessoas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de já que ela está emto<strong>da</strong> parte.Skovsmose acha necessário que a educação matemática possibilite aoalu<strong>no</strong> pensar criticamente, já que a socie<strong>da</strong>de está ca<strong>da</strong> vez maismatematiza<strong>da</strong>. Fala <strong>da</strong> matemática em ação, afirmando que as pessoas quepraticam a matemática têm atitudes dominantes e decisivas ao tomaremdecisões.Ao longo do livro reforça a idéia <strong>da</strong> importância do conhecimentomatemático como uma maneira de tornar o ci<strong>da</strong>dão crítico e me<strong>no</strong>s vítima deuma matemática presente <strong>no</strong> dia-a-dia <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de e que, pordespreparo, <strong>no</strong>s prepara ver<strong>da</strong>deiras “armadilhas”.To<strong>da</strong> a discussão desenvolvi<strong>da</strong> por Skovsmose na obra ultrapassa asconcepções matemáticas de muitos professores, conduzindo-<strong>no</strong>s a umareflexão acerca de sua importância na socie<strong>da</strong>de moderna.Esse importante autor dinamarquês afirma a relevância de perceber, porexemplo, que:[...] as questões econômicas por trás <strong>da</strong>s fórmulas matemáticase os problemas matemáticos, devem ter significado para o alu<strong>no</strong>e estarem relacionados a processos importantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Assim, o alu<strong>no</strong> tem um comprometimento social e político, poisidentifica o que de fato é relevante <strong>no</strong> seu meio cultural.”(SKOVSMOSE, 2008)A Matemática <strong>Financeira</strong> pode servir de alerta para todos os consumidores.Sabemos que muitas vezes somos vítimas de fraudes ou propagan<strong>da</strong>enga<strong>no</strong>sa unicamente por falta de informação e conhecimento matemáticoadequado.2


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993Se as pessoas tivessem algum conhecimento financeiro, saberiam poupar,consumir, investir ou reivindicar. Acreditamos que tal formação aju<strong>da</strong>ria adiminuir as gritantes diferenças sociais existentes em <strong>no</strong>sso país. Evitaria queos ci<strong>da</strong>dãos fossem ludibriados, auxiliaria na defesa de seus direitos deconsumidor e trabalhador, exatamente como defendem Ubiratan D’Ambrosio eOle Skovsmose (Educação Matemática Crítica: a questão <strong>da</strong> democracia, 2008e Educação Crítica: Incerteza, Matemática, Responsabili<strong>da</strong>de, 2008), na linhade<strong>no</strong>mina<strong>da</strong> Educação Matemática Crítica.Na hora de toma<strong>da</strong> de decisões, conhecimento e informação se fazemnecessários na vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s as pessoas. Dessa forma, é muito importanteinserirmos os conceitos financeiros na vi<strong>da</strong> dos jovens e crianças <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>fun<strong>da</strong>mental para que eles se sintam preparados para li<strong>da</strong>r com dinheiro, oupara que saibam o quanto estão pagando de juros como consumidores ouain<strong>da</strong> para que possam planejar suas vi<strong>da</strong>s, sabendo a influência <strong>da</strong> inflação,do valor do dinheiro <strong>no</strong> tempo e para que possam ter uma vi<strong>da</strong> financeira maisestável, sem divi<strong>da</strong>s e preocupações <strong>no</strong> final do mês.2. Calculadoras na sala de aula do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>.Com a idéia de que a tabua<strong>da</strong> deveria ser decora<strong>da</strong> ou memoriza<strong>da</strong> muitosprofessores conservadores ain<strong>da</strong> lutam contra a idéia de introduzir acalculadora <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>, pois alegam que os alu<strong>no</strong>s tornar-se-iampreguiçosos ou então, que o raciocínio do alu<strong>no</strong> seria comprometido. Hojevemos que, ao contrario do que se pensava a respeito, a calculadora aju<strong>da</strong> adesenvolver o raciocínio, fazendo com que o alu<strong>no</strong> descubra <strong>no</strong>vos meios dese chegar a um resultado com maior eficácia e precisão. Com o uso <strong>da</strong>calculadora o alu<strong>no</strong> terá a sua atenção concentra<strong>da</strong> na solução dos problemas(o que ela não faz por ele) e deixa para a máquina a árdua tarefa mecânica doscálculos matemáticos.A calculadora é um recurso tec<strong>no</strong>lógico que já está presente na socie<strong>da</strong>dehá muito tempo, tendo inclusive seu uso recomen<strong>da</strong>do <strong>no</strong>s ParâmetrosCurriculares Nacionais de Matemática para o Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong> (PCN, p 45).Mas, na prática, o que vemos é que ain<strong>da</strong> é proibi<strong>da</strong> na maioria <strong>da</strong>s salas deaula <strong>da</strong> Educação Básica e com um simples argumento de que não poderá serusa<strong>da</strong> <strong>no</strong>s vestibulares. Queremos aqui contrapor com dois argumentos:- A escola deve preparar para a vi<strong>da</strong> ou para os concursos?- Os vestibulares ain<strong>da</strong> priorizam cálculos e algoritmos, como há 30a<strong>no</strong>s ou já estão mu<strong>da</strong>dos?Atualmente, é fato, que as calculadoras, computadores e outros elementostec<strong>no</strong>lógicos estão ca<strong>da</strong> vez mais presentes nas diferentes ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>população. A calculadora acaba sendo o recuso mais utilizado por todos porser um instrumento com baixo custo, sendo assim um meio tec<strong>no</strong>lógico de fácilacesso para as escolas e para os alu<strong>no</strong>s.3


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993É claro também que não adianta <strong>da</strong>r uma calculadora para ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong> se aescola não ensina a sua manipulação correta, se este instrumento tec<strong>no</strong>lógiconão é aproveitado criticamente e construtivamente nas aulas de Matemática.Nosso alu<strong>no</strong>, ci<strong>da</strong>dão, deve se mostrar apto para viver em uma socie<strong>da</strong>dedomina<strong>da</strong> pela tec<strong>no</strong>logia. Para isso ele precisa utilizar e se aproveitar de taisrecursos tec<strong>no</strong>lógicos. Segundo os PCN do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>, o uso dessesrecursos traz significativas contribuições para se repensar sobre o processo deensi<strong>no</strong> e aprendizagem de Matemática, como:• Relativiza a importância do cálculo mecânico e <strong>da</strong> simplesmanipulação simbólica, uma vez que por meio dessesinstrumentos tais cálculos podem ser realizados de modomais rápido e eficiente;• Evidencia para os alu<strong>no</strong>s a importância do papel <strong>da</strong>linguagem gráfica e de <strong>no</strong>vas formas de representação,permitindo <strong>no</strong>vas estratégias de abor<strong>da</strong>gem de variadosproblemas;• Possibilita o desenvolvimento, <strong>no</strong>s alu<strong>no</strong>s, de um crescenteinteresse pela realização de projetos e ativi<strong>da</strong>des deinvestigação e exploração como parte fun<strong>da</strong>mental de suaaprendizagem; (PCN, p. 43 e 44)Como os alu<strong>no</strong>s estão em contato com a tec<strong>no</strong>logia a todo instante fora <strong>da</strong>escola, a sua introdução na sala de aula só iria ligar o cotidia<strong>no</strong> àaprendizagem, fazendo assim com que tivessem um maior interesse pelamatemática.Uma <strong>da</strong>s vantagens do uso de tais recursos, como a calculadora, é o ganhode tempo, os alu<strong>no</strong>s não precisam ficar horas calculando; outra é que eles sesentem mais seguros com os resultados, uma vez que quando fazem as contas<strong>no</strong> papel eles nem sempre confiam <strong>no</strong> resultado obtido. Além disso, eles sesentem me<strong>no</strong>s cansados e com mais vontade de realizar as tarefas. Sobreessas vantagens, o autor Guinther (2001), em seu texto Uma experiência comcalculadoras numa 6ª série do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>, afirma:“Acredito que os alu<strong>no</strong>s construíram uma visão melhor de como aMatemática pode ser trabalha<strong>da</strong> com os recursos oferecidos pelastec<strong>no</strong>logias. Puderam experimentar aulas diferentes <strong>da</strong>stradicionalmente <strong>da</strong><strong>da</strong>s com o uso somente <strong>da</strong> lousa e giz.Deixaram de ser passivos e atuaram na discussão com os colegase professor”. (GUINTHER, 2001).Usar a calculadora em sala de aula, saindo <strong>da</strong> rotina “cuspe e giz”, faz oalu<strong>no</strong> se sentir à vontade, com liber<strong>da</strong>de para perguntar, questionar e propor asua versão <strong>da</strong> resposta, pois eles acham que estão mais livres e o professorestá mais acessível, tornando a aprendizagem mais prazerosa e significativa.Apesar de to<strong>da</strong>s essas vantagens não podemos deixar de observar aslimitações dos alu<strong>no</strong>s e explicar para eles o porquê do uso <strong>da</strong> calculadora4


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993naquele determinado momento, para que eles tenham consciência de que acalculadora é apenas uma ferramenta de auxilio e não resolve os problemaspor si mesma. Para nós professores de Matemática o maior ganho quandoutilizamos a tec<strong>no</strong>logia é podermos transformar algum conteúdo árido e atémesmo desagradável em algo prazeroso e mostrarmos que não é privilegio depoucos aprender matemática, mas sim que ela está ao alcance de todos.3. Matemática <strong>Financeira</strong> x Conteúdos Matemáticos doEnsi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>.Nos objetivos gerais dos conteúdos matemáticos do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>,de acordo com os PCN, encontramos que eles têm por finali<strong>da</strong>de fazer comque o alu<strong>no</strong> identifique os conhecimentos matemáticos como meios paracompreender e transformar o mundo à sua volta, como aspecto que estimula ointeresse, a curiosi<strong>da</strong>de, o espírito de investigação e o desenvolvimento <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de para resolver problemas;Tais conteúdos foram selecionados com a finali<strong>da</strong>de de identificar saberesculturais, cuja assimilação é essencial para a produção de <strong>no</strong>vosconhecimentos. Esses conteúdos são agrupados em quatro blocos: Númerose Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medi<strong>da</strong>s, Tratamento <strong>da</strong>Informação. Não encontramos, explicitamente, a Matemática <strong>Financeira</strong> <strong>no</strong>sPCN, mas ela pode estar presente <strong>no</strong>s blocos de números e operações etratamento <strong>da</strong> informação.Essa Matemática <strong>Financeira</strong> deve ser inseri<strong>da</strong>, como já dissemos antes, deforma contextualiza<strong>da</strong> e relaciona<strong>da</strong> ao cotidia<strong>no</strong> de <strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s.A Matemática <strong>Financeira</strong> deveria ser trabalha<strong>da</strong> com os alu<strong>no</strong>s desde oprimeiro ciclo do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, pois o mundo globalizado gira em tor<strong>no</strong><strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia e <strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s, desde cedo, já convivem com situações decompra, consumo e dinheiro. Infelizmente, não é comum encontrarmos essasabor<strong>da</strong>gens <strong>no</strong>s livros dedicados à Matemática do Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong> e,quando encontramos, é também comum que as “situações reais” sejamartificiais e sem qualquer ligação com o cotidia<strong>no</strong> dos brasileiros. Por exemplo,será que costumamos encontrar <strong>no</strong>s financiamentos <strong>da</strong>s lojas a cobrança feitaatravés de juros simples? Por que será que os livros do 7º a<strong>no</strong> do Ensi<strong>no</strong><strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong> (6ª série) só apresentam esse tipo de juros?Ensinar matemática financeira para as crianças não é só ensiná-las a li<strong>da</strong>rcom o dinheiro, mas sim fazer com que elas rejeitem a corrupção, façamnegociações justas, cumpram prazos e valores combinados, tenhamconsciência ambiental usando sem desperdiçar os recursos naturais tendo umpensamento coletivo e humanitário e por fim que sejam responsáveissocialmente. Essas atitudes estão de acordo com o que os PCN de<strong>no</strong>minam“temas transversais”.5


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993Preparando essas <strong>no</strong>vas gerações para fazer uso inteligente e responsáveldo dinheiro estaremos contribuindo com desenvolvimento econômico e social ,melhorando também a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão.4. O uso de propagan<strong>da</strong>s e <strong>no</strong>ticias de jornais nas aulas deMatemática <strong>Financeira</strong>.A utilização de propagan<strong>da</strong>s e do jornal nas aulas de matemática traz ocotidia<strong>no</strong> para a sala de aula, além de contextualizar os conteúdos a seremtrabalhados. Utilizando estas ferramentas como auxilio, podemos despertar <strong>no</strong>salu<strong>no</strong>s uma motivação, um senso crítico, e até mesmo fazer com que eleadquira o hábito <strong>da</strong> leitura, enriquecendo o seu vocabulário.Podemos trabalhar com as propagan<strong>da</strong>s e com as <strong>no</strong>tícias em qualquerconteúdo <strong>da</strong> matemática financeira, e nós mesmos podemos elaborar osproblemas a serem resolvidos.Temos como utilizar a Matemática <strong>Financeira</strong> em vários momentos na salade aula. No Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>, acreditamos que o principal deles é odesenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des que permitam a introdução do conceito defatores de correção: um fator de correção na<strong>da</strong> mais é que o número decimalque, multiplicado por um valor inicial, permite a obtenção de um valor final, porexemplo, a operação 1,18 . 100 = 118 gera um acréscimo de 18% sobre o valorinicial 100. 1,18 é o fator de aumento para 18%. Esse fator de correção, emsituações onde são conhecidos os dois valores, fica obtido pela divisão do valorfinal pelo inicial, por exemplo, 118:100 = 1,18.No caso de preços de mercadorias com acréscimos ou reduções, podemoslevar várias <strong>no</strong>tícias para <strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s, permitindo que eles obtenham essesfatores e, posteriormente, os percentuais de aumento ou de reduçãocorrespondentes.Os fatores de correção que usamos são os de aumento e redução, queencontramos a todo tempo em cadernetas de poupança, liqui<strong>da</strong>ções, reajustesde impostos ou de salários.Os fatores que representam aumentos são maiores que 1 e os querepresentam reduções são me<strong>no</strong>res que 1.Podemos resumir as informações que demos sobre fatores de aumento efatores de correção:Tomemos k% como um percentual de aumento.F = (100 + k): 100(Fator de Aumento de k%) ou F = 1 + k/100.Tomemos k% como um percentual de redução.F = (100 – k): 100(Fator de Redução de k%) ou F = 1 – k/100.6


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993A seguir, apresentaremos alguns exemplos de propagan<strong>da</strong>s e <strong>no</strong>ticias quepodem ser leva<strong>da</strong>s para as salas de aula do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental visandotrabalhar com conceitos importantes <strong>da</strong> matemática financeira.1) Notícia do Jornal “O Dia”, quarta-feira, 11 de <strong>no</strong>vembro de2009:AUMENTO DE 5% APROVADOA Assembléia Legislativa do Rio aprovou ontem o reajuste de 5% para osinspetores de Segurança e Administração Penitenciaria e para os servidores <strong>da</strong>Fun<strong>da</strong>ção Santa Cabrini. O projeto de lei que concedia o mesmo percentual deaumento para os servidores do Degase recebeu 12 emen<strong>da</strong>s e saiu de pauta.O texto retornará à votação na próxima semana.O aumento dos inspetores penais foi aprovado de acordo com a propostaoriginal. No ultimo dia 28, o gover<strong>no</strong> sofreu derrota <strong>no</strong> Plenário <strong>da</strong> Alerj, quandoos deputados aprovaram emen<strong>da</strong>s que estabeleciam que o reajuste deveria serpago a partir de 1º de maio e que o vencimento-base deveria passar deR$ 2.750 para R$ 2.887.[...]Trabalhando com a <strong>no</strong>tícia:a) Confirme, através dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> <strong>no</strong>tícia, se o reajuste do salário base seriarealmente de 5%.Solução:O fator de correção correspondente a esse aumento seria de F = 2 887 :2750 ≅ 1,05. Como 1,05 corresponde a 105%, temos que o aumento seriamesmo de, aproxima<strong>da</strong>mente, 5%.2) Notícia <strong>no</strong> site www.uol.com.br/eco<strong>no</strong>mia , terça-feira, 08 desetembro de 2009.[...] dólar tem que<strong>da</strong> de 0,81% passando para R$ 1,829 e está sendovendido à vista por R$ 1,827 [...]Trabalhando com a <strong>no</strong>tícia:a) Determine o valor do dólar em reais antes <strong>da</strong> que<strong>da</strong> descrita acima.Solução :O fator de correção correspondente a essa redução seria de F =1 – 0,0081 ≅ 0,99197


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993Chamemos de X, o valor do dólar que estamos buscando.X . 0,9919 = 1,829X = 1,829: 0,9919X ≅ 1,843Logo, o valor do dólar era de, aproxima<strong>da</strong>mente, R$ 1,843.b) Determine qual foi a porcentagem do desconto na compra à vistaem relação ao valor atual (após a que<strong>da</strong>).Solução:X = 1,827: 1,829X ≅ 0,99891 – 0,9989 ≅ 0,0011 ou 0,11 %Logo, a porcentagem foi de 0,11 %.Outro conteúdo do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, para os alu<strong>no</strong>s do 9º a<strong>no</strong> ou antiga8ª série, que podemos trabalhar através <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong> é a equaçãodo 2º grau. Através de equações do segundo grau, podemos discutir com<strong>no</strong>ssos alu<strong>no</strong>s várias situações contextualiza<strong>da</strong>s, de compras financia<strong>da</strong>s, querecaem nesse importante conteúdo <strong>da</strong> matemática elementar.A seguir, colocamos uma situação sugeri<strong>da</strong> pelo livro “Curso Básico deMatemática <strong>Financeira</strong> (Para Educadores Matemáticos), de Ilydio Pereira deSá, 2005.A situação apresenta<strong>da</strong>, além de recair numa equação do segundo grau,necessita <strong>no</strong>vamente ser trabalha<strong>da</strong> com o uso dos fatores de correção.Vamos supor que estamos vivendo um momento em que acaderneta de poupança está gerando rendimentos mensais de 2,0%.Você entrou numa loja, para comprar uma geladeira e o vendedor lheofereceu as seguintes opções de compra:1ª) Pagar à vista R$ 700,002ª) Pagar em duas prestações mensais, sem entra<strong>da</strong>, de R$ 380,00.Para responder à questão proposta, vamos considerar a segun<strong>da</strong>opção e verificar o que vai acontecer após o pagamento <strong>da</strong> últimaprestação. Teremos três possibili<strong>da</strong>des: sobrará dinheiro napoupança, faltará o dinheiro para pagar a prestação ou o saldo finalserá zero.Vamos acompanhar o que estaria acontecendo com os R$ 700,00aplicados na poupança.8


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993Após um mês <strong>da</strong> aplicação: antes de pagar a prestação, teremos700,00 x 1,02 = 714,00 e, depois do pagamento, teremos: 714,00 –380,00 = 334,00Após dois meses <strong>da</strong> aplicação: antes de pagar a prestação, teremos:334,00 x 1,02 = 340,68Conclusão: o valor que sobra não é suficiente para pagar a segun<strong>da</strong>prestação de R$ 380,00, o que <strong>no</strong>s leva a concluir que a primeiraopção (compra à vista) é mais vantajosa nesse caso.A conclusão desse exemplo <strong>no</strong>s faz perceber que a referi<strong>da</strong> lojadeve estar cobrando uma taxa mensal de juros superior aos 2% <strong>da</strong>remuneração <strong>da</strong> poupança. Mas qual é então essa taxa de juros quea loja está cobrando?Vamos agora fazer o mesmo raciocínio anterior, lembrando que aloja atualiza a divi<strong>da</strong> mês a mês, usando um fator x, correspondenteà taxa de juros cobra<strong>da</strong>.Vamos acompanhar a evolução <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>, até que ela fique zera<strong>da</strong>,ou seja, até o pagamento <strong>da</strong> prestação final:Saldo devedor inicial: R$ 700,00.Depois de um mês: antes do pagamento <strong>da</strong> prestação: 700. x, edepois do pagamento (700. x - 380)Depois de dois meses: antes do pagamento <strong>da</strong> prestação: (700. x –380). x e depois desse pagamento: (700. x – 380). x – 380.È claro que essa última expressão (como foi o último pagamento)deverá ser iguala<strong>da</strong> a zero.(700. x – 380). x – 380 = 0 ou 700x² - 380x – 380 = 0Simplificando a equação, dividindo tudo por 20, teremos:35x² - 19x – 19 = 0. Resolvendo a equação do segundo grau elembrando que <strong>no</strong>s interessa apenas a resposta positiva, teremos:x =19 + 19² − 4.35.( −19)70=19 + 302170≅19 + 54,9670≅ 1,0566Sabemos que este fator obtido corresponde a uma taxa de 5,66%,que é a taxa mensal de juros cobra<strong>da</strong> pela loja.9


Revista TECCEN – Universi<strong>da</strong>de Severi<strong>no</strong> Sombra – Volume 3 –número 1 – abril de 2010 – ISSN 1984-0993CONSIDERAÇÕES FINAISAtualmente os professores de Matemática têm enfrentado grandes desafiospara introduzir o estudo <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong> ouaté mesmo <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Médio. Os motivos são muitos, passando por formação,currículos e livros didáticos inadequados. No decorrer do artigo apresentamosalgumas formas de trabalharmos os conceitos <strong>da</strong> Matemática <strong>Financeira</strong>, deforma contextualiza<strong>da</strong>, relaciona<strong>da</strong> aos conteúdos tradicionais do Ensi<strong>no</strong><strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>, como números racionais e equações do segundo grau.Abor<strong>da</strong>mos a utilização <strong>da</strong> calculadora como uma ferramenta para aaprendizagem do alu<strong>no</strong>, permitindo a este que raciocine sobre a situaçãoapresenta<strong>da</strong>, visando obter a solução mais vantajosa, além do que ain<strong>da</strong> podeaju<strong>da</strong>r na resolução de <strong>da</strong>s tarefas, com vantajosos ganhos <strong>no</strong> processo deaprendizagem, focando seu esforço <strong>no</strong> entendimento <strong>da</strong>s questões e <strong>no</strong>raciocínio lógico, deixando a árdua tarefa operacional para as calculadoras.Um estudo complementar análogo poderia ser feito para o Ensi<strong>no</strong> Médio,ain<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> temática <strong>da</strong> contextualização e <strong>da</strong> Educação MatemáticaCrítica, levando para a sala de aula as situações do cotidia<strong>no</strong>, atrela<strong>da</strong>s aosconteúdos clássicos <strong>da</strong> Matemática Escolar e permitindo discussões sobresocie<strong>da</strong>de, democracia, direitos e deveres, tão importantes na formação dosci<strong>da</strong>dãos.BIBLIOGRAFIABRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais terceiro e quarto ciclos doensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental - Matemática, Brasília, 1998.D’AMBROSIO, Ubiratan Uma resenha do livro de Ole Skovsmose: EducaçãoCrítica: Incerteza, Matemática, Responsabili<strong>da</strong>de - Bolema, Rio Claro (SP),A<strong>no</strong> 21, nº 29, 2008.GUINTER, A. Uma experiência com calculadoras numa 6ª série do Ensi<strong>no</strong><strong>Fun<strong>da</strong>mental</strong>. Informação e Tec<strong>no</strong>logia, Campinas, 2001.Disponível em: http://www.revista.unicamp.br/infotec/artigos/ariovaldo.html.Acessado em 23 de setembro de 2009.SÁ, Ilydio Pereira de. Matemática Comercial e <strong>Financeira</strong> (na educaçãobásica) para Educadores Matemáticos – Sotese, Rio de Janeiro, 2005.SKOVSMOSE, Ole - Educação Matemática Crítica: a questão <strong>da</strong>democracia – Editora Papirus: São Paulo, 4ª edição, 2008.www.magia<strong>da</strong>matematica.com.br. Acessado em 10 de <strong>no</strong>vembro de 2009.10

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