AlfabetizaçãoNo auditório da escola os paiscomemoram orgulhosos a vitória queé de todos, crianças, escola e famíla: aedição do livro “Uma aventura atravésdo tempo”Alunos da realfabetizaçãose lançam <strong>na</strong> aventura deescrever um livroClaudia Sanches“Pela primeira vez <strong>na</strong> história da EscolaMunicipal Professor Júlio Mesquita alunospublicam um livro. E isso é um motivo muitogrande de orgulho para a educação do Riode Janeiro. Esses jovens são vitoriosos”. O discursoda coorde<strong>na</strong>dora da 8ª CRE de Bangu, Sônia de AraújoMarques, abriu a cerimônia de lançamento da obra“Uma aventura através do tempo”, escrita pelos alunosda classe de realfabetização dos 4º e 5º anos do EnsinoFundamental.Os pequenos escritores fazem parte do projeto Se liga,parceria da Prefeitura com o Instituto Airton Sen<strong>na</strong>. Oprograma tem o objetivo de capacitar professores paraensi<strong>na</strong>r a ler e escrever, em turmas especiais, criançasque chegaram ao 4º ano sem serem alfabetiza<strong>das</strong>.A professora de turma Vera Regi<strong>na</strong> de Salles teve umasurpresa em ple<strong>na</strong> sala de leitura. Os alunos decidiramescrever um livro. Tudo começou em uma <strong>das</strong> atividadeslúdicas, chamada “Curtindo a leitura”, onde Vera leu aobra “O homem que amava caixas”, de Sthepen MichaelKing. O autor contava a história de um homem que tinhadificuldades em demonstrar amor por seu filho. Entãoconstruía brinquedos de caixas de papelão como formade expressar seu amor e, entre os presentes, ofereceuum castelo medieval ao menino.O grupo se encantou pela bela história e pelas referênciasà Idade Média e as aulas começaram a orbitar emtorno desse universo. Os estudantes tiveram a ideiade construir um castelo de sucata e resolveram criarum texto em cima da história de Stephen King. Oque era uma produção textual se tornou um projetode livro, e a professora aceitou o desafio. Redigidopelas crianças, elas eram as próprias perso<strong>na</strong>gense criaram as tramas do enredo. “A iniciativa foi todada turma, que se empolgou com o tema e começou adiscutir diariamente, o que culminou <strong>na</strong> ideia de registroescrito”, lembra Vera. Ingrid, Letícia, Paloma, Marcela...Todos faziam parte daquela aventura mágica atravésdo tempo.De acordo com a diretora docolégio, Teresa Cândida, o sucessoestá relacio<strong>na</strong>do à gerência escolar,que foi além da alfabetizaçãoe apoiou o empreendimento, desdeoferecer condições para trabalharComemorando a superação: alunos,pais e educadores compartilhammomentos e experiências muitointensas. Crianças da realfabetizaçãoleem trechos do livro e relembram oprazer durante as etapas da confecçãoda obra38 Jor<strong>na</strong>l Educar
até a procura da editora para imprimir o livro. “Eles eram estudantescom uma segunda chance de aprender a ler. Vejo aedição dessa obra como ‘o algo mais’ no projeto Se liga. Essefoi o grande mérito da professora e da turma, mostrar que épossível fazer, superar as dificuldades”, destacou a diretora.Para as educadoras que participaram, que acompanharamo processo e os progressos dos estudantes, a escolhado professor de turma fez a diferença. “Sou apaixo<strong>na</strong>da poralfabetizar”, confirmou Vera, que ressaltou a dedicação e acriatividade da turma durante a produção do texto coletivo:“Eles se descobriram capazes de brincar com as palavras,criando e recriando o texto até que estivessem satisfeitos como produto fi<strong>na</strong>l. Perceberam que, mesmo antes de domi<strong>na</strong>r ocódigo escrito, são capazes de criar sua própria obra, viajando nomundo da imagi<strong>na</strong>ção e da fantasia, vencendo suas capacidades emostrando-se capazes de vencer suas dificuldades”.Segundo a supervisora do programa de Realfabetização da 8ª CRE,Lúcia Fiaux, que presta apoio pedagógico, o projeto também aproximoua família da vida escolar e resgatou a autoestima da turma, queera muito baixa. Algumas crianças sentiam vergonha de ter ido para aclasse especial, e hoje elas se orgulham de pertencer ao grupo que acumuloutantas conquistas. “Quando montamos a classe de alfabetizaçãomuitos alunos e famílias não aceitavam, tinham preconceito, achandoque estávamos separando os grupos. Alunos que se sentiam incapazesestão hoje aqui, resgatando a própria dignidade”, relata Lúcia.Durante a solenidade de lançamento, com direito a autógrafos paraos pais, os alunos leram o livro em voz alta,falaram sobre as etapas de produção ereceberam home<strong>na</strong>gem <strong>das</strong> autoridadesda educação. Carla deAndrade, mãe de Marcela,onze anos, que tem dislexia,se emocio<strong>na</strong>va ao vera filha lendo com fluência einterpretação os trechos dahistória: “Ela não lia <strong>na</strong>dano início do ano”, lembravaa mãe orgulhosa.A maquete de umcastelo medievalinspirou toda a tramada obra-prima. Umaideia virou realidade.“Uma aventura atravésdo tempo” provaque é possível obtertransformações atravésda educaçãoTodosrevelavamo bom desempenho<strong>na</strong>oralidade e aalegria de teremsuperado as dificuldades iniciais. “As turmas da 4ª série devem estarmorrendo de inveja não é?”, comentavam em voz baixa as criançascom a professora Vera, que espalhou cartazes e convites para divulgaro evento por todo o colégio. Os pais de Diogo, Cleide e Damiãode Souza também acompanharam todo o processo e prestigiarama vitória do filho, escritor aos 12 anos: “Estamos muito orgulhososdesses pequenos escritores. A barreira, aprender a ler e escrever,foi rompida. E ultrapassada!”, comemoravam.Para Valdineia Silva, representante da gerência de educação da8ª CRE, que visitou o colégio durante o ano letivo, e acompanhou oinvestimento dos educadores que culminou nessa produção, esse esforçoé um exemplo para toda a escola porque mobiliza professores ealunos que estão acomodados e mostra que é possível a realização dosseus sonhos. “Peque<strong>na</strong>s atitudes como elogiar, mostrar os avanços jámotivam o ser humano. Imagine uma turma de realfabetização emque não só se aprende a ler, mas se pode editar um livro. Participeide alguns momentos desse desafio e é uma honra ter apostado nessaempreitada”, concluiu a educadora durante a solenidade.Escola Municipal Professor Júlio de MesquitaRua Ribeiro de Andrade s/n – Padre Miguel – Rio de Janeiro/RJCEP: 21810-000Tel.: (21) 3331-3453Diretora: Teresa Cândida RaymundoFotos: Marcelo ÁvilaJor<strong>na</strong>l Educar 39