professor. Acrescentam que o recurso, nas aulas, a perguntas convergentes, <strong>de</strong>resposta curta e bastante previsível, po<strong>de</strong>rá constituir um disfarce da exposição doprofessor.Em síntese, po<strong>de</strong> afirmar-se que a pergunta constitui um meio <strong>de</strong> ensinopo<strong>de</strong>roso, que o professor po<strong>de</strong> usar no sentido <strong>de</strong> obter diferentes fins. Partindosedo pressuposto que a aprendizagem <strong>de</strong>ve ser um processo simultaneamenteindividual e social, resultante da interacção entre professor e alunos, a perguntaganha especial importância na medida em que traduz uma solicitação <strong>de</strong>intervenção, um convite à participação. No entanto, o questionamento não éintrinsecamente bom, isto é, não é simplesmente por se formularem muitasperguntas que uma aula resulta.Aspectos Linguísticos do Discurso da Sala <strong>de</strong> Aula: Conceitos OperatóriosA comunicação linguística. É próprio do ser humano comunicar aquilo quesente, pensa ou conhece. Esta necessida<strong>de</strong> está intimamente relacionada com a suadimensão social. Para Carvalho (1983), quando afirmamos que os homenscomunicam, consi<strong>de</strong>ramos duas realida<strong>de</strong>s complementares, enten<strong>de</strong>ndo a palavraem dois sentidos: no sentido etimológico, "comunicar" está ligado ao adjectivocomum e ao substantivo comunida<strong>de</strong>. Comunicar será neste sentido "tornarcomum", "pôr em comum", ou ainda, "estabelecer comunida<strong>de</strong>". Os homens"realizam comunida<strong>de</strong> pelo facto mesmo <strong>de</strong> que uns com os outros comunicam"(Carvalho, 1983, p. 25). O mesmo autor acrescenta, por outro lado, que o termocomunicação, na acepção mais corrente, significa "transmitir" ou "transferir parao outro". É neste sentido que Crystal (1980) a enten<strong>de</strong>, como uma transmissãoentre uma fonte e um receptor, com recurso a um sistema <strong>de</strong> sinais. Teoricamente,a eficácia da comunicação é medida pelo grau <strong>de</strong> aproximação entre a informaçãoenviada e a que é recebida. No primeiro sentido, comunicar está relacionado compartilhar enquanto que no segundo, aproxima-se <strong>de</strong> transaccionar.Para que a comunicação verbal possa ocorrer <strong>de</strong>vem estar presentes umcerto número <strong>de</strong> factores, que Jakobson (1973) sistematizou <strong>de</strong>ste modo: umemissor, que envia a mensagem a um receptor, através <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> comunicação.Para isso, ele utiliza um código (supostamente comum aos dois). A situaçãoque envolve a produção da mensagem, como as relações entre os sujeitos do actoverbal, as circunstâncias e acontecimentos extra-linguísticos que enquadram aprodução da mensagem, constitui o referente ou o contexto.O discurso é concebido como o uso <strong>de</strong> um sistema linguístico em contextosreais. Do ponto <strong>de</strong> vista da Pragmática, o discurso refere o modo como os significadossão atribuídos e trocados por interlocutores em situações concretas e con-- 36 -
textualizadas. Num discurso particular, os enunciados — entendidos como resultadoda produção discursiva — são compreensíveis por meio <strong>de</strong> referência a umconjunto particular <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, valores ou convenções que existem fora das palavrastrocadas (Stubbs, 1983b). A enunciação é, segundo esta perspectiva, o processo <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> sentido a partir da utilização <strong>de</strong> um dado sistema linguístico, tendoem conta, por um lado, um conjunto <strong>de</strong> aspectos do foro linguístico e, por outro,um conjunto <strong>de</strong> condicionalismos extra-verbais, como os <strong>de</strong> carácter social,cultural ou outros (Levinson, 1983).Estudo da comunicação: Duas perspectivas. O estudo da comunicaçãotem seguido orientações diferentes, das quais convém <strong>de</strong>stacar duas: para aprimeira, estudar a comunicação equivale a dizer que o <strong>de</strong>stinatário reconhece aintenção do locutor e i<strong>de</strong>ntifica o objecto a que a mensagem se refere, <strong>de</strong>vido àexistência <strong>de</strong> um código comum aos interlocutores; para o outro mo<strong>de</strong>lo, estudar acomunicação é também estudar o processo da enunciação, referenciando oscontextos que servem <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong> fundo aos enunciados (Pereira, 1991;Rodrigues, 1994). No primeiro caso, a comunicação é associada aos processos <strong>de</strong>codificação e <strong>de</strong>scodificação, suportados por um conjunto <strong>de</strong> regras sintácticas esemânticas do código comum. A segunda forma <strong>de</strong> estudar a comunicaçãoreafirma, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> valorizar a utilização <strong>de</strong> um código comum aosinterlocutores, que o sentido daquilo que é trocado só po<strong>de</strong> ser haurido se tivermosem conta outros factores além do código. A ênfase que tem sido conferidaao código, no estudo da comunicação, <strong>de</strong>riva, em parte, da tentativa <strong>de</strong> raizbehaviorista, <strong>de</strong> objectivar e tornar rigoroso o objecto <strong>de</strong> estudo. O estudo dacomunicação nesta perspectiva, tem contribuído, sobretudo, para a construção <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los teóricos, pelo trabalho em profundida<strong>de</strong> sobre pequenos fragmentos <strong>de</strong>línguas diversas.Fonseca (1994) refere mesmo que é possível distinguir dois paradigmasdominantes na Linguística contemporânea: a Linguística do Sistema e aLinguística do Uso/Funcionamento do Sistema. A primeira tem como "objectoformal a noção <strong>de</strong> langue (F. <strong>de</strong> Saussure) ou a <strong>de</strong> competência linguística (N.Chomsky)" (p. 95) e caracteriza-se por uma i<strong>de</strong>alização dos dados linguísticosreais, esquecendo os contextos para se focar no estudo do próprio sistema. ALinguística do Uso, como a própria <strong>de</strong>signação o sugere, toma em conta osfenómenos comunicativos e "tem como referência central a noção <strong>de</strong> competência<strong>de</strong> comunicação, tomada como um complexo heterogéneo <strong>de</strong> recursos dominadospelos falantes" (Fonseca, 1994, p. 96).Pereira (1991), tendo como referência os fenómenos educacionais, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>que estudar as questões linguísticas que se põem na aula sem aten<strong>de</strong>r ao contexto,conduz a perdas importantes:- 37 -
- Page 1 and 2: UNIVERSIDADE DE LISBOADepartamento
- Page 3 and 4: Resumo do EstudoEste trabalho tem c
- Page 5: Page 5P R O F I L E : B I L L H E I
- Page 8 and 9: CAPÍTULO 5 - A PROFESSORA MARIANA
- Page 11: Úvod11
- Page 17 and 18: dessas realidades" (p. 234). Destas
- Page 19 and 20: CAPÍTULO 2REVISÃO DA LITERATURACo
- Page 21: "Em todo o conhecimento, intervêm
- Page 26 and 27: linguagem. Nestas acções verbais,
- Page 28 and 29: encontros de formação de curta du
- Page 30 and 31: Thompson (1992), baseada em Kuhs e
- Page 32 and 33: avaliação assenta na realização
- Page 34 and 35: contextos, arranjando, muitas vezes
- Page 36 and 37: Ivone destaca o relacionamento do p
- Page 38 and 39: interessam (no caso de Paula). Juli
- Page 40 and 41: pleno de novos desafios, impõe uma
- Page 44 and 45: finalidades, os autores distinguem
- Page 46: (NCTM, 1994, p. 36). Por forma a di
- Page 51 and 52: autor refere que é no espaço da d
- Page 53 and 54: 1. João fuma muito.2. João fuma m
- Page 55 and 56: cutário" (p. 21). Acrescenta, no e
- Page 57 and 58: Pergunta real (ou informativa). Per
- Page 59 and 60: Categorias Características Propós
- Page 61 and 62: em jogos. Bellack et al. (1966) def
- Page 63 and 64: professores incorporem nas suas aul
- Page 65 and 66: (Ainley, 1988; Castro, 1991; Pedro,
- Page 67 and 68: CAPÍTULO 3METODOLOGIAOpções Meto
- Page 69 and 70: contexto do que numa variável espe
- Page 71 and 72: Ao contrário, os estudos de caso p
- Page 73 and 74: InstrumentosYin (1989) aponta seis
- Page 75 and 76: Lüdke e André (1986) argumentam q
- Page 77 and 78: Análise documental. A análise de
- Page 79 and 80: Procedimentos analíticos. As trans
- Page 81 and 82: Conteúdos da MatemáticaPerguntas
- Page 83 and 84: P13 — "Nós vamos então estudar
- Page 85 and 86: alguma forma, se relacionam com o t
- Page 87 and 88: CAPÍTULO 4O PROFESSOR PEDROApresen
- Page 89 and 90: "Com a maioria [das alterações ao
- Page 91 and 92: efeições, este mostrou sempre um
- Page 93 and 94: pelo professor: "O zero tem inverso
- Page 95 and 96: Durante a segunda parte da aula, os
- Page 97 and 98:
P — Não sabe que quando não se
- Page 99 and 100:
P — Será que 3 4 é equivalente
- Page 101 and 102:
"[No início da aula, já com a mai
- Page 103 and 104:
[O professor parece não ouvir.]P
- Page 105 and 106:
A — 2 [vários alunos em simultâ
- Page 107 and 108:
divergente como "Porquê?", "Tens a
- Page 109 and 110:
P — Então explica lá.Fátima
- Page 111 and 112:
Visão da AprendizagemA visão que
- Page 113 and 114:
Segundo este professor, a aprendiza
- Page 115 and 116:
geoplano, o Tangram, a calculadora
- Page 117 and 118:
elação aos resultados da máquina
- Page 119 and 120:
estudado um determinado conceito, t
- Page 121 and 122:
necessário para pensarem. Acrescen
- Page 123 and 124:
do sumário no início de cada aula
- Page 125 and 126:
idículo o que acontece com alguns
- Page 127 and 128:
através das actividades e da discu
- Page 129 and 130:
CAPÍTULO 5A PROFESSORA MARIANAApre
- Page 131 and 132:
poderia ser possível, com um míni
- Page 133 and 134:
incomodada, facto que a surpreendeu
- Page 135 and 136:
são exploradas, discutindo-se as v
- Page 137 and 138:
mais velhos e mais desinteressados
- Page 139 and 140:
Joana — Eu fui calcular a área d
- Page 141 and 142:
P — Toda a gente concorda? [Faz u
- Page 143 and 144:
"[No início da aula, depois de o s
- Page 145 and 146:
[Um aluno interrompe.]A — Eu não
- Page 147 and 148:
tomam a iniciativa de comentarem as
- Page 149 and 150:
P — [Os alunos fazem ainda algum
- Page 151 and 152:
comunicar. Reconhece que há outros
- Page 153 and 154:
A Mariana não apresenta uma visão
- Page 155 and 156:
situações de ensino-aprendizagem.
- Page 157 and 158:
utilização do livro não limita a
- Page 159 and 160:
trabalho era muito mais [pausa] nã
- Page 161 and 162:
formular perguntas intermédias par
- Page 163 and 164:
esolução de problemas, a descober
- Page 165 and 166:
actividades que sejam os próprios
- Page 167:
particular, prende-se, por um lado,
- Page 170 and 171:
é, aquelas que estão contextualiz
- Page 172 and 173:
e o que é levado a efeito por um a
- Page 174 and 175:
plenários de toda a turma. O Pedro
- Page 176 and 177:
procura avaliar no início de cada
- Page 178 and 179:
atitudes. Dizer que as concepções
- Page 180 and 181:
pergunta nas aulas é confirmada pe
- Page 182 and 183:
tendem a concentrar-se no início d
- Page 184 and 185:
outro lado, a participação dos al
- Page 186 and 187:
anteriores (Canavarro, 1993; Carril
- Page 188 and 189:
A reflexão sobre as concepções e
- Page 190 and 191:
complemento, recomenda-se, ao níve
- Page 192 and 193:
Bogdan, R. e Biklen, S. (1994). Inv
- Page 194 and 195:
Amaro (Org.), Resolução de proble
- Page 196 and 197:
(Eds.). New directions for elementa
- Page 198 and 199:
NRC (1989). Everybody counts: A rep
- Page 200 and 201:
Rodrigues, A. (1994). Comunicação
- Page 202 and 203:
Vacc, N. (1993a). Implementing the
- Page 204 and 205:
ANEXO 1TIPOLOGIA DAS PERGUNTASConte
- Page 206 and 207:
• O que é para si cumprir o prog
- Page 208 and 209:
• Como vê o computador no ensino
- Page 210 and 211:
— a quem são dirigidas as pergun
- Page 212 and 213:
Quadro A — Concepções Pedagógi
- Page 214 and 215:
Quadro C — Concepções Pedagógi
- Page 216 and 217:
ANEXO 6 — Ficha de trabalho (Mari
- Page 218:
- 14 -