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Amostra Digital - Editora FTD

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HISTÓRIA4º./5º.anoVolumeúnicoLori Alice GresslerMestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria.Doutora em Educação pela Universidade de Mississípi (EUA).Ex-professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da UFMS.Luiza Mello VasconcelosMestre em Linguística pela PUC-PR.Ex-professora do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da UEMS e da UFMS.Zelia Peres de Souza KrugerLicenciada em História pela UFMS.Mestre em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB.Consultora para assuntos ambientais da UNESCO (2003).MANUAL DO PROFESSORHistória domatoNovaediçãogrossoDO S L1ª. edição – São Paulo – 2011


História do Mato Grosso do SulCopyright © Lori Alice Gressler, Luiza Mello Vasconcelos, Zelia Peres de Souza Kruger, 2011.Todos os direitos reservados àEDITORA <strong>FTD</strong> S.A.Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SPCEP 01326-010 Tel. (0-XX-11) 3598-6000Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970Internet: E-mail: ciencias.sociais@ftd.com.brDiretora editorialSilmara Sapiense VespasianoEditorDébora LimaEditor assistenteWellington W. SantosAssistentes de produçãoAna Paula Iazzetto e Lilia PiresAssistente EditorialCláudia Casseb SandovalPreparadoresGeuid Dib JardimJosé Alessandre S. NetoLucila Vrublevicius SegóviaEdição de texto do Manual do ProfessorJosé Alessandre S. NetoRevisoraVivian K. EharaCoordenador de produção editorialCaio Leandro RiosEditor de arte e projeto gráficoRoque Michel Jr.IlustraçõesIvan CoutinhoCartografiaSonia VazCapaCláudio CuellarFoto de capaMauricio Simonetti/PulsarIconografiaPesquisaDaniel CymbalistaAssistênciaCristina Mota<strong>Editora</strong>ção eletrônicaDiagramaçãoWilde Velasques KernTratamento de imagensAlceu MedeirosAna Isabela Pithan MaraschinGerente de produção gráficaReginaldo Soares DamascenoDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Gressler, Lori AliceHistória do Mato Grosso do Sul, 4º/5º ano :volume único / Lori Alice Gressler, Luiza MelloVasconcelos, Zelia Peres de Souza Kruger. --1. ed. -- São Paulo : <strong>FTD</strong>, 2011.Nova edição.ISBN 978-85-322-7708-4 (aluno)ISBN 978-85-322-7709-1 (professor)1. Mato Grosso do Sul - História (Ensino fundamental)I. Vasconcelos, Luiza Mello. II. Kruger, Zelia Peres de Souza.III. Título.11-02917 CDD-372.898171Índices para catálogo sistemático:1. Mato Grosso do Sul : História : Ensinofundamental 372.898171


SumárioCapítulo 1 – O estudo da História ......................7Por que estudar o passado? ...........................8A história é dinâmica .....................................8Fontes de pesquisa em História ...................10Atividades ....................................................11Capítulo 2 – Os primeiros ocupantesda terra ............................................................12O povoamento da América ...........................13Os primeiros ocupantes de Mato Grossodo Sul ..........................................................14Os indígenas do território sul-mato--grossense ..................................................15Situação no passado ...............................15Situação no presente ..............................17Atividades ....................................................22Capítulo 3 – O sonho das descobertas ............23As Grandes Navegações ..............................24O caminho para as Índias .............................26A divisão das novas terras ...........................28Atividades ....................................................29Ivan CoutinhoCapítulo 4 – A colonização da América ...........31Os espanhóis na América .............................32Os portugueses no Brasil .............................35As primeiras expedições .........................35As capitanias hereditárias .......................37Os governos-gerais .................................38A economia colonial .....................................39O pau-brasil ............................................39A cana-de-açúcar ...................................40Atividades ....................................................42Capítulo 5 – A ocupação de Mato Grossodo Sul: o domínio espanhol ..............................44Uma breve história da evoluçãoadministrativa de nosso estado ....................45O início do povoamento................................46A penetração dos bandeirantes ....................47As bandeiras para captura deindígenas ................................................47As expedições de busca demetais preciosos .....................................49As monções em busca do ouro ...............50Primeiros núcleos depovoamento ............................................52Atividades ....................................................53Capítulo 6 – A ocupação de Mato Grossodo Sul: o domínio português .............................55O Tratado de Madri ......................................56A criação da Capitania deMato Grosso ................................................564


A formação de núcleos de povoamentode Mato Grosso do Sul .................................57Coimbra ..................................................58Miranda ..................................................58Corumbá .................................................59Atividades ....................................................61Capítulo 7 – Origem e evolução dos municípiosde Mato Grosso do Sul: séculos XIX e XX ..........62A independência do Brasil ............................63A expansão do povoamento na Província deMato Grosso ................................................64A criação de colônias militares e osurgimento de cidades ............................64A pecuária e o aparecimento decidades ...................................................65Atividades ....................................................69Capítulo 8 – A região do atual estadodo Mato Grosso do Sul e a Guerra doParaguai............................................................73O Brasil daquela época ................................74A Guerra do Paraguai ...................................74O desenvolvimento do Paraguai ..............75O início do conflito ..................................76Os principais acontecimentos daGuerra do Paraguai .................................77Ivan CoutinhoA ocupação paraguaia deMato Grosso ................................................79A Retirada da Laguna ...................................79Consequências da guerra.............................84Atividades ....................................................85Capítulo 9 – Os movimentos pelaemancipação do sul do estado deMato Grosso ....................................................87A luta pela autonomia ..................................88A República Velha (1889-1930)....................88Nioaque – O berço da divisão.......................90O governo Vargas (1930-1945) ....................93A formação do estado deMaracaju (1932) ..........................................94O território federal de Ponta Porã(1943-1946) ................................................96A criação do estado de Mato Grossodo Sul ..........................................................97Atividades ....................................................98Capítulo 10 – A história do cultivo daerva-mate em Mato Grosso do Sul ...................99O início da exploração ................................100O preparo da erva-mate .............................102A Companhia Mate Laranjeira ....................103O crescimento econômico daMate Laranjeira .....................................103Acusações e denúncias contra aMate Laranjeira .....................................105Atividades ..................................................1065


Capítulo 11 – O desenvolvimento da pecuáriaem Mato Grosso do Sul ..................................108A terra como fator de produçãode riqueza ..................................................109A expansão da criação de gado ..................109O transporte do gado .................................111A organização da comitiva ....................112Atividades ..................................................114Capítulo 12 – A agricultura e a indústriaem Mato Grosso do Sul ..................................115A agricultura de subsistência e a criaçãodas colônias agrícolas ................................116As colônias agrícolas públicas...............117As colônias agrícolas privadas ..............120O crescimento da agroindústria e daindústria ....................................................121A abertura para o turismoecológico ...................................................124Atividades ..................................................125Capítulo 13 – Transportes e comunicaçõesem Mato Grosso do Sul ..................................126A evolução dos transportes ........................127A Estrada de Ferro Noroestedo Brasil ...............................................127Outros meios de transporte ...................129O desenvolvimento dascomunicações ...........................................129O telégrafo ............................................129Atividades ..................................................131Capítulo 14 – Nossa gente, nossacultura ...........................................................132O que é cultura ..........................................133Influências culturais – Usos e costumes .....134O índio ..................................................134O branco ...............................................135O negro .................................................136A contribuição dos migrantes e dosimigrantes .................................................137Os migrantes ........................................137Os imigrantes .......................................138Algumas manifestações artísticas deMato Grosso do Sul ....................................142A artista plástica Lydia Baís...................142O poeta Manoel de Barros .....................143O compositor Zacarias Mourão .............146Atividades ..................................................147Capítulo 15 – Memórias da educação emMato Grosso do Sul ........................................148Os primeiros professores ...........................149Surgem as primeiras escolas .....................149As escolas públicas ...................................152As condições de trabalho dosprofessores ................................................153Atividades ..................................................155Sugestões de atividades paraencerrar o ano letivo ...................................156Sugestões de leitura ....................................157Referências bibliográficas ..........................158Bibliografia ..................................................1596


Por que estudar o passado?Todas as pessoas têm um passado. Você, mesmo criança, já tem sua história.Nossos pais, nossos avós, nossa rua, nossas árvores, nossa casa, nossa escola, tudotem uma história.A história de uma cidade, por exemplo, inicia-se com seus primeiros ocupantese depois vai sendo, no cotidiano, construída coletivamente pelos que nela moram.Mauricio Simonetti/PulsarRua com casas antigas em Corumbá. Esta foto, apesar de recente (2008), retrataconstruções da época em que Corumbá era o centro comercial mais importantedo estado.O estudo do passado possibilita a compreensão da realidade de hoje. Isto é ahistória. A história é como nossa memória. Sem memória, não temos identidade.Não sabemos quem somos, quem são nossos pais, onde moramos.Um povo que não preserva a sua história é como uma árvore sem raízes: qualquervento a tomba. É através das raízes que a árvore obtém seu alimento. Assim,também, a compreensão dos fatos e acontecimentos atuais depende do conhecimentodo passado.A história é dinâmicaA história preocupa-se com o estudo das transformações vivenciadas porum grupo social. Ela é, portanto, dinâmica. Ao longo do tempo, o ser humano foimudando sua forma de pensar e agir. Até o significado das palavras está sujeito a8


modificações. Milhares de pessoas viveram antes de nós, de maneiras diferentes eem épocas diferentes.Compare fotos antigas e recentes de seus avós, de sua cidade, de sua escola.Você vai perceber nelas as transformações que sofreram, mas também observaráa permanência de determinados elementos. Com isso, podemos dizer que o ritmodas mudanças varia, sendo que, enquanto algumas ocorrem de maneira mais lenta,outras acontecem mais rapidamente.Não podemos modificar o passado. É o conhecimento deste passado que muda.Mudam, portanto, as interpretações e a compreensão dos fatos.Por exemplo, nas primeiras décadas do século XX, alguns municípios do estadose desenvolveram mais que os outros. Por que hoje esses municípios não são os maisdesenvolvidos? Isso pode ser respondido pela história. Estudamos a história paracompreender o presente. O que esses acontecimentos têm a ver com a realidadedo estado hoje? Como eles ajudam a explicar o que está acontecendo agora?Para estudar as transformações, precisamos nos orientar no tempo, isto é, conhecero que existiu antes e o que existiu depois. É na linha do tempo que situamosos acontecimentos em seu tempo histórico.Assim como você, a sua cidade, o nosso estado e o Brasil, país em que vivemos,também tem uma história. Ao longo deste livro, por várias vezes, faremos referênciaaos períodos em que essa história está dividida. Conheça abaixo a linha de tempodo Brasil.Linha de tempo do Brasil4O mil anosOscar Pereira da Silva. 1922.MP/USP, SPDesembarque de Pedro Álvares Cabral onde hoje éPorto Seguro, na Bahia. Quadro de Oscar Pereirada Silva (1867-1939).Logo após o 7 de setembro, foi composto o Hinoda Independência, com letra de Evaristo da Veigae música de D. Pedro I, como retrata o quadro deAugusto Bracet (1881-1960).Augusto Bracet – Primeiros Sons doHino da Independência. 1922. MHN, RJIvan Coutinho9


Como você vê, a história desta terra que foi chamada de Brasil começa porvolta de 40 mil anos atrás, quando, provavelmente, chegaram por aqui os primeirosgrupos humanos. Em 1500, inicia-se o período do Brasil Colônia, com a descobertae a posse das terras brasileiras pela Coroa portuguesa. No ano de 1822, quandoo Brasil torna-se independente de Portugal, abre-se o período do Brasil Império.Finalmente, de 1889 até hoje, tem lugar o período do Brasil República.Fontes de pesquisa em HistóriaPara encontrar respostas no passado, utilizamos todos os tipos de documentosque possam revelar e esclarecer os fatos. Esses documentos são chamados de fonteshistóricas e podem ser: livros, jornais, fotografias, pinturas, entrevistas, músicas,roupas, restos de construções antigas etc.Os documentos escritos têm si do,tradicionalmente, os mais uti liza dos napesquisa histórica. Nem tu do, porém, queestá escrito é verdadeiro.Por exemplo, como saber sobre avida dos escravos, se não temos a opi niãodeles em jornais ou livros? Por isso temosde comparar e confrontar documentos e1500. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboaquestionar suas afir mações.A carta de Caminha é umimportantíssimo documentoda História do Brasil. NelaPero Vaz de Caminhaconta ao rei de Portugalsuas impressões sobre aterra a que os portugueseschegaram em abril de 1500.Hoje em dia, no entanto, os historiadores vêm ampliando muito o uso de suasfontes de pesquisa. A observação atenta de pinturas e fotografias, por exemplo,pode nos revelar muitos aspectos sobre o passado, como o tipo de roupas que aspessoas usavam, suas formas de moradia e mesmo as diferenças sociais existentes.Também a história oral tem sido bastante valorizada como forma de se obtereminformações sobre o passado. Assim, por meio dos depoimentos das pessoas quevivenciaram os acontecimentos, busca-se reconstituí-los.10


Esta gravura foi feita pelo pintorfrancês Debret por volta de 1830,quando ele vivia no Brasil. Por elapodemos ter uma ideia do modode vida naquela época. Observe oque estão fazendo e como estãovestidas as personagens: a donade casa, a menina branca, asescravas e o escravo, as crianças.Veja os móveis e objetos.Debret – Uma senhora brasileira em seu lar.Séc. XIX. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, SP. Foto: Nelson ToledoPor exemplo: é possível conhecer a história de sua escola fazendo-se a coletade informações contidas em documentos escritos, em fotos, vídeos e também combase em registros obtidos por meio da história oral.ATIVIDADES1. Por que é importante estudarmos o nosso passado?2. “Um povo que não preserva a sua história é como uma árvore sem raízes:qualquer vento a tomba.” Como você explica essa comparação?3. O que significa dizermos que a história é dinâmica? Dê um exemplo combase na sua experiência de vida.4. Procure em casa uma foto de seu pai ou de sua mãe quando eramcrianças. Compare-a com o aspecto físico atual deles, observando o quemudou e o que permaneceu igual ou parecido.5. A linha do tempo é uma representação ou desenho que nos ajuda a visualizara passagem do tempo, localizando fatos e períodos históricos.Faça uma linha do tempo da história de sua escola.6. O que são fontes históricas? Por que elas são importantes? Se você fosseestudar a história da sua família, cidade, escola, por onde começaria?Que fontes você utilizaria?7. A maioria das pessoas não costuma escrever suas experiências, mas elaspodem ter muito que contar sobre os acontecimentos que viveram. Façauma entrevista com uma pessoa idosa. Peça a ela que conte como era,no passado, a cidade onde você mora hoje. Pergunte sobre os meios detransporte, o comércio, as festas e o que mais você quiser saber.8. Compare a resposta acima com a de seus colegas e anote em seu cadernoas diferenças e as semelhanças que vocês encontraram nas entrevistasrealizadas.11


Capítulo 2Os primeiros ocupantes da terraIvan Coutinho12


Ivan CoutinhoO povoamento da AméricaVocê sabia que a América já era habitada muito antes da chegada dos europeus,no final do século XV? Como esses primeiros habitantes chegaram aqui? A explicaçãomais aceita é a de que os primeiros povoadores vieram da Ásia e atravessaramandando o estreito de Bering, que estava congelado. É possível que, algum tempodepois, outros grupos humanos tenham vindo para a América por mar, prove nientesda Ásia e da Oceania.60ºNCírculo Polar Ártico30ºNTrópico de CâncerEquador0ºSonia VazTrópico de Capricórnio30ºSMeridiano de Grennwich60ºSCírculo Polar Antártico30ºO 0º 30ºL 60ºL 90ºL 120ºL 150ºL 180º 150ºO 120ºO 90ºO 60ºO 30ºOFonte: Atlas da história do mundo. 1995.Os seres humanos chegaram à América em várias correntes. A mais importante, mas não aúnica, é a que foi da Ásia para a América do Norte através do estreito de Bering.Não se sabe exatamente a data do início do povoamento da América. Acredita--se que isso teria ocorrido entre 70 mil e 20 mil anos atrás, mas novas pesquisasestão sendo feitas e podem nos trazer dados mais precisos no futuro.13


Em diferentes regiões do Brasil, existem sinais de grupos humanos datados deaproximadamente 10 mil a 40 mil anos. Portanto, em 1500, os portugueses apenastomaram conhecimento da existência do Brasil, que já era habitado havia muitoe muito tempo, sendo que, à época da chegada de Cabral, havia aqui cerca de5 milhões de indígenas.70°O 60°O 50°O40°OSonia Vaz0°10°S20°S30°O30°SOs primeiros ocupantes de Mato Grosso do SulOs primeiros seres humanos a percorrerem o atual território sul-mato-grossensedevem ter chegado aqui há cerca de 15 mil anos. Vinham de outras regiões,seguindo o curso dos rios. Existem vestígios dessa presença em vários municípios denosso estado, que conta com cerca de 120 sítios arqueológicos. Os mais antigosdatam de 11 mil anos, na região do rio Sucuriú, no município de Paranaíba.Sítio arqueológico:Local onde se encontram vestígios muito antigos de ocupação humana.14


Como os povos pré-históricosnão tinham escrita, um dos meios deconhecermos seu modo de vida sãoos desenhos e pinturas que deixaramnas paredes das cavernas. Em nossoestado, foram encontrados desenhosfeitos na rocha há mais de 2 000 anosem sítios arqueológicos localizados nosmunicípios de Antônio João e Corumbá,entre outros.Outra maneira de sabermos algosobre esses povos são as fontes materiais,como, por exemplo, ossadas deseres humanos ou de animais e restosde utensílios domésticos. No municípiode Ladário foi encontrado um esqueletohumano muito antigo, datando decerca de 8 400 anos.Haroldo Palo Jr./KinoInscrições encontradas na Lagoa Gaiva, na Serrado Amolar (2008).Sabe-se que esses grupos humanos sobreviviam da caça, da pesca e da coletado que poderia lhes servir como alimento. Lascavam e poliam a pedra para produzirutensílios e instrumentos de trabalho, como armas, facas, machados, moedores,pontas de flecha e lanças.Coleta:Atividade característica dos povos que não conhecem a agriculturae vivem de colher frutos e raízes oferecidos pela natureza.Os indígenas do território sul-mato-grossenseSituação no passadoHá pelo menos 5 mil anos que a aprendizagem do cultivo de plantas, a domesticaçãode animais e as condições de solo e clima favoreceram o desenvolvimentode diversos grupos étnicos que ocuparam o território do atual estado de MatoGrosso do Sul.Grupo étnico:Grupo de pessoas que compartilha a mesma cultura,especialmente a língua, os comportamentos sociais e as crenças.15


Entre os nativos do território sul-mato-grossense, os mais numerosos, no séculoXVI, eram os Guarani. Excelentes agricultores, plantavam principalmente o milhoe a mandioca, base de sua alimentação.Eles conheciam também o cultivo e a tecelagem do algodão, para a confecçãode redes e vestimentas. Produziam potes de cerâmica para o armazenamento dealimentos e os utilizavam, inclusive, para o sepultamento de seus mortos. Atualmente,os Guarani são representados pelos Kaiowá e pelos Ñandeva.A partir do século XVII, os colonizadores portugueses e espanhóis intensificaramseus ataques às aldeias dos Guarani. Eles exploraram a mão de obra indígena,tanto no trabalho agrícola como na mineração.Juca Varella/ Folha ImagemIndígenas do povo Kaiowá participam de uma refeição comunitáriana aldeia Bororó, em Dourados (2003).Com o enfraquecimento dos Guarani, outros povos, como os Aruak e osGuaicuru, penetraram na região sul do Pantanal. Os Aruak são hoje representadospelos Terena, enquanto a nação Guaicuru está reduzida atualmente a menos demil índios Guaná ou Kadiwéu. Também estão presentes em Mato Grosso do Sulos Ofayé-Xavante e os Guató, entre outros (consulte neste capítulo, às páginas 19e 20, o quadro “Localização das terras indígenas”).16


Caçadores e coletores extremamente guerreiros,os Guaicuru dominavam as demais tribos, favorecidospela domesticação do cavalo, introduzido na região peloscolonos espanhóis. Excelentes montadores, até hoje sãoconhecidos como “índios cavaleiros”. Possuem tambémuma arte refinada, que se revela nos belos motivos coloridosusados na decoração de seus objetos de cerâmica enas tatuagens realizadas em seus corpos.Mulher Guaicuru com pintura facial e corporal.O retrato foi feito por volta de 1845 porFrancis Castelnau, que dirigiu uma expediçãofrancesa que percorreu a América do Sul.Debret – Carga de cavalaria Guaicuru. Séc. XIX. Biblioteca MunicipalMário de Andrade, SP. Foto: Nelson ToledoFrancis Castelnau – Indien Guaycuru. Séc. XIX. IEB/USP, SP. Foto: Nelson ToledoEsta gravura de Debret mostra indígenas do povo Guaicuru. Os Guaicurusão conhecidos como “índios cavaleiros”.Situação no presenteOs indígenas resistiram como puderam à ocupação europeia, mas o resultadofoi o quase extermínio da população nativa. A miscigenação, de certa forma, tambémcontribuiu para isso. Muitos brasileiros são descendentes dos indígenas que seuniram a pessoas de outras etnias através do casamento e não se consideram índios.Quando os portugueses aqui chegaram, existiam cerca de 1 300 línguas indígenas.Desse total, restam hoje em dia apenas cerca de 170 línguas. Isso dá ideiada grande redução que a população indígena sofreu no Brasil.17


Hoje, a maior concentração de população indígena do Brasil encontra-se naregião amazônica, onde vivem cerca de 250 mil indivíduos (segundo dados daFundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2010). No Mato Grosso do Sul, aindasegundo a FUNASA, vivem cerca de 60 mil indígenas, em aldeias ou fora delas.A maioria deles vive em reservas. Alguns se misturam aos marginalizados dasgrandes cidades, na condição de índios desaldeados. Outros indígenas estudamnas universidades, ocupam cargos públicos e trabalham na cidade ou em propriedadesrurais.Os únicos indígenas que têm título de posse de suas terras são os Kadiwéu, daReserva da Bodoquena, área de 373 024 hectares localizada no antigo municípiode Corumbá. Essa área foi doada pelo imperador Dom Pedro II como recompensapela participação do grupo na Guerra do Paraguai. Atualmente, segundo oRelatório do Senado Federal sobre Demarcação de Terras Indígenas (2004), essaárea foi ampliada para 538 535 hectares, sendo habitada também por outras etnias,localizando-se nos atuais municípios de Porto Murtinho e Corumbá.Desaldeados:Indígenas que vivem fora de aldeias.Luiz Carlos Murauskas/Folha ImagemMemorial da Cultura Indígena, em Campo Grande (2000). O Memorial é formadopela oca central, feita de bambu, e pelo Conjunto Habitacional Marçal de Souza – aprimeira aldeia urbana brasileira. A aldeia é habitada por famílias que deixaram amata, pertencentes a diversos povos – Kadiwéu, Kaiowá, Terena, Ofayé-Xavante.18


O Brasil [...] ainda desconhece a imensa sociodiversidade indígena que existeem seu território. [...]A imagem do índio conhecida pela população é a do índio romântico, a doíndio selvagem [...]. E existem várias razões para isto.A primeira é que existem poucos espaços para a expressão dos índios no cenáriocultural e político do país. Vivendo a maioria deles em locais de difícil acesso, comcondições quase que exclusivamente orais de comunicação e falando geralmente apenassua língua, com domínio relativo do português, as diferentes etnias encontramdificuldades para se expressar no mundo dos não índios. Sua cultura e pontos devista são tomados geralmente fora dos contextos onde vivem [...]. Basta mencionar,por exemplo, que das 206 etnias conhecidas [...], no máximo a metade, talvez, foiobjeto de pesquisa [...] e a maior parte dos resultados [...] não está publicada nemé acessível ou o é apenas em línguas estrangeiras.Rita Amaral. Caçando e pescando, guerreando feliz: representações sobre índios feitas por crianças de uma escola pública deprimeiro grau, na cidade de São Paulo (SP). Os Urbanitas, Revista <strong>Digital</strong> de Antropologia Urbana. Ano 1, v. 1. n. 2, out. 2003./Extraído do site: . Acesso em: 10 jan. 2011.O estado de Mato Grosso do Sul conta com uma área total de 35 054 800 hectares,enquanto a área de reservas efetivamente ocupada soma 50 506 hectares, oque corresponde a cerca de 0,2% das terras do estado. Existem outras áreas indígenasalém das reservas. A demarcação das terras indígenas é uma constante fontede conflitos entre os índios e os fazendeiros. Veja, no quadro a seguir, a localizaçãoatual das terras indígenas de nosso estado.Localização das terras indígenasMunicípio Nome da terra Grupo indígenaAmambaí Aldeia Limão Verde Guarani-KaiowáAmambaíGuarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaJaguariGuarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaAnastácio Aldeinha TerenaAntônio João Aldeia Campestre Guarani-KaiowáCerro MarangatuGuarani-KaiowáAquidauana Limão Verde TerenaTaunay/IpegueTerenaAral Moreira Guasuti Guarani-KaiowáBela Vista Pirakua Guarani-KaiowáBrasilândia Ofayé-Xavante Ofayé-XavanteCaarapó Caarapó Guarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaGuirarokaGuarani-Kaiowá19


Município Nome da terra Grupo indígenaCoronel Sapucaia Sete Cerros Guarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaTaquaperiGuarani-KaiowáCorumbá Guató GuatóCambaKambaDois Irmãos do Buriti Buriti Terenae SidrolândiaDouradina Panambi Guarani-KaiowáDourados Dourados Terena, Guarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaPanambizinhoGuarani-KaiowáEldorado Cerrito Guarani-Ñandeva,Guarani-KaiowáJuti Jarara Guarani-Kaiowá,Guarani-ÑandevaTaquaraGuarani-KaiowáLaguna Carapã km 20/Barrero Guasu Guarani-KaiowáUrucutyGuarani-KaiowáMaracaju Sucuriy Guarani-KaiowáMiranda Cachoeirinha TerenaLalimaTerena e KinikinauNossa Senhora de Fátima TerenaPilade RebuáTerenaMundo Novo Porto Lindo Guarani-ÑandevaNioaque Nioaque TerenaParanhos Arroio Corá Guarani-KaiowáPotrero GuaçuGuarani-ÑandevaTakuaraty/Yvykuarusu Guarani-KaiowáPonta Porã Guaimbé Guarani-KaiowáGua-y-viriGuarani-KaiowáKokue-íGuarani-KaiowáLima CampoGuarani-KaiowáRancho JacaréGuarani-KaiowáPorto Murtinho Kadiwéu Kadiwéu, Kinikinau, TerenaRochedo Água Limpa TerenaSete Quedas Pirajuí Guarani-ÑandevaSombreritoGuarani-ÑandevaSidrolândia Buritizinho Guarani-KaiowáTacuru Jaguapiré Guarani-KaiowáSassoróGuarani-KaiowáFonte: Instituto Socioambiental, 2011.20


FIQUE SABENDOPor meio de seus mitos, os indígenas procuram explicar acriação do mundo e de tudo que nele existe. A mandioca é umalimento fundamental na dieta alimentar indígena. Leia, a seguir,um mito tupi da origem da mandioca.A mandiocaA palavra mandioca significa “casa de Mani”. Segundo umalenda tupi, a filha de um chefe indígena engravidou. Nasceu umamenina chamada Mani, que morreu com 1 ano de idade. De seutúmulo, brotou um arbusto desconhecido. A terra então se abriu,deixando à mostra as raízes da planta, que passou a ser conhecidacomo “mandioca”, que significa “a casa de Mani”.A mandioca é uma planta típica de regiões quentes,e sua raiz é muito nutritiva. Existem diversasvariedades de mandioca, entre elas amandioca-brava, que é venenosa.A farinha seca é um dos principaisprodutos provenientes da mandiocae é obtida ralando-se a mandiocadescascada. Depois de ralada, amandioca é espremida para queseja retirada a água. Até hojeos indígenas usam grandesvasilhas rasas e redondaspara assar a massa seca.A tapioca e o polvilho sãooutros produtos obtidos apartir da mandioca.Mito:Relato da tradição oral que busca explicarum fenômeno natural ou narrar umacontecimento histórico.Ivan Coutinho21


ATIVIDADES1. Observe o mapa da página 13 que mostra a entrada dos primeiros gruposhumanos na América. Segundo a teoria mais aceita, como isso aconteceu?2. O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 1500, porém ele já erahabitado muito antes disso. Procure no texto elementos que comprovemessa afirmativa.3. Onde foram encontrados os sinais mais antigos da presença humana emterritório sul-mato-grossense? Quanto tempo eles têm?4. Veja a foto que mostra incrições pré-históricas feitas na rocha na Serra doAmolar (página 15). Por que é importante o estudo desses registros?5. Faça uma história em quadrinhos mostrando algum aspecto do modo devida dos primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul.6. Com base nas informações do texto, faça um desenho de um índio Guaicuru,ressaltando nele suas maiores habilidades.7. Abaixo você encontrará um importante tema para discussão em grupo.Cada grupo deve anotar suas conclusões para depois apresentá-las paraa classe.Tema: Como explicar que havia 5 milhões de indígenas no Brasil quandoos portugueses aqui chegaram e hoje restam apenas cerca de 700 mil?8. Observe o quadro “Localização das terras indígenas” e responda às perguntasa seguir:• Existem aldeias e grupos indígenas situados em seu município ou emmunicípios vizinhos ao seu? Quais são eles? Como vivem?9. Em diferentes épocas, as tatuagens têm significados diversos, podendoaté despertar preconceitos e discriminação. Relacione os desenhos corporaisdos indígenas com as tatuagens modernas.10. Observando a foto da página 16, identifique as mudanças ocorridas nomodo de viver dos indígenas.Você sabe dizer quais são elas? Anote-as e compare com as respostasdos seus colegas.11. Lendo o texto complementar de Rita Amaral, você pode conhecer aimagem que o Brasil faz do índio, segundo a autora. Qual a imagem quevocê tem do índio de Mato Grosso do Sul?12. Você encontrará neste livro algumas palavras de origem indígena.Fa ça uma pesquisa em dupla sobre outras palavras da mesma origem.Anote-as em seu caderno e coloque ao lado o significado de cada umadelas. Veja alguns exemplos:Catapora – fogo que salta.Itaporã – pedra bonita.Jacá – cesto feito de taquara ou de cipó.Mandioca – casa de Mani.Tereré – mate preparadocom água fria.22


Capítulo 3O sonho das descobertasIvan Coutinho23


As Grandes NavegaçõesVocê já teve o sonho de conhecer outros lugares? Pois nunca houve sonhoque tanto seduzisse os homens como o de superar os limites do mundo conhecidoe fazer novas descobertas.Pierre Desceliers. 1550. Museu Britânico, LondresNeste mapa da América do Sul, desenhado em 1550, o artista representou, comimaginação e fantasia, a chegada dos europeus e a resistência dos indígenas.Navegar, no século XV, significava lançar-se à aventura e correr todos os riscos.Nessa época, os dois países com maiores conhecimentos de navegação e com maiscondições econômicas para financiar expedições marítimas eram Espanha e Portugal.O objetivo principal dos espanhóis e portugueses era chegar até as Índias,lugar de onde provinham mercadorias muito consumidas pelos europeus, comotecidos, joias e perfumes.Sobretudo, era das Índias que vinham as especiarias. Por não haver geladeiras,como existem hoje, naquela época usavam-se especiarias para temperar e conservaralimentos, principalmente carnes. As mais cobiçadas eram a pimenta-do-reino, acanela, o cravo-da-índia, o gengibre, o anis e a noz-moscada.Cobiçada:Desejada.24


Seu comércio era tão lucrativoque motivou as chamadasGrandes Navegações dos séculosXV e XVI. Assim ficou conhecidoesse período histórico, marcadopor muitas descobertas e conquistasde novas terras.Sérgio Dotta Jr/The NextEspeciarias: noz-moscada, sementes demostarda, cravo, canela e pimenta-do-reino.Os portugueses reuniram em Sagres, no sul do país, estudiosos dedicados aodesenvolvimento da navegação, inclusive pesquisadores vindos das cidades italianasde Veneza e Gênova. Lá eles conseguiram aperfeiçoar uma embarcação apropriadapara as viagens em alto-mar: a caravela.Os homens que viajavam em uma caravela precisavam de coragem para atravessaro Atlântico, como hoje os astronautas precisam dessa coragem para lançar--se ao espaço. As viagens eram longas e perigosas, sendo que mais da metade dosque embarcavam não retornava. Havia muitos naufrágios, e era comum a mortepor doenças, como o escorbuto e a cólera.Escorbuto:Doença causada pela carência devitamina C, que provoca hemorragias.Cólera:Doença infecciosa aguda, contagiosa,caracterizada por diarreia abundante,grande fraqueza e cãibras.Hans Dürer (atribuído). Séc. XVIEm navios a vela parecidos comeste os navegadores portuguesesatravessaram o Atlântico e oÍndico, alcançando terras daAmérica, da África e da Ásia nosséculos XV e XVI.Como a água do mar não serve para beber por ser muito salgada, o naviotransportava grande quantidade de barris e pipas com água doce. A distribuiçãoda água e da comida para os marinheiros e oficiais tinha de ser racionada, pois osmantimentos precisavam durar até o final da viagem.Água doce:Água que não contém grandes quantidades de cloreto de sódio e outros sais; água das chuvas, das nascentes e dos rios.Racionada:Distribuída com critério, de acordo com regras.25


O caminho para as ÍndiasPara chegar às Índias, os portugueses e os espanhóis fizeram caminhos diferentes.Os espanhóis optaram por seguir na direção Oeste. Os soberanos espanhóisFernando e Isabel financiaram a viagem de Colombo, um hábil navegador genovês.Ele assegurava que a melhor maneira para se chegar às Índias era navegar para oOcidente, e não para o Oriente, como pensavam os portugueses.A expedição de Colombo era pequena e contava com três caravelas. No dia12 de outubro de 1492, ele chegou a um lugar que imaginou ser as Índias e, porisso, chamou os habitantes que lá encontrou de índios. Na verdade, Colombo haviachegado à América.Já os navegadores portugueses esperavam atingir as Índias indo na direção Leste eviajando pelo oceano Atlântico e pelo Índico. E assim fizeram. Em 1488, conseguiramcontornar o extremo sul do continente africano e, finalmente, em 1498, o navegadorportuguês Vasco da Gama conseguiu chegar à cidade de Calicute, nas Índias.Essa descoberta do caminho marítimo para as Índias entusiasmou os comerciantese o rei de Portugal, pois abriu-lhes a possibilidade de conseguir grandeslucros com o comércio das especiarias e demais mercadorias orientais.Assim, em 8 de março de 1 500, partia do Tejo, em Portugal, Pedro ÁlvaresCabral com treze naus e 1 500 homens. Essa era a maior esquadra até então en viadapelos portugueses ao Oriente. Entretanto, embora a frota devesse navegar para oLeste, ela rumou para o Oeste e, em 22 de abril do mesmo ano, os marinheirosavistaram as costas das terras que mais tarde seriam chamadas de Brasil. Ao desembarcarem Porto Seguro, no litoral do atual estado da Bahia, Cabral tomou possedaquele território em nome de Portugal.Sonia Vaz120ºO 90ºO 60ºO 30ºO 0º30ºL60ºL90ºL120ºL150ºL30ºN0º30ºSMeridiano26


FIQUE SABENDONa esquadra comandada por Cabral estava também oescrivão Pero Vaz de Caminha, que relatou tudo o que viudurante a viagem e depois enviou a carta ao rei de Portugal. Vejasua impressão sobre os indígenas brasileiros quando os viu pelaprimeira vez:Dali avistamos uns homens que andavam pela praia. Eramuns sete ou oito [...]. A pele deles é parda, meio avermelhada.Eles têm bons rostos e narizes; e são benfeitos. Andam nus, semnada que cubra seus corpos [...]; e são tão inocentes nisso como aomostrar o rosto. Ambos tinham os lábios de baixo furados e metidoneles um osso branco verdadeiro [...]. Eles os colocam pela partede dentro do lábio, e a parte que fica entre o lábio e os dentes éfeita como uma torre do jogo de xadrez e é encaixada de maneiraque não os machuque nem os atrapalhe ao falar, comer ou beber.Os cabelos deles são lisos e raspados até para cima das orelhas [...].Poliana Asturiano e Rodval Matias. A carta de Pero Vaz deCaminha: versão ilustrada em linguagem atual.São Paulo: <strong>FTD</strong>, 1999. p. 25-29.Marc Ferrez/Acervo Instituto Moreira SallesOsmar Alves dos SantosO menino indígena, fotografado por volta de 1880, e o adulto Guarani-Kaiowá(Paulito Aquino, da aldeia Panambizinho), fotografado em 2000, usam no lábioo tembetá, peça semelhante à que foi descrita na carta de Caminha.27


A divisão das novas terrasVocê já deve ter acompanhado, pela TV ou pelos jornais, conflitos entre paísessobre a posse de territórios e tentativas fracassadas de acordos. No século XV,Portugal e Espanha disputavam os novos territórios. Os portugueses, que já vinhamrealizando expedições marítimas pelo oceano Atlântico desde o começo do séculoXV, acreditavam ter direito sobre as novas terras encontradas por Colombo e apossadaspela Espanha.Para evitar conflitos, Portugal e Espanha fizeram um acordo, dividindo entre sias terras descobertas ou por descobrir. Em 1494, foi assinado um tratado, na cidadeespanhola de Tordesilhas, que estabelecia uma linha imaginária, o meridiano deTordesilhas, situada a 370 léguas (aproximadamente 2 mil quilômetros) das ilhas deCabo Verde. Ficaram então demarcados os territórios de Portugal e da Espanha:as terras a Leste do meridiano pertenceriam a Portugal, e as terras a Oeste seriamda Espanha.Imaginária:Criada pela imaginação.De acordo com o Tratado de Tordesilhas, firmado, como vimos, seis anosantes de Cabral chegar ao Brasil, parte do atual território brasileiro já pertenciaaos portugueses, e o restante aos espanhóis. Como você poderá observar no mapaa seguir, o atual território sul-mato-grossense situava-se em domínio pertencenteà Espanha, visto que a linha imaginária ia da atual cidade de Belém do Pará a Laguna,em Santa Catarina.180º 150ºO 120ºO 90ºO 60ºO 30ºO 0º 30ºL 60ºL 90ºL 120ºL150ºL 180ºSonia Vaz60ºN30ºN0º30ºS60ºS28


ATIVIDADES1. Por que Portugal e Espanha foram os dois países que iniciaram as GrandesNavegações?2. Que importância tinham as especiarias na Europa do século XV e de ondeelas eram trazidas?3. Pergunte em sua casa como as especiarias (cravo, canela, gengi bre,pimenta-do-reino, anis, noz-moscada) são utilizadas para temperar algunsdos alimentos que você come. Anote tudo e conte para sua classe.4. Para encontrar um caminho marítimo para as Índias, os navegadoresportugueses e os navegadores espanhóis fizeram opções diferentes.Explique cada uma delas.5. Construa uma linha do tempo onde constem as seguintes datas: 1492,1494, 1498 e 1500. Em seguida, localize nela os fatos que correspondema cada data.6. Para que foi firmado o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal eEspanha?7. Se o Tratado de Tordesilhas tivesse sido respeitado pelos portugueses,que língua estaríamos falando hoje em Mato Grosso do Sul? Por quê?8. Sob o ponto de vista dos europeus, a América foi descoberta por eles.Em sua opinião, qual seria o ponto de vista dos indígenas?9. O que a viagem de Cabral mudou na vida das pessoas que viviam noBrasil (os indígenas) e em Portugal (os europeus)?10. Os navegadores do século XV sonhavamcom o desconhecido. Imaginavam o queexistiria do outro lado do oceano Atlântico.Tiveram de enfrentá-lo para descobrirque lá havia novas terras e seres humanoscomo eles. Escreva em seucaderno sobre algumas grandesaventuras que você gostariade realizar e explique por quevocê as considera interessantes.Em seguida, apresente-asa seus colegas para conversaremsobre elas.Ivan Coutinho29


11. Observe o mapa e responda:• Qual a cor da região fornecedora de especiarias?• Qual a cor do caminho percorrido por Vasco da Gama para chegar àsÍndias?• Em que cor está assinalada a viagem de Colombo?• Em que cor está assinalada a viagem de Cabral?• Qual a cor da África, continente que os portugueses tiveram de contornarpara chegar às Índias?• Qual a cor do continente americano, descoberto por Cristóvão Colombo?• Em que cor está assinalada a linha do Tratado de Tordesilhas?Sonia Vaz60ºN30ºN0º30ºS60ºS180º 150ºO 120ºO 90ºO 60ºO 30ºO 0º30ºL60ºL 90ºL 120ºL150ºL 180º30


Capítulo 4A colonização da AméricaIvan Coutinho31


Os espanhóis na AméricaAinda hoje, as riquezas de um país despertam a cobiça de outros, que procuramcontrolá-las às vezes pela força, outras pela influência política. Isso se aplica aopetróleo, às minas de diamantes, às reservas de minerais, como ferro e manganês,e até a Amazônia.Entre os séculos XVI e XVIII, acreditava-se que a riqueza de um país eramedida pela quantidade de ouro e prata que ele possuísse. Por isso, explica-se aenorme avidez dos conquistadores europeus pela busca de metais preciosos nasnovas terras descobertas.Os espanhóis encontraram metais preciosos em abundância nas suas colôniasamericanas, logo que nelas chegaram em 1492. Por essa razão, a mineraçãofoi a atividade econômica mais importante da economia colonial espanhola atéo século XVIII.Nas Antilhas, por meio do trabalho escravo indígena, foi extraída uma grandequantidade de ouro, prontamente enviada à Espanha na forma de impostos paraenriquecer os cofres do rei. Porém, o grande impulso à mineração na América espanholaocorreu quando os conquistadores espanhóis dominaram os impérios Incae Asteca na primeira metade do século XVI. Aí foram descobertas as riquíssimasminas de prata nas regiões de Potosi (Bolívia) e de Zacatecas (México).A exploração das minas era autorizada pelo rei aos colonos espanhóis naAmérica em troca do pagamento de taxas. Essas taxas cobradas sobre a mineraçãoforam a principal forma de arrecadação de riquezas da Coroa espanhola atéo século XVIII.Os povos que habitavam as regiões dacordilheira dos Andes (oeste da Américado Sul) na época da chegada dosespanhóis tinham uma agricultura muitodesenvolvida. Eles cultivavam muitasvariedades de batata e também milho,feijão, amendoim, mandioca, pimentão,algodão e várias espécies de frutas,verduras e cereais.O desenho, feito porum escritor da época, mostra o imperadoracompanhando o início do plantio. Osagricultores usam um pau de plantar comapoio para o pé.Avidez:Ambição, ansiedade.Guaman Poma de Ayala. Em El Primeir Nueva Corónica y Buen Governo. 1615/161632


Em torno das zonas mineradoras, desenvolveram-se também a agriculturae a cria ção de animais para abastecê-las. Além desse comércio interno, os colonostinham interesse na venda de produtos agrícolas para o mercado europeu.Cultivavam-se as plantas nativas da América, como batata, milho, tabacoe cacau, por exemplo, e aquelas introduzidas pelos europeus, como a cana-de--açúcar.Os colonos exploraram o trabalho dos indígenas americanos tanto nas atividadesagrícolas como nas de mineração. Uma das formas de exploração foi a “encomienda”,principalmente na agricultura. O rei espanhol permitia ao colono a utilização dotrabalho de indígenas em suas terras. Em contrapartida, os trabalhadores deveriamreceber instrução religiosa e comida, o que, no entanto, nem sempre era cumprido.Nas minas, os indígenas eram obrigados ao trabalho por meio da “mita”. Asautoridades espanholas enviavam às minas de prata trabalhadores (os mitayos)que deveriam, temporariamente, servir aos colonos em troca de um pagamento devalor muito baixo ou mesmo como escravos.Séc. XVII. Em Historia novi orbisEsta ilustração mostra a batalha entre espanhóis e incas, nos arredores de Cuzco, no Peru.Cuzco foi o centro político e religioso do império Inca, até sofrer o domínio espanhol, em 1533.33


FIQUE SABENDOEssa violenta exploração dos indígenaspelos espanhóis na América foi denunciadapelo padre dominicano Bartolomeu delas Casas (1484-1566), logo no começoda colonização. Veja o que ele diz sobre omodo desumano como os conquistadoresespanhóis trataram os indígenas americanos:[...] os espanhóis, esquecendo que eleseram homens, trataram essas inocentescriaturas com crueldade digna de lobos, detigres e de leões famintos. Há quarenta edois anos não deixaram de os perseguir, deos oprimir, de os destruir com todos os meioscriados pela cobiça humana e por outrosque estes tiranos chegaram a imaginar; hojenão se conta senão duzentos indígenas nailha Espanhola (São Domingos) que outroraabrigava três milhões [...].Bartolomeu de Las Casas. História das Índias. Citado por AQUINO, Rubim S. L. e outros.História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico. [s.d.] p. 63.Tirano:Pessoa que abusa de sua autoridade.As terras e as populações americanas dominadas pelos espanhóis foramconsideradas como pertencentes à Coroa. Assim, a administração de todo oterritório colonial e a organização da exploração econômica ficaram sob suaresponsabilidade.Para ocupar a América, o rei da Espanha, no início da colonização, passoua conceder determinada quantidade de terras a particulares, conferindo-lhes otítulo de adelantados. Eles dispunham de amplos poderes para administrá-las.Os adelantados deveriam ter condições financeiras para implantar a extração demetais preciosos, uma vez que os custos para isso eram muito altos.Porém, a partir de 1540, aproximadamente, a Coroa espanhola, na tentativade diminuir o poder desses particulares, decidiu restringir as concessões de terrase centralizar a administração em suas mãos. Sua intenção era controlar de umaforma mais eficiente a arrecadação dos impostos.Ivan Coutinho34


O imenso território colonial ame ricanofoi então dividido em quatro vice--reinos e quatro capitanias, cada qualgovernado por um nobre diretamenteligado ao rei. Observe no mapa ao ladoessa divisão política da América colonialespanhola.Os portugueses no BrasilAs primeiras expediçõesAs novas terras apropriadas pelospaíses europeus eram denominadas colô -nias, e os países conquistadores eram consideradossuas metrópoles. As metrópolestinham controle político e econômico totalsobre suas colônias. O comércio colo nialsó podia ser feito com as suas res pec tivasmetrópoles, ainda que outros paí ses oferecessemmelhores preços.Sonia Vaz120O30NTrópico de CâncerEquador0VICE--REINADODA NOVAESPANHAOVera CruzTrópico de Capricórnio30SCAPITANIA GERALDA GUATEMALAOCEANOPACCONS0 1110 2220120OLquilômetrosCartagena CAPITANIAGERAL DAVICE- VENEZUELA-REINADO DANOVAGRANADAPortobelo90OCAPITANIAGERAL DE CUBAVICE--REINADODOPERUCAPITANIAGERALDOCHILEVICE--REINADODO RIODAPRATAFonte: Atla hitórico do undo <strong>Editora</strong> Konemann, 1999.América colonialespanhola – 154060OOCEANOATLNTCO30ºO30OPhotodisc/ Getty Images/Dessa forma, o Brasil era colônia dePortugal, que, por sua vez, era metrópoledo Brasil. Na época em que as terrasda América foram apropriadas, Portugalmantinha um comércio muito intenso comas Índias e obtinha grandes lucros com avenda das especiarias e outros produtosorien tais para o resto da Europa. Por isso,de início, não mostrou muito interesse porsua nova colônia.Monumento aos Descobrimentos, em Lisboa,Portugal (2005). Construída em 1960, aobra comemora as grandes viagens que osnavegadores portugueses realizaram nosséculos XV e XVI, chegando a terras longínquasque os europeus nunca tinham alcançado.35


As duas expedições de reconhecimento, enviadas pelo rei português em 1501 e1503 para percorrer as costas brasileiras, voltaram sem novidades sobre a existênciade metais preciosos, o que desapontou bastante os conquistadores portugueses.Entretanto, as expedições comprovaram que havia por aqui uma valiosa madeirachamada pau-brasil, de onde se extraía uma tintura vermelha muito útil para otingimento de tecidos.Como os portugueses tinham grande dificuldade para fiscalizar o imenso litoralbrasileiro, os franceses, aproveitando-se disso, passaram a invadi-lo com fre quência.Seu objetivo era o contrabando do pau-brasil para revendê-lo na Europa a um altopreço.Os portugueses começaram então a preocupar-se com a ocupação e a colonizaçãodo Brasil. Mas isso não era nada fácil. Foi enviada uma expedição, chefiadapor Martim Afonso de Sousa, que percorreu a costa brasileira de norte a sul. Aportandono litoral do atual estado de São Paulo, em 1532, Martim Afonso fundou aprimeira vila do Brasil, São Vicente. No entanto, não era suficiente uma única vilapara defender um território tão vasto: era preciso, de fato, povoá-lo.Benedito Calixto - Martim Afonso de Sousa no Porto de Piaçaguera.Palácio de São Joaquim, RJ. Foto: Gilson RibeiroEste quadro de Benedito Calixto mostra Martim Afonso noporto de Piaçaguera, no litoral paulista, em 1532.36


As capitanias hereditáriasA solução encontrada pelo rei de Portugal foi dividir o Brasil em quinze faixashorizontais de terras denominadas capitanias e entregá-las aos chamados donatários,que deveriam, com seus próprios recursos, povoar, administrar, defender e explorarsuas terras. Essas capitanias doadas pelo rei eram hereditárias, isto é, passariam depai para filho.Para diminuir suas despesas e conseguir mais lucros, Portugal decidiuinvestir no cultivo da cana-de-açúcar em sua nova colônia. Esse produto erabastante raro na Europa e, por isso, alcançava preços altíssimos. A expediçãocolonizadora de Martim Afonso de Sousa trouxe para o Brasil as primeiras mudasde cana-de-açúcar no início da década de 1530. Os donos das capitaniashereditárias deveriam, então, introduzir o plantio da cana em seus domínios.O sistema de capitanias representou a primeira forma de divisão administrativado Brasil colonial, implantada em 1534. Mas o legítimo dono era o governoportuguês, a quem os donatários prestavam contas e pagavam impostos. Comovocê já viu antes, de acordo com a divisão estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas,a região abrangida hoje por nosso estado não pertencia a Portugal, pois erade domínio espanhol. Portanto, observando o mapa a seguir, você vai verificarque, nessa época, Mato Grosso do Sul não fazia parte das capitanias hereditárias.70°O 60°O 50°O1534-175940°O30°O0°Sonia Vaz10°S20°SFonte: Atla hitórico ecolar. FAE, 19.37


Os governos-geraisEntretanto, com o passar do tempo,embora servisse para dar início à ocupaçãoefetiva do imenso território brasileiropor meio do plantio da cana-de-açúcar, osistema de divisão em capitanias não foibem-sucedido.A comunicação, tanto entre as capitaniascomo com Portugal, era muito difícil.Apenas duas das quinze prosperaram:a de São Vicente e a de Pernambuco. Paramelhorar a administração da colônia brasileira,o governo português, sem excluiras capitanias hereditárias, tentou outrassoluções.Inicialmente, o poder foi centralizadonas mãos de um único governador--geral, que deveria organizar a defesa etambém contribuir para o desenvolvimentoeconômico das capitanias. Entre 1549e 1572, o Brasil teve três governadores--gerais: Tomé de Sousa, Duarte da Costae Mem de Sá.Chegada de Tomé de Sousa à Bahia,em 1549.A capitania da Bahia foi escolhida para sede do governo-central por causade sua privilegiada situação geográfica, pois, além de não estar tão distante dePortugal, ficava aproximadamente na metade do caminho entre as demais capitaniasdo norte e do sul.O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, desembarcou na Bahia em 1549e lá fundou Salvador. Em seu governo, procurou incentivar o desenvolvimento daprodução açucareira, além de introduzir o gado no país e organizar expedições àprocura de metais preciosos.Duarte da Costa foi o segundo governador-geral e administrou o Brasil entre1553 e 1558. Finalmente, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, ficou no poderentre 1558 e 1572. Em seu governo, fundou-se a cidade do Rio de Janeiro noano de 1565 e foram expulsos os invasores franceses que haviam tomado a baía daGuanabara na administração anterior.Biblioteca Mário de Andrade, SP38


No entanto, como ainda persistiam os problemas administrativos, Portugal fezuma nova tentativa e separou o Brasil em dois governos no ano de 1572. A sededo governo do Norte ficava em Salvador, e a do Sul, na cidade do Rio de Janeiro.Como essa experiência também fracassou, em 1578 o Brasil voltou a ser governadoa partir de um único centro, situado na cidade de Salvador.A economia colonialO pau-brasilDurante a primeira metade do século XVI, o pau-brasil foi o principal produtocomercial explorado pelos portugueses e vendido no mercado europeu. Os carregamentosda madeira retirados do litoral foram tão grandes que foi preciso seguircada vez mais para o interior. Com o tempo, isso causou um enorme desmatamentoda faixa litorânea do Brasil, ocupada pela Mata Atlântica.Os colonos portugueses exploraram a mão de obra dos indígenas na extração dopau-brasil. Eles os convenciam a trabalhar em troca de produtos de pequeno valor,como espelhos, peças de roupas, canivetes e colares de contas coloridas. Eram osnativos que derrubavam as árvores, cortavam a madeira em toras e as embarcavamnos navios em direção à Europa.Nativo:Aquele que é nascido no lugar; natural da terra.Lopo Homem. c.1519. Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores, RJMapa desenhado pelo cartógrafo português Lopo Homem, por volta de1519. Observe as ilustrações, que mostram o trabalho dos indígenas nacoleta do pau-brasil.39


Diante da exploração a que foram submetidos e da invasão de suas terras, osindígenas tentaram reagir, mas seus meios de luta eram inferiores às armas de fogodos portugueses. Teve início assim um grande processo de extermínio das naçõesindígenas em nosso país, apesar de ainda hoje a resistência de seus descendentesestar presente nas lutas que travam, por exemplo, pela demarcação de suas terrasem vários estados brasileiros, inclusive em Mato Grosso do Sul.A cana-de-açúcarPorém, o grande impulso à economia colonial foi dado com o cultivo da cana--de-açúcar. Essa foi a principal riqueza do Brasil durante os séculos XVI e XVII.As lavouras que mais se destacaram foram as do Nordeste, especialmente as dePernambuco.Inicialmente, os colonos portugueses tentaram continuar utilizando o escravoindígena nas plantações de cana. Porém, logo apareceram algumas dificuldades.Uma delas eram as constantes fugas dos índios, pois, por serem conhecedoresdo território, eles embrenhavam-se frequentemente pelo interior, o que tornavadifícil sua captura. Também havia a oposição dos padres jesuítas à escravização dosindígenas (veja o capítulo 5). Além disso, o aumento da produção açucareira exigiamais trabalhadores.Houve ainda um forte motivo econômico para a substituição da mão de obraindígena. A Coroa portuguesa incentivou o comércio de africanos para virem trabalharcomo escravos no Brasil. Esse comércio humano trouxe lucros altíssimospara os traficantes de escravos e para a Coroa.O número de africanos escravizados logo superou o de indígenas. Calcula-seque de 3 a 5 milhões de escravos tenham sido trazidos da África para o Brasil entre1530 e 1850, quando o tráfico foi finalmente proibido.Devido ao alto custo dos escravos africanos, as capitanias do Sul não conseguiramcomprá-los e, assim, continuaram utilizando o trabalho forçado dos indígenas.Porém, para capturá-los, os colonos tiveram de organizar expedições para o interiordo Brasil.A grande propriedade açucareira chamava-se engenho. A produção de açúcarpara exportação era a principal atividade econômica dos engenhos. Ela exigia umagrande quantidade de terras e de trabalhadores, além de equipamentos caros,como a moenda para a moagem da cana e as fornalhas. O investimento era muitoalto e, por isso, para tornar-se um senhor de engenho, era preciso ter um grandecapital.Capital:Riqueza.40


Frans Post e G. Marcgraf. c. 1647. Foto: Manoel NovaesDetalhe de mapada capitania dePernambucocom ilustração deengenho decana-de-açúcar.Para a alimentação dos moradores do engenho, havia as plantações de subsistência,como as de feijão, mandioca, milho, legumes, frutas, bem como a criaçãode gado e animais domésticos. Por isso, dizemos que os engenhos eram autossuficientes,isto é, produziam a maioria dos produtos que consumiam.Embora a produção do açúcar fosse feita no Brasil e a venda na Europa pelosportugueses, boa parte dos lucros ficava com os banqueiros holandeses. Eram elesos principais financiadores do capital necessário para que os senhores de engenhobrasileiros expandissem seus negócios. Além disso, os holandeses lucravam tambémcom o refinamento (branqueamento) e mesmo com a distribuição comercial doaçúcar no mercado europeu.Hoje sabemos que o açúcar mascavo, escuro, tem maior valor nutricional queo açúcar refinado.Esta gravura, de1648, mostra negrosescravizados trabalhandona fabricação de açúcar:mexendo a calda quefervia em grandes tachose cuidando das formas emque eram moldados ospães de açúcar.Georg Marcgraf – Engenho de açúcar. 1648.Em Historia Naturalis Brasiliae – Amsterdã41


No entanto, entre 1580 e 1640, Portugal e Espanha estiveram sob o comandode um mesmo rei, resultando na União Ibérica. Como os holandeses eram inimigosdos espanhóis, ficaram impedidos de participar do comércio do açúcar brasileiro.Dispostos a não perder essa importante fonte de lucros, os holandeses invadiramparte do Nordeste do Brasil e aqui ficaram entre 1624 e 1654. Porém, após a suaexpulsão do Brasil, partiram para suas colônias nas Antilhas e lá implantaram umaprodução açucareira que passou a concorrer com a brasileira. Como os holandesespossuíam mais capital e técnica superior, conseguiram produzir um açúcar de melhorqualidade, além de vendê-lo na Europa a um preço mais baixo do que o brasileiro.Com isso, a exportação açucareira do Brasil entrou numa crise progressiva, apartir das últimas décadas do século XVII. A decadência dos senhores de engenho,por sua vez, prejudicou a monarquia portuguesa, pois provocou uma diminuiçãosignificativa na arrecadação dos impostos por ela cobrados de sua colônia brasileira.A solução encontrada por Portugal para superar essa crise econômica foi oincentivo às expedições de busca de metais preciosos em direção ao interior doBrasil. Como veremos, esse movimento de expansão contribuiu para o alargamentodo território sob o domínio português, acabando por incorporar a região que hojecorresponde ao estado de Mato Grosso do Sul.ATIVIDADES1. Consulte o texto e responda:a) Por que as metrópoles europeias, como Portugal e Espanha, desejavammuito encontrar metais preciosos em suas colônias?b) Por qual motivo, no caso das colônias americanas conquistadas pelaEspanha, a mineração foi a atividade econômica de maior importânciadesde o início da colonização?c) Onde os espanhóis encontraram ouro e prata na América?2. Pesquise como os impostos arrecadados com a mineração eram gastospelo governo espanhol e compare com a utilização dos recursos arrecadadoscom os impostos atuais.3. Em torno das zonas mineradoras, desenvolveram-se a agricultura e a criaçãode animais para abastecê-las. Desenhe três plantas nativas da América.4. O trabalho dos indígenas americanos foi explorado pelos colonos espanhóisde duas formas principais: a “encomienda” e a “mita”. Explique cadauma delas.42

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