46MEMÓRIA & PROSPECTIVA 1Em 20 de Dezembro, a Assembleia Nacional aprova 114 o III Plano de Fomento que definiaobjectivos de harmonização regional: i. O equilíbrio da rede urbana, para dotar as populaçõesde equipamentos socioeconómicos mínimos, concentrados a distâncias razoáveis; ii. A expansãodescentralizada da indústria e dos serviços, em pólos de crescimento; iii. A progressiva especializaçãoda agricultura regional, de acordo com as aptidões dos solos e do clima, concentrando oinvestimento.Nesse sentido, o III Plano de Fomento prevê, para o Continente e Ilhas, a delimitação de Regiões(e Sub-regiões) de Planeamento dotadas de orgânica adequada: Norte (litoral, interior);Centro (litoral, interior); Lisboa (litoral, interior); Sul (Alentejo e Algarve); Açores; e Madeira.Com este enquadramento, o Secretariado Técnico define as seguintes prioridades 115 :i. Lançamento das instituições regionais;ii. Regionalização das políticas e dos investimentos de âmbito sectorial;iii. Elaboração de estudos técnicos para definição duma política de ordenamento do território.Em Janeiro 1968, a Divisão de Planeamento Regional apresentou ao Governo o primeiro projectode Decreto-lei criando e regulamentando o funcionamento das Comissões Consultivas Regionais.Em Março, na Presidência do Conselho, o Gabinete de Estudos autonomiza-se do SecretariadoTécnico, originando o Centro de Estudos de Planeamento 116 . Pelo art.3º do diploma que o criou,era gerido por um Conselho Orientador, ao qual competia:i. Apreciar os programas anuais de trabalho apresentados pela Direcção;ii. Pronunciar-se sobre os orçamentos anuais do Centro, bem como sobre os relatórios e contas deexercício;iii. Eleger bienalmente o Presidente e o Vice-presidente;iv. Deliberar sobre os restantes assuntos que lhe fossem submetidos pela Direcção.Reunindo ordinariamente três vezes no ano, este Conselho era constituído pelo Director-Geraldo Secretariado Técnico, pelo seu Director de Serviços de Planeamento, pelo Director executivodo CEP e, ainda, por quatro vogais nomeados pelo Presidente do Conselho, por biénios, de entrepersonalidades com experiência de planeamento em organismos públicos e privados ou centrosuniversitários. O 1º Presidente do Conselho Orientador do CEP (1968-1970) foi o Prof. DoutorJoão Ruiz Almeida Garrett 117 . O CEP, no seu início, realizou nomeadamente dois estudos: “Agricultura:diagnósticos distritais”; e “A rede urbana do continente: hierarquia e funcionamento” 118 .114Lei 2.133, de 20 Dezembro 1967; III plano de fomento para 1968-1973 Vol. I e II (Proposta de Lei e projecto para o Continente eIlhas), Lisboa: Secretaria-Geral da Assembleia Nacional, 1967115Cfr. Política de Ordenamento do Território, Lisboa: Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, Outubro 1969, p. 5116Decretos nº 48.301 e 48.302, de 30 Março 1968.117Foi, também: Procurador à Câmara Corporativa (1965-1969); Deputado, pelo distrito do Porto, à Assembleia Nacional (1969-1973; e 1973-1974); e veio a integrar a Comissão de Planeamento da Região do Norte, como vogal pelo distrito do Porto (1971-1973).118De Miguel Caetano, Luísa Vaz Pinto, Idalina Neves de Sousa e José Correia da Cunha. Cfr. www.dpp.pt/arquivo_historico
DA PROVÍNCIA À REGIÃO-PLANO. 47Principalmente ao longo de 1968, o Secretariado Técnico organizou por todo o país um conjuntode colóquios e missões de estudo, com o objectivo de preparar as populações para o arranquedo processo de planeamento regional. Porém, a lógica da programação, traçada pela Divisãode Planeamento Regional, ficou profundamente afectada pelos atrasos verificados na entradaem funcionamento das Comissões Consultivas Regionais, inicialmente previsto para o início de1969 119 .Em 8 Agosto 1968, Salazar cai duma cadeira e sofre um hematoma cerebral. Em 19 Agostotoma posse o seu último Governo, tendo como Ministro do Interior, o Dr. António GonçalvesRapazote 120 . Salazar, operado de urgência ao cérebro (6 Setembro), é acometido de trombose (16Setembro). O Conselho de Estado pondera a substituição de Salazar (17 Setembro).Em 27 Setembro, Marcelo José das Neves Alves Caetano é nomeado Presidente do Conselhode Ministros (1968-1974) 121 . Como Ministro do Interior, mantém-se o Dr. António Gonçalves Rapazote.E o Eng.º Alfredo de Queiroz Ribeiro Vaz Pinto 122 é nomeado Ministro de Estado Adjuntodo Presidente do Conselho (1968-1970), com tutela sobre o Planeamento Económico.Em 14 Outubro, o Ministro do Interior anuncia: “A árvore que cresceu e enraizou nestes 40anos, cobrindo, majestosa, a face da terra portuguesa, vai receber uma poda cautelosa e prudente.Perderá os ramos secos, ficará arejada e aberta e, nesta outra primavera, deixará vir os renovossem mutilações escusadas nem feridas incuráveis”. De 1968 a 1973, deu posse a 30 GovernadoresCivis:119Cfr. Política de Ordenamento do Território, Lisboa: Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, Outubro 1969, p. 6120António Manuel Gonçalves Ferreira Rapazote (Sé, Bragança 1910-Coruche, 1985). Licenciado em Direito pela Univ. Coimbra(1932). Pertenceu ao Movimento Nacional-Sindicalista Português de Rolão Preto, até à sua dissolução por Salazar (1934). Foi advogadonas comarcas de Bragança, Évora e Lisboa. Em Évora, foi funcionário e Delegado do INTP, Delegado do Procurador daRepública (1957-1968), Presidente do Conselho Fiscal da Coop. Agrícola do Vale do Sorraia, Director do Banco do Alentejo, Juizno Tribunal do Trabalho, Presidente da Comissão Concelhia da UN. Foi Deputado à Assembleia Nacional (1961-1969; 1973-1974).Como Ministro do Interior de Salazar e Caetano (19-08-1968 a 07-11-1973), foi um dos principais responsáveis pela vaga repressivade 1971-1973, criticada pela Ala Liberal da Assembleia Nacional. Iniciou a sua postura política como integralista, aderindo depoisao Estado Social e Corporativo. Entendia a renovação política como “fixação das estruturas tradicionais” assente na “vitalidadedos corpos intermédios”. Depois do 25 de Abril de 1974 exilou-se em Madrid. Publicou: Ao compasso da Renovação (Discursos),Lisboa: Ministério do Interior, Vol. I, 1969, Vol. 2, 1971; Do Município à Nação, Lisboa: Ministério do Interior, 1973; Cfr. Barroso daFonte (coord.), Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, Guimarães, Vol. II; Rosas, Fernando; Brito, J.M. Brandãode, Dicionário de História do Estado Novo, Lisboa: Círculo de Leitores, 1996; Cruz, Manuel Braga da; Pinto, António Costa, Dicionáriobiográfico parlamentar: 1935-1974, Lisboa, Assembleia da República / Imprensa de Ciências Sociais, 2004, Vol. 2, pp. 430-432.121Maltez, José Adelino, Marcello Caetano (1906-1980), Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura, 2007 - http://maltez.info/marcellorio.pdf122Nasceu em Arouca em 1905. Eng.º Electrotécnico (FEUP, 1927). Secretário do Ministro do Comércio e Comunicações (1930-1932). Administrador Adjunto dos CTT (1933-1937). Administrador Delegado pelo Governo (1937-1943) e Presidente (1943-1968)da Companhia Portuguesa Rádio Marconi. Presidente do C.A. da TAP (1959-1968; 1970-1973). Ministro de Estado Adjunto doPresidente do Conselho (1968-1970). Presidente do C.A. (1973-1974) e da Assembleia-geral (1974-1976) da Shell Portuguesa. Cavaleiro(1958) e Lugar-tenente (1971) da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. Grande Oficial da Ordem de MéritoAgrícola e Industrial (1964). Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique (1967). Grande Oficial do Cruzeiro do Sul (1967).Faleceu em 1976. // Cfr. Rosas, Fernando; Brito, J.M. Brandão de, Dicionário de História do Estado Novo, Lisboa: Círculo de Leitores,1996, Vol 2.