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ttalentoj o ã o t o r d oCrescer com a escritaPassou pelo jornalismo, mas foi na ficção que fixou amarras.Poder explorar diálogos, personagens ricas e enredos que nos prendemé parte do desafio da escrita de João Tordo, que, em 2009, recebeuo Prémio Literário José Saramago. Com quatro romances publicadose outro em processo de escrita, é assim que se sente realizadoPor Catarina Vilar Fotografia João CupertinoAos 35 anos, e com quatro livros consolidados, João Tordo sabe que querser escritor. Não se pense é que este foi um objectivo com o qual nasceu ou que descobriuem criança. Na verdade, esta é uma descoberta algo recente, que resulta do culminar de umpercurso que foi seguindo despreocupadamente.Porque podia, escolheu estudar Filosofiana Universidade Nova de Lisboa. «Se tivessevindo de uma família que não fosse de classemédia-alta, estaria mais preocupado com ofuturo. Como não estava – como ainda nãoestou –, estudei Filosofia. Tirei pelo prazer,não para arranjar emprego», esclarece.Durante os tempos de faculdade, começoua trabalhar. O primeiro emprego foi comoestagiário na editora Quetzal, rodeado delivros. «Na altura, comecei a escrever parajornais e revistas e quando acabei o curso jáera jornalista. Aos 23 anos, fui para Londresfazer um mestrado em Jornalismo, mas sentiaque a minha vontade era inventar histórias...Estive lá durante uns anos, sem saber de factoo que ia fazer na vida.»Seguiu-se, depois, um curso de EscritaCriativa, no City College, em Nova Iorque,mas a experiência americana valeu mais pelolado vivencial. «Trabalhava num bar à noite;aliás, tenho mais anos a servir à mesa do quecomo jornalista! Esse contacto com as pessoasacabou por ser, de facto, a minha experiêncialá.» E foi ali que escreveu o seu primeiroromance, O Livro dos Homens sem Luz.Enviou-o para várias editoras portuguesas euma mostrou-se interessada. Assim, voltoupara Portugal. «Sinto que isto é a minha vidae vou crescendo com os romances. Vou-medesenvolvendo enquanto pessoa ao mesmotempo que os livros vão sendo escritos.»Não gosta de escrever sobre locais quedesconhece. O seu primeiro livro passava-seem Inglaterra, com histórias baseadasnas impressões que Londres lhe deixou.Com Hotel Memória, o que se seguiu,estabeleceu a acção nos Estados Unidos.O As Três Vidas (livro que lhe valeu, em 2009,o Prémio Literário José Saramago, tendo sidoo último vencedor a recebê-lo das mãos doNobel português) passa-se parte no Alentejoe outra em Nova Iorque, e O Bom Inverno éeuropeu e com base numa experiência real;é aquele em que não tinha grande parte dahistória definida. Sobre o livro que se segue, oquinto, apenas levanta um pouco do véu: «Omeu novo romance tem muita investigaçãopor trás, é o mais complexo.»No seu processo de escrita, segue rotinase regras, e garante: «Não sou metódico, massim obsessivo. Quando escrevo um romance,é porque tenho uma inquietação qualquer,uma questão que quero responder ou umapersonagem que preciso de desenvolver.É um ciclo vicioso... Passo umas quatrohoras por dia a escrever cerca de duas milpalavras, mais duas a pensar naquilo. Se nãofor um processo obsessivo, não faz sentidoescrever um romance.» Raramente voltaatrás na escrita para alterar alguma coisa, e,quando chega ao final, volta ao princípiopara reescrever tudo: «É nessa segunda lutacom as palavras que surgem as coisas maisinteressantes.»Com uma escrita algo cinematográfica– escrever guiões para o grande ecrã é algoque consta no seu percurso –, alimenta aPrintLivros semfronteirasNo final deste ano, os seuslivros estarão publicados emseis países diferentesDesde o primeiro romanceque a internacionalização éum dado adquirido. Agora,o seu bem sucedido O BomInverno será publicado emFrança, pela Actes Sud, e emItália, pela Cavallo di Ferro. Oquarto romance de João Tordo,a história de um grupo depessoas encarceradas numacasa em Itália, terá, também,uma edição brasileira, daresponsabilidade da editoraLíngua Geral, que já publicouAs Três Vidas. «A literaturajá não tem as fronteiras dopassado. A globalizaçãotambém funciona para oslivros», lembra o autor. Eacrescenta: «No fim desteano, terei livros em seis países,mas isso não me condiciona,não posso escrever a pensarno que vai acontecer com oromance.»sua inspiração em clássicos como os deAgatha Christie e gosta de misturar ficçãocom realidade. Apesar de os seus livrosserem muito diferentes entre si, há pontosem comum, como o facto de gostar demanter algumas personagens, que resistem esaltam para outra narrativa. Uma das figurasprincipais do livro que está agora a escreverera secundária no seu terceiro romance.Mas ressalva: «Não estou a escrever umasaga nem é uma piadinha minha, apenasacho que algumas personagens fazemsentido noutros contextos.» A única que nãoconsegue definir totalmente e que acreditaque o vai acompanhar sempre é o narrador:«É o meu alter ego, apesar de muitas vezesnão ter nada a ver comigo. Acho que ele é aminha marca como escritor.»12 cxa r e v i s t a d a c a i x a

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