13.07.2015 Views

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

são a expressão <strong>de</strong> <strong>um</strong> empenho em recobrar e sensação <strong>de</strong> ser que foi perdida através dainterferência do organismo. 14Po<strong>de</strong> ser dito que existe <strong>um</strong>a psicodinâmica original na ocasião da gênese do caráterna infância e <strong>um</strong>a psicodinâmica sustentadora na ida<strong>de</strong> adulta, e propõe que elas não sãoidênticas. Enquanto a psicodinâmica original constitui <strong>um</strong>a resposta à questão crucial <strong>de</strong>sermos ou não amado – ou mais especificamente <strong>um</strong>a resposta à frustração interpessoal,po<strong>de</strong>mos dizer que não é principalmente <strong>um</strong>a frustração amorosa o que sustenta amotivação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência no adulto, e sim <strong>um</strong>a experiência <strong>de</strong> carência baseada n<strong>um</strong> vácuoôntico, que se autoperpetua e na auto-interferência existencial correspon<strong>de</strong>nte.Uma <strong>de</strong>claração para a análise sistemática <strong>de</strong> todas as estruturas <strong>de</strong> caráter à luz doobscurecimento ôntico e a “busca do Ser no lugar errado” foi a perspectiva <strong>de</strong> Guntrip, 15on<strong>de</strong> ele escreve: “A teoria psicanalítica teve durante muito tempo a aparência daexploração <strong>de</strong> <strong>um</strong> circulo que não tinha <strong>um</strong> centro obvio, até que surgiu a psicologia doego. A exploração teve que começar com os fenômenos periféricos – comportamento,disposições do ânimo, sintomas, conflitos, ‘mecanismos mentais’, impulsos eróticos,agressão, medo, culpa, estados psicóticos e psiconeuróticos, instintos e impulsos, zonaserógenas, estágios <strong>de</strong> amadurecimento e assim por diante. Tudo isso é naturalmenteimportante e precisa encontrar seu lugar na teoria total, mas na verda<strong>de</strong> tudo é secundáriocom relação a <strong>um</strong> fator absolutamente fundamental, que é a ‘essência’ da ‘pessoa comotal’”.É o sentimento da ausência <strong>de</strong>ssa essência que estou postulando como o núcleo <strong>de</strong>toda a psicopatologia. 16 Esse fator fundamental na raiz <strong>de</strong> todas as paixões (motivação <strong>de</strong><strong>de</strong>ficiência) é <strong>um</strong>a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser que existe lado a lado com <strong>um</strong>a vaga apreensão da perda doser.Acrescentarei apenas a essa teoria, nesse ponto, a asserção <strong>de</strong> que on<strong>de</strong> quer que o“ser” pareça estar, ele não está; e que o ser só po<strong>de</strong> ser encontrado da maneira maisimprovável: Através da aceitação do não-ser e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a jornada através do vazio.14 Em coerência com a noção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a perturbação do eu subjacente aos distúrbios narcisistas <strong>de</strong> Kohut, porémmais geral, a visão <strong>de</strong>talhada aqui percebe essa “perturbação do eu” como a essência <strong>de</strong> cada forma <strong>de</strong>psicopatologia, e não apenas o resultado inevitável da fragmentação como também a perturbação mais geralda auto-regulação própria do organismo a ela subjacente.15 Op. Cit.16 Guntrip utiliza o termo ego “para <strong>de</strong>notar <strong>um</strong> estado ou condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do todo psíquico, datotalida<strong>de</strong> do eu.“Ego” expressa a auto-realização da psique e cada processo psíquico possui <strong>um</strong>a ‘qualida<strong>de</strong>do ego’, seja a <strong>de</strong> <strong>um</strong> ego fraco ou forte.”(p.194, op.cit.). Sobre a fraqueza do ego, Guntrip escrevo oseguinte: “Existe <strong>um</strong> maior ou menor grau <strong>de</strong> imaturida<strong>de</strong> na estrutura <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os seresh<strong>um</strong>anos, e esta imaturida<strong>de</strong> é vivenciada como <strong>um</strong>a explícita fraqueza e ina<strong>de</strong>quação do ego”. Ele tambémescreve: “A sensação da fraqueza surge <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ausência <strong>de</strong> sentimentos confiáveis com relação à própriarealida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como <strong>um</strong> ego”. (p. 176, op. cit.). É claro que escolhi falar sobre o “ser” ou “senso <strong>de</strong>ser” em vez <strong>de</strong> “ego” ou “auto-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” para a essência da pessoa saudável, e <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ficiência ôntica” ou“obscurecimento ôntico” para a essência da neurose – em vez <strong>de</strong> adotar a “insegurança ôntica” <strong>de</strong> Laing ou a“fraqueza do ego” <strong>de</strong> Guntrip, ambas as quais evocam <strong>um</strong>a nuança específica (tipo VI do eneagrama) <strong>de</strong> <strong>um</strong>aexperiência mais universal.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!