13.07.2015 Views

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

À guisa de Introdução: um Panorama Teórico - Claudio Naranjo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Po<strong>de</strong>mos dizer que o indivíduo <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser livre para aplicar ou não os resultados <strong>de</strong>ssenovo aprendizado, e que passou a ser controlado pelo “piloto automático”, pondo emoperação <strong>um</strong>a certa reação instituída sem que a totalida<strong>de</strong> da mente fosse “consultada” ou asituação fosse criativamente consi<strong>de</strong>rada no presente. É essa fixi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> reações obsoletasaliada à perda da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reagir criativamente no presente que é extremamentecaracterística do funcionamento psicopatológico.Embora a soma total <strong>de</strong>sse aprendizado pseudo-adaptativo que eu <strong>de</strong>screvi sejacom<strong>um</strong>ente <strong>de</strong>signada nas tradições espirituais como “ego” ou “personalida<strong>de</strong>” (distinto daessência ou alma da pessoa), creio que é extremamente apropriado dar a ela o nome <strong>de</strong>“caráter”.A palavra “caráter” <strong>de</strong>riva do grego charaxo, que significa gravar. Ela faz referênciaao que é constante n<strong>um</strong>a pessoa, porque foi gravado nela, e, por conseguinte, aoscondicionamentos comportamentais, emocionais e cognitivos.Enquanto na psicanálise o mo<strong>de</strong>lo básico <strong>de</strong> neurose é o <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida instintivacercada pela ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> superego internalizado a partir do mundo exterior, estoupropondo aqui que nosso conflito básico e nosso modo fundamental <strong>de</strong> estar em oposição anós mesmos consiste em <strong>um</strong>a interferência com a auto-regulação do organismo através donosso caráter, como <strong>um</strong>a parcela <strong>de</strong>le, que po<strong>de</strong>mos encontrar <strong>um</strong> superego com seusvalores e exigências, bem como <strong>um</strong> contra-superego (<strong>um</strong> “pobre-diabo” como Fritz Perlscost<strong>um</strong>ava chamá-lo) que é o objeto das exigências e acusações do superego e que pleiteiaa aceitação <strong>de</strong>ste último. É nesse “pobre-diabo” que encontramos o referentefenomenológico para o “id” freudiano. No entanto, é questionável interpretarmos seusimpulsos vitalizantes como instintivos, <strong>um</strong>a vez que não é o instinto o único a ser objeto <strong>de</strong>inibição <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós – como resultado da auto-rejeição entranhada e do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sermosalgo diferente do que somos: nossas necessida<strong>de</strong>s neuróticas também o são. As diversasformas <strong>de</strong> motivação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, que proporei chamarmos <strong>de</strong> nossas paixões, nos sãoproibidas, tanto com relação ao seu aspecto <strong>de</strong> ganância quanto ao seu aspecto <strong>de</strong> ódio.Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>screver o caráter como <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> características, e compreen<strong>de</strong>rcomo cada <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las surgiu como <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntificação com <strong>um</strong> traço paterno ou materno ou,inversamente, a partir do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não ser como <strong>um</strong> pai ou <strong>um</strong>a mãe sob esse aspectoparticular. (Muitas <strong>de</strong> nossas características correspon<strong>de</strong>m a <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntificação com <strong>um</strong> dospais, e, ao mesmo tempo, a <strong>um</strong> ato <strong>de</strong> rebelião com relação à característica oposta dooutro.) Outros traços po<strong>de</strong>m ser compreendidos em função <strong>de</strong> adaptações mais complexas econtramanipulações. No entanto o caráter é mais do que <strong>um</strong> arranjo caótico <strong>de</strong>características. Ele é <strong>um</strong>a estrutura complexa que po<strong>de</strong> ser mapeada como <strong>um</strong>aarborização, on<strong>de</strong> os comportamentos distintos são aspectos dos comportamentos maisgerais, e on<strong>de</strong> até mesmo os diversos traços <strong>de</strong> natureza mais ampla po<strong>de</strong>m sercompreendidos como a expressão <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a coisa mais fundamental.A essência fundamental do caráter que estarei formulando aqui possui <strong>um</strong>a naturezadupla: trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> aspecto motivacional em interação com <strong>um</strong>a tendência cognitiva –<strong>um</strong>a “paixão” associada a <strong>um</strong>a “fixação”. Po<strong>de</strong>mos conceber a posição da paixãodominante e <strong>um</strong> estilo cognitivo prepon<strong>de</strong>rante na personalida<strong>de</strong> comparando-os com osdois focos <strong>de</strong> <strong>um</strong>a elipse, e po<strong>de</strong>mos agora amplificar nossa <strong>de</strong>claração anterior sobre ocaráter versus a natureza, referindo-nos ao processo em maior <strong>de</strong>talhe como <strong>um</strong>ainterferência da paixão sobre o instinto sob prolongada influência da cognição<strong>de</strong>svirtuada.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!