complexo e hierárquico <strong>de</strong> exigências somáticas,motoras e psicológicas em diferentes modalida<strong>de</strong>sesportivas e em diferentes fases <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento motor capazes <strong>de</strong> prog<strong>no</strong>sticar,com alguma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acerto, o jovematleta <strong>de</strong> sucesso.• Por prospecção <strong>do</strong> talento esportivo<strong>de</strong>signamos os procedimentos que implicam emclassificar <strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> talentos motores osindivíduos cuja configuração <strong>de</strong> sua estruturamorfológica e motora apresentam um perfil quecorresponda aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> performanceesportiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas modalida<strong>de</strong>s esportivas.• Por seleção <strong>do</strong> talento esportivorepresentamos o conjunto <strong>de</strong> procedimentosutiliza<strong>do</strong>s para a confirmação das capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho esportivo <strong>do</strong> jovem atleta (testes <strong>de</strong>laboratórios mais rigorosos e discriminantes etestes <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s esportivas específicas,acompanhamento <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>sindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho), bem como osprocedimentos para o encaminhamento <strong>de</strong>steatleta para quadros mais exigentes <strong>de</strong> performance(Projeto <strong>Talento</strong> <strong>Esportivo</strong>).Como já explicitamos, abordaremos o tema apartir <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> experiências oriundas <strong>do</strong>Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil (Proesp-Br). Este projeto érealiza<strong>do</strong> pela Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Centro <strong>de</strong>Excelência Esportiva (Re<strong>de</strong> CENESP) <strong>do</strong>Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> <strong>do</strong> Brasil.O Proesp-Br é um programa <strong>de</strong> alcancenacional e <strong>de</strong> cunho interinstitucional que envolvemais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s brasileiras ese realiza <strong>no</strong> âmbito da educação física e esporteescolar. Seu objetivo é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear o perfil dascondições <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong>senvolvimentosomatomotor, <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res nutricionais e <strong>do</strong>sníveis da aptidão física relaciona<strong>do</strong>s à saú<strong>de</strong> e aorendimento esportivo <strong>de</strong> crianças e jovensbrasileiros na faixa etária entre 7 a 17 a<strong>no</strong>s.É importante sublinhar que o Proesp-Br,representa um conjunto amplo <strong>de</strong> intervenções <strong>no</strong>espaço da educação física e esporte escolar e quevão muito além das preocupações exclusivas com apromoção <strong>do</strong> talento esportivo expressas nesteestu<strong>do</strong>. O Proesp-Br <strong>de</strong>senvolve investigações <strong>de</strong>abordagem epi<strong>de</strong>miológica, projetos pedagógicos<strong>de</strong> intervenções na área da promoção da saú<strong>de</strong> e<strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>do</strong>s jogos esportivos.O significa<strong>do</strong> genérico da expressão talento ea <strong>de</strong>finição operacional <strong>de</strong> talento esportivoDo ponto <strong>de</strong> vista etimológico, conforme oNovo Dicionário Aurélio (p. 1348), a expressãoorigina-se <strong>do</strong> latim talentu e <strong>do</strong> grego tálanton erefere-se a uma medida <strong>de</strong> peso e uma moedacorrente na antiguida<strong>de</strong>.Conforme Csikszentmihaly et al. (1972, cita<strong>do</strong>por Böhme, 2002) a utilização da expressão talento<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aptidão inata ou adquiridaprovavelmente tenha origem bíblica <strong>de</strong>corrente daparábola <strong>do</strong>s talentos (Mateus 25). Nesta passagem<strong>do</strong> Novo Testamento Jesus conta a história <strong>de</strong> umfazen<strong>de</strong>iro que ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> realizar uma longa viagemdistribui a seus servos alguns talentos sugerin<strong>do</strong>que fizessem bom uso. No retor<strong>no</strong> da viajem ofazen<strong>de</strong>iro pe<strong>de</strong> contas aos seus servos. Um <strong>de</strong>lesmultiplicou as moedas que recebeu, enquantooutro, por me<strong>do</strong> <strong>de</strong> perdê-las escon<strong>de</strong>u-as emlugar seguro <strong>de</strong>volven<strong>do</strong>-as para o seu senhor.Refere a parábola que o fazen<strong>de</strong>iro elogiou o servoque utilizou a maior parte <strong>de</strong> seus talentos comhabilida<strong>de</strong> e repreen<strong>de</strong> aquele que, com me<strong>do</strong> <strong>de</strong>perdê-los apenas os escon<strong>de</strong>u.Decorrente <strong>de</strong> sua evolução semântica aexpressão talento consagrou-se com o significa<strong>do</strong><strong>de</strong> algo raro e valioso <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio intelectual ouartístico, ou, ainda, como aptidão natural ouhabilida<strong>de</strong> adquirida (Maia, 1996).No âmbito das práticas esportivas, como refereBorms (1997), um talento po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> comoum indivíduo que, num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> estágio <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento, dispõe <strong>de</strong> certas característicassomáticas, funcionais, psicológicas e <strong>de</strong>envolvimento social que o capacita, com gran<strong>de</strong>probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acerto, para altas performancesem <strong>de</strong>terminadas disciplinas esportivas. Portanto,po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar um talento esportivo como umindivíduo: (a) capaz <strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>sempenhosuperior num conjunto <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s ecapacida<strong>de</strong>s; (b) capaz <strong>de</strong> manter uma elevadaestabilida<strong>de</strong> nestas habilida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>sexcepcionais.Enfim, o talento esportivo é um indivíduoatípico <strong>no</strong> seio <strong>de</strong> sua população.Duas categorias <strong>de</strong> análise perfazem o conceito<strong>de</strong> talento expresso <strong>no</strong> parágrafo anterior: (a) o<strong>de</strong>sempenho superior ou atípico e, (b) a elevadaestabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho. Esta duas categoriasnecessitam ser <strong>de</strong>finidas operacionalmente <strong>de</strong>forma a fundamentar os procedimentosmeto<strong>do</strong>lógicos que adiante serão <strong>de</strong>scritos.O <strong>de</strong>sempenho superior ou atípicoO significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho superior ouatípico conduz, conforme <strong>no</strong>ssa perspectiva <strong>de</strong>análise, aos quadros conceituais da estatística(Maia, 1993). O conceito <strong>de</strong> superior ou atípico é<strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> conceito estatístico <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong>.Normalida<strong>de</strong> objetivamente significa aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> um fenôme<strong>no</strong> <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a curva <strong>no</strong>rmal ou curva <strong>de</strong> Gauss.
compararmos indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho emunida<strong>de</strong>s diferentes (velocida<strong>de</strong>, força, resistência,etc.), permitin<strong>do</strong> uma análise abrangente <strong>do</strong>sindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. A estratégia ZCELAFISCS é um exemplo da utilização <strong>de</strong>escores Z como preditores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho empráticas esportivas diversificadas (Matsu<strong>do</strong> et al.,1986).Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a curva <strong>de</strong> Gauss atribui-secomo <strong>no</strong>rmal os valores referentes a uma certacaracterística populacional que ocorre com maiorfreqüência e com maior regularida<strong>de</strong>.Acompanhan<strong>do</strong> a proposta <strong>do</strong> Programa Nacional<strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação e Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>Talento</strong>s<strong>Esportivo</strong>s (Talent Search Program) <strong>do</strong> InstitutoAustralia<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Esporte</strong>s (Australian Institute ofSport, s.d.) i<strong>de</strong>ntificamos como indivíduos <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho superior ou atípicos os que situam-sealém <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>svios padrão da média.Assim, para i<strong>de</strong>ntificarmos um talento énecessário situá-lo <strong>no</strong> seio <strong>de</strong> sua população e,mais que isso, verificar se ele está situa<strong>do</strong> além <strong>do</strong>scritérios <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong> (operacionalmente<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como índices superiores ao percentil 98).A medida usual para a localização <strong>de</strong> um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> suapopulação <strong>de</strong> origem é o Escore Z.Z = (X - M) / sX = valor obti<strong>do</strong> numa <strong>de</strong>terminada variávelM = média da populaçãos = Desvio padrãoO Escore Z é um escore padrão <strong>de</strong> média zeroe o <strong>de</strong>svio padrão 1. É, portanto, uma medidarelacionada ao <strong>de</strong>svio padrão que <strong>no</strong>s permitenumericamente situar em que espaço da curva <strong>de</strong>Gauss situa-se <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> este padrão <strong>de</strong> análise numadistribuição <strong>no</strong>rmal o atleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhosuperior está localiza<strong>do</strong> acima <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>sviospadrão ou 2Z o que correspon<strong>de</strong>aproximadamente ao percentil 98 <strong>de</strong> umapopulação com distribuição <strong>no</strong>rmal 1 . A utilização<strong>do</strong> escore Z é a<strong>de</strong>quada na medida em que permite1 Referem Kovar (1981) e Mali<strong>no</strong>wski, (1986), cita<strong>do</strong>spor Maia (1993, p.14) , a i<strong>de</strong>ntificação consistente <strong>de</strong>um talento apresenta a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,0001, ou, emoutras palavras, diz-se que a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção<strong>de</strong> um talento é <strong>de</strong> 1 sujeito para cada 10000 <strong>no</strong> seio <strong>de</strong>uma população com características <strong>de</strong> distribuição<strong>no</strong>rmal.A estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhoA prospecção e <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivotem como pedra fundamental o conceito <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Estacategoria <strong>de</strong> análise po<strong>de</strong> ser claramenteevi<strong>de</strong>nciada por questões muito simples. Questõesque resi<strong>de</strong>m <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> professores etreina<strong>do</strong>res cujas as preocupações centram-sesobre o prognóstico <strong>de</strong> um jovem atleta <strong>de</strong>sucesso. Questões <strong>do</strong> tipo: como prever que umpré-a<strong>do</strong>lescente campeão aos 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>po<strong>de</strong>rá também sê-lo aos 20 a<strong>no</strong>s? Como preverque um pré-a<strong>do</strong>lescente que hoje está mais forte eveloz que seus colegas <strong>de</strong> mesma ida<strong>de</strong>cro<strong>no</strong>lógica manterá esta superiorida<strong>de</strong> ao longo<strong>do</strong> tempo? Evi<strong>de</strong>ntemente, tais respostas<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os indica<strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sses jovens atletas possammanter certa estabilida<strong>de</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo.Vejamos em <strong>de</strong>talhes o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>stesconceitos.Sobre os indica<strong>do</strong>res e critérios <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenhoConsi<strong>de</strong>ramos como indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho o conjunto <strong>de</strong> variáveis somáticas,motoras, volitivas que estão na base <strong>do</strong>s critérios<strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> jovens para as práticas esportivas.Em outras palavras, é o conjunto <strong>de</strong> variáveis quesão, por hipótese, capazes <strong>de</strong> dar visibilida<strong>de</strong> aaptidão motora em suas diversas componentes.Por exemplo: o Proesp-Br, em sua bateria <strong>de</strong> testesconsi<strong>de</strong>ra como indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhosomático a massa corporal, a estatura eenvergadura; como indica<strong>do</strong>res motoresrelaciona<strong>do</strong>s especificamente ao <strong>de</strong>sempenhoesportivo consi<strong>de</strong>ra a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento,agilida<strong>de</strong>, força explosiva <strong>de</strong> membros superiores einferiores e a capacida<strong>de</strong> aeróbia; como indica<strong>do</strong>rvolitivo consi<strong>de</strong>ra as características relacionadas aosucesso esportivo evi<strong>de</strong>nciadas através <strong>de</strong> umquestionário sobre motivação.Como critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho para os testesmotores, como já referimos anteriormente,utilizamos valores superiores ao percentil 98.