Os Estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecçãoOs estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos motores constituem a primeira fase <strong>do</strong>programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo. Nestaprimeira fase selecionamos através <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong>medidas e testes <strong>de</strong> campo pré-a<strong>do</strong>lescentes ea<strong>do</strong>lescentes, <strong>no</strong>rmalmente escolares, queapresentam perante seu grupo níveis eleva<strong>do</strong>s em<strong>de</strong>terminadas qualida<strong>de</strong>s físicas e psicológicas.Portanto, são sujeitos que provavelmenteapresentam algumas qualida<strong>de</strong>s genéticas que lheimputam uma significativa variação <strong>do</strong> fenótipo <strong>no</strong>seio <strong>de</strong> seu próprio grupo. São sujeitos com gran<strong>de</strong>potencial somatomotor, elevada motivação parafatores relaciona<strong>do</strong>s à performance esportiva eeleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> persistência na busca <strong>de</strong> seusobjetivos, o que, por hipótese, sugere boaprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confirmarem -se como esportista<strong>de</strong> sucesso.A estratégia é simples e resulta: em primeirolugar da avaliação <strong>no</strong>rmativa. Ou seja A partir <strong>de</strong>um conjunto <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> referência quecaracterizam um da<strong>do</strong> estrato populacional numconjunto <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> aptidão física em escalapercentílica, selecionam-se os sujeitos que situamseacima <strong>do</strong> percentil 98 em algum <strong>do</strong>s testesmotores relaciona<strong>do</strong>s ao rendimento 4 .Exemplo: Em um conjunto <strong>de</strong> 505 estudantesentre 12 e 14 a<strong>no</strong>s <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sexos avalia<strong>do</strong>s <strong>no</strong>âmbito <strong>do</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong><strong>do</strong> Sul aplicou-se o seguinte conjunto <strong>de</strong> testes <strong>de</strong>aptidão física relacionada ao rendimento esportivo<strong>de</strong>scritos <strong>no</strong> quadro 1.Quadro 1. Bateria <strong>de</strong> testes PRODESP relaciona<strong>do</strong> aorendimentoTestesObjetivosO teste <strong>do</strong> quadra<strong>do</strong> Agilida<strong>de</strong>(4x4m.)20 metros (em seg) Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentoSalto longitudinal (cm) Força explosiva <strong>de</strong> membrosinferioresCorrida <strong>de</strong> 9 minutos Resistência <strong>de</strong> longa duração(distância em m)Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> corte como percentil98 obtivemos os seguintes resulta<strong>do</strong>s:• 0,5% (3) atingiram o ponto <strong>de</strong> corte emum teste• 0,2% (1) atingiu o ponto <strong>de</strong> corte em <strong>do</strong>istestes (velocida<strong>de</strong> e salto horizontal)• 0,2% (1) atingiu o ponto <strong>de</strong> corte em trêstestes (velocida<strong>de</strong>, agilida<strong>de</strong> e salto horizontalEm resumo nesta primeira fase <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>spopulacionais, partin<strong>do</strong> da hipótese que atingir<strong>de</strong>sempenho eleva<strong>do</strong> num conjunto <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>somatomotoras pressupõe predisposição genética(Cooper, 1991), <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasilselecionamos estudantes com índices <strong>de</strong>performance igual ou superior ao percentil 98 empelo me<strong>no</strong>s um <strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> aptidão física.Os Estu<strong>do</strong>s Populacionais Específicos na Áreadas Modalida<strong>de</strong>s Esportivas.Os estu<strong>do</strong>s populacionais visan<strong>do</strong>especificamente <strong>de</strong>terminadas modalida<strong>de</strong>sesportivas ocorrem <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil apartir <strong>de</strong> <strong>do</strong>is procedimentos bem níti<strong>do</strong>s. (1) Aavaliação e análise <strong>de</strong> atletas em formação emdiferentes faixas etárias, em diferentes modalida<strong>de</strong>sesportivas. São atletas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho eleva<strong>do</strong> emcompetições nacionais tais como Jogos daJuventu<strong>de</strong>, Jogos Escolares Brasileiros.Esses atletas <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong> rendimento sãoavalia<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> medidas e testes,sen<strong>do</strong> que entre estas medidas e testes encontramseos mesmos aplica<strong>do</strong>s aos escolares. Portanto, acomposição <strong>de</strong> um perfil por modalida<strong>de</strong> esportivanestas medidas e testes compartilha<strong>do</strong>s entreatletas e escolares, <strong>no</strong>s permite i<strong>de</strong>ntificar <strong>no</strong>interior da população <strong>de</strong> escolares aqueles sujeitosem que o perfil somatomotor se aproxima ao perfilexigi<strong>do</strong> para uma <strong>de</strong>terminada prática esportiva.Exemplo: Na tabela que segue apresentamos operfil médio <strong>do</strong>s atletas <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol masculi<strong>no</strong> dasequipes colocadas entre 1 o e 4 o lugares <strong>no</strong>s Jogosda Juventu<strong>de</strong> realiza<strong>do</strong> em Recife em julho <strong>de</strong>2001 em algumas medidas somáticas e testes <strong>de</strong>aptidão física compara<strong>do</strong>s ao perfil <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> escolares na mesma faixa etária quecompartilharam das mesmas medidas e testes.Os resulta<strong>do</strong>s da tabela sugerem diferençasestatisticamente significativas em to<strong>do</strong>s osindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho (ao nível <strong>de</strong>significância <strong>de</strong> 0,05). Todavia, o procedimento <strong>de</strong>diferença entre médias não é suficientementerobusto para discriminar os grupos. Ou, em outraspalavras, não é suficiente para distinguir o grupo<strong>de</strong> atletas <strong>do</strong>s escolares, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que, conhecidasas características <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo indivíduo, se possaprever se pertence ou não ao grupo <strong>de</strong> atletas.Compreen<strong>de</strong>-se facilmente o que queremos dizeratravés das figuras a, b e c.4 O mo<strong>de</strong>lo proposto por Cooper (1991) sugerepercentil 90 em pelo me<strong>no</strong>s 2 testes, já o mo<strong>de</strong>loAustralia<strong>no</strong> refere percentil 98 em um teste.
Tabela 1. Médias e Desvios Padrão <strong>de</strong> Atletas e Escolares em alguns testes <strong>de</strong> Aptidão físicaATLETASESCOLARESMEDIDAS MÉDIA D.PADRÃO MÉDIA D.PADRÃO PROBAB.(p)Peso 71,45 9,40 58,09 13,01 0,003Estatura 178,39 5,04 164,65 12,35 0,001Salto Horiz. 211,54 13,31 191,43 34,10 0,01120 metros 2,96 0,12 3,16 0,41 0,035Fonte: Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil/Re<strong>de</strong> CENESPFigura 1. Resulta<strong>do</strong>s possíveis na comparação entre populaçõesFigura (a) Figura (b) Figura (c)Fonte: Rocha, In. Maia, J. A .R., 2001, p.19.Na figura (a), apesar das diferenças entre asmédias po<strong>de</strong>rem ser estatisticamente significativas,ocorre uma gran<strong>de</strong> sobreposição nas distribuiçõese as diferenças interindividuais sobrepõe-se àdiversida<strong>de</strong> interpopulacional.Na figura (b), há uma diferenciação real entre asdistribuições <strong>de</strong> cada população. A diferença entreas médias é tal que permite que a população <strong>de</strong>origem <strong>de</strong> cada indivíduo possa ser i<strong>de</strong>ntificadasem ambigüida<strong>de</strong>s, ou seja é possível através <strong>do</strong>svalores da variável analisada prever a qual grupopertence um sujeito submeti<strong>do</strong> a tal medida outeste. É este procedimento que a<strong>do</strong>tamos <strong>no</strong>Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil, portanto o quepreten<strong>de</strong>mos é selecionar as variáveis quemaximizam as diferenças (discriminam) entre osgrupos <strong>de</strong> atletas e <strong>de</strong> escolares e como tal, a partirda comparação entre atletas e escolares i<strong>de</strong>ntificaraqueles escolares que situam-se <strong>no</strong> espaçocorrespon<strong>de</strong>nte a curva <strong>do</strong>s atletas.Na figura (c) as diferenças entre as médias sãopróximas ou iguais porém um <strong>do</strong>s gruposapresenta valores extremos na variável analisada.Em <strong>no</strong>ssas análises este procedimento não seria omais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> posto que não é <strong>de</strong> se esperar queas médias <strong>de</strong> atletas e escolares nas medidas etestes somatomotores sejam semelhantes.Mas, há um outro problema nesta análise. Eeste problema <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> que a aptidãofísica constitui-se num constructo multifatorial. Ouseja, A estatura, o peso bem como, a forçaexplosiva <strong>de</strong> membros inferiores e a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>slocamento em 20 metros se correlacionam em<strong>no</strong>sso exemplo. Isto po<strong>de</strong> significar que aomedirmos as variáveis isoladamente nãoconsi<strong>de</strong>ramos os efeitos compartilha<strong>do</strong> entre elas,e isto é muito relevante. Por outro la<strong>do</strong>, aotratarmos os da<strong>do</strong>s com técnicas univariadas, nósestamos corrompen<strong>do</strong> o conceito mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>de</strong>aptidão física, consi<strong>de</strong>rada como um construtomultifatorial. É importante salientar que o perfil <strong>de</strong>um atleta <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol não é a simples soma <strong>de</strong>suas capacida<strong>de</strong>s físicas (técnicas, táticas, volitivas)analisadas separadamente. O perfil <strong>do</strong> atleta écomplexo e as diversas componentes assumempesos distintos, portanto <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>sna <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> perfil a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. Tais observações,necessariamente <strong>no</strong>s impões a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>utilização <strong>de</strong> técnicas estatísticas multivariadas.Portanto, a partir <strong>do</strong>s argumentos propostos sefez necessário que <strong>no</strong>ssos estu<strong>do</strong>s na área <strong>de</strong>esporte <strong>de</strong> rendimento e <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> talentosesportivos <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil a<strong>do</strong>tassemprocedimentos estatísticos que fossem capazes <strong>de</strong>maximizar diferenças entre grupos <strong>de</strong> atletas eescolares e respeitassem o conceito multifatorial daaptidão esportiva. Assim, optamos pela utilizaçãoda análise da função discriminante.Voltemos ao exemplo <strong>do</strong> han<strong>de</strong>bol.A análise da função discriminante, como jáanunciamos, serve para distinguir grupos entre si.O analista seleciona um conjunto <strong>de</strong> característicaspara as quais espera que os grupos apresentemdiferenças significativas (Reis, 1997). Vamos suporque a figura abaixo sugere <strong>do</strong>is grupos Atletas(A) eEscolares (B) caracteriza<strong>do</strong>s por duas variáveisin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes Peso (X1) Estatura (X2). A funçãodiscriminante Y resulta da combinação linear<strong>de</strong>stas variáveis. As elipses em volta <strong>do</strong>s pontoscontém uma proporção <strong>de</strong>finida, que representamo intervalo <strong>de</strong> confiança (por exemplo 95%). Alinha reta pontilhada <strong>de</strong>finida a partir <strong>do</strong>s pontos