Brasil S/A - Livro Pedagógico
O livro pedagógico é formado por seis artigos que contemplam diferentes âmbitos de discussão trazidos pelo filme: o colapso das cidades; o lugar das mulheres na sociedade patriarcal e capitalista; o neodesenvolvimentismo; as questões étnico-raciais; os con itos ambientais; e a sinfonia visual contra um modelo de progresso. Cada artigo re ete as escolhas de seus(suas) autores(as) na forma de abordagem, mas mantém uma estrutura similar, composta pelo texto Brasil s/a 014 (acompanhado por fotos e charges), por uma espécie de glossário (“Fi- que por dentro!”), por sugestões de atividades, e por indicações de leitura (“Para saber mais”).
O livro pedagógico é formado por seis artigos que contemplam diferentes âmbitos de discussão trazidos pelo filme: o colapso das cidades; o lugar das mulheres na sociedade patriarcal e capitalista; o neodesenvolvimentismo; as questões étnico-raciais; os con itos ambientais; e a sinfonia visual contra um modelo de progresso. Cada artigo re ete as escolhas de seus(suas) autores(as) na forma de abordagem, mas mantém uma estrutura similar, composta pelo texto
Brasil s/a 014
(acompanhado por fotos e charges), por uma espécie de glossário (“Fi- que por dentro!”), por sugestões de atividades, e por indicações de leitura (“Para saber mais”).
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<strong>Brasil</strong> S/A<br />
048<br />
Ao dividir e hierarquizar as atividades, a divisão sexual do trabalho<br />
gera a ilusão de que alguns trabalhos são próprios e exclusivos das<br />
mulheres e outros são, necessariamente, dos homens. Por isso, independentemente<br />
de trabalharem fora de casa, as mulheres continuaram sendo<br />
responsáveis pelo trabalho doméstico, sendo submetidas à dupla jornada<br />
de trabalho, com rotinas extremamente exaustivas.<br />
Na contramão da ideologia capitalista, acreditamos que nem<br />
todas as atividades e relações sociais podem ser monetarizadas. O afeto,<br />
a proteção e o carinho, por exemplo, não podem ser contabilizados porque<br />
são simplesmente incalculáveis. Mas acreditamos que as atividades<br />
que supostamente envolvem esses sentimentos também precisam ser<br />
entendidas como trabalho para que se compreenda que essas atividades<br />
precisam ser partilhadas entre homens e mulheres, porque elas geram<br />
desgaste e cansaço como todas as outras formas de trabalho. Para além<br />
das atividades que podemos estar desenvovelndo com amor, há também<br />
um amplo leque de afazeres da vida doméstica que desempenhamos por<br />
obrigação, já que é um trabalho que precisa ser realizado por alguém.<br />
Pensemos agora no trabalho doméstico de todas as mulheres<br />
que foi invisibilizado ao longo da história do <strong>Brasil</strong>. Teríamos construído<br />
todos esses engenhos, estradas, cidades, prédios, carros e máquinas se<br />
alguém não estivesse em casa desempenhando o trabalho reprodutivo?<br />
Para começo de conversa, a nossa própria espécie teria deixado de existir<br />
se ninguém estivesse garantindo o cuidado das crianças.<br />
Um enorme contingente de trabalho foi e tem sido realizado<br />
gratuitamente pelas mulheres para construir uma sociedade na qual elas<br />
sequer têm voz. Esse trabalho é incorporado pela esfera produtiva, na<br />
medida em que garante a reprodução da força de trabalho assalariada e<br />
do cotidiano. Isso significa que ele contribui para gerar o lucro, mas essa<br />
contribuição não é reconhecida. Quando dizemos que esse trabalho foi<br />
realizado gratuitamente, não estamos reivindicando, necessariamente, que<br />
as mulheres as quais não estão inseridas profissionalmente, no campo das<br />
atividades domésticas, devem receber em dinheiro pelo seu trabalho, mas<br />
que mudemos o cálculo sobre o que é importante na nossa sociedade.