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Revista Dr. Plinio 217

Abril de 2016

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A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Jan van Eyck (CC3.0)<br />

“Cavaleiros de Cristo” - Catedral<br />

de Ghent, Bélgica<br />

mesma e depois respeite a personalidade<br />

do outro, sinta as afinidades e<br />

as diferenças. Tenha cortesia.<br />

O que é a cortesia? É a perfeita<br />

afinidade de pessoas distintas umas<br />

das outras. Há então um abismo que<br />

separa uma pessoa da outra. Eu sou<br />

eu, sou um circuito fechado em mim.<br />

Cada um dos que aqui se encontram<br />

é um circuito fechado em si. De outro<br />

lado, nós temos relações, porque<br />

somos todos homens.<br />

A cortesia é a perfeita relação que<br />

passa por cima deste abismo existente<br />

de homem para homem. A força<br />

que liga este abismo chama-se amor<br />

fraterno católico. A cortesia é o laço<br />

cheio de respeito, de distinção, de<br />

afeto que prende as pessoas diferentes<br />

e as coloca numa relação, como<br />

notas de uma música. Dir-se-ia que<br />

as notas de uma música estão em estado<br />

de cortesia umas com as outras.<br />

Imaginem uma pessoa irrefletida<br />

que, por exemplo, passa diante de<br />

um piano que está com a tampa aberta,<br />

escorrega e se apoia sobre o piano<br />

para não cair; sai um som horroroso<br />

parecido com uma descortesia. Por<br />

quê? É que não há harmonia.<br />

A cortesia é a musicalidade das<br />

relações humanas. Mas nessa musicalidade<br />

cada homem constitui sua<br />

personalidade apoiado pelo outro,<br />

e todos crescem, todos brilham, cada<br />

um com a luz de sua personalidade<br />

própria.<br />

Daí partem inúmeras consequências.<br />

Uma delas é que, na civilização<br />

medieval, a lei tomava em linha de<br />

conta direitos e deveres, o que a lei<br />

contemporânea não toma mais em<br />

consideração.<br />

Por exemplo, o dever entre benfeitor<br />

e beneficiado é de gratidão.<br />

Na lei de hoje quase não há resquícios<br />

desse dever. Na lei da Idade<br />

Média o dever de gratidão era enorme.<br />

Daí nasceu o feudalismo, que é<br />

uma concatenação de gratidões. O<br />

rei dava terras a um suserano, que ficava<br />

vassalo do rei. O suserano concedia<br />

terras ao nobre menor, o qual<br />

se tornava vassalo desse suserano.<br />

Esse nobre menor dava terras a um<br />

plebeu, que ficava vassalo desse nobre<br />

menor. Cada um que deu ficava<br />

obrigado à proteção daquele que tinha<br />

recebido, para tudo. E cada um<br />

que recebeu ficava obrigado a obedecer<br />

e a apoiar aquele que tinha sido<br />

seu benfeitor. E esta era a concatenação<br />

das relações pessoais.<br />

O nobre e o burguês,<br />

na Idade Média e no<br />

Ancien Régime<br />

Na Idade Média, os direitos eram<br />

mais sobre as pessoas do que sobre<br />

as coisas. Havia direito sobre as coisas<br />

também, mas o direito sobre as<br />

pessoas se considerava muito mais<br />

do que o direito sobre as coisas.<br />

Querem ver um exemplo curioso<br />

disso? Na Idade Média o que era<br />

mais: um riquíssimo burguês, ou um<br />

nobre, senhor de um castelinho com<br />

uma aldeia? Era o nobre. Mas o burguês<br />

não era muito mais rico, mais<br />

poderoso? A resposta que um medieval<br />

daria era é a seguinte: “Não vem<br />

ao caso. O nobre governa pessoas; o<br />

burguês governa matéria, governa<br />

ouro. É muito mais governar homens<br />

do que ouro. De maneira que é uma<br />

riqueza metafísica maior ser senhor<br />

de uma pequena aldeia do que dono<br />

de uma grande fortuna.”<br />

Não sei se percebem o respeito<br />

ao homem que entra dentro disso. E<br />

por essa razão se, por exemplo, entrasse<br />

numa cidade um senhor feudal<br />

num cavalinho rapado, vestido<br />

ele mesmo meio apertadamente,<br />

porque suas terras produziam pouco,<br />

com um escudeiro que ia a pé,<br />

porque não tinha cavalo; o senhor<br />

portando uma espada com o forro<br />

meio gasto, e um chapéu com uma<br />

pluma que já tomou muita chuva…<br />

Passando ele diante de um burguês,<br />

médio, vestido de veludo,<br />

usando um chapéu magnífico com<br />

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