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A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
Jan van Eyck (CC3.0)<br />
“Cavaleiros de Cristo” - Catedral<br />
de Ghent, Bélgica<br />
mesma e depois respeite a personalidade<br />
do outro, sinta as afinidades e<br />
as diferenças. Tenha cortesia.<br />
O que é a cortesia? É a perfeita<br />
afinidade de pessoas distintas umas<br />
das outras. Há então um abismo que<br />
separa uma pessoa da outra. Eu sou<br />
eu, sou um circuito fechado em mim.<br />
Cada um dos que aqui se encontram<br />
é um circuito fechado em si. De outro<br />
lado, nós temos relações, porque<br />
somos todos homens.<br />
A cortesia é a perfeita relação que<br />
passa por cima deste abismo existente<br />
de homem para homem. A força<br />
que liga este abismo chama-se amor<br />
fraterno católico. A cortesia é o laço<br />
cheio de respeito, de distinção, de<br />
afeto que prende as pessoas diferentes<br />
e as coloca numa relação, como<br />
notas de uma música. Dir-se-ia que<br />
as notas de uma música estão em estado<br />
de cortesia umas com as outras.<br />
Imaginem uma pessoa irrefletida<br />
que, por exemplo, passa diante de<br />
um piano que está com a tampa aberta,<br />
escorrega e se apoia sobre o piano<br />
para não cair; sai um som horroroso<br />
parecido com uma descortesia. Por<br />
quê? É que não há harmonia.<br />
A cortesia é a musicalidade das<br />
relações humanas. Mas nessa musicalidade<br />
cada homem constitui sua<br />
personalidade apoiado pelo outro,<br />
e todos crescem, todos brilham, cada<br />
um com a luz de sua personalidade<br />
própria.<br />
Daí partem inúmeras consequências.<br />
Uma delas é que, na civilização<br />
medieval, a lei tomava em linha de<br />
conta direitos e deveres, o que a lei<br />
contemporânea não toma mais em<br />
consideração.<br />
Por exemplo, o dever entre benfeitor<br />
e beneficiado é de gratidão.<br />
Na lei de hoje quase não há resquícios<br />
desse dever. Na lei da Idade<br />
Média o dever de gratidão era enorme.<br />
Daí nasceu o feudalismo, que é<br />
uma concatenação de gratidões. O<br />
rei dava terras a um suserano, que ficava<br />
vassalo do rei. O suserano concedia<br />
terras ao nobre menor, o qual<br />
se tornava vassalo desse suserano.<br />
Esse nobre menor dava terras a um<br />
plebeu, que ficava vassalo desse nobre<br />
menor. Cada um que deu ficava<br />
obrigado à proteção daquele que tinha<br />
recebido, para tudo. E cada um<br />
que recebeu ficava obrigado a obedecer<br />
e a apoiar aquele que tinha sido<br />
seu benfeitor. E esta era a concatenação<br />
das relações pessoais.<br />
O nobre e o burguês,<br />
na Idade Média e no<br />
Ancien Régime<br />
Na Idade Média, os direitos eram<br />
mais sobre as pessoas do que sobre<br />
as coisas. Havia direito sobre as coisas<br />
também, mas o direito sobre as<br />
pessoas se considerava muito mais<br />
do que o direito sobre as coisas.<br />
Querem ver um exemplo curioso<br />
disso? Na Idade Média o que era<br />
mais: um riquíssimo burguês, ou um<br />
nobre, senhor de um castelinho com<br />
uma aldeia? Era o nobre. Mas o burguês<br />
não era muito mais rico, mais<br />
poderoso? A resposta que um medieval<br />
daria era é a seguinte: “Não vem<br />
ao caso. O nobre governa pessoas; o<br />
burguês governa matéria, governa<br />
ouro. É muito mais governar homens<br />
do que ouro. De maneira que é uma<br />
riqueza metafísica maior ser senhor<br />
de uma pequena aldeia do que dono<br />
de uma grande fortuna.”<br />
Não sei se percebem o respeito<br />
ao homem que entra dentro disso. E<br />
por essa razão se, por exemplo, entrasse<br />
numa cidade um senhor feudal<br />
num cavalinho rapado, vestido<br />
ele mesmo meio apertadamente,<br />
porque suas terras produziam pouco,<br />
com um escudeiro que ia a pé,<br />
porque não tinha cavalo; o senhor<br />
portando uma espada com o forro<br />
meio gasto, e um chapéu com uma<br />
pluma que já tomou muita chuva…<br />
Passando ele diante de um burguês,<br />
médio, vestido de veludo,<br />
usando um chapéu magnífico com<br />
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