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Francisco Lecaros<br />
Baile no Palácio - Museu Carmen Thyssen, Málaga, Espanha<br />
tem de bom e característico fica ultracaracterístico.<br />
Tudo o que ela possui<br />
de mau é posto de lado.<br />
Deus é eminentemente<br />
personificante<br />
Em qualquer santo isso é ultracaracterístico.<br />
Todos são muito parecidos<br />
entre si, mas ao mesmo tempo<br />
enormemente diversos uns dos outros.<br />
O que São Paulo prefigurou de<br />
modo magnífico, dizendo: “Stella differt<br />
stella” 1 .<br />
Olhem para o céu onde há uma<br />
porção de estrelas. Uma criança diria<br />
que são iguais. Mas na realidade<br />
nestas miríades de estrelas não há<br />
nenhuma igual à outra. Assim são os<br />
homens.<br />
Mais ainda, todos os homens que<br />
houve, há e haverá no plano de Deus<br />
formam uma coleção. E essa coleção<br />
deve de algum modo, no seu conjunto,<br />
espelhar o que o Criador é no<br />
seu conjunto. Quer dizer, assim como<br />
Deus é imenso, infinito, e tem<br />
todas as qualidades possíveis, isto se<br />
reproduz no conjunto dos homens.<br />
Cada um com sua tônica, tomando<br />
essas tônicas no conjunto se obtém<br />
uma espécie de mapa de Deus, de<br />
conjunto constituído por Deus. De<br />
maneira que nós não temos consciência,<br />
mas somos peças de uma coleção;<br />
peças superindividuais, peças<br />
pessoais de uma coleção, e cada um<br />
de nós, se corresponder à sua luz primordial,<br />
é de um jeito que faz parte<br />
da coleção de Deus. E para que esta<br />
tenha toda beleza, todo colorido, todo<br />
vigor, é necessário que cada uma<br />
dessas peças possua toda a sua personalidade.<br />
Deus é eminentemente<br />
personificante. Quer dizer, Ele<br />
dá à pessoa a sua personalidade. Por<br />
quê? Porque Ele é Pessoa.<br />
Um extremo oposto disso é o panteísmo.<br />
O panteísmo sustenta que há<br />
um deus, mas esse deus não é pessoa,<br />
é um ente sem pensamento, sem<br />
conhecimento de si próprio; que vive,<br />
portanto, no eterno sono do bicho,<br />
da planta e da pedra. Quer dizer,<br />
não conhece nem entende nada,<br />
e que todos os seres que existem saíram<br />
desse deus, como moléculas saem<br />
de um determinado corpo.<br />
A Doutrina Católica ensina o contrário:<br />
nós não saímos de Deus; fomos<br />
criados por Deus.<br />
Mas, para o panteísmo, ser uma<br />
pessoa é uma desgraça; porque para<br />
ser uma pessoa é preciso sofrer, e<br />
sofrer é uma desgraça. Então, a finalidade<br />
da religião é que a pessoa vá<br />
se preparando para, morrendo, desaparecer,<br />
fundir-se de novo nesse<br />
ser sem raciocínio, sem consistência<br />
pessoal, que é deus.<br />
Assim, dizem os panteístas, deus é a<br />
natureza. O que querem dizer com isto?<br />
Que deus é uma força a qual está<br />
presente em tudo, e que não tem consciência<br />
de si. Se quiserem, deus é a vida.<br />
A vida está nos presentes neste auditório,<br />
está em mim, nos bichos, nas<br />
plantas. A vida não tem consciência<br />
de si, nem é uma só vida. O panteísmo<br />
apresenta isso como um só fluido presente<br />
em todo mundo. Este fluido, esta<br />
vida, tem como objetivo despersonificar,<br />
liquidar as pessoas, para elas se<br />
prepararem a sumir quando elas morrerem.<br />
Desaparecerem dentro deste<br />
grande conjunto sem pensamento que<br />
é chamado “deus”.<br />
Civilização cristã e cortesia<br />
Daí decorre uma ideia da civilização<br />
católica, e outra ideia da civilização<br />
pagã, panteísta. Para a civilização<br />
católica trata-se de, nessa vida, a pessoa<br />
se personificar cada vez mais e depois<br />
adorar, no Céu, as três Pessoas da<br />
Santíssima Trindade. Para o panteísta<br />
trata-se de diluir a personalidade.<br />
A civilização católica faz da vida,<br />
sobretudo, uma relação de pessoa<br />
para pessoa, e concebe a formação<br />
de maneira que cada pessoa é ela<br />
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