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Revista Dr. Plinio 217

Abril de 2016

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Francisco Lecaros<br />

Separação de Abrão e Ló - Museu de León, Espanha<br />

cioso do que o trato baseado em outros<br />

valores.<br />

Tomemos como exemplo dois<br />

bons irmãos que se estimam, se prezam<br />

e têm relações de alma completamente<br />

corretas neste ponto. Aparece<br />

entre eles uma questão de divisão<br />

de uma herança paterna. Ela<br />

se faz amistosamente, sem nenhuma<br />

dificuldade, porque, por esta sua<br />

retidão neste patamar superior, eles<br />

são parecidos e, portanto, têm facilidade<br />

de se entender e fazer a justa<br />

divisão. Mas também porque se um<br />

notar uma pequena fraqueza ou um<br />

pequeno apego que possa prejudicar<br />

o superior relacionamento entre ambos,<br />

o irmão bom facilmente desiste<br />

da vantagem material para conservar<br />

um convívio mais elevado.<br />

O episódio bíblico ocorrido com<br />

Abrão e Ló é característico. Abrão<br />

diz: “Aqui estão as terras, pega a parte<br />

que tu queres, eu fico com a outra.”<br />

3 Esta é a atitude de uma pessoa<br />

que preza o relacionamento bom,<br />

muito mais do que a terra.<br />

Mas se a pessoa cedeu ao desejo<br />

do bem material, inferior, da fruição<br />

não metafísica, não religiosa, facilmente<br />

entra em briga. Porque quando<br />

não apreciam aquele bom relacionamento<br />

e o viverem juntos para<br />

uma esfera mais alta, dividem-<br />

-se miseravelmente a respeito de ninharias.<br />

Seriam capazes até de fazer<br />

o seguinte: “Tal ponto não fica nem<br />

teu nem meu. Construamos ali um<br />

altar, um templo, mas teu não fica!”<br />

Os vínculos na Cristandade<br />

medieval eram baseados no<br />

amor ao transcendente<br />

Assim, todas as relações humanas<br />

de ordem política, social, familiar,<br />

econômica são completamente<br />

diferentes num mundo onde haja esta<br />

boa ordenação. Do ponto de vista<br />

humano, formas de governo, estruturas,<br />

leis, simplesmente não pegam,<br />

na medida em que esse relacionamento<br />

superior não exista.<br />

A lealdade, por exemplo, provém<br />

propriamente do fato de alguém ter<br />

verazmente em relação a outrem essa<br />

disposição de alma. Tê-la e saber<br />

torná-la notória, isto é a lealdade que<br />

permite funcionarem direito vínculos<br />

como os da sociedade feudal.<br />

O ponto de partida está em que as<br />

almas não sejam apegadas às coisas<br />

de modo fruitivo e amem o transcendente.<br />

Esse amor ao transcendente, a<br />

Cristandade medieval conheceu a<br />

fundo, embora não soubesse explicar.<br />

Todos os vínculos da ordem social<br />

eram vínculos de amor baseados<br />

nesse vínculo das almas pelo lado superior.<br />

v<br />

(Continua no próximo número)<br />

(Extraído de conferência de<br />

11/3/1982)<br />

1) Jesuíta e exegeta flamengo (* 1567 -<br />

† 1637).<br />

2) Relativo a “transesfera”: termo criado<br />

por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para significar que, acima<br />

das realidades visíveis, existem as<br />

invisíveis. As primeiras constituem a<br />

esfera, ou seja, o universo material; e<br />

as invisíveis, a transesfera.<br />

3) Cf. Gn 13, 8-9.<br />

23

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