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lado para outro, musicalizando: “O<br />
Estado, a Folha…” Às vezes víamos<br />
um homem maduro, que passara a<br />
vida inteira como jornaleiro, mas<br />
percebia-se nele a intenção de ter sido<br />
um determinado tipo de jornaleiro,<br />
e tinha ou não conseguido aquele<br />
intuito.<br />
É uma história anônima. Mas se<br />
uma pessoa se debruçasse sobre ela,<br />
conhecesse os pormenores, soubesse<br />
quais foram as metas, as tentativas,<br />
o fracasso e o êxito, se fosse um bom<br />
escritor, faria daquela vida um grande<br />
livro. Porque onde houve uma<br />
meta e um método, esta história mereceria<br />
ser escrita.<br />
Não merece ser escrita a história<br />
daqueles que não tiveram meta nem<br />
método, que passaram a vida vagueando<br />
de um lado para outro, sem<br />
querer e sem desejar nada, sem ter<br />
método para alcançar alguma coisa,<br />
ao sabor das circunstâncias, como<br />
uma cortiça jogada ao mar. Jogada<br />
no Atlântico, tanto pode ir parar no<br />
Mar Amarelo, como em Istambul,<br />
como pode passar cem anos flutuando<br />
nos espaços internos da baía de<br />
Guanabara e, depois, desintegrar-se.<br />
Não tem interesse, não houve meta,<br />
não houve método, houve apenas<br />
o jogo fortuito das circunstâncias…<br />
São os homens sem história.<br />
Manuelvbotelho (CC3.0)<br />
“Estátua do guerreiro”<br />
Palácio da Pena, Sintra, Portugal<br />
Necessidade<br />
da confiança<br />
para cumprir<br />
os desígnios<br />
de Deus<br />
Para os homens<br />
que possuem história,<br />
muitas vezes esta meta<br />
é verdadeira. Mas<br />
muitas vezes também<br />
a pessoa se engana.<br />
E chegar a conhecer<br />
a verdadeira meta da<br />
vida é uma graça. Alguns<br />
a têm nos primeiros<br />
albores da vida,<br />
outros quando a<br />
vida já vai madura, a<br />
mar alto! A Providência<br />
não quis lhes fazer<br />
conhecer antes a<br />
meta designada para<br />
eles. E eles foram vivendo<br />
na incerteza, à<br />
procura de uma meta,<br />
até o momento em que ela floresce<br />
dentro do mar onde eles estavam<br />
vagando sem sentido.<br />
Às vezes a Providência tem metas<br />
desencontradas para uma mesma<br />
pessoa, para prová-la. Então, chama<br />
um homem, primeiro para guerreiro.<br />
Ele luta e, de repente, a Providência<br />
dá um jeito, o homem descobre<br />
em si mesmo um talento diplomático<br />
enorme. Ele deixa de lado a espada<br />
e começa a usar a lábia, a gentileza;<br />
entra pela diplomacia.<br />
Em determinado momento, lhe<br />
vem a ideia, e é a vocação: “Eu devo<br />
ser padre, devo ser religioso… Vou<br />
— como São Pedro Armengol —<br />
ser um homem para resgatar os cativos…<br />
eu não quero outra coisa…”<br />
São vidas que parecem quebradas,<br />
mas se somam formando um todo,<br />
uma bonita unidade, que se percebe<br />
melhor depois, quando a pessoa<br />
morreu e vemos o caminho seguido<br />
por ela.<br />
São Pedro Armengol, na forca, sustentado por<br />
Nossa Senhora - Museu do Prado, Madri, Espanha<br />
Outro exemplo: Santo Inácio. Há<br />
uma beleza especial no fato de ele<br />
ter sido guerreiro antes de ser padre.<br />
E como embeleza ainda mais a vida<br />
deste Santo o fato de, entre o tempo<br />
de guerreiro e o de Fundador, ter<br />
passado um período de convalescença,<br />
com uma perna quebrada, lendo<br />
livro de cavalaria, depois livro de<br />
Santos, da biblioteca do velho castelo,<br />
e mandando quebrar três vezes a<br />
perna para consertar…<br />
Como é bonito que depois esse fidalgo<br />
deixasse a corte e se vestisse<br />
como um mendigo, e fosse para um<br />
grupo escolar onde os meninos davam<br />
risada dele. Aquele homem já<br />
feito quase não tinha cultura. Ele tinha<br />
passado a vida guerreando e não<br />
tinha tido tempo de estudar. Ele recebe<br />
com humildade os apodos, até<br />
que sua alma começa a luzir como<br />
uma tocha! É a Contrarreforma que<br />
brilha nele, talvez como em nenhum<br />
outro Santo.<br />
13<br />
Vicente Carducho (CC3.0)