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Arquivo <strong>Revista</strong><br />
ela, imensissimamente, mas na minha<br />
alma é como se ela estivesse viva. Não<br />
é que eu converse com ela, mas aquela<br />
sensação da presença, da convivência,<br />
eu tenho com ela; e não sensação<br />
de ausência que eu teria — quando<br />
mamãe vivia —, por exemplo, estando<br />
eu na Europa. E considerem que<br />
ela está no Céu e eu aqui na Terra!<br />
Sobretudo nos últimos anos da vida<br />
de mamãe, não era a conversa,<br />
mas a presença, uma coisa que eu<br />
não sei explicar, e isso para mim continua<br />
como se ela estivesse viva.<br />
“Éramos um”<br />
Acho que para os que<br />
não a conheceram ou<br />
que não souberam apreciá-la<br />
em vida, e vão visitar<br />
seu túmulo, acontece<br />
algo semelhante.<br />
Eu olho as caras e<br />
tenho a impressão de<br />
que é muito mais uma<br />
audiência que ela dá,<br />
do que uma oração que<br />
se faz para uma pessoa<br />
que está fora; é uma coisa<br />
curiosa, eles não se dão<br />
conta disso, mas suas atitudes<br />
são — não que ela estivesse<br />
conversando com eles — como<br />
se ela estivesse exercendo uma<br />
ação de presença junto a eles.<br />
É preciso notar que a força de<br />
presença que ela tinha era única. O<br />
Quadrinho 2 possui isso, de maneira<br />
que quando o recebi eu disse: “Este<br />
Quadrinho veio para reforçar a sensação<br />
da presença dela.”<br />
Havia uma união de alma entre<br />
ela e eu tão profunda, que vinha dos<br />
mais íntimos alicerces do meu ser,<br />
de meu espírito, que coincidiam com<br />
os dela; de tal maneira que não era<br />
só uma afinidade temperamental,<br />
psicológica, enfim, os mil tipos de<br />
afinidade que possa haver entre mãe<br />
e filho, mas era uma coisa diferente;<br />
do fundo da alma, o quanto pode<br />
ser, eu sentia essa afinidade.<br />
E fazíamos um só, de tal maneira<br />
éramos unidos. Eu me lembro<br />
de que uma arrumadeira portuguesa<br />
chamada Ana, que tivemos<br />
quando morávamos numa outra casa,<br />
fez a nosso respeito um comentário,<br />
do qual mamãe gostou muito.<br />
Com aquela simplicidade portuguesa,<br />
Ana dizia o seguinte: “Viver com<br />
a cordialidade que a senhora vive<br />
com o <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, nem marido e mulher,<br />
noivo e noiva têm, porque eles,<br />
quando são felizes, não possuem essa<br />
cordialidade.” Mas era realmente<br />
João Dias<br />
um encanto contínuo meu por ela, e<br />
um modo de tratar como eu nunca vi<br />
filho tratar mãe, e dela comigo, talvez<br />
ainda mais, porque nas menores<br />
coisas havia uma delicadeza e uma<br />
solicitude em procurar interpretar-<br />
-me, mil coisas que os fatinhos concretos<br />
não podem exprimir, porque<br />
era o espírito com que o fatinho era<br />
realizado.<br />
Isso tem uma projeção espiritual,<br />
quer dizer, de tal maneira éramos<br />
um, que não é possível aderir a<br />
um e não aderir ao outro. É evidente<br />
que eu devo muito de minha formação<br />
primeira a ela. De maneira que<br />
eu acho isso muito natural, muito razoável,<br />
verdadeiro. v<br />
(Extraído de conferência de<br />
8/3/1986)<br />
1) Igreja Santa Teresinha, situada no<br />
bairro de Higienópolis, em São Paulo.<br />
2) Quadro a óleo, que muito agradou<br />
a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, pintado por um de seus<br />
discípulos, com base nas últimas fotografias<br />
de Dona Lucília. Ver <strong>Revista</strong><br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> n. 119, p. 6-9.<br />
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